Acessibilidade / Reportar erro

Ni una menos: a luta pelos direitos das mulheres na Argentina e suas representações no Facebook

Ni una menos: The Struggle for Women’s Rights in Argentina and Its Representations on Facebook

RESUMO

O coletivo Ni una menos iniciou sua formação em março de 2015 e tem atuado fortemente junto à sociedade argentina, reivindicando a promoção de políticas públicas (leis, projetos, destino de verbas públicas) que promovam uma maior igualdade de gênero e de preservação do bem-estar das mulheres argentinas. Neste artigo, pretendemos analisar os comentários realizados na página oficial do movimento no Facebook postados dois dias antes e dois dias depois da grande e primeira manifestação do movimento, que aconteceu no dia 3 de junho de 2015. Para tanto, utilizamos a Linguística do Corpus (SINCLAIR, 1991) e a Linguística Sistêmico-Funcional (HALLIDAY, 1991) como método e teoria que nos permitem vislumbrar aspectos linguísticos que denotam posicionamentos ideológicos, sociais e políticos. Nesse sentido, pela análise do corpus coletado, pode-se perceber como se deu a construção das principais bandeiras do coletivo e as escolhas realizadas como um reflexo da ação dos diversos agentes sociais envolvidos e ativos no processo. O espaço aberto para manifestações e ideias no ambiente de mídias sociais de Ni una menos configurou tal coletivo como um lugar para discussão plural sobre políticas sociais da Argentina.

PALAVRAS-CHAVE:
Linguística-Sistêmico Funcional; Linguística do Corpus; Espanhol; Argentina; Direitos da Mulher

ABSTRACT

The collective Ni Una Menos started in March 2015, and since then it has been actively demanding for public policies (laws, projects, public funds) that promote better gender equality and the preservation of the well-being of Argentinian women. In this article, we seek to study the comments posted on the official page of the movement on Facebook. Our investigation will span across comments posted two days before and two afterwards the first rally promoted by Ni Una a Menos on June 3rd, 2015. We use Corpus Linguistics (SINCLAIR, 1991) and Systemic-Functional Linguistics (HALLIDAY, 1991HALLIDAY, M. A. K. Corpus Studies and Probabilistic Grammar. In: AIJMER, K.; ALTENBERG, B. (Ed.). English Corpus Linguistics: Studies in Honour of Jan Svartvik. London: Longman, 1991. p. 30-43.) as the main theoretical and methodological approaches in order to analyse linguistic aspects that express ideological, social and political positions. The results show how different political positions are represented within the movement and which choices reflect the action of the various active social agents. The open space for the expression of different ideas within the social media environment of Ni Una Menos has established this collective as a place for plural discussion on social policies in Argentina.

KEYWORDS:
Systemic-Functional Linguistics; Corpus Linguistics; Spanish; Argentina; Women’s Rights

Somos úteros de duas pernas, apenas isso:

receptáculos sagrados, cálices ambulantes.

Margaret Atwood em “O Conto da Aia”

1 Discussões preliminares

Este artigo tem por objetivo apresentar uma reflexão sobre os comentários relacionados ao coletivo feminino Ni una a menos, cujo objetivo principal é reivindicar ações de preservação do bem-estar da mulher na Argentina. Ele está especialmente engajado em pautas como a legalização do aborto e a implementação da Lei 26.485 - que prevê proteção integral para prevenir, sancionar e erradicar a violência contra as mulheres em todos os âmbitos nos quais existam relações interpessoais. Os dados aqui analisados já foram estudados a partir da perspectiva da Ciência das Redes (BARABÁSI, 2002BARABÁSI, A.-L. Linked: The New Science of Networks. Cambridge: Perseus, 2002.; WATTS, 2004WATTS, D. J. The “New” Science of Networks. Annual Review of Sociology, Palo Alto, v. 30, n. 1, p. 243-270, 2004. Doi: https://doi.org/10.1146/annurev.soc.30.020404.104342
https://doi.org/10.1146/annurev.soc.30.0...
; SCOTT, 2013SCOTT, J. What Is Social Network Analysis? London: Bloomsbury Academic, 2013.) por Gabardo e Lima-Lopes (2018GABARDO, M; LIMA-LOPES, R. E. Ni una menos: ciência das redes e análise de um coletivo feminista. Humanidades & Inovação, Palmas, v. 5, n. 3, p. 44-58, 2018.), que refletiram especialmente sobre construção de identidade, engajamento e compartilhamento de mensagens no Facebook referentes às manifestações realizadas em junho de 2015. Tais protestos tinham como foco principal a regulamentação e o direcionamento de recursos para que a referida lei fosse implementada. Além disso, eles podem representar uma conjunção de vozes sociais, incluindo a posição de diversos setores contra os feminicídos sem solução na Argentina. O estopim para tal mobilização foi o assassinato da jovem Chiara Páez, uma adolescente grávida de 14 anos, pelo próprio parceiro.

O que chama a atenção nesse coletivo é sua velocidade de crescimento e capacidade de agregar indivíduos de diversas bases ideológicas em uma pauta comum. Como apontam Díaz e López (2016DÍAZ, N. B.; LÓPEZ, A. H. Ni una menos: el grito en común. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicación Social) - Facultad de Periodismo y Comunicación Social, Universidad Nacional de La Plata, Buenos Aires, 2016.), seu surgimento partiu de uma publicação de indignação no Twitter, uma centelha que levou dez jornalistas a iniciarem um processo de retuíte da mensagem. Assim, a hashtag #NiUnaMenos - criada pela jornalista Marcela Ojeda - nasce como um grito contra a situação da mulher argentina, culminando em uma manifestação pública defronte da Praça do Congresso, em Buenos Aires. A ação teve repercussão em mais de 200 localidades no país e congregou mais de 200 mil pessoas. Cabe notar que, como pontuam Gabardo e Lima-Lopes (2018GABARDO, M; LIMA-LOPES, R. E. Ni una menos: ciência das redes e análise de um coletivo feminista. Humanidades & Inovação, Palmas, v. 5, n. 3, p. 44-58, 2018.), a luta pelos diretos da mulher representada por essa hashtag também alcançou outros países, como Chile, México, Peru, Espanha e Brasil.

A atualidade do tema não pode ser negada. Há várias ações e projetos de lei em tramitação na Argentina e no Brasil que tentam promover uma maior proteção dos direitos das mulheres. Um exemplo é a Lei nº 13.718/2018 (BRASIL, 2018BRASIL. Lei 13.718, de 24 de setembro de 2018. Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para tipificar os crimes de importunação sexual e de divulgação de cena de estupro, tornar pública incondicionada a natureza da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra vulnerável, estabelecer causas de aumento de pena para esses crimes e definir como causas de aumento de pena o estupro coletivo e o estupro corretivo; e revoga dispositivo do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 set. 2018. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/2FXc6X3 . Acesso em: 2 abr. 2019.
https://bit.ly/2FXc6X3...
), sancionada no Brasil em 24 de setembro de 2018, na qual a importunação sexual é tipificada como crime. Apesar de não serem frutos apenas da primeira mobilização desse movimento - que será analisada neste artigo -, as recentes discussões sobre a legalização do aborto no Brasil e na Argentina crescem, ganhando a grande mídia antes refratária à discussão. Ainda no caso do Brasil, embora já existam dispositivos de proteção à mulher, como é o caso da Lei nº 13.104/2015 (BRASIL, 2015BRASIL. Lei no 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 ago. 2006. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/1lyrVDL . Acesso em: 10 ago. 2018.
https://bit.ly/1lyrVDL...
) - que prevê o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, incluindo-o no rol dos crimes hediondos - e da Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006BRASIL. Lei no 13104 de 9 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 mar. 2015. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/1Pe5hO9 . Acesso em: 9 ago. 2018.
https://bit.ly/1Pe5hO9...
) - que cria mecanismos para coibir a violência doméstica contra a mulher -, muito ainda precisa ser realizado. Especialmente pelo feminicídio ser um crime subnotificado, com um crescimento de 16,5% em 2017. Cabe ainda notar que estados como Ceará, Roraima e Tocantins ainda não contabilizam tal delito (VELASCO; CAESAR; REIS, 2018VELASCO, C.; CAESAR, G.; REIS, T. Cresce o no de mulheres vítimas de homicídio no Brasil; dados de feminicídio são subnotificados. G1, Rio de Janeiro, 7 mar. 2018. Disponível em: Disponível em: https://glo.bo/2FnBCBW . Acesso em: 10 ago. 2018.
https://glo.bo/2FnBCBW...
).

