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Livre como uma borboleta: simbologia e cuidado paliativo

Resumo

O objetivo do estudo foi investigar a relação entre as borboletas e os cuidados paliativos. A pesquisa foi esboçada no paradigma qualitativo, sendo adotada a etnografia, desenvolvida a partir da observação participante em dois Serviços de Cuidados Paliativos em Oncologia, no Brasil e em Portugal. Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o significado etimológico e simbólico das borboletas, seguida de encontros com especialistas que estudam esse inseto e sua presença na arte, livros e filmes. A simbologia da borboleta pode variar de lugar para lugar, de povo para povo, uma vez que sua semântica e representação estão associadas às diversas formas de vida, de culturas, de religiões e crenças. A presença constante e intrigante de borboletas nas paredes e vidraças dos hospitais estudados tem um significado nos cuidados paliativos, pois a metamorfose das borboletas é simbolicamente associada às transformações radicais que os seres humanos passam em suas vidas, sendo a morte percebida como uma possibilidade de renovação. Portanto, o rompimento do casulo representa a morte do corpo, com a alma ganhando vida em liberdade na imagem da borboleta. Assim, os cuidados paliativos, em sua filosofia teórica e prática aplicada, assistem e confortam esse processo de mudança na vida dos pacientes e familiares envolvidos, sem negar a morte e muito menos a dor e o sofrimento de uma doença em estágio avançado, vivenciada também por idosos.

Cuidados Paliativos; Morte; Borboletas

Abstract

The aim of this study was to investigate the relationship between butterflies and palliative care. A qualitative ethnographic study was performed, based on participant observation in two Oncology Palliative Care Services in Brazil and in Portugal. A literature review on the etymological and symbolic meaning of butterflies, followed by discussions with experts who have studied this insect and its presence in art, books and movies, was undertaken. Butterfly symbols vary from place to place and from people to people, and the semantics and representation of the insect are associated with various forms of life, culture, religion and belief. The constant and intriguing presence of butterflies on the walls and windows of the hospitals studied has a significance for palliative care. The metamorphosis of butterflies is symbolically associated with radical changes in human lives, with death perceived as a possibility for renewal. Therefore, the breaking of the cocoon is the death of the body, when the soul achieves freedom in the image of the butterfly. Thus, palliative care, in its theoretical philosophy and applied practice, assists and eases this process of change in the lives of patients and their families, without denying the death, pain nor suffering experienced by the elderly during an advanced disease.

Palliative Care; Death; Butterflies

INTRODUÇÃO

A morte e o morrer passaram por várias transformações históricas e sociais ao longo dos últimos séculos. Porém, nos dias de hoje, pensar a morte é algo doloroso para o ser humano e traz à tona lembranças de perdas, a dor do luto, o sentimento de finitude e o medo de um futuro incerto. É uma certeza que todos iremos morrer, mas vive-se sem pensar nisso. Presenciar a chegada da morte já não é um costume na nossa sociedade e a espera pode não ser suportável. A exclusão da morte e de quem está morrendo são citadas como características fundamentais da contemporaneidade, ressaltando a perda de autonomia do indivíduo e a não participação nas tomadas de decisão dentro do hospital.11. Menezes RA. Em busca da boa morte: antropologia dos cuidados paliativos.Rio de Janeiro: Garamond; 2004.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cuidados paliativos é uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares frente a problemas associados à doença terminal por meio da prevenção e alívio do sofrimento, identificando, avaliando e tratando a dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais.22. World Health Organization. National cancer control programmes: policies and managerial guidelines. 2nd ed. Geneva: WHO; 2002. O crucial em cuidados paliativos é a qualidade da vida em questão, e não apenas o tempo atribuído a ela. Tem como princípios afirmar a vida e encarar a morte como um processo natural; não adiar nem prolongar a morte; prover alívio de dor e de outros sintomas, integrando os cuidados, oferecendo suporte para que os pacientes possam viver o mais ativamente possível, ajudando a família e os cuidadores no processo de luto.33. Melo AGC, Caponero R. Cuidados paliativos: abordagem contínua e integral. In: Santos FS, editor. Cuidados paliativos: discutindo a vida, a morte e o morrer. São Paulo: Atheneu; 2009. Cap. 18; p.257-67. Então, os cuidados paliativos buscam a "humanização" do morrer. Segundo Saunders,44. Saunders C. Foreword. In: Doyle D, Hanks G, Cherny N, Calman K, editors. Oxford textbook of palliative medicine. Oxford: Oxford University Press; 2005. deve-se garantir o atendimento do ser humano em sua totalidade, promovendo o bem-estar global e mantendo sua dignidade, de modo que possa viver a sua morte e não seja expropriado de sua vida. Vale ressaltar que muitos pacientes em cuidados paliativos são idosos.

