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SBOT e o relacionamento

A Universidade de Harvard recentemente publicou um estudo no qual relata o acompanhamento da vida de 724 pessoas da cidade de Boston, desde alunos da universidade até pessoas comuns, durante 76 anos. Um dos autores chama-se Waldinger, essa referência poderá auxiliar quem se interessar a localizar esse trabalho.

A vida dessas pessoas foi muito variada, há até um presidente dos Estados Unidos no grupo, alguns tiveram sérios problemas legais, outros ficaram muito ricos e a maioria teve uma vida comum.

A intenção do estudo foi verificar o que foi mais importante na vida dessas pessoas e a conclusão foi o relacionamento na maioria dos estudados. A riqueza, a pobreza, a importância, a insignificância não foram tão importantes como o relacionamento e as amizades.

Voltamos recentemente do 48° Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia (CBOT), após três dias de convívio e relacionamento nos quais pude valorizar muito esse trabalho de Harvard. Realmente os quatro mil participantes foram ao congresso em busca de relacionamento, basicamente, pois o aprendizado teria outras fontes para ser obtido, ao contrário do convívio.

Escuto de alguns teóricos e profetas do apocalipse que os congressos vão acabar, que deveríamos fazer o CBOT a cada dois anos, que as empresas farão seus congressos próprios e tantas outras idiotices que não consegui registrar. Tivemos um belíssimo congresso.

Este ano a organização, por razões que não cabe discutir neste espaço, fez o congresso em um ambiente único, definido apenas pelo som em fones de ouvido. Assim, um enorme espaço foi divido em seis módulos a partir de um centro e em cada um deles o fone só transmitia o som ambiente.

Um sistema discutível, que teve uma crítica constante: "Com o fone de ouvido não posso conversar com o meu parceiro ao lado e fica difícil fazer perguntas".

Ou seja, não posso me relacionar.

Assim como o estudo de Harvard demonstrou que o relacionamento é a grande força de nossas associações, será por meio dele que teremos mais força para continuar a fazer CBOTs, para ficar mais fortes. As empresas são bem assessoradas e sabem como devem se aproximar de nós. Realmente houve uma fuga das distribuidoras de material cirúrgico, mas paralelemente houve um aumento importante das indústrias de medicamentos em busca na nossa força de prescrição.

Acredito que os lamentáveis episódios ocorridos em função de uma leitura errada das distribuidoras de material cirúrgico, aliada à má remuneração do médico, são ainda a causa principal dessa fuga, disfarçada na palavra compliance. Esse episódio seguramente será superado, pois é inacreditável que a indústria, com tanta coisa nova para demonstrar e ser usada por nós, não use um congresso que reúne quatro a cinco mil usuários de seus produtos concentrados em um único ambiente com a intenção de aprender.

A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) é uma grande promotora de relacionamentos e deve continuar a sê-lo, caso contrário perderá a sua força. Nossos eventuais patrocinadores voltarão a entender que a melhor maneira de se relacionar conosco é ocupar os espaços destinados a eles na nossa educação médica continuada, os congressos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2017
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