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O caminho para o amadurecimento científico

EDITORIAL

O caminho para o amadurecimento científico

Henrique Olival Costa

Há alguns anos a Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, junto à sua Diretoria de Publicações e aos diversos comitês acadêmicos, decidiu estabelecer como conduta intelectual a delegação de poder às evidências científicas no momento de coordenar matérias de interesse para o otorrinolaringologista.

Este padrão de procedimento ditou as normas para a elaboração de consensos/diretrizes que foram, paulatinamente, se adequando aos princípios da Medicina baseada em evidências, culminando com as últimas publicações de diretrizes em cirurgia para ronco e apnéia, faringotonsilites e a, prestes a ser distribuída, diretriz para a vertigem. Este não se mostrou um caminho fácil, uma vez que a opinião e a experiência pessoal sempre foram os principais instrumentos de evolução da profissão médica, nossa resistência ao jugo da matéria investigativa dura e fria em sua lida trouxe diversas rinhas intelectuais no decorrer destes anos. Mas o caminho está traçado. A possibilidade de colocar trabalhos científicos de peso para disputarem em uma arena científica e pública suas idéias nos principais congressos nacionais da especialidade (Brasileirão e Triológico) e o estímulo à remessa destes trabalhos já em sua forma concluída e final, com prêmios consideráveis para os melhores colocados por área têm favorecido em muito a manutenção de um ambiente propício para a inventividade e responsabilidade na área investigativa.

Entretanto, faltava absorver esta responsabilidade intelectual em nossas tarefas mais rotineiras e, talvez mais abrangentes no que se refere à divulgação de idéias que são as palestras, conferências e aulas. Principalmente naquelas com maior audiência que são as conferências e cursos dos grandes congressos. Esta tarefa parece ter sido iniciada com grande sucesso no último Brasileirão, em Florianópolis, com os ditos mini-cursos (palestras de cerca de uma hora), com inscrição prévia do público e onde os palestrantes submeteram suas propostas de curso à apreciação do comitê científico, com antecedência, para a posterior confecção da grade a ser oferecida aos congressistas. Foram 128 mini-cursos ministrados, alcançando um total de 13.071 inscrições, perfazendo a média de 102,1 pessoas por curso nos quatro dias de congresso. O cuidado em solicitar da audiência a opinar sobre cada um foi de suma importância para avaliarmos em que pé está a oferta de idéias pessoais nestes cursos e mais ainda, salientar a presença de uma crítica latente aos apresentadores que poderão adequar suas futuras palestras ao público, que é exigente e, sobretudo, inteligente. Após finalizada a compilação e análise dos dados oferecidos pela opinião dos congressistas pudemos concluir que os cursos tiveram as seguintes audiências por área: Otologia (4.168 pessoas/ 39 cursos), Rinologia (3.172/25), Laringologia (2.267/26), Cirurgia Plástica facial (1.103/8), ORL geral (898/17), Faringoestomatologia (742/10) e Cirurgia de Cabeça e Pescoço (231/3). As médias de público da Cirurgia Plástica facial (137,8/ pessoas/curso), Rinologia (126,8) e Otologia (106,8) estiveram acima da média geral.

Os cursos, independentes de sua área, tiveram a seguinte distribuição de público segundo a média: 50 estiveram acima da média, 14 em torno da média e 64 abaixo da média, o que faz supor que alguns cursos com grande afluxo puxaram a média para cima. Os dois maiores públicos dos mini-cursos foram o de septoplastia (332) e o de rinoseptoplastia (324), ambos oferecidos no primeiro dia do congresso. Este foi um outro ponto que se salientou, as médias de público foram bastante diferentes de dia para dia, sendo o primeiro dia o de maior público com 137,7 pessoas por sala, seguido do 2º. Dia com 124,6, 3º. Dia (106,7) e 4º. Dia (38,4). Como fato interessante, podemos afirmar que ao associarmos as áreas que habitualmente estão juntas nas grades do congresso triológico, teremos para Otologia/Geral (5.066 pessoas/56 cursos – média de 90,4), Rinologia/Plástica (4.275/33 cursos – média 129,5) e Laringologia/Faringoestomato/Cabeça e Pescoço ( 3.240/39 – média 83), o que mostra o grande interesse que a Rinologia vem despertando no nosso público (melhor média e cursos com recorde de público).

Afora a audiência bruta, os dados puderam nos oferecer informações quanto à qualidade dos cursos e sua capacidade de interferir na vida profissional de nossos colegas. Esta, talvez seja a principal tarefa desta aferição visto que, embora sejam cursos cujo caráter opinativo seja fundamental, os palestrantes estão sob o olhar crítico de colegas que têm sua experiência própria, se colocando frente às afirmações explicitadas de maneira favorável ou não. Com este tipo de crivo, o caráter individual passa a ter um poder moderador e um padrão de responsabilidade que se aperfeiçoará com o tempo.

O índice de satisfação foi bastante impressionante sendo que os cursos puderam ser classificados em uma avaliação geral em excelente, ótimo, bom, regular e ruim. O gráfico abaixo mostra a porcentagem de aceitação por categoria.

Apesar de 74 cursos terem sido considerados por mais de 50% dos assistentes como ótimo ou excelente, percebemos que houve dificuldade de interação com o público. Este fato parece estar relacionado com a exigüidade de tempo (50 minutos) para exposição e discussão.

Portanto, chegamos a uma nova fase na comunicação científica da Sociedade Brasileira de ORL. Provavelmente teremos um enorme impacto nos próximos congressos se conseguirmos estipular as normas para confecção de uma grade de assuntos e palestrantes que tenham sido submetidos à opinião da audiência e com isso passemos a ter uma transmissão de conhecimentos, mesmo que baseados na experiência pessoal, com o máximo de responsabilidade científica. Isto fará bem para a ciência. Isto fará bem para o médico e principalmente, isto fará bem para o nosso cliente.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Nov 2003
  • Data do Fascículo
    Jan 2003
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