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Autonomia do cuidado: interlocução afetivo-sexual com adolescentes no PET-Saúde

Self-reliant care: dialogue on emotions and sexuality with adolescents through the educational program for Health Work

Resumos

Realizou-se, dentro do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), uma pesquisa-ação em conjunto com o Centro de Saúde e a Escola Municipal de Glaura, um dos distritos de Ouro Preto/MG, reunindo 123 alunos, entre 11 e 19 anos de idade, que participaram de encontros semanais de abril de 2009 a março de 2010. O projeto visava à integração entre ensino e serviço de saúde, ao desenvolvimento da autonomia do cuidado, à construção de vínculos e ao intercâmbio de conhecimento com os adolescentes. Pautou-se na horizontalidade das relações entre os monitores, o preceptor, a tutora e os adolescentes, sob a óptica da visão freiriana de educação popular. Foram realizadas dinâmicas, encenações cômicas e quizzes, tendo a sexualidade como tema principal. Posteriormente, estimulou-se a confecção de ferramentas multiplicadoras pelos adolescentes, como vídeos e peças de teatro, tornando-os protagonistas do processo de ensino-aprendizagem. Este artigo serve como parâmetro para avaliação qualitativa da eficácia do PET-Saúde, além de discutir a relevância do programa para a formação médica, especialmente no que tange as habilidades dos profissionais de saúde para fornecer orientação afetivo-sexual aos adolescentes.

sexualidade; educação em saúde; educação sexual; educação médica; adolescente


An action-based research project was conducted under the Educational Program for Health Work, through collaboration between the Health Center and the Municipal Public School in Glaura, a township in Ouro Preto, Minas Gerais State, including 123 students from 11 to 19 years of age who participated in weekly meetings from April 2009 to March 2010. The project aimed at integration between teaching and the health service, the development of self-reliant care, establishment of ties, and exchange of knowledge with the adolescents. The project was premised on equitable relations between the monitors, preceptor, tutor, and adolescents, from the perspective of popular education (Paulo Freire). The methodology included group dynamics, humorous play-acting, and quizzes, with sexuality as the central theme. The adolescents were later encouraged to make tools for multiplying the project, like videos and theater skits, thereby making them protagonists in the teaching-learning process. The article serves as a parameter for qualitative evaluation of the Educational Program for Health Work, in addition to discussing the program's relevance for medical training, especially in relation to health professionals' skills in providing affective and sexual orientation to adolescents.

sexuality; health education; sex education; medical education; adolescent


PESQUISA

Autonomia do cuidado: interlocução afetivo-sexual com adolescentes no PET-Saúde

Self-reliant care: dialogue on emotions and sexuality with adolescents through the educational program for Health Work

Tiago Soares BaumfeldI; Raphael Botelho SáI; Daniela Fernanda de Almeida SantosI; Otávio Montovanelli MonteiroI; Mariana Benzaquen FerreiraI; Edith Márcia Valadares SilvaI; Mário Augusto RaymundoI; Anderson Melo QueirozII; Palmira de Fátima BonoloI

IUniversidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, Brasil

IIPrefeitura Municipal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Tiago Soares Baumfeld Departamento de Ciências Médicas - Universidade Federal de Ouro Preto Prédio da Medicina Campus Morro do Cruzeiro, s/n. Bauxita Ouro Preto CEP. 35400-000 MG E-mail: tiago.baumfeld@gmail.com

RESUMO

Realizou-se, dentro do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), uma pesquisa-ação em conjunto com o Centro de Saúde e a Escola Municipal de Glaura, um dos distritos de Ouro Preto/MG, reunindo 123 alunos, entre 11 e 19 anos de idade, que participaram de encontros semanais de abril de 2009 a março de 2010. O projeto visava à integração entre ensino e serviço de saúde, ao desenvolvimento da autonomia do cuidado, à construção de vínculos e ao intercâmbio de conhecimento com os adolescentes. Pautou-se na horizontalidade das relações entre os monitores, o preceptor, a tutora e os adolescentes, sob a óptica da visão freiriana de educação popular. Foram realizadas dinâmicas, encenações cômicas e quizzes, tendo a sexualidade como tema principal. Posteriormente, estimulou-se a confecção de ferramentas multiplicadoras pelos adolescentes, como vídeos e peças de teatro, tornando-os protagonistas do processo de ensino-aprendizagem. Este artigo serve como parâmetro para avaliação qualitativa da eficácia do PET-Saúde, além de discutir a relevância do programa para a formação médica, especialmente no que tange as habilidades dos profissionais de saúde para fornecer orientação afetivo-sexual aos adolescentes.

