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Sintomas de disfunção sexual em homens com 40 ou mais anos de idade: prevalência e fatores associados

Resumos

Objetivo:

O estudo objetivou verificar os fatores associados aos sintomas sexuais do envelhecimento masculino em uma amostra representativa em homens com idade igual ou superior a 40 anos da cidade de Pelotas, RS.

Métodos:

Foi realizado um estudo transversal de base populacional, incluindo 421 homens que residiam na zona urbana do município. Para avaliar os sintomas sexuais do envelhecimento masculino foi utilizada a dimensão sexual da escala AMS - The Aging Male´s Symptoms Scale .

Resultados:

A prevalência dos sintomas sexuais do envelhecimento masculino foi de 64,3% (IC 95%: 59,3%-69,1%). Na análise multivariável o desfecho esteve associado diretamente idade e inversamente a autopercepção de saúde.

Conclusão:

Concluiu-se que a prevalência de sintomas sexuais na população masculina é importante. Políticas de saúde pública aliada ao aumento de hábitos de vida saudáveis poderiam minimizar esta prevalência e proporcionar melhor qualidade de vida a homens de meia idade e idosos.

Disfunção sexual; Enve­lhecimento; Disfunção erétil; Homens; Estudos transversais; Epidemiologia


Objective: This study aimed to identify factors associated with sexual symptoms of aging male’s in a representative sample of men aged 40 or older from Pelotas, southern Brazil.

Methods: We performed a population-based cross-sectional study including 421 men who lived in urban area. To evaluate the sexual symptoms of aging male’s was used the sexual dimension of the AMS scale - The Aging Male’s Symptoms Scale.

Results: The prevalence of sexual symptoms of male aging was 64.3% (95% CI: 59.3%-69.1%). Multivariable analysis identified direct association with age and inverse association with health self-rated.

Conclusion: We conclude that the prevalence of sexual symptoms in older males is high and important. Public health policies coupled with increased healthy lifestyle habits could minimize the prevalence and provide better quality of life for middle-age and older men.

Sexual disorder; Aging; Male; Erectile dysfunction; Cross-sectional studies; Epidemiology.


Introdução

Estimativas da Organização Mundial da Saúde indicam que a proporção de pessoas com 60 anos ou mais de idade irá dobrar de 11% para 22% entre os anos de 2000 e 2050, sendo que ao final desse período 80% dessas pessoas viverão em países pobres e em desenvolvimento 11. World Health Organization. Good health adds life to years: global brief for World Health day 2012. Geneve: World Health Organization; 2012. Disponível em: http://www.who.int/world_ health_day/2012 (Acessado em 6 de janeiro de 2012).
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. A visibilidade social desta camada da população é um fenômeno presente em todos os países que conseguiram aumentar a expectativa de vida mediante os progressos combinados da medicina e do meio ambiente 11. World Health Organization. Good health adds life to years: global brief for World Health day 2012. Geneve: World Health Organization; 2012. Disponível em: http://www.who.int/world_ health_day/2012 (Acessado em 6 de janeiro de 2012).
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As repercussões do processo de envelhecimento sobre a sexualidade constituem um assunto particularmente contaminado por preconceitos históricos e culturais 22. Vasconcellos D. Novo RF, Castro OP, Vion-Dury K, Ruschel A, Couto MCPP et al. A sexualidade no processo do envelhecimento: novas perspectivas - comparação transcultural. Estud Psicol 2004; 9(3): 413-9. . Esta área de pesquisa foi negligenciada, tanto por falta de interesse dos profissionais da saúde (médicos generalistas, geriatras, gerontólogos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas e educadores físicos) quanto pela inibição das pessoas desta idade para abordar este assunto. Tal inibição pode ser atribuída à internalização das normas sociais predominantes 33. Lindau ST, Schumm LP, Laumann EO, Levinson W, O’Muircheartaigh CA, Waite LJ. A study of sexuality and health among older adults in the United States. N Engl J Med 2007; 357: 762-74. .

