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Prevalência e fatores associados à polifarmácia entre os idosos residentes na comunidade

Resumo

Objetivo:

Verificar a prevalência e os fatores associados à polifarmácia entre os idosos residentes na comunidade no município de Cuiabá, Mato Grosso.

Método:

estudo transversal, em que participaram 573 pessoas com 60 anos e mais. A polifarmácia foi definida como o uso de cinco ou mais medicamentos. Para verificar a associação entre polifarmácia e as variáveis sociodemográficas, condições de saúde e acesso aos medicamentos realizou-se Teste qui-quadrado e Mantel Haenszel na análise bivariada e Regressão de Poisson na análise multivariada. O nível de significância adotado foi de 5%.

Resultado:

A prevalência da polifarmácia foi de 10,30%. Foram identificadas associações estatisticamente significantes entre polifarmácia e morar acompanhado, ter referido doenças do aparelho circulatório, doenças endócrinas, doenças nutricionais, doença do aparelho digestivo e ter referido dificuldades financeiras para aquisição de medicamentos.

Conclusão:

Alguns aspectos sociais e de condição de saúde exercem importante papel no uso de múltiplos medicamentos entre os idosos.

Palavras-chave:
Saúde do Idoso; Polimedicação; Combinação de Medicamentos; Estudos Transversais.

Abstract

Objective:

to verify the prevalence of and factors associated with polypharmacy among elderly residents of the city of Cuiabá, in the state of Mato Grosso.

Method:

a cross-sectional study of 573 people aged 60 and over was performed. Polypharmacy was defined as the use of five or more medications. To investigate the association between polypharmacy and sociodemographic variables, health and access to medication, the Mantel Haenszel chi square test was used in bivariate analysis and Poisson regression was used in multivariate analysis. The significance level adopted was 5%.

Result:

the prevalence of polypharmacy was 10.30%. Statistically significant associations were found between polypharmacy and living with others, describing suffering from circulatory, endocrine, nutritional and digestive tract diseases, and referring to financial difficulties for the purchase of medicines.

Conclusion:

some social and health condition factors play an important role in the use of multiple medications among the elderly.

Keywords:
Health of the Elderly; Polypharmacy; Drug Combinations; Cross-Sectional Studies.

INTRODUÇÃO

A população brasileira tem passado por um rápido processo de envelhecimento, trazendo aos serviços de saúde importantes desafios para o atendimento e manutenção da qualidade de vida desses idosos. O envelhecimento também traz, como consequência, aumento exponencial da prevalência de doenças crônicas e de uso de medicamentos11 Hébert R. A revolução do envelhecimento [Editorial]. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2015 [acesso em 17 jan. 2016];20(12):3618. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232015001203618&lng=pt&nrm=iso
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, muitas vezes com consequências negativas para a saúde dessas pessoas.

O aumento do uso de medicamentos pelos idosos leva à polifarmácia, definida como uso regular de cinco ou mais medicamentos22 Carvalho MF, Romano-Liebe NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Ribeiro E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do Município de São Paulo - Estudo SABE. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2012 [acesso em 10 jun 2013];15(4):817-27. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v15n4/13.pdf
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. O uso concomitante de múltiplos medicamentos pode trazer diversos desfechos indesejáveis à saúde como o aumento na ocorrência de reações adversas e interações medicamentosas, menor adesão à terapia medicamentosa, diminuição da capacidade funcional e declínio cognitivo do idoso.

