Acessibilidade / Reportar erro

Recentes avanços na avaliação da microcirculação à beira do leito em pacientes graves

RESUMO

Parâmetros relacionados à macrocirculação, como pressão arterial média, pressão venosa central, débito cardíaco e saturação venosa mista e central de oxigênio, são comumente utilizados na avaliação hemodinâmica de pacientes graves. No entanto, diversos estudos demonstram que existe dissociação entre estes parâmetros e o estado da microcirculação neste grupo de pacientes. Técnicas que permitem a visualização direta da microcirculação não estão completamente difundidas e nem incorporadas ao manejo clínico dos pacientes em choque. Entre as inúmeras técnicas desenvolvidas para avaliação da microcirculação encontram-se: avaliação clínica (por exemplo: índice de perfusão periférica e gradiente de temperatura); fluxometria por laser Doppler; eletrodos de avaliação de oxigênio tecidual; videomicroscopia (imagem espectral por polarização ortogonal, análise em campo escuro de fluxo lateral, ou iluminação incidental em campo escuro); e espectroscopia no infravermelho próximo. A monitorização e a otimização da perfusão tecidual por meio da visualização direta e da avaliação da microcirculação pode, em um futuro próximo, tornar-se uma meta a ser atingida na ressuscitação hemodinâmica dos pacientes graves.

Descritores:
Choque; Choque séptico; Hemodinâmica; Ressuscitação; Microcirculação; Microscopia de vídeo

ABSTRACT

Parameters related to macrocirculation, such as the mean arterial pressure, central venous pressure, cardiac output, mixed venous saturation and central oxygen saturation, are commonly used in the hemodynamic assessment of critically ill patients. However, several studies have shown that there is a dissociation between these parameters and the state of microcirculation in this group of patients. Techniques that allow direct viewing of the microcirculation are not completely disseminated, nor are they incorporated into the clinical management of patients in shock. The numerous techniques developed for microcirculation assessment include clinical assessment (e.g., peripheral perfusion index and temperature gradient), laser Doppler flowmetry, tissue oxygen assessment electrodes, videomicroscopy (orthogonal polarization spectral imaging, sidestream dark field imaging or incident dark field illumination) and near infrared spectroscopy. In the near future, the monitoring and optimization of tissue perfusion by direct viewing and microcirculation assessment may become a goal to be achieved in the hemodynamic resuscitation of critically ill patients.

Keywords:
Shock; Septic shock; Hemodynamics; Resuscitation; Microcirculation; Microscopy, video

INTRODUÇÃO

Parâmetros relacionados à macrocirculação, como pressão arterial média (PAM), pressão venosa central (PVC), débito cardíaco (DC), e saturação venosa mista (SvO2) e central (ScvO2) de oxigênio, são comumente utilizados na avaliação hemodinâmica de pacientes graves.(11 Rivers E, Nguyen B, Havstad S, Ressler J, Muzzin A, Knoblich B, Peterson E, Tomlanovich M; Early Goal-Directed Therapy Collaborative Group. Early goal-directed therapy in the treatment of severe sepsis and septic shock. N Engl J Med. 2001;345(19):1368-77.

2 ProCESS Investigators, Yealy DM, Kellum JA, Huang DT, Barnato AE, Weissfeld LA, Pike F, et al. A randomized trial of protocol-based care for early septic shock. N Engl J Med. 2014;370(18):1683-93.

3 ARISE Investigators; ANZICS Clinical Trials Group, Peake SL, Delaney A, Bailey M, Bellomo R, Cameron PA, Cooper DJ, et al. Goal-directed resuscitation for patients with early septic shock. N Engl J Med. 2014;371(16):1496-506.
-44 Mouncey PR, Osborn TM, Power GS, Harrison DA, Sadique MZ, Grieve RD, Jahan R, Harvey SE, Bell D, Bion JF, Coats TJ, Singer M, Young JD, Rowan KM; ProMISe Trial Investigators. Trial of early, goal-directed resuscitation for septic shock. N Engl J Med. 2015;372(14):1301-11.) No entanto, diversos estudos demonstram que existe dissociação entre estes parâmetros e o estado da microcirculação neste grupo de pacientes.(55 De Backer D, Creteur J, Preiser JC, Dubois MJ, Vincent JL. Microvascular blood flow is altered in patients with sepsis. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):98-104.

