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Séries de leitura graduada na escola primária em Mato Grosso do Sul: consolidação dos processos de leitura escolar

The use of graded reading series at a primary school in Mato Grosso do Sul: consolidating the reading processes in school

Serie de lectura graduada en la escuela primaria en Mato Grosso do Sul: consolidación de los procesos de lectura escolar

Resumo:

Este artigo analisa duas séries de leitura (Vamos Estudar? e Vamos Sorrir) utilizadas em Mato Grosso do Sul, entre as décadas de 1960 e 1970, tendo por objetivo examinar a especificidade desses materiais na consolidação dos processos de leitura escolar, no cenário educacional brasileiro e de circulação nesse estado. Realizou-se uma pesquisa qualitativa de base documental, na qual foram examinadas as duas séries de leitura utilizadas na região no período indicado, sob os pressupostos teóricos da história do livro e da leitura. Os resultados permitem concluir que, no caso das séries em análise, mediante um discurso exortativo do estudo (vamos estudar) e da alegria (vamos sorrir), ambas podem ser consideradas representativas da escolarização primária, da alfabetização e do significado de infância subsumido nessa prática em sua época. Além disso, os textos presentes nos materiais contribuiram para a constituição de uma identidade que visava formar o bom filho, o bom aluno e, no futuro, o bom cidadão.

Palavras-chave:
história do livro; série de leitura graduada; livro didático

Abstract:

This study analyzes two reading sets (named Vamos Estudar? and Vamos Sorrir?) used in the state of Mato Grosso do Sul, between the 1960s and 1970s, aiming to examine the specificity of these materials in the consolidation of the reading processes, within Brazil’s educational scene and within the aforementioned state’s circulation. A qualitative document research was carried out, in which two reading series used in the region during the period indicated were examined under the theoretical assumptions of the story of the book and of reading itself. The results point out that, by adopting a stimulating discourse of study (in the case of Vamos Estudar?) and a discourse of joy (in the case of Vamos Sorrir?), both manage to represent primary schooling, literacy and the substance of childhood, constitutive of this practice in their time. Furthermore, the texts in the materials have contributed to the construction of an identity that aimed at educating a good son, a good student and, in the future, a good citizen.

Keywords:
history of the book; set of graded reading; didactic book

Resumen:

El presente trabajo analiza dos series de lectura (Vamos Estudar? e Vamos Sorrir?) utilizadas en Mato Grosso do Sul, entre las décadas de 1960 y 1970, teniendo como objetivo examinar la especificidad de esos materiales en la consolidación de los procesos de lectura escolar, en el escenario educativo brasileño y de circulación en ese estado. Se realizó una investigación cualitativa de base documental, en la cual se examinaron las dos series de lectura utilizadas en la región en el período indicado, bajo los presupuestos teóricos de la historia del libro y de la lectura. Los resultados permiten concluir que, en el caso de las series en análisis, mediante un discurso exhortativo del estudio (vamos a estudiar) y de la alegría (vamos sonreír), ambas pueden ser consideradas representativas de la escolarización primaria, de la alfabetización y del significado de la infancia subsumido en esa práctica en su época. Además, los textos presentes en los materiales contribuyeron a la constitución de una identidad que pretendía formar el buen hijo, el buen alumno y, en el futuro, el buen ciudadano.

Palabras clave:
historia del libro; serie de lectura graduada; libro didáctico

Introdução

E eu na escola, sentado, pernas unidas, com o livro deleitura e a gramática nos joelhos. (Machado de Assis, 1884)

O ano era 1840, quando o narrador de “Conto de escola”, Pilar, na epígrafe que inicia este texto, realizava sua lição de escrita com base em dois livros, um de leitura e outro de gramática. Que lição era essa? Que livros eram esses? Que usos fazia deles esse pequeno estudante? O texto não nos indica pistas para respostas a nenhuma dessas perguntas, porque nosso protagonista, ao contrário do lugar indicado no título do texto - a escola -, sonha com a vida lá fora.

A epígrafe, no entanto, é indicativa de práticas escolares de uso de livros produzidos especificamente para ensino na escola brasileira, aqui denominados livros didáticos,1 1 Optamos pela expressão livros didáticos, seguindo a tradição lexical das pesquisas brasileiras que, segundo Choppin (2009), empregam-na para referência aos textos utilizados na escola com fins de ensino. como parte de sua cultura, em meados do século 19, como instrumento ou catalisador do ensino de leitura e escrita, sendo componentes fundamentais da escola e do ensino. Em decorrência disso, esses objetos podem ser considerados fonte privilegiada de acesso à “caixa preta” da escola, haja vista sua centralidade e onipresença nas relações de ensino primário, que merecem interpretação e análise específicas, pois permitem recuperar saberes e competências consideradas formadoras em determinada época, contribuindo para a produção de uma história da educação, do ensino e das disciplinas escolares.

Darnton (1990DARNTON, R. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.), em seus estudos sobre o circuito da comunicação do livro, alerta que, embora negligenciado até 1960, o livro didático passou a ser, desde então, um objeto de estudo que se amplia constantemente na contemporaneidade. Segundo esse autor, além dos aspectos econômicos, históricos, políticos, culturais e sociais que envolvem a produção desse material, um dos motivos da intensidade de estudos referentes ao tema se deve a sua abrangência.

O pesquisador reconhece o livro impresso como um objeto interdisciplinar e o concebe dentro de um circuito que permite visualizar seu surgimento e sua difusão dentro de uma sociedade.

Darnton (1990DARNTON, R. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.) explica que, de maneira geral, os livros impressos, sejam eles didáticos ou não, passam pelo mesmo ciclo de produção, descrito como um circuito de comunicação, que vai do autor ao editor, ao impressor, ao distribuidor, ao vendedor, para, então, chegar ao leitor. Esses últimos encerram o circuito porque influenciam o autor tanto antes quanto depois do ato da composição do livro. Os próprios autores são leitores. Lendo e associando-se a outros leitores e autores, eles formam noções de gênero e estilo, além de uma ideia geral do empreendimento literário, que afetam seus textos. Um escritor, por meio do seu texto, dirige-se a leitores implícitos e “ouve” a resposta de resenhistas explícitos. Ele transmite mensagens, transformando-as durante o percurso, conforme passam do pensamento para o texto, para letra impressa e de novo para o pensamento. Dessa forma, a produção de um livro passa por todo esse circuito, tendo por base discursos que produzem esse artefato. Assim, para esse autor, o circuito percorre um ciclo completo.

Na busca por demonstrar como ocorre seu processo de produção, Chartier (1998CHARTIER, R. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: UnB, 1998.) considera que o leitor é confrontado com um conjunto de constrangimentos e regras ao se deparar com um livro.

O autor, o livreiro-editor, o comentador, o censor, todos pensam em controlar mais de perto a produção do sentido, fazendo com que os textos escritos, publicados, glosados ou autorizados por eles sejam compreendidos, sem qualquer variação possível, à luz de sua vontade prescritiva. (Chartier, 1998CHARTIER, R. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: UnB, 1998., p. 7).

Chartier (1998CHARTIER, R. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: UnB, 1998.) sugere que o controle que ocorre na produção de um livro se deve ao fato de tal artefato sempre ter como intenção instaurar uma ordem, seja ela a da decifração ou a da autoridade que permitiu sua publicação ou o encomendou. Para o autor, compreender a ordem de produção, de comunicação e de recepção é compreender os efeitos produzidos por esses materiais.

