Resumo
Objetivos:
identificar fatores de risco ocupacionais para neoplasias hematológicas, leucemia, linfomas e mieloma múltiplo.
Métodos:
estudo caso-controle conduzido com casos de neoplasias hematológicas e controles recrutados do mesmo serviço, com outros diagnósticos, pareados por frequência, sexo e idade. Entrevistas individuais foram realizadas por pesquisadores treinados, utilizando um questionário estruturado. Informações sobre a história ocupacional, uso e características de exposições a substâncias químicas, em geral, e a agrotóxicos foram registradas. Foram estimadas odds ratios (OR), por meio de modelos de regressão logística não-condicional multivariável para análise exploratória.
Resultados:
foram incluídos 61 casos e 146 controles. Trabalho na agropecuária (OR: 2,18; intervalo de confiança de 95% (IC95%): 1,10;4,30), exposição ocupacional a agrotóxicos (OR: 2,37; IC95%: 1,18;4,77), e tempo total de exposição ocupacional a agrotóxicos na vida laboral em horas - curto (OR: 3,52; IC95%: 1,25;9,87) e longo (OR: 3,95; IC95%: 1,54;10,14) - foram fatores de risco para neoplasias hematológicas, em comparação aos não expostos. Essas medidas foram ajustadas por consumo de álcool e tabagismo, prática de atividade física, renda, escolaridade e história de exposição ocupacional a produtos químicos.
Conclusão:
a exposição ocupacional a agrotóxicos se associa a neoplasias hematológicas, independentemente de características do estilo de vida e nível socioeconômico.
Palavras-chave:
neoplasias hematológicas; agricultura; agroquímicos; exposição ocupacional; saúde do trabalhador
Abstract
Objectives:
to identify the occupational risk factors for hematological neoplasms, specifically leukemia, lymphomas, and multiple myeloma.
Methods:
this is a case-control study. Cases were individuals with hematological neoplasms and controls were individuals with other diagnoses; frequency-matched by sex and age. Individual interviews were conducted by trained researchers using a structured questionnaire. We collected information on participants’ occupational history and chemicals use and exposure, in general, and pesticides, in particular. Odds ratios (OR) were used as association measurements, estimated by multivariate non-conditional logistic regression models for exploratory analysis.
Results:
61 cases and 146 controls were included. We found that agricultural work (OR: 2.18; 95% confidence interval (95%CI): 1.10;4.30), occupational exposure to pesticides (OR: 2.37; 95%CI: 1.18;4.77), and total occupational exposure to pesticides throughout their working life (in hours) - both short (OR: 3.52; 95%CI: 1.25;9.87) and long (OR: 3.95; 95%CI: 1.54;10.14) - constituted risk factors for hematological neoplasms, when compared to those unexposed. We adjusted these measures for alcohol consumption and smoking, physical activity, income, education, and history of occupational exposure to chemicals.
Conclusion:
occupational exposure to pesticides is associated with hematological neoplasms regardless of lifestyle and socioeconomic status.
Keywords:
hematologic neoplasms; agriculture; agrochemicals; occupational exposure; occupational health
Introdução
Em 2020, as estimativas sugerem que 1.278.362 indivíduos foram afetados por neoplasias hematológicas (NH) em todo o mundo11. Sung H, Ferlay J, Siegel RL, Laversanne M, Soerjomataram I, Jemal A, et al. Global cancer statistics 2020: GLOBOCAN estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA Cancer J Clin. 2021;71(3):209-49., dos quais 474.519 consistiam em casos novos de leucemia, 544.352 de linfoma não Hodgkin (LNH), 83.087 de linfoma de Hodgkin (LH) e 176.404 de mieloma múltiplo (MM). De 2006 a 2016, a incidência anual de leucemia e linfomas aumentou 26% e 45%, respectivamente22. Global Burden of Disease Cancer Collaboration. Global, Regional, and National Cancer Incidence, Mortality, Years of Life Lost, Years Lived With Disability, and Disability-Adjusted Life-Years for 29 Cancer Groups, 1990 to 2016: A Systematic Analysis for the Global Burden of Disease Study. JAMA Oncol. 2018;4(11):1553-68., enquanto o número de casos de MM aumentou 126% entre 1990 e 201633. Cowan AJ, Allen C, Barac A, et al. Global Burden of Multiple Myeloma: A Systematic Analysis for the Global Burden of Disease Study 2016. JAMA Oncol 2018;4(9):1221-7..O incremento dessas NH vem sendo atribuído, dentre outros fatores, a riscos ambientais e ocupacionais, com ênfase à exposição a produtos químicos44. Wild CP, Weiderpass E, Stewart BW, editors. World Cancer Report: Cancer Research for Cancer Prevention [Internet]. Lyon: International Agency for Research on Cancer; 2020 [citado 1 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: http://publications.iarc.fr/586 .