Em relação ao envelhecimento masculino, os sintomas têm sido estudados em diversas populações e a prevalência dos mesmos tem variado entre 18 e 22,7%, sendo que eles tendem a se agravar com o avanço da idade 44. Akinyemi A, Bamiwuye O, Inathaniel T, Ijadunola K, Fatusi A. The Nigerian Aging Males’ Symptoms scale. Experience in elderly males. Aging Male 2008; 11(2): 89-93. - 77. Ichioka K, Nishiyama H, Yoshimura K, Itoh N, Okubo K, Terai A. Aging males’ symptoms scale in Japanese men attending a multiphasic health screening clinic. Urology 2006; 67: 589-93. . Em relação aos fatores a eles associados, aparecem o hábito tabagista, a percepção ruim de saúde e o sedentarismo 55. Corrêa LQ, Rombaldi AJ, Silva MC, Domingues MR. Aging male’s symptoms in a Southern Brazil population: lifestyle effects after the age of 40. Aging Male 2010; 13(2): 93-9. .

O envelhecimento apresenta características como a diminuição da massa e da força muscular, a osteopenia, o aumento de gordura abdominal (principalmente visceral com resistência à insulina e perfil lipídico aterogênico). Em consequência dessas características fisiológicas, incluindo redução na concentração do hormônio testosterona, surgem sintomas relacionados ao envelhecimento masculino, tais como a diminuição da libido e dos pelos pubianos, a depressão, a insônia, a sudorese e a diminuição da sensação de bem estar geral. Tais sintomas apresentam características de ordem psicológica, somática e sexual 88. Martits AM, Costa EMF. Hipogonadismo masculino tardio ou andropausa. Rev Assoc Med Bras 2004 ; 50(4): 349-62. - 1010. Sociedade Brasileira de Urologia. Diretrizes sobre disfunção sexual masculina: disfunção erétil e ejaculação precoce (rápida) . Disponível em www.sbu.org.br/pdf/guidelines_EAU/disfuncao-eretil-e-ejaculacao-rapida.pdf (Acessado em 8 de julho de 2008).
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Em relação aos sintomas sexuais, caracterizados operacionalmente como o conjunto de fatores relacionados à redução da capacidade/frequência sexual, ereção matinal reduzida, diminuição da libido, diminuição do crescimento da barba e a percepção de já ter passado o auge da vida, esses se agregam para caracterizar a sintomatologia 66. Heinemann LAJ, Zimmermann T, Vermeulen A, Thiel C. A new “aging male’s symptoms” (AMS) rating scale. Aging Male 1999; 2: 105-14. . No que diz respeito às prevalências desses tipos de sintomas, essas têm variado entre 27,8 e 66,2% nas populações estudadas 55. Corrêa LQ, Rombaldi AJ, Silva MC, Domingues MR. Aging male’s symptoms in a Southern Brazil population: lifestyle effects after the age of 40. Aging Male 2010; 13(2): 93-9. - 77. Ichioka K, Nishiyama H, Yoshimura K, Itoh N, Okubo K, Terai A. Aging males’ symptoms scale in Japanese men attending a multiphasic health screening clinic. Urology 2006; 67: 589-93. e há poucos estudos mostrando os fatores a eles associados, especialmente no Brasil. Além disso, o processo de envelhecimento não inicia aos 60 anos. Nesse sentido, identificar precocemente os sintomas sexuais do envelhecimento pode contribuir para um diagnóstico precoce de modo a determinar a necessidade de tratamento clínico.

Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo verificar os fatores associados aos sintomas sexuais do envelhecimento masculino em uma amostra representativa de homens com idade igual ou superior a 40 anos, residentes na zona urbana do município de Pelotas, RS.