À luz desses pressupostos, desenvolvemos duas pesquisas como parte de estágios de pós-doutorado, cujos temas abordaram, entre outros aspectos, a circulação de livros didáticos no sul do antigo estado de Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul2 2 No período abordado por este estudo, Mato Grosso do Sul ainda não era um estado constituído e seu território pertencia ao estado de Mato Grosso. A divisão ocorreu somente em 1977, pela Lei Complementar nº 31. Entretanto, ao longo do texto, referimo-nos a Mato Grosso do Sul sempre que indicarmos a especificidade regional que abordamos e a Mato Grosso sempre que remetermos aos estudos que contemplam o período antes da divisão. . Em ambas, localizamos, recuperamos, reunimos e analisamos livros didáticos para ensino de leitura e escrita, como cartilhas, livros de leitura, manuais de ensino, guias curriculares etc.

Neste texto, tendo por objetivo analisar a especificidade desses materiais na consolidação dos processos de leitura escolar, no cenário educacional brasileiro e de circulação em Mato Grosso do Sul, entre as décadas de 1960 e 1970, mostramos resultados parciais das pesquisas, optando por apresentar o exame de livros didáticos localizados entre as fontes documentais organizadas. Trata-se das séries de leitura Vamos Estudar?, de Theobaldo Miranda Santos, e Vamos Sorrir, de Maria Braz e Candido de Oliveira.3 3 A série de leitura Vamos Estudar? foi localizada entre os livros didáticos que circularam na porção leste do atual estado de Mato Grosso do Sul e a Vamos Sorrir, na porção sudoeste do mesmo estado.

As séries de leitura parecem ter sido uma espécie de “moda de época” que compuseram os materiais de leitura de crianças no Brasil a partir da segunda metade do século 19. De acordo com Pfromm Neto et al. (1974PFROMM NETO, S. et al. O livro na educação. Rio de Janeiro: Primor/INL, 1974., p. 170), o movimento “em favor da escola elementar” naquele período, fez surgir

[...] condições favoráveis que estimularam, em educadores brasileiros, o desejo de elaborar livros de leitura e outros textos didáticos para uso de alunos e professores do ensino elementar. O baiano Abílio Cesar Borges, primeiramente, e mais tarde, Felisberto de Carvalho, Hilário Ribeiro, Romão Puiggari, Arnaldo de Oliveira Barreto, Francisco Vianna, João Köpke e outros, produziram nossas primeiras séries graduadas de livros de leitura.

Em decorrência dessas primeiras produções, as séries de leitura não somente passaram a responder a expectativas e fundamentos de ensino graduado, em consonância com os pressupostos da escola moderna, como também constituíram estratégia editorial que passou a organizar o mercado de livros escolares. Além disso,

Como objetos culturais foram instrumentos mediadores para a divulgação e circulação de saberes destacando-se na consolidação dos processos de construção da leitura escolar e significaram tanto um material para uso de professores e alunos como um indicador de todo um modo de conceber e praticar o ensino. Pode-se considerar que as Séries de Leitura Graduada se firmaram como manuais escolares e como objetos da cultura escolar e nessa condição foram gradativamente integrados aos processos da alfabetização, da aprendizagem da leitura e da escrita e do desenvolvimento do ensino primário. (Cunha, 2011CUNHA, M. T. S. A série de leitura graduada “Pedrinho” de Lourenço Filho: o Brasil em lições (décadas de 50/60 do século XX). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 6., 2011, Vitória. Anais... Belo Horizonte: SBHE, 2011a. Disponível em: <Disponível em: http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe6/anais_vi_cbhe/conteudo/file/1212.doc >. Acesso em: abr. 2018.
http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/c...
a, p. 10).

No caso das séries em análise, mediante um discurso exortativo do estudo (vamos estudar) e da alegria (vamos sorrir), ambas podem ser consideradas representativas da escolarização primária, da alfabetização e do significado de infância subsumido nessa prática em sua época.

O convite ao estudo em Vamos Estudar?

Vamos Estudar?, de Theobaldo Miranda Santos,4 4 “Theobaldo Miranda Santos nasceu em Campos/RJ em 5 de junho de 1904 e faleceu no Rio de Janeiro/RJ, em 1971. Fez seus estudos no Liceu de Humanidades e Escola Normal, do Instituto Católico de Estudos Superiores, em Campos, e em Juiz de Fora/MG, formou-se em Farmácia e Odontologia. Em Manhuaçu/MG foi professor primário. Voltando a Campos, em 1928 passou a lecionar no mesmo Liceu onde estudara, nas disciplinas Física, Química e História Natural, exercendo, também, o cargo de diretor. Foi, ainda, superintendente municipal de Educação e Cultura e professor da Faculdade de Farmácia e Odontologia e da Escola Superior de Agricultura. Em 1938, tornou-se professor de Prática de Ensino na antiga Universidade do Distrito Federal. Em 1942, foi Diretor do Departamento de Educação Primária e passou a lecionar Filosofia e História da Educação na Pontifícia Universidade Católica e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santa Úrsula. A partir de 1944, passou a ocupar a cátedra de Filosofia da Educação no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Aposentou-se do magistério em 1958”. (Camargo 2014 apudBertoletti, 2016, p. 339). é uma série composta por cartilha e livros de leitura, em 13 volumes:5 5 Embora essa informação conste na quarta capa de um exemplar analisado, localizamos somente 11 volumes. cartilha, 1º livro de leitura, 2º livro de leitura, 3º livro de leitura (edição especial para a região Norte), 3º livro de leitura (edição especial para a região Nordeste), 3º livro de leitura (edição especial para a região Sudeste), 3º livro de leitura (edição especial para a região Centro-Oeste), 3º livro de leitura (edição especial para o estado do Paraná), 3º livro de leitura (edição especial para o estado de Santa Catarina), 3º livro de leitura (edição especial para o estado do Rio Grande do Sul) e 4º livro de leitura. Esses trazem conhecimentos de várias disciplinas para todas as séries do ensino primário, com adaptações regionais, como se observou nos terceiros livros, tendo tido a primeira edição em 1950 e circulado no Brasil, pelo menos, até o final dos anos de 1970.

Com exceção da cartilha, os livros de leitura trazem, de maneira independente, em cada volume, as disciplinas: linguagem, história do Brasil, geografia do Brasil, ciências naturais e higiene e matemática; e, a partir de 1969, em virtude do Decreto-Lei nº 869, foi também incluída a disciplina educação moral e cívica (Oliveira, 2011OLIVEIRA, A. R. As atividades de redação em livros didáticos (1955-1973) de Theobaldo Miranda Santos. 2011. 218 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011. ). Trata-se, portanto, de um manual relativo a todo o programa do ensino primário - conforme informação constante nas capas dos livros -, que, segundo o autor, foi assim construído visando atender às condições econômicas dos alunos, os quais, em sua grande maioria, não tinham recursos para comprar livros (Santos, 1973SANTOS, T. M. Vamos estudar? Rio de Janeiro: Agir , 1973.).

De acordo com seu autor, os textos são “genuinamente brasileiros”, com intuito de abordar interesses e necessidades reais do País, numa sequência que configura uma viagem de norte a sul. A “viagem de norte a sul” é revelada de forma progressiva nas lições da cartilha e nos textos em forma de lendas, poemas, textos didáticos sobre a cultura popular, tipos regionais e demais aspectos relacionados ao Brasil nos livros de leitura (Oliveira, 2011OLIVEIRA, A. R. As atividades de redação em livros didáticos (1955-1973) de Theobaldo Miranda Santos. 2011. 218 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011. ). E, conforme consta na quarta capa dos livros da série, são “livros que conquistaram a confiança do magistério brasileiro”.

