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“Mais que uma revista, um dicionário para os pais”: a revista Pais & Filhos e a imprensa transnacional para a família

“More than a magazine, a dictionary for parents”: the Pais & Filhos magazine and the transnational press for the family

“Más que una revista, un diccionario para los padres”: la revista Pais & Filhos y la prensa transnacional para la familia

Resumo:

Este artigo visa discutir de que forma a análise da revista Pais & Filhoscontribuiu para uma história da imprensa educacional dirigida às famílias, considerando seu papel no mercado editorial brasileiro nos anos 1960 a 1980 e sua relação com a imprensa transnacional voltada para essa temática. Pais & Filhos tratava de aspectos relacionados à saúde, à educação e ao comportamento das crianças e de suas respectivas famílias. Não obstante, a revista brasileiraaproximava-se de publicações de circulação internacional,comoEltern (Alemanha), Parents (EUA), Enfant Magazine e Parents (França). Tais revistas compartilhavam com Pais & Filhos o empenho em educar as famílias leitoras, em termos científicos, acerca de aspectos ligados à gestação, ao cuidado, à saúde e à educação dos filhos.

Palavras-chave:
impressos educativos; pais leitores; história da educação

Abstract:

This article aimed to discuss how the analysis of thePais&Filhos magazine contributed to a history of the educational press directed at families, considering its role in the Brazilian publishing market in the 1960s to 1980sand its relation with the transnational press focused on this theme. Pais&Filhos dealt with issues related to the health, education and behavior of children and their families. Nonetheless, the Brazilian magazine approached international publications such as Eltern (Germany), Parents (USA), Enfant Magazine and Parents (France). These journals shared with Pais&Filhos the commitment to educate the reading families, in scientific terms, about aspects related to gestation, care, health and the education of their children.

Keywords:
educational press; parent readers; history of education

Resumen:

Este artículo pretende discutir cómo el análisis de la revistaPais&Filhos contribuyó a una historia de la prensa educativa dirigida a las familias, considerando su papel en el mercado editorial brasileño en los años 1960 a 1980 y su relación con la prensa transnacional dirigida hacia esa temática. Pais&Filhos trataba de aspectos relacionados a la salud, educación y al comportamiento de los niños y de sus respectivas familias. Además, la revista brasileña se acercaba a publicaciones de circulación internacional, como Eltern (Alemania), Parents(EEUU), Enfant Magazine y Parents(Francia). Tales revistas compartían con Pais&Filhos el empeño en educar a las familias lectoras, en términos científicos, acerca de aspectos relacionados con la gestación, el cuidado, la salud y la educación de los hijos.

Palabras clave:
impresos educativos; padres lectores; historia de la educación

Introducción

Este artigo visa discutir de que forma a análise da revista mensal Pais & Filhos, nos anos 1960 a 1980, contribui para uma história da imprensa educacional dirigida às famílias, considerando o seu papel no mercado editorial brasileiro e a sua relação com a imprensa transnacional voltada para essa temática. Convém destacar que a consulta ao periódico foi realizada na Fundação Biblioteca Nacional - FBN, localizada na cidade do Rio de Janeiro, com exemplares no formato original.

Lançada em 1968 pela Bloch Editores S.A., Pais & Filhos tinha como proposta editorial discutir aspectos relacionados à saúde, à educação e ao comportamento das crianças e de suas respectivas famílias. Nesse período, o mercado editorial brasileiro passava por profunda transformação, permeada pela transição entre a oferta de revistas para toda a família, que pretendiam atender a todos os gostos, rumo à veiculação de revistas sobre temáticas personalizadas (De Luca & Martins, 2010De Luca, T. R., & Martins, A. L. (2010). História da imprensa no Brasil. São Paulo, SP: Editora Contexto.). Maria Celeste Mira (1997Mira, M. C. (1997). O leitor e a banca de jornais:o caso da Editora Abril (Tese Doutorado em Filosofia e Ciências Humanas). Universidade Estadual de Campinas, Campinas.), em seu estudo sobre as revistas publicadas pela Editora Abril, agregou mais detalhes sobre a década de 1960, apresentada como momento de renovação, segmentação e otimização do mercado do impresso.

Em pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (IBOPE), na cidade do Rio de Janeiro (então Estado da Guanabara), no período de março e abril de 1969, foi possível verificar a variedade de títulos mensais em circulação na cidade, aspecto ilustrado pela Tabela 1.

Tabela 1
Revistas mensais lidas regularmente pelos leitores entrevistados pelo IBOPE em março/abril de 1969, Guanabara/RJ

Fonte: Ibope (1969Ibope. (1969). Pesquisas especiais PE092 (p. 177). Campinas, SP: Arquivo Edgar Leuenroth. IFCH/UNICAMP., p. 177).

A Tabela 1 indica que, no quinto lugar do ranking, Pais & Filhos apresenta-se como uma publicação lida por homens e mulheres, sendo citada pelos entrevistados na faixa de 18 a 29 anos. Nesse período, em que ainda não tinha completado seu primeiro aniversário, a revista já disputava o mercado brasileiro com periódicos mensais com temáticas diversificadas, como variedades (Realidade e Seleções), feminina (Claudia, Jóia e A Cigarra), fotonovelas (Sétimo Céu e Jacques Douglas) e até mesmo automotivas (Quatro Rodas e Mecânica Popular).

Lançada em um momento de intensas mudanças na indústria do impresso, a história de Pais & Filhos se relaciona com a gênese de sua produtora, a Bloch Editores, com a trajetória de vida de seu idealizador, Adolfo Bloch, e com o próprio contexto social, político e econômico vivido pelo Brasil na década de 1960. O empenho em revisitar esse contexto permite o diálogo com Marialva Barbosa, segundo a qual, “[...] construir história da imprensa é perceber a história como processo completo, no qual estão engendradas relações sociais, culturais, falas e não ditos” (Barbosa, 2007Barbosa, M. (2007). História cultural da imprensa: Brasil, 1900-2000. Rio de Janeiro, RJ: Mauad X., p. 15).

Pais & Filhos, uma revista ‘de família’ e ‘aberta’ aos problemas de seu tempo?

Os editores Bloch prestam um grande serviço ao país com o lançamento da revista Pais & Filhos, cujo número 0 foi apresentado à classe publicitária durante um coquetel na nova sede da Manchete, semana passada, e está sendo distribuído à imprensa. Programada para circular mensalmente, a nova revista, que é dirigida por José Itamar de Freitas, pretende criar condições para um melhor entrosamento da família moderna, abrindo caminho para facilitar a comunicação entre pais e filhos. A categoria internacional das produções gráficas dos Bloch, Pais & Filhos acrescenta o excelente conteúdo do material selecionado (Jornal do Brasil, 1968Jornal do Brasil. (1968, 26 de junho). Caderno B, p. 2., p. 2).

Em junho de 1968 foi veiculada, no Jornal do Brasil, matéria a respeito do coquetel de lançamento de Pais & Filhos, promovido pela Bloch Editores à classe publicitária e jornalística. Já nesse período, as ‘produções gráficas dos Bloch’ eram caracterizadas por sua qualidade material e textual e, por isso, o lançamento de Pais & Filhos pareceu contar com a expectativa de profissionais ligados ao jornalismo e à publicidade. Não obstante, convém destacar que o lugar ocupado pela editora no cenário da imprensa brasileira emerge de uma história mais longeva na qual se articulam a trajetória empresarial da Bloch Editores à trajetória de vida de seu idealizador, Adolfo Bloch (1908-1995).

Joseph Bloch, patriarca da família de origem judaica, atuava no ramo da imprensa ucraniana. Em 1921, os Bloch emigraram para o Brasil, em função da instabilidade política vivenciada em seu país de origem e da crescente perseguição aos judeus. Chegaram ao Rio de Janeiro, instalando-se em bairro na zona Norte da cidade.

Lá, Joseph montou uma pequena gráfica, que imprimia bilhetes de loteria e talões de jogo do bicho, até desenvolver o negócio que a tornou conhecida: a impressão de papel de seda especial para embalar laranjas para exportação. Os lucros oriundos do negócio possibilitaram a compra de um imóvel em Copacabana.

Nesse período, Joseph faleceu e o comando da gráfica ficou nas mãos de Adolfo e seus irmãos, Arnaldo e Bóris. Adolfo naturalizou-se brasileiro em 1931 e em 1939 inaugurou a primeira sede própria da gráfica Bloch, na rua Frei Caneca, que tinha como clientes Pfeizer, Cyba, Gillete, Esso, Eternit.

