Acessibilidade / Reportar erro

Notas sobre o bicho-da-seda no folclore Chinês

Resumos

Notas sobre o bicho-da-seda no folclore chinês. Duas lendas sobre o bicho-da-seda (Bombyx mori Linnaeus, 1758) no folclore chinês são apresentadas: uma sobre a sua origem, a outra sobre os gatos como protetores do bicho-da-seda e da sericultura.

Bicho-da-seda; China; folclore; gatos protetores; origem


Notes about the silkworm in Chinese folklore. Two legends about the silkworm (Bombyx mori Linnaeus, 1758) in Chinese folklore are presented: one about its origin, the other about cats as protectors of silkworms and sericulture.

Cats as protectors; China; folklore; silkworm; origin


COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Notas sobre o bicho-da-seda no folclore Chinês

Nelson PapaveroI; José Roberto Pujol-LuzII

IMuseu de Zoologia, Universidade de São Paulo, Caixa Postal 42494, 04218-970 São Paulo-SP, Brasil

IIDepartamento de Zoologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília, 70910-900 Brasília-DF, Brasil. jrpujol@unb.br

RESUMO

Notas sobre o bicho-da-seda no folclore chinês. Duas lendas sobre o bicho-da-seda (Bombyx mori Linnaeus, 1758) no folclore chinês são apresentadas: uma sobre a sua origem, a outra sobre os gatos como protetores do bicho-da-seda e da sericultura.

Palavras-chave: Bicho-da-seda; China; folclore; gatos protetores; origem.

ABSTRACT

Notes about the silkworm in Chinese folklore. Two legends about the silkworm (Bombyx mori Linnaeus, 1758) in Chinese folklore are presented: one about its origin, the other about cats as protectors of silkworms and sericulture.

Keywords: Cats as protectors; China; folklore; silkworm; origin.

A sericultura começou na China provavelmente em tempos neolíticos. Um casulo do bicho-da-seda foi descoberto num sítio arqueológico na província de Shanxi datando de 2600-2300 a. C. Os mais antigos restos de seda descobertos datam da Dinastia Shang (sécs. XVI-XIII a. C.). Para uma história do bicho-da-seda na cultura chinesa, ver Liu (1952).

A invenção da seda tem sido tradicionalmente atribuída à Sra. Xiling (Sra. Xi Ling Shi), a esposa do lendário Imperador Amarelo (Huangdi), que supostamente viveu de 1698-1598 a. C. Segundo Confúcio, enquanto ela estava bebendo uma xícara de chá sob uma amoreira um casulo de seda caiu-lhe na xícara. Ela observou que o fio de seda começou a desenrolar-se no chá quente. Desenrolando os fios de seda, usou-os para fabricar tecidos.

O objetivo deste trabalho é informar sobre duas lendas do folclore chinês sobre o bicho-da-seda.

Origem do bicho-da-seda (Matouniang – "A senhorita cabeça de cavalo"). A lenda sobre a senhorita cabeça de cavalo (Matouniang, de ma = cavalo, tou = cabeça, niang = moça, senhorita) surgiu durante a Dinastia T'ang (618-907 d.C.). Em tempos remotos vivia em Szechuan uma moça com seus pais. Um dia seu pai foi raptado por piratas. A moça, em sua piedade filial, chorava incessantemente e recusava-se a comer. Ao cabo de um ano, em total desespero, sua mãe fez o juramento de dar sua filha em matrimônio a quem lhe devolvesse o marido. Seu cavalo ouviu esse voto; escapou do estábulo e alguns dias mais tarde voltou com seu mestre, agora livre, na garupa. Mas quando o homem soube do imprudente juramento de sua esposa recusou-se a mantê-lo. O cavalo mostrou-se muito indignado e o homem matou-o com uma flecha, esfolou-o e pendurou a pele para secar na porta da casa. Pouco depois a moça passou perto da pele, que se soltou, envolvendo-a e levando-a para longe. Dez dias depois a pele foi encontrada pendurada em um galho de uma amoreira. A moça fora transformada num bicho-da-seda, que, segundo os chineses, tem sua cabeça parecida com a de um cavalo. É por isso que até hoje dentro do casulo (a pele do cavalo esfolado) existe uma "bonequinha" (a pupa, que, por coincidência, em latim, quer dizer "boneca"). O Imperador de Jade (a divindade suprema do céu chinês) levou a moça para o céu e tornou-a uma de suas concubinas (Maspero s/d: 327-328) (Fig. 1). A amoreira em chinês é chamada sang, porque o mesmo som "sang", mas representado por outro ideograma, significa "lamento, lamúria".