Palavras-chave: - sexualidade; - educação em saúde; - educação sexual; - educação médica; - adolescente.

ABSTRACT

An action-based research project was conducted under the Educational Program for Health Work, through collaboration between the Health Center and the Municipal Public School in Glaura, a township in Ouro Preto, Minas Gerais State, including 123 students from 11 to 19 years of age who participated in weekly meetings from April 2009 to March 2010. The project aimed at integration between teaching and the health service, the development of self-reliant care, establishment of ties, and exchange of knowledge with the adolescents. The project was premised on equitable relations between the monitors, preceptor, tutor, and adolescents, from the perspective of popular education (Paulo Freire). The methodology included group dynamics, humorous play-acting, and quizzes, with sexuality as the central theme. The adolescents were later encouraged to make tools for multiplying the project, like videos and theater skits, thereby making them protagonists in the teaching-learning process. The article serves as a parameter for qualitative evaluation of the Educational Program for Health Work, in addition to discussing the program's relevance for medical training, especially in relation to health professionals' skills in providing affective and sexual orientation to adolescents.

Keywords: - sexuality; - health education; - sex education; - medical education; - adolescent.

INTRODUÇÃO

A educação e a saúde são práticas sociais interdependentes e inseparáveis. Segundo Arteaga Rodriguez et al.,"A educação aperfeiçoa no médico sua comunicação, linguagem e autonomia, além de facilitar seu relacionamento humano e contribuir no processo de conscientização das pessoas, resgatando, assim, sua função de educador. Para que as campanhas de promoção e prevenção em saúde tenham êxito, é necessário que a população tenha uma instrução que lhe permita compreender e participar das mesmas"1(p.1), por isso a importância das instituições de ensino.

Uma vez que a educação é um produto da escola, entende-se que o papel dessa instituição é transmitir cultura e preparar cidadãos capazes de construir e transformar a sociedade, por meio da organização de um espaço de reflexões e questionamentos sobre a importância da identidade, relações interpessoais, higiene, alimentação, exercícios físicos, autoestima, relações de gênero, tabus e comportamentos sexuais2,3. Igualmente, é função da escola tratar da saúde e do bem-estar físico dos alunos na fase da adolescência, pois é nessa fase que o indivíduo cresce e se desenvolve, passando por profundas transformações anatômicas, fisiológicas, psicológicas e sociais3. A escola, então, é um lugar marcante para os jovens e tem grande influência nas suas escolhas e decisões, tornando-se, assim, um espaço importante para promover saúde4.

O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) insere-se nesse contexto, uma vez que tem entre seus objetivos a realização de práticas de educação em saúde por meio da ambientação do aprendizado médico nos serviços de saúde e nas comunidades de seu entorno, priorizando a Atenção Primária5. Trata-se de uma das estratégias do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde, o PRÓ-Saúde, em implementação no País desde 2005, resultado de uma parceria entre as Secretarias de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) e de Atenção à Saúde (SAS), do Ministério da Saúde, e a Secretaria de Educação Superior (SESU), do Ministério da Educação6. O programa potencializa respostas às necessidades concretas da população brasileira mediante a formação de recursos humanos, a produção do conhecimento e a prestação de serviços com vistas ao fortalecimento do SUS7.

Dessa forma, o PET-Saúde caracteriza-se como instrumento para qualificação do serviço dos profissionais da saúde, bem como de iniciação ao trabalho e vivências dirigido aos estudantes das graduações em saúde8. As universidades cujos currículos abrangem o programa valorizam as atividades pedagógicas e proporcionam, consequentemente, a formação de médicos mais humanizados, com uma visão holística e generalista do paciente.

Diante disso, realizou-se um projeto com adolescentes da Escola Municipal Dr. Benedito Xavier, situada em Glaura, distrito de Ouro Preto, Minas Gerais, reunindo 123 alunos do Ensino Fundamental, cujas idades variavam entre 11 e 19 anos, de abril de 2009 até março de 2010. Enfocou-se a educação sexual, pois a adolescência é uma fase da vida em que a personalidade está no final do processo de formação, e a sexualidade se insere como um elemento estruturador da identidade do jovem. Nesse sentido, para que fosse possível abordar o tema da sexualidade com naturalidade, bem como manter um diálogo franco e entender as manifestações dos sentimentos e incertezas próprios da juventude, fez-se necessário conhecer melhor os mitos, tabus e a realidade acerca do assunto9.

A corporalidade, os processos de experimentação pessoal e a identificação de si próprio4 foram trabalhados com os adolescentes com base em uma relação de horizontalidade e na integração universidade-escola-comunidade-centro de saúde5, a fim de que se pudesse desenvolver a autonomia do cuidado com os alunos, tornando-os potenciais multiplicadores do conhecimento.

