Open-access Impactos da longevidade na família multigeracional

Impacts of longevity on the multigenerational family

Resumo

O presente artigo tem como objetivo conhecer os impactos da longevidade na família multigeracional e é resultado de uma pesquisa desenvolvida no Núcleo de Estudos do Envelhecimento da Universidade de Caxias do Sul, denominada “A família multigeracional em Caxias do Sul”, no período de 2004-2006. A amostra da pesquisa é composta por 27 famílias multigeracionais do município de Caxias do Sul - RS, com a participação de três pessoas de gerações diferentes de uma mesma família, perfazendo um total de 81 pessoas que compõem uma amostra intencional, orientada e conveniente. A metodologia utilizada envolve análise de conteúdo e abordagem dialética. Com os resultados da pesquisa, pretende-se contribuir para a discussão dos problemas que a família enfrenta no convívio com idosos e das dificuldades que os mesmos sofrem no ambiente familiar. Conhecer esses desafios e propor alternativas para enfrentá-los, de modo a qualificar a vida de relações das pessoas individualmente e da própria família, como instituição, são necessidades relevantes.

longevidade; família; relação entre gerações; impacto psicossocial; Caxias do Sul

Abstract

This article aims at getting to know the impact of longevity on the multigenerational family, and it is a result of the survey "The multigenerational family in Caxias do Sul", carried out in the Working Group on Aging of the University of Caxias do Sul, from 2004 to 2006. Sampling consisted of 27 multigenerational families in the municipality of Caxias do Sul, RS, Brazil, with the participation of three people from different generations of the same family, representing 81 people who make up an intentional, oriented and convenient sampling. Methodology used was content analysis and dialectical approach. Survey results intend to contribute to the discussion of the problems the family faces when living with elderly people, and the difficulties the latter have in living together with their family. To know these challenges and propose alternatives to face them in order to qualify people's relationships individually and in the family itself as an institution is a necessity regarded as relevant.

longevity; family; intergenerational relations; psychosocial impact; Caxias do Sul city

INTRODUÇÃO

O aumento da expectativa de vida da população mundial também se faz presente no Brasil, sobretudo nas últimas décadas. Desde meados do século passado, os brasileiros ganharam, em média, 25 anos de vida. Essa longevidade permite às pessoas viverem muito mais e amplia o número de famílias com idosos. Não raro uma família apresenta três ou quatro gerações que convivem entre si. Esse fato implica mudanças no conceito de família e na configuração familiar, trazendo consigo desafios. De modo especial, os referentes às relações familiares intergeracionais, aos apoios e cuidados, aos ganhos e às novas necessidades, aos papéis que envolvem todos os componentes de uma mesma família e à proposição de formas alternativas de educação para o envelhecimento.

Com o objetivo de contribuir para fazer frente a esses desafios, este estudo tem como finalidade conhecer os impactos da longevidade na família multigeracional. Dessa forma, apresenta o resultado de uma investigação realizada em 27 famílias multigeracionais do município de Caxias do Sul - RS, com a participação de três pessoas de gerações diferentes de uma mesma família, perfazendo um total de 81 pessoas que compõem uma amostra intencional,* orientada e conveniente.

Para obter-se uma amostra representativa, levando em consideração as variáveis e suas subvariáveis, são consideradas todas as combinações possíveis, de tal forma que cada combinação esteja representada na amostra.

Como representantes da geração de avós, encontraram-se: avós (sexo feminino): 24, sendo 17 maternas e 7 paternas; estado civil: 19 viúvas, 4 casadas e 1 separada; faixa etária: 4 de 70 a 74 anos, 6 de 75 a 79 anos, 8 de 80 a 84 anos e 6 de 85 a 89 anos; zona de localização: 20 urbanas e 4 rurais; situação de residência: 12 domiciliadas com família, 8 domiciliadas sozinhas, 2 domiciliadas só com cônjuge, 2 domiciliadas com pessoas não-parentes. Avôs (sexo masculino): 3, sendo 2 maternos e 1 paterno; estado civil: 2 viúvos e 1 casado; faixa etária: 2 de 75 a 79 anos e 1 de 80 a 84 anos; zona de localização: 3 urbanas; situação de residência: 1 domiciliado só com cônjuge, 1 domiciliado com família e 1 asilado.

Como representantes da geração de filhos, encontraram-se: filhas: 15; estado civil: 10 casadas, 3 separadas, 2 viúvas; faixa etária: 2 de 40 a 44 anos, 2 de 55 a 49 anos, 5 de 50 a 54 anos, 4 de 55 a 59 anos, 2 de 60 a 64 anos; zona de localização: 15 urbanas; situação de residência: 14 domiciliado com a família e 1 domiciliado só com cônjuge. Filhos: 12; estado civil: 10 casados, 1 viúvo e 1 solteiro; faixa etária: 1 de 40 a 44 anos, 2 de 45 a 49 anos, 3 de 50 a 54 anos, 3 de 55 a 59 anos, 2 de 60 a 64 anos e 1 de 65 a 70 anos; zona de residência: 8 urbanas e 4 rurais; situação de localização: 10 domiciliados só com família e 2 domiciliados só com cônjuge.

Como representantes da geração de netos, encontraram-se: netas: 13; estado civil: 5 casadas, 5 solteiras e 3 separadas; faixa etária: 6 de 20 a 24 anos, 2 de 25 a 29 anos, 3 de 30 a 34 anos e 2 de 35 a 39 anos; zona de residência: 11 urbanas e 2 rurais; situação de residência: 12 domiciliadas com a família e 1 domiciliada só com cônjuge. Netos: 14; estado civil: 9 solteiros e 5 casados; faixa etária: 8 de 20 a 24 anos, 5 de 25 a 29 anos e 1 de 30 a 34 anos; zona de residência: 13 urbana e 1 rural; situação de residência: 12 domiciliados com família e 2 domiciliados só com cônjuge.

A metodologia de análise de conteúdo sustenta este estudo, porque permite ler e interpretar o conteúdo de documentos que, analisados adequadamente, possibilitam o entendimento de aspectos da vida e das relações sociais em família. Segundo Moraes15 (2001b, p. 2), essa metodologia permite “descrever e interpretar alguns dos sentidos que a leitura de um conjunto de textos suscita.”

A abordagem dialética é a matriz metodológica utilizada para atender à proposta de analisar o diálogo entre gerações do mesmo grupo familiar, suas contradições e convergências no contexto contemporâneo. Os conceitos, as compreensões e os fatos acerca do envelhecimento, da família, das gerações e dos vínculos familiares orientam a discussão e o debate das questões que norteiam o estudo, o que oportuniza o destaque e a identificação de perdas e ganhos nas relações familiares.

Transição demográfica e mudanças na família

As últimas décadas têm sido marcadas por mudanças significativas provocadas pelos avanços científicos, por tecnologias inovadoras, pela transição demográfica e por novas formas de organização e funções sociais.

