Acessibilidade / Reportar erro

Emissões otoacústicas por produtos de distorção na paralisia de Bell

Distortion product otoacustic emissions in Bell's palsy

Resumos

Introdução: O núcleo do nervo facial e do núcleo olivar superior são conectados por fibras, desta forma uma lesão nesta conecção poderia interferir na função das células ciliadas externas, alterando o exame de emissão otoacústica por produtos de distorção (EOAPD). Objetivo: Observar a possibilidade da paralisia de Bell afetar a função das células ciliadas externas através da EOAPD. Forma do Estudo: Prospectivo clínico. Material e Método: Quarenta pacientes com paralisia de Bell foram comparados com 69 pacientes normais (grupo controle), usando EOAPD. Resultados: Os pacientes com paralisia de Bell e EOAPD alterados foram de 17,5% e no grupo controle de 7,2%, sem diferença estatística entre os valores. Não se observou também uma correlação entre o reflexo estapediano e o grau da paralisia facial com a EOAPD. Conclusão: Não observamos correlação entre EOAPD e a paralisia de Bell.

paralisia de Bell; emissões otoacústicas; paralisia facial idiopática


Introduction: The facial nucleus and olivar nucleus are connected with fibers, then a lesion in this conection could interfer in the outer cell function changing the result of otoacoustic emission product distortion test (DPOE). Objective: To observe the possibility of Bell's palsy affect the function of outer hair cells, using the DPOE test. Study Design: Prospective clinical. Material and Method: Forty patients with Bell's palsy were compared with 69 patients without symptons (control group) using DPOE. Results: The patients with Bell's palsy without DPOE response were 17.5% and in the control group, 7.2%, without statistical difference between them. We did not observe a correlation with stapedium reflex and degree of palsy and DPOE. Conclusion: There was no correlation with Bell's palsy and DPOE.

Bell's palsy; otoacoustic emissions; idiopathic facial paralysis


ARTIGO ORIGINAL

ORIGINAL ARTICLE

Emissões otoacústicas por produtos de distorção na paralisia de Bell

Distortion product otoacustic emissions in Bell's palsy

Cristiane A. Kasse11 Mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP-EPM). Mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP-EPM). 2 Prof. Doutor convidado da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da UNIFESP-EPM). 3 Prof. Adjunto da disciplina de Otorrinolaringologia e chefe do setor de Otologia da UNIFESP-EPM). 4 Prof. Livre docente, convidado da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da UNIFESP-EPM). , José R. G. Testa21 Mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP-EPM). Mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP-EPM). 2 Prof. Doutor convidado da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da UNIFESP-EPM). 3 Prof. Adjunto da disciplina de Otorrinolaringologia e chefe do setor de Otologia da UNIFESP-EPM). 4 Prof. Livre docente, convidado da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da UNIFESP-EPM). ,Yotaka Fukuda31 Mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP-EPM). Mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP-EPM). 2 Prof. Doutor convidado da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da UNIFESP-EPM). 3 Prof. Adjunto da disciplina de Otorrinolaringologia e chefe do setor de Otologia da UNIFESP-EPM). 4 Prof. Livre docente, convidado da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da UNIFESP-EPM). , Oswaldo L. M. Cruz41 Mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP-EPM). Mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP-EPM). 2 Prof. Doutor convidado da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da UNIFESP-EPM). 3 Prof. Adjunto da disciplina de Otorrinolaringologia e chefe do setor de Otologia da UNIFESP-EPM). 4 Prof. Livre docente, convidado da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da UNIFESP-EPM).

Resumo / Summary

Introdução: O núcleo do nervo facial e do núcleo olivar superior são conectados por fibras, desta forma uma lesão nesta conecção poderia interferir na função das células ciliadas externas, alterando o exame de emissão otoacústica por produtos de distorção (EOAPD). Objetivo: Observar a possibilidade da paralisia de Bell afetar a função das células ciliadas externas através da EOAPD. Forma do Estudo: Prospectivo clínico. Material e Método: Quarenta pacientes com paralisia de Bell foram comparados com 69 pacientes normais (grupo controle), usando EOAPD. Resultados: Os pacientes com paralisia de Bell e EOAPD alterados foram de 17,5% e no grupo controle de 7,2%, sem diferença estatística entre os valores. Não se observou também uma correlação entre o reflexo estapediano e o grau da paralisia facial com a EOAPD. Conclusão: Não observamos correlação entre EOAPD e a paralisia de Bell.