Além desses prejuízos, há maiores demandas por cuidados assistenciais, elevação do número de admissões hospitalares e dos custos para o sistema de saúde33 Maher JR, Roberto L, Hanlon JT, Hajjar, Emily R. Clinical Consequences of Polypharmacy in Elderly. Expert Opin Drug Saf [Internet]. 2014 [acesso em 30 dez. 2014];13(1):1-11. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3864987/pdf/nihms-
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. A polifarmácia também pode afetar a qualidade do tratamento medicamentoso prescrito, quando associada à automedicação, bastante comum entre idosos44 Baldoni AO, Ayres LR, Martinez EZ, Dewulf NLS, Santos V, Obreli-Neto PR, et al. Pharmacoepidemiological profile and polypharmacy indicators in elderly outpatients. Braz J Pharm Sci [Internet]. 2013 [acesso em 30 dez. 2014];49(3):443-52. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/bjps/v49n3/v49n3a06.pdf
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Alguns estudos têm avaliado o uso de medicamentos e a presença de polifarmácia em idosos. Em países desenvolvidos, a polifarmácia em idosos variou entre 39%55 Charlesworth CJ, Smit E, Lee DS, Alramadhan F, Odden MC. Polypharmacy adults aged 65 years and older in the United States: 1988-2010. J gerontol Ser A Biol Sci Med Sci. 2015;70(8):989-95. e 45% da população66 Banerjee A, Mbamalu D, Ebrahimi S, Khan AA, Chan TF. The prevalence of polypharmacy in elderly attenders to an emergency department - a problem with a need for an effective solution International. J Emerg Med [Internet]. 2011 [acesso em 30 dez. 2014];4(1):1-8. Disponível em URL: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3121581/
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. No Brasil, estudo realizado com idosos residentes na região metropolitana do Município de São Paulo, evidenciou a prevalência da polifarmácia de 36,0%22 Carvalho MF, Romano-Liebe NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Ribeiro E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do Município de São Paulo - Estudo SABE. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2012 [acesso em 10 jun 2013];15(4):817-27. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v15n4/13.pdf
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Alguns fatores têm sido associados à polifarmácia entre idosos, como pertencer ao sexo feminino, ter autopercepção de saúde ruim, ser de faixa etária mais avançada, ter baixa escolaridade e referência à presença de doenças crônicas22 Carvalho MF, Romano-Liebe NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Ribeiro E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do Município de São Paulo - Estudo SABE. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2012 [acesso em 10 jun 2013];15(4):817-27. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v15n4/13.pdf
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,77 Altiparmak S, Altiparmak O. Drug-using behaviors of the elderly living in nursing homes and community-dwellings in Manisa, Turkey. Arch Gerontol Geriatr. 2012;54(2):242-8.

8 Kim HA, Shin JY, Kim MH, Park B. Prevalence and predictors of polypharmacy among korean elderly. PLos One [Internet]. 2014 [acesso em 10 jun. 2013];9(6):1-7. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4051604/
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-99 Santos TRA, Lima DM, Nakatani AYK, Pereira LV, Leal GS, Amaral RG. Consumo de medicamentos por idosos, Goiânia, Brasil. Rev Saúde Pública [Internet]. 2013 [acesso em 30 dez. 2014];47(1):94-103 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102013000100013
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. Soma-se a isso a facilidade na obtenção medicamentos sem receita nas farmácias, o que aumenta a exposição dos idosos ao uso excessivo de medicamentos e gastos financeiros desnecessários1010 Aquino DS. Por que o uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade? Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2008 [acesso em 20 dez. 2013];13(1):773-36. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v13s0/a23v13s0.pdf
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Além desses fatores, a presença de deficit cognitivo, doenças crônicas e baixa escolaridade, comum entre os idosos, são considerados aspectos que comprometem sua capacidade em realizar atividades de autocuidado1111 D'ors E, Xavier AJ, Ramos LR. Trabalho, suporte social e lazer protegem idosos da perda funcional: estudo epidoso. Rev Saúde Pública [Internet]. 2011 [acesso em 20 dez. 2013];45(4):685-92. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89102011000400007&script=sci_arttext
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Considerando a complexidade da relação entre envelhecimento e uso de medicamentos, há necessidade de incorporação de novas evidências científicas sobre esse fenômeno em países em desenvolvimento como o Brasil, para que gestores e profissionais de saúde possam compreender melhor esses fatores de exposição e intervir na prevenção do uso de polifarmácia. Assim, o objetivo deste estudo foi verificar a prevalência e os fatores associados à polifarmácia entre idosos residentes na comunidade.