Em 1951, Getúlio Vargas baixou um decreto permitindo que as gráficas e as editoras importassem máquinas com subsídios e sem direitos alfandegários. Tal situação permitiu que Adolfo comprasse rotativas “[...] que possibilitaram que seu parque industrial trabalhasse com folga de três dias” (Bloch, 2008Bloch, A. (2008). Os irmãos Karamabloch: ascenção e queda de um império familiar.São Paulo, SP: Companhia das Letras., p. 165). Nesse período, a gráfica Bloch imprimia títulos infantis e encomendas de gibis de Roberto Marinho, que, algum tempo depois, pediu assistência para montar seu parque de revistas, a Rio Gráfica.

Em 1952, Adolfo Bloch lançou Manchete, uma revista ilustrada semanal, inspirada na Paris Match, publicação francesa de atualidades. Em seus anos iniciais, o periódico apresentou inúmeras matérias sobre o governo de Juscelino Kubitschek, publicando, inclusive, o famoso slogan ‘50 anos em 5’, retirado de um dos discursos de campanha de JK. Manchete reunia uma equipe de jornalistas de renome, como Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Sérgio Porto, Otto Lara Resende e Fernando Sabino.

Adolfo Bloch já dispunha de uma rotativa Webendorfer, considerada primeira prensa offset do Brasil1 1 Off-set é um sistema de impressão indireta, no qual o papel não entra em contato com a matriz. Esta é instalada em cilindros da impressora que, ao invés de imprimir diretamente sobre o papel, transfere a imagem para um outro cilindro revestido de borracha (Offset rotativas, 2018). , que durante quatro dias da semana imprimia publicações de outras empresas, reservando somente três dias para a impressão da sua revista. Já em 1957, a Manchete passou a ser impressa em rotogravura2 2 Rotogravura é um processo de impressão em que a imagem fica em um baixo relevo em relação à superfície do cilindro da matriz, em cobre perfeitamente uniforme. A gravação das células que formam as imagens no cilindro é obtida por meio de processo eletromecânico (Impressão rotogravura, 2018). , em uma máquina Albertina, então o mais recente modelo da marca alemã Frakenthal.

Adolfo valorizava a publicação de imagens coloridas, com apuro gráfico, o que favoreceu a ampliação considerável da tiragem e do volume de publicidade em Manchete, que passou a ocupar o lugar de primeira revista brasileira, que até então era de O Cruzeiro3 3 A revista de variedades O Cruzeiro circulou de 1928 a 1975, alcançando números expressivos de vendas nas décadas de 1940 e 1950. Para maiores informações a respeito da publicação, conferir o site Memória Viva (O Cruzeiro, 2018). . O negócio da família Bloch passou a agregar serviços gráficos e editoriais, sob o signo de Bloch Editores, dirigida por Bóris e Arnaldo Bloch. Assim, pode-se dimensionar a rede de produção de impressos à época.

Pelos bons resultados alcançados, foi possível ampliar sua estrutura e seu parque gráfico, assim como investir na segmentação de sua cartela de revistas. Nesse sentido, a criação de Pais & Filhos foi, em grande medida, resultado do contexto de sucesso empresarial conquistado com Manchete. Partiu de Pedro Jack Kapeller, sobrinho de Adolfo e um dos diretores da Bloch Editores, a ideia de lançar uma revista ‘inteiramente dedicada à família’, considerada uma das publicações mais importantes da empresa.

A seriedade com que sempre foram tratados este e outros temas fez com que PAIS & FILHOS se tornasse uma das publicações mais importantes da empresa fundada há 55 anos por Adolfo Bloch. PAIS & FILHOS é cria de Jaquito - Pedro Jack Kapeller, um dos nossos diretores. Na época, lançar uma publicação mensal inteiramente dedicada à família foi considerado arrojado demais. Mas reuniões se sucederam, a ideia começou a tomar forma. Finalmente - faz agora dez anos - PAIS & FILHOS estava nas bancas. E o leitor brasileiro passou a contar com uma revista na qual - hoje tem absoluta certeza - pode confiar (Pais & Filhos, 1978Pais & Filhos. (1978, agosto). Rio de Janeiro, RJ: Bloch Editores., p. 83).

A Bloch Editores, nesse período, experimentava a diversificação de suas publicações, exemplificada pela criação das revistas Jóia, periódico feminino quinzenal lançado em 1957, Sétimo céu - a revista romântica quinzenal para moças e rapazes, famosa pela veiculação de contos e fotonovelas em suas páginas - e Fatos & Fotos - atualidades da semana, publicada pela primeira vez em 1961. Nos anos subsequentes, chegaram às bancas as seguintes publicações da editora: Desfile - a revista da mulher brasileira, lançada em 1969 como título posterior à revista Jóia, que foi descontinuada; Ele e Ela, criada em 1969 para abordar a temática da sexualidade; Amiga - TV tudo, lançada em 1970.

Em 1968, concluiu-se a construção de um parque gráfico no bairro de Parada de Lucas (zona Norte da cidade do Rio de Janeiro), instalações onde era impressa a revista Pais & Filhos no período pesquisado e cujos terrenos foram comprados do editor José Olímpio. Segundo Bloch (2008Bloch, A. (2008). Os irmãos Karamabloch: ascenção e queda de um império familiar.São Paulo, SP: Companhia das Letras., p. 18), o espaço foi considerado o maior da América Latina, imprimindo as publicações da editora e “[...] milhares de trabalhos para clientes externos, de rótulos de cerveja e bilhetes de loteria a cartazes de campanha eleitoral”.

No mesmo ano, foi inaugurada, na rua do Russel (zona Sul do Rio de Janeiro), a nova sede da editora, que publicava revistas e livros pelo selo Bloch Editores. Tal imóvel foi projetado por Oscar Niemeyer e contava com instalações das emissoras de rádio FM e AM, o Museu de Arte Brasileira e o Teatro Adolfo Bloch, que sediou concursos e eventos culturais da revista Pais & Filhos.

No entanto, em 1971, dois anos após seu lançamento, a editora enfrentou um processo judicial em torno do direito ao uso do nome ‘Pais e Filhos’. Bloch Editores divulgou nota de esclarecimento ao público sobre a questão na edição de 8 de outubro de 1971 do jornal diário Correio da Manhã, veículo de grande circulação na cidade do Rio de Janeiro. Consta no texto que os direitos de uso da marca ‘Pais e Filhos’ foram adquiridos da Editora Leitora S.A. em 12 de março de 1968, sem que a mesma tivesse feito uso da marca. A transação custou Cr$ 57.595,00, que equivaleria a 445 vezes o valor do salário mínimo em 1968, que era de Cr$ 129,60 (FGV Dados, 2016FGV dados. (2016, maio). Salário mínimo: valores históricos. Recuperado de:http://portalibre.fgv.br
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).

Um sócio minoritário da editora entrou com processo de anulação da venda em 1971, sob o argumento de que a transação fora assinada por um só diretor, no caso, José Barboza Mello, sem passar pela assembleia de acionistas. Nesse período, já estava em trâmite a transferência da marca no Instituto Nacional de Propriedade Industrial do Ministério da Indústria e Comércio.

Nas palavras de Adolfo Bloch, que assinou a nota em nome da Bloch Editores, eles “[...] agiram de absoluta boa-fé, adquirindo uma marca de cujo registro a Editora Leitura era proprietária e passaram a editar a Revista ‘Pais e Filhos’, com a colaboração permanente dos grandes cientistas e professores do País” (Correio da Manhã, 1971Correio da Manhã. (1971, 8 de outubro). p. 6., p. 6, grifo do autor). Contudo, a Quarta Câmara Cível do Tribunal de Alçada da Guanabara decidiu anular a venda da marca, sob o fundamento do não preenchimento de formalidades legais. Em setembro, a Bloch Editores entrou judicialmente com a requisição de registro da referida marca em seu nome, já que o primeiro registro em nome da Editora Leitura se extinguiu por falta do pedido de prorrogação do prazo legal. Tal fato permitiu a continuidade da edição de “Pais e Filhos - uma publicação que honra a imprensa e famílias brasileiras” (Correio da Manhã, 1971Correio da Manhã. (1971, 8 de outubro). p. 6., p. 6).

As transformações da empresa seguiram ao longo dos anos 1970, exemplificadas pela aquisição de uma máquina de rotogravura italiana Cerutti, capaz de imprimir, em quatro cores, 42 mil exemplares por hora, com a finalidade de otimizar os trabalhos no parque gráfico de Parada de Lucas (Siqueira & Murilo, 2016Siqueira, C., & Murilo, T. (2016). Manchete. In Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro - DHBB. Recuperado de: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/manchete
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).

