Resumo
A literatura sobre equidade de gênero e fecundidade propõe uma curva em U para explicar a relação entre essas variáveis. À medida que as mulheres alcançam maior equidade na esfera pública (educação e trabalho), seus custos de oportunidade aumentam, o que, somado à responsabilidade quase integral pelo trabalho doméstico, reduz suas intenções reprodutivas e a fecundidade. Para reverter essa tendência de queda, seria necessária maior equidade na esfera privada da família, com maior participação masculina nas tarefas domésticas. Diversos estudos já investigaram essa associação positiva entre equidade de gênero na família e fecundidade ou intenções de fecundidade em países de alta renda e baixa fecundidade, contexto para o qual o modelo teórico foi desenvolvido. No entanto, há escassez de estudos sobre essa relação em países de renda menor, mas também de baixa fecundidade, como o Brasil. Este estudo é pioneiro ao investigar, no nível micro, a associação entre equidade de gênero na família e intenções de fecundidade no Brasil. Dada a inexistência de uma fonte de dados nacionalmente representativa que inclua ambas as variáveis de interesse, a estratégia analítica inclui a combinação de dados da PNDS de 2006 e das PNADs de 2006 e 2015 e o uso de métodos de machine learning para calcular a probabilidade predita de intenção de ter o segundo filho. A partir desta variável proxy, foi ajustada uma série de modelos e, de forma geral, os resultados sugerem uma relação negativa e, portanto, contrária ao arcabouço teórico. Uma possível explicação para estes resultados considera a discussão acerca da forma de operacionalização das variáveis. Alternativamente, discute-se que o relativo atraso do Brasil na primeira fase da revolução de gênero, isto é, na promoção de equidade na esfera pública, pode também explicar a associação negativa observada no contexto brasileiro.
Palavras-chave:
Intenções; Fecundidade; Equidade; Gênero; Família; Brasil;
Machine learning
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Fonte: Ministério da Saúde. PNDS 2006. Elaboração dos autores.
Fonte: IBGE. PNAD 2006 e 2015. Elaboração dos autores.
Fonte: Elaboração dos autores com base nas probabilidades preditas calculadas via algoritmo de ML e dados da PNDS 2006.
Fonte: Elaboração dos autores com base nas probabilidades preditas calculadas via algoritmo de ML e dados da PNDS (2015).