Métodos

Esse estudo possui delineamento transversal de base populacional e foi realizado na zona urbana do município de Pelotas, RS, no ano de 2008. Essa cidade está localizada no extremo sul do Estado do Rio Grande do Sul e possui cerca de 340 mil habitantes. A cidade tem aproximadamente 32% de sua população com idade igual ou superior a 40 anos 1111. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico, 2000 . Disponível em www.ibge. gov.br (Acessado em 8 de julho de 2008).
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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divide o município em 408 setores censitários urbanos os quais são ordenados no formato “espiral”, do centro para os bairros. Dos 404 setores que contém domicílios, foram sorteados aleatoriamente 45 para serem incluídos no estudo. Em cada setor censitário sorteado identificou-se o ponto de partida do estudo, a partir do qual foram selecionados sistematicamente os domicílios a serem visitados. Após a seleção do primeiro domicílio a ser incluído no estudo, os próximos foram selecionados de forma sistemática, respeitando-se o intervalo estipulado de cinco domicílios, até atingirmos 20 residências em cada setor, número esse necessário para atingir o número de pessoas previsto no cálculo amostral.

Foram realizados dois cálculos para definir o tamanho amostral necessário do estudo, um de prevalência de sintomas e outro para verificar fatores associados. O cálculo que apresentou maior tamanho foi o de prevalência (estimativa de prevalência de 60% de sintomas do envelhecimento masculino para homens de 40 anos ou mais, um erro aceitável de cinco pontos percentuais e nível de significância de 95%). O tamanho amostral calculado inicialmente foi de 384 homens. Foi acrescido a esse valor 10% para perdas e recusas, sendo o “n” final de 421 sujeitos com idade de 40 anos ou mais.

No total foram selecionadas 900 residências onde todos os homens que apresentassem idade igual ou superior a 40 anos foram inicialmente considerados elegíveis para o estudo. Foram excluídos do estudo indivíduos institucionalizados (asilos, hospitais, prisões e quartéis), indivíduos com incapacidade motora severa (tetraplégicos, paralisia cerebral, entre outras) e indivíduos que não tivessem capacidade de responder e/ou compreender ao questionário. Foram consideradas perdas os indivíduos não encontrados em seus domicílios após três visitas realizadas pelo entrevistador e uma pelo supervisor do trabalho de campo. Os sujeitos que não quiseram responder ao questionário após três tentativas do entrevistador e uma do supervisor foram considerados como recusas.

O desfecho, sintomas sexuais do envelhecimento masculino, foi avaliado através de um bloco de questões (questões 12, 14 a 17) da The Aging Male’s Symptoms Scale (AMS), validada por Heineman et al. 66. Heinemann LAJ, Zimmermann T, Vermeulen A, Thiel C. A new “aging male’s symptoms” (AMS) rating scale. Aging Male 1999; 2: 105-14. . Essa escala é composta por 17 questões divididas em três blocos principais: bloco de fatores psicológicos, bloco de fatores somáticos e bloco de fatores sexuais. Cada questão pode fornecer um escore de um a cinco pontos e o somatório da pontuação geral aponta a severidade dos sintomas. A dimensão sexual é composta basicamente por cinco sintomas: distúrbios de potência, ereção matinal diminuída, diminuição na libido e na atividade sexual, diminuição do crescimento da barba e a impressão de já ter passado o auge da vida.

A pontuação do subescore sexual classificou como não possuidores dos sintomas ou com sintomas muito fracos os sujeitos que apresentaram escores até cinco pontos; com sintomas fracos, entre seis e sete pontos; com sintomas moderados os que ficaram entre oito e dez pontos, e os sujeitos que tiveram escore maior ou igual a dez pontos com sintomas sexuais severos 66. Heinemann LAJ, Zimmermann T, Vermeulen A, Thiel C. A new “aging male’s symptoms” (AMS) rating scale. Aging Male 1999; 2: 105-14. . Para fins de análise, no entanto, o escore foi dicotomizado e foram considerados como tendo sintomas sexuais do envelhecimento masculino aqueles homens que apresentaram sintomas moderados e graves.

