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Determinação dos parâmetros anatômicos limítrofes para melhor desfecho funcional da fratura de Colles: Um estudo prospectivo* * Trabalho desenvolvido no Departamento de Ortopedia, S.C.B. Medical College and Hospital, Cutack, Odisha, Índia.

Resumo

Objetivo

O tratamento da fratura de Colles pode deformar o pulso. Alguns estudos afirmam que essa deformidade raramente dificulta as atividades diárias, enquanto outros relatam o contrário; assim, a redução anatômica é desejável. Nosso objetivo foi analisar os resultados anatômicos e funcionais da fratura de Colles para descobrir os valores de parâmetros individuais correspondentes ao melhor desfecho funcional.

Métodos

Este estudo prospectivo incluiu 70 pacientes idosos com fratura de Colles. Todos os pacientes foram tratados de forma conservativa. Os parâmetros anatômicos foram a angulação dorsal, a inclinação radial e a altura radial, avaliados de acordo com Stewart et al. O resultado funcional foi avaliado segundo a tabela de pontuação de pulso Mayo. Os resultados foram analisados por meio do teste de associação do qui-quadrado, considerando o valor de p< 0,001 estatisticamente significativo. A força das associações foi analisada por razões de possibilidades com intervalos de confiança de 95%.

Resultados

Excelentes e bons resultados anatômicos e funcionais foram obtidos em 68,5% e 78,5% dos casos, respectivamente, com diferença estatística significativa (p= 0,0009). Dos três parâmetros anatômicos, a angulação dorsal inferior a 10° e a perda da inclinação radial inferior a 9° apresentaram associação estatisticamente significativa com os resultados funcionais (p= 0,0006), mas não a perda de altura radial inferior a 6 mm (p= 0,0568); no entanto, a perda da altura radial inferior a 4 mm foi associada de forma significativa aos desfechos funcionais (p= 0,00062).

Conclusão

As fraturas com redução anatômica apresentam melhores desfechos funcionais. Os parâmetros anatômicos limítrofes aceitáveis para a obtenção de resultados funcionais excelentes ou bons são angulação dorsal inferior a 10°, perda da inclinação radial inferior a 9° e perda da altura radial inferior a 4 mm.

Palavras-chave
fratura de Colles; tratamento conservador/métodos; idoso

Abstract

Objective

The treatment of Colles fracture can deform the wrist. Some studies claim the resulting deformity rarely hinders daily activities, whereas others report the opposite; thus, anatomical reduction is desirable. Our objective was to analyze the anatomical and functional results of Colles fracture to find out the values of individual parameters corresponding to the best functional outcome.

Methods

The present prospective study included 70 elderly patients with Colles fracture. All patients were managed conservatively. The anatomical parameters were evaluated by measuring dorsal angulation, radial inclination, and radial height, and they were assessed as per Stewart et al. The functional result was assessed by the Mayo wrist score. The results were analyzed using the chi-squared test of association, and a p-value < 0.001 was considered statistically significant and to examine strengths of associations; we computed odds ratios (ORs) with 95% confidence intervals (CI).

Results

Excellent and good results were obtained in 68.5% of the cases anatomically and 78.5% functionally, which was statistically significant (p= 0.0009). Out of the three anatomical parameter dorsal angulation < 10° and loss of radial inclination < 9° showed statistically significant association with functional results (p= 0.0006), but loss of radial height < 6 mm did not (p= 0.0568), which became significant when loss of radial height was kept < 4 mm (p= 0.00062).

Conclusion

Fractures with anatomical reduction have better functional results. The acceptable borderline anatomical parameters for obtaining excellent or good functional results are dorsal angulation < 10°, loss of radial inclination < 9°, and loss of radial height < 4 mm.