Este trabalho tem suas bases teóricas na Linguística do Corpus (LC) (SINCLAIR, 1991SINCLAIR, J. Corpus, Concordance, Colocation. Oxford: Oxford Universiy Press, 1991.) e na Gramática Sistêmico-Funcional (GSF), abordagens discursivas pós-saussureanas para a análise da linguagem que caracterizam a linguística como ciência social aplicada (STUBBS, 1996STUBBS, M. British Traditions in Text Analysis: Firth, Halliday and Sinclair. In: Text and Corpus Analysis. London: Blackwell, 1996. p. 23-50.). Tanto a LC como a GSF se preocupam em produzir pesquisas que vão além da descrição linguística abstrata, partindo da análise de registros e contextos sociais. De acordo com McEnery e Hardie (2012MCENERY, T.; HARDIE, A. Corpus Linguistics: Method, Theory and Practice. Cambridge: Cambridge University Press , 2012. Doi: https://doi.org/10.1017/CBO9780511981395
https://doi.org/10.1017/CBO9780511981395...
), a LC pode ser encarada como uma abordagem metodológica de análise de dados e como uma perspectiva de análise e descrição. No primeiro caso, ela estaria relacionada ao uso sistemático de suas ferramentas para descrição dos níveis de análise linguística tradicionais - como sintaxe, semântica e morfologia -, ao passo que no segundo, ela possibilitaria um olhar diferenciado para os dados, sendo ela mesma constituidora de teorias explicativas da linguagem.

Tais olhares partem do pressuposto de que a construção da gramática - aqui não entendida como um sistema formal de regras, mas como um sistema de construção de significados - é probabilística (HALLIDAY, 1991HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, R. Language, Context and Text: Aspects of Language in a Social-Semiotic Perspective. Oxford: Oxford University Press, 1991.), fazendo com que o sentido de uma palavra (ou expressão) seja determinado pelas que estão à sua volta: “You shall know a word by the company it keeps” (FIRTH, 1961FIRTH, J. R. Papers in Linguistics 1934-1951. Oxford: Oxford University Press, 1961., p. 11). Um dos princípios básicos da abordagem é, então, a concepção de que a língua se definiria por ser um conjunto de escolhas, itens lexicais que caminham juntos na constituição dos diversos sentidos. Sinclair (1991SINCLAIR, J. Corpus, Concordance, Colocation. Oxford: Oxford Universiy Press, 1991.), ao definir o princípio idiomático (idiom principle), afirma que a linguagem humana não se caracteriza apenas pelo tradicional sistema de lacuna e preenchimento - no qual componentes sintáticos, por exemplo, completam categorias definidas a priori, como sujeito ou objeto -, mas por uma combinatória de palavras que caminham juntas para construir o significado, que é maior do que uma simples soma de palavras.

A LC contemporânea se define pelo extensivo emprego de computadores, utilizados na pesquisa de dados criteriosamente coletados e organizados, aos quais damos o nome de corpus (singular) ou corpora (plural). Isso dá a abordagem um caráter empírico e datificado no qual evidências são levantadas e analisadas de maneira a buscar padrões reconhecíveis de realização. Apesar de tais traços, a utilização de corpora como modelo para obtenção de dados para compreensão textual data da idade média, quando monges produziam concordâncias a partir da Bíblia (KENNEDY, 1998KENNEDY, G. An Introduction to Corpus Linguistics. London: Longman , 1998.; MCCARTHY; O’KEEFFE, 2012MCCARTHY, M.; O’KEEFFE, A. Historical Perspective: What Are Corpora and How Have They Evolved? In: O’KEEFFE, A.; MCCARTHY, M. (ed.). The Routledge Handbook of Corpus Linguistics. New York: Routledge, 2012. p. 3-14.). Seu surgimento e crescimento, em especial na segunda metade do século XX, é uma reação às abordagens formalistas e racionalistas (MCENERY; WILSON, 1996MCENERY, T.; WILSON, A. Corpus Linguistics. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1996.), que extirpam a relação óbvia entre o efetivo uso da linguagem (em contexto) e sua compreensão.

O fato de computadores serem um elemento comum à abordagem dá a ela algumas particularidades. Primeiramente, há a possibilidade de se trabalhar com grandes quantidades de texto. Isso amplia sensivelmente a abrangência da análise, que pode ir muito além da capacidade humana de observação e reconhecimento de padrões, uma vez que a máquina é perfeitamente capaz de realizar o duro trabalho de reconhecimento e levantamento de dados (SCOTT, 2012SCOTT, M. What can corpus software do? In: O’KEEFFE, A.; MCCARTHY, M. (ed.). The Routledge Handbook of Corpus Linguistics. New York: Routledge, 2012. p. 136-152.). Visto que isso dá ao trabalho uma eminente característica quantitativa, cabe ao analista interpretar os padrões levantados, algo que o computador não fará (BIBER; CONRAD; REPPEN, 1998BIBER, D.; CONRAD, S.; REPPEN, R. Corpus Linguistics: Investigating Language Structure and Use. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. Doi: https://doi.org/10.1017/CBO9780511804489
https://doi.org/10.1017/CBO9780511804489...
; SCOTT, 2012).

A LC tem um importante papel neste trabalho. Isso porque, como veremos a seguir, ela possibilitará uma análise pormenorizada de todas as interações coletadas no período. Mais do que trabalhar com exemplos típicos de interação, fomos capazes de estender a análise à totalidade dos comentários, buscando compreender seus padrões de realização. De certa forma, isso nos possibilitou entender como a luta pelos direitos da mulher, no contexto de Ni una menos, se traduziu em escolhas linguísticas socialmente relevantes.

Como coloca Lima-Lopes (2017LIMA-LOPES, R. E. de. Reflexões sobre as possíveis contribuições da linguística do corpus para a gramática sistêmico funcional: transitividade e classificação de processos. Caletroscópio, Ouro Preto, v. 5, n. 9, p. 9-25, 2017.), tais características dão a esta abordagem a possibilidade de ser uma importante aliada na análise do discurso. Isso porque, assim como a Linguística Sistêmico Funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. M. I. M. Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4. ed. Abingdon: Routledge, 2014. Doi: https://doi.org/10.4324/9780203783771
https://doi.org/10.4324/9780203783771...
), ela parte de dados linguísticos efetivamente realizados. Mais do que definir hipóteses de maneira antecipada à análise linguística, ela pressupõe que os dados devem ser a fonte inicial do analista. Nesse sentido, forma e significado caminham em uníssono: as escolhas de linguagem não são vistas como aleatórias, mas como o reflexo do contexto de realização. Reforça-se a relação entre linguagem e contexto como um dos elementos determinantes de nossas escolhas.