Este estudo é um ensaio etnográfico em Serviços de Cuidados Paliativos em Oncologia no Brasil e em Portugal, sendo esta uma etapa da pesquisa de doutorado. Durante esse processo, uma imagem se repete pelas unidades de cuidados paliativos: a das borboletas. Para onde quer que eu olhe, lá estão elas, grandes ou pequenas, mas sempre supercoloridas, parecem um arco-íris. Às vezes, estão acompanhadas de flores que dão a ideia de um jardim. Provavelmente, foram coladas nas paredes e vidraças como estratégia de "humanização" do ambiente hospitalar. Mas, eu me perguntava: "Por que borboletas?" Com certeza tinham algum significado especial. Qual? Essas questões intrigaram o suficiente para investigar a relação entre a simbologia das borboletas e os cuidados paliativos.

METODOLOGIA

A pesquisa foi esboçada no paradigma qualitativo, sendo adotada como método a etnografia, desenvolvida a partir da observação participante no campo de pesquisa, durante o ano de 2013. A pesquisa qualitativa implica uma aproximação interpretativa, na qual o investigador estuda o fenômeno no seu meio, buscando alcançar o seu sentido, mantendo o significado que as pessoas lhe atribuem.55. Denzin NK, Lincoln YS. Handbook of Qualitative Research. 2nd ed.California: Sage; 2000.

O trabalho de campo constitui-se numa etapa essencial da pesquisa qualitativa.66. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 4ª ed. São Paulo: Hucitec; 1996. p. 105-58. As instituições participantes foram o Hospital do Câncer IV (HC IV) do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), Rio de Janeiro-RJ, Brasil; e o Serviço de Cuidados Paliativos (SCP) do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil (IPO), Porto, Portugal. O projeto foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa do INCA e do IPO sob os números de pareceres 462.858/2013 e 108/2013, respectivamente.

O acesso facilitado ao HC IV do INCA, por exercer a profissão de nutricionista nessa instituição, permitiu a imersão para reconhecimento dessa unidade, assim como da sua estrutura física, equipe, clientela e o funcionamento da assistência paliativa. Da mesma forma, procurei fazer essa observação no SCP do IPO, onde passei um período de 15 dias como profissional visitante no Serviço de Nutrição e Alimentação. A etnografia foi utilizada para descrever o campo de estudo, identificar o cenário social e contextualizar o levantamento de dados para dar seguimento às outras fases da pesquisa.

Apesar de a observação participante considerar o envolvimento nas atividades cotidianas ou rotineiras no cenário da pesquisa, quando os pesquisadores decidem estudar uma comunidade avaliada como bem conhecida e compreendida, eles devem se dar conta de que a dinâmica da mudança leva à inclusão de determinados fatores que até então eram ignorados na rede da interação social.77. Angrosino M. Etnografia e observação participante. Porto Alegre: Artmed; 2009.

Para análise da relação entre as borboletas e os cuidados paliativos, foi realizada, primeiramente, uma revisão bibliográfica sobre o significado etimológico e simbólico das borboletas, seguida de encontros com especialistas que estudam esse inseto e sua presença na arte, livros e filmes. Para o aprofundamento da articulação simbólica das borboletas com os cuidados paliativos, utilizaram-se, como referencial teórico, as ideias de Elizabeth Kübler-Ross.

RESULTADOS

Um aspecto do simbolismo da borboleta se fundamenta nas suas metamorfoses: a crisálida é o ovo que contém a potencialidade do ser e a borboleta que sai dele é um símbolo de ressurreição. É ainda, se preferir, a saída do túmulo.88. Chevalier J, Gheerbrant A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 26ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio; 2012. Em outras palavras, os estágios desse inseto, ou seja, lagarta, crisálida e borboleta significam, respectivamente, vida, morte e ressurreição, representando, dessa maneira, a metamorfose cristã.99. Dicionário de Símbolos: significado dos símbolos e simbologias [Internet]. [S. l.]: Sete Graus; 2008-2015. Borboleta; 2008 [acesso em 02 fev 2014]. Disponível em:http://www.dicionariodesimbolos.com.br/borboleta/
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Portanto, está associado a esse fenômeno natural de transformações sucessivas, que conduzem ao estado de maturidade ideal, no funeral simbólico, o destino póstumo do falecido que alcançou o sucesso, após ter percorrido um caminho difícil, rochoso, para um estado de plenitude, na sua qualidade de novo Osíris. A borboleta adquire uma importante dimensão semântica, tornando-se o símbolo da vida que está constantemente se renovando, um sinal do próximo renascimento de morte.1010. Germond P. Le papillon, un marqueur symbolique de la renaissance du défunt ? Bull Soc Égyptol 2008;28:35-55.