As características de uma dessas mudanças – a transição demográfica – trazem uma nova configuração etária e a longevidade como um fato novo na história da humanidade, fazendo com que as questões relativas ao envelhecimento ganhem interesse, desencadeiem estudos e pesquisas e mereçam destaque no cenário mundial atual.

Sabe-se que o envelhecimento humano é acentuadamente marcado por mudanças, e as ciências fazem uma leitura dos mecanismos e das mutações que o homem sofre com o passar do tempo. Segundo teorias biológicas, o envelhecimento tem origem e explicação na própria estrutura físico-funcional do corpo físico. A Psicologia se preocupa em explicar as mudanças do comportamento do indivíduo que envelhece. As teorias sociológicas têm sustentação no contexto em que vive ou viveu o idoso. Enfocam o comportamento social e se preocupam em explicar a relação que existe entre o entorno sociocultural e o comportamento do velho.

Não se tem uma explicação suficientemente abrangente para a compreensão do envelhecimento humano em toda sua dimensionalidade, embora sejam várias as teorias que se propõem a explicá-lo. Cada uma delas explica parte do fenômeno, mas não consegue elucidá-lo completamente. Cada teoria está estruturada em um conjunto próprio de conceitos e fatos, conforme a ciência a que se vincula. As principais teorias estão vinculadas às ciências da Biologia, da Psicologia e da Sociologia. Segundo Jeckel-Neto e Cunha9 (2002, p. 14), “a ausência de consenso sobre conceitos básicos para definir o processo de envelhecimento impede a formulação de uma teoria fundamental que explique, elucide, interprete e unifique o domínio dos fenômenos envolvidos no envelhecimento”.

No século XXI, as pessoas com 60 anos ou mais* vão representar mais de 20% da população mundial. No Brasil, o percentual de pessoas idosas tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas. Segundo dados do IBGE8 (2000), são 14,5 milhões os idosos brasileiros, correspondendo a 8,56% da população total. Destes, 62,4% são responsáveis pelos domicílios, representando um contingente de quase nove milhões de domicílios brasileiros. No Rio Grande do Sul, a população idosa é representada por 6,32% da população total, correspondente a 4,43% em relação ao total de idosos do País. Na Região Nordeste do estado, 7,83% são idosos, representando 11,22% em relação à população idosa do RS. Em Caxias do Sul, o número total de habitantes é de 360.419, sendo que 30.178 são idosos, correspondendo a 8,37% da população total do município, 41,74% dos idosos da Região Nordeste, 4,68% dos idosos do estado e 0,21% do total de idosos do País.

Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS19) como uma das grandes conquistas do século passado, a longevidade se constitui também num grande desafio para o século XXI, por provocar significativas transformações de ordem demográfica, biológica e de saúde, socioeconômica, cultural, relacional e comportamental, mobilizando a sociedade como um todo.

Em documento da Organização Pan-Americana da Saúde (2005, p. 13), a saúde deve ser vista desde uma ampla perspectiva e viabilizada por políticas que promovam um envelhecimento saudável e ativo. O conceito de ativo refere-se ao “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas. [...] Diz respeito à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis”. Qualidade de vida é um conceito amplo que abrange saúde física, psicológica, nível de dependência, relações sociais, crenças e suas relações com o meio ambiente.

Portanto, a busca pelo envelhecimento saudável e ativo requer um trabalho integrado para que os idosos vivam com mais dignidade e sejam um recurso cada vez mais valioso para suas famílias, comunidades e para o País.

Os próprios dados do último censo demonstram que a população idosa não deve ser considerada um peso para a família e para a sociedade. Os idosos participam na vida familiar, tanto no que se refere à contribuição para a renda quanto em atividades que incluem cuidados aos demais membros do núcleo em questão.

A família é uma das instituições sociais mais antigas e assume uma diversidade de formas ao longo do tempo, e em sociedades distintas. Etimologicamente, o termo família deriva do latim famulus, que significa o conjunto de servos e dependentes de um chefe ou senhor (Rocha-Coutinho21, 2006, p. 91). Família pode ser compreendida como um grupo social, formado por pessoas que vivem juntas por um determinado tempo e que possuem laços determinados por parentesco, matrimônio ou relações afetivas.

Historicamente, constata-se que se atribui a origem da família ao momento em que o homem fixou residência, e que os laços estabelecidos entre os pares se tornaram definidos. A divisão do trabalho na família estava baseada na divisão sexual, sendo essa a “base para a distribuição da propriedade entre o homem e a mulher” (Engels7, 1980, p. 182). A esfera desse ambiente dava à mulher atribuições de poder e lhe permitia identificar o grupo, estabelecer regras e definir papéis. Com o desenvolvimento da sociedade e com a “divisão do trabalho fora da família”, a mulher doméstica perde a supremacia do domínio familiar, o que provoca alterações que afetam principalmente as relações sociais e as relações de produção.

A família tornou-se uma unidade econômica e, com essa configuração, assumiu uma série de funções sociais que lhe deram esse status. Diante dos papéis que incorporou como grupo econômico, tornou-se responsável pela reprodução de seus membros, pelo suprimento de suas necessidades, pela garantia de suas condições de vida, pela sua formação e por seus princípios religiosos.

A família nuclear é constituída pelos cônjuges e por sua respectiva prole e, em muitas situações, por outras pessoas que possuem vínculos de parentesco próximo (Beltrão3, 1973, p. 18). A família nuclear é considerada na sociedade atual o tipo mais universal de família e nasce em substituição à família extensa, que possui características distintas. Segundo esse autor (p. 19), a família extensa é “composta de duas ou mais famílias nucleares, formando uma agremiação familiar única, em virtude da extensão, não já da relação conjugal entre marido e mulher, como do tipo poligâmico, mas da relação parental entre pais e filhos, isto é, abrange a família nuclear do adulto casado e de seus pais.” A família extensa pode se apresentar, segundo o mesmo autor, sob a forma de família patriarcal, desde que possua como chefe de família a figura do pai e nesse núcleo coexistam três gerações de famílias nucleares que habitam próximas ou sob o mesmo teto.

Para Morais17 (1986), na família tradicional, numerosa, onde todos viviam juntos, a educação era cuidada de perto por pais e mães, quase sempre presentes. Nela, os velhos eram responsabilidade da família e considerados um privilégio. Fatores de impacto destruíram esse modelo. Talvez hoje a família esteja à procura de uma reestruturação e em busca de uma reidentificação.