Tal inserção dos livros dessa série no rol de “confiança” do magistério parece ter explicação na vasta produção bibliográfica de seu autor. De acordo com Almeida Filho (2008)ALMEIDA FILHO, O. J. A estratégia da produção e circulação católica do projeto editorial das coleções de Theobaldo Miranda Santos: (1945-1971). 2008. 355 f. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. , a carreira de Theobaldo Miranda Santos como escritor teve início em 1932, com escritos em jornais de Campos/Rio de Janeiro (RJ) e Niterói/RJ e, conforme Camargo (2014 apudBertoletti 2016BERTOLETTI, E. N. M. Vamos estudar? Um caso de apropriação do livro didático na escola primária em Parnaíba/Mato Grosso/Brasil (1950-1960). In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 11., 2016, Porto. Atas... Porto: Universidade do Porto, 2016. Disponível em: <Disponível em: http://web3.letras.up.pt/colubhe/actas/eixo5.pdf >. Acesso em: 20 maio 2019.
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), como autor de livros didáticos sua carreira teve início em 1942. Entre os escritos desse autor, é possível encontrar manuais de ensino nas áreas de metodologia, filosofia, psicologia, história, didática, pedagogia, literatura, economia, administração escolar, sociologia, destinados aos cursos primário, secundário, normal e superior, literatura infantil e livros didáticos para ensino na escola primária, totalizando cerca de 130 títulos (Camargo, 2014 apudBertoletti, 2016BERTOLETTI, E. N. M. Vamos estudar? Um caso de apropriação do livro didático na escola primária em Parnaíba/Mato Grosso/Brasil (1950-1960). In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 11., 2016, Porto. Atas... Porto: Universidade do Porto, 2016. Disponível em: <Disponível em: http://web3.letras.up.pt/colubhe/actas/eixo5.pdf >. Acesso em: 20 maio 2019.
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). Em 1958, com a aposentadoria, passou a dedicar-se somente a sua produção escrita de livros didáticos (Camargo, 2014 apudBertoletti, 2016BERTOLETTI, E. N. M. Vamos estudar? Um caso de apropriação do livro didático na escola primária em Parnaíba/Mato Grosso/Brasil (1950-1960). In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 11., 2016, Porto. Atas... Porto: Universidade do Porto, 2016. Disponível em: <Disponível em: http://web3.letras.up.pt/colubhe/actas/eixo5.pdf >. Acesso em: 20 maio 2019.
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).

As capas de todos os volumes seguiam o mesmo projeto gráfico, tendo o título do livro centralizado, seguido abaixo pelo nome do autor, o número do livro e as disciplinas que o compunham, e todas essas informações circundadas por imagens representativas das regiões do Brasil. Nas quartas capas, também iguais em todos os volumes, constavam dados sobre os volumes da série e de outras séries do autor, após informação relativa à confiabilidade desses livros, com indicações sobre a editora e a compra por reembolso postal.

Quanto à Livraria Agir Editora, foi fundada em 1944 por Alceu Amoroso Lima (1893-1983) e tinha por objetivo editar e ampliar a produção de livros de autores católicos. A partir dela, o educador e intelectual criou uma rede transnacional com editoras do Chile e da Argentina (Rodrigues, 2006RODRIGUES, C. M. Alceu Amoroso Lima: matrizes e posições de um intelectual católico militante em perspectiva histórica: 1928-1946. 2006. 318 f. Tese (Doutorado em História ) - Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2006. ).

Como se pode observar no título da série em exame, a exortação do estudo aparece por meio do convite em forma da pergunta: “Vamos Estudar?”. O entusiasmo da questão denota um apelo aos alunos, como forma de motivá-los para os estudos e aprendizados, coadunando com manifestações do psicologismo pedagógico, com os sentimentos e com a subjetividade. Entretanto, observando-se o projeto editorial dos livros, nota-se que o endereçamento é também para o professor, subentendendo-se o outro leitor naturalmente previsto pelo livro didático.

Nos prefácios, assinados por Theobaldo Miranda Santos, há sempre a preocupação de indicar a orientação pedagógica dos volumes, voltada para a gradação de conhecimentos e com preocupação de adaptar-se aos “interesses infantis” e aos preceitos da “escola moderna”, na obra de reordenação social do Brasil. Desse modo, são destinados aos professores e ao trabalho de “dedicação, amor e idealismo” destes, e não aos alunos.

Os trechos de leitura e as noções de conhecimentos gerais foram dosadas de acôrdo com a capacidade de aprendizagem da criança. Os exercícios foram organizados em harmonia com os preceitos da didática moderna e as questões de exame das escolas públicas.

[...] desenvolver de modo suave e gradativo, todo o programa de linguagem, história, geografia, ciências naturais, higiene e matemática do 1º ano do curso primário. [...]

Nosso desejo, ao escrever êste livrinho, foi colaborar, modestamente, com a obra de dedicação, amor e idealismo que os professôres primários vêm realizando em prol da redenção educativa e social das crianças do Brasil (Santos, 1958SANTOS, T. M. Vamos estudar? Rio de Janeiro: Agir , 1958.).

A seção “Linguagem” dos livros de leitura de Vamos Estudar? correspondia ao ensino de leitura e escrita, focalizado neste texto. Nela, o autor desenvolvia os conteúdos de leitura, escrita e gramática, com base em textos, questionário sobre o texto, noções gramaticais e exercícios, sendo essa seção a que ocupava mais páginas dos livros de leitura da série. Além de “Linguagem”, havia seções de “Conhecimentos Gerais” (1º livro), “Geografia”, “História”, “Ciências Naturais e Higiene” (2º, 3º e 4º livros) e “Matemática” (todos os livros). No 1º livro, não havia subdivisão na seção “Linguagem” e os textos dela serviam aos “Conhecimentos Gerais”; nos outros livros, aquela seção se dividia em Leitura e Gramática.

Em todos os volumes, os textos da seção “Linguagem” correspondiam a assuntos da vida cotidiana da infância no lar, incutindo, gradativamente, a vida social na escola, na fazenda, na cidade, no estado, no País. Além desses, conforme preocupação do próprio autor, para tornar o livro “adaptado aos interesses infantis”, os textos correspondiam também a poemas, fábulas e contos de fadas, constitutivos da literatura infantil brasileira que ora eram adaptados pelo autor do livro ora reproduzidos de outros autores ora produzidos pelo próprio autor.

No 1º livro, de 39 textos, 5 eram em verso e 34, em prosa. Desses, 26 se relacionavam com a vida cotidiana da criança, o lar, o pai, a mãe, os vizinhos, a escola etc., 2 eram fábulas e 6 eram contos de fadas. No 2º livro, de 25 textos, 4 eram em verso e 21 em prosa, sendo 18 sobre a vida cotidiana da criança no ambiente rural, e 3 fábulas. No 4º livro,6 6 Não foram localizados exemplares da cartilha do 3º livro, por isso, não estão apresentados neste texto. dentre os 26 textos, 3 eram em verso e 23 em prosa, sendo relacionados a conhecimentos sobre diversas cidades, estados e regiões brasileiras.

Os poemas eram reproduzidos por outros autores, como Dulce Carneiro, Martins D’Alvarez, Renato Sêneca Fleury, J.G. de Araújo Jorge, Batista Cepelos, Medeiros e Albuquerque, pois o autor da série não exercia a atividade poética. Neles, prevalecia a recreação, mas as marcas do autor do livro pressupunham o ensinamento.