Paulo Freire teoriza que a transmissão de conhecimentos é fruto da criação de ambientes que possibilitem a construção do saber10. Assim sendo, o processo de aprendizagem deve ocorrer pelo intercâmbio de conhecimento entre monitores, alunos, comunidade, preceptores e tutores, e não pelo processo de ensino unilateral. "A politicidade do cuidado diz respeito ao manejo disruptivo da relação entre ajuda e poder para construção da autonomia de sujeitos e se expressa principalmente pelo triedro: conhecer para cuidar melhor, cuidar para confrontar, cuidar para emancipar", que, em contextos relacionados ao processo de trabalho em saúde, pode-se constituir uma "referência reordenadora de relações de domínio"11(p.1). O estímulo ao cuidado se dá, então, a partir da autoafirmação do indivíduo e da compreensão de sua integralidade, atendendo às necessidades humanas no âmbito da saúde e da doença12.

O objetivo deste projeto foi tornar os estudantes ativos no processo ensino-aprendizagem, respeitando suas experiências individuais, suas expectativas e identidades culturais no que compete aos valores sociais e humanos13. Pretendía-se também estabelecer vínculos e criar laços de corresponsabilidade com os alunos, para que houvesse apreensão do conteúdo e intercâmbio de saberes com a comunidade.

Portanto, este artigo visa a refletir sobre a troca de experiências com os adolescentes, avaliando a importância das intervenções para a comunidade, para o Centro de Saúde e para a Universidade, servindo, assim, de parâmetro qualitativo para análise da eficácia do PET-Saúde. Da mesma maneira, discute a relevância do programa para a formação médica, especialmente no que diz respeito às habilidades dos profissionais de saúde de fornecer orientação afetivo-sexual e reprodutiva aos adolescentes.

METODOLOGIA

O trabalho desenvolvido em Glaura teve como monitores do PET-Saúde alunos do curso de Medicina e Educação Física da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), pautando-se na interdisciplinaridade da intervenção. Esse grupo foi orientado por um preceptor, médico responsável pela equipe de ESF do distrito, e por uma tutora, professora de Medicina da Ufop.

A princípio, aplicou-se um questionário aos adolescentes da Escola Municipal Dr. Benedito Xavier e realizou-se uma pesquisa bibliográfica no Jornal Mundo Jovem, na base de dados Scielo e na bibliografia do Programa de Educação Afetivo-Sexual (Peas) da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais.

O questionário foi aplicado com intenção diagnóstica e continha perguntas de cunho cognitivo e sociodemográfico, a fim de se obter análises quantitativas e, principalmente, qualitativas do banco de dados construído. O programa EpiInfo 2002 foi utilizado para a digitação e análise dos dados. Para a análise estatística, foram verificadas associações entre características sociodemográficas e as respostas de conhecimento e percepção sobre o local de residência, a escola e os temas afetivo-sexuais. Para as variáveis categóricas, foi usado o teste do quiquadrado (X2) com um valor de p<0,05.

As intervenções foram subsidiadas por informações encontradas no Jornal Mundo Jovem. Criado em 1967, ele é utilizado atualmente em escolas como fonte para discussões, questionamentos, reflexões e dinâmicas sobre diversos assuntos que circundam os jovens. Enfim, é um jornal que visa a formar pessoas com um pensamento crítico, estimulando a criatividade14.

O Peas teve início na década de 1990, originado de uma parceria da Fundação Odebrecht com o governo do estado de Minas Gerais, com o objetivo de atender aos educadores e alunos do Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas. O programa apresenta três importantes áreas temáticas: sexualidade e afetividade; adolescência e cidadania; mundo do trabalho e perspectiva de vida. O trabalho realizado com os adolescentes tem como meta formar pessoas capazes de desenvolver a autonomia do cuidado e que possam se tornar multiplicadores do conhecimento adquirido em sua comunidade. A metodologia praticada pelo Peas é centrada na participação dos alunos por meio da produção de programas de rádio, jornais, peças de teatro e formação de grupos de discussão15,16,17.

A fim de se conquistar a atenção e o interesse do adolescente, permitindo, dessa forma, um debate mais aberto e prazeroso sobre assuntos considerados tabu, como a sexualidade, optou-se por utilizar, em Glaura, a metodologia participativa e problematizadora. Assim, cabe ressaltar que a referida metodologia consiste na realização de dinâmicas de grupo e atividades lúdicas18,19.

As intervenções semanais foram realizadas com grupos de, no máximo, 35 alunos, os quais se alternavam com seus colegas nas semanas subsequentes.