As mudanças sociais se evidenciam na estruturação da família moderna, com um espaço maior para a igualdade e valorização de seus membros. Ela se transforma, se adapta e se reorganiza por conta da redução do número de filhos, das diversas formas de relacionamentos e casamentos, dos recasamentos, do surgimento de novas funções institucionais e pessoais, das mudanças nas relações de gênero e na esfera da sexualidade, da participação da mulher no mercado de trabalho. Os efeitos das mudanças na constituição e na dimensão da família atual causam alterações na estrutura etária das gerações.* Vários são os motivos: a idade em que as pessoas casam, a instabilidade e fragilidade das uniões, a diminuição dos índices de fecundidade da mulher brasileira em geral e a significativa diferença desses índices entre mulheres maduras e jovens, entre mulheres de situações econômicas e de nível socioeducacional distintos, entre mulheres que optaram ou não pela carreira profissional. Como resultado disso, há um aumento no índice de fecundidade em jovens adolescentes pobres, motivado pela falta de informação sobre métodos contraceptivos e cuidados preventivos e uma diminuição em mulheres de idade madura de classes mais privilegiadas. Nessas últimas, o advento de filhos é menor e comumente postergado, devido à opção pelo exercício profissional e busca de estabilidade financeira; constituem-se famílias-mosaico devido às separações de casais, dissolução de casamentos e formação de novas famílias. Contrariamente à família convencional, na qual homem e mulher casam sem ter sido casados anteriormente e têm filhos comuns, as famílias-mosaico aparecem quando pai e mãe separados constroem novas relações e têm outros filhos, surgindo a figura do meio-irmão. Enquanto na família convencional as relações de parentesco se definem pelos laços sangüíneos, na família-mosaico, para ser parente basta a proximidade, e as relações familiares se modificam substancialmente.

Ao mesmo tempo em que diminui o número de crianças, aumentam a longevidade, o número de idosos e, dentre eles, o de centenários. As mudanças na família se dão também pelo fato de elas mesmas estarem envelhecendo. Atualmente, um quarto das famílias brasileiras possui um ou mais idosos (IBGE8, 2000).

A longevidade traz a possibilidade de um maior tempo de convivência familiar e intergeracional, não raro de quatro gerações, superposição e transferência de papéis antes exclusivos da família e agora delegados a outras instituições. Isso tudo tem implicações diretas na vida dos indivíduos.

Camarano5(2004) enfatiza que a família é a mais direta fonte de apoio informal aos idosos, o que se verifica em situações de co-residência ou não. Os membros de uma família “se ajudam na busca do alcance do bem-estar coletivo, constituindo um espaço de conflito cooperativo, onde se cruzam as diferenças por gênero e intergeracionais” (p. 137).

As conseqüências da transição demográfica, da maior longevidade, do aumento do número de idosos e das mudanças na estrutura e nas funções da família se refletem nas diversas esferas sociais e nas relações humanas.

Todas essas transformações desencadeiam a necessidade de conhecer em maior profundidade o impacto do fato social longevidade nas relações da família multigeracional contemporânea, com vistas a detectar os aspectos bons e ruins relativos à convivência intergeracional, suas facilidades, dificuldades e necessidades, identificar as relações estabelecidas no âmbito familiar e propor formas alternativas de uma co-educação para a velhice.

As relações familiares intergeracionais

Para Rocha-Coutinho21 (2006), a família é o espaço de convivência e de trocas afetivas, onde são estruturados e reproduzidos valores, hábitos, costumes e padrões de comportamento. Constitui um grupo de pessoas com características distintas, que se relacionam cotidianamente, gerando uma complexa e dinâmica trama de emoções. Por isso, a família deve ser entendida em sua complexidade e discrepância de interesses, necessidades e sentimentos e apreendida em suas funções e contradições internas.

Nesse sentido, é no grupo familiar que as relações se estabelecem primordialmente, permitindo que o homem se construa, se desenvolva e se realize como um ser social. Todo ser humano tem necessidades afetivas. Quando as relações possibilitam uma proximidade mais íntima, uma maior afinidade, nascem os afetos e se estabelecem vínculos. O vínculo é a representação da relação que permanece, visto que o que vale na vida é criar vínculos, laços, ser acolhido e acolher.

Segundo Pichon-Rivière20 (2000), vínculo se refere às relações interpessoais e diz respeito à maneira particular pela qual cada indivíduo se relaciona com o outro ou com os outros, criando uma estrutura particular a cada caso e a cada momento. Destaca que o vínculo é concreto e configura uma estrutura dinâmica em contínuo movimento, que funciona acionada por motivações psicológicas, resultando daí uma determinada conduta, que tende a se repetir, tanto na relação interna quanto na relação externa com o outro. Os vínculos internos e externos se integram num processo que configura uma permanente espiral dialética, produzindo-se uma passagem constante daquilo que está dentro, para fora, e do que está fora, para dentro. O vínculo é estabelecido pela totalidade da pessoa, totalidade interpretada como uma Gestalt em constante processo de evolução e inclui a conduta, visto que o pensar sempre implica uma relação com outros ou outro. Sempre se pensa a favor ou contra alguém. Tudo o que se realiza na mente, todo o pensamento está em relação com o outro.

Para esse autor, o campo psicológico é o campo das interações entre o indivíduo e o meio, e o vínculo é sempre social, mesmo sendo com uma só pessoa. Através da relação com essa pessoa, repete-se uma história de vínculos determinados com um tempo e em espaços determinados. Por essa razão, o vínculo se relaciona com a noção de papel, de status e de comunicação. Salienta que nunca existe um só tipo de vínculo, mas que as relações que o sujeito estabelece com o mundo são mistas, na medida em que sempre emprega simultaneamente estruturas vinculares diversas.

“O processo de vinculação é antes de mais nada um encontro, o mais profundo dos encontros que pode ou não acontecer entre duas pessoas.” (Berthoud4, 1998, p. 146). Estabelecer vínculos é o próprio movimento da vida afetiva, é a essência da vida humana na dimensão em que o ser humano, social por natureza, se relaciona e se vincula a outras pessoas. Amar e sentir-se amado, ter apego por alguém especial que lhe seja receptivo e acolhedor, é uma capacidade e uma necessidade básica do ser humano, condição de saúde psíquica.

O significado das relações humanas repousa nos vínculos afetivos que se estabelecem entre as pessoas em diferentes circunstâncias e épocas da vida. É preciso estar sempre em relação com o outro, desenvolvendo nessas relações novos laços e desempenhando diferentes papéis. Por isso, a capacidade de desenvolver vínculos está intimamente relacionada com a experiência vivida ao longo da vida.

As relações familiares, considerando-se as famílias que possuem avós, filhos e netos, normalmente se configuram como intrincadas redes relacionais, nas quais são estabelecidos vínculos afetivos e de apego ou onde as relações se mostram conflituosas. A vivência em família é uma experiência rica em oportunidades para a construção de diferentes relacionamentos pessoais, e a dinâmica familiar traduz não só o sistema relacional do grupo como um todo, mas particulariza a experiência grupal, na experiência de cada um, no sentido em que as vivências falam ao mesmo tempo das necessidades, dificuldades, capacidades e incapacidades relacionais de todos e de cada um.