Os textos em prosa eram geralmente produzidos pelo próprio autor da série, com algumas adaptações de textos de outros autores. No 4º livro, no entanto, dos 26 textos, 18 eram compilados de outros autores: Rodolfo V. Ihering, Elsa Coelho de Souza, Manuel Ambrósio, Urbano Duarte, Viriato Correia, Mário Sette, Erasmo Braga, Ariosto Espinheira, Lúcia Alvarenga, José Veríssimo, Olavo Bilac e Manoel Bonfim e Monteiro Lobato. Nesse volume, prevaleciam conhecimentos sobre o Brasil, com caráter enciclopédico, na “viagem de norte a sul” proposta, assim, os conteúdos eram ensinados por meio da bibliografia já existente.

Nos textos em prosa referentes ao cotidiano da criança, Theobaldo Miranda Santos buscava trazer ensinamentos tanto de sociabilização do leitor quanto relacionados aos conteúdos do programa de ensino primário.

Já nos textos em prosa mais diretamente ligados aos “interesses infantis”, como deseja o autor, as adaptações sintetizavam os textos. Quanto aos questionários propostos com base nos textos, eram compostos por perguntas diretas de compreensão literal, para as quais cabia resposta objetiva.

As noções gramaticais eram conceitos de pontos gramaticais, seguidos de exemplos, e os exercícios eram aplicação dos conceitos, às vezes, compostos também por exercícios de redação. Esses eram constituídos por: formação de palavras, formação de frases, ordenação de frases, bilhetes, cartas e produção de histórias a partir de uma ilustração. Nos volumes em que havia indicação de “leitura silenciosa”, frases afirmativas eram seguidas por uma questão que reiterava seu conteúdo, não permitindo inferências, como se pode observar no exemplo: “1. Quem inventou o avião foi um brasileiro chamado Santos Dumont. - Quem inventou o avião?” (Santos, 1957SANTOS, T. M. Vamos estudar? 73. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1957., p. 56, grifo do autor).

O convite à alegria em Vamos Sorrir

Vamos Sorrir, de Maria Braz e Candido Oliveira7 7 Não encontramos dados sobre os autores da série de leitura, nem mesmo a Editora FTD soube nos informar a respeito. , é uma série composta por uma cartilha8 8 A cartilha e o V livro de leitura foram escritos apenas por Maria Braz. e outros cinco livros de leitura destinados do 1º ao 5º ano do ensino primário. Nas primeiras edições, os títulos eram: Vamos sorrir: cartilha, Vamos sorrir: I livro de leitura, Vamos Sorrir: II livro de leitura, Vamos Sorrir: III livro de leitura, Vamos Sorrir: IV livro de leitura e Vamos Sorrir: V livro de leitura. A partir de determinada edição,9 9 Não conseguimos precisar a partir de que edição os títulos foram alterados, mas acreditamos que a mudança tenha ocorrido devido à Lei de Diretrizes e Bases de 1961. os títulos passaram a ser: Vamos sorrir: cartilha, Vamos sorrir: I ano primário, Vamos Sorrir: II ano primário, Vamos Sorrir: III ano primário, Vamos Sorrir: IV ano primário e Vamos Sorrir: V ano primário. Não temos certeza do período de sua primeira e última edição, no entanto, encontramos exemplares que datam do período de 1965 a 1977.

As ilustrações da cartilha foram feitas pelo Stúdio Ito. As capas de todos os volumes trazem projetos gráficos diferentes, porém, com temáticas semelhantes. Em todos os exemplares, o nome dos autores aparece no canto superior esquerdo da capa, no outro extremo, está o nome da coleção Vamos Sorrir, em destaque, seguido pelo ano/série a que se destina. Na cartilha e nos livros de leitura do II e III anos, aparecem desenhos de duas crianças brancas uniformizadas indo para a escola. Aparentemente, trata-se do mesmo menino e da mesma menina, só que com idades diferentes em um e outro exemplar, dando a impressão de que as crianças foram crescendo ao longo dos anos. No V livro de leitura, somente um menino branco é representado, este aparece sentado estudando, tendo ao fundo a bandeira do Brasil. A imagem muito se parece com as tradicionais lembranças escolares que ainda hoje são retratadas nas escolas. Nossa bandeira também se mostra ao fundo da capa do IV livro de leitura, mas, dessa vez, a imagem que ganha destaque é a de três meninos que representam as três etnias que originaram o nosso povo (o negro, o índio e o branco). A capa do I livro de leitura traz a imagem de uma menina, um menino e uma pessoa de mais idade, que pode ser a mãe ou a avó, todos loiros, sentados no sofá de casa com livros nas mãos. As crianças parecem ouvir atentamente o adulto lendo as histórias do livro. Em todas as imagens, as pessoas sorriem, demonstrando alegria em estar ensinando, aprendendo ou representando a sua pátria.

Segundo Giroux (1995GIROUX, H. A. Disneyzação da cultura infantil. In: MOREIRA, A. F.; SILVA, T. T. (Org.). Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 41-53.), uma das formas de constituir a infância é atrelar a cultura infantil ao entretenimento, à defesa das ideias políticas e ao prazer, gerando o que significa ser criança em um dado momento histórico.

Evangelista e Rocha (1998EVANGELISTA, A. A. M.; ROCHA, G. A. S. Como são vistos os leitores-alunos nos livros para alfabetização? In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 21., 1998, Caxambu. Anais... Caxambu: ANPEd, 1998., p. 9) chamam atenção para os aspectos não verbais dos livros. Segundo elas, a imagem pretende convidar o aluno a uma “[...] entrada agradável no mundo da alfabetização”.

Como se pode observar, no título da série em exame, associam-se o conhecimento e o estudo à satisfação. Há na coleção uma exortação da alegria, que aparece no título e em muitos temas trabalhados ao longo das lições. Embora não exista nenhum sinal de pontuação ao final do título, ao que parece, trata-se de uma exclamação (“Vamos sorrir!”), tendo por intuito motivar os alunos para o estudo. Peres (2003PERES, E. O ensino de linguagem na escola pública primária gaúcha no período da Renovação Pedagógica. In: PERES, E.; TAMBARA, E. (Org.). Livros escolares e ensino da leitura e da escrita no Brasil (séculos XIX - XX). Pelotas: Seiva Publicações/FAPERGS, 2003. p. 75-116.) chama atenção para o fato de que, desde a década de 1930, havia uma preocupação em promover um trabalho dentro da área da linguagem cujo objetivo era o de prover as crianças de um instrumento eficiente de expressão, intercomunicação social, aquisição de conhecimentos, ocupação proveitosa das horas de lazer e utilização da leitura nos seus aspectos recreativos, informativos e formativos.

Na quarta capa, igual em todos os volumes, consta o desenho de uma rosa dos ventos com a escrita FTD ao centro. Ao que parece, tratava-se do logo da Editora FTD na época. As informações sobre a cartilha e os demais livros da série são obtidas na segunda e na terceira capas, nas quais constam o índice catalográfico, as informações sobre edição e ilustração, o ano, os dados e o endereço da editora, o volume da série e o aviso de que cada material é suplementado por um livro de orientações ao professor.

Embora as capas sejam bem coloridas, as imagens de dentro dos exemplares não apresentam muitas cores. Predominam, na grande maioria dos desenhos, tons avermelhados, e raras vezes aparecem o azul, o amarelo e o verde. Existe uma imagem que antecede cada texto.