Keywords
Colle's fracture; conservative treatment/methods; aged

Introdução

Anatomicamente, o membro superior, em especial a mão e o pulso, é feito para a movimentação precisa. A anatomia privilegiada de inclinação volar, inclinação radial e altura radial da extremidade distal do rádio dá ao pulso a incrível liberdade de movimento necessária para a precisão do trabalho que distingue os humanos. A desvantagem da postura ereta e do alto grau de movimentos é a maior propensão dos membros superiores a lesões, em comparação aos membros inferiores.11 Court-Brown CM, Caesar B. Epidemiology of adult fractures: A review. Injury 2006; 37 (08) 691-697 A fratura da extremidade distal do rádio é a mais comum e responsável por aproximadamente 17,5% de todas as fraturas.11 Court-Brown CM, Caesar B. Epidemiology of adult fractures: A review. Injury 2006; 37 (08) 691-697,22 Brogren E, Petranek M, Atroshi I. Incidence and characteristics of distal radius fractures in a southern Swedish region. BMC Musculoskelet Disord 2007; 8: 48 Sua distribuição etária é bimodal, com um pico de 6 a 10 anos e outro pico de 60 a 70 anos.22 Brogren E, Petranek M, Atroshi I. Incidence and characteristics of distal radius fractures in a southern Swedish region. BMC Musculoskelet Disord 2007; 8: 48 Mulheres idosas são sete vezes mais propensas a essas fraturas, talvez devido à osteoporose pós-menopausática.33 Hesp R, Klenerman L, Page L. Decreased radial bone mass in Colles' fracture. Acta Orthop Scand 1984; 55 (05) 573-575 A lesão se deve principalmente à queda simples com as mãos estendidas.44 Summers K, Fowles SM. Colles' Fracture. [Updated 2020 Jan 18]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020. Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK553071/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK55...
O padrão de fratura é tipicamente metafisário distal, com acometimento de 2,5 cm da extremidade distal do rádio e cominuição dorsal clássica, além de angulação dorsal, deslocamento dorsal e deslocamento radial; essa lesão, a fratura de Colles, recebe o nome de Sir Abraham Colles, que a descreveu em 1814.44 Summers K, Fowles SM. Colles' Fracture. [Updated 2020 Jan 18]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020. Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK553071/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK55...
Até hoje, o tratamento conservativo, com colocação de gesso abaixo do cotovelo com pulso neutro ou em flexão leve e desvio ulnar, é aceito como padrão em pacientes idosos com baixa demanda física.55 Edward A. Perez. Perez. Fractures of the shoulder, arm and forearm. In: Frederick M, Azar MD. editors. Campbell's operative orthopaedics. 13th ed.. Philadelphia: Elsevier; 2017: 2994 A cicatrização é geralmente acompanhada por uma deformidade, que pode ser tratada com habilidade em até 60% dos casos.66 Gartland Jr JJ, Werley CW. Evaluation of healed Colles' fractures. J Bone Joint Surg Am 1951; 33-A (04) 895-907,77 Mackenney PJ, McQueen MM, Elton R. Prediction of instability in distal radial fractures. J Bone Joint Surg Am 2006; 88 (09) 1944-1951

Discute-se se esta deformidade prejudica ou não o resultado funcional em pacientes idosos. Embora existam inúmeras publicações a esse respeito, não há consenso. Muitos afirmam que a fratura de Colles precisa de atenção especial, pois a deformidade decorrente prejudica a função do pulso.55 Edward A. Perez. Perez. Fractures of the shoulder, arm and forearm. In: Frederick M, Azar MD. editors. Campbell's operative orthopaedics. 13th ed.. Philadelphia: Elsevier; 2017: 2994,88 Cassebaum WH. Colles' fracture; a study of end results. J Am Med Assoc 1950; 143 (11) 963-965 Alguns autores dizem que mesmo pequenas mudanças nos parâmetros anatômicos da extremidade distal do rádio podem levar a um mau resultado funcional em até 17% dos casos.99 Golden GN. Treatment and prognosis of Colles' fracture. Lancet 1963; 1 (7280): 511-515 Outros relatam que o resultado funcional após a fratura de Colles é multifatorial e que reduções anatômicas não são necessariamente decisivas.1010 Finsen V, Rod O, Rød K, Rajabi B, Alm-Paulsen PS, Russwurm H. The relationship between displacement and clinical outcome after distal radius (Colles') fracture. J Hand Surg Eur Vol 2013; 38 (02) 116-126