Para tanto, explorou-se a concepção de Paulo Freire a respeito da educação, a qual consiste na defesa da ação educativa libertadora, ao estimular a troca de conhecimentos entre educador e educando de maneira horizontal. Dessa forma, todos são estimulados a expor as suas experiências livremente e formular conceitos a partir do universo do educando. Busca-se, então, a conscientização de todos com a posterior formulação de atitudes que visem a transformar a realidade, tornando os participantes sujeitos do processo. Essa teoria se opõe à tradicional realização de palestras, em que os alunos, sem autonomia, assistem passivamente ao que é apresentado pelo palestrante, que se julga detentor de todo o conhecimento20.

As principais temáticas trabalhadas com os adolescentes foram higiene, autoestima, sexualidade, conhecimento sobre medidas de prevenção de gravidez e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), as quais foram desenvolvidas a partir de dinâmicas de apresentação, descontração e conhecimento.

Posteriormente, foram distribuídas caixas nas salas de aula para que os alunos colocassem dúvidas relacionadas à saúde. O tema mais recorrente nas caixas foi sexualidade. A partir disso, foram elaboradas atividades lúdicas, como encenações cômicas e jogos de perguntas e respostas sobre as dúvidas mais frequentes.

Após esse processo, os alunos foram estimulados a desenvolver ferramentas multiplicadoras, como vídeos e peças de teatros que abordassem os temas discutidos durante as intervenções. Vale dizer que os alunos trabalharam de forma autônoma, situação que colaborou no diagnóstico da apreensão do conhecimento pelos adolescentes e promoveu a veiculação dos saberes pela comunidade local.

Todas as atividades foram acompanhadas pelo preceptor do PET-Saúde e pelos gestores da Escola Municipal. Este Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto, número 047/2010 de 22 de abril de 2010.

Caracterização dos Adolescentes

A partir do questionário aplicado e de entrevistas com informantes-chave da comunidade e da escola, pôde-se caracterizar melhor os adolescentes com quem intercambiamos conhecimento durante as intervenções. Deve-se dizer que essa caracterização foi essencial para que fosse possível desenvolver um projeto em conjunto com a comunidade que contemplasse as suas necessidades.

Dos 123 estudantes da Escola Municipal Dr. Benedito Xavier, 109 assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e responderam ao questionário voluntariamente.

Após os adolescentes responderem em quais meios tinham mais liberdade para tratar do tema sexualidade, os seguintes percentuais foram obtidos: 33% se sentiam à vontade com os pais; 58,7% com os amigos; 45,9% na escola; e 30,3% no Centro de Saúde. Em concordância com o resultado obtido nas perguntas fechadas, a resposta "com os amigos" foi a mais frequente quando se fez a pergunta aberta "Com quem mais se informam sobre sexualidade".

Esses dados foram essenciais para o desenvolvimento do projeto, pois evidenciaram a necessidade de se ampliar a liberdade dos estudantes para tratar de sexualidade nos diversos ambientes sociais, sobretudo no Centro de Saúde. Dentre outros fatores, a fim de explicar a menor confiança do adolescente na atenção primária, pode-se apontar a dificuldade do jovem de se expor à comunidade ao procurar o Centro de Saúde. Além disso, é necessário que o médico esteja preparado para facilitar a interlocução afetivo-sexual com os adolescentes. Como colocar uma camisinha corretamente, por exemplo, é questão estritamente necessária para a formação de um médico da atenção primária, que terá de ter destreza e didática para orientar um adolescente às vésperas de sua iniciação sexual.

Na tabela 2, nota-se que, em todas as respostas, os homens tiveram melhores resultados: acertaram mais perguntas e mostraram que se sentem mais à vontade do que as mulheres para falar de sexualidade no Centro de Saúde. Esse resultado pode ser devido à maior facilidade que os homens naturalmente têm de tratar do tema sexualidade. Ressalta-se que, durante o desenvolvimento das intervenções, as mulheres foram constantemente estimuladas a participar para que, de alguma forma, desenvolvessem seu conhecimento e diminuíssem seu constrangimento.

Criando vínculo com os Adolescentes

No primeiro encontro, houve uma conversa com a direção da escola, a fim de diagnosticar o perfil dos alunos, o funcionamento da instituição e as dificuldades enfrentadas pelo colégio. Autoestima, higiene e sexualidade foram os temas mais citados pela diretora. A partir desse relato, surgiu a motivação do grupo do PET-Saúde em trabalhar com a promoção da saúde e a prevenção de doenças na escola. É importante ressaltar que as atividades de promoção à saúde objetivam a transformação de comportamentos individuais e devem ser focadas nos estilos de vida de cada um, sempre ambientado na cultura da comunidade em que se encontra cada indivíduo e em seus relacionamentos familiares21,22.

