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Fatores associados ao consumo abusivo de álcool em profissionais de enfermagem no estado de São Paulo, Brasil

Resumo

Objetivo:

identificar fatores associados ao consumo abusivo de álcool entre profissionais de Enfermagem no estado de São Paulo.

Métodos:

trata-se de um estudo caso-controle aninhado a um transversal. Foram coletados dados sobre características demográficas, do estilo de vida, capacidade para o trabalho, aspectos ocupacionais, do ambiente de trabalho físico e psicossocial e de consumo abusivo de álcool (questionário CAGE). Foi realizada análise de regressão logística múltipla.

Resultados:

o estudo envolveu 119 casos e 356 controles. Após ajuste por idade, o consumo abusivo de álcool foi associado ao sexo masculino (OR: 3,39; IC95%:1,96;5,85), tabagismo atual ou pregresso (OR: 2,11; IC95%: 1,32;3,38) e à qualidade do sono ruim (OR: 1,91; IC95%:1,12;3,25); e negativamente associado a carga horária de trabalho semanal ≥50 horas (OR: 0,54; IC95%:0,32;0,92) e renda familiar mensal de ≥6,1 salários-mínimos (OR: 0,37; IC95%: 0,20;0,67).

Conclusões:

jornada de trabalho e características individuais estiveram associadas ao consumo abusivo de álcool. Programas de prevenção e tratamento do consumo abusivo de álcool em profissionais da Enfermagem deveriam ser implementados nos locais de trabalho, visando reduzir os danos causados pelo álcool para trabalhadores e pacientes.

Palavras-chave:
abuso de álcool; transtornos relacionados ao uso de álcool; consumo de bebidas alcoólicas; profissionais de enfermagem; recursos humanos de enfermagem; saúde do trabalhador

Abstract

Objective:

to identify factors associated with alcohol abuse in nursing professionals in São Paulo State.

Methods:

this is a case-control nested in a cross-sectional study. We collected data on demographic characteristics, lifestyle, work ability, occupational features, physical and psychosocial work environment, and alcohol abuse (CAGE Questionnaire). Multiple logistic regression analyses were performed.

Results:

the study involved 119 participants in the case group and 356 in the control group. After age adjustment, alcohol abuse was associated with male sex (OR: 3.39; 95%CI: 1.96;5.85), current or former smoking (OR: 2.11; 95%CI: 1.32;3.38), and poor sleep quality (OR: 1.91; 95%CI: 1.12;3.25); and negatively associated with ≥50 weekly working hours (OR: 0.54;95%CI: 0.32;0.92) and a monthly family income ≥6.1 minimum wages(OR: 0.37; 95%CI: 0.20;0.67).

Conclusions:

working hours and individual characteristics were associated with alcohol abuse. Workplaces should implement programs to prevent and treat alcohol abuse in nursing professionals to reduce workers’ and patients’ alcohol-related harms.

Keywords:
alcohol abuse; alcohol-related disorders; alcohol drinking; nurse practitioners; nursing staff; occupational health

Introdução

Usuários de substâncias psicoativas podem apresentar um conjunto de sinais e sintomas, com variados graus de severidade, e que caracterizam a síndrome de dependência, incluindo a dependência ao álcool. O diagnóstico se fundamenta em sete critérios: compulsão para o consumo, aumento da tolerância, síndrome de abstinência, alívio ou evitação da abstinência por meio do consumo, relevância do consumo, estreitamento do repertório e reinstalação da síndrome de dependência11. Stockwell T. The alcohol dependence syndrome: a legacy of continuing clinical and scientific importance. Addiction. 2015;110(Suppl 2):8-11.), (22. Araújo MR, Laranjeira R. A evolução do conceito de dependência química. In: Gigliotti A, Guimarães A, organizadores. Dependência, compulsão e impulsividade. Rio de Janeiro: Rubio; 2017. p. 57-68.. Esses sete critérios fundamentam a classificação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-5) que define o transtorno relacionado ao álcool, considerando um padrão crescente de gravidade, a presença de intoxicação e/ou abstinência ao álcool e outros aspectos não especificados11. Stockwell T. The alcohol dependence syndrome: a legacy of continuing clinical and scientific importance. Addiction. 2015;110(Suppl 2):8-11.), (22. Araújo MR, Laranjeira R. A evolução do conceito de dependência química. In: Gigliotti A, Guimarães A, organizadores. Dependência, compulsão e impulsividade. Rio de Janeiro: Rubio; 2017. p. 57-68.. O abuso ou uso nocivo da substância se diferencia da dependência química por não incluir o aumento da tolerância e a síndrome de abstinência, e se fundamenta nas consequências negativas do seu uso repetido, com ênfase em danos à saúde física ou mental, crítica de outras pessoas ao padrão de uso e consequências sociais, tais como acidentes, falha em compromissos ou violência11. Stockwell T. The alcohol dependence syndrome: a legacy of continuing clinical and scientific importance. Addiction. 2015;110(Suppl 2):8-11.), (22. Araújo MR, Laranjeira R. A evolução do conceito de dependência química. In: Gigliotti A, Guimarães A, organizadores. Dependência, compulsão e impulsividade. Rio de Janeiro: Rubio; 2017. p. 57-68..

O álcool é apontado como a mais perigosa substância psicoativa em termos de danos gerais ocasionados ao próprio usuário e a outras pessoas33. Iranpour A, Nakhaee N. A review of alcohol-related harms: a recent update. Addict Health. 2019;11(2):129-37.. As manifestações deletérias associadas à síndrome de dependência ou ao consumo abusivo englobam doenças físicas (diversos tipos de câncer, agravos do fígado, doenças respiratórias, renais, cardíacas e neurológicas) e mentais (transtornos do humor, ansiedade, depressão, psicoses) e outros desfechos negativos, tais como aumento do risco para suicídio, violência de vários tipos e intensidade, comprometimento dos relacionamentos interpessoais e problemas familiares (incluindo qualidade da vida sexual e comportamento sexual de risco), problemas de fertilidade e da gravidez (incluindo síndrome alcoólica fetal), envolvimento em diferentes tipos de acidentes, comprometimento do desempenho acadêmico e laboral, aumento na utilização e custo dos serviços de saúde, absenteísmo, acidentes de trabalho, desemprego, afastamento precoce do trabalho e estigma social33. Iranpour A, Nakhaee N. A review of alcohol-related harms: a recent update. Addict Health. 2019;11(2):129-37.), (44. Vieira MLC, Oliveira EB, Souza NVDO, Lisboa MTL, Xavier T, Rossone FO. Patterns of alcohol use among nursing workers, and its association with their work. Rev Enferm UERJ. 2013;21(6):729-35), (55. Andrade AC, organizador. Álcool e a saúde dos brasileiros: panorama 2020 [Internet]. São Paulo: Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool; 2020 [citado em 16 set. 2021]. Disponível em: Disponível em: https://cisa.org.br/images/upload/Panorama_Alcool_Saude_CISA2020.pdf
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), (66. Toney-Butler TJ, Siela D. Recognizing Alcohol and Drug Impairment in the Workplace in Florida. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island: StatPearls Publishing; 2022. [citado em 12 set 2022]. Disponível em: Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29939551/
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.