Assim, este estudo foi realizado para avaliar os resultados anatômicos e funcionais da fratura de Colles tratada de forma conservativa em idosos e analisar a correlação entre os parâmetros anatômicos individuais e os resultados funcionais para determinação de limiares que correspondam a um melhor resultado funcional.

Material e Métodos

Após a obtenção da aprovação do comitê de ética e do consentimento dos pacientes, os dados de 70 indivíduos com fratura de Colles que compareceram ao ambulatório e ao pronto-socorro de nossa instituição entre maio de 2016 e maio de 2020 foram coletados e analisados de maneira prospectiva. Pacientes entre 60 e 80 anos de idade com fraturas unilaterais, extra-articulares fechadas do rádio distal foram incluídos neste estudo; indivíduos com fraturas bilaterais do rádio distal, fraturas intra-articulares e fraturas expostas foram excluídos.

Radiografias em incidências posteroanteriores (PAs) e laterais de ambos os punhos (caso e controle) foram obtidas. As fraturas foram classificadas de acordo com a classificação da Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen/Orthopedic Trauma Association (AO/OTA) (AO/OTA-2R3A2.2). Um bloqueio de hematoma (com 1 mL de lidocaína a 2%) foi realizado, seguido de manipulação fechada e colocação de gesso sob intensificador de imagem.1111 Wolfe SW. Distal Radius Fractures. In: Wolfe SW, Pederson WC, Cohen Mark S. editors. Green's Operative Hand Surgery. 7th ed.. Philadelphia: Elsevier; 2017: 530 Depois de atingir a redução anatômica aceitável, o antebraço foi imobilizado com gesso abaixo do cotovelo por 4 semanas. Após a remoção do gesso, o paciente foi submetido a fisioterapia supervisionada para evitar rigidez e, em seguida, acompanhado em consultas realizadas aos 3 e 6 meses, e uma vez ao ano para avaliação anatômica e funcional. Os parâmetros anatômicos de inclinação radial, angulação dorsal ou inclinação palmar e comprimento radial foram determinados radiologicamente1212 Bilić R, Ruzić L, Zdravković V, Boljević Z, Kovjanić J. Reliability of different methods of determination of radial shortening. Influence of ulnar and palmar tilt. J Hand Surg [Br] 1995; 20 (01) 97-101 (Fig. 1). O programa MicroDicom foi usado para cálculo dos ângulos e comprimentos a partir das radiografias (Fig. 2).

Fig. 1
Diagrama esquemático da medida dos diferentes parâmetros anatômicos (A) Medida da inclinação radial; (B) medida da inclinação palmar; (C) medida do comprimento radial.

Fig. 2
Medidas realizadas com o programa MicroDicom. (A) Inclinação radial; (B) angulação dorsal; (C) altura radial.

Os resultados anatômicos foram avaliados de acordo com os critérios estabelecidos por Stewart et al.1313 Stewart HD, Innes AR, Burke FD. Functional cast-bracing for Colles' fractures. A comparison between cast-bracing and conventional plaster casts. J Bone Joint Surg Br 1984; 66 (05) 749-753 Segundo esse autor, a angulação dorsal aceitável é de 10°, a perda aceitável de inclinação radial é de 9° e a perda aceitável de comprimento do osso radial é de 6 mm (Tabela 1). O resultado funcional foi avaliado pela tabela de pontuação de pulso Mayo dos 6 meses ao último acompanhamento1414 Cooney WP, Bussey R, Dobyns JH, Linscheid RL. Difficult wrist fractures. Perilunate fracture-dislocations of the wrist. Clin Orthop Relat Res 1987; (214) 136-147 (Tabela 1). Um goniômetro foi utilizado para medir a flexibilidade da articulação do pulso da mão saudável e da mão fraturada. Um dinamômetro foi usado para medir a força de preensão.