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.
De acordo com a Agência Internacional da Pesquisa sobre o Câncer (IARC), vários carcinógenos químicos são responsáveis pelo aumento do risco de NH. Para a leucemia, achados de vários estudos indicam como fatores de risco o benzeno, butadieno e formaldeído (usados em processos industriais), além de medicamentos como bussulfano, ciclofosfamida, etoposido, melfalano, semustina e clorambucil44. Wild CP, Weiderpass E, Stewart BW, editors. World Cancer Report: Cancer Research for Cancer Prevention [Internet]. Lyon: International Agency for Research on Cancer; 2020 [citado 1 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: http://publications.iarc.fr/586 .
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,55. International Agency for Research of Cancer. List of Classifications by cancer sites with sufficient or limited evidence in humans, IARC Monographs Volumes 1-131 [Internet]. Geneva: WHO; 2022 [citado 13 jun 2022]. Disponível em: Disponível em: https://monographs.iarc.who.int/wp-content/uploads/2019/07/Classifications_by_cancer_site.pdf
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. Em relação aos agrotóxicos, o diazinon é classificado como um provável carcinógeno no Grupo IARC 2A (devido às evidências limitadas de que pode causar leucemia) (66. Guyton KZ, Loomis D, Grosse Y, Ghissassi FE, Benbrahim-Tellaa L, Guha N, et al. Carcinogenicity of tetrachlorvinphos, parathion, malathion, diazinon, and glyphosate. Lancet Oncol. 2015;16(5):490-1..
Especificamente para os linfomas, os agentes químicos butadieno, ciclosporina, azatioprina; e os pesticidas organoclorados pentaclorofenol e lindano são fatores associados44. Wild CP, Weiderpass E, Stewart BW, editors. World Cancer Report: Cancer Research for Cancer Prevention [Internet]. Lyon: International Agency for Research on Cancer; 2020 [citado 1 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: http://publications.iarc.fr/586 .
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,55. International Agency for Research of Cancer. List of Classifications by cancer sites with sufficient or limited evidence in humans, IARC Monographs Volumes 1-131 [Internet]. Geneva: WHO; 2022 [citado 13 jun 2022]. Disponível em: Disponível em: https://monographs.iarc.who.int/wp-content/uploads/2019/07/Classifications_by_cancer_site.pdf
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. A literatura também evidenciou que outros agrotóxicos, como malation, diazinon e glifosato, foram classificados como provavelmente carcinógenos nesse mesmo Grupo 2A66. Guyton KZ, Loomis D, Grosse Y, Ghissassi FE, Benbrahim-Tellaa L, Guha N, et al. Carcinogenicity of tetrachlorvinphos, parathion, malathion, diazinon, and glyphosate. Lancet Oncol. 2015;16(5):490-1.. Em relação ao MM, pentaclorofenol e butadieno são carcinógenos químicos, mas a literatura ainda apresenta evidências insuficientes para conclusões definitivas sobre a associação entre benzeno, óxido de etileno, estireno, 1,1,1-tricloroetano e MM44. Wild CP, Weiderpass E, Stewart BW, editors. World Cancer Report: Cancer Research for Cancer Prevention [Internet]. Lyon: International Agency for Research on Cancer; 2020 [citado 1 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: http://publications.iarc.fr/586 .
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,55. International Agency for Research of Cancer. List of Classifications by cancer sites with sufficient or limited evidence in humans, IARC Monographs Volumes 1-131 [Internet]. Geneva: WHO; 2022 [citado 13 jun 2022]. Disponível em: Disponível em: https://monographs.iarc.who.int/wp-content/uploads/2019/07/Classifications_by_cancer_site.pdf
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.
O Brasil ocupa o 4º lugar em exportação de produtos agropecuários no mundo; em 2019, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$ 1,55 trilhão, o equivalente a 21,4% do PIB brasileiro77. Confederação da Agricultura e Pecuária (BR). Panorama do Agro [Internet]. Brasília, DF: CNA; 2021 [citado em 7 mar. 2022]. Disponível em: Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/cna/panorama-do-agro#_ftn1
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. O agronegócio é o principal consumidor de agrotóxicos e o país, alcançou a 3ª posição mundial no uso desses produtos por área plantada (5,95Kg/ha) (88. Food and Agriculture Organization of the United Nations. FAOSTAT Land, Inputs and Sustainability - Pesticides indicators [Internet]. Rome: FAO; 2019 [citado em 7 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: http://www.fao.org/faostat/en/#compare .