As relações interpessoais em um grupo social, entre eles a família, são regidas por um permanente interjogo de papéis assumidos e delegados. É isso que cria a coerência entre o grupo e os vínculos que se estabelecem dentro dele.

Vieira22 diz que “os vínculos criados pelo indivíduo carregam em si uma forte relação com o que ele tem de mais íntimo e o que mais quer preservar: a sua autonomia e o senso de controle sobre sua vida e suas escolhas. Essa autonomia não se refere exclusivamente à capacidade ou habilidade de a pessoa determinar a própria vida, mas a um direito de exercê-la da melhor forma possível, assumindo, inclusive, os riscos decorrentes dessas escolhas“(2003, p. 45).

A busca por vínculos confiáveis caminha na direção de um diálogo no campo do possível, do desejável, do praticável e do real. A multiplicidade do ser humano e a ampliação e diversificação de suas necessidades parecem sinalizar essa tendência. A confiança existe entre pessoas que se conhecem bem, mediante um relacionamento considerado estável. “A liberdade do indivíduo se dá a partir da construção de relações com o outro e com o meio em que vive. Talvez por isso, o diálogo constante com os sujeitos e suas mais diversas demandas seja frutífero na construção de tentativas de se criarem alternativas e estratégias de vida que promovam um sentimento de segurança, conforto e bem-estar, sem conflitar com as incursões necessárias de todos os membros da família, inclusive do próprio idoso.” (Vieira22, 2003, p. 57).

Como são as relações estabelecidas entre avós, filhos e netos, membros de uma mesma família multigeracional? As formas de comportamento são distintas de uma geração para outra, e isso tem implicação direta com a qualidade das relações em família, locus onde normalmente convivem mais de uma geração. Vários são os conceitos e significados atribuídos à palavra geração.

Num sentido clássico, a definição de geração relaciona-se a um determinado ciclo de vida, correspondente a grupos etários diferentes, e a uma posição num sistema de parentesco na estrutura familiar.

Segundo Kühner12 (2001), historicamente, a sucessão de gerações vem marcada quase sempre por um conflito entre seus membros. Em todas surge a figura de um pai, em nome do qual a ordem social é estabelecida; a ele cabe julgar, impor, ser o guardião das leis que ele estabelece. As relações assim estabelecidas são “relações de poder ou de dominação”, sempre conflituosas. O idoso é o símbolo e senhor, o artesão da ordem. A primazia dada a ele visa a legitimar uma sociedade patriarcal, autoritária, hierarquizada e centralizadora, não só pelas leis criadas, como por toda a ideologia vigente. A relação entre geração jovem x geração idosa se baseia numa divisão que hierarquiza e opõe.

Moragas13 (2004, p. 8) destaca que “a palavra geração refere-se ao tempo histórico que agrega pessoas em função de sua idade. A vivência dos mesmos acontecimentos origina atitudes, sentimentos e condutas semelhantes, que permitem identificar a seus membros como sujeitos da mesma geração.”

Barros2 (2006), ao referir Mannheim, diz que pertencer a uma mesma geração significa vários indivíduos estarem em uma posição específica para viverem determinados acontecimentos, ou seja, estarem vivendo uma situação comum num tempo histórico e social, que os predispõe a um certo modo de experiência e pensamento. As gerações incorporam valores e normas sociais, adquirindo uma forma própria de comportamento. Cada geração tem um modo específico de viver. É neste sentido – o de ter um estilo de vida próprio – que as diferentes idades são entendidas.

Conforme afirma Debert6 (1998, p. 60), “a idéia de geração, implica um conjunto de mudanças que impõem singularidade de costumes e comportamentos a determinadas gerações. Nesse caso, a geração não se refere às pessoas que compartilham a idade, mas às que vivenciaram determinados eventos que definem trajetórias passadas e futuras”.

Para Magalhães13 (2000), as gerações são mais que coortes demográficos. Envolvem as relações sociais, entre elas as familiares, implicam estilos de vida, valores morais e culturais.

Neste trabalho, utiliza-se o sentido clássico de geração: as faixas etárias (70 anos e mais, de 40 a 69 anos e de 20 a 39 anos) e a posição ocupada na estrutura familiar (avô, pai e neto), para, então, verificar quais as relações estabelecidas, a qualidade das relações e o que elas evidenciam de bom e de ruim.

Em todas as épocas se atribuem ao idoso experiência e sabedoria, valorizando-o por um trazer e transmitir relacionados ao saber ou conhecimento associado à experiência. Porém, o valor da experiência, como fonte de saber e conhecimento/sabedoria, decai no início dos tempos modernos, quando o homem, com sua ciência e técnica, se volta para o exterior, para o domínio e controle da natureza. Diante disso, outra é a relação com o mundo, com os outros, consigo mesmo, uma relação mecanicista: conhecer e organizar, para controlar e dominar. O homem busca aumentar a consciência de si e seu poder de reflexão e ação. Isso permite ver que, da unidade comunitária à divisão, da divisão ao conflito, do conflito ao convívio que hoje se esboça, há todo um processo histórico, que é cultural, atribuição de papéis e valores aos jovens e ao idoso – ou seja, “uma construção social”.

Hoje a longevidade exibe uma sociedade que envelhece por conta do progresso científico e tecnológico relacionado à saúde, das políticas de saúde, da atenção dada ao corpo e à mente. E esse quadro torna urgente uma nova postura.

Segundo Kühner12, a convivência com a alteridade, com a diferença (seja ela de idade, gênero, de classe, de etnias ou de culturas) é ainda difícil numa sociedade que, para manter o poder e o controle, normatiza e normaliza, classifica, rotula, regulamenta, define, divide, hierarquiza e exclui. [...] Na ordem social, depois de um século XIX marcado pela luta de classes e um século XX sacudido pela liberação das mulheres, caminhamos, no século XXI, para um confronto entre as gerações, uma luta de idades“ (2001, p. 15). “Reduzir um jovem ou um idoso apenas à sua idade ou geração é igualmente deixar de nele descobrir sua humanidade". (2001, p. 21).

Sempre é tempo de aprender. Conviver com outras gerações é também uma forma de educação, é co-educação, que supõe convívio de gerações em movimento, legados que se renovam numa alternância em que os sujeitos se refazem e se reconstituem mutuamente. Idosos, jovens e adultos interagem na vida em comum e se modificam reciprocamente. É uma possibilidade que se inaugura a partir da coexistência de gerações, numa dada situação social. Porém, só coexistir não garante um convívio estreito, respeitador das diferenças entre as gerações, porque a coexistência pode ajudar a elucidar ou a ratificar tanto uma possível consciência de união quanto de oposição entre as gerações. A co-educação, para se realizar, necessita da anuência de sujeitos diferentes na busca de relações igualitárias. Para Oliveira18 (1996, p. 9): “nenhum humano se humaniza sozinho. Sempre precisa de outro, aquele que testemunha seu inacabamento. Por isso, humanizar o humano é tarefa que tem um norte, mas que não tem fim”. E ainda: “Co-educação supõe gerações em movimento. Este fazer-se sugere que cada geração, além de ser vista como depositária de uma época e, portanto, banhada por um tempo datado historicamente, pode igualmente ser percebida como modeladora das marcas de sua passagem, no tempo e no espaço” (p. 5).