A síndrome de dependência e o consumo abusivo podem ter etiologia múltipla. Processos genéticos e fisiológicos envolvendo enzimas relacionadas ao metabolismo do álcool podem estar envolvidos, além de fatores de vulnerabilidade individual e social, tais como aspectos biológicos, psicológicos e comportamentais, idade, sexo, contexto familiar e socioeconômico, políticas sanitárias, políticas de produção, distribuição e regulamentação do álcool e publicidade do uso da substância11. Stockwell T. The alcohol dependence syndrome: a legacy of continuing clinical and scientific importance. Addiction. 2015;110(Suppl 2):8-11.), (22. Araújo MR, Laranjeira R. A evolução do conceito de dependência química. In: Gigliotti A, Guimarães A, organizadores. Dependência, compulsão e impulsividade. Rio de Janeiro: Rubio; 2017. p. 57-68.), (55. Andrade AC, organizador. Álcool e a saúde dos brasileiros: panorama 2020 [Internet]. São Paulo: Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool; 2020 [citado em 16 set. 2021]. Disponível em: Disponível em: https://cisa.org.br/images/upload/Panorama_Alcool_Saude_CISA2020.pdf
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), (77. Perry L, Xu X, Gallagher R, Nicholls R, Sibbritt D, Duffield C. Lifestyle health behaviors of nurses and midwives: the ‘fit for the future’ study. Int J Env Res Public Health. 2018;15(5):945.. Condições do ambiente físico e psicossocial do trabalho também podem estar associados ao padrão de consumo alcoólico44. Vieira MLC, Oliveira EB, Souza NVDO, Lisboa MTL, Xavier T, Rossone FO. Patterns of alcohol use among nursing workers, and its association with their work. Rev Enferm UERJ. 2013;21(6):729-35), (88. Tobias JSP, da Silva DLF, Ferreira PAM, da Silva AAM, Ribeiro RS, Ferreira ASP. Alcohol use and associated factors among physicians and nurses in northeast Brazil. Alcohol. 2019;75:105-12..

A literatura informa que não há um padrão de consumo considerado seguro, classificando consumo de baixo risco (consumo em baixas doses, associado a cuidados preventivos contra acidentes), uso nocivo ou abuso (consumo acompanhado de eventos negativos) e dependência (consumo frequente e compulsivo, acompanhado de problemas de maior gravidade)22. Araújo MR, Laranjeira R. A evolução do conceito de dependência química. In: Gigliotti A, Guimarães A, organizadores. Dependência, compulsão e impulsividade. Rio de Janeiro: Rubio; 2017. p. 57-68.. O impacto do consumo abusivo de álcool entre profissionais de Enfermagem pode se manifestar em eventos deletérios para os profissionais e pessoas de seu relacionamento e, em especial, ao público e pacientes que podem ser afetados por erros assistenciais66. Toney-Butler TJ, Siela D. Recognizing Alcohol and Drug Impairment in the Workplace in Florida. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island: StatPearls Publishing; 2022. [citado em 12 set 2022]. Disponível em: Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29939551/
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), (99. Strobbe S, Crowley M. Substance use among nurses and nursing students: a joint position statement of the emergency nurses association and the international nurses society on addictions. J Addict Nurs. 2017;28(2):104-6.. A prática de Enfermagem prejudicada pelo uso de álcool ou outra substância psicoativa é definida como a redução da competência decorrente de mudanças nos hábitos, desempenho, aparência ou outros comportamentos no trabalho99. Strobbe S, Crowley M. Substance use among nurses and nursing students: a joint position statement of the emergency nurses association and the international nurses society on addictions. J Addict Nurs. 2017;28(2):104-6.. O problema emerge quando o profissional não está hábil para prover a atenção à saúde de forma competente, responsável e segura porque tem um comprometimento fisiológico, neurológico ou comportamental decorrente do uso do álcool, que pode afetar seu julgamento, comprometendo sua capacidade de desempenho laboral66. Toney-Butler TJ, Siela D. Recognizing Alcohol and Drug Impairment in the Workplace in Florida. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island: StatPearls Publishing; 2022. [citado em 12 set 2022]. Disponível em: Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29939551/
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A frequência estimada de consumo abusivo de álcool entre os profissionais de Enfermagem apresenta grande variabilidade. Um estudo com enfermeiros em dois hospitais de São Luís no estado do Maranhão, Brasil, identificou que 7,8% dos participantes tinham comportamento compatível com consumo abusivo88. Tobias JSP, da Silva DLF, Ferreira PAM, da Silva AAM, Ribeiro RS, Ferreira ASP. Alcohol use and associated factors among physicians and nurses in northeast Brazil. Alcohol. 2019;75:105-12.. Outros estudos reportam consumo abusivo de álcool com frequência de 6,0% entre os profissionais de Enfermagem na província de Alberta, Canadá1010. Kunik D. Substance use disorders among registered nurses: prevalence, risks and perceptions in a disciplinary jurisdiction. J Nurs Manag. 2015;23(1):54-64.; 23,1%, das enfermeiras em cursos de desenvolvimento profissional em uma universidade de Londres1111. Bakhshi S, Sun F, Murrells T, While A. Nurses’ health behaviours and physical activity-related health-promotion practices. Br J Community Nurs, 2015;20(6):289-96., e 16,2% entre os dos profissionais de Enfermagem da NSW Nurses and Midwives Association de Nova Gales do Sul, na Austrália77. Perry L, Xu X, Gallagher R, Nicholls R, Sibbritt D, Duffield C. Lifestyle health behaviors of nurses and midwives: the ‘fit for the future’ study. Int J Env Res Public Health. 2018;15(5):945..

Considera-se que as prevalências sejam subestimadas dada a capacidade que profissionais de saúde têm de omitir o problema em função do medo das consequências44. Vieira MLC, Oliveira EB, Souza NVDO, Lisboa MTL, Xavier T, Rossone FO. Patterns of alcohol use among nursing workers, and its association with their work. Rev Enferm UERJ. 2013;21(6):729-35,88. Tobias JSP, da Silva DLF, Ferreira PAM, da Silva AAM, Ribeiro RS, Ferreira ASP. Alcohol use and associated factors among physicians and nurses in northeast Brazil. Alcohol. 2019;75:105-12.. Profissionais de saúde desenvolvem mecanismos de enfrentamento que lhes permitem, até certo ponto, ocultar o comprometimento de sua capacidade para prover o cuidado adequado e seguro ao paciente, até o momento em que erros se tornam aparentes66. Toney-Butler TJ, Siela D. Recognizing Alcohol and Drug Impairment in the Workplace in Florida. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island: StatPearls Publishing; 2022. [citado em 12 set 2022]. Disponível em: Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29939551/
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. A literatura evidencia que processos biológicos, psíquicos, comportamentais e ambientais são fundamentais para o desenvolvimento de diferentes padrões de consumo de álcool11. Stockwell T. The alcohol dependence syndrome: a legacy of continuing clinical and scientific importance. Addiction. 2015;110(Suppl 2):8-11.), (22. Araújo MR, Laranjeira R. A evolução do conceito de dependência química. In: Gigliotti A, Guimarães A, organizadores. Dependência, compulsão e impulsividade. Rio de Janeiro: Rubio; 2017. p. 57-68.), (44. Vieira MLC, Oliveira EB, Souza NVDO, Lisboa MTL, Xavier T, Rossone FO. Patterns of alcohol use among nursing workers, and its association with their work. Rev Enferm UERJ. 2013;21(6):729-35. Além disso, vários fatores têm sido associados ao padrão de consumo de álcool em profissionais de Enfermagem, incluindo características sociodemográficas e estilo de vida, lazer, comportamentos relacionados ao trabalho e à saúde, histórico familiar de uso de álcool, acesso a substâncias psicoativas e estresse no trabalho44. Vieira MLC, Oliveira EB, Souza NVDO, Lisboa MTL, Xavier T, Rossone FO. Patterns of alcohol use among nursing workers, and its association with their work. Rev Enferm UERJ. 2013;21(6):729-35,88. Tobias JSP, da Silva DLF, Ferreira PAM, da Silva AAM, Ribeiro RS, Ferreira ASP. Alcohol use and associated factors among physicians and nurses in northeast Brazil. Alcohol. 2019;75:105-12.

9. Strobbe S, Crowley M. Substance use among nurses and nursing students: a joint position statement of the emergency nurses association and the international nurses society on addictions. J Addict Nurs. 2017;28(2):104-6.
-1010. Kunik D. Substance use disorders among registered nurses: prevalence, risks and perceptions in a disciplinary jurisdiction. J Nurs Manag. 2015;23(1):54-64.,1212. Bratberg GH, Wilsnack SC, Wilsnack R, Haugland SH, Krokstad S, Sund ER, et al. Gender differences and gender convergence in alcohol use over the past three decades (1984-2008), The HUNT Study, Norway. BMC Public Health, 2016;16(723).,1313. Junqueira MAB, Ferreira MCM, Soares GT, Brito IE, Pires PLS, Santos MAS, et al. Alcohol use and health behavior among nursing professionals. Rev Esc Enf USP. 2017;51;e03265.. Apesar disso, alguns achados são inconclusivos ou divergentes na literatura.