Apesar da escola ser participante do Peas e da disponibilidade de material e interesse de alguns professores, o trabalho com a sexualidade necessitava de renovação, de novas ideias que pudessem ultrapassar as barreiras, tabus e preconceitos que o programa ainda não tinha conseguido superar.

A primeira atividade da equipe na escola foi o desenvolvimento de dinâmicas introdutórias, de desinibição e apresentação. Pode-se apontar a Dinâmica do Barbante como um exemplo dessas atividades. Essa dinâmica consistiu em exercício no qual o barbante passava por alunos e monitores, organizados em roda, enquanto eles relatavam uma característica de sua personalidade. Atividades como essas permitiram o estabelecimento de vínculo entre os universitários e os jovens da escola, o que foi fundamental para que houvesse um intercâmbio, no decorrer do ano, entre o conhecimento técnico e o popular sobre o processo saúde-doença. Esse intercâmbio apresentou-se como uma forma eficaz dos monitores respeitarem a autonomia dos alunos como sujeitos capazes de superar o instituído e de se tornarem instituintes de um modo de vida saudável23.

A mudança verificada no comportamento dos adolescentes ilustra o vínculo estabelecido com os universitários. Inicialmente, os alunos apresentavam-se de forma tímida, pouco falando durante as oficinas. Posteriormente, com algumas visitas à escola, o vínculo foi intensificado, o que fez com que as dinâmicas se tornassem um espaço de liberdade de expressão, no qual o diálogo era uma ferramenta geradora de informação e troca de saberes.

Após as dinâmicas introdutórias, foram desenvolvidas dinâmicas de higiene pessoal e autoestima. Em uma delas, por exemplo, criou-se situações problematizadoras sobre a falta de higiene pessoal, propondo aos alunos que desenvolvessem dramatizações em que discutissem, entre outros assuntos, questões sobre odores desagradáveis, falta de banho, unhas grandes e sujas. O objetivo dessas dramatizações foi levar os estudantes a refletir sobre as consequências de uma higiene pessoal inadequada para a saúde de cada um.

Ao analisar os percalços encontrados pelos monitores nessa primeira etapa da intervenção na escola, foi possível destacar a dificuldade dos universitários de falar em público durante as dinâmicas. No entanto, no decorrer do ano, à medida que os monitores se aproximavam dos alunos, esse obstáculo foi transposto. É interessante ressaltar que o desenvolvimento da comunicação em público foi um benefício que o PET-Saúde trouxe à formação profissional dos monitores. Afinal, a habilidade de se expressar é um fator importante para que ocorra o estabelecimento de uma relação médico-paciente adequada, fundamental para a prática médica, pois uma boa interlocução pode propiciar vários ganhos, como maior adesão ao tratamento, maior eficiência na anamnese e maior bem-estar para o médico e o paciente24.

Norteando nossos rumos

No decorrer da atividade realizada com os estudantes de Glaura, evidenciou-se a necessidade de realizar um trabalho com foco mais definido. Nesse sentido, para que se pudesse investigar os temas que proporcionavam um número maior de questionamentos nos adolescentes, foi disponibilizado, em sala de aula, um recipiente onde eles poderiam depositar questões sobre a área da saúde. A apuração das perguntas revelou dúvidas relacionadas à obesidade, drogas, gripe A (tema em voga na época), depressão e, principalmente, sexualidade.

Um dos fatores que podem justificar o recorrente interesse dos alunos por temas afins à esfera da sexualidade é a sua contribuição para o desenvolvimento da autonomia do indivíduo em relação à sua família, já que é nessa fase da vida que o jovem almeja independência25. Algumas perguntas apresentaram um padrão semelhante do 6ºao 9ºano, como: "Como colocar a camisinha feminina e masculina corretamente?"; "Quando a gente usa camisinha é preciso usar a pílula também?" ou "Como fazer sexo?". Essas dúvidas apareceram em quase todas as salas, o que provavelmente demonstra ausência de conhecimento básico ou mesmo falta de maturidade entre os alunos dos mais variados anos do Ensino Fundamental. Por outro lado, surgiram questionamentos como "Quais são as posições para se fazer sexo?"; "Tem como enfiar dois pênis em uma vagina?" ou "Sexo com mais de quatro pessoas ao mesmo tempo pode trazer danos à saúde?", os quais podem evidenciar uma visão maliciosa em relação à sexualidade. Além disso, questões como "Fazer sexo pelo ânus engravida?"; "Como se pega Aids? Ela é transmissível?" ou "Como evitar a gravidez?" demonstram certo grau de seriedade diante do tema e um real interesse por questões necessárias à conquista da autonomia afetivo-sexual de cada indivíduo.

