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Raízes meniscais: anatomia e avaliação por meio da ressonância magnética

Meniscal roots: anatomy and evaluation by magnetic resonance imaging

VINHETA IMAGENOLÓGICA IMAGEMOLOGIC VIGNETTE

Raízes meniscais: anatomia e avaliação por meio da ressonância magnética

Meniscal roots: anatomy and evaluation by magnetic resonance imaging

Flávia Aiko SakamotoI; Maria Carolina GuimarãesI; Claudia Kazue YamaguchiI; Robson Campos GutierreII; André RosenfeldI; André Yui AiharaI; Cristiane Soares ZonerI; Jamil NatourIII; Artur da Rocha Corrêa FernandesI

IDepartamento de Diagnósticos por Imagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

IIDepartamento de Patologia da Unifesp

IIIDisciplina de Reumatologia da Unifesp

Endereço de correspondência Endereço para correspondência: Artur da Rocha Corrêa Fernandes DDI/Unifesp. Rua Botucatu, 740 CEP 04023-900, São Paulo, Brasil e-mail: artur_personal@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

As raízes anteriores e posteriores são os componentes meniscais que fixam os meniscos nos platôs tibiais próximo à inserção dos ligamentos cruzados (Figura 1). As raízes, também chamadas de enteses, são estruturas críticas para a função biomecânica dos meniscos, porque lesões dessa região, assim como lesões radiais extensas e lesões complexas, interrompem as fibras de colágeno circunferenciais e determinam uma expansão radial do menisco, com subluxação e extrusão deste. Assim, forças axiais compressivas são transmitidas diretamente para a cartilagem articular, o que leva à degeneração precoce da cartilagem e à osteoartrose(1,2). O reconhecimento de lesões meniscais comprometendo essas estruturas tem, portanto, relevância clínica, pois seu diagnóstico propicia formas mais adequadas de tratamento, evitando progressão das lesões meniscais e das alterações degenerativas articulares.


ANATOMIA

Os cornos anteriores se fixam na área intercondilar anterior da tíbia, que é dividida em segmentos medial e lateral pela eminência intercondilar anterior da tíbia. A raiz anterior do menisco medial é um ligamento achatado, em aspecto de leque, que tem a maior área de inserção de todas as raízes meniscais e se insere nesta área intercondilar anterior (Figura 2).


A raiz anterior do menisco lateral insere-se em uma pequena área anteriormente ou sobre uma porção da eminência intercondilar anterior, anteriormente ao tubérculo intercondilar lateral e lateralmente ao ligamento cruzado anterior (LCA) com o qual freqüentemente apresenta parcial interdigitação de fibras que pode ser vista em espécies cadavéricas(3,4) (Figura 2) e nas imagens de ressonância magnética (RM)(5) (Figura 2 C e D).

A raiz anterior do menisco lateral localiza-se posteriormente ao ligamento transverso do joelho e a raiz anterior do menisco medial anteriormente(3). Essas disposições são mais bem observadas nas imagens sagitais de RM(5) (Figura 3).


A maior parte da raiz do corno posterior do menisco lateral se insere na parte horizontal da área intercondilar posterior da tíbia, e algumas fibras se aderem à superfície medial do tubérculo intercondilar lateral da tíbia e ao longo da eminência intercondilar (Figura 4).


A área de inserção da raiz posterior do menisco medial é pequena e oval e situa-se na porção posterior do tubérculo intercondilar medial, posteriormente em relação à raiz do menisco lateral(4). Ambas as raízes posteriores localizam-se anteriormente à inserção do ligamento cruzado posterior(5) (Figura 4). Essas disposições podem ser observadas nas imagens sagitais de RM (Figura 5).


DIAGNÓSTICO POR IMAGEM

A raiz posterior do menisco medial é a que mais apresenta lesões (Figura 6 A e B ). Há relatos que tais lesões podem estar relacionadas à doença degenerativa crônica do menisco ou resultar de evento traumático(6). Nesses casos, pode haver fratura marginal do planalto tibial medial associada(7).


Extrusões meniscais (Figura 6 C) têm associação com lesões que ocorrem na raiz posterior, bem como na lesão radial(8) grande, na lesão complexa e nas alterações degenerativas acentuadas do menisco(9). Há também uma importante associação entre a extrusão meniscal e a perda da integridade do colágeno em meniscos degenerados e não lesados(2,9,10).