6 Sakr Y, Dubois MJ, De Backer D, Creteur J, Vincent JL. Persistent microcirculatory alterations are associated with organ failure and death in patients with septic shock. Crit Care Med. 2004;32(9):1825-31.
-77 Trzeciak S, Dellinger RP, Parrillo JE, Guglielmi M, Bajaj J, Abate NL, Arnold RC, Colilla S, Zanotti S, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock Investigators. Early microcirculatory perfusion derangements in patients with severe sepsis and septic shock: relationship to hemodynamics, oxygen transport, and survival. Ann Emerg Med. 2007;49(1):88-98, 98.e1-2.) O recente desenvolvimento de novas técnicas de avaliação da microcirculação, associado ao crescente número de estudos publicados nesta área (Figura 1), tem ajudado a compreender as características da microcirculação,(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.) especialmente sua fisiopatologia nos diferentes estados de choque.(99 Spronk PE, Zandstra DF, Ince C. Bench-to-bedside review: sepsis is a disease of the microcirculation. Crit Care. 2004;8(6):462-8.,1010 Ince C. The microcirculation is the motor of sepsis. Crit Care. 2005;9 Suppl 4:S13-9.)

Figura 1
Número de publicações sobre microcirculação ao longo dos últimos anos. Termo de busca utilizado: (Blood Circulation [mh] OR Microcirculation [mh] OR Microvascular Network [tiab] OR Microvessels [mh]) AND ("ICU" OR "critically ill" OR "intensive care unit").

Não houve restrição quando ao desenho de estudo e à idade dos participantes incluídos.


Postula-se que alterações no fluxo sanguíneo microcirculatório possam estar diretamente relacionadas com o desenvolvimento de disfunções orgânicas.(55 De Backer D, Creteur J, Preiser JC, Dubois MJ, Vincent JL. Microvascular blood flow is altered in patients with sepsis. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):98-104.

6 Sakr Y, Dubois MJ, De Backer D, Creteur J, Vincent JL. Persistent microcirculatory alterations are associated with organ failure and death in patients with septic shock. Crit Care Med. 2004;32(9):1825-31.
-77 Trzeciak S, Dellinger RP, Parrillo JE, Guglielmi M, Bajaj J, Abate NL, Arnold RC, Colilla S, Zanotti S, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock Investigators. Early microcirculatory perfusion derangements in patients with severe sepsis and septic shock: relationship to hemodynamics, oxygen transport, and survival. Ann Emerg Med. 2007;49(1):88-98, 98.e1-2.,1111 Trzeciak S, McCoy JV, Phillip Dellinger R, Arnold RC, Rizzuto M, Abate NL, Shapiro NI, Parrillo JE, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock (MARS) investigators. Early increases in microcirculatory perfusion during protocol-directed resuscitation are associated with reduced multi-organ failure at 24 h in patients with sepsis. Intensive Care Med. 2008;34(12):2210-7.) Além disto, a persistência de alterações microcirculatórias, a despeito da otimização da macro-hemodinâmica, está associada à maior mortalidade.(66 Sakr Y, Dubois MJ, De Backer D, Creteur J, Vincent JL. Persistent microcirculatory alterations are associated with organ failure and death in patients with septic shock. Crit Care Med. 2004;32(9):1825-31.,1212 De Backer D, Donadello K, Sakr Y, Ospina-Tascon G, Salgado D, Scolletta S, et al. Microcirculatory alterations in patients with severe sepsis: impact of time of assessment and relationship with outcome. Crit Care Med. 2013;41(3):791-9.) Desta forma, sugere-se que a avaliação e a consequente otimização precoce dos parâmetros microcirculatórios possam associar-se a melhores desfechos nos pacientes graves.(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.)

O lactato arterial e a ScvO2 são parâmetros frequentemente utilizados como metas no tratamento do choque séptico, porém são considerados parâmetros globais de perfusão tecidual, não refletindo o fluxo sanguíneo nos diferentes territórios regionais.(1313 Bellomo R, Marik P, Kellum JA. Lactic acidosis. N Engl J Med. 2015;372(11):1076.,1414 Bloos F, Reinhart K. Venous oximetry. Intensive Care Med. 2005;31(7):911-3.) Além disto, tais marcadores não representam avaliação direta da função da microcirculação, já que não há visualização e nem análise estrutural da mesma.(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.

9 Spronk PE, Zandstra DF, Ince C. Bench-to-bedside review: sepsis is a disease of the microcirculation. Crit Care. 2004;8(6):462-8.
-1010 Ince C. The microcirculation is the motor of sepsis. Crit Care. 2005;9 Suppl 4:S13-9.)

Mesmo com a relevância do tema diante das recentes pesquisas, não há um grande número de revisões que abordem os recentes avanços relacionados à avaliação da microcirculação e nem sua utilização à beira do leito em pacientes graves. Deste modo, o objetivo da presente revisão foi descrever a estrutura e as funções da microcirculação, suas alterações em condições fisiológicas e patológicas, e os diferentes métodos disponíveis atualmente para sua avaliação no paciente grave.