Características demográficas, socioeconômicas e de saúde foram avaliadas pela aplicação de um questionário padronizado pré-testado em um setor censitário que não fez parte da amostra (estudo piloto; n = 20). As variáveis independentes foram idade (em anos completos); cor da pele (dividida em branca; negra; mulata, conforme percepção do entrevistador); situação conjugal (com companheiro; sem companheiro); nível econômico – determinado segundo classificação da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (A-mais elevado; B; C; D/E) 1212. Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério de Classificação Econômica Brasil . Disponível em www.abep.org.br (Acessado em 12 de julho de 2008).
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; escolaridade (em anos completos de estudo); tabagismo (fumante atual; ex-fumante; nunca fumou); e autopercepção de saúde (excelente; muito boa; boa; regular; ruim). O estado nutricional foi determinado pelo índice de massa corporal (IMC), calculado pelo peso e altura referidos e classificado segundo critérios da OMS 1313. World Health Organization. Physical Status: the use and interpretation of anthropometry - Report of a WHO Expert Committee . Geneva; 1995. (WHO Technical Report Series, 854). . Para definir o escore de atividade física dos entrevistados utilizou-se o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) 1414. Craig CL, Marshall AL, Sjöström M, Bauman AE, Booth ML, Ainsworth BE et al. International physical activity questionnaire: 12-country reliability and validity. Med Sci Sports Exerc 2003; 35: 1381-95. na sua versão longa. Foram considerados ativos aqueles que atingiram o mínimo de 150 min/semana de atividades físicas, de acordo com as recomendações do American College of Sports Medicine 1515. Haskell W.L., Lee I-M, Pate RR, Powell KE, Blair SN, Franklin BA et al. Physical activity and public health: updated recommendation for adults from the American College of Sports Medicine and the American Heart Association. Med Sci Sports Exerc 2007; 39(8): 1423-34. .

O instrumento foi aplicado face-a-face por entrevistadores de ambos os sexos com pelo menos, ensino médio completo, que receberam treinamento de 40 horas para aplicação do instrumento sem estarem informados dos objetivos nem das hipóteses do estudo. Os entrevistadores realizaram as entrevistas individualmente, com exceção do bloco dos sintomas sexuais que foi autoaplicado de forma a garantir o sigilo das informações, não expor os respondentes e minimizar as recusas do estudo (os homens que responderam ao questionário recebiam um envelope com as questões e logo após responder o mesmo tinham seu documento lacrado). Aqueles homens que não tivessem condições de ler ou compreender as questões poderiam solicitar a leitura das mesmas pelos entrevistadores (n = 14).

Os supervisores do trabalho de campo refizeram as entrevistas em 10% da amostra (n = 40), selecionada ao acaso, com um questionário reduzido, contendo questões-chave selecionadas do instrumento para controle de qualidade do estudo.

O banco de dados foi construído no programa Epi Info 6.0, sendo realizada dupla digitação de cada questionário. Para análise dos dados utilizou-se o programa STATA 9.0. Foi realizada uma análise descritiva dos sujeitos da amostra em termos de sintomas sexuais e das variáveis socioeconômicas, demográficas, comportamentais, nutricional e de saúde. Na análise bruta foi verificada a relação entre o desfecho e as variáveis independentes através dos testes de qui-quadrado para heterogeneidade e tendência linear. A análise multivariável foi conduzida através de regressão de Poisson 1616. Barros A, Hirakata VN. Alternatives for logistic regression in cross-sectional studies: an empirical comparison of models that directly estimate the prevalence ratio. BMC Med Res Methodol 2003; 3(1): 21. , respeitando um modelo hierárquico de relações entre as variáveis 1717. Victora CG, Huttly SR, Fuchs SC, Olinto MTA. The role of conceptual frameworks in epidemiological analysis: a hierarchical approach. Int J Epidemiol 1997; 26(1): 224-7. , composto por quatro níveis. No nível mais distal foram incluídas as variáveis idade e cor da pele; no segundo nível, escolaridade, nível econômico e situação conjugal; no terceiro nível, IMC, tabagismo e nível de atividade física; e, no último nível, os sintomas sexuais do envelhecimento masculino e a autopercepção de saúde. Os efeitos das variáveis foram controlados para as variáveis do mesmo nível e superiores, sendo mantidas na análise todas aquelas que apresentaram valor p ≤ 0,2. O nível de significância estabelecido foi de 5%.

Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (protocolo no. 005/2008) e os dados foram coletados após consentimento informado dos sujeitos.

Resultados

Foram estudados 421 homens de 40 anos ou mais em 876 domicílios, sendo que o total de perdas e recusas foi de 8,3%. O efeito de delineamento encontrado (0,7) foi suficiente para manter o poder e o nível de confiança previstos pelo estudo.

A média de idade dos homens entrevistados foi 54,5 ± 10,5 anos (variando de 40 a 90 anos), e 29,9% tinham até quatro anos de estudo. Dos entrevistados, aproximadamente 85% eram de cor de pele branca, quase metade encontrava-se no nível socioeconômico C (46,2%) e 77,2% eram casados ou viviam com companheira. Observou-se que 20% eram fumantes atuais, 67,1% apresentavam IMC correspondente a sobrepeso/obesidade e 37,2% eram sedentários ( Tabela 1 ). A mediana do tempo despendido em atividades físicas foi de 223,0 min/sem, variando entre zero e 8.650 minutos.

Tabela 1-
Descrição da amostra de acordo com as variáveis independentes em estudo (n = 390).

A prevalência dos sintomas sexuais do envelhecimento masculino foi de 64,3% (IC 95%; 59,3% - 69,1%). Na análise bruta ( Tabela 2 ) observou-se que os sintomas sexuais do envelhecimento masculino estavam diretamente associados com a idade e inversamente com a escolaridade e a percepção de saúde dos entrevistados. Na análise multivariável ( Tabela 3 ), após ajuste para fatores de confusão, a escolaridade perdeu significância e as variáveis idade e autopercepção de saúde permaneceram significativamente associadas ao desfecho.

Tabela 2
Prevalência de sintomas sexuais do envelhecimento masculino e associação bruta entre sintomas sexuais e variáveis independentes em estudo.
Tabela 3
Análise multivariável da associação entre os sintomas sexuais do envelhecimento masculino e variáveis independentes em estudo.

A prevalência da presença dos sintomas sexuais do envelhecimento de acordo com a idade apresentou um aumento linear e significativo, sendo que a idade de 70 anos ou mais apresentou um risco 80% maior de apresentar esse tipo de sintoma em comparação com aqueles homens com idades entre 40 e 49 anos.

Com relação à autopercepção de saúde, houve um aumento linear e significativo na presença do desfecho, sendo que aqueles que percebiam sua saúde como ruim tinham 40% mais risco do que os que percebiam sua saúde excelente de apresentar sintomas sexuais do envelhecimento ( Tabela 3 ).

Discussão

O presente estudo identificou elevada prevalência de sintomas sexuais do envelhecimento masculino. Além disso, demonstrou associação desses sintomas com idade mais avançada e com pior percepção de saúde.

A prevalência do desfecho no presente estudo foi de aproximadamente 64%, resultado que vai ao encontro dos achados de Ichioka et al. 77. Ichioka K, Nishiyama H, Yoshimura K, Itoh N, Okubo K, Terai A. Aging males’ symptoms scale in Japanese men attending a multiphasic health screening clinic. Urology 2006; 67: 589-93. em estudo realizado no Japão, o qual encontrou uma prevalência de 66,2%. No entanto, difere significativamente dos resultados apresentados por Heinemann e colaboradores 66. Heinemann LAJ, Zimmermann T, Vermeulen A, Thiel C. A new “aging male’s symptoms” (AMS) rating scale. Aging Male 1999; 2: 105-14. , que demonstraram uma prevalência de 28,7% dos sintomas sexuais do envelhecimento masculino em estudo realizado na Alemanha. Em estudo realizado na Nigéria 44. Akinyemi A, Bamiwuye O, Inathaniel T, Ijadunola K, Fatusi A. The Nigerian Aging Males’ Symptoms scale. Experience in elderly males. Aging Male 2008; 11(2): 89-93. com homens mais velhos (60 anos ou mais), a prevalência de sintomas sexuais moderados e severos foi de 23,5% e 51,5%, respectivamente.