Já na década de 1980, a empresa seguiu com a proposta de segmentação de sua cartela de revistas, em que manteve a produção de Desfile, Ele e Ela, Manchete e Pais & Filhos,incluindo o lançamento das publicações Manchete Rural, Mulher de Hoje e Geográfica Universal.

Em 1983, a empresa Bloch inaugurou a Rede Manchete de Televisão. Entretanto, menos de dez anos depois, o empreendimento enfrentou graves crises financeiras, inviabilizando até mesmo o pagamento de seus funcionários que entraram em greve em 1992. Como solução, colocaram-se à venda 49% de suas ações para o pagamento das dívidas, na oportunidade compradas por Hamilton Lucas de Oliveira. Pela acusação de envolvimento em esquema de corrupção e o não cumprimento da cláusula de contrato que previa o pagamento das dívidas da empresa, o negócio foi anulado.

A emissora seguiu com dificuldades de equilibrar suas despesas e receitas. Com o falecimento de Adolfo Bloch, em 1995, Pedro Jack Kapeller, o ‘Jaquito’, então sócio e vice-presidente da Bloch Editores, assumiu a presidência da empresa. Em 2000, a Bloch Editores teve sua falência decretada e alguns importantes títulos foram leiloados, como Fatos & Fotos, Manchete e Pais & Filhos (Pieranti, 2006Pieranti, O. P. (2006). Políticas para a mídia: dos militares ao governo Lula. Lua Nova, (68), 91-121. Recuperado de:http://www.scielo.br/pdf/ln/n68/a04n68.pdf
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). Pais & Filhos foi arrematada por Marcos Dvoskin, ex-diretor geral da Editora Globo. Em 2003, o empresário lançou a Manchete Editora, que publica Pais & Filhos até os dias de hoje.

A revista analisada, então, faz parte do conjunto de produtos que compôs o negócio da família Bloch. No decorrer da longa história dessa empresa formada por tios e sobrinhos, as conquistas materiais e financeiras obtidas articulam-se aos lucros imateriais, pertinentes ao papel ocupado pela Bloch Editores na difusão de determinadas representações de mundo social aos seus leitores, desde o momento de seu lançamento.

Tal contexto foi caracterizado, pela publicação, como problemático, já que se encontrava permeado por questões sociais ligadas à expressão da sexualidade e ao diálogo entre pais e filhos.

Uma revista aberta, disposta a encarar de frente os problemas do mundo moderno, a comprar uma ‘briga’ cujos primeiros sintomas começavam a se delinear. Afinal, em 1968, sexo - e os problemas ligados a ele - ainda era tabu, não só no Brasil como em muitos lugares do mundo. Virgindade era tabu, aborto era tabu, masturbação era tabu. O adolescente raramente tinha diálogo com os pais ou os pais com ele. Aliás, diálogo era artigo raro nas relações entre os pais e filhos. Seria chegada realmente a hora de uma revista chamar a si a responsabilidade de tocar sem medo nestes assuntos? PAIS & FILHOS achou que sim, respaldada num corpo de consultores selecionados entre as maiores autoridades nacionais nas diversas especialidades: psicologia, clínica geral, pediatria, religião, sociologia, ginecologia, obstetrícia, cardiologia. Foi assim que um bebê pendurado numa corda singrou de ponta a ponta as bancas de jornais do país inteiro. Era o primeiro número de PAIS & FILHOS que nascia (Pais & Filhos, 1978Pais & Filhos. (1978, agosto). Rio de Janeiro, RJ: Bloch Editores., p. 86, grifo do autor).

O trecho em destaque faz parte de uma matéria assinada por Lila Bueno em comemoração ao aniversário de dez anos de Pais & Filhos. Havia a intenção editorial de valorização da família e o investimento na manutenção dessa instituição, a partir da divulgação de um modelo de ‘família moderna’, apresentada como o lugar onde se podia falar de tabus como a sexualidade dos filhos e a do próprio casal, mobilizadas pela leitura desse tipo de impresso.

O sexo foi apresentado pela articulista como um dos problemas do mundo moderno, em que persistiria sua condição de um tabu na sociedade dos anos 1968. Cumpriria à publicação ‘brigar’ contra essa situação e assumir a responsabilidade no tratamento desse tipo de assunto. Todavia, convém ressaltar que o debate não é circunscrito aos anos 1960 e merece ser compreendido em uma perspectiva histórica. Foucault fornece subsídios para essa análise, ao problematizar os discursos que colocam a sexualidade como alvo de uma repressão no período que antecede o século XIX, principalmente nos séculos XVII e XVIII.

De acordo com tais discursos, a burguesia vitoriana teria repudiado a sexualidade e o sexo só emergiria em “[...] espaços discursivos clandestinos, circunscritos, codificados” (Foucault, 2009Foucault, M. (2009). História da sexualidade I (Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque, trad., 19a ed.) Rio de Janeiro, RJ: Edições Graal., p. 11), impondo-lhe a interdição, a inexistência e o mutismo. No entanto, Foucault entende que não existe uma ausência de discursos sobre o sexo, e sim um movimento para ‘fazê-lo falar’, o que pode ser constatado, no caso desta pesquisa, na recorrência ao tema nas páginas de Pais & Filhos, abordado em artigos, em cartas de leitores e em suplementos especiais.

A proposta de Pais & Filhos de tratar de questões pertinentes à sexualidade remete à existência de um discurso intencionalmente caracterizado como ‘aberto’ e ‘inovador’ e que visa construir uma ciência da sexualidade, “[...] onde o sexo, a revelação da verdade, a inversão da lei do mundo, o anúncio de um novo dia e a promessa de uma certa felicidade estão ligados entre si como forma de pregação” (Foucault, 2009Foucault, M. (2009). História da sexualidade I (Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque, trad., 19a ed.) Rio de Janeiro, RJ: Edições Graal., p. 11).

Concomitante ao tratamento de ‘questões-tabu’, respaldado pelo ‘corpo de consultores selecionados entre as maiores autoridades nacionais nas diversas especialidades’, a editora projetou conquistar o público leitor por meio da qualidade gráfica do impresso. Como sinalizou Lila Bueno, na matéria em questão, a imagem do bebê pendurado em uma corda chamou a atenção do público para o lançamento da revista. Essa fotografia, exemplificada pela Figura 1, foi utilizada nos outdoors e materiais de divulgação do lançamento, assim como na matéria de abertura de sua primeira edição, intitulada ‘Este bebê é um gênio? Não, seu filho também faz isso’.

Figura 1
Matéria ‘Este bebê é um gênio?’.

Fonte: Pais & Filhos (1968Pais & Filhos. (1968, setembro). Rio de Janeiro. RJ: Bloch Editores., p. 4-5).

É interessante observar que o próprio título da matéria dá destaque à capacidade motora do bebê e remete à perspectiva generalizante do desenvolvimento infantil, ao indicar que a capacidade de se segurar é comum a todos os recém-nascidos, inclusive ao filho do(a) leitor(a). Tal aspecto permite afirmar a presença, na revista, de uma perspectiva de desenvolvimento humano em etapas, de caráter progressista e generalizante, comumente associada à história de consolidação do paradigma científico, que tem o século XIX como importante marco (Gouvêa & Gerken, 2010Gouvêa, M. C. S., & Gerken, C. H. S. (2010). Desenvolvimento humano: história, conceitos e polêmicas. São Paulo, SP: Cortez.).

A escolha desse tipo de imagem também expressa o investimento em propaganda na oportunidade do lançamento da revista. Em depoimento veiculado na edição comemorativa aos 21 anos da revista, Mauro Salles, conselheiro da agência Salles Inter-Americana de Publicidade, comentou o trabalho desenvolvido para o lançamento de Pais & Filhos, considerado

Uma grande experiência profissional para Adolfo, Oscar, Jaquito e toda a equipe Bloch. E uma oportunidade ímpar par a nossa agência. Foi nosso primeiro lançamento editorial. Convocados para cuidar da propaganda da nova revista, acabamos integrados em seu planejamento editorial e mercadológico, influindo em várias áreas e contribuindo para o posicionamento comercial do novo produto. Usamos recursos de pesquisa que até então eram inéditos em nosso mercado de revistas. E no lançamento, procuramos transformá-la em notícia, coordenando um esquema de eventos operações de relações públicas. PAIS & FILHOS nasceu vitoriosa. A revista foi um sucesso, esgotou logo, vendeu muito acima das expectativas. A campanha de lançamento mereceu prêmios e elogios (Pais & Filhos, 1988Pais & Filhos. (1988, setembro). Rio de Janeiro, RJ: Bloch Editores., p. 69).