MICROCIRCULAÇÃO

Características da microcirculação em condições fisiológicas

A microcirculação é composta por vasos com diâmetro inferior a 100µm, compostos por arteríolas, metarteríolas, capilares e vênulas (Figura 2).(1515 Massey MJ, Shapiro NI. A guide to human in vivo microcirculatory flow image analysis. Crit Care. 2016;20:35.) As arteríolas são responsáveis pela manutenção do tônus vascular e, consequentemente, pelo controle do gradiente de pressão existente entre os capilares proximais e distais.(1616 Taylor AE, Moore TM. Capillary fluid exchange. Am J Physiol. 1999;277(6 Pt 2):S203-10.) Deste modo, elas promovem o controle local do fluxo sanguíneo, de acordo com a demanda metabólica dos tecidos.(99 Spronk PE, Zandstra DF, Ince C. Bench-to-bedside review: sepsis is a disease of the microcirculation. Crit Care. 2004;8(6):462-8.,1010 Ince C. The microcirculation is the motor of sepsis. Crit Care. 2005;9 Suppl 4:S13-9.)

Figura 2
Anatomia da microcirculação.

Os capilares se originam das arteríolas, são revestidos por uma camada única de células endoteliais e responsáveis pela troca de oxigênio e nutrientes entre o intravascular e células adjacentes.(1616 Taylor AE, Moore TM. Capillary fluid exchange. Am J Physiol. 1999;277(6 Pt 2):S203-10.) Em condições de repouso, somente 20 a 30% dos capilares estão "funcionantes", ou seja, participam ativamente da perfusão tecidual.(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.,99 Spronk PE, Zandstra DF, Ince C. Bench-to-bedside review: sepsis is a disease of the microcirculation. Crit Care. 2004;8(6):462-8.) Em condições de hipóxia tecidual, ocorre rápido recrutamento capilar, devido à abertura dos esfíncteres pré-capilares.(77 Trzeciak S, Dellinger RP, Parrillo JE, Guglielmi M, Bajaj J, Abate NL, Arnold RC, Colilla S, Zanotti S, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock Investigators. Early microcirculatory perfusion derangements in patients with severe sepsis and septic shock: relationship to hemodynamics, oxygen transport, and survival. Ann Emerg Med. 2007;49(1):88-98, 98.e1-2.,88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.) Este recrutamento permite a manutenção de um ambiente dinâmico para a troca gasosa, além de oferta de nutrientes do sangue periférico para os tecidos.(1717 Palade GE, Simionescu M, Simionescu N. Structural aspects of the permeability of the microvascular endothelium. Acta Physiol Scand Suppl. 1979;463:11-32.,1818 Hirschi KK, D'Amore PA. Pericytes in the microvasculature. Cardiovasc Res. 1996;32(4):687-98.) Ademais, a arquitetura da rede de capilares e sua densidade vascular varia de acordo com as funções exercidas pelos diferentes órgãos, como mecanismo de contracorrente em alguns órgãos.(1717 Palade GE, Simionescu M, Simionescu N. Structural aspects of the permeability of the microvascular endothelium. Acta Physiol Scand Suppl. 1979;463:11-32.,1818 Hirschi KK, D'Amore PA. Pericytes in the microvasculature. Cardiovasc Res. 1996;32(4):687-98.) As vênulas, por sua vez, exercem importante função na resposta imunológica e, por seu grau de distensibilidade e alta capacitância, também garantem armazenamento e mobilização de grandes quantidades de sangue.(99 Spronk PE, Zandstra DF, Ince C. Bench-to-bedside review: sepsis is a disease of the microcirculation. Crit Care. 2004;8(6):462-8.,1919 Kvietys PR, Granger DN. Role of reactive oxygen and nitrogen species in the vascular responses to inflammation. Free Radic Biol Med. 2012;52(3):556-92.,2020 Berlin DA, Bakker J. Understanding venous return. Intensive Care Med. 2014;40(10):1564-6.)

