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A hora e a vez de uma nova liderança na Revista Brasileira de Psiquiatria

EDITORIAL

A hora e a vez de uma nova liderança na Revista Brasileira de Psiquiatria

É com tristeza e, também, com a sensação de dever cumprido, que escrevemos este editorial de despedida para os nossos leitores, depois de quase 10 anos à frente da editoria da Revista Brasileira de Psiquiatria (RBP). A partir deste ano, assumem a liderança Rodrigo Bressan, Beny Lafer e Marcelo Fleck. Luis Rohde continua durante 2008, para garantir a continuidade na gestão.

Em 1998, Miguel Roberto Jorge e Rogério Aguiar nos convidaram para liderar a revista que na época se chamava Revista da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e da Associación Psiquiátrica de la América Latina (Revista da ABP/APAL). A revista, que a partir de 1999, viria a se chamar Revista Brasileira de Psiquiatria, tinha a missão de propagar o conhecimento gerado na América Latina e no Caribe, além de veicular uma educação médica continuada por meio de atualizações e suplementos aos profissionais de saúde mental.

Na Tabela 1 relembramos com vocês diversas medidas tomadas a partir destes objetivos, assim como daqueles colaboradores que tornaram possível as suas implementações. Entre as principais realizações destacamos a indexação da RBP no Index Medicus/MedLine, em 2003, e na base de dados do Institute of Scientific Information (ISI), em 2005. Há poucas revistas indexadas nos países em desenvolvimento. Das 222 revistas indexadas nestas bases de dados em psiquiatria, somente nove (4,1%) são de países em desenvolvimento.1 Pertencemos, hoje, portanto, a um número restrito de revistas que conseguiram quebrar a barreira da língua e do estigma.

O próximo passo é termos uma revista cada vez mais respeitável e um dos índices atuais mais importantes nesta avaliação é o seu fator de impacto (FI). Uma estimativa não-oficial calculada por Kieling e Gonçalves,2 sugere que o nosso fator de impacto em 2007 (que será oficializado em meados deste ano), deverá ser ao redor de 1, o que tornaria a RBP uma das principais revistas científicas do país.

A maior visibilidade da RBP também foi observada no recentemente lançado SCImago Journal & Country Rank (http://www.scimagojr.com), que compila dados da base Scopus. Segundo esta fonte, tanto o número total de citações quanto o número de citações por artigo cresceram aproximadamente 10 vezes no período de 2002 a 2006.

Há muitas críticas quanto ao uso de índices como o FI como um único indicativo de qualidade de uma revista. Um artigo ruim pode ser muito citado, e a estimativa do FI favorece jornais que publicam revisões. Os autores tendem a citar outros da mesma disciplina e artigos preferencialmente em inglês.3 Assim, a melhor forma de avaliar a qualidade de uma revista deve incluir a composição de vários fatores ao invés de índices únicos. Por exemplo, alguns editores propõem incluir-se, entre estes, citações em guidelines, livros, ou revisões do Cochrane,3 além de medidas de como os artigos estão sendo lidos a partir de cartas ao editor ou do seu impacto clínico. Outros índices podem envolver dados relativos sobre a porcentagem de aceitação de artigos, tempo desde a sua submissão até a aceitação/publicação, assim como diferentes medidas de sua penetração na literatura internacional. Neste sentido, o índice de aceitação da RBP está agora em 40% dos artigos encaminhados. Em 2005, o tempo médio desde a submissão até a aprovação de um artigo foi de 130 dias e de 348 dias desde a submissão até a publicação na RBP. Esses números melhoraram para 99 e 230 dias, respectivamente, em 2006.2

Portanto, além do FI, o mais importante é procurarmos garantir a agilidade e a qualidade nos processos editoriais para conquistar uma posição estável e sólida dentre as revistas de bom nível internacional. As mudanças administrativas ocorridas neste período foram fundamentais para se melhorar a qualidade da revista e influenciar na sua fração de impacto. A missão do grupo que assume vai precisar incluir o recrutamento ativo de artigos de melhor nível e aceleração do processo de publicação, porém, sem deixar que a revista perca a sua função de trazer educação atualizada aos psiquiatras e demais profissionais de saúde mental.

Além destes desafios prementes, incluem-se os de melhorar a inserção regional, na América Latina e Caribe, adquirir mais credibilidade internacional no que é veiculado e buscar segurança no financiamento para a RBP. Para operacionalizar todas as mudanças implementadas, o orçamento da revista aumentou cerca de 200 vezes entre 1998 e 2007, sendo a indústria farmacêutica sua principal fonte de recursos. Assim, recomendamos que os editores priorizem angariar recursos para se fazer um fundo de reserva para garantir a estabilidade da RBP em momentos de retração econômica quando este tipo de recurso se tornar mais escasso.

É importante registrar que nossa atuação ocorreu em clima de grande harmonia com a ABP, que permitiu a realização do nosso trabalho com muito apoio e sem nenhuma interferência, refletindo o amadurecimento e a compreensão do seu papel institucional. Nada do que foi feito seria possível, também, sem incentivo da indústria farmacêutica e o apoio das agências nacionais de fomento, em especial, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)-Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)-Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Temos que reconhecer, também, que nenhum progresso desta revista aconteceria sem o crescimento quantitativo e qualitativo da produção científica brasileira (associada à expansão dos programas de pós-graduação) e à conseqüente formação de pesquisadores no país, traduzida não só na submissão de artigos de qualidade, como também no trabalho de alto nível crítico dos nossos pareceristas.4,5

Last but not least, queremos registrar o absoluto clima de confiança com que o corpo editorial trabalhou entre si ao longo destes anos. As reuniões sempre foram muito disputadas, todos falando ao mesmo tempo, mas com cuidado, respeito e clima de amizade, que perdurou em todo processo. Deixamos a revista, já com saudades, mas com o sentimento de absoluta confiança na qualidade administrativa, científica e de criação dos colegas que assumem a tarefa.

Euripedes Constantino Miguel

Departamento de Psiquiatria, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil

Jair de Jesus Mari

Departamento de Psiquiatria, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo (SP), Brasil

  • 1. Kieling C, Herrman H, Patel V, Mari JJ. Indexation of psychiatric journals from low- and middle-income countries: a survey and a case study. World Psychiatry, 2008; in press.
  • 2. Kieling C, Gonçalves RR. Assessing the quality of a scientific journal: the case of Revista Brasileira de Psiquiatria. Rev Bras Psiquiatr. 2007;29(2):177-81.
  • 3. Chew M, Villanueva EV, Der Weyden MB. Life and times of the impact factor: retrospective analysis of trends for seven medical journals (1994-2005) and their editor s views. J R Soc Med. 2007;100(3):142-50.
  • 4. Bressan RA, Gerolin J, Mari JJ. The modest but growing Brazilian presence in psychiatric, psychobiological and mental health research: assessment of the 1998-2002 period. Braz J Med Biol Res. 2005;38(5):649-59.
  • 5. Zorzetto R, Razzouk D, Dubugras MT, Gerolin J, Schor N, Guimarães JA, Mari JJ. The scientific production in health and biological sciences of the top 20 Brazilian universities. Braz J Med Biol Res. 2006;39(12):1513-20.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Mar 2008
  • Data do Fascículo
    Mar 2008
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