A GSF também tem suas origens no trabalho de Firth (1961FIRTH, J. R. Papers in Linguistics 1934-1951. Oxford: Oxford University Press, 1961.), com foco principal na compreensão de como a língua é estruturada para construção do significado. Halliday (1978HALLIDAY, M. A. K. Language as Social Semiotic: The Social Interpretation of Language and Meaning. London: University Park Press, 1978.) reflete sobre a língua como um sistema semântico de escolhas, no qual o significado é o resultado dos diferentes arranjos e de sua função dentro do contexto.

Inspirados na antropologia de Bronislaw Malinowski, Halliday e Hasan (1991HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, R. Language, Context and Text: Aspects of Language in a Social-Semiotic Perspective. Oxford: Oxford University Press, 1991.) refletem sobre a importância dos contextos de situação e de cultura como elementos-chave na compreensão de como organizamos a linguagem. De fato, para essa teoria, o contexto é determinado, ao mesmo tempo que determina, as diferentes funções que realizamos em nossos diversos atos comunicacionais. Como coloca Thompson (1996THOMPSON, G. Introducing Functional Grammar. London: Arnold , 1996.), as escolhas são relevantes por indicarem a forma como o falante se relaciona com o mundo a sua volta, com outros falantes e na forma como organiza a linguagem. Tais instanciações seriam responsáveis por padrões que se manifestariam em termos de escolhas e se colocam como mais ou menos prováveis dentro de cada situação comunicativa (BEAUGRANDE, 1993BEAUGRANDE, R. Register in Discourse Studies: A Concept in Search of a Theory. In: GHADESSY, M. (ed.). Register Analysis: Theory and Practice. London: Pinter Publishers, 1993. p. 7-25.; HALLIDAY, 1999HALLIDAY, M. A. K. The Notion of “Context” in Language Education. In: GHADESSY, M. (ed.). Text and Context in Functional Linguistics. Amsterdam: Benjamins, 1999. p. 19-24. Doi: https://doi.org/10.1075/cilt.169.04hal
https://doi.org/10.1075/cilt.169.04hal...
).

Martin e Rose (2007MARTIN, J.; ROSE, D. Working with Discourse: Meaning Beyond the Clause. London: Bloomsbury Academic, 2007.) refletem sobre a atividade, demonstrando que o discurso e a gramática são fenômenos que operam em diferentes níveis de abstração. Isso é possível porque todas culturas se manifestam por meio de instanciações sociais de linguagem, que se constituem por meio de uma série de escolhas significativas. Como coloca Lima-Lopes (2018LIMA-LOPES, R. E. de. Escolhas tradutórias como sistemas representacionais: um estudo dos processos no conto “Amor” de Clarice Lispector. DELTA: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 34, n. 1, p. 17-39, 2018. Doi: https://doi.org/10.1590/0102-445075861735715629
https://doi.org/10.1590/0102-44507586173...
, p. 20):

[é] a recodificação das estruturas sociais em estruturas gramaticais que formam o texto, permitindo que níveis mais abstratos se transformem em escolhas palpáveis no nível da linguagem. Por isso, simbolizar é um aspecto importante e indispensável, dado que a gramática seria responsável por codificar o discurso, que, por sua vez, é responsável por codificar a atividade social (Martin & Rose 2007MARTIN, J.; ROSE, D. Working with Discourse: Meaning Beyond the Clause. London: Bloomsbury Academic, 2007.). Isso faz com que cada texto seja o resultado da operação de escolha que ocorre em diferentes níveis (ou strata), responsáveis por um aspecto do significado e traduzível em um sistema.

Por conseguinte, o contexto de cultura define-se como pano de fundo no qual a interação ocorre (HALLIDAY, 1999HALLIDAY, M. A. K. The Notion of “Context” in Language Education. In: GHADESSY, M. (ed.). Text and Context in Functional Linguistics. Amsterdam: Benjamins, 1999. p. 19-24. Doi: https://doi.org/10.1075/cilt.169.04hal
https://doi.org/10.1075/cilt.169.04hal...
), criando o potencial de realização de significados. Já o contexto de situação (ou registro), diz respeito à situação imediata de realização do texto. Ao se manifestarem em termos de linguagem, as diversas escolhas são instanciadas em termos de três metafunções de linguagem. Uma vez que a língua é vista como um construto semântico-funcional, as escolhas condicionadas não podem ser tão somente estruturais, devendo espelhar fatores ideológicos e sociais dos contextos imediato e de cultura.

Tais metafunções poderiam ser definidas (HALLIDAY, 1978HALLIDAY, M. A. K. Language as Social Semiotic: The Social Interpretation of Language and Meaning. London: University Park Press, 1978.), como:

  • Metafunção interpessoal: atitudes em relação ao outro e papéis sociais assumidos ou delegados;

  • Metafunção textual: organização do texto, seu caráter de mensagem;

  • Metafunção ideacional: representação de nossa experiência.

Este trabalho está especialmente interessado na metafunção ideacional. Partimos do sistema de transitividade de forma a entender como o corpo da mulher, em especial quanto aos temas do feminicídio e do aborto, é lexicalmente representado no corpus de análise. Por essa razão, partiremos de uma análise das associações de palavras em tornos desses temas, tendo como critério o levantamento estatístico de sua relevância no corpus de estudo. Em suma, buscamos compreender como o aborto e o feminicídio são tratados dentro do contexto de cultura latina, por meio de suas representações lexicais em uma mídia social.

2 Coleta de dados e metodologia de análise

Esta pesquisa se utilizou de dados colhidos diretamente dos comentários realizados pelos internautas às postagens da página inicial do coletivo #niunaamenos, empregando-se o programa Netvizz2 2 https://tools.digitalmethods.net/netvizz/facebook/netvizz/ (RIEDER, 2013RIEDER, B. Studying Facebook Via Data Extraction: The Netvizz Application. In: ANNUAL ACM WEB SCIENCE CONFERENCE, 5., 2013, New York. Proceedings […]. New York: ACM, 2013. p. 346-355. Doi: https://doi.org/10.1145/2464464.2464475
https://doi.org/10.1145/2464464.2464475...
). Tal coleta foi realizada nos dois dias anteriores e posteriores às manifestações de 3 junho de 2015. Os processos de conexão em rede que compuseram o movimento de criação e popularização do coletivo desde a abertura da página oficial do Facebook até o dia 2 de junho (um dia antes das manifestações) foram analisados por Gabardo e Lima-Lopes (2018GABARDO, M; LIMA-LOPES, R. E. Ni una menos: ciência das redes e análise de um coletivo feminista. Humanidades & Inovação, Palmas, v. 5, n. 3, p. 44-58, 2018.). Esse estudo, complementar a este, auxilia no processo de compreensão do fenômeno Ni una menos no tocante a decisões de pauta, bandeiras e engajamento.

Na Tabela 1 há um resumo do corpus de pesquisa. Foram recuperados 3.193 comentários. Desses, 493 foram excluídos por serem redundantes, com um total de pouco mais de 80 mil formas e 94 mil tipos. Tais números geram uma razão de 1,777 entre tipos e formas, mostrando baixa repetição de palavras nas postagens. De maneira geral, isso pode ser um indicativo de que há significativa criatividade lexical, com posts não repetitivos ou padronizados em termos de sua escolha.