A microcirculação deve ser entendida como um sistema funcional de distribuição de fluxo sanguíneo e, consequentemente, de oxigênio e nutrientes para células e tecidos. A lei de Poiseuille demonstra que, observando os anéis concêntricos dentro dos vasos, e em virtude do fluxo laminar, a velocidade do fluxo de cada anel é diferente, de forma que o sangue próximo à parede do anel possui uma velocidade de fluxo menor em relação ao fluxo de sangue mais central, principalmente pela aderência dos componentes figurados do sangue ao endotélio vascular (Figura 3).(2121 Bateman RM, Sharpe MD, Ellis CG. Bench-to-bedside review: microvascular dysfunction in sepsis-hemodynamics, oxygen transport, and nitric oxide. Crit Care. 2003;7(5):359-73.,2222 Guyton AC, Hall JE. Textbook of medical physiology. 11th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2006.) Ao se integrarem as diferentes velocidades de todos os anéis concêntricos do fluxo sanguíneo e multiplicá-las pelas respectivas áreas, pode-se derivar a seguinte fórmula, conhecida como lei de Poiseuille:

F = π Δ Pr 4 / 8 η L

onde F é o fluxo sanguíneo; ΔP, a diferença de pressão entre as extremidades do vaso; r, o raio do vaso; L, seu comprimento; e η a viscosidade do sangue.(2222 Guyton AC, Hall JE. Textbook of medical physiology. 11th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2006.)

Figura 3
Lei de Poiseuille. Velocidade de fluxo de acordo com raio do vaso (esquerda) e os anéis concêntricos hipotéticos dentro de um vaso sanguíneo (direita).

As propriedades reológicas dos fluídos (a viscosidade é a mais conhecida delas) são de extrema importância para a manutenção do fluxo sanguíneo na microcirculação.(2323 Groom AC, Ellis CG, Wrigley SJ, Potter RF. Capillary network morphology and capillary flow. Int J Microcirc Clin Exp. 1995;15(5):223-30.

24 Griffith TM. Endothelial control of vascular tone by nitric oxide and gap junctions: a haemodynamic perspective. Biorheology. 2002;39(3-4):307-18.
-2525 Furchgott RF, Zawadzki JV. The obligatory role of endothelial cells in the relaxation of arterial smooth muscle by acetylcholine. Nature. 1980;288(5789):373-6.) De forma geral, a reologia do fluído sanguíneo é responsável pela quantidade de movimento e influencia não só no padrão de fluxo, como também na densidade capilar funcional.(2323 Groom AC, Ellis CG, Wrigley SJ, Potter RF. Capillary network morphology and capillary flow. Int J Microcirc Clin Exp. 1995;15(5):223-30.) Ainda, a resistência vascular, controlada pelo endotélio, pode alterar de forma dramática o fluxo sanguíneo regional.(2323 Groom AC, Ellis CG, Wrigley SJ, Potter RF. Capillary network morphology and capillary flow. Int J Microcirc Clin Exp. 1995;15(5):223-30.,2424 Griffith TM. Endothelial control of vascular tone by nitric oxide and gap junctions: a haemodynamic perspective. Biorheology. 2002;39(3-4):307-18.)

A hemoglobina, além do fornecimento de oxigênio para os tecidos por meio da difusão nas arteríolas e capilares, apresenta caraterísticas importantes para a microcirculação, como influência direta na distância máxima existente entre o local de difusão e a mitocôndria; conformação de sua molécula, que apresenta duas formas diferentes, designadas tensa e relaxada;(2424 Griffith TM. Endothelial control of vascular tone by nitric oxide and gap junctions: a haemodynamic perspective. Biorheology. 2002;39(3-4):307-18.) e controle vasoativo pela liberação de substâncias como adenosina trifosfato (ATP) e derivados do óxido nítrico (NO).(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.,2121 Bateman RM, Sharpe MD, Ellis CG. Bench-to-bedside review: microvascular dysfunction in sepsis-hemodynamics, oxygen transport, and nitric oxide. Crit Care. 2003;7(5):359-73.,2424 Griffith TM. Endothelial control of vascular tone by nitric oxide and gap junctions: a haemodynamic perspective. Biorheology. 2002;39(3-4):307-18.,2525 Furchgott RF, Zawadzki JV. The obligatory role of endothelial cells in the relaxation of arterial smooth muscle by acetylcholine. Nature. 1980;288(5789):373-6.)

Por fim, os componentes convectivos e difusivos do fluxo sanguíneo da microcirculação são fundamentais para o transporte de oxigênio para os tecidos.(2626 Ospina-Tascón GA, Madriñán-Navia H. Should microcirculation monitoring be used to guide fluid resuscitation in severe sepsis and septic shock? Rev Bras Ter Intensiva. 2015;27(2):92-5.) O componente convectivo está diretamente relacionado com o fluxo de sangue na microcirculação, sendo determinado essencialmente pelo número de hemácias e a saturação delas.(2626 Ospina-Tascón GA, Madriñán-Navia H. Should microcirculation monitoring be used to guide fluid resuscitation in severe sepsis and septic shock? Rev Bras Ter Intensiva. 2015;27(2):92-5.) O componente difusivo, por sua vez, está diretamente relacionado com a diferença entre a pressão parcial de oxigênio (PO2) nos capilares e mitocôndria, da distância de difusão do oxigênio e da superfície de troca gasosa.(2626 Ospina-Tascón GA, Madriñán-Navia H. Should microcirculation monitoring be used to guide fluid resuscitation in severe sepsis and septic shock? Rev Bras Ter Intensiva. 2015;27(2):92-5.)