A qualidade gráfica da revista como estratégia de conquista do público foi abordada em sua edição comemorativa de 20 anos. Helio Horta, então diretor de arte da publicação, destacou que a composição de seu primeiro número, por exemplo, efetuou-se em linotipos, técnica de composição de páginas usada até então, com provas de texto em couchê ou celofane no prelo e os títulos colados letra por letra. Tratava-se de “[...] um serviço artesanal cuja produção, lenta, acabava fazendo com que toda a redação ajudasse na montagem. [...] Graficamente, marcou sua presença graças à criatividade de sua equipe e um incrível parque gráfico” (Pais & Filhos, 1987Pais & Filhos. (1987, setembro). Rio de Janeiro, RJ: Bloch Editores., p. 55). O trabalho da equipe e as instalações recém-inauguradas em Parada de Lucas possibilitaram, nesses termos, o sucesso da empreitada.

Pais & Filhos e a imprensa parental

Concomitantemente ao contexto brasileiro de emergência do impresso, buscou-se identificar, em acréscimo, a articulação de Pais & Filhos com a imprensa internacional dedicada à temática da família. Nas palavras de José Itamar Freitas4 4 O jornalista começou sua carreira na Bloch Editores pela revista Fatos & Fotos, onde ganhou o ‘Prêmio Esso’ de 1965. De 1968 a 1972, foi diretor de Pais & Filhos. Em 1973, ingressou na Rede Globo de Televisão na direção do programa ‘Fantástico’, em que atuou profissionalmente até 1994. Não foi possível obter informações a respeito sua vida atual. , primeiro diretor da revista, publicações internacionais serviram de inspiração para a criação de

Pais & Filhos, a revista mensal da família moderna. E era. Porque não se fizera nada igual, ainda, no jornalismo brasileiro, nem lá fora. Não precisa perguntar, eu respondo: havia revistas americanas, francesas e italianas que podiam ter servido de modelo, de ponto de partida, de parâmetro, de ideia de mercado. Havia a pergunta essencial: será que o Brasil está pronto para uma revista que fale de amor, casamento, embrião, feto, parto, bebê, adolescente, escola, educação sexual, psicologia, o universo familiar? (Pais & Filhos, 1978Pais & Filhos. (1978, agosto). Rio de Janeiro, RJ: Bloch Editores., p. 85)

Convém destacar que o emprego do slogan ‘a revista mensal da família moderna’ para caracterizar Pais & Filhos foi observado nas capas até dezembro de 1972. O que significava a palavra ‘moderna’ naquele contexto? O estudo da publicação e de seu lugar social requer, assim, a compreensão de que sua trajetória é permeada por questões e conceitos que circulavam na sociedade brasileira de longa data.

Micael Herschmann e Carlos Alberto Pereira, por exemplo, identificam que o dito paradigma moderno no Brasil se configurou de modo bastante claro nos anos 1920 e 1930. Ele pode ser entendido “[...] como um conjunto de procedimentos, de hábitos internalizados, de questões e problemas capazes de mobilizar obsessivamente e de orientar as reflexões de uma época ou geração” (Herschmann & Pereira, 1994Herschmann, M. M., & Pereira, C. A. M. (1994). A invenção do Brasil moderno. Rio de Janeiro, RJ: Rocco., p. 11). O uso do termo ‘moderno’ para adjetivar a família leitora de Pais & Filhos indica que tal paradigma se manteve presente, com legitimidade, no período de circulação da revista. Contudo, tal conjunto de procedimentos e hábitos passou por descontinuidades.

Conforme investigação realizada por Cristiane Assunção, Raquel Assis e Regina Campos (2012Assunção, C. Q. S., Assis, R. M., & Campos, R. H. F. (2012). A educação moderna dos corpos infantis: um estudo das representações sociais da infância na revista Pais & Filhos (1968-1977). In: E. Lourenço, R. M. Assis, & R. H. F. Campos (Orgs.), História da psicologia e contexto sociocultural: pesquisas contemporâneas, novas abordagens (p. 301-316). Belo Horizonte, MG: Ed. PUC Minas.), o termo ‘moderno’ foi identificado em periódicos que circularam nas décadas anteriores aos anos 1960. No entanto, em Pais & Filhos, o termo assumiu o duplo sentido de articular tecnologia e inovação na saúde e na educação, por meio da divulgação e valorização das conquistas da ciência e da tecnologia, como, por exemplo, a aparelhagem para novos exames, as conquistas da genética e obstetrícia. Por outo lado, as autoras identificaram que “[...] todo um ideal civilizatório também era veiculado através dos saberes científicos e das práticas que visavam à educação dos corpos das crianças, como a medicina, a higiene, a moda e a psicologia” (Assunção et al., 2012Assunção, C. Q. S., Assis, R. M., & Campos, R. H. F. (2012). A educação moderna dos corpos infantis: um estudo das representações sociais da infância na revista Pais & Filhos (1968-1977). In: E. Lourenço, R. M. Assis, & R. H. F. Campos (Orgs.), História da psicologia e contexto sociocultural: pesquisas contemporâneas, novas abordagens (p. 301-316). Belo Horizonte, MG: Ed. PUC Minas., p. 311).

Dentre as motivações para a criação de Pais & Filhos, em 1968,estava o interesse em discutir aspectos relacionados à vida familiar, associado à inserção em um nicho comercial caracterizado pela equipe editorial da revista como ainda pouco explorado: a imprensa dedicada especificamente à família.

Em 1968, o mundo era diferente. Pela primeira vez, discutia-se publicamente temas como sexo. O nascimento deixava de ser um mistério e as crianças passavam a ser encaradas como seres especiais, carentes de cuidados e atenções. PAIS & FILHOS surgiu nessa época, com a proposta de enriquecer a discussão, abrir espaços, iluminar o que ainda estava obscuro. A primeira revista brasileira inteiramente dedicada à família. PAIS & FILHOS é mais que uma revista, é um dicionário para os pais (Pais & Filhos, 1981Pais & Filhos. (1981, agosto) Rio de Janeiro, RJ: Bloch Editores., p. 47).

No trecho em questão, mereceu registro a dita originalidade do lançamento de uma ‘revista brasileira inteiramente dedicada à família’ em 1968, publicação dotada de forte viés educativo, em que se valorizava seu aspecto cultural e social de disseminação de valores, saberes e discursos em prol da modelagem das famílias. O discurso de pioneirismo da revista, nesses termos, serviu de dispositivo de credenciamento e de instauração de um marco inaugural para a mesma. No entanto, considerando-se o cenário da imprensa periódica nacional, esse marco precisa ser relativizado, visto que se identificam periódicos de proposta semelhante em períodos anteriores5 5 Entre 1879 e 1888, por exemplo, foi publicado no Rio de Janeiro Mãi de Família - Jornal Scientifico, Litterario e Illustrado, produzido pelo médico Carlos Costa. Nele, veiculavam-se matérias de cunho ético-normativo nas quais a aparente centralidade da criança era acionada para permitir a emergência da atuação materna da mulher (Giacomini, 1985). Outro caso ilustrativo é a revista Vida Doméstica, lançada em março de 1920, que também tratou de assuntos relacionados à vida do lar e ao cuidado dos filhos até seu encerramento, em 1963 (Santos, 2011). .

As publicações voltadas para as famílias podem ser nomeadas como parte da imprensa parental, apropriação feita do termo francês empregado para caracterizar as revistas de educação familiar. Ainda que distinta da imprensa educacional correntemente considerada especializada, porque voltada para o campo profissional (Catani & Bastos, 2002Catani, D. B., & Bastos, M. H. C. (2002). Educação em revista: a imprensa pedagógica e a história da educação. São Paulo, SP: Escrituras Editora.), pode-se dizer que Pais & Filhos se considerava ‘especializada’ nos assuntos relacionados à família, pois sua equipe afirmava como missão editorial

Informar, prestar serviços, ajudar a formar opiniões. A partir do momento de seu planejamento, há vinte anos, PAIS & FILHOS teve consciência de uma atuação extremamente responsabilizada. Em vez de ser abrangente, como a maioria das revistas femininas, ela teria alvo certo: a família, gerações e criação dos filhos, educação e formação (Pais & Filhos, 1986Pais & Filhos. (1986, setembro). Rio de Janeiro, RJ: Bloch Editores., p. 64).