A educação ocupa cada vez mais espaço na vida das pessoas, pela necessidade evolutiva de aquisição de novas competências e capacidade de adaptação. O humano, para ser humano, precisa aprender ao longo de toda a sua vida, e uns saberes penetram e enriquecem os outros, levando as pessoas a um conhecimento dinâmico do mundo, dos outros e de si mesmas. Esse continuum educativo, coextensivo à vida e ampliado às dimensões da sociedade, é condição para um domínio mais perfeito dos ritmos e dos tempos da pessoa humana. A educação ao longo de toda a vida valoriza a complementaridade dos espaços e tempos dos indivíduos.

As relações entre as pessoas se constituem também em elementos educativos. De um modo especial, as relações intergeracionais oportunizam trocas benéficas. Para o jovem, porque o idoso lhe transmite a experiência e a perspectiva histórica de que carece e que vai ser uma ancoragem à sua futura necessidade de pertencer a uma comunidade. Para o idoso, porque, além de lhe permitir contribuir para o futuro em que o jovem viverá e do qual os mais velhos têm uma perspectiva reduzida, lhe dá a possibilidade de continuar aprendendo com os jovens e sentir-se integrado e valorizado no meio em que vive.

Análise

O estudo tomou como sustentação metodológica a análise de conteúdo, uma vez que visa à compreensão das relações familiares multigeracionais e à proposição de elementos teóricos e práticos a partir do processo de explicitação da relação entre as diferentes categorias. Segundo essa metodologia, a interpretação dos dados coletados em uma pesquisa qualitativa envolve a leitura compreensiva, a descrição sistemática e a interpretação do material originado das entrevistas.

O movimento inicial do processo de análise, desencadeado pela leitura do corpus da pesquisa, constitui a unitarização, exercício desconstrutivo em que as informações são agrupadas pelo estabelecimento de relações entre elas, constituindo-se a categorização. Categorização, segundo Moraes16 (2001a), é um processo classificatório de redução dos dados coletados através de entrevistas. Dessa operação de classificação resultam categorias, representando a síntese dos aspectos mais significativos do conteúdo investigado, em função dos objetivos e do problema da pesquisa.

A descrição de cada uma das categorias expressa o conjunto de significados percebidos e intuídos das entrevistas analisadas.

A interpretação, compreensão mais aprofundada do conteúdo das descrições, tem suas bases nos dados e nas categorias de análise. Para a interpretação dos dados, fez-se uso da abordagem dialética. Essa abordagem permite refletir a realidade mediante a contraposição de idéias e compreender essa realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação. A dialética reflete tanto as contradições entre as partes quanto a união entre elas. Reconhece na contradição o princípio básico do movimento dialético e tem como categorias reflexivas a mudança e a permanência. (Konder11, 1985).

Usando essa metodologia – análise de conteúdo e abordagem dialética –, as falas que constituíram o corpus para a discussão das relações entre as famílias multigeracionais neste trabalho se originam de respostas dadas por três gerações de uma mesma família a duas perguntas abertas: O que você identifica como ganhos na sua família em relação à convivência entre avós, filhos e netos? e O que você identifica como perdas na sua família em relação à convivência entre avós, filhos e netos?. As perguntas foram realizadas por meio de entrevista oral, gravadas e transcritas posteriormente.

As manifestações resultantes das perguntas feitas aos avós, filhos e netos das famílias investigadas demonstraram os distintos aspectos da convivência entre as diferentes gerações de uma mesma família. As respostas vieram de forma espontânea, expressas às vezes de modo amplo, às vezes conciso. A leitura interpretativa das respostas que constituíram os ganhos permitiu a compreensão das idéias, sua unitarização, e possibilitou a construção de categorias, que representam a síntese das falas em seus principais aspectos, relacionadas no quadro 2. Para mostrar a fidedignidade, esse quadro registra as palavras-chave utilizadas pelas pessoas que responderam à questão.

Quadro 2
– Categorização dos dados coletados

Importante chamar a atenção que, pela junção das respostas dadas, as categorias construídas são as mesmas para as três gerações e são aqui apresentadas e analisadas. A leitura interpretativa das perdas possibilita o contraponto da análise, num movimento dialético, buscando explicações coerentes, lógicas e racionais. O diálogo entre as gerações permite relacionar convergências e contradições, ganhos e perdas proporcionados pelas relações em família.

Os agrupamentos de unidades de significado e de sentido constituíram as seis categorias: manifestação de afeto, apoio, convivência, troca, valor e compreensão.

Manifestação de afeto é a categoria que aparece em todas as gerações, tendo mais destaque nas falas dos avós. Os afetos são sentimentos e emoções positivas expressas por atitudes e comportamentos e, aqui, manifestam respeito, amor, carinho, bem-querer, amizade, preocupação, dedicação, calor humano, simpatia, interesse e bom relacionamento entre os membros familiares. Isso revela que as relações são alimentadas por emoções favoráveis que levam ao estabelecimento e à manutenção de vínculos.

“Acho que os anos que os avós vivem juntos, os exemplos de amor e os sacrifícios feitos para manter a unidade da família reforçam os laços afetivos.” (S. D., avô, 80 anos).

“O que existe de bom é o amor que um tem pelo outro”. (C. D., filho, 43 anos).

Apoio, a segunda categoria traduz os recursos de ajuda mútua e auxílio que são encontrados nessas famílias: ajuda, cuidado, apoio, amparo e proteção. Percebe-se que essa categoria aparece com destaque nas gerações dos filhos e netos. O apoio tem a mesma equivalência entre si, porém de menos significado do que para os avós, pela situação de maior fragilidade em que se encontram, devido à idade e às conseqüências que ela impõe.

“Nossa convivência é maravilhosa, onde as três gerações com as suas próprias estruturas conseguem se apoiar, cada um desempenhando o seu papel, desde o cultivo da horta até a modernidade do computador. Esse complemento é fantástico para sobreviver com tanta mudança e de forma veloz.” (R.B., filho, 54 anos).

“Ela me ajuda a cuidar das crianças também né! Às vezes a gente sai e é sempre ela que fica com eles. Tudo que precisa, se eu ficar doente é ela que vem e eu corro por ela e ela corre por mim.” (V.L.R.C., filha, 40 anos).

Convivência é a categoria que aparece a seguir. Diz respeito ao contato e convívio familiar freqüente e manifesta união, proximidade, companhia, relacionamentos, presença, diálogo, intimidade, acolhimento, contato, paciência. De todos os aspectos revelados, o mais importante para os avós, no contexto das relações familiares, é a convivência. As narrativas apontam para as questões derivadas da convivência.

