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Otite externa maligna

imunodeprimidos; otite externa necrosante; pseudomonas aeruginosa; immunosuppressed; necrotizing otitis externa; pseudomonas aeruginosa

RELATO DE CASO

Otite externa maligna

Gilberto GattazI; Lucimar Santos SperottoII; Larissa Matos RebouçasIII

IProfessor Associado da PUC-SP. Médico otorrinolaringologista do Serviço de ORL do Hospital dos Defeitos da Face

IIEspecializando em otorrinolaringologia do Hospital dos Defeitos da Face. Estagiário

IIIEspecializanda em otorrinolaringologia do Hospital dos Defeitos da Face. Estagiária

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. Gilberto Gattaz Rua Moreira Guimarães, 699 Indianópolis São Paulo SP 04073-031 Tel. (0xx11) 5056-0100 ramal 139 E-mail: gilberto@gattaz.com.br

Palavras-chave: imunodeprimidos, otite externa necrosante, pseudomonas aeruginosa.

INTRODUÇÃO

Otite externa maligna (OEM) é uma doença infecciosa grave, invasiva e necrosante, que se inicia no meato acústico externo (MAE) podendo progredir para região parotídea, mastóide, orelha média e base do crânio1.

Acomete principalmente idosos, diabéticos e imunodeprimidos.

Principal agente etiológico: P. aeruginosa.

Sintomas: otalgia, otorréia fétida e edema local.

O diagnóstico é feito pela anamnese, exame clínico, isolamento do germe e exames complementares. A TC de osso temporal permite identificar erosão do MAE e a RM define a extensão à base do crânio.

Embora inespecífico, o VHS é um parâmetro para evolução da OEM2,3.

Diagnóstico diferencial: otite externa benigna, neoplasia maligna do MAE e colesteatoma4.

Tratamento: Ciprofloxacina EV e seguir por VO, até normalização do VHS.

APRESENTAÇÃO DO CASO

JB, 53 anos, com otalgia intensa à esquerda, irradiada para região temporal e hemiface.

Início há um mês, após banho de mar, tratada com gotas auriculares, sem melhora. Nega passado otológico ou D. mellitus.

Otoscopia: edema de MAE, otorréia purulenta e dor ao toque. Membrana timpânica não visível.

Sob diagnóstico de otite externa, medicamos com betametasona IM, amoxicilina 1,5g/dia VO e ciprofloxacina tópica.

Sem melhora significativa, solicitamos TC e administramos ciprofloxacina VO 1,5g/dia e manutenção tópica.

A TC (Figura 1) mostrou lesão hiperdensa obliterando o MAE, erosão de suas paredes e do rochedo e mastoidopatia inflamatória. O diagnóstico diferencial não descartava lesão neoplásica, porém descartada pela RM. Curva glicêmica, hemograma e VHS: normais.


Frente ao diagnóstico de OEM, optamos pela ciprofloxacina 750 mg 12/12 horas.

Após 1 mês sem queixa, a otoscopia mostrava melhora significativa.

Audiometria tonal: perda mista, mais acentuada nas altas freqüências, com gap aéreo-ósseo de 10 a 25 dBNA.

Timpanograma: pico de complacência em -250 dcPa. Reflexos estapédicos ausentes.

DISCUSSÃO

O D. Mellitus pode ser fator predisponente na OEM1,2,5,6. Mas os exames mostraram-se normais.

O isolamento do germe não foi feito devido ao início de tratamento anterior.

O diagnóstico da OEM foi baseado na anamnese e na evolução do quadro. Nota-se que a paciente não sofrera afecção otológica anterior. A ineficiência do primeiro tratamento permitiu-nos remeter à hipótese de OEM.

Os achados da TC (Figura 1) corroboraram para tanto. Nota-se que o esporão de Chaussé, o epitímpano e a articulação incudo-maleolar se encontram íntegras. A mastoidopatia é um processo inflamatório reacional.

A RM pôde excluir neoplasia maligna ou colesteatoma. A evolução da doença e os achados por imagem, indubitavelmente, encerram o diagnóstico de OEM num paciente sem os fatores predisponentes.

A ciprofloxacina VO ou a ceftazidima e cefoperazona, EV, associados à ciprofloxacina VO, são as drogas de escolha. Neste caso optamos pela ciprofloxacina VO por 2 semanas3, com melhora clínica e otoscópica. Diante de seu decurso e frente à possibilidade de ocorrência de seqüelas e complicações fatais, salientamos a importância de estarmos atentos a esta manifestação, não menosprezando qualquer otite externa e suspeitarmos de OEM, principalmente nos casos com uma evolução inesperada ao tratamento instituído.

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 30 de março de 2005. cod. 202.

Artigo aceito em 30 de maio de 2006.

Hospital dos Defeitos da Face - Cruz Vermelha Brasileira.

  • 1
    Guatimosim MHE. Doenças da orelha externa. Em: Campos CAH, Costa HOO. Tratado de Otorrinolaringologia. 1ª ed. São Paulo: Roca, 2002. vol. I p. 17-18.
  • 2
    Weinroth SE et al. Malignant Otitis Externa in AIDS Patients: Case Report and Review of the Literature. ENTJ 1994;7(10):771-8.
  • 3
    Louie TJ. Ciprofloxacin: an oral quinolone for the tratment of infection with gram-negative pathogens. Can Med Assoc J 1994;150(5):669-76.
  • 4
    Ribeiro FAQ et al. Otite externa necrosante benigna ou osteíte necrosante benigna do meato acústico externo. Relato de caso. Rev Bras Otorrinolaringol 2001;67(1):119-22.
  • 5
    Voegels RL et al. Otite externa maligna: experiência de 10 anos. Rev Bras Otorrinolaringol 60(1):56-8, 1994.
  • 6
    Barrow HN & Levenson MJ. Necrotizing malignant external otitis caused by Staphylococcus epidermidis. Arch Otolaryngol Head Neck Surg 1992;118(1):94-6.
  • Endereço para correspondência:
    Dr. Gilberto Gattaz
    Rua Moreira Guimarães, 699 Indianópolis
    São Paulo SP 04073-031
    Tel. (0xx11) 5056-0100 ramal 139
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Maio 2007
    • Data do Fascículo
      Fev 2007

    Histórico

    • Recebido
      30 Mar 2005
    • Aceito
      30 Maio 2006
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