É evidente a contraposição estabelecida em relação às revistas femininas existentes, caracterizadas pelo caráter abrangente, e a revista Pais & Filhos, cujo elemento distintivo consiste no foco específico em assuntos relacionados à criação e à educação dos filhos, com o objetivo de ser um guia, uma referência. O periódico em questão não poderia ser caracterizado como uma revista tipicamente feminina, pois também era dirigida e lida por homens.

A imprensa parental emerge, então, como participante da imprensa educacional, aspecto justificado pela intenção de informar sobre os debates em voga na sociedade da época e por seu caráter difuso e público, na medida em que não se dirige apenas aos profissionais de educação, e sim à população em geral.

Nessa direção, com Ana Lúcia Fernandes, compreende-se a imprensa educacional na condição de material relevante no que diz respeito à história da produção e da difusão de conhecimentos em educação, “[...] por se constituir em espaço privilegiado de divulgação de teorias e de práticas educativas, além de fornecer pistas sobre a circulação de ideias e modelos educativos” (Fernandes, 2008Fernandes, A. L. C. (2008). O impresso e a circulação de saberes pedagógicos: apontamentos sobre a imprensa pedagógica na história da educação. In: A. M. B. M. Magaldi & L. N. Xavier (Orgs.), Impressos e história da educação: usos e destinos (p. 15-29). Rio de Janeiro, RJ: 7letras., p. 15).

Convém ressaltar que a proposta editorial de Pais & Filhos também não era original no âmbito internacional, na medida em que o seu lançamento foi contemporâneo ao de publicações do mesmo gênero nos Estados Unidos, na França e na Itália.

Há 20 anos era muito diferente. Lembro que, quando começamos a fazer a PAIS & FILHOS, ficamos perguntando para nós mesmos se o Brasil estava pronto para uma revista que falasse de amor, casamento, embrião, feto, bebê, adolescente, escola, educação sexual, psicologia, universo familiar. Havia revistas americanas, francesas e italianas que podiam ter servido de modelo, de ponto de partida, mas deixamos tudo de lado e nasceu uma revista nossa, Brasil, universal, uma coisa muito séria em matéria de jornalismo sadio, útil, formador, revolucionário mesmo. Digo isso porque ousamos, destruímos tabus, ajudamos a solucionar problemas em todos os níveis (Pais & Filhos, 1987Pais & Filhos. (1987, setembro). Rio de Janeiro, RJ: Bloch Editores., p. 55).

José Itamar de Freitas comentou, no excerto em destaque, que o caráter inovador e revolucionário desse tipo de jornalismo, em relação às publicações de outros países, expressava-se pela abordagem de temas considerados tabus na sociedade brasileira que experimentava mudanças políticas, sociais e culturais, mobilizadas, por exemplo, pela luta pela emancipação das mulheres e pelo movimento estudantil.

Maria Celeste Mira (1997Mira, M. C. (1997). O leitor e a banca de jornais:o caso da Editora Abril (Tese Doutorado em Filosofia e Ciências Humanas). Universidade Estadual de Campinas, Campinas.), por sua vez, sinalizou que a preocupação de produzir um periódico que refletisse a identidade nacional era uma questão forte na imprensa dos anos 1960-1970, neste caso, que falasse para a família brasileira desse período. Nesse contexto, muitas revistas se inspiraram em modelos estrangeiros, procurando abrasileirar suas fórmulas, o que também contribuiu para a profissionalização do mercado jornalístico.

Que revistas eram essas que pretendiam ser ‘um dicionário para os pais’ e serviram de modelo para Pais & Filhos? Como elas se articulam ao campo da educação? Cabe indagar, pois, a forma de inserção de Pais & Filhos nesta cadeia discursiva de outros impressos de circulação internacional, que compartilham do modelo de revista para as famílias.

No artigo ‘O nascimento de Pais & Filhos’, publicado na edição comemorativa aos 40 anos da revista, o jornalista Moacir Japiassu6 6 Moacir Japiassu (1942-2015) foi redator-chefe de Pais & Filhos de 1968 a 1970. Trabalhou em outros impressos como Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Veja e Isto É. Também atuou na televisão, como editor-chefe do ‘Fantástico’ (Rede Globo) e no ‘Jornal da Tarde’ (Bandeirantes). Criou o prêmio de jornalismo Líbero Badaró. Desde 1968, foi casado com Márcia Lobo, jornalista que também atuou em Pais & Filhos. , primeiro redator-chefe da revista, indicou que a Bloch Editores estabeleceu um acordo com o grupo alemão de comunicação Gruner+Jahr (G+J), a fim de “[...] garantir a exclusividade dos direitos de utilização de textos e fotos da conceituadíssima Eltern, referência em saúde e educação infantil” (Pais & Filhos, 2008, p. 14)Pais & Filhos. (2008, agosto). São Paulo, SP: Editora Manchete.. Convém destacar que a referência à revista alemã foi verificada na identificação de testes, reportagens, desenhos e fotografias publicados em Pais & Filhos.

Eltern (Pais, em alemão) foi lançada pela G+Jem outubro de 1966 e apresentava, em sua capa (Rosenkranz, B. (2018Rosenkranz, B. (2018). 1966, nach der Geburt: Die Zeitschrift „Eltern“. Recuperado de:https://uebermedien.de/21572/zeitschrift-eltern-ist-nun-ein-kaufmannsladen/zeitschrift-eltern-1966/
https://uebermedien.de/21572/zeitschrift...
), o seguinte subtítulo: Die Zeitschrift für schönsten Jahre des Lebens (A revista para os mais belos anos de vida). Em 2016, comemorou-se o aniversário de 50 anos deste lançamento em seu site (Revista Eltern, 2018Eltern. (2018). Recuperado de:http://www.eltern.de/
http://www.eltern.de/...
), no qual se veicularam matérias históricas a respeito de temas como contracepção, parto, educação dos filhos, influência das mídias no comportamento infantil, mudanças nas vivências de paternidade e até mesmo sobre a escolha do sexo do bebê. Pela semelhança temática observada e a sincronia temporal em relação ao período de lançamento da revista, Eltern é aqui considerada uma das inspirações da equipe editorial de Pais & Filhos.

A companhia G+Jse apresenta, atualmente, como o maior conglomerado de impressão e publicação da Europa, sendo responsável por Eltern e outros periódicos alemães como Stern (revista semanal de notícias fundada em 1948), Brigitte (revista feminina lançada em 1954) e Capital (publicação sobre negócios criada em 1962). Na Espanha, por exemplo, a empresa publica Ser Padres, revista também dirigida à família e lançada em 1975.

A partir da afirmação proferida por José Itamar de Freitas de que ‘revistas americanas e francesas’ serviram de modelo para a equipe editorial de Pais & Filhos (Pais & Filhos, 1978, p. 85), buscou-se verificar a existência desse tipo de publicação nos respectivos países. Em sua investigação sobre a história das revistas americanas, Frank Mott (1938Mott, F. L. (1938). A history of American Magazines (Vol. II: 1850-1865). Cambridge, MA: Havard University Press.) identificou ‘revistas para a mulher e a casa’ - home magazines, no cenário norte-americano a partir de 1850.

Inicialmente, o tema da ‘casa’ aparecia em periódicos de cunho mais geral, até que se notou a emergência de um tipo específico de publicação que tratava da vida doméstica, do cuidado da casa e da educação dos filhos. Em relação aos exemplos inventariados por Mott na imprensa do século XIX, como Journal and Family Visitant (1836) e The Family Newspaper (1855), observou-se que a mulher era a principal destinatária dos discursos sobre e para a família.

De modo crescente, também se constatou a presença de discursos sobre a infância, considerada a etapa da vida que requer cuidados especiais, nessas revistas. As publicações foram, então, caracterizadas como espaços de popularização de saberes, cuja divulgação deveria ser controlada e organizada por instâncias especializadas (Schlossman, 1985Schlossman, S. (1985). Perils of popularization: the founding of “Parents” magazine. Monographs of the Society for Research in Child Development, 50(4/5), 65-77.).

Para Steven Schlossman, os anos 1920 e 1930 foram marcantes no que diz respeito ao investimento e desenvolvimento de políticas e ações em torno do desenvolvimento infantil e escolarização nos EUA. Nesse período, identificaram-se a relação estabelecida entre os estudos acadêmicos sobre a infância, a mobilização social em torno do tema e o suporte financeiro dispendido pela Fundação Laura Spelman Rockefeller Memorial(LSRM). A instituição investiu em pesquisas científicas sobre a infância, compreendendo a importância de alcançar o âmbito familiar, educando as mães.