A microcirculação em condições patológicas

O maior número de publicações sobre disfunção da microcirculação é sobre pacientes com choque séptico. Postula-se que alterações na microcirculação reduzem a oferta de oxigênio para as mitocôndrias, prejudicando a produção de ATP.(2727 Balestra GM, Legrand M, Ince C. Microcirculation and mitochondria in sepsis: getting out of breath. Curr Opin Anaesthesiol. 2009;22(2):184-90.) As alterações na microcirculação na sepse ocorrem pela inflamação, ativação da coagulação e do sistema complemento e lesão do endotélio capilar.(2828 Aird WC. Vascular bed-specific hemostasis: role of endothelium in sepsis pathogenesis. Crit Care Med. 2001;29(7 Suppl):S28-34; discussion S34-5.)

A tonicidade do vaso é regulada pelas células endoteliais,(2828 Aird WC. Vascular bed-specific hemostasis: role of endothelium in sepsis pathogenesis. Crit Care Med. 2001;29(7 Suppl):S28-34; discussion S34-5.) que produzem moléculas vasoativas responsáveis por regular a contração arteriolar e contribuir para o controle da pressão arterial.(2828 Aird WC. Vascular bed-specific hemostasis: role of endothelium in sepsis pathogenesis. Crit Care Med. 2001;29(7 Suppl):S28-34; discussion S34-5.) Dentre estas moléculas, encontram-se substâncias vasodilatadores, como NO e prostaciclina, e substâncias vasoconstritoras, como tromboxano A2, endotelina e fator de ativação plaquetária (PAF).(2828 Aird WC. Vascular bed-specific hemostasis: role of endothelium in sepsis pathogenesis. Crit Care Med. 2001;29(7 Suppl):S28-34; discussion S34-5.,2929 Condon MR, Kim JE, Deitch EA, Machiedo GW, Spolarics Z. Appearance of an erythrocyte population with decreased deformability and hemoglobin content following sepsis. Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2003;284(6):H2177-84. Erratum in Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2004;286(1):H477.) Doentes críticos podem apresentar desequilíbrio entres estes componentes, provocando instabilidade vasomotora e hipofluxo regional.(2828 Aird WC. Vascular bed-specific hemostasis: role of endothelium in sepsis pathogenesis. Crit Care Med. 2001;29(7 Suppl):S28-34; discussion S34-5.,2929 Condon MR, Kim JE, Deitch EA, Machiedo GW, Spolarics Z. Appearance of an erythrocyte population with decreased deformability and hemoglobin content following sepsis. Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2003;284(6):H2177-84. Erratum in Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2004;286(1):H477.)

Uma das principais alterações do endotélio durante a sepse é o aumento de sua permeabilidade, ou a perda da função de barreira, resultando em desequilíbrio na circulação de elementos sanguíneos e edema tecidual.(2828 Aird WC. Vascular bed-specific hemostasis: role of endothelium in sepsis pathogenesis. Crit Care Med. 2001;29(7 Suppl):S28-34; discussion S34-5.) Além disto, a hemoglobina também apresenta importância vital neste contexto.(2929 Condon MR, Kim JE, Deitch EA, Machiedo GW, Spolarics Z. Appearance of an erythrocyte population with decreased deformability and hemoglobin content following sepsis. Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2003;284(6):H2177-84. Erratum in Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2004;286(1):H477.) Em um modelo experimental de sepse, demonstrou-se importante diminuição da capacidade de deformação eritrocitária, contribuindo para a disfunção microcirculatória.(2929 Condon MR, Kim JE, Deitch EA, Machiedo GW, Spolarics Z. Appearance of an erythrocyte population with decreased deformability and hemoglobin content following sepsis. Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2003;284(6):H2177-84. Erratum in Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2004;286(1):H477.) Ainda, nos pacientes com sepse, ocorre comprometimento do componente convectivo e difusivo do fluxo sanguíneo da microcirculação, resultando em uma oferta tecidual de oxigênio heterogênea e insuficiente.(2727 Balestra GM, Legrand M, Ince C. Microcirculation and mitochondria in sepsis: getting out of breath. Curr Opin Anaesthesiol. 2009;22(2):184-90.)