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. Dados do censo agropecuário de 2017 revelaram um total de 15 milhões de trabalhadores nesse ramo de atividade econômica99. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agro 2017: resultados definitivos [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2020 [citado 7 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/3096/agro_2017_resultados_definitivos.pdf
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e estudos mostram que a exposição ocupacional a agrotóxicos os afeta1010. United Nations. Office of the United Nations High Commissioner for Human Rights. Report of the special rapporteur on the right to food [Internet]. Geneva: OHCHR; 2017 [citado em 7 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: https://www.ohchr.org/en/documents/thematic-reports/ahrc3761-report-special-rapporteur-right-food-note-secretariat .
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, mas poucos focalizam a associação com NH.
O polo fruticultor Petrolina-Juazeiro, que foi implantado nos estados de Pernambuco e Bahia (Nordeste do Brasil), com atividade econômica voltada para a exportação desde 1960, é considerado o polo de irrigação mais desenvolvido e um dos mais importantes centros econômicos do sertão. Devido à alta qualidade dos seus produtos (principalmente a uva e a manga), tem mais de 90% de sua produção exportada para Europa, Estados Unidos e Japão1111. Araújo GJF, Silva MM. Crescimento econômico no semiárido brasileiro: o caso do polo frutícola Petrolina/Juazeiro. Caminhos Geografia. 2013;14(46):246-64..
Além do desenvolvimento socioeconômico da região, o investimento em fruticultura irrigada, com ênfase na monocultura em grandes propriedades, trouxe consigo a necessidade de intensa utilização de agrotóxicos, característica do modelo produtivo do agronegócio1212. Daufenback V, Adell A, Mussoi MR, Furtado ACF, Dos Santos SA. Da Veiga DPB. Agrotóxicos, desfechos em saúde e agroecologia no Brasil: uma revisão de escopo. Saude Debate. 2022;46(spe 2):482-500.. De acordo com o censo agropecuário de 2017, essa região compreende 14.306 propriedades agrícolas cadastradas, das quais 46% empregam agrotóxicos99. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agro 2017: resultados definitivos [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2020 [citado 7 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/3096/agro_2017_resultados_definitivos.pdf
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. Um estudo conduzido com pequenas propriedades agrícolas dessa região mostrou que, dentre os 108 agrotóxicos mencionados pelos informantes, o de uso mais comum foi da classe dos inseticidas (43,9%), especificamente dos grupos químicos piretroides (18,4%) e organofosforados (17%)1313. Corcino CO, Teles RBA, Almeida JRGS, Lirani LS, Araújo CRM, Gonsalves AA, et al. Avaliação do efeito do uso de agrotóxicos sobre a saúde de trabalhadores rurais da fruticultura irrigada. Cienc Saude Colet. 2019;24(8):3117-28..
Os impactos desse modelo de produção não se distribuem de forma equilibrada nos territórios, pessoas que trabalham no meio rural são o grupo de maior risco em relação aos danos à saúde, devido à exposição contínua e prolongada a essas substâncias químicas e tóxicas, o que aponta para um processo de adoecimento diretamente relacionado ao trabalho e aos agrotóxicos. Além da exposição ocupacional, destaca-se que toda a população ao entorno de áreas agrícolas pode desenvolver efeitos crônicos pela exposição cumulativa por ingestão de água e consumo de alimentos contaminados1212. Daufenback V, Adell A, Mussoi MR, Furtado ACF, Dos Santos SA. Da Veiga DPB. Agrotóxicos, desfechos em saúde e agroecologia no Brasil: uma revisão de escopo. Saude Debate. 2022;46(spe 2):482-500.,1414. Netto GF, Gurgel AM, Burigo AC. Contribuições para um debate estratégico na saúde coletiva: da luta contra os agrotóxicos à necessidade de maior envolvimento no campo agroecológico. Saude Debate 2022;46(spe 2):7-9..
Essa área é, portanto, oportuna para o estudo da associação entre exposições químicas em geral (especialmente agrotóxicos) e NH. Este estudo tem como objetivo identificar os fatores de risco ocupacionais para neoplasias hematológicas, leucemias, linfomas e mieloma múltiplo.
Métodos
Desenho e configuração do estudo
Este estudo caso-controle foi relatado de acordo com as diretrizes Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE). Os sujeitos da pesquisa foram identificados nas unidades locais do Sistema Único de Saúde, que abrangem municípios dos estados da Bahia e Pernambuco1515. Região e Redes (BR). Relatório regional: pesquisa, política, planejamento e gestão das regiões e redes de atenção à saúde no Brasil. Petrolina e Juazeiro [Internet]. [local desconhecido]: 2017 [citado em 7 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/2tadChf .