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal de base populacional. Os dados analisados são provenientes do inquérito realizado por Cardoso et al.1212 Cardoso JDC, Azevedo RCS, Reiners AAO, Louzada CV, Espinosa MM. Autoavaliação de saúde ruim e fatores associados em idosos residentes em zona urbana. Rev Gaúch Enferm [Internet]. 2014 [acesso em 20 jan. 2015];35(4):35-41. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/viewFile/46916/32391
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que avaliou as condições de saúde autorreferidas dos idosos residentes no município de Cuiabá, MT. Para o presente estudo, foram selecionadas pessoas com 60 anos ou mais residentes na zona urbana do município de Cuiabá, MT, em 2012. Foram excluídos idosos institucionalizados, que apresentavam evidência de deficit cognitivo ou com alguma condição que os impedisse de responder às perguntas e aqueles que residiam na zona rural.

Na determinação do tamanho da amostra, foram utilizados os procedimentos propostos por Luiz e Magnanini1313 Luiz RR, Magnanini MM. A lógica da determinação da amostra em investigação epidemiológica. Cad Saúde Coletiva [Internet]. 2000 [acesso em 30 dez. 2014];8(2):9-28. Disponível em: http://www.cadernos.iesc.ufrj.br/cadernos/images/csc/2000_2/artigos/csc_v8n2_09-28.pdf
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para populações finitas. Partindo-se de um total de 45.649 idosos com 60 anos ou mais1414 BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. População Residente - Mato Grosso [Internet]. Brasília, DF: MS; 2010 [acesso em 30 dez. 2014]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/popmt.def
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e adotando-se um nível de significância de 5% (correspondendo a um intervalo de confiança de 95%, z [α]/2=1,96), com erro tolerável de amostragem de 5%, prevalência estimada máxima de polifarmácia em idosos de 50% e efeito de desenho de 1,3, obteve-se uma amostra necessária de 495 participantes. Esse número foi aumentado em 10%, no intuito de explorar associações entre variáveis independentes e a polifarmácia. Além disso, aumentou-se em mais 10%, a fim de se compensar eventuais perdas e recusas. Houve a recusa de participação de 26 idosos, perfazendo-se uma amostra final de 573 entrevistados. O instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário Brazil Old Age Schedule (BOAS) para a avaliação multidimensional do idoso, tendo sido validado por Veras e Dutra1515 Veras R, Dutra S. Perfil do idoso brasileiro: Questionário BOAS [Internet]. Rio de Janeiro: UnATI, UERJ; 2008 [acesso em 20 dez. 2013]. Disponível em: http://www.crde-unati.uerj.br/liv_pdf/perfil.pdf
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.

A coleta de dados obedeceu à seguinte logística: do ponto inicial do setor censitário seguiu o trajeto no sentido horário, de casa em casa até o término do setor. Chegando ao domicílio, perguntava-se sobre a existência de pessoas com 60 anos ou mais. Em caso positivo, o entrevistador se identificava e explicava os objetivos da pesquisa e o idoso era convidado a participar do estudo. As entrevistas eram realizadas naquele momento ou agendadas. Todos os idosos residentes no domicílio (homens e mulheres) foram entrevistados. As entrevistas foram realizadas no domicílio do idoso, em ambiente com boa iluminação, confortável e livre de interferências. Diversas estratégias foram adotadas para garantir a qualidade dos dados, desde a confecção do manual de coleta, padronização da forma de coleta, seleção e treinamento das entrevistadoras e o acompanhamento direto das pesquisadoras em campo. Além disso, semanalmente, avaliava-se a coleta de dados e conferiam-se todos os questionários a fim de identificar falhas no preenchimento de questões, fazer as complementações e, posteriormente, alimentar o banco de dados.

A variável dependente do presente estudo foi à presença polifarmácia - definida como uso regular de cinco ou mais medicamentos22 Carvalho MF, Romano-Liebe NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Ribeiro E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do Município de São Paulo - Estudo SABE. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2012 [acesso em 10 jun 2013];15(4):817-27. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v15n4/13.pdf
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e avaliada perguntando-se sobre o uso de medicamentos no ato da aplicação do questionário.