Considerando essa lacuna e o impacto deletério do uso abusivo de álcool na assistência prestada, e considerando a escassez de estudos sobre os fatores associados ao uso de álcool na profissão de Enfermagem no Brasil88. Tobias JSP, da Silva DLF, Ferreira PAM, da Silva AAM, Ribeiro RS, Ferreira ASP. Alcohol use and associated factors among physicians and nurses in northeast Brazil. Alcohol. 2019;75:105-12., este estudo teve como objetivo identificar os fatores associados ao uso abusivo de álcool entre profissionais de Enfermagem do estado de São Paulo, Brasil.

Métodos

Desenho do estudo e participantes

Este é um estudo do tipo caso-controle aninhado a um estudo transversal realizado com profissionais de Enfermagem do estado de São Paulo (25,0% do contingente do Brasil), registrados em 14 subseções regionais do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo - Coren-SP. Entre os 411.162 profissionais elegíveis, 1,0% aderiu ao estudo (3.993 pessoas). Destes, 942 (2,6%) não eram ativos na profissão, enquanto 3.051 (76,4%) eram atuantes, totalizando uma taxa de adesão de 0,74%. Detalhes sobre a população-alvo e amostra estão em outra publicação1414. Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Work ability and intending to leave the nursing profession in São Paulo. Rev Enferm da UERJ, 2021;29:e57941..

Como o número de casos foi muito inferior ao número de não casos, optou-se por um estudo caso-controle. Essa amostra foi calculada assumindo a proporção de 50,0% no grupo controle, α=5,0%, (1-β) = 90,0%, e uma taxa de reposição de 20,0%. Foram considerados casos pessoas com presença de consumo alcoólico de risco. Visando aumentar o poder da amostra, 3 controles por caso foram sorteados aleatoriamente entre aqueles que não relataram consumo de risco.

Coleta de dados e variáveis de estudo

A coleta de dados ocorreu entre outubro de 2018 e março de 2019 com apoio do Coren-SP, que enviou aos profissionais mensagem por meio de correio eletrônico contendo o link para acesso ao formulário para coleta de dados. O formulário continha questões sobre características sociodemográficas, tais como sexo (masculino, feminino), idade (em anos, recategorizada em até 30,9, 31,0 a 40,9, e 41,0 e mais), estado civil (casado(a)/com companheiro(a), ou solteiro(a)/divorciado(a)/viúvo(a)), renda familiar mensal (categorizada em até 6,0 salários-mínimos/prefiro não responder e 6,1 ou mais), município da subseção do Coren-SP, e localidade de residência (capital, interior). Subsequentemente, informações do município foram adicionadas: taxa de urbanização, isto é, porcentagem de pessoas que vivem em domicílios urbanos em relação à população total em 20151515. Fundação SEADE - Sistema Estadual de Análise de Dados. SEADE População. População Urbana e Rural [Internet]. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo. [citado em 12 set 2022]. Disponível em: Disponível em: https://populacao.seade.gov.br/populacao-urbana-e-rural/
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(dicotomizado em até 95,0% e 95,0% ou mais, em função da distribuição da frequência dos dados), e índice de desenvolvimento urbano - IDH em 2010 em pontos (0,000 a 1,000), de acordo com o último censo disponível1616. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. São Paulo. Pesquisas. IBGE [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE. [citado em 12 set 2022]. Disponível em: Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sao-paulo/pesquisa/37/0?tipo=cartograma
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(muito alto - 0,800 ou mais, alto - 0,700 a 0,799, médio - 0,600 a 0,699, baixo - 0,500 a 0,599 e muito baixo - 0,000 a 0,499). O formulário também continha questões sobre estilo de vida: tabagismo (nunca fumou, ex-fumante, fumante atual), prática regular de atividade física - ao menos 3x/semana nos últimos 12 meses (sim, não) -, índice de massa corporal (kg/m2, categorizado em peso adequado - 18,5 a 24,9, sobrepeso - 25,0 a 29,9, obesidade grau I - 30,0 a 34,9, obesidade grau II - 35,0 a 39,9 e obesidade grau III - 40,0 e mais). A qualidade do sono foi avaliada por meio do Karolinska Sleep Questionnaire (KSQ) (com escores variando de 1 a 5 pontos, recategorizados em boa - 1 a 2 pontos, intermediária - 3 pontos e ruim - 4 e 5 pontos) e insônia (a partir de uma lista de sete sintomas de insônia: não - sem sintomas e sim - ao menos 1 sintoma)1717. Vasconcelos SP, Fischer FM, Reis AOA, Moreno CRC. Factors associated with work ability and perception of fatigue among nursing personnel from Amazonia. Rev Bras Epidemiol. 2011;14(4):688-97., capacidade para o trabalho por meio do Índice de Capacidade para o Trabalho - ICT (escores variando de 7,0 a 49,0 pontos. Trabalhadores com até 35 anos de idade foram categorizados como excelente - 45,0 a 49,0, boa - 41,0 a 44,9, moderada - 37,0 a 40,9 e baixa - 7,0 a 36,9. Trabalhadores com 35 anos ou mais, classificados como excelente - 44,0 a 49,0, boa - 37,0 a 43,9, moderada - 28,0 a 36,9, e baixa - 7,0 a 27,9) (1414. Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Work ability and intending to leave the nursing profession in São Paulo. Rev Enferm da UERJ, 2021;29:e57941.), (1818. Tuomi K, Ilmarinen J, Jahkola A, Katajarinne L, Tulkki A. Índice de capacidade para o trabalho. São Carlos: EduFSCar; 2010.. Questões sobre histórico ocupacional incluíram categoria profissional (enfermeiro, técnico de enfermagem, auxiliar de enfermagem), formação mais elevada na Enfermagem (pós-graduação, graduação, ensino médio ou elementar), idade que começou a trabalhar (em anos, categorizada em até 14,0, 14,0 a 17,9, 18,0 ou mais), anos de trabalho na Enfermagem (em anos, categorizada em até 5,9; 6,0 a 10,9; 11,0 a 15,9; e 16,0 ou mais), vínculo empregatício (contrato formal em instituição privada, servidor público, professional autônomo ou outros), área de atuação (hospital, atenção primária à saúde, serviços de emergência, assistência domiciliar, residenciais de idosos, educação/ensino ou outros), cargo/função (prestação de cuidados diretos ao paciente, liderança, assessoria/consultoria, ensino/educação ou outros), segundo emprego (sim ou não), trabalho noturno no emprego principal e/ou secundário (sim ou não), horas de trabalho semanais (categorizadas em: até 39,9; 40,0 a 49,9; 50,0 a 59,9; 60,0 a 69,9; 70,0 a 79,9; e 80,0 ou mais), história recente de acidente ou doença relacionada ao trabalho (sim ou não), e intenção de saída da profissão, baseada na questão do NEXT-Study - Nurses’ Early Exit Study (“Com que frequência durante os últimos 12 meses você pensou em deixar a Enfermagem?”; categorias de respostas foram não - nunca/algumas vezes por ano e sim - algumas vezes por mês/algumas vezes por semana/todos os dias)1414. Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Work ability and intending to leave the nursing profession in São Paulo. Rev Enferm da UERJ, 2021;29:e57941..