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. Os participantes foram recrutados para o grupo de casos na Unidade de Atenção de Alta Complexidade em Oncologia do Centro de Oncologia do Hospital Regional de Juazeiro na Bahia, referência no tratamento da doença (exceto em casos ginecológicos e infantis) em uma área que abrange 53 municípios constituintes da Rede Interestadual de Atenção à Saúde na Macrorregião do Médio Vale do São Francisco. O grupo controle foi recrutado no ambulatório de especialidades do Hospital Regional de Juazeiro. Os dados foram coletados de outubro de 2016 a julho de 2018.
Participantes
Todos os pacientes vivos cujos diagnósticos clínicos e histopatológicos foram registrados - codificados pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10ª Revisão1616. World Health Organization. International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems 10th Revision (ICD-10)[Internet]. Geneva: WHO ; 2019 [citado 7 jul 2022]. Disponível em: Disponível em: https://icd.who.int/browse10/2019/en#/II .
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) de C81 a C95 (C81-Linfoma de Hodgkin, C82-Linfoma não-Hodgkin Folicular, C83-Linfoma não-Hodgkin difuso, C84-Linfoma de células T, C85-Linfoma não-Hodgkin de outros tipos e não especificados, C86-Outros tipos especificados de linfoma de células T/NK, C88-Doenças imunoproliferativas malignas, C90-Mieloma múltiplo e neoplasias malignas de células plasmáticas, C91-Leucemia linfoide, C92-Leucemia mieloide, C93-Leucemia monocítica, C94-Outras leucemias de tipo celular especificado, C95-Leucemia de tipo celular não especificado) - e admitidos para tratamento de 01/01/2013 a 28/02/2018 de ambos os sexos, com idade superior a 20 anos no diagnóstico (devido ao nosso foco em exposições ocupacionais) foram convidados a participar deste estudo no grupo de casos. Os critérios de exclusão foram: idade inferior a 20 anos e óbito.
Os critérios de inclusão do grupo controle foram: pessoas de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 20 anos, sem diagnóstico prévio de câncer ou outras doenças do sistema linfohematopoiético e em atendimento no ambulatório de especialidades do HRJ. Foram excluídos os pacientes diagnosticados com qualquer tipo de câncer no período da pesquisa. Os participantes do grupo controle foram selecionados de maneira probabilística aleatória simples, no mesmo serviço de saúde que é referência no atendimento de doenças agudas e crônicas, provenientes dos mesmos municípios de onde foram identificados e recrutados os do grupo caso. Foram incluídos dois controles para cada caso, pareados segundo sexo e idade na mesma distribuição dos casos (pareamento por frequência).
Não foi realizado cálculo amostral, pois o número de pacientes no centro era pequeno. Em 28 de fevereiro de 2018, 52 pacientes estavam em tratamento ativo para neoplasias hematológicas.
Coleta de dados
As listas com os nomes dos pacientes selecionados para entrevistas presenciais previamente agendadas foram entregues a entrevistadores treinados (doutorando e estudante de iniciação científica da graduação), que desconheciam os diagnósticos dos participantes. Depois de discutir a pesquisa, eles foram convidados a participar e assinar os formulários de consentimento informado. Em seguida, um questionário semiestruturado - desenvolvido para esta pesquisa a partir da adaptação do questionário para produtores rurais sobre os agrotóxicos utilizados na produção de frutas1717. Bedor CNG. Estudo do potencial carcinogênico dos agrotóxicos empregados na fruticultura e suas implicações para a vigilância da saúde [Tese]. Recife: Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães; 2008., de Moura et al. 20181818. Moura LTR, Aninger PRLC, Barbosa AV, Bedor CNG. Caracterização epidemiológica de trabalhadores com câncer em uma região de fruticultura irrigada. Rev Baiana Saude Publica. 2018;42(1):7-25. - foi aplicado em local reservado, dentro da unidade de saúde. Tanto a equipe quanto os participantes desconheciam a hipótese do estudo. Informações complementares sobre os aspectos clínicos dos casos foram extraídas dos prontuários de pacientes.
Definição das variáveis
A variável de desfecho foi neoplasias hematológicas (1=sim, 0=não), que compreendem casos de leucemia, linfoma e mieloma múltiplo. As variáveis representando fatores associados potenciais foram: trabalho na agropecuária (1=sim, 0=não), exposição ocupacional a agrotóxicos (1=sim, 0=não); história de exposição ocupacional a outros produtos químicos (1=sim, 0=não); período de exposição a agrotóxicos em anos (0=nenhum, 1=≤10, 2=>10) e em horas/dia (0=nenhum, 1=≤7, 2=>7); e tempo total de exposição ocupacional a agrotóxicos na vida laboral em horas, analisado, categoricamente, como não exposto, curto tempo de exposição - que corresponde aos valores até 50% da distribuição -, e longo tempo de exposição (0=não expostos, 1= ≤10.000, 2= ≥10.001). Todas essas variáveis foram baseadas em autorrelato.
