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Residência em Psiquiatria: enquete nacional discorda da posição da Comissão Nacional de Residência Médica

Psychiatric Residence: findings from a national survey disagree with the National Committee of Medical Residency

CARTAS AOS EDITORES

Residência em Psiquiatria: enquete nacional discorda da posição da Comissão Nacional de Residência Médica

Psychiatric Residence: findings from a national survey disagree with the National Committee of Medical Residency

Sr. Editor,

Editorial recente desta revista retomou a necessidade de aprimoramento do ensino provido pelos programas de Residência Médica em Psiquiatria (RMP) no Brasil, enfatizando as conclusões de um relatório da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA), o qual recomenda uma relação de temas e estágios, além de um tempo mínimo de três anos de formação.1 Há quatro anos temos de acomodar a decisão da Comissão Nacio-nal de Residência Médica (CNRM) de manter o período mínimo de dois anos para a RMP, a despeito da posição contrária da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).2

O que, na época, embasara a reivindicação da ABP foi uma enquete postal conduzida com os então coordenadores de todos os 34 programas credenciados de RMP e com todos os 22 professores titulares da especialidade. O questionário de três páginas a eles remetido abordava temas referentes à seleção de candidatos, duração do programa, cursos e estágios obrigatórios e critérios de avaliação. As respostas foram coletadas por meio de escalas tipo likert, com cinco opções de resposta. Obtivemos informações de 24 (71%) coordenadores de programas e de 13 (59%) professores titulares. (Tabela 1) Os resultados dessa enquete circularam restritamente na ABP. Julgamos oportuno divulgá-los mais amplamente, uma vez que carecemos de pesquisas recentes a esse respeito (lamentavelmente nosso país não figura no relatório da WPA3) e, principalmente, pelo fato de que, até o presente momento, sugestões fundamentais de nossa Associação não foram encampadas pela CNRM.

Os resultados da enquete confirmavam: a legislação estava defasada. Na prática, os programas de RMP tinham ido à frente, introduzindo novos cursos e estágios à medida que o conhecimento e os serviços foram se aperfeiçoando. Isso ocorreu, por exemplo, nas áreas de dependências químicas e de interconsulta. Essa última, já no início da década de 90, era parte integrante do treinamento de 90% dos programas.4 No entanto, tem-se tornado cada vez mais difícil - praticamente impossível - dar conta de um conteúdo teórico e prático crescente, sem que se estenda o tempo de treinamento.

Alguns programas de Residência Médica prolongaram, deliberadamente, o período de treinamento para além do limite mínimo determinado pela CNRM. Isso, no entanto, dá margem a dissensões, uma vez que o médico residente tem, por lei, direito assegurado de requerer certificado de conclusão, decorrido o tempo legalmente estabelecido.

Esperamos que os resultados dessa enquete dêem força à nossa reivindicação: são necessários pelo menos três anos para formar um psiquiatra (aproximadamente ¾ das respostas em nossa enquete). Três anos ou mais é o que já acontece em 88,4% dos programas de RMP avaliados pela WPA em vários países do mundo, diversos deles latino-americanos (Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia e México).3

Neury José Botega

Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria,

Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de

Campinas (UNICAMP), Campinas (SP), Brasil

Marco Antônio Alves Brasil

Instituto de Psiquiatria, Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro (RJ), Brasil

Miguel Roberto Jorge

Departamento de Psiquiatria, Escola Paulista de Medicina,

Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),

São Paulo (SP), Brasil

Referências

1. Zanetti MV, Coelho BM, Lotufo Neto F. Residência em Psiquiatria no Brasil: uma contribuição para o debate. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(1):9-10.

2. Botega NJ. Residência Médica: como melhorar sem os três anos? Rev Bras Psiquiatr. 2001;23(3):124-5.

3. World Psychiatric Association. Institutional Program on the Core Posgraduate Training Curriculum for Psychiatry. Virginia: World Psychiatric Association; 2002.

4. Botega NJ. Consultation-liaison psychiatry in Brazil: psychiatric residency training. Gen Hosp Psychiatry. 1992;14(3):186-91.

Financiamento: Inexistente

Conflito de interesses: Inexistente

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Dez 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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