Acessibilidade / Reportar erro

Rituximab: uma alternativa terapêutica para o tratamento da trombocitopenia imunológica

CARTAS AO EDITOR LETTERS TO THE EDITOR

Rituximab: uma alternativa terapêutica para o tratamento da trombocitopenia imunológica

Morton Scheinberg; Nelson Hamer Schlack; José Mauro Kutner; Andreza Alice Feitosa Ribeiro

Hospital Israelita Albert Einstein

Rituximab é uma nova medicação aprovada para o tratamento do linfoma do tipo B. Trata-se de um anticorpo monoclonal contra o antígeno CD20 (pan B). Este antígeno está presente nas células pré B e persiste através de todos os estágios de diferenciação de linfócitos B, presente nos linfócitos maduros e neoplasias de células B(1).

O seu desenvolvimento abriu a possibilidade de que talvez pudesse também ser útil no tratamento de outras enfermidades autoimunes refratárias(2). Relatos isolados do uso do Rituximab em autoimunidade B mediada parece levantar a possibilidade de que sua indicação venha a ser mais ampla do que exclusivamente no tratamento de linfomas. No presente trabalho descrevemos dois casos de púrpura trombocitopênica idiopática de natureza autoimune onde o uso do Rituximab levou a uma remissão prolongada do quadro clínico.

O primeiro caso foi de uma paciente de 42 anos com quadro de dores articulares e trombocitopenia, do sexo feminino, cor branca, 80 kg, profissional liberal. História pregressa significativa quando, três anos atrás, apresentou sangramento espontâneo associado a plaquetopenia (19x10 plaquetas/l). Iniciou tratamento com corticóide (60 mg/ dia) sem resposta clínica. Posteriormente, fez uso de gamaglobulina endovenosa com discreta melhora (contagem de plaquetas 39x10/l). Nessa ocasião, foram detectados a presença de dores articulares e o aparecimento de anticorpos antinucleares (FAN 1/640, anti-DNA por Chritidia luciliae positivo). O tratamento com Rituximab (375 mg/ m2) foi instituído (quatro doses seguidas), com aumento gradual das plaquetas (126x10/l). Tratamento de manutenção com 5 mg de prednisona e antiinflamatório nãohormonal. Seis meses após o tratamento a paciente mantém-se em remissão.

O segundo caso foi o de C.M.A., 18 anos, 90 kg, estudante, cor branca, PTI diagnosticada em 1997. Utilizou meticorten com respostas transitórias. Há cerca de dois anos fez IgG EV e esplenectomia, permanecendo assintomática até junho de 2002, quando apresentou petéquias, equimoses e sangramento bucal. Foi submetida a IgG EV e quatro pulsos de enduxan com recidiva. Tentando ciclosporina, não houve resposta. Em novembro de 2002 foi introduzido Rituximab 375 mg/m2/semana por 4 semanas. Desde então está em remissão completa.

Pacientes portadores de doenças auto-imunes mediadas por anticorpos, em um número importante de casos, respondem ao tratamento por corticóides ou agentes citotóxicos, ou ambos. Uma má resposta clínica a esses agentes geralmente está associada a um prognóstico reservado. O rituximab tem provocado uma redução acentuada de linfócitos B (antígeno CD20) por um período de 6 a 9 meses, tornando-se uma boa opção terapêutica para algumas doenças auto-imunes. Trata-se de uma medicação com um número relativamente pequeno de efeitos colaterais, em geral em virtude de reações alérgicas.

Rituximab tem sido relatado como de utilidade em outras doenças auto-imunes(3). Tanto no caso dos nossos pacientes como nos pacientes da literatura, acredita-se que o mecanismo de ação esteja interferindo na sobrevivência de linfócitos B, produzindo auto-anticorpos, apesar de os níveis séricos de imunoglobulinas não parecerem sofrer flutuações importantes.

No presente trabalho, relatamos o efeito benéfico do Rituximab em dois pacientes com púrpura trombocitopênica idiopática refratária ao tratamento convencional e com remissão prolongada após as aplicações da medicação. O seu mecanismo de ação parece estar ligado à eliminação de células produtoras de auto-anticorpos. Resultados semelhantes foram relatados no decorrer dos últimos dois anos por outros investigadores(4,5,6). Em suma, o Rituximab parece ser uma alternativa viável para o tratamento de trombocitopenia de natureza imune refratária ao tratamento convencional(7).

  • 1
    Treon SP, Anderson KC: The use of Rituximab in the treatment of malignant and non malignant plasma cell disorders. Semin Oncol 12: 79-85, 2000.
  • 2
    Arzoo K, Sadeghi S, Liebman HÁ: Treatment of refractory antibody mediated autoimmune disorders with an anti CD20 monoclonal antibody (Rituximab). Ann Rheum Dis 61: 922-4, 2000.
  • 3
    Edwards JC, Cambridge G: Sustained improvement in rheumatoid arthritis following a protocol designed to deplete B lymphocytes. Rheumatology 40: 205-11, 2001.
  • 4
    Stasi R, Pagana A, Stipa E, Amadori S: Rituximab chimeric anti CD20 monoclonal antibody treatment for adults with chronic idiopathic thrombocytopenic púrpura. Blood 98: 952-7, 2001.
  • 5
    Patel K, Berman J, Farber A, Caro J: Refractory autoimmune thrombocytopenic púrpura treatment with Rituximab. Am J Haematol 67: 952-7, 2001.
  • 6
    Arzoo K, Sadeghi S, Liebman HÁ: Treatment of refractory antibody mediated autoimmune disorders with an antiCD20 monoclonal antibody (Rituximab). Ann Rheum Dis 61: 922-4, 2002.
  • 7
    Looney RJ: Treating human autoimmune disease by depleting B cells. Ann Rheum Dis 61: 863-6, 2002.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Ago 2003
Sociedade Brasileira de Reumatologia Av Brigadeiro Luiz Antonio, 2466 - Cj 93., 01402-000 São Paulo - SP, Tel./Fax: 55 11 3289 7165 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: sbre@terra.com.br