Visando a cumprir esse intento, a fundação decidiu subsidiar um periódico de circulação em massa (mass circulation periodical), lançado em outubro de 1926 com o título de Children, a Magazine for Parents. George J. Hecht foi seu editor nesses anos iniciais e contou com equipe formada por diretores de instituições de pesquisa, de universidades e associações. Em 1929, a publicação passou a ser denominada de The Parents Magazine, uma versão mais ampliada do título atual Parents.

Tomando-se como exemplo a edição veiculada em 1928, lê-se o seguinte slogan contido na parte inferior de sua capa (1928 Children Magazine..., 20181928 Children Magazine Cover ~ Boy With Apple, Vintage Magazine Covers. (2018). Recuperado de:https://br.pinterest.com/pin/519743613226522055/
https://br.pinterest.com/pin/51974361322...
, tradução nossa)7 7 “[...] modern youth need modern parents”. “[...] jovens modernos precisam de pais modernos”. Com base nesse tipo de texto, a concepção de família moderna também é constatada em Parents e pode ser relacionada ao primeiro slogan de Pais & Filhos, no qual se apresentava aos leitores como ‘a revista mensal da família moderna’.

Schlossman mostrou também que, durante os anos de 1930 e 1940, Parents foi aclamada como o periódico educacional mais popular no mundo, sendo a única revista comercial cuja circulação se manteve forte durante o período após a Segunda Guerra. O pesquisador fez referência ao depoimento de George Hecht sobre a importância que dava à proposta de se educar a criança por meio da educação da família.

Para Hecht, a revista exerceria a função de levar conhecimentos de psicologia infantil aos leitores de forma mais direta, em linguagem acessível, o que não existia à época. Segundo o editor, “[...] as mães contavam com livros de linguagem difícil, não ilustrados, que não atraiam os leitores e faziam com que desistissem da leitura”. Nesse sentido, Parents foi lançada com a intenção de disseminar conhecimentos sobre psicologia infantil, concomitante à necessidade de cativar o público-leitor, com artigos de fácil leitura e repleto de imagens, características também identificadas em Pais & Filhos.

Até 1978, a revista era propriedade de Hecht, quando foi vendida para o grupo Gruner+Jahr, que desde 1966 já publicava a revista alemã Eltern. Em 2005, Parents foi adquirida pela Meredith Corporation, conglomerado de mídia americano, fundado em 1902 por Edwin T. Meredith. A empresa é reconhecida como uma das maiores companhias de publicação de revistas do mundo, administrando uma cartela variada de publicações, como Parents, Fortune (revista de negócios), Time (publicação de notícias e atualidades), People (periódico de celebridades), dentre outras. Meredith Corp. também publica Ser Padres, revistadirigida aos pais hispânicos dos Estados Unidos, criada em 1990 (Meredith: our mission., 2018Meredith: our mission. (2018). Recuperado de:http://www.meredith.com/about-us/our-mission
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).

Em 2008, a editora Manchete estabeleceu parceria com a Meredith Corporation, que dura até os dias atuais, e cuja negociação resultou no direito de reproduzir, em Pais & Filhos, matérias produzidas pela revista Parents.

A partir deste mês, passamos a deter, com exclusividade no Brasil, o direito de reproduzir reportagens, colunas e seções da revista norte-americana Parents, líder de mercado, com mais de 2,2 milhões de exemplares vendidos mensalmente. Com conteúdo dedicado a saúde e desenvolvimento da criança, comportamento, finanças familiares, alimentação, tecnologia, entre outros assuntos de interesse dos pais. Parents é uma referência fundamental para quem quer informação de qualidade e em primeira mão para ajudar a cuidar melhor dos filhos do seu próprio jeito (Pais & Filhos, 2008Pais & Filhos. (2008, agosto). São Paulo, SP: Editora Manchete., p. 12).

De acordo com o Top 100 U.S. Magazines by Circulation (2016Top 100 U.S. Magazines by Circulation. (2016). Recuperado de: http://www.psaresearch.com/images/TOPMAGAZINES.pdf
http://www.psaresearch.com/images/TOPMAG...
), em 2016 a revista Parents ocupava o 28º lugar do ranking de periódicos norte-americanos, com 2.202.324 exemplares vendidos. A publicação permanece tratando de questões como saúde, educação, disciplina e nutrição das crianças.

De acordo com o conteúdo pesquisado em 2018 na seção ‘Quem somos’, do siteoficial da publicação (https://www.parents.com/), o sloganentão empregado é‘Crianças saudáveis, famílias felizes’ (Parents (EUA), 2018Parents (EUA). (2018) Recuperado de:http://www.parents.com
http://www.parents.com...
)8 8 Optou-se por apresentar as citações diretas das publicações estrangeiras na língua portuguesa. .Tal fato sugere a permanência do lugar que a criança possui nesse tipo de periódico, que mantém o objetivo de ajudar as famílias a ‘navegar pelas águas turbulentas da paternidade e da maternidade’, trazendo em suas páginas ‘conselhos inteligentes, senso de humor e sentimento de comunidade de partilha de experiências’, especialmente pelo fato de disponibilizar seu conteúdo em redes sociais, como Facebook, Pinterest e Google+.

Em suma, a revista americana Parents é uma das publicações mais antigas voltada aos pais, detentora de lugar de destaque na imprensa internacional. Estima-se, portanto, que serviu de modelo para revistas de outros países, inclusive do Brasil. Em acréscimo, verificou-se que, desde 2008, Pais & Filhos passou a publicar em suas páginas matérias produzidas pela equipe editorial de Parents.

Com vistas ao levantamento de publicações francesas que possuíssem viés educativo e se dirigissem às famílias como Pais & Filhos, foi relevante a leitura do inventário de imprensa pedagógica e educativa na França,organizado por Pierre Caspard e Pénélope Caspard Karydis,pertinente ao período de 1940 a 1990 (Caspard-Karydis, 2000Caspard-Karydis, P. (2000). La Presse d'éducation et d'enseignement:1941-1990 (Répertoire analytique, 4 Vol. ). Paris, FR: Institut National de Recherche Pédagogique.).

Os autores arrolaram as seguintes categorias de periódicos: a) movimentos sociais no pós-guerra; b) ligados a movimentos e associações juvenis, laicas ou cristãs; c) escolares, em torno dos sistemas escolares e movimentos educativos; d) revistas dedicadas à educação e ensino fora do âmbito público. Convém ressaltar este último grupo, em que se fez referência a “[...] todas revistas lançadas com o objetivo de ajudar, formar, orientar os pais, alunos, estudantes e adultos” (Caspard-Karydis, 2000Caspard-Karydis, P. (2000). La Presse d'éducation et d'enseignement:1941-1990 (Répertoire analytique, 4 Vol. ). Paris, FR: Institut National de Recherche Pédagogique., p. 4).

Neste grupo, destacaram-se as revistas de educação familiar9 9 No caso francês, outras nomenclaturas para conceituar esse tipo de imprensa foram levantadas, a saber: presse parentale (termo empregado pelo www.google.fr)e presse de la famille (termo veiculado no portal da Alliance Pour les Chiffres de la Presse et des Médias(2019)). , destinadas prioritariamente às mães de família, mas também dirigidas aos pais. As publicações dessa categoria tinham como assunto principal a abordagem relacionada à educação física e à moral das crianças. Como temas secundários, foram listados a escolha da escola, da carreira profissional, o desenvolvimento infantil com base psicológica, o comportamento e as atitudes das crianças. Na apresentação do repertório, foram citadas como exemplos Enfants Magazine e Parents, que circulam até os dias de hoje.

De acordo com o verbete disponível na base online do Instituto Francês de Educação (Institut Français de L'éducation, 2018Institut Français de L'éducation. (2016). Parents Magazine. Recuperado de: http://www.inrp.fr/presse-education/revue.php?ide_rev=1316&LIMIT_OUVR=0,10
http://www.inrp.fr/presse-education/revu...
), que armazena os dados levantados na pesquisa francesa, em setembro de 1976 foi lançada Enfants Magazine - Le Mensuel Pratique des Parents, cuja livre tradução pode ser ‘Crianças - revista mensal prática para pais’10 10 No catálogo da Biblioteca Nacional da França, consta que Enfant Magazine era publicada em Paris pelo Groupe Média, circulando de setembro de 1976 a fevereiro de 2014 (Institut Français de L'éducation, 2018b). . As principais palavras-chave da publicação e identificadas na pesquisa são a) educação familiar e social; b) educação geral; c) infância e adolescência; d) pais.