Com exceção da cartilha, na qual as letras cursivas e script dividem espaço, em todos os outros exemplares predomina a script minúscula. A script maiúscula ganha destaque em títulos que são escritos em vermelho. Além dos títulos, aparecem em vermelho as palavras cujo significado será apresentado na análise do vocabulário do texto.

Quanto à editora, Vamos Sorrir foi publicada pela FTD, fundada no Brasil em 1902, que desde a sua origem se dedicou à publicação de livros escolares. Esses, com o tempo, se organizaram em Coleções de Livros Didáticos, estimulando a produção e a venda em conjunto, aumentando o faturamento da empresa, ao mesmo tempo que dava uma unidade didática para a disciplina estudada. O padrão denominado pela FTD de Método FTD incluía a publicação do livro pela editora sempre acompanhado do Livro do Mestre.

O Livro do Mestre passou a ser visto como um guia seguro que trazia economia de tempo para os professores e farto material para os alunos trabalharem; por isso, os livros da FTD foram adotados pela maioria dos colégios. Era difícil encontrar uma escola brasileira que não adotasse vários livros da FTD, tanto na rede particular como na rede pública. (FTD Educação, 2015).

Analisando o material ao qual tivemos acesso, é possível perceber que a cartilha e a série de leitura Vamos Sorrir, ao contrário de muitas séries publicadas na época que se destinavam a familiares e pessoas que tinham alguma instrução e estavam dispostos a ensinar, foi escrita para uso dos professores. O manual que acompanha cada exemplar é intitulado Livro do Professor e traz orientações técnicas e didáticas sobre a cartilha e os livros de leitura, assim como atividades suplementares e orientações de como proceder a cada lição. O Livro do Professor que acompanha a cartilha apresenta os objetivos da aprendizagem da leitura, os métodos e os processos de aprendizagem e como deve ocorrer a avaliação e a recuperação. Ao final, são apresentadas as “Recomendações Bibliográficas”, que orientaram a elaboração da cartilha e são sugeridas para leitura dos professores. Ganha evidência no Livro do Professor a profissionalização do docente, sendo este visto como um trabalhador que necessita conhecer a teoria e os conhecimentos de sua área para obter sucesso em seu empreendimento. Nas palavras de Maria Braz:

[...] apresentamos o “Livro do Professor” com o propósito de colaborar no sentido de promover a melhor utilização da cartilha [...] É necessário, entretanto, que o professor esteja atento a todas as oportunidades que se lhe apresentem, levando em conta as peculiaridades de sua classe, adaptando as atividades sugeridas, encontrando novos caminhos, complementando, ajustando, aprofundando para que o seu ensino seja realmente integrador. (Braz, [s. d.BRAZ, M. Vamos sorrir: livro do professor. São Paulo: FTD , [s. d.].], p. 3)

A cartilha e os demais livros de leitura são destinados ao público infantil. Isso é perceptível mediante os textos, as imagens e as orientações contidas nos exemplares analisados e nos manuais que os acompanham. No Livro do Professor da Vamos Sorrir: cartilha, a autora pondera:

Ensinar a ler consiste no desenvolvimento do mecanismo de leitura, através da ampliação de experiências, ricas e estimulantes, que permitam à criança o crescimento de suas habilidades para compreender e sentir o que lê, fazendo de sua aprendizagem a emulação para novos descobrimentos (Braz, [s. d.BRAZ, M. Vamos sorrir: livro do professor. São Paulo: FTD , [s. d.].], p. 3).

Aparentemente, a cartilha e a série de leitura se dedicam à alfabetização e ao ensino da língua portuguesa para o primário - conforme consta na segunda capa dos livros. Não encontramos volumes que se refiram a outras disciplinas, porém, muitos textos presentes no material tratam da área de ciências naturais, história e geografia.

Nos textos da cartilha e dos livros de leitura, as temáticas que abordam o bom comportamento, os cuidados com o corpo, a formação moral e o desenvolvimento do espírito cívico são recorrentes. A cartilha traz textos produzidos pela autora que tratam da vida de Lalá. O I livro de leitura apresenta textos também relacionados a Lalá, sua escola, sua família e o circo. O II livro de leitura traz temáticas do universo infantil, como queda do primeiro dente, cuidados com a higiene, vida cotidiana, cuidados com plantas e animais, textos de cunho moral e temas cívicos e religiosos. O III, IV e V livros de leitura abordam temas relacionados a datas comemorativas, personalidades brasileiras, cuidados com a sua cidade, textos de cunho moral e muitos temas cívicos. “No caso dos livros de leitura, que incluiriam as cartilhas ou primeiros livros, a valorização da língua materna é destacada por ser importante à nossa identidade nacional, juntamente com a educação moral, cívica e intelectual” (Trindade, 2004TRINDADE, I. M. F. A invenção de uma nova ordem para as cartilhas: ser maternal, nacional e mestra: queres ler? Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2004., p. 215).

Os textos apresentavam-se nos gêneros prosa, poema e fábula. Os três últimos volumes englobam muitos textos de outros autores, além dos produzidos por Maria Braz e Candido de Oliveira, dentre os quais, temos: Cassiano Ricardo, Coelho Neto, Dom Aquino Correia, Murilo Araújo, Casimiro de Abreu, Coelho Neto, Plínio Salgado, Malba Tahan, Oscar Leme Brisolla, Martins Fontes, Carlos Drummond de Andrade, Olavo Bilac, Gustavo Barroso, Theobaldo Miranda Santos, entre outros.

Nos livros de leitura, as atividades seguiam uma sequência que se alterava ao longo da série. O I Livro inicia com um texto e, a partir dele, são propostas atividades com sílabas (contar, separar, juntar, completar), estudo do vocabulário, compreensão, gramática (vogais e consoantes, sinônimos e antônimos, adjetivos, gênero e número do substantivo, dificuldades ortográficas - G e J, R e RR, M e N, C e Ç -, acentuação, pontuação) e produção de frases. O II Livro seguia a ordem: texto, estudo do vocabulário (com o título Vocabulário/Comentário) e exercícios gramaticais que tinham por base as palavras apresentadas no estudo do vocabulário, por exemplo: “Rolinha - Diminutivo de ‘rôla’, um passarinho. / Outros diminutivos da lição: bonita: bonitinha; abelha: abelhinha; vovó: vovozinha; mamãe: mamãezinha. / Qual o diminutivo de: trabalho: .............; graça: ............; lar: ............; filha: ............” (Braz; Oliveira, 1965BRAZ, M.; OLIVEIRA, C. Vamos sorrir: II livro de leitura. São Paulo: FTD , 1965., p. 6). O III Livro começa o trabalho com o texto e, a partir dele, surge a seção “Entendimento do texto”, que trabalha com as questões de vocabulário, compreensão, atividades gramaticais e produção escrita. O IV Livro apresenta o texto-base, atividades de exploração do vocabulário e trabalho com conteúdos gramaticais (Vocabulário/Comentário), atividades de compreensão do texto (Questionário) e de escrita (cópia - Para reproduzir, ditado - Ditado, produção textual - Criação). O V Livro tinha a mesma estrutura do IV Livro, mas trazia uma novidade, pois, ao final da maioria das unidades, é proposta uma sugestão de atividade diferenciada (Sugestões), como: pesquisas, produção de materiais, visitas a museus, utilização de materiais diferenciados, localização em mapas etc.