Um simbolismo dessa ordem é utilizado no mito de Psique, que é representada com asas de borboleta, assim como nos afrescos de Pompeia, em que aparece como uma menininha alada, semelhante a uma borboleta.88. Chevalier J, Gheerbrant A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 26ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio; 2012. No Dicionário etimológico da língua portuguesa, as palavras psico, psiqu(e) são elementos de composição, do grego psych, de psyche, que significa "alento, sopro de vida, alma", que já era documentado em vocábulos formados no próprio grego e em muitos outros introduzidos na linguagem científica internacional, a partir do século XIX. O termo Psicologia significa "ciência da natureza, funções e fenômenos da alma ou da mente humanas", em uma definição desde 1844.1111. Cunha AG. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lexicon; 2012.

Em obras de arte, Psique é representada como uma jovem com asas de borboleta, junto com Cupido, nas diferentes situações descritas pela fábula.1212. Bulfinch T. Myths of Greece and Rome. New York: Viking Penguin; [1981?]. Psique era uma jovem tão linda que Vênus passou a ter ciúmes dela. A deusa deu ordens a Cupido para induzir Psique a apaixonar-se por alguma criatura de má aparência, porém o próprio Cupido tornou-se seu amante. Cupido a pôs num palácio, mas somente a visitava na escuridão e a proibiu de tentar vê-lo. Movidas pelo ciúme, as irmãs de Psique disseram-lhe que ele era um monstro e iria devorá-la. Certa noite, Psique pegou uma lamparina e iluminou o quarto para ver Cupido adormecido, mas deixou cair sobre Cupido uma gota do óleo da lamparina e o despertou. Por causa disso, foi abandonada. Sozinha e cheia de remorsos, Psique procurou o amante por toda a terra, e várias tarefas difíceis lhe foram impostas por Vênus para que pudesse voltar a vê-lo. Por um meio ou por outro, todas as tarefas foram executadas, exceto a última, que consistia em descer ao Hades e trazer o cofre da beleza usado por Perséfone. Psique havia praticamente conseguido realizar a proeza, quando abriu o cofre que continha não a beleza, e sim um sono mortal que a dominou. Entretanto, Júpiter, pressionado por Cupido, consentiu seu casamento com a amante, e Psique subiu ao céu. A obra Psyché ranimée par le baiser de l'Amour, de Antonio Canova (1787), exposta no Museu do Louvre, Paris, exemplifica essa passagem da mitologia grega.

Portanto, o nome grego para borboleta é psyque, e a mesma palavra significa alma. Não há ilustração da imortalidade da alma tão impressionante e bela como a borboleta. Depois de uma vida rastejante e mesquinha como lagarta, passa pela fase de pupa, somente depois de estender as asas brilhantes do túmulo no qual tinha ficado, flutua na brisa do dia e torna-se um dos mais belos e delicados aspectos da primavera. Psique, então, é a alma humana purificada pelos sofrimentos e infortúnios, está preparada, assim, para o desfrute da verdadeira felicidade.1212. Bulfinch T. Myths of Greece and Rome. New York: Viking Penguin; [1981?].

O termo grego psyche, originalmente, tinha dois significados, como já mencionados, a alma e a borboleta, sendo que esse último simbolizava o espírito imortal. Segundo as crenças gregas populares, quando alguém morria, o espírito saía do corpo em forma de borboleta.77. Angrosino M. Etnografia e observação participante. Porto Alegre: Artmed; 2009. Importante destacar que a simbologia da borboleta pode variar de lugar para lugar, de povo para povo, uma vez que sua representação está associada às diversas formas de vida, de culturas, religiões e crenças.99. Dicionário de Símbolos: significado dos símbolos e simbologias [Internet]. [S. l.]: Sete Graus; 2008-2015. Borboleta; 2008 [acesso em 02 fev 2014]. Disponível em:http://www.dicionariodesimbolos.com.br/borboleta/
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Pela etimologia, a palavra borboleta é uma designação comum aos insetos lepidópteros diurnos, cujas antenas são clavadas. Provavelmente, tem origem do latim belbellita, calcado em bellus "bom, bonito". Mariposa é uma designação geral dos lepidópteros heteróceos e apresenta hábitos noturnos. Do castelhano deriva de María e posa, imperativo de posar, que significa em português "pousar".1111. Cunha AG. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lexicon; 2012. Os antigos gregos converteram as borboletas em símbolos da alma no Ocidente, em especial as de cor branca. Em analogia, a borboleta é a alma humana purificada pelos sofrimentos terrenos, pronta para gozar da felicidade após o túmulo da pupa.88. Chevalier J, Gheerbrant A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 26ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio; 2012.

A borboleta também é considerada um símbolo de ligeireza e de inconstância. O voo da borboleta em direção ao fogo nos remete ao voo de Ícaro em direção ao sol. Em algumas tradições, a chama (flama) é um símbolo de purificação, de iluminação e de amor espirituais, representando a imagem do espírito e da transcendência, a alma do fogo.88. Chevalier J, Gheerbrant A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 26ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio; 2012.