No editorial de lançamento da revista, cuja primeira diretora foi Élisabeth Lefebvre, indicou-se a intenção de ser uma revista familiar que discutisse os problemas da educação, perspectiva semelhante à observada em Pais & Filhos, Eltern e na Parents norte-americana. Outro ponto marcante diz respeito ao interesse de apresentar informações úteis aos pais, isto é, ensinamentos concretos, baseados em experiências cotidianas, em que se pretendia romper com o ‘autoritarismo de anteontem e a permissividade de ontem’.

De forma específica, seu conteúdo tratava de a) questões de atualidade escolar e cultural; b) enquetes e debates sobre educação; c) apresentação de métodos pedagógicos e o ensino de língua estrangeira nas classes primárias; d) brincadeiras, jogos, passatempos, produtos culturais e esportes para as crianças; e) conselhos sobre alimentação; f) dossiês sobre o papel dos pais, dos avós e os direitos da criança; g) publicação de testemunhos de mães e pais sobre o cuidado e educação dos filhos; h) moda e decoração; i) conselhos médicos e psicológicos; j) correio de leitores; k) publicidade.

Parents, por sua vez,foi lançada em maio de 1969, tendo como subtítulo le magazine des plus belles années de la vie, cuja tradução remete à frase veiculada na capa da revista alemã Eltern: ‘a revista dos mais belos anos da vida’. Em circulação até os dias atuais, desde 1969 é produzida em Paris pela Union de publications et d'éditions modernes ou Uni Editions.

No repertório de pesquisa de Pierre Caspard e Pénélope Caspard-Karydis, as principais palavras-chave identificadas para a revista foram a) educação familiar e social; b) maternidade e paternidade: c) família; d) medicina familiar. O editorial de lançamento de Parents indicou que seu público-alvo eram pais e mães entre 20 e 40 anos, que viviam as primeiras experiências de paternidade e maternidade.

Em relação aos conteúdos em suas páginas, foram listados, respectivamente,

a) biografia de intelectuais do campo da psicologia e educação (Sigmund Freud, Maria Montessori, John Dewey, Jean Piaget), atletas e crianças famosas;

b) informações sobre escola maternal, orientação sobre a escolha da escola, indicação de instituições, calendário de férias escolares, legislação escolar francesa;

c) guia de saúde, alimentação, higiene e beleza;

d) enquetes e reportagens sobre educação escolar (creches, alimentação das escolas, disciplina), sexualidade (virgindade, paternidade e maternidade juvenil, sexo no casamento, entre outros);

e) artigos sobre adolescência, considerada a ‘nova geração’, contemplando aspectos como sua educação, escolha profissional, afetividade, sexualidade e comportamento;

f) matérias e seções específicas sobre fertilidade, gravidez, parto e cuidado do recém-nascido, mães solteiras e participação paterna;

g) testes;

h) bibliografia, discografia, jogos e brinquedos; humor e passatempos; anúncios e endereços úteis.

Seus objetivos muito se aproximavam daqueles expressos pelos editores de Pais & Filhos, “[...] de ser uma revista que, a cada mês, se esforçará para responder as muitas questões lançadas pelos pais sobre a educação de seus filhos, ajudando-os na tarefa diária de pai e mãe”11 11 “Chaque mois, notre magazine s’efforcera de répondre aux mille questions que leur pose l’éducation de leurs enfants. Il les aidera dans leur tâche quotidienne de père et de mère” (Institut Français de L'éducation, 2018b). . Segundo seu primeiro editor,René Cartier, a função social desse tipo de revista se impunha a todos os países modernos, onde os progressos da civilização transcorreram muito rapidamente, gerando um sentimento de instabilidade e desorientação em pais e filhos. Os conhecimentos sobre a infância e sua educaçãodeveriam, então, ser transmitidos aos pais a fim de contribuir para a formação de adultos felizes e responsáveis. Assim como em Pais & Filhos, a equipe editorial de Parents era formada por jornalistas e especialistas da infância, psicólogos, psicanalistas e médicos, que ajudariam as famílias com seus conselhos e experiências.

Em matéria relacionada à história da publicação12 12 Conferir site oficial da revista: Parents (França) (2018). , encontrou-se interessante indício da circulação de conteúdos entre ambas as revistas voltadas para a família: a revista francesa utilizou em seu primeiro exemplar a imagem do bebê segurando uma corda (Figura 2), fotografia também empregada na edição de lançamento da Pais & Filhos brasileira, conforme já discutido anteriormente.

Figura 2
Imagem do bebê segurando uma corda, veiculada em Parents.

Fonte: Parents (2018Parents. (2018). Recuperado de:http://www.parents.fr/Best-of-Mag/Famille/Parents-vintage
http://www.parents.fr/Best-of-Mag/Famill...
).

Atualmente, o conteúdo de Parents é disponibilizado no formato impresso, em seu site e em redes sociais como Facebook, cuja apresentação define a revista como líder da imprensa parental, que trata do ‘futuro dos jovens pais que experimentam a maternidade e a paternidade’,abordando assuntos como gravidez, saúde, comportamento e sociedade. Em linhas gerais, as informações relativas à publicação francesa permitem associá-la como uma das revistas lançadas no mesmo período de Pais & Filhos, que tinham a família como eixo central e cujos discursos se ancoravam em uma abordagem especializada de seus temas.

Em relação ao contexto brasileiro de revistas dedicadas à temática familiar, interessou verificar a existência de outros periódicos em circulação, relacionados à criança e à família. Com essa finalidade, empreendeu-se a pesquisa na base de dados da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), especificamente na categoria ‘periódico’, utilizando-se as palavras-chave ‘pais’, ‘filhos’ e ‘família’. O Quadro 1,a seguir, apresenta as informações levantadas a esse respeito.

Quadro 1
Publicações brasileiras dirigidas às famílias catalogadas na FBN.

Fonte: Sophia Biblioteca (2018Sophia Biblioteca. (2018). Base de dados online da Fundação Biblioteca Nacional. Recuperado de: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/manchetehttp://acervo.bn.br/sophia_web/index.html
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionari...
).

Criança: Revista Para os Pais, lançada em 1937 na cidade do Rio de Janeiro, é a publicação mais antiga registrada na base de dados da FBN e com clara destinação aos pais leitores. De acordo com o catálogo da biblioteca, tratava-se de um ‘Mensario de puericultura, educação e vida escolar, psicologia, literatura, teatro, cinema, desenho e vestuário infantis’.

No exame do catálogo de periódicos da FBN, Pais & Filhos foi identificada como a publicação que conta com a coleção de maior longevidade, contemplando o período de 1968 a 2010. A revista que ocupa a segunda posição em relação à série temporal disponível é Crescer em Família, lançada pela Editora Globo, cuja coleção agrega exemplares de 1993 a 2016. Em acréscimo, no que diz respeito à origem geográfica de publicação das revistas, constata-se a predominância das cidades de São Paulo, com dez títulos, e Rio de Janeiro, com quatro revistas.

Os dados levantados na FBN sugerem que Pais & Filhos atuou no mercado de forma predominante até 1979, quando a Editora Abril lançou Cláudia Filhos. Nos anos 1980, especificamente, a revista já disputava espaço com produtos como Pais Modernos e Bebê a Bordo. Contudo, nas palavras dos editores e Pais & Filhos, tal concorrência não causava temor, já que se consideravam ‘pioneiros’ na imprensa do gênero.

Estamos vivendo o 14º ano de mais um desafio: informar um público que já conta com um número extenso de produções no gênero e nos sentimos orgulhosos dessa concorrência. Isso significa que a semente que plantamos frutificou. Uma semente que foi lançada porque acreditamos que o cotidiano está cheio de acontecimentos fantásticos. Fatos aparentemente comuns como gestação, o parto e o crescimento de uma criança, são, na verdade, notícias mais sensacionais do que imaginamos (Pais & Filhos, 1981Pais & Filhos. (1981, agosto) Rio de Janeiro, RJ: Bloch Editores., p. 50).

Ao longo da década de 1990, outras publicações foram lançadas, destacando-se Crescer, da Editora Globo. A partir dos relatórios auditoriais fornecidos pelo Instituto de Verificação de Circulação (IVC)13 13 O IVC foi criado, no Brasil, em 1961 e é responsável pela auditoria de circulação de jornais e revistas no mercado nacional. Os relatórios auditoriais de Pais & Filhos e Crescer foram obtidos por meio de solicitação feita por e-mail ao Instituto. , Crescer é a principal concorrente de Pais & Filhos. A título de ilustração, em 2015 Crescer ocupava o primeiro lugar nas vendas do setor ‘bebê’, com aproximadamente 50.000 exemplares vendidos, contra cerca de 15.000 de Pais & Filhos.