TABELA 1
Dados relativos a movimentações e alcance da página do Facebook entre 18/3/15 e 2/3/15

Os comentários foram processados com a plataforma Sketch Engine3 3 https://www.sketchengine.eu/ (KILGARRIFF et al., 2014KILGARRIFF, Adam e colab. The Sketch Engine: Ten Years On. Lexicography, [S.l.], v.1, n.1, p. 7-36, 2014. Doi: https://doi.org/10.1007/s40607-014-0009-9), um sistema de compilação e administração de corpora on-line, e pela suíte comercial WordSmith Tools (SCOTT, 2019SCOTT, Mike. WordSmith Tools. Oxford: OUP, 2019. Disponível em: Disponível em: https://lexically.net/wordsmith/index.html . Acesso em: 18 maio 2019.
https://lexically.net/wordsmith/index.ht...
). Neste estudo foram utilizadas as seguintes ferramentas:

  • Compilação de corpus: os dados coletados foram submetidos à ferramenta de compilação de forma a possibilitar os processos de etiquetagem (parts of speech), lematização e contabilização das formas e tipos. Esta é a base para o processamento exigido pelas demais ferramentas.

  • Concordâncias (key word in context - KWIC): responsável pelo levantamento sistemático das ocorrências de uma palavra possibilita a comparação entre as estruturas construtoras de significado.

  • Palavras-chave (keywords): são palavras estatisticamente relevantes dentro de um texto. Elas são fruto da comparação entre o corpus de pesquisa e o de controle geral, sendo o resultado, normalmente, um conjunto de palavras que representa o tema central (aboutness) dos textos pesquisados.

  • Colocados (colocates): palavras que mais frequentemente coocorrem com um termo no corpus e são calculadas pela frequência de colocação. Importantes para determinar o campo semântico de uma palavra.

  • Nuvens de n-gramas: foram levantados os 3-gramas mais frequentes de forma a se observar processos colocacionais. Tal recurso foi especialmente importante no estudo de algumas palavras-chave (como ‘violencia’ e ‘aborto’).

Dentre as palavras-chave, foi realizado um corte nas dez mais frequentes, utilizadas, então, para a análise que realizaremos neste trabalho. Elas foram lematizadas de forma a abarcar palavras que estivessem dentro do mesmo campo semântico. Tal procedimento foi necessário devido às restrições de espaço do estudo.

As visualizações dos colocados foram feitas a partir do programa Gephi4 4 https://gephi.org/ (BASTIAN; HEYMANN; JACOMY, 2009BASTIAN M.; HEYMANN S.; JACOMY M. Gephi: An Open Source Software for Exploring and Manipulating Networks. In: INTERNATIONAL AAAI CONFERENCE ON WEBLOGS AND SOCIAL MEDIA, 3., 2009, San Jose. Proceedings […]. Palo Alto: Association for the Advancement of Artificial Intelligence, 2009. p. 361-362. Disponível em: Disponível em: https://gephi.org/ . Acesso em: 3 abr. 2019.
https://gephi.org/...
), um programa cujo objetivo é possibilitar a visualização de redes, além de diversos cálculos estatísticos de análise.

3 Análise dos comentários

A Figura 1 mostra uma nuvem de palavras com as dez palavras-chave mais importantes no corpus. Nela podemos observar que “mujer” aparece em posição de destaque, com quase 900 ocorrências, sendo seguida por “violência”, com 502, e “abortar” com 250 ocorrências. “Género” ocorre 177 vezes no corpus, ao passo que “marcha” está presente 187 vezes. As demais palavras - “violar” (48), “bastar” (124), “matar” (155), “machista” (80) e “femicidio” (40)5 5 Este trabalho suplantou as diferenças entre feminicidio e femicidio pois o debate sobre o uso de ambas não é relevante para esta análise. Portanto filia-se a Toledo Vásquez ao afirmar que “el debate sobre estas dos expresiones, que se ha extendido llegando incluso a los argumentos lingüísticos a favor y en contra de una u otra. Si bien se observa una coexistencia relativamente pacífica de las voces ‘femicidio’ y ‘feminicidio’ en Latinoamérica, considerando al elemento impunidad -y por tanto, responsabilidad estatal- como principal diferenciador entre ambas, el cuestionamiento a la validez de una u otra expresión por parte de ciertas autoras dificultan actualmente la posibilidad de acercarse a un consenso en el plano teórico y político” (TOLEDO VÁSQUEZ, 2009, p. 28). - possuem números próximos ou inferiores a 100 ocorrências. Vale lembrar que a presença dessas palavras nessa lista se dá por sua frequência relativa no corpus: ao compará-las com um corpus de referência, nesse caso o Spanish Web 2011, (KILGARRIFF et al, 2014KILGARRIFF, Adam e colab. The Sketch Engine: Ten Years On. Lexicography, [S.l.], v.1, n.1, p. 7-36, 2014. Doi: https://doi.org/10.1007/s40607-014-0009-9)6 6 Para maiores detalhes, ver nota 3. disponibilizado pela ferramenta de análise de dados, elas demonstraram uma frequência considerada relevante quando normalizadas em sua ocorrência por mil e submetidas a um teste estatístico de chi-quadrado.7 7 O teste chi-quadrado de Pearson se aplica a dados categóricos, tornando possível avaliar quão provável é que uma diferença aconteça. No caso deste estudo, ele foi usado para verificar a frequência com que os dados coletados na amostra selecionada se desviam ou não da frequência com que se espera que eles apareçam.

FIGURA 1
Palavras-chave

Tais palavras parecem traduzir alguns resultados importantes em relação ao corpus. Apesar de ser esperado que a mulher seja o centro dos comentários em uma página que trata de manifestações relacionadas, observa-se que boa parte das temáticas centrais parece estar relacionada a algum tipo de agressão física. Além de parecer demonstrar que a maculação do corpo feminino é um tópico importante nas temáticas propostas pelos internautas. Podemos também observar que, mesmo quando não é o centro da questão, o corpo da mulher assume um protagonismo dentro dos temas propostos. Isso se dá pelo debate sobre o abordo - que necessariamente passa por outros temas, como o machismo -, apontado (como veremos) como uma das principais causas da violência de gênero.

A partir de tais palavras-chave, foi realizado um levantamento dos colocados, ver seção anterior, de forma a observar como tais palavras se relacionavam com as demais em sua volta. Tal levantamento foi relevante por demonstrar relações entre as palavras-chave, além de fraseologias que parecem especificar seus significados. Os resultados desse levantamento são observáveis na Figura 2.

FIGURA 2
Colocados e suas relações comas palavras-chave

Como era também esperado, quase todas as palavras-chave se mostraram um importante centro de construção de significados, e as únicas delas que parecem estar em uma relação marginal são “bastar” e “marchar”. Isso é resultado do fato de elas, na realidade, se encontrarem em fraseologias bastante específicas. “Marchar” está, especialmente, relacionada a elementos circunstanciais de causa (Ex.: 1 e Ex.: 2), modo (Ex.: 3) e benefício (Ex.: 4), ao passo que bastar está quase invariavelmente relacionado a “violência” (Ex.: 5).

Ex.: 1 […] se marcha en contra de los feminicidios.

Ex.: 2 […] yo marchó para que se termine la violencia de genero!

Ex.: 3 […] marcho como sobreviviente que no es poco.

