RESUMO:
Objetivo:
O presente estudo investigou o impacto da pandemia de Covid-19 na oferta de atendimento odontológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Considerando que a população de menor nível socioeconômico sofre desproporcionalmente com a redução da oferta de atendimento odontológico, a hipótese do artigo sugere a presença de caráter sindêmico nessa situação.
Métodos:
O Sistema de Informação Ambulatorial do SUS (SIA-SUS) foi utilizado para coletar os dados das atividades e procedimentos odontológicos realizados entre abril e julho de 2018, 2019 e 2020 por dentistas cadastrados no SUS. Os 30 procedimentos mais frequentes realizados por dentistas foram selecionados e classificados em três categorias (atendimento odontológico de urgência, atendimento odontológico não emergencial e atendimento de urgência dependente de casos), com base nas orientações para atendimento odontológico durante a pandemia em curso, publicadas pela Associação Odontológica Americana.
Resultados:
Houve uma redução na oferta de atendimento odontológico em todas as categorias durante a pandemia. As consultas e procedimentos odontológicos de urgência em serviços de atenção básica e especializada diminuíram 42,5 e 44,1%, respectivamente, entre 2020 e 2019. Os procedimentos não urgentes diminuíram 92,3%. Embora as reduções nas atividades e procedimentos odontológicos tenham ocorrido em todas as regiões brasileiras, as maiores quedas relativas aos procedimentos de urgência — que deveriam ter sido mantidas durante a pandemia de covid-19 — ocorreram nas regiões Norte e Nordeste, que são as mais pobres do país.
Conclusões:
Os resultados sugerem que a pandemia covid-19 possui um comportamento sindêmico. Uma investigação mais aprofundada sobre os impactos da pandemia-sindemia na carga de doenças bucais é necessária.
Palavras-chave
Infecções por coronavírus; Pandemias; Assistência odontológica; Saúde bucal; Disparidades em assistência à saúde