A partir do momento em que a sexualidade foi estabelecida como tema central das intervenções, surgiu a necessidade de se definir a melhor abordagem para tratar o tema. À luz da visão freiriana, sabe-se que educação popular baseia-se no protagonismo dos sujeitos com intencionalidade de formar indivíduos capazes de transformar sua realidade26. Nesse contexto, optou-se por uma intervenção voltada para o lúdico, com o objetivo de tornar os estudantes mais ativos no processo de ensino-aprendizagem, já que esse método aumenta a atenção e motivação dos alunos e, claramente, potencializa o intercâmbio de consciências entre seus participantes. O maior desafio, então, foi definir exatamente como fazer a intervenção, ou seja, como usar o lúdico para ambientar a troca de experiências, de acordo com as vivências dos adolescentes.

O ludismo, em um primeiro momento, foi construído com base em uma personagem caricata chamada Maria Bonita, criada com o intuito de desinibir os estudantes em relação ao tema sexualidade. Enquanto um monitor discutia o funcionamento do sistema reprodutor feminino e masculino, a forma como colocar corretamente a camisinha masculina e feminina, entre outros temas, a personagem se misturava aos alunos, perguntando de maneira cômica as questões depositadas pelos adolescentes na caixinha. Com o passar do tempo, pôde-se perceber uma maior desenvoltura dos adolescentes, uma vez que começaram a questionar e a interagir mais ao longo da intervenção. Em um segundo momento, realizou-se um jogo de perguntas e respostas relacionadas à sexualidade. No jogo, os estudantes foram divididos em dois grupos e, a cada rodada, quem respondesse de maneira correta, marcava ponto para sua equipe. Cada grupo pôde, ainda, solicitar ajuda aos universitários e aos próprios colegas para elucidar as questões. Ao final de cada rodada, organizou-se um debate a respeito daquilo que foi perguntado. As estratégias didáticas utilizadas trouxeram grande participação dos estudantes da escola, o que conferiu um vínculo de confiança aos participantes no ambiente das intervenções, anulando a timidez dos alunos em expor suas angústias.

Ao longo do projeto, a equipe participou de recepções gratificantes que demonstraram o vínculo estabelecido. Essas recepções partiram tanto dos professores quanto dos alunos. Como exemplo disso, cita-se a fala de uma das educadoras do colégio: "Aprendi a colocar corretamente a camisinha masculina só agora; meu marido abria o pacote, soprava a camisinha para depois colocá-la". Além disso, a equipe de trabalho recebeu poemas dos estudantes, fato que, possivelmente, demonstra satisfação pela presença do grupo atuando na escola.

Embora o trabalho tenha sido desenvolvido por estudantes de Medicina, verificou-se que, mesmo entre eles, havia comportamentos similares aos apresentados pelos alunos, tais como crendices, falta de conhecimento e pudor em relação à utilização de termos populares relativos à sexualidade27. Contudo, a proximidade com o preceptor possibilitou aos monitores maior segurança diante dos alunos, pois, caso não obtivessem conhecimento suficiente para responder a determinado questionamento, ele os auxiliaria. No decorrer da atividade, o preceptor incentivou que os estudantes de Medicina utilizassem termos populares e até mesmo considerados obscenos, a fim de aproximá-los ainda mais dos alunos e fortalecer o vínculo entre eles. No entanto, ainda que fossem adotados os mesmos termos empregados pelos alunos, foram apresentados os termos científicos e técnicos, bem como debatidos o surgimento social dos significantes populares, observando, em alguns casos, seu cunho preconceituoso/agressivo.

Estimulando a Multiplicação do Conhecimento

Depois de norteada a intervenção e trabalhado o tema sexualidade nas salas de aula, foi proposta aos estudantes a produção de ferramentas multiplicadoras do que foi discutido. Em cada turma, foram divididos grupos para discussão e elaboração de material de veiculação do conhecimento que tratasse de algum subtema inserido no contexto da sexualidade. Ainda que a atividade de cada grupo tenha sido supervisionada por um monitor do PET-Saúde, foram os adolescentes que produziram os materiais da concepção à finalização. Desse modo, os monitores apenas estimularam e auxiliaram os grupos, além de terem fornecido os materiais necessários às atividades.

Jogos, músicas e peças de teatros possuem um enorme potencial para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem28. Dessa maneira, o material produzido pelos adolescentes serviu de instrumento para fixar e propagar o conhecimento em seu próprio meio.