Vamos Estudar? e Vamos Sorrir na consolidação dos processos da leitura escolar em Mato Grosso do Sul

Para além das marcas específicas de ambas as séries de leitura, conforme buscamos apresentar, podemos notar em Vamos Estudar? e Vamos Sorrir um esforço de consolidação dos processos de leitura escolar, sintonizados aos anseios do movimento denominado de Escola Nova10 10 O movimento denominado Escola Nova teve diferentes propostas para a renovação da escola primária brasileira e se manteve hegemônico, pelo menos, entre 1920 e 1970. . Este não pode ser compreendido, entretanto, como um movimento linear e ascensional, mas sim permeado por embates de ações e diferentes propostas para renovação da escola primária; por outro lado, pode ser compreendido como hegemônico no sentido de pressupor uma reforma da educação escolar, por meio da superação do que se consideravam formas “tradicionais” de ensino, de modo a operar mudanças essenciais na sociedade, em seu processo de reordenação com vistas à modernização. Logo, as séries abordam o que consideram “interesses e necessidades” do País, calcadas em um programa de dar a conhecer aspectos do Brasil, “de norte a sul”, seja nas imagens representativas das regiões brasileiras, das etnias que originaram o nosso povo, dos símbolos nacionais, seja na ordenação das lições com conteúdo comportamental, moral ou cívico. Todos esses partilhavam a ideia de integração nacional e de uma postura entusiasmada diante de traços de brasilidade, correspondente à reordenação social proposta pela Escola Nova.

Segundo Cunha (2011CUNHA, M. T. S. A série de leitura graduada “Pedrinho” de Lourenço Filho: o Brasil em lições (décadas de 50/60 do século XX). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 6., 2011, Vitória. Anais... Belo Horizonte: SBHE, 2011a. Disponível em: <Disponível em: http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe6/anais_vi_cbhe/conteudo/file/1212.doc >. Acesso em: abr. 2018.
http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/c...
b, p. 85), nas séries de leitura graduada publicadas após a década de 1940, é possível perceber

[...] a preocupação com a formação dos cidadãos criativos e rápidos como trabalhadores operosos e empreendedores que valorizassem o progresso científico e industrial, atributos fundamentais às novas condições políticas e sociais que se impunham com a industrialização nacional que se consolidava a partir dos anos 50.

Também de acordo com preceitos do movimento renovador, a criança estava no centro do processo educativo, assim, o discurso exortativo das séries em estudo pressupunha a criança e seus “interesses infantis” como nucleares. Tais interesses tinham por princípio um ensino graduado e estavam regulados na Lei Orgânica do Ensino Primário de 1946. Nesse sentido, o atendimento aos “interesses infantis” aparecia materializado nos livros das séries em textos de gêneros variados que tematizavam do mundo interior para o exterior, da vida cotidiana para a vida social, em assuntos leves e recreativos e com forte investimento em autores e textos da literatura infantil brasileira.

Comentando sobre a função desse gênero na formação de professores brasileiros, na década de 1930, Costa (2013COSTA, A. S. Escola Nova e a literatura infantil na formação de professores: o caso do Instituto de Educação do Distrito Federal (1935-1937). Dia-Logos, Rio de Janeiro, n. 7, p. 42-53, nov. 2013., p. 44) assevera:

Além da formação das crianças em leitores, a literatura infanto-juvenil deveria ter o compromisso em também educá-los enquanto cidadãos. Para atingir esse papel educativo, o livro infantil deveria, sobretudo, partir dos interesses infantis. Tipos de histórias (aventuras, romances, lendas, contos, etc.) preferidos pelos petizes, deveriam ser trabalhados de modo a direcionar, aos poucos, a leitura para o objetivo principal (educar, ao mesmo tempo que a criança se diverte).

Ao que tudo indica, a presença de textos de caráter mais recreativo, mesmo adaptados, nos livros das séries em análise, parecia cumprir função educativa, conforme aponta Costa (2013COSTA, A. S. Escola Nova e a literatura infantil na formação de professores: o caso do Instituto de Educação do Distrito Federal (1935-1937). Dia-Logos, Rio de Janeiro, n. 7, p. 42-53, nov. 2013.), e em respeito às capacidades da criança, em níveis ascendentes de dificuldade. Importante personalidade da época e pioneiro nos estudos sobre literatura infantil (Bertoletti, 2012BERTOLETTI, E. N. M. Lourenço Filho e literatura infantil e juvenil. São Paulo: Ed. da UNESP, 2012.), Lourenço Filho (1943)LOURENÇO FILHO, M. B. Como aperfeiçoar a literatura infantil. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, v. 3, n. 7, p.146-169, 1943. considerava que os livros literários para crianças tinham função formadora “mental, emocional e cultural” no equilíbrio do belo a serviço do bem, desde que adequados às “faixas de idades”.

Sua função capital é a de sugerir o belo, dentro dos recursos da mentalidade da criança. Fazendo-o, sugere o bem; concorre para a formação do gosto artístico; coopera no equilíbrio emocional da criança; dá-lhe horas de sadio entretenimento e de liberação espiritual; faz amar o idioma nacional; desperta o gosto literário, estimulando a criação; e, mais generalizadamente, sem dúvida, pelo hábito que inculca da boa leitura, prepara o consumidor das belas letras no homem do futuro. (Lourenço Filho, 1943LOURENÇO FILHO, M. B. Como aperfeiçoar a literatura infantil. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, v. 3, n. 7, p.146-169, 1943., p. 160, grifos do autor)

Como se nota, os textos literários cumpriam importante função nos livros didáticos das séries examinadas, com base nesse ponto de vista: subjetivavam os alunos influenciando sua formação, visando formar o indivíduo para torná-lo um bom filho, um bom aluno e, no futuro, um bom trabalhador e um bom cidadão. Portanto, leitura e escrita eram concebidas como instrumentos relevantes no movimento renovador, para alcance da cultura, combate ao analfabetismo e formação do cidadão, das elites dirigentes e de mão de obra especializada.

Segundo o movimento renovador, contudo, por se tratar de livros didáticos, eram não mais que instrumentos de educação facilitadores do trabalho do professor. Este, por sua vez, tinha naqueles mais do que conteúdos ordenados, tinha orientações e sugestões contempladas nos manuais do professor que suplementavam a aplicação do ensino. Embora, pelas intenções explicitadas pelos autores dos livros das séries aqui analisadas, tais manuais evidenciassem a importância da formação docente para o desenvolvimento de um bom trabalho, estudos realizados sobre a circulação de livros didáticos no antigo estado de Mato Grosso apontam que, em muitos casos, por contingências locais como grande extensão e difícil acesso e pelas parcas escolas normais espalhadas pelo estado, entre outros problemas, os livros didáticos utilizados na escola primária assumiram, por largo tempo, papel catalisador no ensino de leitura e escrita (Bertoletti, 2014BERTOLETTI, E. N. M. Materiais didáticos para ensino da leitura e da escrita na memória da escola primária em Paranaíba/MS (1928-1971). 2014. 98 f. Relatório de pesquisa (Pós-Doutorado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.).