O ambiente psicossocial do trabalho dos participantes foi avaliado por meio da Escala Estresse no Trabalho (EET), adaptada do Job Content Questionnaire (JCQ) para uso no Brasil, baseada no Modelo Demanda-Controle. Ela mensura demanda psicológica (5 a 20 pontos), controle (6 a 24 pontos) e suporte social no trabalho (6 a 24 pontos)1919. Alves MGM, Chor D, Faerstein E, Lopes CS, Werneck GL. Short version of the “job stress scale”: a Portuguese-language adaptation. Rev Saude Publica. 2004;38(2):164-71.. As três dimensões foram recategorizadas em alto ou baixo por meio do ponto médico de cada escore1414. Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Work ability and intending to leave the nursing profession in São Paulo. Rev Enferm da UERJ, 2021;29:e57941.. Demanda e controle foram combinados em 4 categorias de risco para desgaste no trabalho (trabalho com elevado desgaste, trabalho ativo, trabalho com baixo desgaste e trabalho passivo)1414. Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Work ability and intending to leave the nursing profession in São Paulo. Rev Enferm da UERJ, 2021;29:e57941.), (1919. Alves MGM, Chor D, Faerstein E, Lopes CS, Werneck GL. Short version of the “job stress scale”: a Portuguese-language adaptation. Rev Saude Publica. 2004;38(2):164-71..

O ambiente psicossocial também foi avaliado por meio da versão brasileira do questionário Desequilíbrio Esforço-Recompensa (ER), estruturado sobre o modelo teórico de mesmo nome, composto pelas dimensões esforço, recompensa e excesso de comprometimento2020. Chor D, Werneck GL, Faerstein E, Alves MGM, Rotenberg L. The Brazilian version of the effort-reward imbalance questionnaire to assess job stress. Cad Saude Publica. 2008;24(1):219-24.. A razão entre esforço e recompensa foi calculada e multiplicada por 6/11, fornecendo um coeficiente variando de 0,17 a 5,00 pontos, em que pontuações maiores que 1,00 indicam desequilíbrio1414. Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Work ability and intending to leave the nursing profession in São Paulo. Rev Enferm da UERJ, 2021;29:e57941.), (2020. Chor D, Werneck GL, Faerstein E, Alves MGM, Rotenberg L. The Brazilian version of the effort-reward imbalance questionnaire to assess job stress. Cad Saude Publica. 2008;24(1):219-24.. Os escores foram categorizados em tercis, sendo que quanto maior o valor do escore, maior o risco de desgaste no trabalho1414. Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Work ability and intending to leave the nursing profession in São Paulo. Rev Enferm da UERJ, 2021;29:e57941..

Condições de trabalho que podem contribuir para o desenvolvimento de dor ou lesão musculoesquelética foram avaliadas por meio da versão validada para uso no Brasil do questionário Work-Related Activities That May Contribute to Job-Related Pain and/or Injury (WRAPI)2121. Coluci MZO, Alexandre NMC. Cross-cultural adaptation of an instrument to measure work-related activities that may contribute to osteomuscular symptoms. Acta Paul Enferm. 2009;22(2):149-54.. Ele é composto por 15 questões, fornecendo um escore que varia de 0 a 150 pontos, em que pontuações mais elevadas indicam piores situações2121. Coluci MZO, Alexandre NMC. Cross-cultural adaptation of an instrument to measure work-related activities that may contribute to osteomuscular symptoms. Acta Paul Enferm. 2009;22(2):149-54.. Os escores da escala foram categorizados em tercis1414. Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Work ability and intending to leave the nursing profession in São Paulo. Rev Enferm da UERJ, 2021;29:e57941..

O abuso de consumo alcoólico foi avaliado por meio do questionário CAGE (Cutting down, Annoyance by criticism, Guilty feelings, and Eye-openers). É um questionário com 4 questões com respostas dicotômicas (sim, não), sendo que duas respostas positivas são indicativas de consumo alcoólico de risco2222. Mayfield D, McLeod G, Hall P. The CAGE questionnaire: validation of a new alcoholism screening instrument. Am J Psychiatry. 1974;131(10):1121-3.,2323. Laranjeira R, coordenação. Usuários de substâncias psicoativas: abordagem, diagnóstico. 2a ed. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo/Associação Médica Brasileira; 2003 [citado em 16 set 2021]. Disponível em: Disponível em: https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Publicacoes&acao=detalhes&cod_publicacao=23
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. O CAGE não é um instrumento para diagnóstico de dependência química de álcool, mas apresenta sensibilidade e especificidade satisfatórias para triagem de seu consumo abusivo2222. Mayfield D, McLeod G, Hall P. The CAGE questionnaire: validation of a new alcoholism screening instrument. Am J Psychiatry. 1974;131(10):1121-3.), (2323. Laranjeira R, coordenação. Usuários de substâncias psicoativas: abordagem, diagnóstico. 2a ed. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo/Associação Médica Brasileira; 2003 [citado em 16 set 2021]. Disponível em: Disponível em: https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Publicacoes&acao=detalhes&cod_publicacao=23
https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Pub...
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Todas as escalas utilizadas apresentaram confiabilidade adequada (coeficiente alfa de Cronbach >0,70), exceto a escala controle da EET (alfa=0,59), mas que foi mantida nas análises dada sua relevância para o tema. O CAGE apresentou alfa=0,64, mas esse valor é explicado pelo pequeno número de questões que compõem o instrumento.

Análises estatísticas

Foram usados modelos de regressão logística brutos e ajustados. Foi realizada uma análise de regressão múltipla forward stepwise, incluindo variáveis que apresentaram p<0,20 na análise bruta. A associação foi medida via odds ratio (OR) e, no modelo final, adotou-se um nível de significância de 5% e foram calculados intervalos de confiança de 95% (IC95%). O ajuste do modelo foi determinado pelo teste de análise de resíduos de Hosmer-Lemeshow.

Aspectos ético

O estudo foi aprovado pela Diretoria do Coren-SP e pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (nº 2.614.513) em abril de 2018. Os pesquisadores não tiveram acesso às bases de dados cadastrais dos profissionais da Enfermagem, de forma a garantir as premissas de segurança da informação (invulnerabilidade e sigilo) do Coren-SP. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento esclarecido, e a confidencialidade dos dados individuais foi garantida. Foram observados os princípios da Declaração de Helsinque e do Conselho das Organizações Internacionais de Ciências Médicas.

Resultados

O estudo envolveu 119 indivíduos no grupo dos casos e 356 participantes no grupo controle.

Os resultados das análises brutas das variáveis sociodemográficas e de estilo de vida mostraram associação entre consumo abusivo de álcool e o sexo masculino (OR: 3,25; IC95%: 1,94;5,46); estado conjugal sem companheiro(a) (OR: 1,72; IC95%: 1,13;2,61); renda familiar mensal ≤6,0 salários mínimos (OR: 0,45; IC95%: 0,25;0,78); IDH alto/médio (OR: 1,60; IC95%: 1,05;2,45); ex-fumante (OR: 2,66; IC95%: 1,59;4,45) ou fumante atual (OR: 1,87; IC95%: 0,94;3,72); qualidade do sono ruim (OR: 1,77; IC95%: 1,08;2,91), e boa (OR: 2,99; IC95%: 1,11;8,06); e moderada (OR: 3,67; IC95%: 1,38;9,75) ou baixa capacidade para o trabalho (OR: 3,64; IC95%: 1,26;9,93) (Tabelas 1 e 2).

Tabela 1
Distribuição dos trabalhadores e análise de regressão logística bruta da associação entre consumo abusivo de álcool e características demográficas dos profissionais de Enfermagem (n=475) no estado de São Paulo, Brasil, 2019
Tabela 2
Distribuição dos trabalhadores e análise de regressão logística bruta da associação entre consumo abusivo de álcool e características do estilo de vida dos profissionais de Enfermagem (n=475) no estado de São Paulo, Brasil, 2019

As seguintes variáveis ocupacionais estiveram associadas com o consumo abusivo de álcool nas análises brutas: idade com que começou a trabalhar <14 anos (OR: 1,92; IC95%: 1,04;3,54), <50 horas de trabalho semanais (OR: 0,48; IC95%: 0,29;0,78), e intenção de saída da profissão (OR: 1,67; IC95%: 1,09;2,57) (Tabela 3).