Tabela 1
Sistemas de pontuação anatômica e funcional

Os dados demográficos foram mostrados como médias, amplitudes e proporções. Os resultados anatômicos e funcionais foram comparados com o teste de associação do qui-quadrado usando tabelas 2 × 2 que combinam campos com resultados excelentes e bons e campos com resultados razoáveis e maus. O valor de p< 0,001 foi considerado estatisticamente significativo. A força das associações entre resultados funcionais e anatômicos foi determinada por razões de possibilidades (RPs) com intervalos de confiança (ICs) de 95%.

Resultados

Dos 70 pacientes, 42 eram do sexo feminino e 28 eram do sexo masculino. A média de idade foi de 66,3 ± 3,2 anos (variação de 60-80 anos). Em 42 pacientes, a fratura ocorreu na mão dominante e em 28 pacientes, na mão não dominante. Os parâmetros anatômicos da mão normal (controle) são mostrados a seguir (Tabela 2).

Tabela 2
Perfil demográfico e parâmetros anatômicos da mão normal

O resultado funcional foi excelente em 43, bom em 12, regular em 8 e ruim em 7 pacientes. O resultado anatômico foi excelente em 41, bom em 7, regular em 10 e ruim em 12 pacientes, aos 6 meses. Esses resultados foram representados em uma tabela 2 × 2 que mostrou uma associação estatisticamente significativa, com p< 0,001 (0,0009), entre os resultados anatômicos e funcionais (Tabela 3 e Figura 3).

Tabela 3
Análise estatística dos resultados de tabelas 2 x 2

Fig. 3
Acompanhamento da fratura de Colles do pulso direito. (A) Quadro clínico; (B) inclinação radial; (C) inclinação dorsal; (D) altura radial.

À comparação dos parâmetros anatômicos individuais e resultados funcionais, uma associação estatisticamente significativa, de p< 0,001, foi observada entre a angulação dorsal e os resultados funcionais (qui-quadrado = 11,75, grau de liberdade [GL] = 1, p= 0,0006, RP = 7,67, IC de 95% = 2,18-26,92) com 10° ou menos de angulação dorsal como valor limite (Tabela 3).

Uma associação estatisticamente significativa, de p< 0,001, foi observada entre a perda de inclinação radial de até 9° e os resultados funcionais (qui-quadrado = 11,77, GL = 1, p= 0,0006, RP = 7,67, IC de 95% = 2,18-26,92) (Tabela 3).

Não houve associação estatisticamente significativa, com p> 0,001 (0,01), entre a perda de até 6 cm de altura radial e os resultados funcionais (qui-quadrado = 6,62, GL = 1, p= 0,01, RP = 4,57, IC de 95% = 1,33-15,33) (Tabela 3).

Na determinação do valor limítrofe de perda de altura radial, uma associação estatisticamente significativa (qui-quadrado = 11,70, GL = 1, p= 0,00062, RP = 8,94, IC 95% = 2,23-35,84) foi encontrada entre os resultados funcionais e até 4 mm de perda de altura radial (Tabela 3).

Discussão

A incidência da fratura de Colles foi maior entre os idosos na faixa etária de 60 a 69 anos (faixa de 60 a 80), e foi 3 vezes mais comum em mulheres (42 [60%]) do que em homens (28 [40%]). Esses achados são similares aos de Chung et al.,1515 Chung KC, Cho HE, Kim Y, Kim HM, Shauver MJ. WRIST Group. Assessment of Anatomic Restoration of Distal Radius Fractures Among Older Adults: A Secondary Analysis of a Randomized Clinical Trial. JAMA Netw Open 2020; 3 (01) e1919433 que observaram 86,7% dos pacientes do sexo feminino e média de idade de 70,9 ± 8,9 anos.