Palavras-chave: paralisia de Bell, emissões otoacústicas, paralisia facial idiopática.

Introduction: The facial nucleus and olivar nucleus are connected with fibers, then a lesion in this conection could interfer in the outer cell function changing the result of otoacoustic emission product distortion test (DPOE). Objective: To observe the possibility of Bell's palsy affect the function of outer hair cells, using the DPOE test. Study Design: Prospective clinical. Material and Method: Forty patients with Bell's palsy were compared with 69 patients without symptons (control group) using DPOE. Results: The patients with Bell's palsy without DPOE response were 17.5% and in the control group, 7.2%, without statistical difference between them. We did not observe a correlation with stapedium reflex and degree of palsy and DPOE. Conclusion: There was no correlation with Bell's palsy and DPOE.

Key words: Bell's palsy, otoacoustic emissions, idiopathic facial paralysis.

INTRODUÇÃO

A paralisia de Bell, também denominada de paralisia facial periférica idiopática, é uma doença prevalente no nosso meio, variando de 13 a 34 casos a cada 100.000 pessoas1. Caracteriza-se por acometer unilateralmente a face, podendo ser parcial ou total, devido a uma disfunção aguda do nervo facial e é considerada um diagnóstico de exclusão, pois sua etiologia ainda não está totalmente esclarecida.

A hipótese mais provável, com os recentes estudos, é que seja de etiologia viral, provocado pelo herpes simples2,3,4,5 ocorrendo uma agressão direta sobre o nervo, gerando um edema e diminuição de sua condução.

O fato de alguns pacientes apresentarem queixas de disacusia ou hiperacusia ou zumbido, acompanhando o quadro clínico, além de sua proximidade topográfica com o nervo coclear e o seu núcleo, gerou várias pesquisas sobre a relação entre a paralisia facial e o nervo coclear.

O fato do núcleo do facial estar intimamente relacionado com o núcleo olivar superior, despertou-nos a curiosidade de estudar as modificações ocasionadas neste sistema na paralisia de Bell. O centro do reflexo estapediano, cuja aferência é dada pelo nervo coclear, localiza-se no núcleo olivar superior, que emite fibras eferentes para o núcleo motor do facial, responsável pela contração do músculo estapediano6.

Na paralisia de Bell, alguns estudos relatam que a doença não restringe somente ao nervo e ao núcleo do facial, havendo a possibilidade de acometimento do núcleo olivar ou no nervo coclear, sem danificá-lo, gerando alterações vistas na audiometria de tronco cerebral7,8,9,10 e na audiometria de alta freqüência11.

Apesar disso, Hendrix12 e Uri13 não comprovaram os fatos acima, não observando alterações na audiometria de tronco cerebral em seus pacientes. Estudos experimentais5, histopatológicos e por meio de detecção do vírus pelo método de PCR (polymerase chain reaction)2, também classificaram a doença como sendo restrita ao nervo e ao núcleo do facial. Deste modo, ainda há controvérsias na literatura sobre a extensão da patologia.

Como o trato olivococlear (via eferente), especificamente o feixe olivococlear medial, origina-se também no núcleo olivar, fazendo sinapse com as células ciliadas externas para modular a sua contratilidade14, uma possível alteração causada pela paralisia de Bell ao nível deste núcleo poderia causar também uma alteração da via eferente coclear, ratificando a idéia da doença não se restringir somente ao nervo e núcleo do facial. Esta alteração seria possível de ser detectada pelo estudo das emissões otoacústicas, verificando a função da célula ciliada externa.

O objetivo deste estudo é avaliar se a paralisia de Bell pode comprometer o funcionamento das células ciliadas externas por meio do estudo da EOAPD (emissões otoacústicas por produtos de distorção).

MATERIAL E MÉTODO

Analisamos 40 pacientes com paralisia de Bell na fase aguda, de ambos os sexos, atendidos no Ambulatório de Otorrinolaringologia da UNIFESP-EPM no período de abril de 1999 até julho de 2000, comparados com o grupo de pacientes sem sintomas (grupo controle normal). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Médica da Escola Paulista de Medicina-UNIFESP.