A relação entre a perfusão sistêmica e regional depende, intimamente, da causa do choque circulatório.(3030 van Genderen ME, Klijn E, Lima A, de Jonge J, Sleeswijk Visser S, Voorbeijtel J, et al. Microvascular perfusion as a target for fluid resuscitation in experimental circulatory shock. Crit Care Med. 2014;42(2):e96-e105.

31 den Uil CA, Caliskan K, Lagrand WK, van der Ent M, Jewbali LS, van Kuijk JP, et al. Dose-dependent benefit of nitroglycerin on microcirculation of patients with severe heart failure. Intensive Care Med. 2009;35(11):1893-9.

32 den Uil CA, Lagrand WK, Spronk PE, van der Ent M, Jewbali LS, Brugts JJ, et al. Low-dose nitroglycerin improves microcirculation in hospitalized patients with acute heart failure. Eur J Heart Fail. 2009;11(4):386-90.
-3333 Santora RJ, Moore FA. Monitoring trauma and intensive care unit resuscitation with tissue hemoglobin oxygen saturation. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S10.) No choque cardiogênico, por exemplo, existe alteração de todas as variáveis microcirculatórias, como diminuição no diâmetro das arteríolas e também redução da densidade capilar funcional.(3030 van Genderen ME, Klijn E, Lima A, de Jonge J, Sleeswijk Visser S, Voorbeijtel J, et al. Microvascular perfusion as a target for fluid resuscitation in experimental circulatory shock. Crit Care Med. 2014;42(2):e96-e105.

31 den Uil CA, Caliskan K, Lagrand WK, van der Ent M, Jewbali LS, van Kuijk JP, et al. Dose-dependent benefit of nitroglycerin on microcirculation of patients with severe heart failure. Intensive Care Med. 2009;35(11):1893-9.

32 den Uil CA, Lagrand WK, Spronk PE, van der Ent M, Jewbali LS, Brugts JJ, et al. Low-dose nitroglycerin improves microcirculation in hospitalized patients with acute heart failure. Eur J Heart Fail. 2009;11(4):386-90.
-3333 Santora RJ, Moore FA. Monitoring trauma and intensive care unit resuscitation with tissue hemoglobin oxygen saturation. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S10.) Em pacientes com insuficiência cardíaca, a infusão endovenosa de nitroglicerina foi capaz de aumentar a densidade capilar funcional, mesmo com redução das pressões de enchimento cardíacas, demonstrando a independência da microcirculação em relação às variáveis macro-hemodinâmicas e seu caráter dinâmico.(3131 den Uil CA, Caliskan K, Lagrand WK, van der Ent M, Jewbali LS, van Kuijk JP, et al. Dose-dependent benefit of nitroglycerin on microcirculation of patients with severe heart failure. Intensive Care Med. 2009;35(11):1893-9.,3232 den Uil CA, Lagrand WK, Spronk PE, van der Ent M, Jewbali LS, Brugts JJ, et al. Low-dose nitroglycerin improves microcirculation in hospitalized patients with acute heart failure. Eur J Heart Fail. 2009;11(4):386-90.)

No choque hemorrágico, as alterações na microcirculação são precoces e podem refletir um estado de hipoperfusão tecidual com menor consumo de oxigênio.(3333 Santora RJ, Moore FA. Monitoring trauma and intensive care unit resuscitation with tissue hemoglobin oxygen saturation. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S10.) Em um modelo experimental em porcos, foi demonstrado que, com a remoção de 35% do volume sanguíneo, ocorreu rápido decréscimo do índice cardíaco, da SvO2 e da DO2, aumento do lactato e redução da saturação tecidual de oxigênio (StO2) no músculo esquelético.(3434 Taylor JH, Mulier KE, Myers DE, Beilman GJ. Use of near-infrared spectroscopy in early determination of irreversible hemorrhagic shock. J Trauma. 2005;58(6):1119-25.) Somente os animais que receberam ressuscitação volêmica agressiva apresentaram aumento nos valores de StO2, evidenciando como esta medida não invasiva da microcirculação pode ser relevante à beira do leito.(3434 Taylor JH, Mulier KE, Myers DE, Beilman GJ. Use of near-infrared spectroscopy in early determination of irreversible hemorrhagic shock. J Trauma. 2005;58(6):1119-25.) Estudo conduzido em pacientes internados na unidade de terapia intensiva (UTI) por choque hemorrágico demonstrou que, mesmo na presença de parâmetros macrocirculatórios normais, a microcirculação sublingual encontrava-se disfuncional por até 3 dias após o choque.(3535 Tachon G, Harrois A, Tanaka S, Kato H, Huet O, Pottecher J, et al. Microcirculatory alterations in traumatic hemorrhagic shock. Crit Care Med. 2014;42(6):1433-41.) Ainda, os índices microcirculatórios avaliados no estudo apresentavam-se alterados em todos pacientes com trauma, mas, naqueles com choque hemorrágico, estas alterações foram mais pronunciadas.(3535 Tachon G, Harrois A, Tanaka S, Kato H, Huet O, Pottecher J, et al. Microcirculatory alterations in traumatic hemorrhagic shock. Crit Care Med. 2014;42(6):1433-41.)