A morfometria normal do rádio distal a partir do pulso consistiu em inclinação radial média de 25,6 ± 2,8° (20-30°), inclinação palmar de 7,9 ± 4,2° (0-15°) e comprimento radial de 13,4 ± 1,7 mm (8-18 mm). Os dados morfométricos podem variar de acordo com localizações geográficas e etnias (Tabela 4).1111 Wolfe SW. Distal Radius Fractures. In: Wolfe SW, Pederson WC, Cohen Mark S. editors. Green's Operative Hand Surgery. 7th ed.. Philadelphia: Elsevier; 2017: 530,1616 Perez EA. Fractures of the shoulder, arm and forearm. In: Azar FM, Canale ST, Beaty JH. editors. Campbell's operative orthopaedics. 13th ed.. Philadelphia: Elsevier; 2017: 2993

17 Mishra PK, Nagar M, Gaur SC, Gupta A. Morphometry of distal end radius in the Indian population: A radiological study. Indian J Orthop 2016; 50 (06) 610-615
-1818 Dario P, Matteo G, Carolina C. et al. Is it really necessary to restore radial anatomic parameters after distal radius fractures?. Injury 2014; 45 (Suppl. 06) S21-S26

Tabela 4
Estudos que analisam a morfometria da extremidade distal do rádio

Os resultados funcionais foram excelentes e bons em 55 (78,5%) e razoáveis e maus em 15 (21,5%) pacientes, enquanto os resultados anatômicos foram excelentes e bons em 48 (68,5%) e razoáveis e maus em 22 (31,5%) pacientes idosos com fratura de Colles tratados de forma conservativa (Tabela 5). A análise estatística mostrou uma correlação significativa entre esses achados, com p= 0,0009, qui-quadrado = 10,99 e RP = 7,17. Isso difere dos resultados obtidos por Gartland e Werley, que observaram resultados funcionais surpreendentemente bons apesar do reposicionamento deficiente e da imobilização inadequada.66 Gartland Jr JJ, Werley CW. Evaluation of healed Colles' fractures. J Bone Joint Surg Am 1951; 33-A (04) 895-907 Nossos resultados também diferem daqueles relatados por Finsen et al.1010 Finsen V, Rod O, Rød K, Rajabi B, Alm-Paulsen PS, Russwurm H. The relationship between displacement and clinical outcome after distal radius (Colles') fracture. J Hand Surg Eur Vol 2013; 38 (02) 116-126 e Chung et al.,1515 Chung KC, Cho HE, Kim Y, Kim HM, Shauver MJ. WRIST Group. Assessment of Anatomic Restoration of Distal Radius Fractures Among Older Adults: A Secondary Analysis of a Randomized Clinical Trial. JAMA Netw Open 2020; 3 (01) e1919433 que afirmaram que o restauro preciso da anatomia do pulso não é associado ao melhor desfecho funcional.1010 Finsen V, Rod O, Rød K, Rajabi B, Alm-Paulsen PS, Russwurm H. The relationship between displacement and clinical outcome after distal radius (Colles') fracture. J Hand Surg Eur Vol 2013; 38 (02) 116-126,1515 Chung KC, Cho HE, Kim Y, Kim HM, Shauver MJ. WRIST Group. Assessment of Anatomic Restoration of Distal Radius Fractures Among Older Adults: A Secondary Analysis of a Randomized Clinical Trial. JAMA Netw Open 2020; 3 (01) e1919433 Arrora et al.1919 Arora R, Lutz M, Deml C, Krappinger D, Haug L, Gabl M. A prospective randomized trial comparing nonoperative treatment with volar locking plate fixation for displaced and unstable distal radial fractures in patients sixty-five years of age and older. J Bone Joint Surg Am 2011; 93 (23) 2146-2153 descobriram que a reconstrução anatômica não se traduziu em nenhuma melhora na amplitude de movimento ou na habilidade de realização de atividades da vida diária em idosos. Anzarut et al.2020 Anzarut A, Johnson JA, Rowe BH, Lambert RG, Blitz S, Majumdar SR. Radiologic and patient-reported functional outcomes in an elderly cohort with conservatively treated distal radius fractures. J Hand Surg Am 2004; 29 (06) 1121-1127 e Young e Rayan2121 Young BT, Rayan GM. Outcome following nonoperative treatment of displaced distal radius fractures in low-demand patients older than 60 years. J Hand Surg Am 2000; 25 (01) 19-28 também concordaram que a redução radiográfica não foi associada ao melhor desfecho funcional e obtiveram boa função em casos com maus desfechos anatômicos. No entanto, poucos autores relataram uma correlação significativa entre os resultados anatômicos e funcionais que apoiam este estudo, como Kong et al.,2222 Kong L, Kou N, Wang Y, Lu J, Tian D, Zhang B. The Necessity of Restoration of Radiologic Parameters by Closed Reduction in Elderly Patients with Distal Radius Fractures. Med Sci Monit 2019; 25: 6598-6604 que afirmaram que a redução satisfatória é a primeira escolha, pois a perda de alinhamento provoca diminuição da força de preensão, aparência insatisfatória e certa limitação dos movimentos do pulso. Slogaard et al.2323 Solgaard S. Function after distal radius fracture. Acta Orthop Scand 1988; 59 (01) 39-42 observaram que a função foi influenciada pelos resultados radiográficos, indicando a associação entre a melhora funcional e a melhor técnica de redução da fratura e a prevenção de deslocamentos secundários. Jenkins et al.2424 Jenkins NH, Mintowt-Czyz WJ. Mal-union and dysfunction in Colles' fracture. J Hand Surg Br 1988; 13 (03) 291-293 descobriram que a recuperação final da força de preensão estava relacionada à inclinação da superfície articular do rádio cicatrizado, tanto no plano coronal quanto no sagital. Além disso, a perda do comprimento radial parece se tornar um determinante importante da dor em longo prazo.

