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Cabe terapia alternativa na RBO?

É muito desagradável quando durante o atendimento de um paciente surge uma pergunta ou uma afirmativa sobre terapia alternativa:

– Doutor, chá de sucupira é bom para artrose?

– Minha amiga fez sessões de Reiki e curou uma hérnia de disco.

– Não melhorei com os medicamentos, melhorei com os florais

– Não gosto de medicamentos normais, só uso homeopatia

Sugestões de toda ordem surgem, pois essas são maneiras mais simples de o paciente entender o mecanismo de ação do tratamento, são mais fáceis de obter, pois não necessitam de exames nem de avaliação médica, e mais baratas do que um tratamento orientado por médico. São prejudiciais, pois prolongam a evolução da doença sem trazer benefício.

O aparelho locomotor pode ser sede de até 20% de efeito placebo e, dessa forma, um percentual importante de pacientes pode apresentar uma melhoria sintomática e ilusória por um período prolongado e, assim, impedir que um tratamento adequado seja instituído.

Não há muito o que possamos fazer, pois mesmo em países de cultura e educação melhores do que as nossas a medicina alternativa existe e em alguns é muito forte. Há propagandas clássicas de cura de artrose com medicamentos, com radiografias antes e depois do tratamento, em uma revista de uma importante companhia área americana que são absurdas.

Devemos com paciência procurar educar a população e combater as pessoas, às vezes colegas, que vivem dessa ignorância do povo em relação à medicina e estar atentos a todas as formas de terapia alternativa, pois delas podem surgir caminhos terapêuticos interessantes.

A nossa atenção a novos procedimentos com efeito terapêutico positivo deve ser constante, pois qualquer recurso que alivie sintomas, de forma honesta e eficiente, deve ser agregado ao nosso arsenal terapêutico. O exagero dos efeitos, muito comum nos que lidam com terapias novas, leva ao descredito de métodos, que podem ser eficientes dentro dos limites de seu uso.

Algumas das terapias que foram consideradas alternativas já podem ser incluídas como auxiliares e em alguns casos principais.

Um exemplo é a acupuntura. Hoje sabemos que traz reais benefícios no tratamento de dores osteoarticulares com nenhuma agressividade e boa eficiência. Podemos usá-la como terapia coadjuvante no tratamento das tendinites, por exemplo, com resultados muito interessantes. O uso da acupuntura diminui a dor e isso permite orientarmos os alongamentos e a adequação da força muscular, que vão curar o paciente. É também bastante eficiente no tratamento de dores agudas e possibilita o tratamento paralelo da causa da dor, por exemplo, nas lesões musculares agudas.

Outras terapias para dor que são hoje usadas em fisiatria são muito úteis no tratamento de dores crônicas. No caso da artrose, a dor é provocada pelo desgaste da cartilagem e mais um sem número de fatores, como contração muscular, sinovites, tendinites; a correção da doença da cartilagem, de forma isolada, em alguns casos não é suficiente para o alívio imediato dos sintomas. É comum acompanharmos pacientes que após suas artroplastias apresentam dor, mesmo que as cirurgias estejam perfeitas. O uso de bloqueios, acupuntura e outros meios físicos traz alívio desses sintomas (RBO 2011;46(1):14-7).

Neste número apresentamos dois trabalhos interesssantes sobre o uso de condroprotetores, que na nossa opinião devem, com a viscossuplementação, ser incluídos no arsenal terapêutico das artroses iniciais ou mesmo como forma preventiva da evolução da artrose.

Há evidências suficientes para afirmarmos que nas fases iniciais da artrose do joelho a terapia com condroprotetores e a viscossuplementação são eficientes em retardar a evolução da doença. Não pode haver exagero e se acreditar que essa terapêutica será eficiente para tratar a artrose já estabelecida, com desvios de eixo e pinçamentos articulares.

No passado houve condroprotetores que não tinham qualquer ação, mas a busca de substâncias que melhoram a textura da cartilagem nos trouxe algumas eficientes e deve prosseguir, pois seguramente o tratamento da doença degenerativa será clínico, a artroplastia é o fim de uma terapia que falhou.

A positividade da ação terapêutica dos medicamentos atuais nos ensina a começar a tratar precocemente os pacientes passíveis de artrose, com o que, seguramente, obteremos melhores resultados.

Enfim, estaremos sempre atentos e abertos a analisar e divulgar novas terapias, que podem deixar de ser alternativas e passar a ser de eleição.

Assim, em relação à pergunta-título, a resposta é sim, pois quem sabe se não há algo no chá de sucupira que o torna um condroprotetor?

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2013
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