“É uma satisfação morar perto deles [...], e eu tenho um neto muito agarrado comigo e eu com ele, por causa dele então... Eu acho difícil me tirar de perto dele, eu acho difícil, eu tenho medo até dele andar sozinho na rua.” (C.G., avó, 83 anos).

“Dou graças a Deus porque todos os meus filhos moram aqui no bairro. Esta mora comigo, o filho homem mora na frente, a Nara mora ali e a Terezinha lá e a Eva mais embaixo, então dou graças a Deus. Agradeço a Deus, porque procurei sempre estarem unidos, inclusive quando meu marido faleceu, acharam horrível ficar com cinco filhos, e de fato não foi brincadeira... Mas eu quero sempre ficar sabendo o que eles estão fazendo, o que é que deixam de fazer, se eles me pedem conselho, aonde eu posso eu dou conselho, né, e vamos indo.” ( M. I., avó, 72 anos).

“A convivência com os netos, eu adoro os meus netos. Estou sempre xingando aqui e ali, mas eu adoro eles. Gostaria que fossem por um caminho meio certo, porque é difícil, nem a gente não vai. Mas eu procuro fazer o melhor que eu posso.” (M. I., avó, 72 anos).

A importância da convivência para os avós reside no fato de não se sentirem sós, de estarem com alguém, de viverem aspectos da vida em comum, de usufruírem da intimidade familiar, de terem quem os acolhe, quem lhes quer bem, quem proporciona apoio e permite trocas, quem os valoriza e compreende.

A outra categoria se refere à troca. Para os filhos e netos, ela tem um menor significado que representa troca de experiências e de informações, testemunho, diálogo, interação, partilha de situações e problemas, possibilidade de aprender e de ensinar.

Compartilhar experiências, aprendizagens, dividir sonhos e esperanças. Acredito que os netos renovam a vontade de viver dos idosos e avós, por sua vez, são fonte de conforto, apoio e admiração. (P.E.M., neta, 26 anos).

Conhecimento maior, digo, trocas de conhecimentos, hoje com a tecnologia e ontem com os antigos aprendizado. (S.B., neto, 25 anos).

União na família, convívio, avó ganha juventude conosco e nós, netos, ganhamos comidas maravilhosas, experiências transmitidas. (P.B.A., neta, 31 anos).

É o ensinamento que eles nos transmitem das experiências que já tiveram durante a sua vida e que para nós pode ser importante para enfrentarmos situações que virão para nós. (M. X.D., neto, 26 anos).

Embora a categoria se apresente nas três gerações, há maior reconhecimento de ganhos pelas trocas por parte da geração jovem, dos netos. Isso se dá pelos exemplos, pelas lições de vida, pelas narrações de experiências, pelas histórias contadas, pelo valor do trabalho realizado, pela preservação de aspectos culturais que marcam a vida das famílias e norteiam sua ética.

Na seqüência está a categoria valor. Ela aparece com maior relevância entre netos e filhos, sendo menos manifestadas pelos avós. A categoria valor expressa a importância que uma geração atribui à outra, revelada pelo reconhecimento do indivíduo como ser humano e pela posição que ocupa na hierarquia familiar, o que intensifica o sentimento de pertença de cada um na família. Reconhece o mérito das relações, situações e condições que para ela são desejáveis.

Observo como ponto positivo a perseverança, os antepassados lutaram e trabalharam muito para nós estarmos aqui onde estamos hoje. As lições de vida dos nossos ascendentes nos dão vários exemplos de dignidade e de como nos portarmos para sermos pessoas de sucesso. (L.S, neto, 20 anos).

Elas não querem, mas eu faço questão de reunir todo mundo e fazer um almoço, elas não permitem, mas já no dia das Mães eu reuni todo mundo aqui em casa [...]. E é isto, eu acho que manter a família é manter a paz. É importante ter a paz, a compreensão, o carinho, o amor, com a graça de Deus. (A. C., avó, 87 anos).

O estudo ainda identifica a categoria compreensão, de menor expressividade para as diferentes gerações. Compreender traduz o ato de entender o outro, de respeitar suas possibilidades, habilidades, dificuldades e limitações, de perceber o significado de seu papel e de seu lugar no espaço familiar. Colocar-se no lugar do outro, sentir empaticamente o que há nele de importante.

O que tem de bom é a convivência, compreensão, diálogo, amizade, paciência. (M.B., neta, 32 anos).

[...] É importante ter a paz, a compreensão, o carinho, o amor, com a graça de Deus. (A. C,.avó, 87 anos).

Compreensão entre todos, acompanhamento das diferentes etapas da vida de todos e vivência dos momentos de alegria, de tristeza e dos problemas, favorecendo a unidade. (T. B., filha, 56 anos).

As convergências de opiniões que ofereceram elementos para a proposição das categorias são as revelações dos aspectos que qualificam a convivência familiar, constituindo-se em ganhos para cada um e para todos os membros da família. Os ganhos são sempre elementos de satisfação, positivos no sentido de algo mais ou melhor. Nesse caso, traduzem-se como diferentes formas de valorização e acolhimento dos sujeitos, naquilo que cada um tem de melhor, que cada um tem para dar ou receber. As relações favorecem as trocas, que se dão em diferentes graus de intensidade, de acordo com experiências, interesses e necessidades de cada pessoa envolvida nesse processo.

Isso faz com que seja possível observar que são muito importantes para os avós a convivência, o apoio e o afeto, porque a geração mais velha atribui grande valor à família como o lugar privilegiado dessas buscas e nela, primordialmente, as encontram. É a família a fonte mais direta de suporte, ajuda e apoio ao idoso e, além disso, características próprias da velhice induzem ao maior recolhimento e ao estreitamento desse grupo de relações.

A geração do meio – a dos filhos – é o contraponto entre as três gerações familiares. Ela parece representar a busca do jogo do equilíbrio entre as necessidades e os anseios familiares. Essa percepção advém da constatação de que a maior representação de significado de uma categoria nunca está na geração dos filhos, contemporizando o papel que a geração do meio ocupa na manutenção das relações familiares.

Observa-se também que o afeto e a troca são as duas categorias de maior significado para os netos. A geração jovem revela muito afeto aos pais e avós, manifestado principalmente pelo respeito e carinho, e nisso encontra reciprocidade. Reconhece a importância da troca pela experiência e pelas oportunidades que ela oferece. A percepção positiva da presença dos avós em família se dá pelos vínculos estabelecidos através dos sentimentos, geralmente sem cobranças ou exigências. Os netos quase sempre encontram nos avós grandes aliados.

A maior aproximação entre avós e netos encontra-se nas manifestações de afeto; entre filhos e netos, na categoria valor; entre avós e filhos, na categoria troca. Constata-se igualdade de posições entre filhos e netos na categoria apoio, e entre avós e filhos na categoria compreensão.