Tabela 3
Distribuição dos trabalhadores e análise de regressão logística bruta da associação entre consumo abusivo de álcool e características ocupacionais dos profissionais de Enfermagem (n=475) no estado de São Paulo, Brasil, 2019

As análises brutas não identificaram associações estatisticamente significativas entre condições de trabalho e o consumo abusivo de álcool (Tabela 4).

Tabela 4
Distribuição dos trabalhadores e análise de regressão logística bruta da associação entre consumo abusivo de álcool e características ocupacionais dos profissionais de Enfermagem (n=475) no estado de São Paulo, Brasil, 2019

A análise de regressão logística múltipla mostrou as seguintes variáveis independentes associadas estatisticamente ao consumo abusivo de álcool: sexo masculino (OR: 3,39; IC95%: 1,96;5,85), ex-fumante ou fumante atual (OR: 2,11; IC95%: 1,32;3,38), e qualidade do sono ruim (OR: 1,91; IC95%: 1,12;3,25). O risco para consumo abusivo de álcool foi menor entre os profissionais que tinham carga horária de trabalho semanal ≥50 horas (OR: 0,54; IC95%: 0,32;0,92) e renda familiar mensal de 6,1 ou mais salários-mínimos (OR: 0,37; IC95%: 0,20;0,67). Após o modelo ser controlado pela faixa etária, a análise de resíduos de Hosmer-Lemeshow (χ2: 7,15; p: 0,31) mostrou bom ajuste do modelo (Tabela 5).

Tabela 5
Análise de regressão logística múltipla dos fatores associados com o consumo abusivo de álcool entre os profissionais de Enfermagem (n=475) no estado de São Paulo, Brasil, 2019

Discussão

Este estudo avaliou variáveis sociodemográficas e ocupacionais, de estilo de vida, aspectos relativos às condições ambientais e psicossociais do trabalho, e suas associações com a ocorrência de consumo abusivo de álcool entre profissionais de Enfermagem. As seguintes características individuais (independentemente de outras variáveis e ajustadas por idade) foram as que melhor explicaram o consumo abusivo de álcool: sexo masculino, tabagismo atual ou no passado, qualidade do sono ruim, <50 horas semanais de trabalho, e <6,1 salários-mínimos mensais de renda familiar.

O consumo abusivo de álcool foi mais frequente entre os homens do que entre as mulheres. Esse resultado é consistente com outros estudos nacionais e internacionais que mostram diferenças no consumo de álcool entre os sexos, tanto na frequência quanto na quantidade. No Brasil, uma pesquisa mostrou uso recente de álcool em 39,2% dos homens e 15,2% das mulheres, e uso episódico excessivo de 21,6% nos homens e 6,6% nas mulheres2424. Machado IE, Monteiro MG, Malta DC, Lana FCF. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: relação entre uso de álcool e características sociodemográficas segundo o sexo no Brasil. Rev Bras Epidemiol . 2017;20(3):408-22.. Um estudo conduzido entre adultos na Noruega reportou taxas de 14,0% e 4,0% de beber problemático, e 26,0% e 13,0% de intoxicação alcoólica, respectivamente entre homens e mulheres1212. Bratberg GH, Wilsnack SC, Wilsnack R, Haugland SH, Krokstad S, Sund ER, et al. Gender differences and gender convergence in alcohol use over the past three decades (1984-2008), The HUNT Study, Norway. BMC Public Health, 2016;16(723).. Um estudo brasileiro com médicos e enfermeiras de 2 hospitais no estado do Maranhão identificou 16,7% e 6,1% de uso indevido de álcool entre homens e mulheres, respectivamente88. Tobias JSP, da Silva DLF, Ferreira PAM, da Silva AAM, Ribeiro RS, Ferreira ASP. Alcohol use and associated factors among physicians and nurses in northeast Brazil. Alcohol. 2019;75:105-12.. Além disso, um estudo com profissionais de Enfermagem em Minas Gerais encontrou um risco para consumo abusivo de 4,3 vezes maior entre os homens quando comparados às mulheres1313. Junqueira MAB, Ferreira MCM, Soares GT, Brito IE, Pires PLS, Santos MAS, et al. Alcohol use and health behavior among nursing professionals. Rev Esc Enf USP. 2017;51;e03265..

Fatores biológicos inerentes ao sexo influenciam nos padrões de consumo alcoólico. Mulheres com menor peso, maior proporção de gordura corporal e menor capacidade de metabolismo hepático do etanol tendem a apresentar maior concentração sanguínea alcoólica e maior vulnerabilidade aos efeitos do álcool2424. Machado IE, Monteiro MG, Malta DC, Lana FCF. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: relação entre uso de álcool e características sociodemográficas segundo o sexo no Brasil. Rev Bras Epidemiol . 2017;20(3):408-22.), (2525. Mendonça AKRH, Jesus CVF, Figueiredo MBGA, Valido DP, Nunes MAP, Lima SO. Alcohol consumption and factors associated with binge drinking among female university students of health area. Esc Anna Nery. 2018;22(1):e20170096.. Uma variedade de fatores também pode influenciar na relação entre álcool e sexo, incluindo idade, condição social, nível educacional, estado conjugal ou condições laborais2424. Machado IE, Monteiro MG, Malta DC, Lana FCF. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: relação entre uso de álcool e características sociodemográficas segundo o sexo no Brasil. Rev Bras Epidemiol . 2017;20(3):408-22.), (2626. Hashemi NS, Thørrisen MM, Skogen JC, Sagvaag H, Ruiz de Porras DG, Aas RW. Gender differences in the association between positive drinking attitudes and alcohol-related problems. The WIRUS Study. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(16):5949.. Aspectos culturais e sociais formatam as percepções e atitudes relacionadas ao álcool, influenciando os padrões de consumo entre homens e mulheres. Esses se diferenciam em países, regiões geográficas, ambientes de trabalho, profissões, grau de equidade social e de gênero1212. Bratberg GH, Wilsnack SC, Wilsnack R, Haugland SH, Krokstad S, Sund ER, et al. Gender differences and gender convergence in alcohol use over the past three decades (1984-2008), The HUNT Study, Norway. BMC Public Health, 2016;16(723).), (2323. Laranjeira R, coordenação. Usuários de substâncias psicoativas: abordagem, diagnóstico. 2a ed. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo/Associação Médica Brasileira; 2003 [citado em 16 set 2021]. Disponível em: Disponível em: https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Publicacoes&acao=detalhes&cod_publicacao=23
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), (2626. Hashemi NS, Thørrisen MM, Skogen JC, Sagvaag H, Ruiz de Porras DG, Aas RW. Gender differences in the association between positive drinking attitudes and alcohol-related problems. The WIRUS Study. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(16):5949.. Entretanto, a lacuna entre essas marcadas diferenças entre sexo e comportamento de beber diminuiu. O consumo alcoólico de risco ou excessivo vem aumentando nas últimas décadas entre as mulheres, em especial entre as mais jovens, acompanhando as mudanças no papel social da mulher1212. Bratberg GH, Wilsnack SC, Wilsnack R, Haugland SH, Krokstad S, Sund ER, et al. Gender differences and gender convergence in alcohol use over the past three decades (1984-2008), The HUNT Study, Norway. BMC Public Health, 2016;16(723).), (2424. Machado IE, Monteiro MG, Malta DC, Lana FCF. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: relação entre uso de álcool e características sociodemográficas segundo o sexo no Brasil. Rev Bras Epidemiol . 2017;20(3):408-22.), (2525. Mendonça AKRH, Jesus CVF, Figueiredo MBGA, Valido DP, Nunes MAP, Lima SO. Alcohol consumption and factors associated with binge drinking among female university students of health area. Esc Anna Nery. 2018;22(1):e20170096..