Insetos costumam se orientar durante o voo por fontes luminosas naturais, como o Sol e a Lua, mantendo a mesma angulação em relação a eles por rotas retilíneas. Durante uma aula ministrada pelo professor Alcimar do Lago Carvalho, sobre a exposição de Entomologia no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi esboçado um diagrama da trajetória teórica de voo de uma mariposa que, perturbada por uma fonte luminosa artificial, passa a orientar-se por ela. Na tentativa de manter a mesma angulação em relação a um ponto de orientação muito próximo, de uma fonte de luz artificial como uma vela ou uma lâmpada acesa, o diagrama descreve uma trajetória em espiral que se fecha no ponto de contato com a luz, dirigindo-se a mariposa ao seu provável fim.

Essa exposição de Entomologia também trazia uma vitrine cultural citando algumas obras de arte em que as borboletas foram retratadas exibindo valores simbólicos para os autores e sua época. A obra de arte Virgem com o menino e anjos, de Jean Malouel (Holanda/França,1410), por exemplo, mostra que no contexto do catolicismo do final da Idade Média, em paralelo ao movimento trovadoresco da vassalagem amorosa, que basicamente consistia na adoração de uma mulher inatingível, os olhos dos fiéis se voltam para o culto à Virgem Maria. Nesse quadro, as mariposas, insetos de hábitos noturnos, simbolizam os homens perdidos na escuridão de suas vidas terrenas, sendo conduzidos para a luz brilhante da auréola dourada, remetendo à idéia de pousar em Maria, como o significado etimológico da palavra mariposa.

A associação da borboleta, da chama, de suas cores e do bater das assas aparece também entre os astecas. O deus do fogo entre os astecas leva como emblema um peitoral chamado borboleta de obsidiana. A obsidiana, como o sílex, é uma pedra de fogo; sabe-se que ela forma igualmente a lâmina das facas de sacrifício. O Sol, na Casa das Águias ou Templo dos Guerreiros, era figurado por uma imagem de borboleta. Símbolo do fogo solar e diurno, e por essa razão da alma dos guerreiros, a borboleta é também para os mexicanos um símbolo do sol negro, atravessando os mundos subterrâneos durante o seu curso noturno. É, assim, símbolo do fogo estoniano oculto, ligado à noção de sacrifício, de morte e de ressurreição. Então, a borboleta de obsidiana é atributo das divindades etonianas, associadas à morte. Na glíptica asteca, ela tornou-se um substituto da mão, como um signo do número cinco, número do Centro do Mundo.

Povos antigos do Zaire central já consideravam que o homem seguia da vida à morte o ciclo da borboleta: ele é, na sua infância, uma pequena lagarta, uma grande lagarta na sua maturidade; seu túmulo é o casulo, de onde sai a sua alma, que voa sob a forma de uma borboleta; a postura de ovos dessa borboleta é a expressão de sua reencarnação. Uma crença popular da Antiguidade greco-romana dava igualmente à alma que deixa o corpo dos mortos a forma de borboleta. Essa crença é encontrada entre certas populações turcas da Ásia central que sofreram uma influência iraniana e para as quais os defuntos podem aparecer na forma de uma mariposa.88. Chevalier J, Gheerbrant A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 26ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio; 2012.

No Japão, a borboleta é um emblema da mulher, que representa graça e ligeireza. Mas duas borboletas figuram a felicidade conjugal.88. Chevalier J, Gheerbrant A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 26ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio; 2012. Dessa forma, a felicidade matrimonial é simbolizada por duas borboletas (masculino e feminino) e, muitas vezes, sua figura é utilizada nos casamentos.99. Dicionário de Símbolos: significado dos símbolos e simbologias [Internet]. [S. l.]: Sete Graus; 2008-2015. Borboleta; 2008 [acesso em 02 fev 2014]. Disponível em:http://www.dicionariodesimbolos.com.br/borboleta/
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As borboletas são entendidas como espíritos viajantes pela sua ligeireza sutil. Sua presença anuncia uma visita ou a morte de uma pessoa próxima.88. Chevalier J, Gheerbrant A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 26ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio; 2012.

Em outra visita ao Museu Nacional, procurei conhecer um pouco mais sobre o significado das borboletas. O funcionário da instituição Alexandre Soares apresentou informações sobre anatomia, fisiologia e biologia das borboletas e mariposas, depois mostrou as imagens das Death's head Hawkmoth. Esse nome refere-se a qualquer uma das três espécies de mariposas do gênero Acherontia (A.atropos, A.lachesis e A.styx). As três são bastante semelhantes em tamanho, coloração e ciclo de vida. Todas têm a capacidade de emitir um grito alto, produzido por expulsar o ar da faringe, muitas vezes acompanhado do piscar do brilhante e colorido abdômen na tentativa de deter os predadores. São comumente observadas invadindo colmeias de diferentes espécies de abelha para pegar mel. Essas mariposas são facilmente distinguíveis pelo desenho que remete à forma de crânio humano presente no dorso. A caveira e suas associações fantasiosas com o sobrenatural e o mal promoveram temores supersticiosos.