No contraponto dos ganhos nas relações familiares estão as situações diversas ou opostas acerca da realidade investigada. Da análise dos dados da segunda pergunta emergem as contradições que mostram as perdas dessas relações.

As opiniões expressas nas respostas à pergunta O que você identifica como perdas na sua família em relação à convivência entre avós, filhos e netos? são as revelações dos aspectos que desqualificam a convivência familiar multigeracional, constituindo-se em problemas, preocupações, perdas e conflitos para os membros da família. Os problemas e as preocupações são controvérsias, dificuldades, transtornos, inquietações, perturbações presentes que afetam a qualidade e o equilíbrio das relações. As perdas são sempre elementos de privação, de não ter algo ou alguém, de ausência ou falta, de deixar de ganhar ou usufruir, de dano – negativos no sentido de menos ou pior. Conflitos são divergências e oposição que geram enfrentamentos e desavenças.

Um dos pontos negativos na convivência entre avós, filhos e netos é o conflito de idéias, pois cada geração apresenta uma visão diferente para cada situação e com isso algumas vezes pode gerar desgastes no relacionamento diário. (M.B., neto, 26 anos).

As relações também provocam problemas, preocupações, perdas e conflitos que, nesse caso, se traduzem como diferentes formas de desvalorização e rejeição de idéias e dos próprios sujeitos, expressos por sentimentos negativos, discussões, por necessidades geradas pela presença de doenças.

“É difícil, ainda mais... Eu sempre digo, com os filhos ainda dava, mas com os netos não dá pra contar nada, porque se a gente fala, eles não entendem nada, a vó é assim, a vó é assado.” (A. T. S., avó, 85 anos).

“O conflito de mudanças, culturais, sociais, morais, que existem na sociedade e que nem sempre são entendidas.” (R.S., filho, 46 anos).

Uma mesma situação pode mostrar-se boa ou não para cada elemento do grupo intergeracional, dependendo do momento vivido, da história, das condições de vida, do tipo de relações estabelecidas pelos membros familiares individualmente. Isso significa que, por exemplo, uma doença em família pode representar uma oportunidade de exercer ajuda, de demonstrar afeto, etc., ou de negação de ajuda, de impaciência.

Com a morte de meu marido, meu pai comprou um apartamento, no qual passamos a conviver eu, meus dois filhos e meu pai, por oito anos meu pai morou conosco. Como meu pai perdeu a visão não tinha como deixá-lo sozinho, optamos em procurar uma casa de repouso a qual ele está há dois anos. Quando ele morava comigo, eu muitas vezes perdia a paciência com ele, o que agora eu me sinto triste ao lembrar. Já na casa de repouso temos um outro relacionamento, ele se tornou uma pessoa mais agradável. (M.C.F., filha, 55 anos).

As contradições que se identificam pela análise realizada mostram que, nas relações familiares entre grupos multigeracionais, há também sentimentos de desamor e rejeição; comportamentos de falta de carinho, de desrespeito, de impaciência, de incompreensão, de raiva, de irritação; revelações de estorvo e incômodo.

“Nunca fez um carinho, nunca deu atenção e depois de idosa ficou pior ainda. Eu também sou uma pessoa que não tenho paciência, eu não judio, mas eu não tenho paciência de ficar escutando porque eu lembro do que ela fazia para gente, e aí tu vai encarar como?” (E.C.C., filha, 63 anos).

As limitações trazidas pelo envelhecimento e as peculiaridades advindas da presença de idosos no âmbito familiar, agravadas muitas vezes pela doença, geram necessidades de cuidados, ajuda e apoio. O atendimento a essas necessidades é, por vezes, inexistente ou dificultado pela carência financeira da família, pela falta de tempo, pelo medo, pelas mudanças, pela dependência.

“Quando as pessoas não aceitam os limites impostos a cada idade, deixam de ter uma convivência saudável.” (N.T.B., avó, 71 anos).

“Para o idoso, acho que ele fica limitado, precisando cada vez mais do apoio familiar. Para a família, a dificuldade aparece quando os laços não foram criados ou muitas vezes eles existiram, mas com muita perturbação, desentendimentos, não sendo uma relação saudável.” (M.F., neta, 25 anos).

Os conflitos geracionais presentes nas famílias são provocados pelas divergências de opiniões, atitudes e comportamentos, pela perda de papéis e pela autoridade imposta pela posição ocupada na hierarquia familiar. Trazem como conseqüências brigas, discussões, atritos, desentendimentos, violência, intromissão, desarmonia, controle, inflexibilidade, falta de diálogo, dificuldade de convivência, desgaste emocional e sofrimento.

A harmonia familiar não é fácil, porque está relacionada à convergência de necessidades e interesses e é fruto da concordância de seus membros. Quando isso não acontece, há o conflito.

Os aspectos bons da convivência intergeracional em uma mesma família mostram que a família exerce um papel fundamental ao bem-estar de seus membros, especialmente no que diz respeito aos idosos, sendo o lugar natural e privilegiado do estabelecimento de relações, da valorização e promoção dos indivíduos; da consolidação do sentimento de pertença, da busca e do encontro de apoio, amparo e suprimento das necessidades individuais e do grupo familiar. Entretanto, também é a família o mesmo lugar natural de atritos e conflitos, gerados pela proximidade, cumplicidade e partilha de problemas e dificuldades, quando a convivência existe. A família é, portanto, contraditoriamente, o locus de apoio e de desamparo, de proximidade e de afastamento, de aceitação e de negação, de ajuda e de rejeição, de afeto e de desafeto, de harmonia e de desavenças, de alegria e de preocupações e tristezas, de companhia e de solidão, de aconchego e de abandono, de valorização e de desvalorização, de ganhos e de perdas.

Sendo a família o espaço da intimidade e do segredo, de complexidade e discrepância de interesses, dificilmente ela é compartilhada ou exposta ao olhar externo. Por isso é difícil ao pesquisador dar conta da complexidade das relações familiares. (Motta, apud Aquino1; Cabral17, 2002, p. 1.057).

O fato de idosos terem filhos ou de morarem com eles não é garantia de apoio e cuidado, nem da ausência de maus-tratos. Dificilmente se constatam evidências disso, pois há encobrimento de aspectos da real situação familiar. Esta pesquisa não revelou situações reais de maus-tratos e violência. Normalmente, a violência e maus-tratos são trazidos à tona através de denúncias e registros em delegacias ou outros órgãos específicos, e quase sempre aparecem nos casos em que as diferentes gerações coabitam uma mesma casa. Os casos de infração aos direitos humanos, de violência psicológica e de agressões físicas nem sempre aparecem nas estatísticas, embora, em alguns casos, possam ser identificadas em serviços de saúde, na segurança e em grupos de convivência.