Como variáveis independentes foram avaliadas: a) características sociodemográficas: sexo (masculino/feminino), faixa etária (classificadas em 60 a 69 anos, 70 a 79 e 80 anos e mais), estado civil (classificados em casados e solteiros/ outros), escolaridade (classificada em ser analfabeto, ter até 4 anos de estudo ou mais de 4 anos de estudo), renda mensal do idoso (classificada em sem renda, com renda, estado ocupacional (classificado em ativo, quando declarou exercer alguma atividade laboral, independente de remuneração e inativo); b) condições de saúde: utilização de serviços médicos (classificado em instituição pública ou outras), automedicação (sim, quando se fez uso de qualquer medicamento prescrito por médico e não) saúde autorreferida (classificada ruim ou péssima, ótima, boa ou ótima), presença e tipo de doença autorreferida (classificada em doença autorreferida e reclassificada em doença aparelho circulatório (sim/não), doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (sim/não), doenças osteomuscular e do tecido conjuntivo (sim/não), doenças do aparelho digestivo - sim/não, doenças do ouvido e da apófise mastoide - sim/não e outras doenças - sim/não); c) variáveis relacionadas ao acesso de medicamentos: dificuldades financeiras para aquisição do medicamento(sim/não), dificuldade para encontrar o medicamento na farmácia (sim/não), dificuldade em obter receita de medicamentos controlados (sim/não).

Os princípios ativos de cada medicamento foram descritos conforme as diretrizes de classificação Anatômico Terapêutica e Química (ATC), 5º nível (substância química)1616 World Health Organization. ATC/DDD Index 2016 [Internet]. Oslo: WHO; 2017 [acesso em 10 jan. 2016]. Disponível em: http://www.whocc.no/atc_ddd_index/
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.

Na análise bivariada, foram identificadas as associações brutas entre a variável desfecho (polifarmácia) e as demais variáveis de exposição. Para o cálculo da significância estatística da associação, utilizou-se o Teste qui-quadrado (p<0,05), pelo método de Mantel Haenszel (IC 95%), ou Teste exato de Fischer, quando indicado.

A análise múltipla foi realizada pelo modelo da Regressão de Poisson, incluindo-se todas as variáveis que apresentaram associação com p-valor <0,20 a partir da análise bruta, utilizando a técnica de inserção por blocos de variáveis (primeira as sociodemográficas, seguido pelas condições de saúde e aquisição de medicamentos), ao final foram incluídas todas as variáveis que mantiveram associação, utilizando o método de retirada progressiva das variáveis (Stepwise backward). Considerou-se ao final as variáveis com p-valor <0,05 como de associação estatisticamente significante.

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa, aprovado pelo CEP/HUJM, sob protocolo nº 132/CEP- HUJM/2011, e todos os participantes da presente pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento (TCLE).

RESULTADOS

Dos 573 idosos pesquisados, a maioria era do sexo feminino (55,67%), na faixa etária de 60 a 69 anos (46,07%), analfabetos ou com até 4 anos de estudo (83,06%). Em relação à polifarmácia, 59 (10,30%) pessoas referiram o uso regular de cinco ou mais medicamentos (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição dos idosos segundo o sexo, faixa etária, estado civil e escolaridade (n=573). Cuiabá, Mato Grosso, 2012.

No total foram utilizados 350 medicamentos pelos idosos, conforme classificação ATC. Entre os vinte medicamentos mais frequentemente utilizados estão aqueles que atuam no sistema cardiovascular (55,0%), medicamentos que agem no trato alimentar e metabolismo (25,0%), sistema nervoso (10,0%) e preparações hormonais sistêmicas (5,0%). Os princípios ativos mais utilizados pelos os idosos foram hidroclorotiazida (6,6%), ácido acetilsalicílico (6,3%), metformina (6,0%), captopril (4,9%), nifedipina (3,7%), sinvastatina (3,7%) e omeprazol (3,7%) (Tabela 2).

Tabela 2
Distribuição dos 20 medicamentos mais frequentemente utilizados pelos idosos que realizaram polifarmácia, Cuiabá, MT, 2012.

Em relação às condições de saúde, os idosos que utilizavam os serviços públicos de saúde (RP=5,03; IC=1,59-15,93) e que autorreferiram apresentar condições de saúde ruim ou péssima (RP=5,03; IC=1,59-15,93) foram associados ao uso de polifarmácia. Quanto às doenças autorreridas pelos idosos, a presença de polifarmácia foi mais frequente naqueles que referiram doenças do aparelho circulatório (RP=4,88; IC=2,14-11,16), doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (RP=3,78; IC=2,37-6,05) e doenças do aparelho digestivo (RP=3,17; 1,68-6,00) (Tabela 4).