Em linhas gerais, no cenário de modernização da imprensa no Brasil, ressalta-se que Pais & Filhos ocupou um lugar de destaque desde sua criação, em que serviu de exemplo da segmentação experimentada no mercado editorial dos anos 1960-1970. Por outro lado, a análise desse periódico permitiu verificar a apropriação e o diálogo estabelecidos pela editora brasileira em relação à imprensa transnacional dedicada à temática da criança e da família.

Considerações finais

O ponto de partida deste artigo foi a compreensão de revista como bem cultural, espaço de discussão, de disputas, de circulação de saberes e perspectivas educativas. Como um dos lançamentos da imprensa periódica dos anos 1960/1970, Pais & Filhos teve sua história permeada pelo contexto de transformações sociais, políticas e econômicas vivenciadas no Brasil.

Tratou-se também de um momento de intensas mudanças na indústria do impresso e, conforme verificado na pesquisa empreendida, a concepção de ‘uma revista para a família’ articulou-se à constituição de sua produtora, a Bloch Editores, à trajetória de vida de seu idealizador, Adolfo Bloch, e às relações estabelecidas com o contexto social mais amplo.

Pais & Filhos integrou um conjunto de produtos que compôs o negócio da família Bloch. No exame da história dessa empresa, formada por ‘tios e sobrinhos’, as conquistas materiais e financeiras obtidas associaram-se aos lucros imateriais pertinentes ao papel ocupado pela editora na difusão de determinadas representações de mundo social aos seus leitores.

Na análise de Pais & Filhos, Eltern, Parents EUA e Parents França foi possível perceber como a instituição familiar foi alvo de uma série de discursos educativos, produzidos por seus editores e consultores especializados (psicólogos, pedagogos e médicos), que visavam à formação da ‘criança feliz’ e da ‘família moderna’, na qual homens e mulheres eram chamados a exercer a paternidade e a maternidade, de forma prática e consciente.

Nessa perspectiva, acredita-se que o estudo de Pais & Filhos e sua articulação com a imprensa transnacional para a família contribuem para o campo de estudos da história da educação que tem a imprensa periódica como fonte e objeto de pesquisa e que, de modo específico, tem as revistas de ampla circulação social como um espaço educativo nãoformal por excelência.

Referencias

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  • 1
    Off-set é um sistema de impressão indireta, no qual o papel não entra em contato com a matriz. Esta é instalada em cilindros da impressora que, ao invés de imprimir diretamente sobre o papel, transfere a imagem para um outro cilindro revestido de borracha (Offset rotativas, 2018Offset rotativas. (2018). Recuperado de: http://grafica.abril.com.br/offset_rotativas.php
    http://grafica.abril.com.br/offset_rotat...
    ).
  • 2
    Rotogravura é um processo de impressão em que a imagem fica em um baixo relevo em relação à superfície do cilindro da matriz, em cobre perfeitamente uniforme. A gravação das células que formam as imagens no cilindro é obtida por meio de processo eletromecânico (Impressão rotogravura, 2018Impressão rotogravura. (2018). Recuperado de:http://grafica.abril.com.br/rotogravura.php
    http://grafica.abril.com.br/rotogravura....
    ).
  • 3
    A revista de variedades O Cruzeiro circulou de 1928 a 1975, alcançando números expressivos de vendas nas décadas de 1940 e 1950. Para maiores informações a respeito da publicação, conferir o site Memória Viva (O Cruzeiro, 2018O Cruzeiro. (2018). Recuperado de:http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/
    http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/...
    ).
  • 4
    O jornalista começou sua carreira na Bloch Editores pela revista Fatos & Fotos, onde ganhou o ‘Prêmio Esso’ de 1965. De 1968 a 1972, foi diretor de Pais & Filhos. Em 1973, ingressou na Rede Globo de Televisão na direção do programa ‘Fantástico’, em que atuou profissionalmente até 1994. Não foi possível obter informações a respeito sua vida atual.
  • 5
    Entre 1879 e 1888, por exemplo, foi publicado no Rio de Janeiro Mãi de Família - Jornal Scientifico, Litterario e Illustrado, produzido pelo médico Carlos Costa. Nele, veiculavam-se matérias de cunho ético-normativo nas quais a aparente centralidade da criança era acionada para permitir a emergência da atuação materna da mulher (Giacomini, 1985Giacomini, S. M. (1985). A conversão da mulher me mãe: uma leitura do “A Mãi de Família”. Revista Brasileira de Estudos de População, 71-98. Recuperado de:https://www.rebep.org.br/revista/article/view/620/pdf_592
    https://www.rebep.org.br/revista/article...
    ). Outro caso ilustrativo é a revista Vida Doméstica, lançada em março de 1920, que também tratou de assuntos relacionados à vida do lar e ao cuidado dos filhos até seu encerramento, em 1963 (Santos, 2011Santos, L. P. B. S. (2011). Mulheres e revistas:a dimensão educativa dos periódicos femininos Jornal das Moças, Querida e Vida Doméstica nos anos 1950 (Dissertação Mestrado em Educação). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.).
  • 6
    Moacir Japiassu (1942-2015) foi redator-chefe de Pais & Filhos de 1968 a 1970. Trabalhou em outros impressos como Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Veja e Isto É. Também atuou na televisão, como editor-chefe do ‘Fantástico’ (Rede Globo) e no ‘Jornal da Tarde’ (Bandeirantes). Criou o prêmio de jornalismo Líbero Badaró. Desde 1968, foi casado com Márcia Lobo, jornalista que também atuou em Pais & Filhos.
  • 7
    “[...] modern youth need modern parents”.
  • 8
    Optou-se por apresentar as citações diretas das publicações estrangeiras na língua portuguesa.
  • 9
    No caso francês, outras nomenclaturas para conceituar esse tipo de imprensa foram levantadas, a saber: presse parentale (termo empregado pelo www.google.fr)e presse de la famille (termo veiculado no portal da Alliance Pour les Chiffres de la Presse et des Médias(2019Alliance Pour les Chiffres de la Presse et des Médias. (2019). Recuperado de: http://www.acpm.fr/L-observatoire/Presse-Payante-Grand-Public/family
    http://www.acpm.fr/L-observatoire/Presse...
    )).
  • 10
    No catálogo da Biblioteca Nacional da França, consta que Enfant Magazine era publicada em Paris pelo Groupe Média, circulando de setembro de 1976 a fevereiro de 2014 (Institut Français de L'éducation, 2018b">Institut Français de L'éducation. (2018). Enfant Magazine. Recuperado de: http://www.inrp.fr/presse-education/revue.php?ide_rev=1079&LIMIT_OUVR=0,10
    http://www.inrp.fr/presse-education/revu...
    ).
  • 11
    “Chaque mois, notre magazine s’efforcera de répondre aux mille questions que leur pose l’éducation de leurs enfants. Il les aidera dans leur tâche quotidienne de père et de mère” (Institut Français de L'éducation, 2018bInstitut Français de L'éducation. (2018). Recuperado de:http://www.inrp.fr/presse-education/
    http://www.inrp.fr/presse-education/...
    ).
  • 12
    Conferir site oficial da revista: Parents (França) (2018Parents (França). (2018). Recuperado de: http://www.parents.fr
    http://www.parents.fr...
    ).
  • 13
    O IVC foi criado, no Brasil, em 1961 e é responsável pela auditoria de circulação de jornais e revistas no mercado nacional. Os relatórios auditoriais de Pais & Filhos e Crescer foram obtidos por meio de solicitação feita por e-mail ao Instituto.
  • 15
    Como citar este artigo: Santos, L. P. B. dos.“Mais que uma revista, um dicionário para os pais”: a revista Pais & Filhos e a imprensa transnacional para a família. (2019). Revista Brasileira de História da Educação, 19. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v19.2019.e079
  • 16
    Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4).

Disponibilidade de dados

Citações de dados

FGV dados. (2016, maio). Salário mínimo: valores históricos Recuperado de:http://portalibre.fgv.br

Sophia Biblioteca. (2018). Base de dados online da Fundação Biblioteca Nacional. Recuperado de: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/manchetehttp://acervo.bn.br/sophia_web/index.html

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    31 Jan 2019
  • Aceito
    16 Jul 2019
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