Resumo
Objetivo: Avaliar o envolvimento do esôfago (EE) na população com esclerodermia localizada juvenil (ELJ) e a possível associação entre essa manifestação gastrointestinal e dados demográficos, características clínicas, exames laboratoriais, tratamentos e desfechos.
Métodos: Durante 31 anos, 5.881 pacientes com doenças reumáticas foram acompanhados em nossa Divisão de Reumatologia Pediátrica. O EE foi definido pela presença de sintomas (disfagia para sólidos/líquidos, azia, regurgitação esofágica, náuseas/vômitos e epigastralgia) e confirmado com pelo menos um exame que revelou EE: radiografia contrastada com bário, endoscopia digestiva alta e pHmetria esofágica de 24 horas.
Resultados: Observou-se ELJ em 56/5.881 pacientes (0,9%), principalmente do subtipo morfeia linear. O EE foi observado em 23/56 (41%) dos pacientes com ELJ. Oito (35%) dos 23 pacientes com ELJ com EE eram sintomáticos e apresentavam azia (5/8), disfagia para sólidos e líquidos (3/8), náuseas e epigastralgias (1/8). A frequência de quaisquer manifestações extracutâneas cumulativas (calcinose, artrite/artralgia, envolvimento do sistema nervoso central, pneumonite intersticial, nefrite mesangial e/ou arritmias) foi significativamente maior em pacientes com ELJ com EE em comparação com aqueles sem essa complicação (56% vs. 24%, p = 0,024). Não foi evidenciada diferença nos dados demográficos, subtipos de ELJ e quaisquer manifestações extracutâneas entre os grupos (p > 0,05). A frequência de uso de metotrexato foi significativamente maior em pacientes com ELJ com EE em comparação com aqueles sem EE (52% vs. 12%, p = 0,002). O perfil de autoanticorpos (anticorpos antinucleares, anti-SCL-70, fator reumatoide, anticentrômero, anticardiolipina, anti-Ro/SSA e anti-La/SSB) foi semelhante nos dois grupos (p > 0,05).
Conclusões: Este estudo demonstrou que o EE foi frequentemente observado em pacientes com ELJ, principalmente naqueles assintomáticos com o subtipo linear da doença. O EE ocorreu em pacientes com ELJ com outras manifestações extracutâneas e exigiu tratamento com metotrexato.
Palavras-chave: Esclerodermia localizada juvenil; Gastrointestinal; Esôfago; Metotrexato; Crianças