Os nomes das espécies atropos, lachesis e styx são todos derivados da mitologia grega e estão relacionados à morte. O primeiro e o segundo são membros dos três destinos. O primeiro corta os fios da vida de todos os seres e o segundo corresponde ao destino que atribui a quantidade correta de vida a um ser. O último refere-se ao rio dos mortos.1212. Bulfinch T. Myths of Greece and Rome. New York: Viking Penguin; [1981?]. Estige é o rio que separava os mortos dos vivos na mitologia grega e Caronte seria o barqueiro encarregado da travessia das almas, sendo nome do personagem do livro As Esganadas, de Soares:1313. Soares J. As esganadas. São Paulo: Companhia das Letras; 2011. p.16-17.

O homem é magro. Mais do que magro. Esquálido, seco, macilento. Serviria perfeitamente de modelo para uma caricatura da Morte, porém sua ligação com Tânatos superava o traço de qualquer desenhista. Herdara do pai a funerária Estige (...). Caronte é alto, muito alto. Vestido de negro, com cabelos longos e ralos, ele parece ainda mais emaciado. De uma palidez cadavérica, sua pele fenecida confunde-se com a dos defuntos que costuma transportar. Lavara e vestira seu primeiro cadáver aos treze anos.

Além disso, o nome Acherontia é derivado de Acheron, um rio do mito grego que se dizia ser um braço do rio Styx. Desse modo, é conhecido como Aqueronte, que pode ser traduzido como "rio do infortúnio". O Styx ou Estige estaria localizado no "mundo dos mortos", de onde Caronte leva as almas recém-chegadas ao outro lado do rio, ou seja, às portas do Hades, que é o deus do "mundo inferior, mundo dos mortos". As almas seriam guardadas por um monstruoso cão de múltiplas cabeças e pescoço chamado Cérbero, deixando-as entrarem, mas jamais saírem.1212. Bulfinch T. Myths of Greece and Rome. New York: Viking Penguin; [1981?].

As mariposas Death's head foram retratadas no filme americano O Silêncio dos Inocentes, de 1991, dirigido por Jonathan Demme. Foi baseado no romance de mesmo nome publicado em 1988 por Thomas Harris.14 No filme, Clarice Starling (Jodie Foster), agente novata do FBI, procura por um assassino em série conhecido apenas por "Buffalo Bill", que ataca mulheres jovens e depois retira suas peles. Para construir o perfil desse psicopata, recorre a um assassino preso que agia de forma semelhante, é o Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), um psiquiatra canibal. Uma pupa da A. Styx, encontrada no palato das vítimas, é uma pista vital no suspense. Vale ressaltar que a espécie retratada é A. atropos. Além disso, no cartaz do filme a mariposa que esconde a boca de Jodie Foster tem uma caveira com mulheres nuas. Essa imagem, datada de 1939, é do pintor surrealista Salvador Dalí.

Numa Barcelona moderna, o filme mexicano dramático Biutiful, de 2010, realizado por Alejandro González Iñárritu, relata a história de vida de Uxbal (Javier Bardem), que coordena negócios ilícitos como a venda de produtos falsificados por senegaleses e a negociação do trabalho de chineses, cujo custo é bem menor por não serem legalizados e viverem em condições precárias. Além disso, ele é médium e usa essa habilidade para cobrar das pessoas que desejam saber mais sobre seus entes que morreram. Após sentir fortes dores por semanas, ele resolve ir ao hospital e recebe diagnóstico de câncer de próstata com pouco tempo de vida. O filme utiliza-se da presença intermitente de mariposas negras no teto do quarto do protagonista que vão aumentando de acordo com a evolução da doença, sendo uma anunciação do seu destino inevitável, a morte.

Os últimos três anos de vida de Vincent van Gogh foi um período de acúmulo de frustrações pessoais e profissionais, ocasião em que coincidentemente incorporou borboletas brancas nas suas pinturas, como nas obras de arte Borboletas e papoulas e Grama com borboletas (Holanda, 1890). Ícones da alma liberta, essas podem ser compreendidas como uma espécie de constatação entomológica da progressiva deterioração de sua saúde física e mental, representando o seu próprio desejo de morte e de libertação da vida terrena.