Ainda assim, fontes documentais diversificadas (atas, mensagens, relatórios) indicam que a questão de produção, uso e adequação de livros didáticos esteve na pauta de legisladores e educadores desde meados do século 19, com preocupação de oferecer diretrizes para o ensino de leitura e escrita (Amâncio; Cardoso, 2006AMÂNCIO, L. N. B.; CARDOSO, C. J. Parte III - Mato Grosso. In: FRADE, I. C. A. S.; MACIEL, F. I. P. (Org.). História da alfabetização: produção, difusão e circulação de livros (MG/RS/MT - séc. XIX e XX). Belo Horizonte: UFMG/FaE, 2006. p. 185-274.). Do mesmo modo, reclamações sobre esse objeto didático adentraram o século 20, sobretudo relacionadas à falta de adequação à realidade e às características do estado, como se pode notar no relatório do Diretor Geral da Instrução Pública, Francisco Alexandre Ferreira Mendes, de 1942, que lastimava a falta de produção própria de livros didáticos adequados à realidade local e regional.

O problema do ensino primário em Mato Grosso, nas pequenas cidades e vilas do interior, apesar do empenho da administração estadual, não está ainda de acordo com os processos da Escola Nova, e isto em nada nos constrange, por isso que é o que se observa geralmente no Brasil. A causa? A falta da formação profissional dos membros do magistério e a falta de um intercâmbio de idéias entre os professores dos diversos Estados brasileiros. E para agravar a situação do ensino primário mato-grossense, há a falta do livro didático apropriado ao meio. Adotam-se nas escolas de todos os tipos, livros didáticos exclusivamente de autores paulistas, pois não temos autores didáticos no Estado. Não obstante reconhecermos a excelência e o valor moral dos livros didáticos dos ilustrados autores paulistas, precisamos convir que, apenas em algumas zonas sulinas de Mato Grosso, limítrofes com o Estado de S. Paulo, há pequenas semelhanças de hábitos e costumes e onde, por isso, tais obras produzem influência no espírito das crianças. No mais, os livros didáticos a que nos referimos, cuidam dos assuntos e problemas locais e algumas vezes dos gerais da economia e riquezas brasileiras, que muito influem na alma infantil das crianças das cidades. Para confirmarmos êste acerto, vale narrado o seguinte fato: - “Perguntou-me certa vês, um jovem coletor de uma cidade longínqua do Estado, por que o café paulista ia à Europa, para ser beneficiado e depois ser vendido novamente no Brasil?!” Foi preciso fazer uma explicação completa para fazer o meu interlocutor compreender, e convencer! Os livros didáticos pois, precisam obedecer de um modo especial aos meios de vida locais, para que, influindo no espírito da criança, atúe decisivamente na sua formação, atendendo à sua curiosidade natural. (Mato Grosso, 1942MATO GROSSO. Diretoria Geral da Instrução Pública. Relatório referente ao ano de 1942 do professor Francisco Alexandre Ferreira Mendes - Diretor Geral. Cuiabá, 1942.)

Sobre essa questão, Amâncio e Cardoso (2006AMÂNCIO, L. N. B.; CARDOSO, C. J. Parte III - Mato Grosso. In: FRADE, I. C. A. S.; MACIEL, F. I. P. (Org.). História da alfabetização: produção, difusão e circulação de livros (MG/RS/MT - séc. XIX e XX). Belo Horizonte: UFMG/FaE, 2006. p. 185-274., p. 208) afirmam textualmente:

A reforma no ensino primário, tanto em nível nacional como estadual e a criação da Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso, na década de 1950, parecem não ter se constituído em fatores de mudanças substanciais no que concerne à produção de livros de leitura e cartilhas, nem no que se refere a orientações metodológicas.

[...]

No que se relaciona com livros escolares o que se constatou nas primeiras décadas do século 20 continua a ser verificado. Não havia produção editorial local desse material naquele tempo, como também não haveria posteriormente. No período que se segue ao mencionado, a problemática permanece, não sendo muito diferente da dos dias atuais. Não havia editoras locais responsáveis pela produção/divulgação de material didático - cartilhas e livros de leitura - em/de Mato Grosso. Isso caracteriza este Estado, no que tange à produção editorial didática, como usuário/consumidor do mercado editorial de outras regiões brasileiras.

Esse estado de coisas levou à circulação de uma diversidade de livros didáticos em Mato Grosso,11 11 Para acesso à listagem de livros didáticos que circularam pelo estado de Mato Grosso, consultar, sobretudo: Amâncio e Cardoso (2006), Bertoletti (2014) e Silva (2018). dentre eles as séries Vamos Estudar? e Vamos Sorrir. Como se notou, ambas são produções de editoras localizadas no sudeste do Brasil. A influência dos materiais produzidos no Rio de Janeiro e em São Paulo marcaram a escola de Mato Grosso desde o início de sua organização. Amâncio (2008AMÂNCIO, L. N. B. Ensino de leitura e grupos escolares: Mato Grosso/1910-1930. Cuiabá: UFMT, 2008.) relata a influência dos paulistas na organização metodológica escolar do estado, realizadas por meio da vinda de docentes para a estruturação da instrução pública, da formação de professores e dos materiais trazidos de lá e que influenciavam o fazer pedagógico dos docentes mato-grossenses desde os primórdios da República, perpetuando-se durante décadas.

Quanto à circulação dos materiais aqui analisados, embora a série de leitura Vamos estudar? tenha tido ampla circulação em todo o estado de Mato Grosso, conforme se verifica pelos dados organizados por Amâncio e Cardoso (2006AMÂNCIO, L. N. B.; CARDOSO, C. J. Parte III - Mato Grosso. In: FRADE, I. C. A. S.; MACIEL, F. I. P. (Org.). História da alfabetização: produção, difusão e circulação de livros (MG/RS/MT - séc. XIX e XX). Belo Horizonte: UFMG/FaE, 2006. p. 185-274.), a série de leitura Vamos Sorrir teve uma distribuição restrita, limitando-se ao sudoeste do estado, devido à influência do governo federal na região (Silva; Bertoletti, 2018SILVA, T.; BERTOLETTI, E. N. M. A produção de identidades sul-mato-grossenses nas páginas das cartilhas. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 26, n. 2, p. 101-117, maio/ago. 2018.).

Ao que tudo indica, entretanto, ambas as séries atendiam, dentro das dificuldades enfrentadas pela consolidação da escolarização primária mato-grossense no que diz respeito aos programas e aos métodos de ensino prescritos, às necessidades locais, tanto no que tange à falta de produção de livros no estado apropriados à realidade quanto na consolidação de ações voltadas à escola moderna, graduada para uniformização do ensino, como buscamos demonstrar.

Silva e Bertoletti (2017SILVA, T.; BERTOLETTI, E. N. M. Políticas de circulação de livros didáticos de alfabetização no sul de Mato Grosso e seus métodos (1927-1961). Poiésis: Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação, Tubarão, v. 11, n. 20, p. 268-286, jun./dez. 2017., 2018) destacam que, desde a promulgação da Lei Orgânica do Ensino Primário do Estado de Mato Grosso, em 1951, os ideários da Escola Nova se consolidaram como intenções pedagógicas do estado no que concerne ao seu fazer pedagógico. As séries de leitura analisadas foram elaboradas pensando no prazer e na alegria em estudar, e sua forma de organização tornou-se referência em um estado com um elevado número de professores sem formação que lecionavam, principalmente, nas escolas do interior. Além disso, o terceiro livro de Vamos Estudar? parecia suprir, ao menos tematicamente, a falta de livros específicos sobre a região; do mesmo modo, o quarto livro de Vamos Sorrir trazia textos referentes a essa temática - dentre os quais salientamos o intitulado “Marcha para o Oeste” - e também dava destaque ao caráter étnico - importante fator na formação do povo mato-grossense -, indicando para essa mesma direção.