Nessa relação de interdependência geracional, o usufruto do suporte que a família pode proporcionar, ou o fato de não receber dela o que espera ou necessita, está seguramente relacionado com a qualidade das relações construídas e mantidas pela convivência ao longo da vida de cada um. A qualidade dessas relações é influenciada pela educação, pela ética, pela religião, pela condição socioeconômica, pelas condições de saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente às evidências do envelhecimento populacional, reconhecer a importância e o impacto dos conflitos e das diferenças intergeracionais na experiência coletiva do envelhecer pode ser fundamental (Kalache10 et al., 1987).

Este trabalho evidencia as transformações que dizem respeito à transição demográfica e à atual configuração etária brasileira, às mudanças sociais e da família; possibilita perceber a integração entre esses fatos; mostra um panorama de relações e de vínculos familiares diferentes do de algum tempo atrás e permite apontar os impactos que permeiam as relações familiares causados pela longevidade humana.

A longevidade provocou impactos porque desestabilizou a família, que não estava preparada para tal fato, gerando reações que exigiram mudanças na estrutura dessa instituição e em suas relações. A longevidade aumenta a probabilidade de:

  1. netos terem avós por muito mais tempo que seus pais tiveram;

  2. idosos tornarem-se dependentes, ocasionando sobrecarga emocional, de preocupação e de trabalho à família;

  3. maior número de idosos serem cuidados por filhos ou familiares também idosos;

  4. maior número de netos, filhos adultos e filhos idosos serem cuidados por pais e avós idosos;

  5. necessidade da presença efetiva e contínua de familiares para atender o idoso, em detrimento do atendimento das necessidades pessoais;

  6. sobrecarga financeira para a família;

  7. maior número de idosos morarem sozinhos;

  8. dificuldade em aceitar as diferenças de valores entre gerações;

  9. mudança e alternância de papéis familiares;

  10. diferença nos níveis culturais, estabelecendo um hiato intergeracional.

Esses impactos e a investigação realizada, que pôs em evidência ganhos e perdas da convivência familiar intergeracional, levam a propor a educação como caminho para qualificar as relações familiares, considerando que é a família a primeira e mais forte instância que torna possível ao indivíduo forjar valores, modelar sua formação pessoal e integrar-se socialmente. Educação é aqui entendida como promotora da família e de vínculos afetivos, que tenha na sua essência aspectos que reconheçam a família como o centro das atividades da vida individual e social.

Nessa concepção de educação, feita pela família e na família, a presença física e o diálogo são elementos indispensáveis. A presença física, porque é ela que possibilita a interação necessária à aquisição e aprimoramento de comportamentos, atitudes e habilidades, elementos agregadores das relações humanas. O diálogo, porque permite aprimorar as relações em família e porque é dele que emana o respeito ao outro e às suas opiniões, a compreensão e a aceitação mútuas. Dialogar é ter disponibilidade de ouvir e de saber falar para referendar, por meio de incentivo e apoio, ou para orientar, propondo alternativas e redimensionamentos. A presença física por si preenche um espaço e supre necessidades. Por ex.: não estar sozinho; se precisar de algo há alguém presente; sempre há oportunidade de dialogar. A impossibilidade da presença física pode ser provisoriamente atenuada por algum tipo de comunicação. Por ex.: um telefonema, uma carta, um e-mail..., recursos que de alguma forma aproximam.

Esses elementos todos constituem os meios que permitem aos diferentes membros de uma família serem partícipes nas ações de partilha, cooperação, ajuda e troca. Eles são facilitadores do estabelecimento e fortalecimento dos vínculos de afeto, base de sustentação e de equilíbrio da estrutura da família, porque permeia cada um e todos os seus membros. Barros2(2006, p. 104).ratifica essa idéia, dizendo: “[...] a freqüência do contato e as obrigações entre pais e filhos vão se modificando à medida que os filhos crescem e se desenvolvem como pessoas. As relações passam a ser um compromisso que deve ser mutuamente aceito, para que a relação entre eles se estreite. Isso altera as formas de relação entre as diferentes gerações da família, cada vez mais baseadas na troca, na cooperação, na cumplicidade e no afeto entre seus membros”.

Outro elemento indispensável é que essa educação seja promotora do conhecimento sobre o envelhecimento e sobre as relações humanas, porque é o conhecimento que possibilita a compreensão das mudanças advindas com o passar do tempo e dá condições para reconhecer essas transformações, aceitar e respeitar os limites e as possibilidades de cada um.

A educação pela família e na família se dá num processo de convivência e coloca como princípios o respeito e a valorização das pessoas, emanados do amor. Isso intensifica e fortalece o sentimento de pertença, sempre levando em conta as constantes mudanças que a própria vida impõe ao indivíduo, ao seu corpo, à sua história, às relações e ao contexto social.

Essa educação só tem sentido se for efetivada com o envolvimento e comprometimento de todos os membros da família, num caminho de duas vias, num processo de co-educação, uns educando e sendo educados pelos outros. Se esse tipo de educação acontece, gradativamente a família atenua o fato de ser um locus de contrários, e passa a aprimorar e a intensificar o que de bom nela existe, passa a diluir e transformar o que existe de ruim, qualificando as relações familiares, promovendo afetos, criando e fortalecendo os vínculos.

REFERÊNCIAS

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  • 22 Vieira EB. Instituições geriátricas: avanço ou retrocesso. Rio de Janeiro: Revinter; 2003.
  • *
    Na composição da amostra são consideradas quatro variáveis: geração, faixa etária, situação de domicílio e zona de localização, variáveis estas subdivididas em: três gerações - avós, filhos e netos; três faixas etárias - de 70 anos ou mais, de 40 a 69 anos e de vinte a 39 anos; duas situações de domicílio - domiciliado ou asilado e duas zonas de localização: urbana e rural, o que possibilita oito combinações, conforme quadro 1 no anexo 1. Houve a preocupação de contemplar também representações de situações econômicas distintas, buscando-se famílias em diferentes bairros da cidade - Centro, Exposição, São Pelegrino, Colina Sorriso, Jardim América, Desvio Rizzo, Reolon, Ana Rech, Mariani, Petrópolis, Sagrada Família - e ainda na zona rural - Monte Bérico da Nona Légua, Santa Justina e Vila Seca.
    Quadro 1
    – Constituição da amostra
  • *
    A Assembléia Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento da População estabeleceu a idade de 60 anos como início da terceira idade nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento e de 65 anos nos desenvolvidos (ONU, 1982).
  • *
    A palavra geração refere-se ao tempo histórico que agrega pessoas em função de sua idade. A vivência dos mesmos acontecimentos origina atitudes, sentimentos e condutas semelhantes, que permitem identificar seus membros como sujeitos da mesma geração (Moragas, 2004, p.8).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2007

Histórico

  • Recebido
    10 Out 2006
  • Aceito
    15 Dez 2006
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