| 1. Bebê imaginário e vínculo pais-filho |
1.1 Contexto da gestação (planejamento ou surpresa)
Foi muito feliz, porque há tempos a gente planejava, e agora deu certo. Há dois anos, desde o início do casamento. (M4)
Um susto, né, mas como te disse, fiquei feliz. Sempre tive vontade de ser mãe, já tenho duas meninas, aí ia ser mais uma alegria para mim. (M6)
Foi inesperada a gravidez. Foi de uma hora para a outra, ninguém planejou, não. Ela ficou grávida, e resolvemos ter o filho [...]. (P2)
1.2 Filho idealizado
[...] no mês passado, quando eu fiz a [ultrassonografia] morfológica, aí eu descobri que era um menino. Aí foi outra felicidade! Primeiro filho. O pai quase ‘pira’ de novo. (M4)
Para mim, eu pensei que quando nascesse, [...] nascesse normal, ia gerando normal, aí eu não sei, é a primeira vez que isso acontece comigo, aí eu não entendo muito disso aí, não sei explicar direito. [...] Na hora que eu pensei o nome dele, eu estava pensando no anjo Rafael [nome fictício], aí eu coloquei o nome de Rafael. (P1)
1.3 Expressões de afetividade pelo bebê Amor demais. Sou ansiosa para ver. (M3)
Só felicidade. Só de sentir mexer, já é uma alegria para mim. (M4)
Eu fico acariciando a barriga dela, até eu sentir ele chutando. Aí fico beijando. (P1)
1.4 Expectativas parentais
A única certeza que ele tem é essa, que ele vai cuidar, que ele vai crescer junto. (M3).
Sempre tive vontade de ser mãe. (M6).
Já compramos tudo, já. (P2)
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| Processo de luto a partir do diagnóstico de malformação fetal |
2.1 Choque e negação
Eu fiquei, realmente, eu fiquei sem chão, porque eu já vi tantos casos, de tantas mães de ter os filhos com problemas, pensava que nunca ia passar por isso. Foi assim um choque, na hora eu pensei assim... não sabia o que fazer... aí... aí... na mesma hora era uma alegria, e na mesma hora era uma tristeza, porque é difícil ter um filho com problema, doente. (M2)
Eu fiquei muito triste. Chorei, chorei muito. E na hora que eu falei para ele [esposo], eu pensava que ele tinha desmaiado na hora, porque eu estava aqui no hospital ainda, e ele estava no trabalho, aí ficou meia hora calado, sem responder nada, e eu chorei muito. (M3)
[...] ele [médico] só pediu para mim fazer outra vez, né, outra [ultrassonografia] morfológica, porque não estava encontrando o osso nasal do neném. Aí eu me apavorei! Fui de novo, aí, eu fiz outro [exame] para ver se realmente era verdade, aí deu. Bati outra [morfológica], aí deu uma coisa só. (M5)
[...] eu falo até para ela [esposa] não pensar muito nessas coisas, não sou muito de pensar nessas coisas. Fico mais focado no trabalho, nos meus outros filhos, nos filhos dela, que é o mais novo e o mais velho. (P1)
Foi na primeira morfológica que fez, [...] ele [o médico] falou, mas eu não acreditei muito não, mandei fazer outra. (P2)
2.2 Anseio e busca
Muito triste [choro, pausa]. Muito triste, porque a gente pesquisa também no Google. E muitos casos são bom, mas outros já não são. [pausa] Então, é entregar a Deus [choro]. (M4)
Que meu filho venha com saúde. É o que eu mais quero. (M5)
2.3 Desorganização e desespero
A gente tem medo, porque a criança, assim que a criança nascer, vai fazer uma cirurgia. Tem que saber se a criança vai resistir a essa cirurgia. Aí a gente tem medo, eu não sei, eu nunca perdi um filho, eu já tenho a minha primeira filha, que tem um ano e oito meses, e agora eu vou ter o segundo, mas até agora eu não sei o que é perder um filho. Deve ser uma dor imensa, mas eu não gosto muito de falar no assunto, não. (M2)
Eu converso com ele [feto], me sinto bem, mas aí eu começo a pensar nos rins, fico triste. Aí ele, quando fico nervosa, ele se mexe, mas depois ele para, fica parado. [...] Aí eu penso do mesmo jeito assim: não sei se Deus vai me dar, ou se não vai, ou se vai sobreviver ou se não vai. (M3)
2.4 Reorganização e adaptação
[...] aí ele disse que eu tinha que fazer o tratamento, que era para criança, quando nasce, não nascer com problema. Aí a gente correu, fomos atrás e hoje a gente está aqui [ambulatório de medicina fetal], fazendo tratamento. É esperar que a criança nasça bem, e que consiga sobreviver. (M2)
Consegui ficar mais tranquila, que eu ‘toco’ no assunto com alguém, aí eu fico mais tranquila, eu não fico tão em tempo de explodir [...]. Nem sempre, necessariamente, as coisas acontecem como a gente planeja, né... E aí não é que você vai ficar sofrendo por antecipação, não é isso, mas é uma forma de você cuidar desse sentimento que você tem pelo [bebê]. (M3)
É porque, muitas vezes, é que pode aceitar e não aceitar, né. Mas eu quero que eu aceite. Eu sei que vai ser difícil, mas é meu filho. Ele veio do meu ventre, e eu vou amar da mesma forma. [...] Se Deus me deu ele com problema, é porque Ele acha que eu mereço, acha que eu saberei cuidar. (M5)
Se for dele vir, vai ser bem tratado. Se não vir, não posso fazer nada. (P1)
Quando Deus dá uma criança especial para a gente cuidar é porque somos pais especiais para poder cuidar dela. (P2)
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| Estratégias de enfrentamento utilizadas pelos pais |
3.1 Religiosidade
Pedindo força a Deus, que Deus vai fazer um milagre. (M1)
É difícil ter um filho com problema, doente, mas tudo Deus dá um jeito [...] aí peguei na mão de Deus, e Deus sabe o que faz. (M2)
Então, eu também peço a Deus para não sofrer tanto, que eu também não sei ainda a dor de perder alguém tão próximo, e, quer dizer, é um pedaço de mim [...] Eu peço a Deus que se for para ele levar, ele leve, e eu não sofra, e que se for para Deus me dar, eu vou agradecer muito. (M3)
3.2 Rede Sociofamiliar
[...] uma hora eu sinto vergonha, e outra hora eu não gosto, porque lá onde eu moro, tem muita gente. A gente fala uma coisa, aí quando vai no outro dia, todo mundo já sabe. Aí eu não conto para todas as pessoas. Eu digo que está bem, e só. E as pessoas que eu conto é mais próxima, é amigo da minha família, é amigo meu que já faz tempo, mas outras pessoas, eu não falo. (M3)
[...] a minha mãe é muito católica. A gente foi para casa da minha mãe, começamos a ir para a missa pedindo força. A família também se reuniu para dar conselho para ela [esposa]. Aí a gente se conformou mais, e ajudou a poder cuidar dela. (P2)
3.3 Apoio Mútuo no Casal
Às vezes, ele [esposo] não gosta muito de conversar, não, nem com a mãe dele, nem com a filha dele, ele fica mais trancado. Nem comigo ele conversa muito, não, porque ele diz que eu sou muito aperreada, só penso besteira, aí ele fica mais calado. (M3)
Ele se mostra forte, ele é forte. [...] Então, se ele me vê com alguma angústia, ele sempre me dá força. É por isso que ele não me deixa só, sempre está comigo. (M5)
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