Este estudo identificou maior risco para consumo abusivo de álcool entre os tabagistas atuais ou pregressos do que entre as pessoas que nunca fumaram. A literatura aponta consistente associação entre consumo abusivo ou dependência ao álcool e tabagismo2727. Adams S. Psychopharmacology of tobacco and alcohol comorbidity: a review of current evidence. Curr Addict Rep. 2017;4:25-34.), (2828. Cross SJ, Lotfipour S, Leslie FM. Mechanisms and genetic factors underlying co-use of nicotine and alcohol or other drugs of abuse. Am J Drug Alcohol Abuse. 2017;43(2):171-85.. Uma avaliação junto a usuários de atenção primária à saúde no Brasil mostrou que tabagistas tinham 3,38 vezes a chance de apresentarem consumo alcoólico de risco quando comparados aos não fumantes2929. Portela LF, Luna CK, Rotenberg L, Costa-Silva A, Toivanen S, Araújo T, et al. Job Strain and Self-Reported Insomnia Symptoms among Nurses: What about the Influence of Emotional Demands and Social Support?. Biomed Res Int. 2015;2015:820610.. O estudo junto aos médicos e enfermeiras no estado do Maranhão identificou que profissionais tabagistas apresentaram 6 vezes o risco para uso indevido de álcool quando comparados aos demais participantes88. Tobias JSP, da Silva DLF, Ferreira PAM, da Silva AAM, Ribeiro RS, Ferreira ASP. Alcohol use and associated factors among physicians and nurses in northeast Brazil. Alcohol. 2019;75:105-12.. Similarmente, entre profissionais de Enfermagem em Minas Gerais, o risco para consumo abusivo de álcool entre os tabagistas foi 8,9 vezes o risco dos não fumantes1313. Junqueira MAB, Ferreira MCM, Soares GT, Brito IE, Pires PLS, Santos MAS, et al. Alcohol use and health behavior among nursing professionals. Rev Esc Enf USP. 2017;51;e03265..

O uso concorrente de álcool e tabaco é muito frequente e pode exacerbar os efeitos negativos de cada uma das duas substâncias isoladamente, em especial a comorbidade associada ao câncer, doenças cardíacas e pulmonares e desordens comportamentais2727. Adams S. Psychopharmacology of tobacco and alcohol comorbidity: a review of current evidence. Curr Addict Rep. 2017;4:25-34.), (2828. Cross SJ, Lotfipour S, Leslie FM. Mechanisms and genetic factors underlying co-use of nicotine and alcohol or other drugs of abuse. Am J Drug Alcohol Abuse. 2017;43(2):171-85.. A literatura evidencia que mecanismos neurobiológicos compartilhados entre essas substâncias potencializam as interações e seus efeitos comportamentais e sobre a saúde. Seus principais mecanismos são o reforço cruzado e a tolerância cruzada por meio da ativação da via da dopamina mesolímbica, que ativa os efeitos de recompensa de ambas as substâncias e a tolerância cruzada por meio de interação genética compartilhada, favorecendo o aumento da tolerância e sensibilização, com redução da resposta a uma droga por meio do uso de outra2727. Adams S. Psychopharmacology of tobacco and alcohol comorbidity: a review of current evidence. Curr Addict Rep. 2017;4:25-34.), (2828. Cross SJ, Lotfipour S, Leslie FM. Mechanisms and genetic factors underlying co-use of nicotine and alcohol or other drugs of abuse. Am J Drug Alcohol Abuse. 2017;43(2):171-85.. Consequentemente, o álcool e o tabaco reduzem o controle inibitório e potencializam os efeitos recompensadores um do outro. A nicotina potencializa os efeitos sedativos e intoxicantes do álcool, e o álcool promove o desejo de fumar2727. Adams S. Psychopharmacology of tobacco and alcohol comorbidity: a review of current evidence. Curr Addict Rep. 2017;4:25-34.), (2828. Cross SJ, Lotfipour S, Leslie FM. Mechanisms and genetic factors underlying co-use of nicotine and alcohol or other drugs of abuse. Am J Drug Alcohol Abuse. 2017;43(2):171-85.. Fatores psicossociais e sociais também podem favorecer o uso concorrente das duas substâncias, incluindo diferenças individuais relativas ao sexo, idade, efeitos comportamentais e fisiológicos, características psicológicas e condições psiquiátricas, e uso dessas substâncias por pais ou pessoas próximas2727. Adams S. Psychopharmacology of tobacco and alcohol comorbidity: a review of current evidence. Curr Addict Rep. 2017;4:25-34.), (2828. Cross SJ, Lotfipour S, Leslie FM. Mechanisms and genetic factors underlying co-use of nicotine and alcohol or other drugs of abuse. Am J Drug Alcohol Abuse. 2017;43(2):171-85..

Entre a população de estudo, a qualidade de sono considerada ruim esteve associada ao aumento da probabilidade de consumo alcoólico abusivo. Uma pesquisa junto a enfermeiras do setor hospitalar do Rio de Janeiro mostrou que o consumo alcoólico de alto risco foi de 3,1% entre as profissionais sem insônia e 6,2% entre aquelas com insônia2929. Portela LF, Luna CK, Rotenberg L, Costa-Silva A, Toivanen S, Araújo T, et al. Job Strain and Self-Reported Insomnia Symptoms among Nurses: What about the Influence of Emotional Demands and Social Support?. Biomed Res Int. 2015;2015:820610.. Um estudo de coorte de base populacional na China evidenciou associação entre maior consumo de álcool e pior qualidade do sono (p<0,001) após ajuste de potenciais variáveis de confusão; e também evidenciou associação entre consumo alcoólico abusivo e sono de curta duração (OR=1,31), ronco (OR=1,38) e apneia do sono (OR=1,47)3030. Zheng D, Yuan X, Ma C, Liu Y, VanEvery H, Sun Y, et al. Alcohol consumption and sleep quality: a community-based study. Public Health Nutr. 2020;24(15):4851-8..

O álcool pode causar ou exacerbar distúrbios do sono, pois ele atua em sistemas de receptores e neurotransmissores envolvidos na regulação desse processo3131. Colrain IM, Nicholas CL, Baker FC. Alcohol and the sleeping brain. Handb Clin Neurol. 2014;125:415-31.), (3232. Reid-Varley WB, Ponce Martinez C, Khurshid KA. Sleep disorders and disrupted sleep in addiction, withdrawal and abstinence with focus on alcohol and opioids. J Neurol Sci. 2020;411:116713.. O principal efeito do álcool sobre o sono é que, ao chegar ao cérebro, ele promove a neurotransmissão do ácido gama-aminobutírico (GABA) e prejudica a neurotransmissão colinérgica, o que gera efeitos supressores do sono REM - Rapid Eye Movement (Movimento Rápido dos Olhos)3131. Colrain IM, Nicholas CL, Baker FC. Alcohol and the sleeping brain. Handb Clin Neurol. 2014;125:415-31.), (3232. Reid-Varley WB, Ponce Martinez C, Khurshid KA. Sleep disorders and disrupted sleep in addiction, withdrawal and abstinence with focus on alcohol and opioids. J Neurol Sci. 2020;411:116713.. Os efeitos se diferenciam em função das situações de consumo alcoólico. Para pessoas sem uso crônico, o efeito inicial do álcool sobre o sono é decorrente de ação sedativa, com diminuição da latência do início do sono, diminuição do sono REM, aumento do sono de ondas lentas e, com o passar das horas, o sono é interrompido e a vigília aumentada3131. Colrain IM, Nicholas CL, Baker FC. Alcohol and the sleeping brain. Handb Clin Neurol. 2014;125:415-31.), (3232. Reid-Varley WB, Ponce Martinez C, Khurshid KA. Sleep disorders and disrupted sleep in addiction, withdrawal and abstinence with focus on alcohol and opioids. J Neurol Sci. 2020;411:116713.. Em pacientes com consumo abusivo ou dependência de álcool, tanto a intoxicação aguda como a abstinência são associadas ao aumento da latência do início do sono, seguidos de um padrão de distúrbios do sono com aumento da vigília3131. Colrain IM, Nicholas CL, Baker FC. Alcohol and the sleeping brain. Handb Clin Neurol. 2014;125:415-31.), (3232. Reid-Varley WB, Ponce Martinez C, Khurshid KA. Sleep disorders and disrupted sleep in addiction, withdrawal and abstinence with focus on alcohol and opioids. J Neurol Sci. 2020;411:116713.. Os efeitos depressores do álcool no sistema nervoso central também podem afetar os centros respiratórios, com alteração do tônus da musculatura faríngea e fechamento da faringe durante o sono, favorecendo a apneia do sono3333. De Vargas D, Bittencourt MN, Barroso LP. Padrões de consumo de álcool de usuários de serviços de atenção primária à saúde de um município brasileiro. Cienc Saude Colet. 2014;19(1):17-25.. Na medida em que ocorre a cronificação do uso de álcool, ocorre tolerância para os efeitos indutores do sono, mas não para outros efeitos negativos em sua qualidade e duração3232. Reid-Varley WB, Ponce Martinez C, Khurshid KA. Sleep disorders and disrupted sleep in addiction, withdrawal and abstinence with focus on alcohol and opioids. J Neurol Sci. 2020;411:116713.. Durante a abstinência aguda do álcool, a latência do sono aumenta e o sono REM retorna ou excede níveis basais, e o tempo de sono diminui durante a retirada do álcool3232. Reid-Varley WB, Ponce Martinez C, Khurshid KA. Sleep disorders and disrupted sleep in addiction, withdrawal and abstinence with focus on alcohol and opioids. J Neurol Sci. 2020;411:116713.. As alterações do sono persistem por anos após a cessação do consumo alcoólico, sendo a insônia a mais frequente3131. Colrain IM, Nicholas CL, Baker FC. Alcohol and the sleeping brain. Handb Clin Neurol. 2014;125:415-31.), (3232. Reid-Varley WB, Ponce Martinez C, Khurshid KA. Sleep disorders and disrupted sleep in addiction, withdrawal and abstinence with focus on alcohol and opioids. J Neurol Sci. 2020;411:116713.. Alterações no ritmo circadiano podem propiciar o uso de substâncias como recurso para facilitar o sono, de forma que o consumo de álcool e os distúrbios de sono podem gerar um círculo vicioso3131. Colrain IM, Nicholas CL, Baker FC. Alcohol and the sleeping brain. Handb Clin Neurol. 2014;125:415-31.), (3232. Reid-Varley WB, Ponce Martinez C, Khurshid KA. Sleep disorders and disrupted sleep in addiction, withdrawal and abstinence with focus on alcohol and opioids. J Neurol Sci. 2020;411:116713..