A variável outros produtos químicos foi investigada, já que o estudo busca avaliar exposição ocupacional, não se restringindo a exposição à agrotóxicos. Como a amostra foi pequena, os produtos químicos foram agrupados em uma só categoria. As informações sobre essa variável foram coletadas por meio de uma questão aberta, que possibilitou múltiplas respostas. Os produtos químicos mais citados foram: tinta de parede, cosméticos à base de formol e hipoclorito de sódio.
As análises foram ajustadas para variáveis de estilo de vida, como o consumo de bebida alcoólica (0=nunca, 1=ex-consumidor/consumidor atual); tabagismo (0=nunca, 1=ex-tabagista/tabagismo atual); atividade física (1=sim, 0=não); renda per capita (0= ≥0,5 salário mínimo, 1=<0,5 salário mínimo); escolaridade (0= ≥10 anos, 1= < 10 anos, 2=nenhuma); e histórico de exposição ocupacional a outros produtos químicos (1=sim, 0=não).
O controle de vieses incluiu: 1) ajuste para variáveis de confusão: os grupos foram pareados em frequência por sexo e faixa etária (20-29 anos, 30-39 anos, 40-49 anos, 50-59 anos, 60-69 anos, 70-79 anos e 80 anos e acima) e analisadas via Odds Ratio (OR), por regressão logística multivariada não condicional; 2) viés de informação: os dados foram coletados de forma padronizada por dois pesquisadores treinados, por meio dos mesmos instrumentos de coleta para os grupos caso e controle. Os participantes desconheciam a hipótese do nosso estudo; e 3) viés de seleção: os participantes do grupo controle foram selecionados de forma probabilística aleatória simples (sorteio) na unidade de saúde escolhida (referência no atendimento de doenças clínicas agudas e crônicas) e eram provenientes dos mesmos municípios do caso grupo.
Análise estatística
A análise foi conduzida com as três neoplasias malignas, consideradas agregadas devido aos pequenos números de diagnósticos específicos. Medidas de associação correspondem a Odds Ratio bruta e ajustada, sendo estimadas empregando-se a regressão logística não-condicional. A modelagem foi do tipo Stepwise forward, iniciando-se com as variáveis de exposição (agropecuários, exposição a agrotóxicos e exposição cumulativa a agrotóxicos), analisadas em modelos separados. As variáveis consideradas fatores de confundimento foram selecionadas e inseridas no modelo múltiplo; as variáveis sexo e idade não foram inseridas no modelo, pois os grupos foram pareados. No modelo 2, as variáveis relativas a hábitos de vida (consumo de bebida alcoólica, tabagismo e atividade física) e socioeconômicas (renda per capita mensal e escolaridade) foram consideradas para o ajuste. No modelo 3, além das anteriores, foi acrescida a história de exposição ocupacional a outros produtos químicos. Dados faltantes do período de exposição a agrotóxicos em anos e horas/dia, em controles, foram substituídos pela média aritmética dos que apresentavam valores válidos. A análise de sensibilidade do modelo foi realizada com e sem dados imputados, respectivamente, para verificar se foi introduzido algum viés. A inferência estatística se baseou em intervalos de confiança de 95%, calculados com o método da razão de verossimilhanças. O ajuste geral do modelo foi aferido empregando-se -2 Log Likelihood (-2 LL). A análise foi realizada com o Epi Info versão 7.2.2.6.
O estudo foi registrado na Plataforma Brasil e aprovado pelo Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas da Universidade Federal do Vale do São Francisco sob o CAAE 54635116.5.0000.5196 em 19 de junho de 2016.
Resultados
Dos 70 casos de NH elegíveis, 61 (87%) concordaram em participar do estudo, enquanto dos 180 controles recrutados, 146 (81,1%) aceitaram. Casos e controles tinham maior proporção de pessoas do sexo masculino, de 60 anos ou mais de idade, 10 ou menos anos de escolaridade, renda per capita mensal de no máximo meio salário mínimo, e de origem no município de Juazeiro, Bahia (Tabela 1).
Na Tabela 2, verifica-se que o trabalho na agropecuária se associou positivamente a NH (OR: 1,92; IC95%: 1,04;3,56), assim como a exposição ocupacional a agrotóxicos (OR: 1,99; IC95%: 1,04;3,79), mas não a outros produtos químicos (OR: 0,95; IC95%: 0,39;2,29). Para os agrotóxicos, a associação positiva ocorreu nos expostos por mais de sete horas por dia (OR: 2,21; IC95%: 1,03;4,74), por mais de dez anos (OR: 3,68; IC95%: 1,35;10,01); e que tiveram exposição ocupacional curta (OR: 3,15; IC95%: 1,22;8,13) e longa (OR: 2,91; IC95%: 1,22;6,90) a agrotóxicos durante a vida laboral (em horas), no modelo não ajustado.
