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Osteoporose em pacientes esquizofrênicos: um problema negligenciado?

Osteoporosis in schizophrenic patients: a neglected issue?

CARTAS AOS EDITORES

Osteoporose em pacientes esquizofrênicos: um problema negligenciado?

Osteoporosis in schizophrenic patients a neglected issue?

Sr. Editor,

A osteoporose afeta cerca de 30% das mulheres no período pós-menopausa, sendo reconhecida como um problema de saúde pública.1 Uma vez que sua prevalência aumenta com a expansão da longevidade na população, é possível que no Brasil tenhamos uma maior incidência desta patologia nos próximos anos. Diversos fatores genéticos, ambientais e socioculturais aumentam o risco da osteoporose. Em pacientes esquizofrênicos, o uso prolongado de antipsicóticos, tanto típicos quanto atípicos, está sendo apontado como fator de risco adicional para osteoporose ou de diminuição da densidade mineral óssea (DMO).2-5 Estas drogas, em uso prolongado, foram demonstradas induzindo o aumento de prolactina a níveis acima do normal em ambos os sexos e a redução dos níveis de estrogênio e testosterona, aumentando o risco para osteoporose.2,5-6

A osteoporose é esperada em pacientes mulheres que desenvolveram amenorréia como resultado da hiperprolactinemia secundária aos antipsicóticos, mas não há mecanismos plausíveis nos homens.5 Sugere-se que, em homens, a hiperprolactinemia resulte hipogonadismo e perda óssea.2

A prevalência de osteoporose, bem como do aumento da prolactina induzida pelos antipsicóticos, ainda não está determinada adequadamente.2,4,6 Apesar da diminuição da densidade mineral óssea já ter sido reconhecida há algum tempo, somente recentemente tem sido investigada e o que existe é um reduzido número de estudos clínicos de prevalência, marcados pelo pequeno tamanho de amostra.

De qualquer forma, as pesquisas sobre o uso prolongado de neurolépticos alertam para a necessidade de uma maior atenção aos efeitos adversos dos mesmos, especialmente com respeito à hiperprolactinemia, uma vez que esta aumenta o potencial para desenvolvimento de osteoporose.2,4 Paralelamente, outros estudos sugerem que neurolépticos atípicos podem ser mais seguros do que os típicos em termos de redução da DMO3 e demonstram menor efeito sobre a prolactina, como clozapina, ziprazidona e olanzapina.6 Apesar destas evidências acumuladas, os antipsicóticos ainda não são reconhecidos pela World Health Organization (WHO) ou pelo Royal College of Psychiatrists como fatores de risco para osteoporose e ainda não existem estudos epidemiológicos adequados para verificar o tamanho do efeito dos neurolépticos sobre a diminuição da DMO em esquizofrênicos. Considerando esta situação e o potencial impacto negativo sobre a vida dos pacientes usuários crônicos de neurolépticos, os autores recomendam urgentemente a execução de estudos de seguimento com tamanho amostral, determinação sistemática de DMO e tempo de acompanhamento adequados.4

Lísia Rejane Guimarães,

Carmen Lúcia Leitão Azevedo,

Paulo Belmonte de Abreu

Programa de Esquizofrenia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre,

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),

Porto Alegre (RS), Brasil

Referências

1. Ramos LR. A explosão demográfica da terceira idade no Brasil uma questão de saúde pública. Gerontologia. 1993;1(1):3-8.

2. Naidoo U, Goff DC, Klibanski A. Hyperprolactinemia and bone mineral density: the potential impact of antipsychotic agents. Psyschoneuroendocrinology. 2003;28 Suppl 2:97-108.

3. Bilici M, Cakirbay H, Guler M, Tosun M, Ulgen M, Tan U. Classical and atypical neuroleptics, and bone mineral density, in patients with schizophrenia. Int J Neurosci. 2002;112(7):817-28.

4. Meaney AM, O'Keane V. Reduced bone mineral density in patients with schizophrenia receiving prolactin raising anti-psychotic medication. J Psychopharmacol. 2003;17(4):455-8.

5. Lean M, De Smedt G. Schizophrenia and osteoporosis. Int Clin Psychopharmacol. 2004;19(1):31-5.

6. Kinon BJ, Gilmore JA, Liu H, Halbreich UM. Prevalence of hyperprolactinemia in schizophrenic patients treated with conventional antipsychotic medications or risperidone. Psyschoneuroendocrinology. 2003;28 Suppl 2:55-68.

Financiamento: Inexistente

Conflito de interesses: Inexistente

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Nov 2005
  • Data do Fascículo
    Set 2005
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