Tabela 3
Análise bivariada de polifarmácia e variáveis sociodemográficas (n=573). Cuiabá, Mato Grosso, 2012.
Tabela 4
Análise bivariada de polifarmácia, condições de saúde dos idosos e ao acesso aos medicamentos (n=573). Cuiabá, Mato Grosso, 2012.

Quanto às variáveis relacionadas ao acesso aos medicamentos, os idosos que tinham dificuldades financeiras para aquisição dos medicamentos (RP=3,63; IC=2,26-5,84), dificuldades para encontrar o medicamento na farmácia (RP=3,15; IC=1,88-5,28) e dificuldades em obter receita de medicamentos controlados (RP=3,15; IC=1,61-5,80) foram os que referiram maior presença de polifarmácia (Tabela 4).

Na Regressão Múltipla de Poisson, as variáveis que permaneceram significativamente associadas com a polifarmácia foram: morar acompanhado (p=0,012; RP=1,04), autorreferência de doença do aparelho circulatório (p=0,002; RP=1,04); autorreferência de doença endócrina, nutricional e metabólica (p=0,011; RP=1,07); autorreferência de doença do aparelho digestivo (p=0,038; RP=1,13) e relato de dificuldades financeiras para aquisição dos medicamentos (p=0,008; RP=1,07) (Tabela 5).

Tabela 5
Modelo de Regressão Múltipla de Poisson e variáveis associadas à polifarmácia entre os idosos. Cuiabá, MT, 2012.

DISCUSSÃO

A prevalência da polifarmácia encontrada neste estudo foi semelhante ao verificado em Belgrado, Sérvia, em inquérito com 480 idosos acompanhados em Centro de Atenção de Saúde daquela cidade1717 Gazibara T, Nurkovic S, Kisic-Tepavcevic D, Kurtagic I, Kovacevic N, Gazibara T, et al. Pharmacotherapy and over-the-counter drug use among elderly in Belgrade, Serbia. Geriatr Nurs. 2013;34(6):486-90. e ao estudo realizado com 400 indivíduos maiores de 60 anos residentes na área de abrangência da Estratégia Saúde da Família em Recife1818 Neves SJF, Marques APO, Leal MCC, Diniz AS, Medeiros TS, Arruda IKG. Epidemiologia do uso de medicamentos entre idosos em área urbana do Nordeste do Brasil. Rev Saúde Pública [Internet]. 2013 [acesso em 30 dez. 2014];47(4):759-68. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102013000400759
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. Contudo, outras pesquisas encontraram prevalências que variaram entre 13,9% e 57,0%22 Carvalho MF, Romano-Liebe NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Ribeiro E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do Município de São Paulo - Estudo SABE. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2012 [acesso em 10 jun 2013];15(4):817-27. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v15n4/13.pdf
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,1919 Flores LM, Mengue SS. Uso de medicamentos por idosos em região do sul do Brasil. Rev Saúde Pública [Internet]. 2005 [acesso em 30 dez. 2014];39(6):924-9. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102005000600009
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,2020 Gokce Kutsal Y, Barak A, Atalay A, Baydar T, Kucukoglu S, Tuncer T, et al. Polypharmacy in the elderly: a multicenter study. J Am Med Dir Assoc. 2009;10(7):486-90..