A maior renda familiar (maior que 6 salários-mínimos mensais) foi um fator de proteção contra o consumo abusivo de álcool na população de estudo. Esse resultado diverge de um trabalho realizado junto a médicos e enfermeiras no Maranhão, que aponta 1,9 vezes o risco para uso indevido de álcool entre as pessoas com maior rendimento mensal quando comparadas às demais88. Tobias JSP, da Silva DLF, Ferreira PAM, da Silva AAM, Ribeiro RS, Ferreira ASP. Alcohol use and associated factors among physicians and nurses in northeast Brazil. Alcohol. 2019;75:105-12.. Também diverge de resultados junto a usuários de Atenção Primária em Saúde de São Paulo, com pessoas com renda superior a 6 salários-mínimos mensais apresentando 4,9 vezes a chance para consumo de risco quando comparados aos demais3333. De Vargas D, Bittencourt MN, Barroso LP. Padrões de consumo de álcool de usuários de serviços de atenção primária à saúde de um município brasileiro. Cienc Saude Colet. 2014;19(1):17-25.. Evidências quanto às associações entre nível socioeconômico ou escolaridade e álcool são conflituosas, porém parece haver maior risco para o consumo abusivo entre pessoas com piores condições socioeconômicas. Essas diferenças de resultados podem ser atribuídas a diferenças nos padrões e hábitos de consumo que são influenciados pela condição social, tais como recursos financeiros; acesso a serviços de saúde; situação empregatícia; condições de moradia; acesso e prática de hábitos de saúde como alimentação e atividade física adequadas; estresse; e recursos para enfrentamento psicológico2424. Machado IE, Monteiro MG, Malta DC, Lana FCF. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: relação entre uso de álcool e características sociodemográficas segundo o sexo no Brasil. Rev Bras Epidemiol . 2017;20(3):408-22.), (3434. Probst C, Roerecke M, Behrendt S, Rehm J. Socioeconomic differences in alcohol-attributable mortality compared with all-cause mortality: a systematic review and meta-analysis. Int J Epidemiol. 2014;43(4):1314-27..

Ter elevada carga horária de trabalho semanal (emprego principal, segundo emprego se houver, e trabalho doméstico) foi um fator de proteção contra o consumo alcoólico de risco na população de estudo. Uma metanálise de 2015 evidenciou aumento do uso de álcool para pessoas que trabalhavam de 49 a 54 horas semanais (OR=1,13) e para aquelas que trabalhavam 55 ou mais horas (OR=1,12) quando comparadas a trabalhadores que tinham jornadas semanais menores3535. Virtanen M, Jokela M, Nyberg ST, Madsen IEH, Lallukka T, Ahola K, et al. Long working hours and alcohol use: systematic review and meta-analysis of published studies and unpublished individual participant data. BMJ. 2015;350:g7772.. Outra metanálise, realizada em 2021, mostrou que, de maneira geral, maiores cargas horárias semanais estiveram associadas à elevação do consumo de álcool (gramas por semana) e ao risco para beber, porém esses resultados foram de baixo poder estatístico e inconclusivos3636. Pachito DV, Pega F, Bakusic J, Boonen E, Clays E, Descatha A, et al. The effect of exposure to long working hours on alcohol consumption, risky drinking and alcohol use disorder: A systematic review and meta-analysis from the WHO/ILO Joint Estimates of the Work-related Burden of Disease and Injury. Environ Int. 2021;146:106205.. Associações entre longas jornadas de trabalho e consumo alcoólico podem ser explicadas por fatores do ambiente de trabalho (tais como elevadas demandas e falta de controle) e por aspectos individuais (como traços de personalidade, problemas de sono ou da saúde mental)3535. Virtanen M, Jokela M, Nyberg ST, Madsen IEH, Lallukka T, Ahola K, et al. Long working hours and alcohol use: systematic review and meta-analysis of published studies and unpublished individual participant data. BMJ. 2015;350:g7772.. Cabe destacar que, além dos resultados não conclusivos da literatura, os achados de nossa pesquisa podem ser causados pelo fato de que a jornada de trabalho considerou o trabalho formal acrescido do trabalho doméstico. Neste estudo, as maiores jornadas estiveram associadas com menor tabagismo, não ser solteiro, trabalhar em hospital/Atenção Primária/pronto socorro e trabalho noturno (dados não apresentados). Dessa forma, pode-se especular que aspectos como ser responsável por pessoas da família, atuar em áreas que demandam grande responsabilidade, ter poucas horas e/ou noites livres são características que contribuem para diminuir as oportunidades de consumo alcoólico.

