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CBOT: o nosso desafio constante

Recentemente tivemos mais um Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia (CBOT), desta vez na cidade do Rio de Janeiro, com suas belezas, sua alegria e a simpática competência do carioca.

O Rio tem uma grande tradição de congressos, desde o do Quitandinha, o primeiro grande congresso brasileiro, até os congressos internacionais de atualização em ortopedia e traumatologia (Ortras), que marcaram época e determinaram um padrão.

Os convidados estrangeiros, o rigoroso controle de horários, a organização detalhada e as festas majestosas fizeram dos Ortras uma referência.

Alguns dirão: eram outras épocas.

Essa é uma forma confortável de evitar a comparação com o passado brilhante.

O que mudou na ortopedia e nos congressos?

Em minha opinião, as subespecialidades da ortopedia são a grande novidade. Cada vez maiores e mais fortes, atraem patrocínios específicos, que buscam o consumidor já direcionado.

O interesse nas subespecialidades traduz o momento da medicina, que foi dividida para facilitar o conhecimento, pois é quase impossível alguém se atualizar e ter vivência prática em toda a ortopedia e traumatologia.

Partimos dos mesmos princípios básicos e nos especializamos cada vez mais para poder desempenhar melhor a nossa atividade profissional.

A base segue sendo a ortopedia e a traumatologia, que a todo o momento nos auxiliam a compreender a prática da especialidade. Sem a base vamos perdendo solidez na nossa área específica.

Como fixaríamos as nossas osteotomias sem os princípios da osteossíntese estabelecidos pela traumatologia? Como trataríamos as artroses sem os conhecimentos básicos da fisiologia e do caráter geral da doença? Como estabeleceríamos diagnósticos de dores nos membros sem o conhecimento das síndromes vertebrais? E tantos outros exemplos.

Atualizar os nossos conhecimentos é uma prática necessária em todos os níveis.

Os congressos são a nossa principal área de atualização e é neles que dedicamos espaços para as novidades e para os conceitos definidos em medicina, na ortopedia e na área específica de especialidade.

Os CBOTs mais recentes têm tido esse formato e têm se tornado grande sucesso de presença.

A valorização das especialidades, com o retorno do período de um dia inteiro, o chamado dia da especialidade, sem se afastar dos temas básicos e gerais da ortopedia, com informações importantes das novidades da medicina, tem sido uma fórmula que está dando certo.

Persiste ainda uma incógnita, que é o custo dos congressos.

Os locais para receber mais de cinco mil participantes (número do CBOT-Rio) e a área de exposição são raros e caros.

A tendência desse número é aumentar, pois apenas 30% dos presentes nos últimos CBOTs são sócios quites da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), que tem mais de doze mil sócios nos seus quadros.

A área técnica exige investimentos cada vez maiores nos sistemas de divulgação e de apresentação.

A divulgação deve atingir um número cada vez maior de pessoas, mas o sistema de correios é dispendioso e está se tornando desatualizado, o que torna necessários sistemas de divulgação eletrônicos, que são progressivamente mais caros e sofisticados.

Até as inscrições, que eram feitas com um boleto colocado no correio, estão sendo substituídas por sofisticados processos eletrônicos.

Como essa é ainda uma fase de transição, temos de introduzir e usar os meios eletrônicos, que permitem uma infinidade de controles e avaliações, mantendo os sistemas de correio, pois ainda não estamos completamente adaptados aos meios eletrônicos. Assim, temos um custo duplo.

Os métodos atuais de apresentação são sofisticados e exigem equipamentos audiovisuais de qualidade manipulados por raros profissionais competentes no ramo. As apresentações, que se resumiam a slides em carrosséis, hoje são feitas com filmes e animações que exigem equipamentos cada vez mais dispendiosos.

Há ainda as atividades sociais, que atingem custos altíssimos, especialmente pela imprevisibilidade.

O próprio congresso é uma atividade social. O congressista permanece muitas horas no ambiente. Então são necessárias praças de alimentação, centros de comunicação e áreas de convívio.

As festas fora do ambiente e do horário do congresso são de difícil programação.

Uma festa para os ortopedistas deve ser programada para quantas pessoas?

Não tem sido raro programá-la para o número de inscritos no congresso e ser frequentada por apenas 10%, o que gera enormes gastos inúteis.

As festas têm que existir, é claro, mas de forma específica e dirigida, o que as torna mais econômicas e eficientes no objetivo de confraternizar.

Há algo fundamental para a realização dos nossos congressos com todos os aspectos citados: nossos patrocinadores.

A relação com os nossos patrocinadores está em um momento difícil, pois o relacionamento comercial do médico com qualquer coisa que não seja gratuita ou tabelada é visto como duvidoso.

O patrocínio, tão comum nas outras atividades, tem sido muito questionado na área médica.

Sempre soubemos lidar com os nossos patrocinadores, que permitiram, ao longo dos anos, a evolução de nossa especialidade, patrocinando cursos e a vinda de importantes convidados estrangeiros; tenho certeza de que superaremos esta fase.

Nossos pacientes serão nossos maiores aliados neste difícil processo de fazer a sociedade entender que a medicina não difere das outras atividades profissionais, pois necessita investimentos e atualização, portanto, patrocínio.

Não temos nada a temer, pois somos credores no balanço na nossa relação com a sociedade em geral.

O CBOT anual é o maior negócio da SBOT, que é uma sociedade forte e madura que saberá enfrentar e superar as suas novas dificuldades.

Já estamos montando o 47° CBOT, que será em São Paulo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2015

Histórico

  • Aceito
    21 Fev 2015
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