Estudo conduzido em 2007 1818. Abdo CHN, Afif-Abdo J. Estudo populacional do envelhecimento (EPE): primeiros resultados masculinos. Rev Bras Med 2007; 64(8): 379-83. em algumas capitais brasileiras, utilizando a mesma escala que a do presente estudo (AMS - The Aging Male’s Symptoms Scale ), relatou prevalência de sintomas de envelhecimento precoce de intensidade moderada e severa de 13,3%. A diferença na prevalência observada em relação ao presente estudo pode ser atribuída às diferenças no processo de seleção amostral do artigo citado, onde a quase totalidade dos voluntários tinha nível de escolaridade elevado, não representando, desta forma, a população masculina.

O presente estudo verificou que os homens com idades mais avançadas apresentaram risco maior de apresentar sintomas sexuais do envelhecimento em comparação com os mais jovens, resultado corroborado por outros estudos 1919. Camacho ME, Reyes-Ortiz CA. Sexual dysfunction in the elderly: age or disease? Int J Impot Res 2005; 17(S1): 52-6. - 2222. Qiu Z, Liu BX, Li HJ, Yang ML, Zhang Y, Sun YC. Sexual function of aging males in Beijing: a primary investigation. Zhonghua Nan Ke Xue 2010; 16(3): 223-6. . Qiu et al. 2222. Qiu Z, Liu BX, Li HJ, Yang ML, Zhang Y, Sun YC. Sexual function of aging males in Beijing: a primary investigation. Zhonghua Nan Ke Xue 2010; 16(3): 223-6. relatam que mais de 50% dos homens estudados e que tinham idade acima dos 70 anos já haviam interrompido sua atividade sexual por pelo menos dois anos em comparação com aqueles com idades entre 60 e 64 anos por problemas de disfunção erétil severa.

A autopercepção de saúde também esteve inversamente associada aos sintomas sexuais do envelhecimento na amostra estudada. Esta associação inversa já foi identificada em outros relatos 33. Lindau ST, Schumm LP, Laumann EO, Levinson W, O’Muircheartaigh CA, Waite LJ. A study of sexuality and health among older adults in the United States. N Engl J Med 2007; 357: 762-74. , 2121. Laumann EO, Nicolosi A, Glasser DB, Paik A, Gingell C, Moreira E et al. Sexual problems among women and men aged 40–80 y: prevalence and correlates identified in the Global Study of Sexual Attitudes and Behaviors. Int J Impot Res 2005; 17: 39-57. e, no presente estudo, aqueles que perceberam sua saúde como ruim apresentaram um risco 40% maior da ocorrência deste tipo de sintoma em comparação com aqueles que perceberam sua saúde como excelente. Em estudo recente, Corrêa et al. 55. Corrêa LQ, Rombaldi AJ, Silva MC, Domingues MR. Aging male’s symptoms in a Southern Brazil population: lifestyle effects after the age of 40. Aging Male 2010; 13(2): 93-9. relataram que essa variável se associou de forma linear aos sintomas do envelhecimento masculino. Em outros estudos esta variável esteve associada como indicador de mortalidade precoce e com a presença de um número maior de doenças crônicas em homens que percebiam sua saúde como ruim 2323. Alves LC, Rodrigues RN. Determinantes da autopercepcão de saúde entre idosos do município de São Paulo, Brasil. Rev Panam Salud Publica 2005; 17: 333-41. - 2525. McGee DL, Liao Y, Cao G, Cooper RS. Self-reported health status and mortality in a multiethnic US cohort. Am J Epidemiol 1999; 149: 41-6. .