Ex.: 4 […] 100% a todas las que militan y marchan por el aborto legal y seguro […]

Ex.: 5 […] que la bandera que se lleve a la victoria sea basta de violência […]

Segundo Halliday (1994HALLIDAY, M. An Introduction to Functional Grammar. London: Arnold, 1994.), os elementos circunstanciais são importantes não apenas por determinar o pano de fundo das ações, mas também por possibilitar a inclusão de participantes de forma indireta. Tal recurso é utilizado como maneira de subversão da estrutura de línguas SVO, como é o caso do espanhol, permitindo inserir entidades que, de outra forma, não estariam presentes no discurso. A relação entre “marchar” e tais elementos realiza essa função.

Em Ex.: 3 e Ex.: 4, os femicídios e o aborto são inseridos como beneficiários das ações realizadas pelo verbo, ao passo que em Ex.: 3, um importante papel de mobilização é atribuído à falante.8 8 Estamos utilizando “falante” como um termo genérico para a entidade produtora da proposição. Halliday (1994HALLIDAY, M. An Introduction to Functional Grammar. London: Arnold, 1994.) ainda afirma que apesar do termo beneficiário poder trazer uma prosódia semântica positiva, ela não necessariamente o é. O autor pontua que o uso do termo se refere ao fato de tais entidades serem o alvo (que recebe a ação) ou cliente (por quem a ação é feita). No caso dos exemplos aqui estudados, há claramente a manifestação do primeiro. Em termos gramaticais, isso permite ao falante inserir uma entidade que também recebe a ação do processo sem ter que criar relações sintáticas complexas ou não naturais. Um claro caso de manipulação da estrutura em favor do significado.

De fato, os principais usos da palavra “violencia” aparecem relacionados aos comentários sobre a Lei 26.485, que regulamenta leis que protegem as mulheres contra a violência. Sobre a eleição do término, Mercedes Funes, uma das organizadoras explica:

‘Violencia machista’ es más específico que ‘violencia de género’. Es mejor porque va al grano. Nombra de dónde viene esa violencia” (Cecilia Palmeiro, organizadora). “Emplear el término de ‘violencia machista’ es saltar lo abstracto del género. Además, nosotras nos hemos cansado de la pregunta: ‘¿Por qué la violencia de género no es violencia contra el hombre?’. Es violencia contra la mujer. Contame cuántos hombres son asesinados por su mujer cada año por ser hombres. Por eso me parece que ‘violencia machista’ es un término mucho más representativo, más fuerte. (DÍAZ; LÓPEZ, 2016DÍAZ, N. B.; LÓPEZ, A. H. Ni una menos: el grito en común. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicación Social) - Facultad de Periodismo y Comunicación Social, Universidad Nacional de La Plata, Buenos Aires, 2016., p. 52)

Já a relação entre “bastar” e “violencia”, Ex.: 5, demonstra uma importante faceta das escolhas lexicais no corpus: a forte relação entre as palavras-chave. Como podemos observar na Figura 2, há uma forte relação entre violência e gênero - indicada pela espessura maior da linha que as relaciona - o que denota a natureza sociocultural das ações realizadas; identificando-as como motivadas por questões de gênero e não aleatórias (ver Ex.: 6 e Ex.: 7). O mesmo poderia ser dito em relação entre “violencia” e “mujer” (ver Ex.: 8 e Ex.: 9), na qual não apenas podemos pensar a violência contra a mulher como subordinada em termos semânticos a de gênero (sua superordenada), mas também como sendo um parâmetro de definição social importante. Ao identificar o feminino, está-se pessoalizando e criando um vínculo de compreensão de como ela afeta pessoas próximas e não uma categoria social ou biológica. O mesmo pode ser dito sobre a relação do machismo com a violência, aqui a relação entre essas duas palavras-chave funciona também como uma definição do caráter social dessa violência (Ex.: 10).

Ex.: 6 […] hombres, hay que generar conciencia sobre la violencia de género en general […]

Ex.: 7 […] patrones socio-culturales que promueven la violencia de género […]

Ex.: 8 […] de un registro de estadísticas oficiales de violencia contra las mujeres y feminicidios […]

Ex.: 9 […] y sus firmas del petitorio. artículo 5 tipos de violencia contra la mujer […]

Ex.: 10 […] mi impresiòn, es que sectores que defienden esta violencia machista […]

“Violencia” ainda possui uma importante relação com femicídio. Tal relação parece ocorrer por conta da justaposição dessas duas palavras-chave, mas está especialmente relacionada ao conceito de violência de gênero (Ex.: 11). Isso pode significar que, não apenas como um crime, o femincídio é caracterizado também como uma forma de violência, algo que as mulheres parecem demonstrar claramente em seu discurso. Uma associação importante em termos de significado também parece se estabelecer quando observamos a coocorrência de “femicido”/“gênero” (Ex.: 11) e “femicido”/”mujer” (Ex.: 12), representando o papel da mulher como indivíduo claramente vitimado pelos crimes.

Apesar de o coletivo restringir e especificar ainda mais o tipo de violência que se está combatendo, “a violência machista”, as discussões ainda estão mais direcionadas ao uso do termo já consagrado e comumente usado nos movimentos feministas ‘violência de gênero”, Ex.: 10 (ver Figura 3). Isso pode se dar tanto pelos comentários que não percebem o feminicídio como um caso diferente de homicídio e que não percebem essa luta como válida, ou pela grande quantidade de pessoas que defendem essa luta como válida e como diferente a luta pelo fim da violência como um todo. A cristalização das questões, dos jargões e termos já utilizados podem ter tido um papel importante para a proliferação da discussão ao redor do tema, aumentando o engajamento da comunidade em defesa da pauta estabelecida.

FIGURA 3
Wordcloud representativa dos clusters de uso da palavra Violência nos comentários

Halliday e Matthiessen (2014HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. M. I. M. Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4. ed. Abingdon: Routledge, 2014. Doi: https://doi.org/10.4324/9780203783771
https://doi.org/10.4324/9780203783771...
) desenvolvem um sistema de análise da experiência baseado na linguagem. Para os autores, os processos (ou verbos) são responsáveis pela construção de nossa representação dessas experiências. Entre tais processos, eles observam a existência de processos materiais, responsáveis por instanciar significados referentes às nossas representações de ações físicas no mundo exterior, sendo que tais processos podem ser definidos em termos de três participantes principais: o Ator (responsável pela realização da ação), a Meta (aquela que é modificada pela ação) e o Cliente/Recebedor (para quem uma ação é feita).

Ex.: 11 […] causa ni una menos promoviendo leyes contra el femicidio, la violencia de género y el acoso callejero.

Ex.: 12 […] Porque defender a las mujeres dl femicidio tiene q ir de la mano con el borto?

Ex.: 13 […] mientras tanto siguen muriendo mujeres y esos hijos de puta siguen criando […]

Ex.: 14 […] vos no te hace ruido que cada 30 horas una mujer sea asesinada por su ex o actual pareja? […]

O modelo sugerido por Halliday e Matthiessen é importante por mostrar que ao termo “mulher” é atribuído um papel representacional relativo aos processos com os quais se relaciona. Como podemos observar (Ex.: 13 e Ex.: 14), ela tende a ser Meta de processos materiais de transformação. Como mostram os dados do corpus, as mulheres são diretamente afetadas por processos como “morir” (Ex.: 13), “asesinar” (Ex.: 14), “maltratar” (Ex.: 15) e “golpear” (Ex.: 16), que denotam maus-tratos. Em alguns casos, a mulher também é colocada como Ator de tais processos, nos quais o aborto é dado como responsável pela condição de morte da mulher. Ele aqui é introduzido em um elemento circunstancial de lugar (Ex.: 17).