Foram produzidos cartazes, peças teatrais, paródias musicais, coreografias e vídeos. Ao longo das últimas semanas de intervenção, os monitores compareciam às salas de aula para acompanhar o andamento dos trabalhos, responder às dúvidas e auxiliá-los.

Algumas equipes de estudantes optaram por fazer vídeos em que eles mesmos atuaram e dirigiram. Houve grupos em que os alunos ensinaram, utilizando uma prótese, a forma correta de se colocar a camisinha; outro grupo mostrou a questão do sexo seguro depois da "balada", já outro mostrava quatro amigas conversando sobre a aula de educação sexual que haviam acabado de assistir.

No último encontro na escola de Glaura, foi realizada uma cerimônia de encerramento no centro comunitário do distrito, na qual os trabalhos desenvolvidos pelos adolescentes foram apresentados aos seus colegas de colégio, professores e funcionários. A produção desses materiais é de suma importância, pois fixa o conhecimento aprendido e promove a interação de diversas áreas do conhecimento29.

Durante as apresentações, percebeu-se o domínio e a desenvoltura apresentados pelos adolescentes ao falar sobre sexualidade. Espera-se que eles se tornem multiplicadores do conhecimento acumulado, atuando com os amigos, a escola e toda a comunidade. Pelo fato de ser no contexto da relação de amizade que ocorre a maior interlocução afetivo-sexual e de a adolescência ser o momento em que o indivíduo encontra-se mais suscetível à adoção de novas posturas, evidencia-se a importância dos multiplicadores na diminuição de comportamentos de risco entre a população jovem30.

O multiplicador assegura a construção conjunta do conhecimento a partir do momento em que se coloca como sujeito ativo nesse processo. Desse modo, é de se esperar que o conhecimento construído com esses adolescentes continue a ser construído com a comunidade, provocando um importante impacto social, uma vez que todo processo educativo é instrumento de transformação social, capaz de reformular hábitos e conceitos31.

Aproximando realidades distintas

Pode-se perceber a importância do projeto para a intensificação da integração ensino-serviço-comunidade32, uma vez que, semanalmente, estavam presentes na comunidade o médico da Estratégia de Saúde da Família e os universitários. Nessas visitas, eram realizadas atividades com o intuito de fortalecer a Atenção Primária do distrito, por meio de uma abordagem integral da educação dos adolescentes na escola.

A aproximação entre o Centro de Saúde, a escola e a Universidade se consolidou em um evento realizado semestralmente: o V Encontro Didático-Científico do Curso de Medicina da Ufop, que divulga as intervenções realizadas pelos discentes nas disciplinas "Prática em Serviço de Saúde I e II" e "Medicina, Ciência e Sociedade", componentes da grade curricular do 1º e do 2º período. Essas disciplinas visam a inserir o estudante no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) desde o início do curso, sendo o encontro o momento de troca de experiências, críticas e reflexões sobre os diversos projetos desenvolvidos. Nessa ocasião, alguns vídeos, peças de teatro e paródias de músicas, todos abordando o tema sexualidade, foram apresentados pelos alunos da escola à sociedade acadêmica. O critério utilizado para selecionar os trabalhos a serem apresentados na Ufop foi a maior autonomia dos adolescentes na elaboração das atividades.

Apesar de muitos adolescentes terem ficado envergonhados durante as apresentações na escola, durante a apresentação na Universidade, não demonstraram timidez ao discorrer sobre sexualidade. Pode-se entender que essa timidez inicial se deve às brincadeiras típicas do período da adolescência no ambiente escolar. No entanto, percebeu-se uma mudança de comportamento dos adolescentes durante o ano. No final da intervenção, os estudantes conseguiram tratar do tema com mais naturalidade, principalmente na elaboração das peças teatrais e vídeos. Essa mudança de comportamento pode indicar que o grupo do PET-Saúde conseguiu amenizar o tabu sobre sexualidade na escola33. No entanto, no âmbito familiar, não foi averiguado se houve alguma mudança. É possível inferir que, de modo geral, os adolescentes não estabelecem um diálogo constante com os pais sobre sexualidade34.

A intervenção foi finalizada com uma visita técnica dos adolescentes ao campus Morro do Cruzeiro, da Ufop. Os alunos conheceram os prédios da Universidade e tiveram aulas nos laboratórios de Histologia, Embriologia e Anatomia Humana. Essa visita, assim como a apresentação no V Encontro Didático-Científico, teve por objetivo aumentar o autoconceito acadêmico35 dos adolescentes. Isso porque, por meio de uma conversa informal com a diretora da escola, foi identificado que os alunos, de modo geral, tinham um baixo autoconceito acadêmico, ou seja, desconfiavam da própria capacidade acadêmica.