Existem algumas variantes dessa lenda. Numa delas, o pai viaja com um exército e é a moça que diz brincando a seu cavalo que se ele lhe trouxesse o pai de volta casar-se-ia com ele (Yang et al. 2005: 164). Noutra o pai está simplesmente viajando e a moça fica com muitas saudades etc. (cf. Birrell 1993: 199-200; Glahn 2004: 241; Liu 1952; Miller 1995).

O gato protetor do bicho da seda (Ts'an-mao). Segundo Doré (1918: 710) ipsissima verba: "It is a well known fact that rats have a peculiar liking for silkworms. Now, as these destructive rodents swarm in Chinese houses, it has been deemed necessary to protect the worms from their ravages. Cats are employed for this purpose, and are shut up during the night in all places devoted to the silk industry. When the feeding of the worms commences, seekers after cats visit towns and hamlets, and endeavour to buy up all the pussies they can find for the protection of the silkworms. Since the simple presence of the cat suffices to keep off the rats, some fancied that the picture of a cat (Fig. 2) would produce the same result. The device being simple, would prove also less costly than the real animal. The custom was thus gradually introduced of sticking on the walls pictures of cats, for protecting silkworms from all attacks by rats. In this process, the image or symbol has been endowed with spiritual power, deified as it were, and this enabled to produce the desired effect. Such is the origin of the cat protecting silkworms, Ts'an mao".

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq pelas bolsas de produtividade científica (NP e JRPL).

Received 4/6/2010;

accepted 6/1/2011

Editor: Lúcia Massutti de Almeida

  • Birrell, A. 1993. Chinese mythology: An introduction Baltimore,Johns Hopkins University Press, 322 p.
  • Doré, H., S. J. 1918. Researches into Chinese superstitions by Henri Doré, S. J. Translated from the French with notes, historical and explanatory by M. Kennelly, S. J. First part. Superstitious Practices. Profusely illustrated. Vol. V Shanghai. T'usewei Printing Press, xxiv + 465736.
  • Liu, K. K. C. 1952. The silkworm and Chinese culture. Osiris 10: 129194.
  • Glahn, R. von. 2004. The sinister way. The divine and the demonic in Chinese religious culture Berkeley & Los Angeles, University of California Press, 385 p.
  • Maspero, H. (s/d). The mythology of modern China, p. 252-384. In: J. Hakin, C. Huart, R. Linossier, H. de Wilman-Grabowska, C. H. Marchal, H. Maspero & S. Eliseev, Asiatic mythology. A detailed description and explanation of the mythologies of all the great nations of Asia New York, Crescent Books, 460 p.
  • Miller, A. L. 1995. The woman who married a horse: Five ways of looking at a Chinese folktale. Asian Folklore Studies 54: 275305.
  • Yang, L., D. An & J. A. Turner. 2005. Handbook of Chinese mythology Santa Barbara, ABC-CLIO, Inc., 293 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Maio 2011
  • Data do Fascículo
    Mar 2011

Histórico

  • Aceito
    06 Jan 2011
  • Recebido
    04 Jun 2010
Sociedade Brasileira De Entomologia Caixa Postal 19030, 81531-980 Curitiba PR Brasil , Tel./Fax: +55 41 3266-0502 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: sbe@ufpr.br