Observa-se que, com o ajuste simultâneo de variáveis de estilo de vida - consumo de álcool, tabagismo e prática de atividade física -, juntamente com as socioeconômicas - renda per capita e escolaridade -, não houve mudança importante nas associações positivas com o trabalho na agropecuária, mesmo quando se inclui a exposição a outros produtos químicos no trabalho (OR: 2,18; IC95%: 1,10;4,30), semelhante ao encontrado na exposição ocupacional a agrotóxicos (OR: 2,37; IC95%: 1,18;4,77). O mesmo ocorreu para tempo total de exposição ocupacional (em horas), tanto curto (OR: 3,52; IC95%: 1,25;9,87) quanto longo (OR: 3,95; IC95%: 1,54;10,14), a agrotóxicos na vida laboral (Tabela 3).
Discussão
A ocorrência de NH associada à atividade agropecuária já foi descrita em outros estudos1919. Zakerinia M, Namdari M, Amirghofran S. The Relationship between Exposure to Pesticides and the Occurrence of Lymphoid Neoplasm. Iran Red Crescent Med J. 2012;14(6):337-44.,2020. Mills PK, Yang R, Riordan D. Lymphohematopoietic Cancers in the United Farm Workers of America (UFW), 1988-2001. Cancer Causes Control. 2005;16(7):823-30., portanto nossos achados corroboram com a literatura. Uma revisão de escopo objetivou evidenciar o perfil das pesquisas brasileiras que investigam desfechos de saúde devido a exposição à agrotóxicos, e constatou que estudos apontam correlações positivas entre essa exposição, desfechos hematológicos e danos genéticos nos sujeitos analisados1212. Daufenback V, Adell A, Mussoi MR, Furtado ACF, Dos Santos SA. Da Veiga DPB. Agrotóxicos, desfechos em saúde e agroecologia no Brasil: uma revisão de escopo. Saude Debate. 2022;46(spe 2):482-500., o que destaca a importância da associação entre exposição ocupacional a agrotóxicos e NH.
A associação encontrada no Polo Fruticultor de Petrolina e Juazeiro pode estar relacionada às vulnerabilidades durante os processos de trabalho agropecuário, em que a exposição aos agrotóxicos em condições inseguras, com ausência de orientação técnica em relação ao uso correto desses produtos e monitoramento dos níveis de exposição, aliada aos determinantes sociais, como os baixos níveis de escolaridade e renda encontrados entre os trabalhadores deste estudo, aumentaram os riscos de NH44. Wild CP, Weiderpass E, Stewart BW, editors. World Cancer Report: Cancer Research for Cancer Prevention [Internet]. Lyon: International Agency for Research on Cancer; 2020 [citado 1 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: http://publications.iarc.fr/586 .
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,2121. Carvalho LVB, Costa-Amaral IC, Mattos RCOC, et al. Exposição ocupacional a substâncias químicas, fatores socioeconômicos e saúde do trabalhador: uma visão integrada. Saude Debate . 2017;41(spe2):313-26.. Considerando outras questões sociais, um estudo feito em Municípios de Mato Grosso com 4751 indivíduos evidenciou que residir entre 90 e 300 metros da lavoura agrícola, na zona rural, e com tempo de moradia de 6 a 10 anos foram fatores associados à prevalência de câncer nessa população2222. Pignati WA, Soares MR, De Lara SS, Souza e Lima FAN, Fava NR, Barbosa JR, et al. Exposição aos agrotóxicos, condições de saúde autorreferidas e Vigilância Popular em Saúde de municípios mato-grossenses. Saude Debate . 2022;46(spe2):45-61..
A exposição ocupacional aos agrotóxicos por mais de sete horas por dia e por tempo maior a 10 anos aumentou as chances de NH quando comparado aos não expostos; semelhante aos achados de outros autores, que descreveram associação entre agrotóxicos organofosforados (OF) e NH2323. Beane Freeman LE, Bonner MR, Blair A, Hoppin JA, Sandler DP, Lubin JH, et al. Cancer incidence among male pesticide applicators in the Agricultural Health Study cohort exposed to diazinon. Am J Epidemiol. 2005;162(11):1070-9., LNH 2424. Cantor KP, Blair A, Everett G, Gibson R, Burnmeister LF, Brown LM, et al. Pesticides and other agricultural risk factors for non-Hodgkin’s lymphoma among men in Iowa and Minnesota. Cancer Res. 1992;52(9):2447-55.