Realizamos um exame otorrinolaringológico completo, observando inclusive o grau de paralisia facial no início até a sua recuperação completa.

Os testes auditivos como audiometria tonal, audiometria vocal, imitanciometria e EOAPD foram realizados no início e após a recuperação completa. Naqueles que não evoluíram satisfatoriamente, consideramos o grau final como o grau após 2 meses do início do quadro (final).

Os pacientes com paralisia facial com mais de 15 dias de evolução e/ou com causa definida e/ou com audiometria tonal ou vocal alterados foram excluídos do nosso estudo.

O grupo controle foi constituído de 69 pacientes de ambos os sexos, sem queixa auditiva, com limiar audiométrico normal (limiar menor ou igual a 25 dB NA), imitanciometria normal e sem paralisia facial.

A classificação do grau de paralisia facial seguiu os critérios de House & Brackmann (1985)15.

RESULTADOS

1. Grupo controle

Analisamos 138 orelhas de indivíduos normais, sem antecedentes ou sintomas otológicos.

O valor mínimo da amplitude do produto de distorção para cada freqüência correspondeu ao valor do percentil 5. No caso do ruído de fundo (NF), adotamos o percentil 95 como valor máximo, sendo o valor –6 comum na maioria das freqüências no grupo controle, levando-nos a adotar este valor como o valor de corte.

Para considerarmos a emissão otoacústica presente em determinada freqüência, seus valores deveriam estar dentro desses limites.

Na análise do produto de distorção, selecionamos como os valores de corte o percentil 5 (P5) para cada freqüência testada, conforme a Tabela 1.

Classificamos o produto de distorção como presente ou ausente segundo os critérios da Tabela 2, na qual consideramos o resultado de cada freqüência, o ruído de fundo e o produto de distorção.

De acordo com estes resultados, os exames de cada orelha eram classificados como normais ou alterados, conforme o número de freqüências com o produto de distorção ausente. As orelhas com até duas freqüências ausentes foram consideradas como normais, acima disto, como alteradas.

Obtivemos desta forma, no grupo controle, 7,2% dos indivíduos com exame alterado.

2. Da Amostra

Analisamos 40 pacientes com diagnóstico de paralisia de Bell, com audiometria tonal e vocal normais.

A média de idade foi de 27,9 anos, com intervalo de 10 a 52 anos; 22 eram do sexo feminino e 18 do masculino, com a proporção de femininos em relação ao masculino de 1,22.

A raça de maior incidência foi a raça branca com 65% dos casos, seguida da raça negra, 35%, não apresentando nenhum paciente da raça amarela.

Com relação ao lado acometido, 24 foram à direita e 16 à esquerda, com o tempo médio de 6.25 dias desde o início do quadro até a procura ao médico, sendo 4 de início progressivo e 36 de início súbito.

2.1 Relação entre o grau de paralisia facial e a OEAPD no início dos sintomas

O grau inicial da paralisia facial, segundo a classificação de House & Brackman, seguiu a distribuição exibida no Gráfico 1, com 10 pacientes com grau VI, 8 com grau V, 17 com grau IV, 4 com grau III e 1 com grau II.


Ao analisarmos a correlação entre o grau inicial da paralisia de Bell e o resultado da EOAPD, não se observaram indícios de que haja relação entre eles, e devido à baixa freqüência de algumas classificações, não há teste aplicável, observada na Tabela 3.

2.2 Relação entre o reflexo estapediano inicial e a resposta à OEAPD

Os pacientes com reflexo presente no início do quadro eram em número de 5, destes 1 apresentava paralisia grau II, 3 paralisia facial grau III e 1 paralisia grau IV. A EOAPD não se mostrou alterado em nenhum momento nestes pacientes.

A Tabela 4 ilustra a correlação entre o reflexo estapediano e a EOAPD; 17,5% dos pacientes com o reflexo estapediano ausente apresentavam a resposta à EOAPD alterados. Ao submeter a amostra ao teste Fisher, não houve diferença estatisticamente significante (p = 0,565) entre os grupos.