Tabela 5
Estudos comparando desfechos anatômicos e funcionais de fraturas do rádio distal

Ao estudar a relação de parâmetros anatômicos individuais e a função final, o presente estudo demonstrou uma associação significativa entre a angulação dorsal inferior a 10° e a perda da inclinação radial de inferior a 9° e os resultados funcionais (p= 0,0006, qui-quadrado = 11,75, RP 7,67). A perda de altura radial de até 6 mm não foi associada ao resultado funcional (p= 0,01); porém, a perda de altura radial de até 4 mm apresentou associação significativa (p= 0,00062, qui-quadrado = 11,70, RP = 8,94]. (Tabela 6). Stewart et al.,1313 Stewart HD, Innes AR, Burke FD. Functional cast-bracing for Colles' fractures. A comparison between cast-bracing and conventional plaster casts. J Bone Joint Surg Br 1984; 66 (05) 749-753 em seu trabalho sobre órtese gessada funcional para tratamento da fratura de Colles, observaram que lesões com angulação dorsal inferior a 10°, perda de inclinação radial de até 9° e perda de altura radial de até 6 mm apresentaram melhor resultado funcional, independentemente dos métodos de imobilização com gesso ou órtese. Altimissi et al.2525 Altissimi M, Antenucci R, Fiacca C, Mancini GB. Long-term results of conservative treatment of fractures of the distal radius. Clin Orthop Relat Res 1986; (206) 202-210 relataram resultados insatisfatórios com angulação dorsal de até 15°, perda da inclinação radial de até 5° e variância ulnar inferior a 5 mm. Slogaard et al.2323 Solgaard S. Function after distal radius fracture. Acta Orthop Scand 1988; 59 (01) 39-42 observaram resultados funcionais excelentes ou bons com angulação dorsal inferior a 10° e perda da altura radial de até 7 mm. Salmon e Pattern2626 Salmon JM, Pattern S. Prevention of malunion of distal radius fracture. J Bone Joint Surg Br 1999; 81 (01) 5 definiram a má união na fratura do rádio distal como angulação dorsal inferior a 10°, perda de inclinação radial inferior a 17°, perda da altura radial de até 3 mm e variação ulnar inferior a 1 mm. Fujii et al.2727 Fujii K, Henmi T, Kanematsu Y, Mishiro T, Sakai T, Terai T. Fractures of the distal end of radius in elderly patients: a comparative study of anatomical and functional results. J Orthop Surg (Hong Kong) 2002; 10 (01) 9-15 relataram que o encurtamento radial de mais de 6 mm pode ser responsável pelo mau resultado funcional. Smilovic et al.2828 Smilovic J, Bilic R. Conservative treatment of extra-articular Colles' type fractures of the distal radius: prospective study. Croat Med J 2003; 44 (06) 740-745 definiram os valores limítrofes como angulação dorsal menor ou igual a 9°, perda de inclinação radial menor ou igual a 3° e perda de altura radial menor ou igual a 2 mm para alcançar uma boa função.