Já no trabalho de campo, as borboletas apareciam como decoração nos ambientes do cuidado paliativo. O quadro (figura 1) junto das flores e borboletas, exibido na fotografia a seguir, também transmite esta ideia da borboleta como a alma humana de branco integrada à natureza, irrigando as flores e, talvez, do próprio entendimento do nascimento e da morte como processos naturais da vida. Essa parede é do hall dos elevadores do 6º andar do HC IV, de frente para o posto de enfermagem.

Figura 1
Parede do 6º andar do Hospital do Câncer IV, Instituto Nacional do Câncer, Rio de Janeiro, Brasil, 2013.

No IPO Porto, encontramos um quadro com borboletas (figura 2) pendurado na parede ao lado da entrada de um dos quartos do SCP. Segundo informações colhidas dos funcionários, o quadro provavelmente foi pintado em uma das atividades lúdicas desenvolvidas com pacientes e cuidadores.

Figura 2
Quadro de borboletas e girassol no Serviço de Cuidados Paliativos, Instituto Português de Oncologia, Porto, Portugal, 2013.

A maior parte dos pacientes acompanhados no HC IV é do sexo masculino (58%), com mediana de idade de 55 anos (21 a 99 anos) e em torno de 85% deles possuem até quatro anos de estudos, questão muito importante para identificação de pacientes e cuidadores que necessitarão de abordagem diferenciada por apresentarem barreiras de entendimento.1515. Naylor C, Reis T. INCA e os Cuidados Paliativos. In: Santos FS, editor. Cuidados paliativos: diretrizes, humanização e alívio de sintomas. São Paulo: Atheneu; 2011. Cap. 9; p.77-86. Segundo uma casuística de internamento, no período de fevereiro de 2010 a maio de 2011, disponibilizada por um dos médicos do SCP, 59% eram do sexo masculino e 41%, feminino. A média de idade foi 65,2±12,9 anos. O destino de alta caracterizado como óbito foi para 71% dos pacientes. Esses dados ressaltam que muitos dos pacientes em cuidados paliativos atendidos nessas unidades são idosos.1616. Costa MF. Alimentar, nutrir, morrer: sentidos e significados em uma "vida paliativa" [tese]. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Psicologia; 2014. 2 v.

O filme americano Borboleta Azul, de 2004, dirigido por Léa Pool, traz a história de um menino de 10 anos chamado Peter Carlton (Marc Donato), diagnosticado com câncer no cérebro e o prognóstico de pouco tempo de vida, que adora observar a vida dos insetos. Ele só pode se locomover em cadeira de rodas e o seu maior sonho é capturar a lendária borboleta morpho azul, somente encontrada nas florestas tropicais, muito semelhante a esta pintada na figura anterior. A mãe de Pete faz tudo para que ele consiga realizar seu desejo. Assim, ela convence o notório entomologista Alan Osborne (William Hurt) a fazer essa viagem à floresta com o menino. Juntos, eles vão em busca do mítico inseto. O filme começa com o seguinte questionamento do menino: Por que eu? Por que eu tenho que morrer agora? A motivação do menino em capturar a borboleta azul está na afirmação do entomologista de que é a criatura mais bela que já viu e pode-se descobrir os mistérios do mundo só de olhar para ela. Ao final, o menino captura a borboleta e decide por deixá-la voar para que um dia pudesse se unir a ela.

O Escafandro e a Borboleta é um livro escrito em 1997 pelo jornalista Jean-Dominique Bauby, adaptado para o cinema por Julian Schnabel, em 2007. O filme narra a história real de um jornalista bem-sucedido, editor da revista Elle, que, aos 43 anos de idade, sofreu um acidente vascular cerebral. Em consequência desse ataque, Jean-Do desenvolveu uma síndrome rara, denominada síndrome do encarceramento, a qual deixou seu corpo totalmente paralisado, só podia movimentar o olho esquerdo. Bauby tem de aprender a conviver nesse estado, e por meio de um método desenvolvido pela fonoaudióloga do hospital para que ele possa se comunicar com o piscar do olho, Bauby dita um livro. O título expressa como deve ter sido viver dentro de um escafandro pesado, de visão superlimitada, que o puxava para o abismo, mostrando a vida de um homem prisioneiro do próprio corpo. O autor do livro se refere ao seu olho esquerdo como o único vínculo com o exterior, sendo o único respiradouro do seu cárcere, logo, a viseira do seu escafandro. Ao mesmo tempo, Bauby passa a ter outra percepção da vida, uma vez que a família, o amor e tudo que estava perdendo serviram de incentivo para se comunicar e explorar sua memória e imaginação, como uma borboleta livre querendo voar pelo espaço e pelo tempo.