Em estudo realizado por Justo et al. 2626. Justo D, Arbel Y, Mulat B, Mashav N, Saar N, Steinvil A et al. Sexual activity and erectile dysfunction in elderly men with angiographically documented coronary artery disease. Int J Impot Res 2010; 22(1): 40-4. , a presença de doença arterial coronariana esteve diretamente associada com a ausência de relações sexuais e a disfunção erétil em homens mais velhos. Em estudo realizado na Europa 2020. Corona G, Lee DM, Forti G, O’Connor DB, Maggi M, O’Neill TW et al. Age-related changes in general and sexual health in middle-aged and older men: results from the European Male Ageing Study (EMAS). J Sex Med 2010; 7(4 Pt 1); 1362-80. , o declínio da saúde sexual esteve associado com comorbidades como hipertensão, obesidade e doenças cardíacas, além do comprometimento da função sexual também ter sido associado com a pior qualidade de vida quando comparados homens com idade acima dos 70 anos com aqueles com idades entre 60 e 64 anos.

Nessa perspectiva, o envelhecimento normalmente apresenta uma relação com problemas sexuais que podem ter origem em alguns tipos de doenças decorrentes do próprio processo natural de envelhecimento.

Apesar da relevância, foi desafiador aplicar um questionário referente à frequência do desempenho sexual, ereção matinal e desejo, variáveis que representam experiências íntimas para os sujeitos em estudo, mesmo tendo sido coletadas de forma confidencial autoaplicada e garantido o sigilo da informação. Em relação à autoaplicação, que exigia que o entrevistado soubesse ler, não pareceu um problema importante, pois mais de 96,0% das pessoas tinham condições de ler e marcar a alternativa desejada. Nas situações em que foi necessária a intervenção da entrevistadora para leitura ou esclarecimento de alguma dúvida, na maioria das vezes, foi possível garantir que as respostas fossem marcadas de forma confidencial.

Entre as limitações do presente estudo, podemos destacar a falta de informações sobre a presença de alguns tipos de doenças que poderiam estar associadas ao desfecho e serem fontes de confusão na relação entre algumas exposições e desfecho; outra é a possibilidade de ter ocorrido causalidade reversa, típica em delineamentos transversais, uma vez que as informações sobre o desfecho e os fatores de determinação foram coletados simultaneamente, especialmente em relação às variáveis nível de atividade física e autopercepção de saúde. Os resultados também poderiam ter sido afetados pelo viés de informação dos entrevistados. Os homens poderiam superestimar as informações de comportamento sexual; no entanto, tendo em vista a elevada prevalência dos sintomas, não parece que isso tenha ocorrido.

Um aspecto a ser destacado nesse estudo é que a amostra pode ser considerada representativa dos adultos do sexo masculino com 40 anos ou mais, residentes em Pelotas, tendo em vista o alto percentual de indivíduos entrevistados, o processo de amostragem aleatório e em múltiplos estágios, e o baixo índice de perdas e recusas (8,3%). Adicionalmente, as características sociodemográficas foram condizentes com os dados censitários da cidade 1111. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico, 2000 . Disponível em www.ibge. gov.br (Acessado em 8 de julho de 2008).
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. Outro aspecto a considerar é que os resultados encontrados são importantes para os profissionais da área de saúde que atuam com o envelhecimento masculino, auxiliando-os a identificar precocemente a sintomatologia e melhorar o aconselhamento ao paciente, no sentido de buscar ajuda especializada quando necessário.

Concluiu-se que a prevalência de sintomas sexuais na população masculina com 40 anos ou mais é elevada e pode afetar sua percepção de saúde e qualidade de vida. Quanto mais precocemente esses sintomas forem diagnosticados, mais rápida a chance de tratamento e, consequentemente, menor a probabilidade de transtornos para a saúde física e mental. Os profissionais da área de saúde que atuam com essa população em estudo devem ficar atentos para os sintomas sexuais precoces do envelhecimento masculino, tendo em vista o impacto negativo na vida do adulto.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2013

Histórico

  • Recebido
    16 Jan 2012
  • Revisado
    3 Ago 2012
  • Aceito
    31 Out 2012
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