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Integração pesquisa, ensino e serviços de saúde: contribuições para a vigilância do câncer em Mato Grosso

O projeto “Vigilância do Câncer e seus fatores associados: atualização do registro de base populacional e hospitalar (VIGICAN)” constitui um marco para a vigilância em saúde em Mato Grosso. Este suplemento apresenta artigos que divulgam resultados dos projetos de extensão e pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (ISC/UFMT), vinculados ao VIGICAN, sobre a epidemiologia de câncer em Mato Grosso (MT).

Fruto de parceria entre instituições públicas, contando com a cooperação de discentes de diferentes níveis de ensino, o projeto investigou o potencial analítico de dados do Registro de Câncer de Base populacional (RCBP), do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e de um inquérito realizado em dois hospitais de referência para câncer.

O conjunto de artigos apresenta a incidência, a mortalidade, a sobrevida e os fatores associados ao câncer no estado de Mato Grosso, visando subsidiar as ações de enfrentamento do câncer, tais como o processo de tomada de decisão em políticas públicas e a reorganização da rede de atenção à saúde no estado.

Para atingir esse objetivo, houve uma articulação intensa entre ensino de graduação e pós-graduação, extensão, pesquisa e serviço. Este suplemento é o resultado desse intercâmbio e do trabalho de colaboradores de diversas instituições de ensino, Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES/MT) e Ministério Público do Trabalho (MPT).

Mato Grosso é o terceiro estado brasileiro em extensão territorial e apresenta diferenças econômicas, culturais, de acesso aos serviços de saúde e populacionais em seu território, que contém 141 municípios. A maioria deles (75,9%) possui menos de 20 mil habitantes, e apenas 2,8% possuem população acima de 100 mil habitantes. As principais atividades econômicas no estado são a agropecuária e o extrativismo. As desigualdades impactam a saúde dos mato-grossenses, promovendo redução da qualidade e da expectativa vida em razão de doenças infecciosas evitáveis e tratáveis, causas externas e doenças crônicas como as cardiovasculares, as metabólicas e o câncer11 Brasil. Instituto Brasil de Geografia e Estatística. Cidades. Cuiabá [Internet]. 2021 [cited on Mar 14, 2022]. Available at: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/cuiaba/panorama
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33 Governo do Estado de Mato Grosso. Secretaria de Estado de Saúde. Plano estadual de saúde 2016-2019. Relatório. Cuiabá: SES-MT; 2017. Available at: http://www.saude.mt.gov.br/publicacoes
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Nesse contexto, conhecer o perfil da população e os fatores de risco e realizar o monitoramento dos indicadores de saúde ao longo do tempo é primordial para planejar ações e programas que reduzam a magnitude, a transcendência e a vulnerabilidade da população diante dessas doenças e agravos não transmissíveis (DANT), principalmente do câncer44 Malta DC, Silva MMA, Moura L, Morais Neto OL. A implantação do sistema de vigilância de doenças crônicas não transmissíveis no Brasil, 2003 a 2015: alcances e desafios. Rev Bras Epidemiol 2017; 20(4): 661-75. https://doi.org/10.1590/1980-5497201700040009
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No Mato Grosso, em 2020, foram registrados 2.918 óbitos por câncer, que configura como a terceira causa de morte (12,5%)55 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise da Situação de Saúde. Mortalidade – Brasil – Dados preliminares [Internet]. Brasília: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde; 2020 [cited on Mar 14, 2022]. Available at: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/pobt10uf.def
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. O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) estimou para o Mato Grosso, no triênio de 2020 a 2022, 8.120 casos novos de câncer, dos quais 54,7% em homens. Os cânceres mais incidentes, excluindo-se o de pele não melanoma, são os de próstata, o de mama feminino, de pulmão, colo do útero, colorretal, tireoide, estômago e cavidade oral66 Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2019. [cited on Mar 14, 2022]. Available at: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.
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Para a compreensão da magnitude e do impacto do câncer no Mato Grosso, analisaram-se as bases de dados secundárias, como RCBP, Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) e SIM. Usando os princípios da epidemiologia descritiva e com o auxílio dos métodos estatísticos, as variações geográficas ao longo do tempo foram relacionadas aos fatores de risco demográficos, ambientais e socieconômicos. Os resultados encontrados permitem a análise da situação do câncer no estado e devem contribuir para a gestão da vigilância em saúde, a atenção primária e a assistência aos pacientes, bem como a aplicação de recursos estruturais, operacionais e humanos necessários para a promoção, prevenção e controle dos casos novos de câncer.

Nesse sentido, os projetos de extensão e pesquisa das instituições públicas de ensino visam colaborar com a gestão da saúde pública executando atividades primordiais de busca ativa de casos de câncer e pesquisando os fatores associados ao aparecimento da doença. Destacam-se o baixo custo dessas atividades e a promoção da inserção de discentes no campo prático, novas formas de organização do trabalho nos serviços do SUS e a valiosa troca de saberes entre discentes, docentes, profissionais de saúde e usuários.

Este suplemento contém 19 artigos produzidos em parceria entre instituições de ensino, gestão estadual do SUS de Mato Grosso e MPT 23ᵃ Região. Inicia-se com a descrição da operacionalização dos projetos, as análises de tendência da mortalidade por câncer para o estado de Mato Grosso e seus principais tipos, a tendência da incidência na abrangência dos registros de base populacional de Cuiabá e interior e as estimativas de prevalência das principais exposições relacionadas com câncer.

O projeto VIGICAN representa uma importante contribuição, especialmente ao se considerar o contexto de crises econômicas, sanitárias e políticas que colocam em risco a continuidade das políticas públicas e do investimento em pesquisas científicas no país e em Mato Grosso. Assim, espera-se que as análises aqui apresentadas contribuam para o crescimento científico. Que os resultados deste conjunto de estudos possam embasar os gestores, os profissionais de saúde e a sociedade em geral, na orientação das políticas públicas de saúde mais efetivas.

Finalmente, espera-se que a leitura deste suplemento venha a inspirar novas parcerias interinstitucionais que impulsionem iniciativas de integração que envolvam a pesquisa, o ensino e os serviços de saúde, como a experiência bem-sucedida do Projeto VIGICAN.

REFERENCES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Preprint postado em
    11 Maio 2022
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