Os medicamentos mais frequentemente utilizados foram de atuação cardiovascular, trato alimentar/ metabolismo e sistema nervoso, resultado que colabora com outros estudos22 Carvalho MF, Romano-Liebe NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Ribeiro E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do Município de São Paulo - Estudo SABE. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2012 [acesso em 10 jun 2013];15(4):817-27. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v15n4/13.pdf
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,44 Baldoni AO, Ayres LR, Martinez EZ, Dewulf NLS, Santos V, Obreli-Neto PR, et al. Pharmacoepidemiological profile and polypharmacy indicators in elderly outpatients. Braz J Pharm Sci [Internet]. 2013 [acesso em 30 dez. 2014];49(3):443-52. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/bjps/v49n3/v49n3a06.pdf
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. Esses achados são consistentes com o perfil de morbidade dos idosos praticantes da polifarmácia verificado na presente investigação. Salienta-se que o omeprazol foi o sexto medicamento mais frequente entre os idosos, o mesmo apresenta maior potencial de interações medicamentosas de fármacos de uso comum pelos idosos, tais como, o ácido acetilsalicílico, glibenclamida e nifedipino2121 Cintra FA, Guariento ME, Miyasaki LA. Adesão medicamentosa em idosos em seguimento ambulatorial. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2010 [acesso em 30 dez. 2014];15(3):3517-15. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232010000900025
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
,2222 Malta DC, Silva Junior JB. O Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil e a definição das metas globais para o enfrentamento dessas doenças até 2025: uma revisão. Epidemiol Serv Saúde [Internet]. 2013 [acesso em 30 dez. 2014];22(1):151-64. Disponível em: http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?pid=S1679-49742013000100016&script=sci_arttext
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tornando seu consumo ainda mais alarmante em idosos usuários de vários medicamentos.

No presente estudo, o fato do idoso morar acompanhado se associou ao uso de polifarmácia. Cintra et al.2323 Fiúza EPS, Lisboa MB. Bens credenciais e poder de mercado: um estudo econométrico da indústria farmacêutica brasileira. Rio de Janeiro: IPEA; 2002. afirmam que idosos acompanhados são os que mais aderem aos tratamentos preconizados pelo serviço de saúde. Entre as prováveis explicações estão as que, nessas condições, o familiar ou cuidador, com maior clareza na percepção das condições de saúde do idoso, leva-o a uma maior busca de acompanhamento médico, o que levaria também a uma maior prescrição e consumo de medicamentos por esses idosos.

Paradoxalmente, ao contrário do esperado, idosos que referiram dificuldades financeiras para aquisição dos medicamentos foram associados ao maior uso de polifarmácia. Esse achado é ainda corroborado, na análise bivariada, pela maior dificuldade do idoso que faz uso de polifarmácia de encontrar o medicamento na farmácia ou ainda obter receita de remédios controlados.

Neste sentido, a Política Nacional de Medicamentos do Sistema Único de Saúde (SUS) tem entre seus propósitos garantir o acesso da população àqueles considerados essenciais, devendo disponibilizar medicamentos para o tratamento de doenças crônicas de forma gratuita ou com menor custo2424 Luz TCB, Loyola Filho AI, Lima-Costa MF. Estudo de base populacional da subutilização de medicamentos por motivos financeiros entre idosos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad Saúde Pública [Internet]. 2009 [acesso em 30 dez. 2014];25(7):1578-86. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v25n7/16.pdf
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. Contudo, ainda é comum a falta dos medicamentos na atenção primária, restando ao idoso buscar, nas farmácias e drogarias comerciais locais, os fármacos faltantes. Nesses estabelecimentos, os balconistas são compensados financeiramente pela maior venda desses medicamentos, incluindo aqueles não constantes nas prescrições farmacológicas2525 Monteschi M, Vedana KGG, Miasso AI. Terapêutica medicamentosa: conhecimento e dificuldades de familiares de pessoas idosas com transtorno afetivo bipolar. Texto & Contexto Enferm [Internet]. 2010 [acesso em 30 dez. 2014];19(4):709-18. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v19n4/14.pdf
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. Se, por um lado, existe uma maior necessidade de gastos para a aquisição desses medicamentos, por outro, essa situação pode também contribuir, inversamente, para a sua subutilização2626 Tapia-Conyer R, Cravioto P, Borges-Yáñez A, De La Rosa B. Consumo de drogas médicas em poblacion de 60 a 65 años en México. Encuesta Nacional de Adicciones 1993. Salud Pública México [Internet]. 1996 [acesso em 30 dez. 2014];38(6):458-65. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/106/10638608.pdf
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e, consequente, maior dificuldade financeira para sua aquisição2727 World Health Organization. The Rational use of drugs: report of the conference of experts, Nairobi, 25-29 November 1985 [Internet]. Geneva: WHO; 1987 [acesso em 30 dez. 2014]. Disponível em: http://apps.who.int/medicinedocs/documents/s17054e/s17054e.pdf
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Existe uma linha tênue entre o risco e o benefício do uso de polimedicação por idosos: uma elevada utilização de medicamentos pode afetar negativamente a qualidade de vida do idoso devido à maior ocorrência de efeitos adversos e interações medicamentosas. Por outro lado, esses mesmos medicamentos são os que ajudam a prolongar a vida, em sua maioria. Desta maneira, não é necessariamente a polifarmácia que expõe o idoso aos potenciais riscos para eventos adversos, mas sim a irracionalidade de seu uso2828 Marin MJS, Cecílio LCO, Perez AEWUF, Santella F, Silva CBA, Gonçalves Filho JR, et al. Caracterização do uso de medicamentos entre idosos de uma unidade do Programa Saúde da Família. Cad Saúde Pública [Internet ]. 2008 [acesso em 30 dez.2014];24(7):1545-55. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2008000700009&lng=en&nrm=iso
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.

