Open-access Meningioma intracanalicular: diagnóstico por imunohistoquímica

imunohistoquímica; meningioma; orelha

RELATO DE CASO

Meningioma intracanalicular: diagnóstico por imunohistoquímica

Andrei BorinI; Daniel Mochida OkadaII; Oswaldo Laércio Mendonça CruzIII

IMestre, pós-graduando doutorado

IIEspecialista em otorrinolaringologia pela UNIFESP/EPM, médico

IIILivre-docente pela FMUSP, professor afiliado UNIFESP/EPM

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Andrei Borin Rua Loefgreen 1587 apto. 152 Vila Clementino São Paulo SP 04040-032

Palavras-chave: imunohistoquímica, meningioma, orelha.

INTRODUÇÃO

O meningioma (ME), descrito inicialmente por Virchow em 1863, é um tumor originário das células meningoteliais encontradas normalmente nas leptomeninges e plexo coróide dos ventrículos, ocorrendo preferencialmente na região supratentorial.1 Porém, qualquer região que apresente cobertura pelas leptomeninges é potencialmente um sítio de origem para este tumor. O primeiro relato de um ME exclusivamente intracranalicular (IC) é atribuído a Singh et al. em 1975.2 Desde então, aproximadamente 15 MEIC se encontram descritos na literatura de língua inglesa.1,3

CASO CLÍNICO

MJRC, 51 anos, feminina, branca, apresentava queixa de zumbido constante há seis meses e hipoacusia esquerda há quatro meses. Exame otorrinolaringológico e neurológico normais, e perda auditiva unilateral esquerda (PTA 27,5dB, discriminação 60%). A ressonância magnética evidenciou um tumor ocupando o MAI, com imagem sugestiva de schwannoma vestibular (SV) (Figura 1). Realizada abordagem cirúrgica via fossa média evidenciando um tumor mais avermelhado e mais aderido que o habitual de aproximadamente 10x5mm. Ocupava uma posição atípica no MAI, entre os nervos, e não na posição clássica posterior. No pós-operatório apresentou uma paralisia facial (PFP) grau IV House-Brackmann.

O exame histológico evidenciou lesão compatível com meningioma meningotelial, sendo submetido à confirmação imunohistoquímica (S-100 negativo e EMA positivo). Com 15 dias realizou nova audiometria, que evidenciou preservação da audição (PTA 62,5dB). Recuperou-se da PFP sendo esta grau II no 6º mês pós-operatório.

DISCUSSÃO

Quando o ME se mostra exclusivamente IC, sua diferenciação do SV se torna difícil. Os dois tumores apresentam faixas etárias preferenciais muito próximas (45-55a) e predominância pelo sexo feminino. Também apresentam semelhanças em sintomas e sinais, com perda auditiva e zumbido.1 Já ocorrência de PFP, presente em até 27% dos MEIC, é bem mais rara no SVIC, aproximadamente 3%.1,3 A diferenciação radiológica entre estes tumores é em geral impossível.1,3

A abordagem cirúrgica dos MEIC apresenta algumas peculiaridades. Em comparação com os SVIC, os MEIC tendem a ser mais aderidos e mais vascularizados, podendo ocupar posições diversas em relação aos componentes do MAI.1 Essa falta de preditividade na localização do MEIC e de sua relação com os VII e VIII pares cranianos pode representar uma dificuldade significativa trans-operatória, já que o nervo facial pode se encontrar deslocado pelo tumor para qualquer um dos quadrantes do MAI, aumentando a chance de lesões iatrogênicas.1,3 Defendemos e demonstramos a possibilidade de preservação auditiva pós operatória aventada pelo "Committee on Hearing and Equilibrium of the American Academy of Otolaryngology-Head Neck Surgery".4 Porém, a real chance de preservação auditiva, se mostra ainda inconsistente nos casos de MEIC, devido ao pequeno número de relatos.

A imunohistoquímica é bastante útil na diferenciação entre estes tumores. Os ME podem expressar tanto marcadores epiteliais quanto mesenquimais, refletindo uma dupla origem embriológica ou a totipotencialidade das células mesenquimais. Vários marcadores têm sido utilizados, porém há grande variação de resultados na literatura, o que pode ser creditado a diferenças metodológicas utilizadas.5 O "epithelial membrane antigen" (EMA) é em geral fortemente positivo nos ME (84%) e negativo ou fracamente positivo e com padrão focal nos SA. A proteína S-100, não é um marcador específico para tecido neuroectodérmico, podendo ser positivo em 28% dos ME.5 O Vimentin, é positivo em cerca de 95% dos ME.5 Baseados nos trabalhos de Winek6 e Radley5, confeccionamos o Quadro 1 sobre os principais achados imunohistoquímicos entre tumores da fossa posterior. O estudo ultra-estrutural do material através da microscopia eletrônica deve ser reservado para casos duvidosos, não esclarecidos pela imunohitoquímica, devido ao alto custo envolvido e dificuldades técnicas do método.


Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 7 de maio de 2006. cod. 1906.

Artigo aceito em 31 de maio de 2006.

Universidade Federal de São Paulo.

Referências bibliográficas

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  • Endereço para correspondência:
    Andrei Borin
    Rua Loefgreen 1587 apto. 152 Vila Clementino
    São Paulo SP 04040-032
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      31 Mar 2008
    • Data do Fascículo
      Fev 2008

    Histórico

    • Aceito
      31 Maio 2006
    • Recebido
      07 Maio 2006
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