DISCUSSÃO

Após a leitura das obras da psiquiatra Elizabeth Kubler-Ross, a explicação para a presença das borboletas nos cuidados paliativos ficou mais evidente. Essa autora é um grande referencial para a área de cuidados paliativos e deixou um enorme legado profissional, que inclui a prática do cuidado humano de pacientes terminais e a importância do amor incondicional. Em seu livro A morte: um amanhecer, a autora afirma que o momento da morte é composto de três estágios e que a morte do corpo humano é um processo idêntico ao que ocorre quando uma borboleta deixa o casulo. Nessa analogia, o casulo pode ser comparado ao corpo humano, mas não é idêntico ao seu eu real, pois é apenas uma morada temporária.1717. Kübler-Ross E. A morte: um amanhecer. São Paulo: Pensamento; 1991.

Kubler-Ross1717. Kübler-Ross E. A morte: um amanhecer. São Paulo: Pensamento; 1991. expõe que, no primeiro estágio, o ser humano ainda precisa do cérebro funcionando e de uma consciência em atividade para se comunicar com seus companheiros. Assim que esse cérebro, ou esse casulo, fica danificado, o indivíduo não dispõe mais de uma consciência em atividade. Quando esse processo chega ao fim, ou seja, condição em que o casulo passa a não poder mais respirar, medir as ondas cerebrais ou tomar o pulso, é o momento em que a borboleta já deixou o casulo. A psiquiatra ressalta que isso não quer dizer que o ser humano esteja morto, mas que o casulo já deixou de funcionar. Independente da causa da morte, logo que o casulo estiver em uma condição irreparável ele liberará a borboleta: sua alma. Desse modo, ao deixar o casulo, chega-se ao segundo estágio. Nesse segundo estágio, tendo a borboleta deixado seu corpo material, o que alimenta é a energia psíquica, enquanto, no primeiro, era a energia física. Com a morte, a ligação entre o casulo e a borboleta será definitivamente rompida e não será mais possível voltar ao corpo terreno. O terceiro estágio é alcançado quando se tem a visão da sua própria vida, do primeiro ao último dia. Nesse nível, a psiquiatra alega que já não se tem posse da consciência do primeiro estágio ou da percepção do segundo.

Em outro livro da mesma autora, O túnel e a luz: reflexões essenciais sobre a vida e a morte, ela utiliza uma linguagem simples, muito comum nas conversas que tem com crianças moribundas, onde dá como exemplo o casulo e a borboleta em analogia ao corpo e a alma, respectivamente. Em maio de 1978, a psiquiatra escreveu uma carta para uma criança de nove anos, chamada Dougy. A carta foi para responder à seguinte pergunta enviada pela criança: "O que é vida e o que é morte, e por que as crianças pequenas têm de morrer?" No final desse livro, a autora publicou sua carta de resposta (livrinho), onde apresenta para Dougy a relação entre o casulo e a borboleta:1818. Kübler-Ross E. O túnel e a luz: reflexões essenciais sobre a vida e a morte. 4ª ed. Campinas: Versus Editora; 2003.

Quando fizemos todo o trabalho que fomos enviados à Terra para fazer, temos permissão para deixar o nosso corpo, que aprisiona a nossa vida como um casulo encerra a futura borboleta... e, quando chega o tempo certo, podemos deixá-lo e então seremos libertados da dor, dos medos e das preocupações - estaremos livres como uma linda borboleta, voltando para casa, para Deus, para um lugar onde nunca estamos sozinhos, onde continuamos a crescer, a cantar e dançar; onde estamos com aqueles que amamos (que deixaram os seus casulos antes de nós); e onde estamos cercados de mais Amor do que você jamais pôde imaginar!

A percepção defendida pela autora ao realizar a comparação simbólica entre o casulo e a borboleta é a de que o rompimento do casulo representa a morte do corpo, com a alma ganhando vida em liberdade na imagem da borboleta. A autobiografia de Elizabeth Kübler-Ross intitulada A Roda da Vida: memórias do viver e do morrer também apresenta uma borboleta na capa. A autora expõe relatos de passos importantes que marcaram sua trajetória de vida pessoal e profissional. Em um dos capítulos desse livro, a autora conta de sua visita a Maidanek, uma das famosas usinas da morte de Hitler. Nesse campo de concentração, ela percebeu que as pessoas tinham gravado nas paredes nomes, iniciais e desenhos. Sem saber ao certo quais ferramentas teriam usado, ela notou que era muito frequente uma figura pelos alojamentos onde homens, mulheres e crianças tinham passado suas últimas noites antes de morrerem nas câmaras de gás, eram borboletas.1919. Kübler-Ross E. A roda da vida: memórias do viver e do morrer. Rio de Janeiro: Sextante; 1998.