25. McDuffie HH, Pahwa P, McLaughlin JR, et al. Non-Hodgkin’s lymphoma and specific pesticide exposures in men. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev. 2001;10(11):1155-63.
26. Waddell BL, Zahm SH, Baris D, Weisenburger DD, Holmes F, Burnmeister LF, et al. Agricultural use of organophosphate pesticides and the risk of non-Hodgkin’s lymphoma among male farmers (United States). Cancer Causes Control . 2001;12(6):509-17.-2727. Alavanja MC, Hofmann JN, Lynch CF, Hines CJ, Barry KH, Barker J, et al. Non-Hodgkin lymphoma risk and insecticide, fungicide and fumigant use in the agricultural health study. PLoS One 2014;9(10):e109332. e leucemia2323. Beane Freeman LE, Bonner MR, Blair A, Hoppin JA, Sandler DP, Lubin JH, et al. Cancer incidence among male pesticide applicators in the Agricultural Health Study cohort exposed to diazinon. Am J Epidemiol. 2005;162(11):1070-9.,2828. Mahajan R, Blair A, Lynch CF, Schroeder P, Hoppin JA, Sandler DP, et al. Fonofos exposure and cancer incidence in the agricultural health study. Environ Health Perspect. 2006;114(12):1838-42. nos expostos por maior tempo ou com maior intensidade de exposição. Outro estudo também observou a associação entre exposição de maior intensidade a organoclorados e LNH2727. Alavanja MC, Hofmann JN, Lynch CF, Hines CJ, Barry KH, Barker J, et al. Non-Hodgkin lymphoma risk and insecticide, fungicide and fumigant use in the agricultural health study. PLoS One 2014;9(10):e109332..
Destaca-se que, na região do Polo Fruticultor, já foi descrita uma maior frequência de utilização de agrotóxicos inseticidas OF’s e piretroides1313. Corcino CO, Teles RBA, Almeida JRGS, Lirani LS, Araújo CRM, Gonsalves AA, et al. Avaliação do efeito do uso de agrotóxicos sobre a saúde de trabalhadores rurais da fruticultura irrigada. Cienc Saude Colet. 2019;24(8):3117-28.,1818. Moura LTR, Aninger PRLC, Barbosa AV, Bedor CNG. Caracterização epidemiológica de trabalhadores com câncer em uma região de fruticultura irrigada. Rev Baiana Saude Publica. 2018;42(1):7-25.,2929. Bedor CNG, Ramos LO, Pereira PJ, Rêgo MAV, Pavão NA, Augusto LGS. Vulnerabilidades e situações de riscos relacionados ao uso de agrotóxicos na fruticultura irrigada. Rev Bras Epidemiol. 2009;12(1):39-49.. Esses agrotóxicos têm sido avaliados quanto ao seu potencial carcinogênico - como alterações epigenéticas com mudanças no perfil de expressão dos microRNA’s, encontrados nos inseticidas diclorvós e triazofós3030. Collotta M, Bertazzi PA, Bollat V. Epigenetics and pesticides. Toxicology. 2013;307:35-41.. Um estudo evidenciou incremento de danos e hipermetilação do DNA em trabalhadores da cultura de soja expostos a mistura de herbicidas, fungicidas e inseticidas (entre eles os OF’s acefato, clorpirifós, diclorvós e profenofós), quando comparados a indivíduos não expostos a agrotóxicos3131. Benedetti D, Alderete BL, Souza CT, Dias JF, Niekraszewicz L, Cappetta M, et al. DNA damage and epigenetic alteration in soybean farmers exposed to complex mixture of pesticides. Mutagenesis. 2018;33(1):87-95..
Há evidências de uma correlação significativa entre intoxicações por agrotóxicos e modulações oncogênicas. No nível molecular, os agrotóxicos podem causar: estresse oxidativo, atuar como desreguladores endócrinos e modular a expressão gênica. Tais alterações são principalmente prejudiciais às células e desempenham um papel fundamental na patogênese de vários distúrbios, incluindo o câncer3232. Sabarwal A, Kumar K, Singh RP. Hazardous effects of chemical pesticides on human health-Cancer and other associated disorders. Environ Toxicol Pharmacol. 2018;63:103-14..
Em contraponto, nossos resultados divergem dos estudos de coorte que não encontraram associações positivas entre OF e NH agrupadas2828. Mahajan R, Blair A, Lynch CF, Schroeder P, Hoppin JA, Sandler DP, et al. Fonofos exposure and cancer incidence in the agricultural health study. Environ Health Perspect. 2006;114(12):1838-42.,3333. Mahajan R, Bonner MR, Hoppin JA, Alavanja MCR. Phorate exposure and incidence of cancer in the Agricultural Health Study. Environ Health Perspect . 2006;114(8):1205-09.