Ex.: 15 […] yo lo pse digamos basta als hpd q maltratan alas mujeres […]

Ex.: 16 […] o tal vez en el hogar, donde dia a dia la mujer es golpeada, violada y embarazada […]

Ex.: 17 […] dejar que las mujeres mueran en abortos clandestinos […]

Ex.: 18 […] as consecuencias. dot baires media pila las mujeres tenemos derechos a trabajar libres y sin acoso […]

Ex.: 19 […] que se reglamente el aborto, porque que la mujer tenga derecho a decidir el número de embarazos […]

Além dos processos materiais, os relacionais são responsáveis pela instituição de vinculação de posse, atribuição e identificação (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. M. I. M. Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4. ed. Abingdon: Routledge, 2014. Doi: https://doi.org/10.4324/9780203783771
https://doi.org/10.4324/9780203783771...
). No caso de #niunamenos, os significados instanciados por processos relacionais, aos quais algum papel está atribuído à mulher, parecem demonstrar a necessidade da posse de direitos ainda não conquistados pelas mulheres em proposições nas quais a elas é projetado o papel de possuidor (Ex.: 18 e Ex.: 19). Em todos os casos, tais direitos se manifestam na esfera de seus corpos, seja na perspectiva do não assédio (Ex.: 18), seja pelo direito subtraído de decidir sobre ele (Ex.: 19).

Mulher também se relaciona com “machista” (Figura 2), que ocorre especialmente em expressões como “violência machista” (Ex.: 10), já discutida acima, “cultura machista” e “sociedade machista”. Com na primeira, observamos a definição de uma categoria de feminino que se engaja nos processos de reprodução da “cultura machista”, algo que ocorre em um tom de denúncia da necessidade de transformação, inspirada pelo autorreconhecimento de tal fato por meio de práticas sociais (Ex.: 20).

Tal cultura também é indicada como responsável pela morte de mulheres, no estabelecimento de padrões de comportamento (Ex.: 21). Aqui, ela também ocorre como Ator em um processo material cuja meta, que necessariamente representa o dano físico da morte, é instanciada pelas mulheres. Isso também ocorre em Ex.: 22, no qual ela é indicada como Ator e, portanto, causadora da violência que se coloca contra a mulher. Nesta proposição, Ni una a menos é a entidade responsável por um processo material, que atinge tal cultura que se coloca como Meta, em uma direta representação de ação do coletivo em relação à sociedade.

Ex.: 20 […] desgraciadamente las madres los hacemos machistas hija sirvele a tu Hermano […]

Ex.: 21 […] y finalmente muerta por nuestra cultura machista quienes promueven el aborto son ustedes.

Ex.: 22 […] ni una menos para erradicar definitivamente y de raíz la cultura machista que propicia la violencia contra la mujer […]

Ex.: 23 […] a la marcha podremos denunciar la cultura machista y cerrar definitivamente las usinas políticas […]

Já no Ex.: 23, há a instanciação de um processo verbal. Processos verbais estão em uma posição semântica intermediária entre os processos relacionais (discutidos acima) e os mentais (que denotam ação em nosso mundo interior) (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. M. I. M. Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4. ed. Abingdon: Routledge, 2014. Doi: https://doi.org/10.4324/9780203783771
https://doi.org/10.4324/9780203783771...
). Nesse caso, o coletivo agora é representado por um “nós” inclusivo, responsável por pessoalizar a ação do coletivo que se coloca como dizente (responsável pela ação de denúncia), posicionando tal cultura como alvo (sofrendo a ação de dizer).

“Mujer” se relaciona com “hombre” construindo diversos significados. Na primeira, ambos são tratados como vítimas de violência, em uma estratégia discursiva presente em comentários que se opõem à temática central do movimento. Nesse tipo de fraseado, ao se buscar equiparar o sofrimento de violência ao qual o homem e a mulher são expostos, está-se, também, criando um paralelo entre ambos enquanto sujeitos em uma sociedade que seria igualitária (Ex.: 24). Na construção desse sentido, homens e mulheres são Meta em processos materiais, e o processo de crítica a uma vitimização feminina se manifesta tanto de forma semântica como estrutural. A princípio, ambos realizam o mesmo papel em relação a “dividir”, sendo esse paralelismo quebrado ao se colocar apenas a mulher como argumento de “dejar”.

Homens e mulheres também são igualados em termos da importância da sua participação na luta pela igualdade de gêneros (Ex.: 25), algo que ocorre graças ao posicionamento de ambos como atores em processos materiais, tornando-os equiparados em termos de importância política para a causa (Ex.: 31) e não da violência sofrida por seus corpos.

Ex.: 24 […] la violencia en general, dejemos de dividir hombres y mujeres, de dejar solo como víctimas a las mujeres, todo ser humano es agredido […]

Ex.: 25 […] hombres y mujeres debemos lograr una convivencia sin maltrato […]

Ex.: 26 […] [diga] si al aborto seguro y gratuito para la mujer!

Ex.: 27 […] no tienen q frenar la lucha del aborto seguro para todas […]

Ex.: 28 […] és una maniobra de las feministas para imponer la ley del aborto.

Ex.: 29 […] sieso usa loso perese nete no al aborto el aborto es la violencia mas cobarde […]

Ex.: 30 […] no al genocidio de bebes!!! no al aborto!!!

Ex.: 31 […] ojalá los hombres apoyen esta convocatoria, pensando en las mujeres que forman parte de su vida: hijas, madres, hermanas, amigas y parejas.

O aborto foi um dos temas mais controversos discutidos nos comentários do coletivo. As posições eram tão diversas que, mesmo tendo sido pautado, a princípio, como uma das reivindicações do coletivo, ele foi retirado por colocar em risco uma grande parcela da comunidade que se filiava às ideias de luta contra a violência machista, mas que é contra o aborto, principalmente a parcela que não se filia ao movimento feminista, mas que luta pelo fim da violência contra a mulher. De fato, se observarmos a Figura 4, que traz uma Word Cloud dos trigramas de abordo, observaremos que as associações lexicais trazem uma postura bastante polarizada. Florencia Abbate, organizadora de #niunamenos, afirma:

Lo que logramos incluir en el documento del año pasado de una manera más sutil, pero haciendo alusión al aborto, fueron unas frases que armamos: ‘Reivindicamos el derecho de las mujeres a decir que no a lo que no se desea, sea una pareja, un embarazo’. Eso estaba escrito así, con esa explicitación. Pero entre los cinco puntos de lo que se demandaba no se incluyó el aborto, porque había un sector de las chicas que pensaban que estratégicamente no convenía todavía en ese momento. Porque eso iba a hacer desistir a mucha gente que iba a ir a la marcha, sobre toda gente independiente que por ahí está en contra del aborto, pero que sin embargo sí se sensibiliza con la violencia contra la mujer”. (DÍAZ; LÓPEZ; 2016DÍAZ, N. B.; LÓPEZ, A. H. Ni una menos: el grito en común. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicación Social) - Facultad de Periodismo y Comunicación Social, Universidad Nacional de La Plata, Buenos Aires, 2016., p. 63).

FIGURA 4
WordCloud representativa de aborto

As impressões relatadas por Florencia aparecem nos dados coletados sobre o tema. Aborto foi o termo mais discutido, depois de “violência e mulher, e mobilizou ambos os lados na defesa de suas posições, tanto o contrário como o favorável. Como podemos observar na Figura 2, as posições a favor do aborto estão relacionadas, especialmente, com sua segurança (Ex.: 26 e Ex.: 27) e gratuidade (Ex.: 26). Em Ex.: 26, há uma convocação para os participantes, que têm o papel projetado de dizentes em um processo verbal. Novamente a circunstância de benefício aparece como elemento de introdução do participante (o aborto legal e gratuito). Há também reações a tentativas de barrar a luta contra o aborto (Ex.: 27), em uma reação que atribui aos opositores da campanha o papel de atores em processos que visam a evitar a luta pelo aborto, em contextos nos quais ele aparece como Meta.