O ossículo meniscal (Figura 7) é uma condição rara e sua exata etiologia permanece controversa. Existem duas principais teorias em relação à sua origem que incluem a teoria pós-traumática e a teoria de um remanescente vestigial. Há a predileção de ser encontrado no corno posterior do menisco medial perto da inserção tibial. Clinicamente, pode estar associado à dor e à sensação de bloqueio no joelho ou ainda ser assintomático(11,12).


A prevalência da associação de lesões da raiz posterior do menisco lateral com lesões do LCA é maior que lesões da raiz posterior do menisco medial (Figura 8). As lesões da raiz posterior do menisco lateral também podem estar associadas à extrusão lateral do menisco lateral. Além disso, a ausência do ligamento meniscofemoral é mais prevalente nos casos de lesão da raiz e extrusão meniscal(13).


Apesar de terem sido descritas na literatura apenas as lesões das raízes posteriores dos meniscos(5,6,7,13), podem ser encontradas lesões que acometem as raízes anteriores que incluem cisto na raiz anterior do menisco lateral (Figura 9); avulsão da inserção tibial do LCA e da raiz anterior do menisco lateral (Figura 10); e lesão do corno anterior e raiz do menisco lateral (Figura 11).




CONCLUSÃO

Lesões das raízes meniscais podem causar incompetência funcional, com conseqüente início precoce de degeneração da cartilagem articular e osteoartrose, sendo, portanto, essencial a identificação rotineira da integridade das raízes na avaliação de ressonâncias magnéticas do joelho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Krause WR, Pope MH, Johnson RJ, Wilder DG: Mechanical changes in the knee after meniscectomy. J Bone Joint Surg Am 58: 599-604, 1976.

2. Aagaard H, Verdonk R: Function of the normal meniscus and consequences of meniscal resection. Scand J Sci Sports 9: 134-40, 1999.

3. Jacobsen K: Area intercondylaris tibiae: osseous surface structure and its relation to soft tissue structures and aplications to radiography. J Anat 117: 605-18, 1974.

4. Kohn D, Moreno B: Meniscus insertions anatomy as a basis for meniscus replacement: a morphological cadaveric study. Arthroscopy 11(1): 96-103, 1995.

5. Brody JM, Hulstyn MJ, Fleming BC, Tung GA: The meniscal roots: gross anatomic correlation with 3-T MRI findings. AJR 188: W446-W450, 2007.

6. Jones AO, Houang MTW, Low RS, Wood DG: Medial meniscus posterior root attachment injury and degeneration: MRI findings. Australasian Radiol 50: 306-13, 2006.

7. Engelsohn E, Umans H, DiFelice GS: Marginal fractures of the medial tibial plateau: possible association with medial meniscal root tear. Skeletal Radiol 36: 73-6, 2007.

8. Tuckman GA, Miller WJ, Remo JW, Fritts H, Rozansky MI: Radial tears of the menisci: MR findings. AJR 163: 395-400, 1994.

9. Costa CR, Morrison WB, Carrino JA: Medial meniscus extrusion on the knee MRI: is the extent associated with severity degeneration or type of tear? AJR 183: 17-23, 2004.

10. Lerer DB, Umans HR, Hu MX, Jones MH: The role of meniscal root pathology and radial meniscal tear in medial meniscal extrusion. Skeletal Radiol 33: 569-74, 2004.

11. Berg EE: The meniscal ossicle: the consequence of a meniscal avulsion. Arthroscopy 7(2): 241-3, 1991.

12. Raustol OA, Poelstra KA, Chhabra A, Diduch DR: The meniscal ossicle revisited: etiology and a arthroscopic technique for treatment. Arthroscopy 22(6): 687.el-687.e3, 2006.

13. Brody JM, Lin HM, Hulstyn MJ, Tung GA: Lateral meniscus root tear and meniscus extrusion with anterior cruciate ligament tear. Radiology 239: 805-10, 2006.

Declaramos a inexistência de conflitos de interesse.


  • Endereço para correspondência:

    Artur da Rocha Corrêa Fernandes
    DDI/Unifesp. Rua Botucatu, 740
    CEP 04023-900, São Paulo, Brasil
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Dez 2007
    • Data do Fascículo
      Out 2007
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