AVALIAÇÃO DA MICROCIRCULAÇÃO

Por definição, qualquer equipamento que visa analisar a microcirculação só o consegue fazer no leito vascular que está sendo avaliado. No entanto, pode-se considerar que a área a ser investigada é uma janela que reflete as alterações que, provavelmente, serão observadas em outros locais.(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.) Entre as inúmeras técnicas desenvolvidas para avaliação da microcirculação encontram-se: avaliação clínica (índice de perfusão periférica e gradiente de temperatura, dentre outras); fluxometria por laser Doppler; eletrodos de avaliação de oxigênio tecidual (PO2); videomicroscopia (imagem espectral por polarização ortogonal - OPS, sigla do inglês orthogonal polarization spectral; análise em campo escuro de fluxo lateral - SDF, sigla de sidestream dark field; ou iluminação incidental em campo escuro - IDF - incident dark field illumination);(3636 Aykut G, Veenstra G, Scorcella C, Ince C, Boerma C. Cytocam-IDF (incident dark field illumination) imaging for bedside monitoring of the microcirculation. Intensive) e espectroscopia no infravermelho próximo (NIRS, sigla de near-infrared spectroscopy).(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.)

A avaliação da microcirculação pode ser realizada em diferentes tecidos de acordo com a técnica e o aparelho utilizado. A região sublingual é frequentemente utilizada para realização da videomicroscopia, por ser de fácil acesso e não invasiva, além de ser potencialmente confiável para o acompanhamento e o manejo clínico de pacientes.(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.) Ademais, estudos sugerem que a pressão parcial de dióxido de carbono sublingual (PslCO2) é diretamente relacionada a pressão parcial de dióxido de carbono gástrica (PgCO2), indicando que a região sublingual é uma boa janela para avaliação indireta da microcirculação esplâncnica.(3737 Jin X, Weil MH, Sun S, Tang W, Bisera J, Mason EJ. Decreases in organ blood flows associated with increases in sublingual PCO2 during hemorrhagic shock. J Appl Physiol (1985). 1998;85(6):2360-4.) É importante frisar que, atualmente, a avaliação da microcirculação restringe-se a protocolos de pesquisas, e sua utilização à beira do leito como meta terapêutica ainda depende de maior desenvolvimento científico nesta área.(3737 Jin X, Weil MH, Sun S, Tang W, Bisera J, Mason EJ. Decreases in organ blood flows associated with increases in sublingual PCO2 during hemorrhagic shock. J Appl Physiol (1985). 1998;85(6):2360-4.,3838 Nakagawa Y, Weil MH, Tang W, Sun S, Yamaguchi H, Jin X, et al. Sublingual capnometry for diagnosis and quantitation of circulatory shock. Am J Respir Crit Care Med. 1998;157(6 Pt 1):1838-43.) A tabela 1 apresenta um resumo sucinto dos principais métodos de análise da microcirculação.

Tabela 1
Principais técnicas para avaliação da microcirculação

Avaliação clínica

Durante a falência circulatória, os órgãos nobres apresentam autorregulação vasomotora capaz de manter o fluxo sanguíneo, apesar da presença de hipotensão arterial.(2222 Guyton AC, Hall JE. Textbook of medical physiology. 11th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2006.) A circulação cutânea, por sua vez, não possui tal autorregulação, resultando em um decréscimo da perfusão da pele e na consequente queda da temperatura regional secundária à vasoconstrição.(4646 Lima A, Bakker J. Noninvasive monitoring of peripheral perfusion. Intensive Care Med. 2005;31(10):1316-26.)

Esta queda de temperatura cutânea pode ser avaliada pelo gradiente de temperatura periferia-ambiente (dTp-a) e central-periférica (dTc-p). Considerando-se que a temperatura ambiente se mantém constante, o gradiente dTp-a diminui, e o dTc-p aumenta, durante situações de colapso circulatório.(4646 Lima A, Bakker J. Noninvasive monitoring of peripheral perfusion. Intensive Care Med. 2005;31(10):1316-26.,4747 House JR, Tipton MJ. Using skin temperature gradients or skin heat flux measurements to determine thresholds of vasoconstriction and vasodilatation. Eur J Appl Physiol. 2002;88(1-2):141-5.) Em condições fisiológicas, o dTp-c apresenta variação entre 3 - 7ºC.(4747 House JR, Tipton MJ. Using skin temperature gradients or skin heat flux measurements to determine thresholds of vasoconstriction and vasodilatation. Eur J Appl Physiol. 2002;88(1-2):141-5.)