2.3 Relação entre o grau de paralisia facial e a OEAPD após 2 meses

O grau final (após 2 meses) de paralisia facial foi 1 caso com grau VI, 1 com grau V, 1 com grau IV, 3 com grau II e 34 com grau I (Gráfico 2).


A grande maioria evoluiu para a normalidade (85%). Alguns casos melhoraram em relação ao grau inicial, apenas 1 manteve o mesmo grau e 1 piorou.

A Tabela 5 relaciona o grau de paralisia facial final (após 2 meses do início do quadro) e a resposta à EOAPD.

2.4 Relação entre o reflexo estapediano final e a resposta à OEAPD

Após a recuperação da paralisia e o retorno do reflexo, observamos que todos os pacientes que possuíam o exame de EOAPD inicialmente alterados recuperaram o reflexo e melhoraram o grau de paralisia facial.

O reflexo estapediano final foi em 97% presente e não observamos correlação com este fato e a EOAPD (p = 1,000) ao teste de Fisher, conforme a Tabela 6.

2.5 Resposta à EOAPD em relação ao grupo controle

Comparando-se a porcentagem de pacientes com paralisia facial com EOAPD alterado (n = 7) e o grupo controle normal, verificamos 17,5% dos pacientes com paralisia de Bell com ausência de EOA, maior do que o grupo controle (7,2%), (Tabela 7). Ao submeter estas amostras a uma análise estatística (teste de Qui-quadrado), não foi observada diferença estatisticamente significante, Valor Observado: 1,77 e Valor Crítico: 3,84.

Considerando somente os pacientes com paralisia facial que não possuíam o reflexo estapediano na fase aguda, mas com a EOAPD alterada, esta alteração ocorreu em 20% dos casos. Embora se observe uma quantidade maior de casos alterado no grupo com paralisia de Bell, a incidência não é suficiente para determinar uma significancia estatística. Teste aplicado de Qui-quadrado com valor observado de 1,77 e valor crítico de 3,84 (Tabela 8).

DISCUSSÃO

O núcleo do facial situa-se na parte caudal da ponte, em uma coluna de 4 mm de comprimento, lateralmente a formação reticular, dorsalmente ao complexo olivar superior e medial ao núcleo espinhal do trigêmeo, com conexão entre ambos através de fibras nervosas, permitindo que sons de intensidades altas, prejudiciais à cóclea, ao chegarem através do nervo auditivo para o núcleo olivar, enviem estímulos ao núcleo do facial, fazendo com que as fibras eferentes deste contraiam o músculo estapédio, que mantém a cadeia ossicular mais rígida e dificulta a passagem de sons intensos. Este fenômeno denomina-se reflexo estapediano e é mensurável através de um impedanciômetro, útil clinicamente para diagnóstico de várias doenças.

Este reflexo ocorre simultaneamente na orelha contralateral, pois as fibras do núcleo olivar conectam-se com o núcleo do facial contralateral6.

O complexo olivar medial origina-se do subnúcleo do complexo olivar medial superior, enviando fibras mielinizadas eferentes para a cóclea, predominantemente e contralateralmente para as células ciliadas externas16. As fibras do sistema eferente medial são responsáveis pela modulação da contratilidade das células ciliadas externas, pois a inibição deste altera a sua função17.

A proximidade e a interação do núcleo do facial e do núcleo olivar poderiam influenciar na contratilidade das células ciliadas externas na paralisia de Bell?

Os resultados da avaliação da EOAPD realizada em pacientes com paralisia de Bell mostram que 17,5% (7/40) dos pacientes apresentaram alteração neste exame, sendo 82,5% normais (Tabela 7).

Qiu, Stucker & Welsh (1998)18 observaram também que a maioria dos pacientes com paralisia de Bell analisados (91,4%) possuíam a avaliação da EOA normal. Estes autores analisaram a EOA através do exame de EOATE.

A possibilidade de acometimento do núcleo olivar superior devido a sua proximidade anatômica com o núcleo do facial e seus tratos, sugerido por Kamani & Jafary (1995)7 na paralisia de Bell, através da observação de anomalia na condução do ABR em pacientes com esta doença e a possibilidade do acometimento do tronco encefálico pelo vírus herpes simples e seus núcleos, sugerido por Rosenhall et al. (1983)10, Shanon, Himelfarb & Zikk (1985)19, também não foram confirmados neste estudo, pois uma alteração neste núcleo levaria a alteração na contratilidade das células ciliadas externas e consequentemente uma alteração na EOAPD.