Nas proposições em que se discute o aborto de forma negativa, sua temática está especialmente relacionada à imposição da agenda (Ex.: 28), a sua identificação como genocídio (Ex.: 30) e como violência (Ex.: 29). No caso da primeira e da segunda, podemos observar a presença de processos relacionais de identificação. Nesses processos, é estabelecido um vínculo no qual duas entidades, um identificador e um identificado, estão em pé de igualdade (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. M. I. M. Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4. ed. Abingdon: Routledge, 2014. Doi: https://doi.org/10.4324/9780203783771
https://doi.org/10.4324/9780203783771...
). Essencialmente, o que ocorre é o processo de igualar o aborto à violência, devolvendo para os participantes do coletivo seu próprio argumento, fazendo com que ele seja identificado com tal prática (Ex.: 29). Em outra estratégia, tanto as “feministas” como o “aborto” são colocados como elementos circunstanciais, um de posse e outro de objetivo: o processo identifica o movimento como uma imposição gerada por esse grupo, mesmo que o coloque em uma posição estrutural secundária.

4 Reflexões finais

Este artigo teve por objetivo discutir os comentários dos internautas nas postagens realizadas pelo coletivo de mulheres argentinas Ni una a menos a partir da perspectiva da Linguística do Corpus e da Linguística Sistêmico-Funcional. Tal escolha se deu pelo fato dessas abordagens terem uma forte ancoragem no papel social das escolhas de linguagem, subvertendo a tradicional abordagem que separa forma e significado em níveis formais e abstratos. Na análise aqui realizada, buscou-se observar como os diferentes padrões de linguagem são traduzidos como elementos motivadores de representações da mulher e seu corpo.

Os resultados apontam para uma representação do feminino como não detentora dos direitos sobre seu próprio corpo. Isso se manifesta, especialmente, por seu papel de entidade transformada pelos processos materiais, além da falta de direito ao aborto. Por ser retratada como um elemento submisso a uma sociedade machista, a retomada do próprio corpo só corre em processos de reinvindicações de direitos, muitas vezes instanciados em processos relacionais identificativos e atributivos. Há poucos papéis efetivamente atribuídos às mulheres em seu próprio discurso, um reflexo de um sistema de atribuição de significados que tem o masculino como elemento central dos direitos.

Talvez seja por isso que “mujer” seja uma palavra tão importante no corpus. Há uma constante necessidade de expor tal realidade, o que ganha cores de denúncia. Isso é bastante claro ao percebermos que, à exceção de “hombre”, todas as palavras a que ela se relaciona estão ligadas, de alguma forma, à denúncia ou a necessidade de retomada de seus corpos, manifestada pelo direto ao aborto, à não agressão e ao não assédio.

Temas relevantes no corpus também incluem a questão da violência, do machismo e do aborto. As colocações de violência parecem ocorrer de forma a categorizá-la, definindo-a socialmente; um importante recurso que demonstra as especificidades das agressões sofridas pela mulher especialmente expondo as relações que esse tipo de violência tem com as questões de gênero e ao papel de inferioridade que é atribuído a mulher na sociedade.

O machismo, por seu turno, está não relacionado apenas à definição dos seus diversos matizes e alcance dentro da sociedade argentina, como também de seu papel causador de tal violência. Isso ocorre em um contexto no qual a mulher, além de ser obviamente sua vítima, também é tratada como parte integrante e agente dessa mesma cultura. A mulher então, encapsula um papel duplo, uma vez que pode corroborar a manutenção do machismo, e, através da tomada de consciência, ter um papel de rompimento com o ideário do status quo. Isso levaria à quebra dos padrões machistas por meio da reinvindicação de direitos sobre seu próprio corpo.

A temática do aborto, apesar de não ser unanimidade entre os ativistas on-line, tem um importante papel nessa retomada de direitos. Isso porque o discurso a seu favor simboliza a retomada do direito ao próprio corpo, algo que se dá pelo reconhecimento legal de seu importante papel na saúde pública.

De forma geral, podemos resumir as contribuições deste trabalho na observação de padrões gramaticais de luta social. O estudo pôde levantar um número relevante de padrões que simbolizam o papel da mulher na sociedade, refletido em sua relação com diversos elementos que reforçam tal simbolismo.

Apesar das limitações impostas a este estudo, especialmente no que tange ao tamanho do corpus de pesquisa, podemos avaliar seus resultados como relevantes, uma vez que acreditamos que o papel atribuído aos diversos agentes sociais se dá pela linguagem, sendo sua compreensão um passo decisivo para a construção de um espaço discursivo - e, portanto, social - mais igualitário e justo.