Destaca-se que neste estudo, sobressaíram características pessoais como fatores associados ao consumo abusivo de álcool, sem participação das características laborais. As elevadas cargas físicas e mentais geradoras de estresse e que caracterizam o trabalho de Enfermagem poderiam contribuir para o consumo de álcool nessa categoria profissional, porém não existem evidências suficientes que sustentem essas relações88. Tobias JSP, da Silva DLF, Ferreira PAM, da Silva AAM, Ribeiro RS, Ferreira ASP. Alcohol use and associated factors among physicians and nurses in northeast Brazil. Alcohol. 2019;75:105-12.. Uma explicação para os resultados obtidos estaria na determinação complexa e multicausal do consumo abusivo de álcool, incluindo aspectos individuais, socioculturais e políticas públicas22. Araújo MR, Laranjeira R. A evolução do conceito de dependência química. In: Gigliotti A, Guimarães A, organizadores. Dependência, compulsão e impulsividade. Rio de Janeiro: Rubio; 2017. p. 57-68.,55. Andrade AC, organizador. Álcool e a saúde dos brasileiros: panorama 2020 [Internet]. São Paulo: Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool; 2020 [citado em 16 set. 2021]. Disponível em: Disponível em: https://cisa.org.br/images/upload/Panorama_Alcool_Saude_CISA2020.pdf
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Outro aspecto a considerar é o efeito do trabalhador sadio, em que trabalhadores em piores condições de saúde são excluídos do emprego de forma voluntária ou involuntária, permanecendo aqueles mais saudáveis e aptos ao ofício3737. Martinez MC, Fischer FM. Work Ability as Determinant of Termination of Employment: To Resign or Be Dismissed? J Occup Environ Med. 2019;61(6):e272-81.. Nessa situação, esse efeito poderia criar um cenário em que profissionais com consumo alcoólico abusivo ainda estariam em fases iniciais de um processo deletério da saúde e sem comprometimento de sua capacidade laboral ou da percepção e avaliação das demandas de trabalho e recursos de enfrentamento. Esse aspecto ganha relevância quando se considera que o comprometimento da capacidade para o trabalho é um fator de risco para demissão voluntária ou involuntária e menor tempo de permanência no emprego entre trabalhadores do setor hospitalar3737. Martinez MC, Fischer FM. Work Ability as Determinant of Termination of Employment: To Resign or Be Dismissed? J Occup Environ Med. 2019;61(6):e272-81.. O consumo de álcool é inversamente relacionado à capacidade para o trabalho, dado que além de comprometer a saúde, ele diminui a atenção, a coordenação motora e a velocidade de respostas, com consequente redução na eficiência do trabalho, além de aumentar a impulsividade e irritabilidade3838. Izu M, Silvino ZR, Cortez EA. Work ability of a hospital nursing team: a correlational study. Online Braz J Nurs. 2016;15(4)..

Os danos relacionados ao álcool, tanto para indivíduos quanto para família e sociedade, são profundos, extensos e diversificados, e nenhum nível de ingestão de álcool é considerado seguro33. Iranpour A, Nakhaee N. A review of alcohol-related harms: a recent update. Addict Health. 2019;11(2):129-37.. Em profissionais de Enfermagem o consumo excessivo de álcool pode afetar a capacidade para o trabalho, comprometer a saúde física e mental, favorecer a queda da produtividade, o absenteísmo, os acidentes relacionados ao trabalho, além de gerar riscos para os pacientes66. Toney-Butler TJ, Siela D. Recognizing Alcohol and Drug Impairment in the Workplace in Florida. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island: StatPearls Publishing; 2022. [citado em 12 set 2022]. Disponível em: Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29939551/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29939551...
,99. Strobbe S, Crowley M. Substance use among nurses and nursing students: a joint position statement of the emergency nurses association and the international nurses society on addictions. J Addict Nurs. 2017;28(2):104-6.,3838. Izu M, Silvino ZR, Cortez EA. Work ability of a hospital nursing team: a correlational study. Online Braz J Nurs. 2016;15(4).. Dessa forma, recomenda-se a implantação de ações de prevenção e controle do consumo abusivo e da dependência ao álcool nas instituições de saúde.

Programas preventivos e de tratamento de dependência química (incluindo o álcool) desenvolvidos nos locais de trabalho têm potencial para levar à redução de danos decorrentes do uso de álcool, tanto em nível individual quanto populacional3939. Felix Junior IJ, Schlindwein, VLDC, Calheiros PRV. A relação entre o uso de drogas e o trabalho: uma revisão de literatura PSI. Estud Pesqui Psicol. 2016;16(1):104-22.), (4040. Yuvaraj K, Eliyas SK, Gokul S, Manikandanesan S. Effectiveness of Workplace Intervention for Reducing Alcohol Consumption: a Systematic Review and Meta-Analysis. Alcohol and Alcoholism. 2019;54(3):264-71.. Esses programas podem ser conduzidos por profissionais da própria instituição, gerenciados por enfermeiros, assistentes sociais ou médicos. Para melhores resultados, os gestores devem engajar uma equipe multidisciplinar, e envolver lideranças e familiares. Também podem ser conduzidos por meio da contratação de serviços terceirizados especializados. As atividades devem ser contínuas, integradas e adequadas à situação de cada trabalhador, englobando atendimento individualizado e do grupo familiar (abordagens, consultas, avaliações), grupos de apoio, internações especializadas, internação clínica, encaminhamentos para grupos da comunidade (como Alcoólicos Anônimos), e ações educacionais preventivas direcionadas ao coletivo dos trabalhadores3939. Felix Junior IJ, Schlindwein, VLDC, Calheiros PRV. A relação entre o uso de drogas e o trabalho: uma revisão de literatura PSI. Estud Pesqui Psicol. 2016;16(1):104-22.), (4040. Yuvaraj K, Eliyas SK, Gokul S, Manikandanesan S. Effectiveness of Workplace Intervention for Reducing Alcohol Consumption: a Systematic Review and Meta-Analysis. Alcohol and Alcoholism. 2019;54(3):264-71.. Padrões sociais e o receio de repercussões levam o trabalhador a ocultar seu padrão de consumo alcoólico no trabalho quando este se torna abusivo3939. Felix Junior IJ, Schlindwein, VLDC, Calheiros PRV. A relação entre o uso de drogas e o trabalho: uma revisão de literatura PSI. Estud Pesqui Psicol. 2016;16(1):104-22., conferindo relevância às ações de vigilância na busca de identificação precoce e direcionamento para tratamento adequado desses trabalhadores.

Embora tenhamos realizado este estudo com a população de profissionais do estado mais populoso do Brasil, que atuam em diversos ambientes com diferentes níveis de complexidade assistencial, podemos considerar sua validade externa como aceitável apenas para grupos de profissionais de Enfermagem com perfil demográfico e características ocupacionais. Nossos resultados corroboram relatos anteriores, trazendo novas informações ao mesmo tempo em que evidenciam a necessidade de promover recursos individuais e coletivos como estratégias de enfrentamento ao uso abusivo de álcool na força de trabalho da Enfermagem.

Este estudo apresenta algumas limitações. Primeiro, ele contém algum viés de aferição porque, apesar do uso de questionário validado para avaliação do consumo de risco, não foram coletados detalhes sobre tipo e quantidade de bebida alcoólica consumida. Para minimizar algum viés de análise, a avaliação foi controlada por faixa etária e considerou fatores ocupacionais e características sociodemográficas e estilo de vida, e contemplou as diferentes categorias profissionais da Enfermagem e suas áreas de atuação. Finalmente, por ser um estudo caso-controle aninhado a um transversal, não foi possível avaliar prevalências ou relação causal entre as variáveis independentes e o consumo de álcool na população de estudo.

Conclusões

Nossos resultados mostraram que os seguintes fatores foram os que melhor explicaram o consumo alcoólico de risco na população de estudo: sexo masculino, tabagismo atual ou no passado, qualidade do sono ruim, <50 horas de trabalho semanais, e <6,1 ou mais salários-mínimos como renda familiar mensal. Programas preventivos e de tratamento ao consumo alcoólico de risco para profissionais de Enfermagem podem ser desenvolvidos nos locais de trabalho, visando o fortalecimento dos recursos individuais dos profissionais (saúde, capacidades funcionais, competências, experiências no trabalho e aprendizagem)1717. Vasconcelos SP, Fischer FM, Reis AOA, Moreno CRC. Factors associated with work ability and perception of fatigue among nursing personnel from Amazonia. Rev Bras Epidemiol. 2011;14(4):688-97. e a redução de danos relacionados ao álcool em trabalhadores e usuários dos serviços de saúde.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Regional de Enfermagem-São Paulo - Coren-SP - pelo apoio logístico na divulgação desta pesquisa e na coleta de seus dados.

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  • Os autores declaram que este estudo não recebeu nenhum financiamento. Uma de suas coautoras, Frida Marina Fischer, é bolsista de produtividade do CNPq, 1 A. Processo CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - 306963/2021-3
  • Os autores informam que este estudo não foi apresentado em nenhum evento científico.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    25 Jan 2022
  • Revisado
    23 Maio 2022
  • Aceito
    06 Jun 2022
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