Dos 7 pacientes que inicialmente apresentavam o exame de EOAPD alterado, 4 possuíam paralisia facial grau IV e apenas 2 com graus acima de V. Comparado com o grupo que não possuía alteração na EOAPD, 28 apresentavam paralisia facial acima de IV (Tabela 3). Após a recuperação, os pacientes que permaneceram com seqüela, isto é, com graus de paralisia acima de II e 27 pacientes com recuperação total, não apresentaram em nenhum momento o exame de EOAPD alterado (Tabela 5). Estes fatos indicam que, provavelmente, um maior acometimento das fibras e do núcleo não está correlacionado necessariamente à lesão do núcleo olivar por contiguidade.

Os pacientes com reflexo estapediano inicialmente presente não apresentaram nenhuma alteração da EOAPD no decorrer da recuperação, mas como a amostra é pequena (5 pacientes), não é possível correlacionar a presença de reflexo com o exame normal (Tabela 4). Os pacientes que inicialmente apresentavam reflexo estapediano ausente com EOAPD alterado, recuperaram o reflexo e o único paciente que não recuperou o reflexo não apresentou em nenhum momento alteração no exame de EOAPD (Tabela 4). Este resultado sugere que o reflexo não esboça a recuperação total da paralisia facial.

A ausência de correlação entre o reflexo estapediano e a EOA foi observada também por Qiu, Stucker & Welsh (1998)18, apesar de terem estudado a EOATE. O estudo de Wormald, Rogers & Gatehouse (1995)20 relaciona a paralisia do músculo estapédio com alteração na discriminação destes pacientes. A célula ciliada externa participa da seletividade de freqüência (discriminação) através da sua contração, aumentando o movimento da membrana basilar, portanto a ausência do reflexo estapediano poderia influenciar indiretamente sobre a função da célula ciliada externa, segundo o estudo acima. Wormald, Rogers & Gatehouse (1995)20 explicam a influência deste reflexo na discriminação devido à característica desta contração atenuar mais sons de baixa freqüência do que os de alta freqüência, desta maneira os sons de freqüência mais alta aumentariam a discriminação. Na paralisia de Bell, a ausência de reflexo prejudicaria esta discriminação e os autores relacionam esta alteração também ao acometimento do nervo coclear.

A porcentagem de pacientes com paralisia de Bell com a EOAPD alterados foi maior (17,5%) que o grupo controle (7,2%), como esboça a Tabela 7. Ao focalizarmos os pacientes com paralisia de Bell com ausência de reflexo, que sugeriria um acometimento maior do núcleo e do nervo, e compararmos com o grupo controle, a porcentagem aumenta para 20% (Tabela 6). Apesar dos dados acima não serem estatisticamente significantes, há indícios de que estes pacientes possam ter alterações na EOAPD.

Após a recuperação da paralisia (Tabela 3) e o retorno do reflexo, observamos que a porcentagem de pacientes com EOAPD alterado foi de 10% (4/40), aproximando-se da porcentagem do grupo controle (7,24%), sugerindo a associação da recuperação com a normalização do exame.

CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo permite-nos concluir que na amostra analisada não se observou correlação entre a paralisia de Bell e a alteração no exame de EOAPD, em relação ao grupo controle, ao grau inicial ou final da paralisia facial e ao reflexo estapediano.

Endereço para correspondência: Rua David Eid 1907 bloco 2 apto 103 – São Paulo – 04438-000

E-mail: cakasse@bol.com.br.

Artigo recebido em 29 de novembro de 2001. Artigo aceito em 29 de agosto de 2002.