O PET-Saúde permitiu, ainda, que se estreitassem os laços existentes entre o processo de aprendizagem na educação médica e a rede de serviços de saúde. Tal fato mostra-se fundamental para que a formação médica esteja de acordo com as necessidades do SUS. Além disso, pôde contribuir de maneira significativa para a produção de conhecimento na atenção primária em saúde, promovendo uma assistência à saúde mais efetiva e equânime.

Além disso, pode-se destacar a importância do programa para o processo de educação em saúde, devido à orientação tutorial realizada. Nesse sentido, permite a adoção de uma metodologia de ensino centrada no aluno como sujeito da aprendizagem e no professor como facilitador do processo de construção do conhecimento. Essa metodologia deve ser enfatizada, já que a educação médica deve ser sustentada como um processo permanente que se inicia na graduação e se mantém na vida profissional.

Ademais, o PET-Saúde possibilitou o desenvolvimento de novas práticas de atenção e experiências pedagógicas no Centro de Saúde de Glaura. Prova disso é o fato de a intervenção ter contribuído para que houvesse a implantação, no distrito, de diferentes atividades de educação em saúde que conseguissem resgatar a autonomia das pessoas e que valorizassem os saberes populares36. Além disso, após a implementação do programa, passou-se a buscar saúde e qualidade de vida não somente no Centro de Saúde, mas também no ambiente escolar. Isso se torna evidente em uma declaração da diretora da escola: "Em Glaura, houve uma verdadeira integração entre a Universidade, a unidade básica de saúde e a escola."

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho de educação em saúde, com destaque ao tema sexualidade, desenvolvido em Glaura, foi extremamente benéfico para a formação dos estudantes universitários da Ufop. Tal assertiva pode ser justificada pelo fato de essa atividade ter desenvolvido uma habilidade essencial para um estudante de Medicina em formação: fornecer orientação afetivo-sexual. Dessa forma, durante o desenvolvimento do projeto, os acadêmicos puderam aproximar-se desse tema, possibilitando aos monitores melhor preparação para a futura prática médica.

Como impacto social da intervenção do grupo do PET-Saúde pode-se apontar a realização de atividades de promoção à saúde e prevenção de doenças com os adolescentes. No decorrer do ano, os monitores do programa do Ministério da Saúde ajudaram os alunos da Escola Municipal Dr. Benedito Xavier desenvolverem noções sobre sexualidade, desenvolvendo a autonomia do cuidado para que os estudantes se tornassem multiplicadores do conhecimento em seu meio social. Ao longo da intervenção, apesar de se ter trabalhado o assunto métodos contraceptivos, houve um caso de gravidez indesejada com uma adolescente da escola. É notório o fato de que, mesmo com um programa de orientação afetivo-sexual e reprodutiva em desenvolvimento, alguns adolescentes presenciaram as intervenções, mas não aplicaram em suas vidas o conhecimento construído, possivelmente devido à dificuldade de inclusão de novos valores e práticas no cotidiano de cada um. Em contrapartida, esse acontecimento ratifica a necessidade de se trabalhar com educação afetivo-sexual na adolescência, a fim de que o conhecimento esteja ao alcance dessa população.

O programa do Ministério da Saúde também contribuiu para que houvesse um aprimoramento da formação do profissional de saúde, já que estimulou os universitários a abordarem integralmente o processo saúde-doença. Sabe-se que a universidadepública possui três pilares: o ensino, a pesquisa e a extensão; e, nesse contexto, o PET-Saúde promoveu a real integração entre o ensino e os serviços de saúde, o desenvolvimento de pesquisa na atenção primária à saúde e a qualidade do retorno social que a Universidade Federal de Ouro Preto oferta à comunidade de seu entorno.

REFERÊNCIAS

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Recebido em: 30/03/2010

Aprovado em: 19/11/2010

CONFLITO DE INTERESSES: Declarou não haver.

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Todos os autores contribuíram na revisão bibliográfica, na fase de coleta de dados, realização das intervenções, na discussão e finalização do artigo.

  • 1. Rodríguez CA, Kolling MG, Mesquida P. Educação e saúde: um binômio que merece ser resgatado. Rev Bras Educ Med. 2007;31(1):60-6.
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  • Endereço para correspondência:

    Tiago Soares Baumfeld
    Departamento de Ciências Médicas - Universidade Federal de Ouro Preto Prédio da Medicina
    Campus Morro do Cruzeiro, s/n. Bauxita
    Ouro Preto CEP. 35400-000 MG
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Jun 2012
    • Data do Fascículo
      Mar 2012

    Histórico

    • Recebido
      30 Mar 2010
    • Aceito
      19 Nov 2010
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