Por se tratar de um estado de fronteira que teve seu processo de ocupação tardio, influenciado pela Marcha para o Oeste, do Governo de Getúlio Vargas, período em que recebeu imigrantes de vários países e regiões do Brasil, os livros também cumpriram o papel de consolidação da língua portuguesa, de constituição da identidade nacional, de um povo patriota, religioso e “de bem”, cujas marcas podem ser vistas nos materiais examinados.

Conclusões

As séries de leitura graduada tiveram importante papel na concretização de ideais e fundamentos de uma época, no que diz respeito aos pressupostos da escola primária brasileira, além disso, representaram a organização dos livros didáticos, seguindo critérios do mercado editorial, e consolidaram-se como instrumentos mediadores da leitura escolar. Como outros modelos de livros didáticos, portanto, as séries de leitura tiveram papel relevante na disseminação de um projeto de uma época e ocuparam grande espaço na formação da infância escolarizada.

Em se tratando das séries em análise, podemos sintetizar: Vamos Estudar? e Vamos Sorrir corresponderam, cada qual a sua maneira, a exigências e projetos de um mercado consolidado e em expansão, no qual a concorrência instalada determinava a necessidade de produtos melhores e mais bem elaborados, assim como a uma escola cujo aumento de instituições e matrículas pressupunha livros atraentes, completos e que, de alguma forma, substituíssem e/ou completassem a atuação do professor, preenchendo brechas em sua formação. Ambas as séries procuravam atuar na subjetividade dos leitores/crianças com função de modificar esse comportamento, no sentido de um vir a ser, o que se pode buscar no conceito de educação da infância da época, o qual considerava a criança um ser que era menor e viria a ser um homem completo somente na vida adulta. A influência da psicologia respaldava a gradação, o prazer em aprender e os “bons” valores, correspondentes a pressupostos de vertentes da Escola Nova brasileira.

Quanto à circulação desses materiais no estado de Mato Grosso do Sul, registramos a influência deles na definição do que ensinar e como ensinar, no que se refere ao currículo escolar, uma vez que supriam a falta de materiais apropriados à realidade e à cultura locais, como já destacamos anteriormente, na época em que o estado contava com um número elevado de professores leigos, que tinham os livros das séries como um “norte” de seu planejamento. Os textos das séries também colaboravam com a formação de uma unidade nacional e a consolidação da língua portuguesa em um estado marcado por uma pluralidade cultural e de linguagem.

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  • SILVA, T.; BERTOLETTI, E. N. M. A produção de identidades sul-mato-grossenses nas páginas das cartilhas. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 26, n. 2, p. 101-117, maio/ago. 2018.
  • TRINDADE, I. M. F. A invenção de uma nova ordem para as cartilhas: ser maternal, nacional e mestra: queres ler? Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2004.
  • 1
    Optamos pela expressão livros didáticos, seguindo a tradição lexical das pesquisas brasileiras que, segundo Choppin (2009)CHOPPIN, A. O manual escolar: uma falsa evidência histórica. História da Educação, Pelotas, v. 13, n. 27, p. 9-75, jan./abr. 2009., empregam-na para referência aos textos utilizados na escola com fins de ensino.
  • 2
    No período abordado por este estudo, Mato Grosso do Sul ainda não era um estado constituído e seu território pertencia ao estado de Mato Grosso. A divisão ocorreu somente em 1977, pela Lei Complementar nº 31. Entretanto, ao longo do texto, referimo-nos a Mato Grosso do Sul sempre que indicarmos a especificidade regional que abordamos e a Mato Grosso sempre que remetermos aos estudos que contemplam o período antes da divisão.
  • 3
    A série de leitura Vamos Estudar? foi localizada entre os livros didáticos que circularam na porção leste do atual estado de Mato Grosso do Sul e a Vamos Sorrir, na porção sudoeste do mesmo estado.
  • 4
    “Theobaldo Miranda Santos nasceu em Campos/RJ em 5 de junho de 1904 e faleceu no Rio de Janeiro/RJ, em 1971. Fez seus estudos no Liceu de Humanidades e Escola Normal, do Instituto Católico de Estudos Superiores, em Campos, e em Juiz de Fora/MG, formou-se em Farmácia e Odontologia. Em Manhuaçu/MG foi professor primário. Voltando a Campos, em 1928 passou a lecionar no mesmo Liceu onde estudara, nas disciplinas Física, Química e História Natural, exercendo, também, o cargo de diretor. Foi, ainda, superintendente municipal de Educação e Cultura e professor da Faculdade de Farmácia e Odontologia e da Escola Superior de Agricultura. Em 1938, tornou-se professor de Prática de Ensino na antiga Universidade do Distrito Federal. Em 1942, foi Diretor do Departamento de Educação Primária e passou a lecionar Filosofia e História da Educação na Pontifícia Universidade Católica e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santa Úrsula. A partir de 1944, passou a ocupar a cátedra de Filosofia da Educação no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Aposentou-se do magistério em 1958”. (Camargo 2014 apudBertoletti, 2016BERTOLETTI, E. N. M. Vamos estudar? Um caso de apropriação do livro didático na escola primária em Parnaíba/Mato Grosso/Brasil (1950-1960). In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 11., 2016, Porto. Atas... Porto: Universidade do Porto, 2016. Disponível em: <Disponível em: http://web3.letras.up.pt/colubhe/actas/eixo5.pdf >. Acesso em: 20 maio 2019.
    http://web3.letras.up.pt/colubhe/actas/e...
    , p. 339).
  • 5
    Embora essa informação conste na quarta capa de um exemplar analisado, localizamos somente 11 volumes.
  • 6
    Não foram localizados exemplares da cartilha do 3º livro, por isso, não estão apresentados neste texto.
  • 7
    Não encontramos dados sobre os autores da série de leitura, nem mesmo a Editora FTD soube nos informar a respeito.
  • 8
    A cartilha e o V livro de leitura foram escritos apenas por Maria Braz.
  • 9
    Não conseguimos precisar a partir de que edição os títulos foram alterados, mas acreditamos que a mudança tenha ocorrido devido à Lei de Diretrizes e Bases de 1961.
  • 10
    O movimento denominado Escola Nova teve diferentes propostas para a renovação da escola primária brasileira e se manteve hegemônico, pelo menos, entre 1920 e 1970.
  • 11
    Para acesso à listagem de livros didáticos que circularam pelo estado de Mato Grosso, consultar, sobretudo: Amâncio e Cardoso (2006)AMÂNCIO, L. N. B.; CARDOSO, C. J. Parte III - Mato Grosso. In: FRADE, I. C. A. S.; MACIEL, F. I. P. (Org.). História da alfabetização: produção, difusão e circulação de livros (MG/RS/MT - séc. XIX e XX). Belo Horizonte: UFMG/FaE, 2006. p. 185-274., Bertoletti (2014)BERTOLETTI, E. N. M. Materiais didáticos para ensino da leitura e da escrita na memória da escola primária em Paranaíba/MS (1928-1971). 2014. 98 f. Relatório de pesquisa (Pós-Doutorado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. e Silva (2018)SILVA, T. A produção e a circulação dos livros didáticos destinados à alfabetização em escolas públicas de Dourados (1945-1964): efervescência ou continuidade? 2018. 74 f. Relatório de pesquisa (Pós-Doutorado). Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Paranaíba, 2018. .

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Set 2019
  • Data do Fascículo
    May/Aug 2019

Histórico

  • Recebido
    28 Nov 2018
  • Aceito
    20 Mar 2019
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