34. Koutros S, Mahajan R, Zheng T, Hoppin JA, Ma X, Lynch CF, et al. Dichlorvos exposure and human cancer risk: results from the Agricultural Health Study. Cancer Causes Control . 2008;19(1):59-65.-3535. Bonner MR, Williams BA, Rusiecki JA, Blair A, Freeman LAB, Hoppin JA, et al. Occupational exposure to terbufos and the incidence of cancer in the Agricultural Health Study. Cancer Causes Control . 2010;21(6):871-7.. Essas diferenças nos resultados podem ser oriundas das metodologias distintas da coleta e análise dos dados, além dos vieses relacionados à mensuração da exposição, principalmente quando é baseada apenas nos autorrelatos dos participantes do estudo, que podem ter dificuldades em descrever os produtos químicos, a intensidade de uso e a frequência de aplicação ao longo da vida laboral3636. International Agency for Research of Cancer. Some organophosphate inseticides and herbicides: IARC monographs on the evaluation of carcinogenic risks to humans volume 112 [Internet]. Lyon: IARC, 2017 [citado 7 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: https://publications.iarc.fr/Book-And-Report-Series/Iarc-Monographs-On-The-Identification-Of-Carcinogenic-Hazards-To-Humans/Some-Organophosphate-Insecticides-And-Herbicides-2017 .
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A mensuração da exposição do agrotóxico no trabalhador é complexa e, portanto, deve ser considerada a intensidade; grau da concentração em medidas externas ambientais ou de dose do agente no organismo; tempo de exposição, duração e frequência com que ocorre; exposição cumulativa; janelas de suscetibilidade; e tempo de metabolização ou persistência no organismo do agente causal. Podem ser utilizados dados de monitoramento ambiental ou biológico, registros de locais de trabalho ou outras fontes, avaliações de especialistas, matrizes de exposição-trabalho, e questionários ou entrevistas com sujeitos ou familiares. Todas essas medidas, porém, podem estar sujeitas a erros3737. International Agency for Research of Cancer. Monographs on the Identification of Carcinogenic Hazards to Humans PREAMBLE [Internet]. Lyon: IARC ; Amended January 2019 [citado 7 mar 2022]. Disponível em: Disponível em: https://monographs.iarc.fr/wp-content/uploads/2019/01/Preamble-2019.pdf .
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Ainda assim, uma revisão sistemática que investigou como o método de avaliação de exposição aplicado influenciou as estimativas de risco para algumas doenças crônicas, entre elas o LNH, evidenciou que o método para atribuir a exposição ocupacional a agrotóxicos dos trabalhadores não resultou em diferentes estimativas de risco relativo. Em geral, o desenho do estudo, o ano de publicação e a região geográfica onde foi realizado mostraram efeitos maiores no risco relativo estimado do que o método de avaliação da exposição3838. Ohlander J, Fuhrimann S, Basinas I, Cherrie JW, Galea KS, Povey AC, et al. Impact of occupational pesticide exposure assessment method on risk estimates for prostate cancer, non-Hodgkin’s lymphoma and Parkinson’s disease: results of three meta-analyses. Occup Environ Med. 2022;79(8):566-74..
Conclusão
Apesar das limitações deste estudo, como tamanho pequeno de amostra, possibilidade de viés de memória, diferentes malignidades do sistema hematológico consideradas em conjunto e a avaliação bruta da exposição, a análise estatística evidenciou intervalos de confiança aceitáveis, o que indica que, apesar das fragilidades metodológicas, os resultados são significantes e reforçam a hipótese de que a exposição ocupacional a agrotóxicos pode estar associada a NH, independentemente de características do estilo de vida e nível socioeconômico. Assim, acredita-se que medidas de proteção ao trabalhador e proibição de agrotóxicos associados ao aumento de risco devem ser recomendados.
As pesquisas devem considerar a importância desse tipo de estudo, que evidencia os riscos ocupacionais e as vulnerabilidades dos trabalhadores agropecuários, oriundos de um extrato populacional que tem dificuldades de acesso à serviços de saúde e sofrem os efeitos da escassez de políticas públicas de atenção integral à saúde.
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1
Este estudo foi baseado em tese de doutorado intitulada “Fatores de risco associados à presença de neoplasias hematológicas no polo de fruticultura Petrolina (PE)/ Juazeiro (BA)] de Luiza Taciana Rodrigues de Moura, apresentada em 2019 no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Fundação Antônio Prudente, A.C. Camargo Cancer Center, São Paulo, SP, Brasil.
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3
Os autores informam que este estudo não foi apresentado em evento científico.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Out 2022 -
Data do Fascículo
2022
Histórico
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Recebido
14 Mar 2022 -
Revisado
27 Jun 2022 -
Aceito
06 Jul 2022