Somente vinte e cinco anos depois, num lampejo de compreensão, ela percebeu que aqueles prisioneiros eram como seus pacientes terminais, que sabiam o que iria acontecer com eles. Entendiam que logo virariam borboletas. Ao morrer, estariam livres daquele lugar e não seriam mais torturados, separados de suas famílias, mandados para as câmaras de gás, nada que estivesse relacionado com aquela vida teria qualquer importância. Assim, deixariam seus corpos do mesmo modo que uma borboleta deixa seu casulo. Essa passou a ser a imagem que a autora usou durante todo o resto de sua carreira profissional para explicar o processo da morte e do morrer. Kübler-Ross1919. Kübler-Ross E. A roda da vida: memórias do viver e do morrer. Rio de Janeiro: Sextante; 1998. finaliza o livro com o seguinte depoimento pessoal:

A morte em si é uma experiência positiva e maravilhosa, mas o processo de morrer, quando prolongado como o meu, é um pesadelo. Vai minando todas as nossas faculdades, em especial a paciência, a resistência e a equanimidade. Durante todo o ano de 1996, lutei com as dores constantes e as limitações impostas por minha paralisia. Dependo de cuidados alheios por vinte e quatro horas por dia. (...) Que tipo de vida é essa? Uma vida desgraçada. Em janeiro de 1997, quando este livro está sendo escrito, posso dizer sinceramente que espero ansiosa pela minha formatura. Estou muito fraca, sempre com dores e totalmente dependente dos outros. (...) No momento, estou aprendendo paciência e submissão. Por mais difíceis que sejam essas lições, sei que o Superior dos Superiores tem um plano. Sei que ele reserva para mim a hora certa em que deixarei meu corpo como uma borboleta deixa o seu casulo.

Portanto, a morte tem inúmeros significados, pois pode ser considerada o fim absoluto de qualquer coisa de positivo, sendo o aspecto perecível e destrutível da existência, indicando aquilo que desaparece na evolução irreversível das coisas. Ou pode ser entendida como liberadora das penas e preocupações, não sendo o fim em si, uma vez que ela abre o acesso ao reino do espírito, à vida verdadeira, a uma vida nova.88. Chevalier J, Gheerbrant A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 26ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio; 2012.

A partir do questionamento Por que a borboleta é o nosso símbolo de Cuidados Paliativos? A Fundação do Câncer divulgou que a borboleta é o símbolo de cuidados paliativos por viver pouco tempo. Mas, nesse pouco tempo, poliniza as plantas, embeleza a natureza e deixa as pessoas felizes. Ela é um exemplo de que a vida não se mede só em tempo, mas em intensidade. Foi uma iniciativa para conscientização do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, celebrado em outubro.

As transições da vida do ser humano, como a metamorfose da borboleta, dependendo do grau, vai normalmente ser acompanhada de emoções flutuantes de perda, tristeza e medo, bem como de expectativas, esperanças e desejos, além da necessidade de um ajuste psicológico e espiritual de uma fase para a outra.2020. De Vries H. The Chrysalis Experience: a mythology for times of transition. In: Slattery DP, Corbett L, editors. Depth Psychology: meditations in the field. California: Pacific Graduate Institute; 2000. p. 147-59. De alguma forma, as pessoas que estão em cuidados paliativos e os idosos vivenciam a proximidade da morte.

CONCLUSÃO

Enquanto a mariposa aparece de uma forma mais relacionada a maus presságios, as borboletas muitas vezes são consideradas símbolo de algo bom e belo. Seja amarela, azul, vermelha, lilás ou multicolorida, o que se sabe é que este inseto apresenta diversos significados de acordo com a crença e a cultura de cada povo. Mas a borboleta de cor branca está sempre mais associada à ideia de alma.

Assim, pode-se considerar que os cuidados paliativos, em sua filosofia teórica e prática aplicada, assistem e confortam esse processo de mudança na vida dos pacientes e familiares, até que a borboleta saia de seu casulo e conquiste sua liberdade, sendo essa uma representação simbólica da alma e do corpo, respectivamente.

Vale ressaltar que não houve intenção de estabelecer um posicionamento religioso. Porém, a presença das borboletas intrigou o suficiente para buscar informações mais aprofundadas sobre sua simbologia e a relação com os cuidados paliativos. Dessa forma, foi mantida a abordagem dos estudiosos sobre o simbolismo da borboleta, especialmente a ideia da sua metamorfose estar associada às transformações da vida humana e principalmente no processo de morte.

Os cuidados paliativos e a velhice guardam como característica semelhante, ou mesmo concomitante, a finitude. Portanto, a simbologia por trás de algo que parece banal e meramente decorativo representa uma dimensão humana fundamental e que não deve ser esquecida no tratamento oncológico e a pacientes idosos. Entretanto, quando se faz referência à possibilidade de renovação, não se quer negar a morte e muito menos a dor e o sofrimento durante a vivência de uma doença como o câncer.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    July-Sep 2015

Histórico

  • Recebido
    17 Dez 2014
  • Revisado
    04 Jun 2015
  • Aceito
    26 Jun 2015
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