O uso racional de medicamentos é definido como aquele realizado com medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. Entre outros critérios, essa racionalidade preconiza que, na necessidade do uso do medicamento, esse seja o mais apropriado em relação à sua eficácia e segurança e que se cumpra o regime terapêutico prescrito da melhor maneira possível2929 Romano-Lieber NS, Teixeira JJV, Farhat FCLGF, Ribeiro E, Crozatti MTL, Oliveira GSAO. Revisão dos estudos de intervenção do farmacêutico no uso de medicamentos por pacientes idosos. Cad Saúde Pública [Internet]. 2002 [acesso em 30 dez. 2014];18(6):1499-1507. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2002000600002&script=sci_arttext
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. Contudo, as prescrições medicamentosas complexas, adicionadas à diminuição da destreza, acuidade auditiva e visual e alto índice de analfabetismo presentes na maioria dos idosos brasileiros podem comprometer a compreensão de receita médica, levando-os ao uso incorreto do medicamento3030 Silveira EA, Dalastra L, Pagotto V. Polifarmácia, doenças crônicas e marcadores nutricionais em idosos. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2014 [acesso em 20 fev. 2015];17(4):818-29. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v17n4/pt_1415-790X-rbepid-17-04-00818.pdf
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É importante considerar que os idosos apresentam diversas comorbidades, fazendo que as prescrições de medicamentos tenham que ser constantemente revisadas em relação às formas farmacêuticas, embalagens e rótulos, entre outros. Adiciona-se a isso, no Brasil, a prescrição inadequada de medicamentos que é frequentemente atribuída à falta de treinamento dos médicos prescritores em geriatria e também à deficiência da formação farmacêutica, na hora da atenção a esse idoso3131 Mizokami F, Yumiko K, Noro T, Furuta K. Polypharmacy with common diseases in hospitalized elderly Patients. Am J Geriatr Pharmacother. 2012;10(2):123-8.. Desta maneira, a presença do farmacêutico na atenção farmacêutica ao idoso é importante para a promoção do uso racional de medicamentos, diminuindo os erros de prescrições ou de dosagem, além da prevenção do seu uso incorreto e a menor ocorrência de reações adversas. Contudo, ainda é incipiente a atenção farmacêutica na atenção primária, lócus prioritário do atendimento de saúde do idoso.