Tabela 6
Estudos que estimaram valores de parâmetros anatômicos individuais correlacionados a resultados funcionais excelentes ou bons em fraturas do rádio distal

A limitação deste estudo é o pequeno tamanho da amostra (n= 70). A análise de dados realizada foi bivariada, com uso do qui-quadrado e RP. No entanto, como a fratura do rádio distal é influenciada por múltiplas variáveis além da redução, um modelo de regressão multivariável teria sido uma escolha melhor para análise estatística. A redução anatômica nem sempre é o único parâmetro para melhora funcional, como indicado por Cooney et al.,2929 Cooney III WP, Dobyns JH, Linscheid RL. Complications of Colles' fractures. J Bone Joint Surg Am 1980; 62 (04) 613-619 que declararam que a lesão do tecido mole é igualmente responsável pela rigidez resultante. Isso não foi considerado neste estudo, o que pode ser uma limitação.

Um ponto forte desse estudo é que poucas análises dessa natureza, como a de Smilovic et al.,2828 Smilovic J, Bilic R. Conservative treatment of extra-articular Colles' type fractures of the distal radius: prospective study. Croat Med J 2003; 44 (06) 740-745 foram conduzidas para determinação dos valores limítrofes dos parâmetros anatômicos para obtenção de bons desfechos funcionais. Portanto, acreditamos que novas pesquisas com maior tamanho de amostra e modelos estatísticos analíticos mais elevados confirmariam nossos achados.

Conclusão

Até hoje, o tratamento não cirúrgico da fratura de Colles, especialmente em idosos, é aceitável, mas a boa função pode ser alcançada com uma melhor redução anatômica. Este estudo recomenda valores limítrofes aceitáveis dos parâmetros anatômicos, como angulação dorsal inferior a 10°, perda da inclinação radial de até 9° e perda da altura radial de até 4 mm, para a obtenção de desfechos funcionais excelentes ou bons.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer a todos os nossos pacientes que participaram do estudo. Agradeço às irmãs, à equipe de OT, aos responsáveis pela entrada de dados e colegas pela ajuda e apoio. Expresso honra e gratidão ao nosso Professor e HOD por seu apoio incomparável durante o estudo. Por último, gostaria de me curvar perante o Todo Poderoso por todas as bênçãos que derrama sobre mim.

  • Suporte Financeiro
    Não houve suporte financeiro de fontes públicas, comerciais, ou sem fins lucrativos.
  • *
    Trabalho desenvolvido no Departamento de Ortopedia, S.C.B. Medical College and Hospital, Cutack, Odisha, Índia.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Set 2022
  • Data do Fascículo
    Jul-Aug 2022

Histórico

  • Recebido
    29 Jul 2020
  • Aceito
    28 Out 2020
  • Publicado
    05 Maio 2021
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