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A Hispanic Division da Library of Congress comemora sessenta anos

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A Hispanic Division da Library of Congress comemora sessenta anos

Paulo Roberto de Almeida

Um dos mais sérios e persistentes esforços de estudo e de pesquisa já empreendidos no hemisfério ocidental sobre a história, a cultura e as questões sociais, políticas e econômicas dos países ibéricos, latino-americanos e caribenhos comemorou gloriosamente, no dia 12 de outubro de 1999, seu 60° aniversário, realçando, assim, a data na qual tradicionalmente se comemora, nos Estados Unidos, o chamado "Columbus day". A celebração foi realizada nos próprios locais da Biblioteca do Congresso com a presença discreta, mas altamente competente, de todos os funcionários atualmente lotados na sua justificadamente famosa Hispanic Division, criada em 1939 como Fundação Hispânica pelo benemérito mecenas, poeta e famoso hispanista Archer M. Huntington, fundador da Hispanic Society of America em 1904. Atualmente, dos 110 milhões de itens catalogados na Biblioteca do Congresso – que estará comemorando ela própria seus primeiros 200 anos em março de 2000 – cerca de 10 milhões referem-se à área luso-hispânica e, dos 20 milhões de volumes das coleções gerais da Biblioteca, mais de 2 milhões de livros são relativos ao mundo espanhol, português e caribenho. Os interessados em consultar o catálogo geral da LoC, funcionando desde agosto último sob um "Integrated Library System" (ILS), podem acessá-lo em http://catalog.loc.gov.

A Hispanic Division é provavelmente mais conhecida dos acadêmicos como a responsável pela edição, também desde 1939, do utilíssimo Handbook of Latin American Studies, criado em 1936 por iniciativa do historiador Lewis Hanke, o primeiro chefe da Divisão. O Handbook, sempre editado sob os cuidados da Divisão, foi, durante seus primeiros dez anos, publicado sob a responsabilidade da Harvard University Press, em Cambridge (Massachusetts), passando, entre 1948 e 1966, sob os cuidados da Florida University Press, em Gainesville; desde então, ele é publicado anualmente pela Texas University Press, em Austin, alternando anos ímpares com materiais relativos às chamadas humanities (artes, música, literatura e história, entre outras) e anos pares com a bibliografia relativa às social sciences (antropologia, economia, sociologia, ciência política, relações internacionais). Os objetivos do Handbook têm permanecido os mesmos desde seu início: registrar, por meio de notas críticas e informativas, as mais importantes publicações dos últimos dois anos cobertos por cada volume nos campos humanístico e das ciências sociais. Cada levantamento é seletivo e não abrangente, destinado a constituir-se em uma obra permanente de referência. Os resenhistas são escolhidos dentre os mais categorizados estudiosos no campo pertinente. Quantos, por exemplo, ainda se lembram, no Brasil, de que o famoso historiador, economista e empresário Roberto Simonsen foi um contributing editor na área de economia do HLAS dos números 6 a 11? Disponível também em formato de CD-ROM, a série completa de resenhas bibliográficas do HLAS pode ser acessada on-line no seguinte endereço: http://lcweb2.loc.gov/hlas/.

Por ocasião de seus 60 anos, sua atual Diretora, Georgette Dorn, efetuou uma apresentação sobre o desenvolvimento dos estudos hispânicos promovidos pela Hispanic Division, cujo conceito geográfico, muito discutido em seu início com os partidários de designações alternativas, deve ser compreendido como englobando todo o mundo sob a influência cultural da antiga província romana da Hispânia, que englobava, entre outras, a Lusitânia e o Tarraconensis. O atual chefe da sala de leitura da divisão, Everette Larson, apresentou os recursos de consulta que podem ser utilizados na Web, ao passo que John Hébert, da Divisão de Geografia e Mapas da LoC, fez uma interessante preleção ilustrada sobre a informação cartográfica disponível na Internet a partir de um dos mais famosos mapas das coleções riquíssimas da própria Biblioteca, o America nova et exactissima descriptio por Diego Gutierrez, elaborado para a Casa de Contratación de Sevilha em 1562. Encerrando as comemorações matutinas, a acting Editor do HLAS, Katherine McCann, filha do famoso historiador e brasilianista Frank McCann – autor, entre outros, de A Aliança Brasil-Estados Unidos, 1937-1945 – falou sobre a evolução do Handbook, cuja integração ao ILS da LoC promete facilitar ainda mais a pesquisa à distância por todos aqueles interessados em sua enorme base de dados de livros e artigos resenhados ao longo dos últimos 63 anos (desde 1936).

Na parte da tarde, as comemorações envolveram apresentações sintéticas de diversos scholars – colaboradores do HLAS – que discorreram sobre os estudos latino-americanos no limiar do século XXI, destacando-se o brasileiro José Neistein, diretor do Brazilian American Cultural Institute e autor de uma muito aclamada bibliografia seleta e anotada sobre as artes no Brasil, dos primórdios ao século XX (compreendendo também folclore, cinema, fotografia e cartuns), elaborada precisamente com base em mais de vinte anos de colaborações ao HLAS. Uma recepção no Reading Room da Hispanic Division, decorada com painéis de Portinari de 1941, encerrou as festividades. Participou também das comemorações a especialista luso-brasileira Iêda Siqueira Wiarda, que, ao longo das últimas décadas, tem assegurado uma ativa presença da produção brasileira nas coleções da Hispanic Division.

Se o 60° aniversário da Hispanic Division foi relativamente discreto para os padrões festivos norte-americanos – ainda que extremamente relevante e denso de significado para a ampla comunidade de latino-americanistas, em vista da importância do Handbook como instrumento de pesquisa e de referência –, as comemorações em torno dos 200 anos da Library of Congress prometem ser grandiosas, tendo um convite sido estendido ao Presidente Fernando Henrique Cardoso pelo Librarian James Billington, uma espécie de ministro da Cultura dos Estados Unidos. Entre outros tesouros de sua coleção de manuscritos – além, por exemplo, do rascunho da Declaração da Independência de Thomas Jefferson, corrigido e anotado por Benjamin Franklin e John Adams –, a Library abriga uma carta de Jefferson ao Secretário de Estado John Jay, de 1787, relatando seu encontro francês com o brasileiro José Maia, detalhando a situação do Brasil, seus recursos naturais e falando da disposição da população em empreender uma rebelião em prol da independência da então colônia portuguesa. Em 1794, dois anos depois da execução de Tiradentes, Jefferson mandava um excerto de seu relatório sobre o Brasil ao Presidente George Washington. Dois séculos depois, em visita oficial aos Estados Unidos, o Presidente Fernando Henrique Cardoso afirmava que a vocação dos dois países era a de permanecer juntos. Atualmente, sob os auspícios da Embaixada do Brasil em Washington, encontra-se em preparação um Guide to the Study of Brazil in the United States, que deve certamente contribuir para aumentar o conhecimento recíproco e para intensificar a cooperação acadêmica no início do século XXI.

Outubro de 1999

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Set 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 1999
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