A associação entre as diversas comorbidades avaliadas e a polifarmácia encontrada neste estudo é consistente com outros estudos realizados com idosos1717 Gazibara T, Nurkovic S, Kisic-Tepavcevic D, Kurtagic I, Kovacevic N, Gazibara T, et al. Pharmacotherapy and over-the-counter drug use among elderly in Belgrade, Serbia. Geriatr Nurs. 2013;34(6):486-90.,3232 Góis ALB, Veras RP. Informações sobre a morbidade hospitalar em idosos nas internações do Sistema Único de Saúde do Brasil. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2010 [acesso em 30 dez. 2014];15(6):2859-69. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232010000600023
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. Estudo realizado no Japão verificou que a polifarmácia foi mais comum no tratamento de hipertensão, hiperlipidemia, úlcera gástrica e diabetes3333 Tavares MS, Macedo TC, Mendes DRG. Possíveis Interações Medicamentosas em um Grupo de Hipertenso e Diabético da Estratégia Saúde Da Família. Revista de Divulgação Científica Sena Aires 2012 [acesso em 30 dez 2014];1(2):119-26. Disponível em: http://revistafacesa.senaaires.com.br/index.php/revisa/article/view/21/16
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. Semelhante a esse achado, Carvalho et al.22 Carvalho MF, Romano-Liebe NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Ribeiro E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do Município de São Paulo - Estudo SABE. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2012 [acesso em 10 jun 2013];15(4):817-27. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v15n4/13.pdf
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em pesquisa desenvolvida na região metropolitana de São Paulo, constataram que os idosos com hipertensão e diabetes também realizavam mais a polifarmácia. Essas doenças são as principais causas de mortalidade entre os idosos na população mundial3333 Tavares MS, Macedo TC, Mendes DRG. Possíveis Interações Medicamentosas em um Grupo de Hipertenso e Diabético da Estratégia Saúde Da Família. Revista de Divulgação Científica Sena Aires 2012 [acesso em 30 dez 2014];1(2):119-26. Disponível em: http://revistafacesa.senaaires.com.br/index.php/revisa/article/view/21/16
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,3434 Okuno MFP, Cintra RS, Vancini-Campanharo C, Batista REA. Interação medicamentosa no serviço de emergência. Einstein (São Paulo) [Internet]. 2013 [acesso em 30 dez. 2014];11(4):462-6. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082013000400010
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. Em relação às doenças do aparelho digestivo, sua elevada prevalência pode levar muitas vezes ao consumo desnecessário de outros medicamentos, explicando assim o uso de polifarmácia nessa população3232 Góis ALB, Veras RP. Informações sobre a morbidade hospitalar em idosos nas internações do Sistema Único de Saúde do Brasil. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2010 [acesso em 30 dez. 2014];15(6):2859-69. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232010000600023
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. Essa condição pode levar à uma cascata de prejuízos à saúde dos idosos e ao sistema de saúde.

Este estudo é do tipo transversal, destacando-se, como aspectos positivos, a utilização de medidas de associação de prevalência na análise bivariada quanto no modelo final múltiplo3535 ZOU GA. modified poisson regression approach to prospective studies with binary data. Am J Epidemiol [Interent]. 2004 [acesso em 30 dez. 2014];159(7):702-6. Disponível em: http://www.stat.ubc.ca/~john/papers/ZouAJE2004.pdf
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. Contudo, sugere-se parcimônia na interpretação das associações entre fatores explicativos ao uso de polifarmácia em idosos da comunidade. Como ambas as informações foram obtidas simultaneamente, não se exclui a possibilidade da causalidade reversa, onde as variáveis explicativas podem não ter ocorrido antes da variável resposta. Não se exclui também a ocorrência de viés de memória, por se tratar de avaliação de recordatório, em que a capacidade de se lembrar do passado pode estar mais relacionada ao uso de polifarmácia.

CONCLUSÃO

A prevalência de polifarmácia encontrada no presente estudo foi semelhante à encontrada em comunidades de outras regiões. Idosos que moravam acompanhados, que referiram ter dificuldades financeiras para a aquisição de medicamentos e que apresentavam algumas comorbidades foram associados com a polifarmácia, demonstrando que alguns aspectos sociais e de condição de saúde exercem importante papel no uso de múltiplos medicamentos entre os idosos.

O presente estudo permitiu uma melhor compreensão sobre o uso de múltiplos medicamentos pelos idosos que residem na comunidade e os principais fatores associados a essa prática. Um maior acompanhamento dos profissionais de saúde, com a inclusão de questões referentes à aquisição dos medicamentos nos testes de triagem da avaliação multidimensional dos idosos pode permitir uma melhor adequação dos tratamentos das diversas comorbidades comuns nos indivíduos dessa faixa etária.

Tem-se como importante a inclusão do profissional farmacêutico na atenção básica em saúde. O uso e ficiente dos medicamentos exige o trabalho articulado de uma equipe de pro fissionais que assistem diretamente ao usuário. O farmacêutico é corresponsável no monitoramento dos resultados terapêuticos e efeitos adversos, sendo de suma importância para o acompanhamento de idosos em uso de polifarmácia.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2017

Histórico

  • Recebido
    15 Maio 2016
  • Revisado
    21 Nov 2016
  • Aceito
    21 Jan 2017
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