Referências

  • BARABÁSI, A.-L. Linked: The New Science of Networks. Cambridge: Perseus, 2002.
  • BEAUGRANDE, R. Register in Discourse Studies: A Concept in Search of a Theory. In: GHADESSY, M. (ed.). Register Analysis: Theory and Practice. London: Pinter Publishers, 1993. p. 7-25.
  • BIBER, D.; CONRAD, S.; REPPEN, R. Corpus Linguistics: Investigating Language Structure and Use. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. Doi: https://doi.org/10.1017/CBO9780511804489
    » https://doi.org/10.1017/CBO9780511804489
  • BRASIL. Lei no 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 ago. 2006. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/1lyrVDL Acesso em: 10 ago. 2018.
    » https://bit.ly/1lyrVDL
  • BRASIL. Lei no 13104 de 9 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 mar. 2015. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/1Pe5hO9 Acesso em: 9 ago. 2018.
    » https://bit.ly/1Pe5hO9
  • BRASIL. Lei 13.718, de 24 de setembro de 2018. Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para tipificar os crimes de importunação sexual e de divulgação de cena de estupro, tornar pública incondicionada a natureza da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra vulnerável, estabelecer causas de aumento de pena para esses crimes e definir como causas de aumento de pena o estupro coletivo e o estupro corretivo; e revoga dispositivo do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 set. 2018. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/2FXc6X3 Acesso em: 2 abr. 2019.
    » https://bit.ly/2FXc6X3
  • DÍAZ, N. B.; LÓPEZ, A. H. Ni una menos: el grito en común. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicación Social) - Facultad de Periodismo y Comunicación Social, Universidad Nacional de La Plata, Buenos Aires, 2016.
  • FIRTH, J. R. Papers in Linguistics 1934-1951 Oxford: Oxford University Press, 1961.
  • GABARDO, M; LIMA-LOPES, R. E. Ni una menos: ciência das redes e análise de um coletivo feminista. Humanidades & Inovação, Palmas, v. 5, n. 3, p. 44-58, 2018.
  • BASTIAN M.; HEYMANN S.; JACOMY M. Gephi: An Open Source Software for Exploring and Manipulating Networks. In: INTERNATIONAL AAAI CONFERENCE ON WEBLOGS AND SOCIAL MEDIA, 3., 2009, San Jose. Proceedings […]. Palo Alto: Association for the Advancement of Artificial Intelligence, 2009. p. 361-362. Disponível em: Disponível em: https://gephi.org/ Acesso em: 3 abr. 2019.
    » https://gephi.org/
  • HALLIDAY, M. An Introduction to Functional Grammar London: Arnold, 1994.
  • HALLIDAY, M. A. K. Language as Social Semiotic: The Social Interpretation of Language and Meaning. London: University Park Press, 1978.
  • HALLIDAY, M. A. K. Corpus Studies and Probabilistic Grammar. In: AIJMER, K.; ALTENBERG, B. (Ed.). English Corpus Linguistics: Studies in Honour of Jan Svartvik. London: Longman, 1991. p. 30-43.
  • HALLIDAY, M. A. K. The Notion of “Context” in Language Education. In: GHADESSY, M. (ed.). Text and Context in Functional Linguistics Amsterdam: Benjamins, 1999. p. 19-24. Doi: https://doi.org/10.1075/cilt.169.04hal
    » https://doi.org/10.1075/cilt.169.04hal
  • HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, R. Language, Context and Text: Aspects of Language in a Social-Semiotic Perspective. Oxford: Oxford University Press, 1991.
  • HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. M. I. M. Halliday’s Introduction to Functional Grammar 4. ed. Abingdon: Routledge, 2014. Doi: https://doi.org/10.4324/9780203783771
    » https://doi.org/10.4324/9780203783771
  • KENNEDY, G. An Introduction to Corpus Linguistics London: Longman , 1998.
  • KILGARRIFF, Adam e colab. The Sketch Engine: Ten Years On. Lexicography, [S.l.], v.1, n.1, p. 7-36, 2014. Doi: https://doi.org/10.1007/s40607-014-0009-9
  • LIMA-LOPES, R. E. de. Reflexões sobre as possíveis contribuições da linguística do corpus para a gramática sistêmico funcional: transitividade e classificação de processos. Caletroscópio, Ouro Preto, v. 5, n. 9, p. 9-25, 2017.
  • LIMA-LOPES, R. E. de. Escolhas tradutórias como sistemas representacionais: um estudo dos processos no conto “Amor” de Clarice Lispector. DELTA: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 34, n. 1, p. 17-39, 2018. Doi: https://doi.org/10.1590/0102-445075861735715629
    » https://doi.org/10.1590/0102-445075861735715629
  • MARTIN, J.; ROSE, D. Working with Discourse: Meaning Beyond the Clause. London: Bloomsbury Academic, 2007.
  • MCCARTHY, M.; O’KEEFFE, A. Historical Perspective: What Are Corpora and How Have They Evolved? In: O’KEEFFE, A.; MCCARTHY, M. (ed.). The Routledge Handbook of Corpus Linguistics New York: Routledge, 2012. p. 3-14.
  • MCENERY, T.; HARDIE, A. Corpus Linguistics: Method, Theory and Practice. Cambridge: Cambridge University Press , 2012. Doi: https://doi.org/10.1017/CBO9780511981395
    » https://doi.org/10.1017/CBO9780511981395
  • MCENERY, T.; WILSON, A. Corpus Linguistics Edinburgh: Edinburgh University Press, 1996.
  • RIEDER, B. Studying Facebook Via Data Extraction: The Netvizz Application. In: ANNUAL ACM WEB SCIENCE CONFERENCE, 5., 2013, New York. Proceedings […]. New York: ACM, 2013. p. 346-355. Doi: https://doi.org/10.1145/2464464.2464475
    » https://doi.org/10.1145/2464464.2464475
  • SCOTT, J. What Is Social Network Analysis? London: Bloomsbury Academic, 2013.
  • SCOTT, M. What can corpus software do? In: O’KEEFFE, A.; MCCARTHY, M. (ed.). The Routledge Handbook of Corpus Linguistics New York: Routledge, 2012. p. 136-152.
  • SCOTT, Mike. WordSmith Tools Oxford: OUP, 2019. Disponível em: Disponível em: https://lexically.net/wordsmith/index.html Acesso em: 18 maio 2019.
    » https://lexically.net/wordsmith/index.html
  • SINCLAIR, J. Corpus, Concordance, Colocation Oxford: Oxford Universiy Press, 1991.
  • STUBBS, M. British Traditions in Text Analysis: Firth, Halliday and Sinclair. In: Text and Corpus Analysis London: Blackwell, 1996. p. 23-50.
  • THOMPSON, G. Introducing Functional Grammar London: Arnold , 1996.
  • TOLEDO VÁSQUEZ, P. Feminicidio: consultoría para la Oficina en México del Alto Comisionado de las Naciones Unidas para los Derechos Humanos. México, DF: Naciones Unidas, 2009.
  • VELASCO, C.; CAESAR, G.; REIS, T. Cresce o no de mulheres vítimas de homicídio no Brasil; dados de feminicídio são subnotificados. G1, Rio de Janeiro, 7 mar. 2018. Disponível em: Disponível em: https://glo.bo/2FnBCBW Acesso em: 10 ago. 2018.
    » https://glo.bo/2FnBCBW
  • WATTS, D. J. The “New” Science of Networks. Annual Review of Sociology, Palo Alto, v. 30, n. 1, p. 243-270, 2004. Doi: https://doi.org/10.1146/annurev.soc.30.020404.104342
    » https://doi.org/10.1146/annurev.soc.30.020404.104342
  • WORDSMITH Tools. Rodborough: Lexical Analysis, 2019. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/2WiPbdR Acesso em: 3 abr. 2019.
    » https://bit.ly/2WiPbdR
  • 2
    https://tools.digitalmethods.net/netvizz/facebook/netvizz/
  • 3
    https://www.sketchengine.eu/
  • 4
    https://gephi.org/
  • 5
    Este trabalho suplantou as diferenças entre feminicidio e femicidio pois o debate sobre o uso de ambas não é relevante para esta análise. Portanto filia-se a Toledo Vásquez ao afirmar que “el debate sobre estas dos expresiones, que se ha extendido llegando incluso a los argumentos lingüísticos a favor y en contra de una u otra. Si bien se observa una coexistencia relativamente pacífica de las voces ‘femicidio’ y ‘feminicidio’ en Latinoamérica, considerando al elemento impunidad -y por tanto, responsabilidad estatal- como principal diferenciador entre ambas, el cuestionamiento a la validez de una u otra expresión por parte de ciertas autoras dificultan actualmente la posibilidad de acercarse a un consenso en el plano teórico y político” (TOLEDO VÁSQUEZ, 2009TOLEDO VÁSQUEZ, P. Feminicidio: consultoría para la Oficina en México del Alto Comisionado de las Naciones Unidas para los Derechos Humanos. México, DF: Naciones Unidas, 2009., p. 28).
  • 6
    Para maiores detalhes, ver nota 3.
  • 7
    O teste chi-quadrado de Pearson se aplica a dados categóricos, tornando possível avaliar quão provável é que uma diferença aconteça. No caso deste estudo, ele foi usado para verificar a frequência com que os dados coletados na amostra selecionada se desviam ou não da frequência com que se espera que eles apareçam.
  • 8
    Estamos utilizando “falante” como um termo genérico para a entidade produtora da proposição.
  • Contribuição dos Autores Rodrigo Esteves de Lima-Lopes e Maristella Gabardo contribuíram de forma equivalente na produção deste artigo, estando envolvidos em todas as suas fases de produção.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jun 2019
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    11 Out 2018
  • Aceito
    20 Mar 2019
Faculdade de Letras - Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais - Faculdade de Letras, Av. Antônio Carlos, 6627 4º. Andar/4036, 31270-901 Belo Horizonte/ MG/ Brasil, Tel.: (55 31) 3409-6044, Fax: (55 31) 3409-5120 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: rblasecretaria@gmail.com