  • 1
    Bleicher JN, Hamiel S, Gengler JS & Antimarino J. A survey of facial paralysis: etiology and incidence. Ear Nose Throat J 75(6):355-8.
  • 2
    Murakami S, Mizobuchi M, Nakashiro Y, Doi T, Hato N & Yanagihara N. Bell palsy and herpes simplex virus: identification of viral DNA in endoneural fluid and muscle. Ann Int Med 1996;124(1):27-30.
  • 3
    McCormick DP. Herpes simplex virus as a cause of Bell's palsy. Lancet 1972;1(7757):937-9.
  • 4
    FurutaY, Fukuda S, Chida E, Takasu T, Ohtani F, Inuyama Y & Nagashima K. Reactivation of herpes simplex virus type 1 in patients with Bell's palsy. J Med Virol 1998;54:162-6.
  • 5
    Ishii K, Kurata T, Sata T, Hao MV & Nomura Y. An animal model of type-1 herpes simplex virus infection of facial nerve.ActaOtolaryngol 1988 (Stockh), 446:157-64.
  • 6
    Borg E. On the neuronal organization of acoustic middle ear reflex. A physiological and anatomical study. Brain Res 1973;49(1):101-23.
  • 7
    Kamani M & Jafary AH. Auditory brain-stem response audiometry in patients with Bell's palsy. Clin Otolaryngol 1995;20:135-8.
  • 8
    Uri N, Schuchman G & Pratt H. Auditory brain-stem evoked potentials in Bell's palsy. Arch. Otolaryngol 1984;110:301-4.
  • 9
    Welkoborsky HJ, Amedee RG, Elkhatieb A & Mann WJ. Auditory-evoked brain-stem responses auditory disorders in patients with Bell's palsy. Eur Arch Otorhinolaryngol 1991;248(7):417-9.
  • 10
    Rosenhall U, Edström S, Hanner P, Badr G & Vahlne A. Auditory brainstem response abnormalities in patients with Bell's palsy. Otolaryngol Head Neck Surg 1983;91(4):412-6.
  • 11
    Rahko T & Kama P. High frequency audiometry in facial paralysis. Acta Otolaryngol Suppl 1988;449:161-3.
  • 12
    Hendrix RA & Melnick W. Auditory brain stem response and audiology tests in idiopathic facial nerve parlysis. Otolaryngol Head Neck Surg 1983;91(6):686-90.
  • 13
    Uri N, Schuchman G & Pratt H. Auditory brain-stem evoked potentials in Bell's palsy. Arch Otolaryngol 1984;110:301-4.
  • 14
    Guinan JJ Jr, Warr WB, Norris BE. Topographic organization of the olivocochlear projections from the lateral and medial zones of superior olivary complex. J Comp Neurol 1984;226:21-7.
  • 15
    House JW & Brackmann DE. Facial nerve grading systems. Otolaryngol Head Neck Surg 1985;93(2):146-7. 5
  • 16
    Guinan JJ Jr, Warr WB & Norris BE. Differential olivocochlear projections from lateral versus medial zones of superior olivary complex. J Comp Neurol 1983;221: 358-70.
  • 17
    Zheng XY, McFadden SL, Henderson D, Ding DL & Burkard R. Cochlear microphonics and otoacustic emissions in chronically de-efferented chinchilla. Hear Res 2000;143(1-2):14-22.
  • 18
    Qiu WW, Stucker FJ & Welsh LW. Clinical interpretations of transient otoacustic emissions. Am J Otolaryngol 1998;19(6): 370-8. 8
  • 19
    Shanon E, Himelfarb MZ & Zikk D. Measurement of auditory brain stem potentials in Bell's palsy. Laryngoscope 1985;95(2):206-9.
  • 20
    Wormald PJ, Rogers C & Gatehouse S. Speech discrimination in patients with Bell's Palsy and a paralysed stapedius muscle. Clin Otolaryngol 1995;20(1):59-62.
  • 1 Mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP-EPM).
    Mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP-EPM). 2 Prof. Doutor convidado da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da UNIFESP-EPM). 3 Prof. Adjunto da disciplina de Otorrinolaringologia e chefe do setor de Otologia da UNIFESP-EPM). 4 Prof. Livre docente, convidado da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da UNIFESP-EPM).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Dez 2002
    • Data do Fascículo
      Out 2002

    Histórico

    • Recebido
      29 Nov 2001
    • Aceito
      02 Ago 2002
    ABORL-CCF Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial Av. Indianápolis, 740, 04062-001 São Paulo SP - Brazil, Tel./Fax: (55 11) 5052-9515 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revista@aborlccf.org.br