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Correlação entre transtornos neuropsiquiátricos e infecção estreptocócica

Correlação entre transtornos neuropsiquiátricos e infecção estreptocócica

O artigo de Mercadante,1 em suplemento recente desta revista, apresenta relevante área de pesquisa na atualidade, em que se procura correlacionar transtornos neuropsiquiátricos e infecção estreptocócica. Como o autor assinala, há mais dúvidas e perguntas sobre o tema do que respostas. A primeira dúvida seria o caráter auto-imune desses transtornos reunidos sob o termo PANDAS, acrônimo de Pediatric Autoimmune Neuropsychiatric Disorders Associated with Streptococcal Infections.

O autor aponta cinco critérios que considera necessários para a validade da hipótese de auto-imunidade. Contudo, os critérios considerados contemplam apenas parte dos mecanismos possíveis envolvidos em processos auto-imunes. Em outras palavras, o autor enfatiza sobremaneira a auto-imunidade mediada por auto-anticorpos, mesmo sem estar claramente definido o papel patogênico desses auto-anticorpos, negligenciando processos celulares. Por exemplo, a reprodução de doenças auto-imunes em modelos experimentais (item 3) não ocorre apenas com a transferência de auto-anticorpos. No modelo murino de cardiopatia chagásica crônica, a transferência de células T CD4+ de animais cronicamente infectados pelo Trypanosoma cruzi para animais não infectados pode causar lesão no coração destes, sugerindo auto-imunidade mediada por célula T nesse modelo.2 A esclerose múltipla seria exemplo de doença imune-mediada em que processos humorais, envolvendo auto-anticorpos, e celulares, com células T CD4+ auto-reativas, atuam em conjunto para promover desmielinização do sistema nervoso central.3

Portanto, a auto-imunidade no PANDAS poderia estar associada a processos celulares, não somente a auto-anticorpos. O fato de as imunoglobulinas não penetrarem no sistema nervoso central seria uma pista nesse sentido.

Antônio Lúcio Teixeira-Jr

Universidade Federal de Minas Gerais

REFERÊNCIAS

1. Mercadante MT. Transtorno obsessivo-compulsivo: aspectos neuroimunológicos. Rev Bras Psiq 2001;23(Supl II):31-4.

2. Kalil J, Cunha-Neto E. Autoimmunity in Chagas disease cardiomyopathy: fulfilling the criteria at last? Parasitol Today 1996;12:396-9.

3. Noseworthy JH, Lucchinetti C, Rodriguez M, Weinshenker BG. Multiple sclerosis. N Engl J Med 2000;343:938-52.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Ago 2002
  • Data do Fascículo
    Jun 2002
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