Diversos estudos foram conduzidos para avaliar a relação entre o gradiente de temperatura e a vasoconstrição ou vasodilatação secundária a alterações de fluxo sanguíneo local.(4747 House JR, Tipton MJ. Using skin temperature gradients or skin heat flux measurements to determine thresholds of vasoconstriction and vasodilatation. Eur J Appl Physiol. 2002;88(1-2):141-5.,4848 Sessler DI. Skin-temperature gradients are a validated measure of fingertip perfusion. Eur J Appl Physiol. 2003;89(3-4):401-2; author reply 403-4.) Um estudo analisou o fluxo sanguíneo e o gradiente de temperatura na ponta do dedo e antebraço em voluntários submetidos a um processo artificial de vasodilatação e vasoconstrição.(4747 House JR, Tipton MJ. Using skin temperature gradients or skin heat flux measurements to determine thresholds of vasoconstriction and vasodilatation. Eur J Appl Physiol. 2002;88(1-2):141-5.) Dentre os principais achados, notou-se que diferenças de apenas 1,5ºC já foram detectadas nas situações de vasoconstrição.(4747 House JR, Tipton MJ. Using skin temperature gradients or skin heat flux measurements to determine thresholds of vasoconstriction and vasodilatation. Eur J Appl Physiol. 2002;88(1-2):141-5.) Desta forma, a análise dos gradientes de temperatura periféricos mostrou-se de grande valia em quadros de vasoconstrição e vasodilatação, visto que foi evidenciada forte correlação entre dTp-a e níveis de lactato sérico.(4949 Schey BM, Williams DY, Bucknall T. Skin temperature as a noninvasive marker of haemodynamic and perfusion status in adult cardiac surgical patients: an observational study. Intensive Crit Care Nurs. 2009;25(1):31-7.)

Outro índice que pode ser utilizado à beira do leito para avaliar situações de falência circulatória é o índice de perfusão periférica.(5050 Lima AP, Beelen P, Bakker J. Use of a peripheral perfusion index derived from the pulse oximetry signal as a noninvasive indicator of perfusion. Crit Care Med. 2002;30(6):1210-3.) Este método utiliza o oxímetro de pulso e é capaz de distinguir a diferença entre o componente pulsátil (arterial) do não pulsátil (outros tecidos); e distinguir a hemoglobina da hemoglobina oxigenada.(5050 Lima AP, Beelen P, Bakker J. Use of a peripheral perfusion index derived from the pulse oximetry signal as a noninvasive indicator of perfusion. Crit Care Med. 2002;30(6):1210-3.) Um ponto importante é que o cálculo do índice é realizado de forma independente do valor da saturação de oxigênio.(4646 Lima A, Bakker J. Noninvasive monitoring of peripheral perfusion. Intensive Care Med. 2005;31(10):1316-26.,5050 Lima AP, Beelen P, Bakker J. Use of a peripheral perfusion index derived from the pulse oximetry signal as a noninvasive indicator of perfusion. Crit Care Med. 2002;30(6):1210-3.) Valores do índice de perfusão periférica menores ou iguais a 1,4 foram relacionados com a presença de hipoperfusão tecidual.(4646 Lima A, Bakker J. Noninvasive monitoring of peripheral perfusion. Intensive Care Med. 2005;31(10):1316-26.)

O tempo de enchimento capilar é útil na identificação de estados de hipofluxo sanguíneo em pacientes hemodinamicamente instáveis.(5151 Schriger DL, Baraff L. Defining normal capillary refill: variation with age, sex, and temperature. Ann Emerg Med. 1988;17(9):932-5.) Ele é medido aplicando-se uma pressão firme na falange distal dos dedos indicadores direito e esquerdo por 15 segundos cada.(5151 Schriger DL, Baraff L. Defining normal capillary refill: variation with age, sex, and temperature. Ann Emerg Med. 1988;17(9):932-5.) Com auxílio de um cronômetro, o tempo em segundos para retorno da coloração normal da pele é determinado.(5151 Schriger DL, Baraff L. Defining normal capillary refill: variation with age, sex, and temperature. Ann Emerg Med. 1988;17(9):932-5.) O tempo de 5 segundos é definido como limite superior de normalidade deste exame, mas este índice varia de acordo com idade e sexo.(4646 Lima A, Bakker J. Noninvasive monitoring of peripheral perfusion. Intensive Care Med. 2005;31(10):1316-26.,5151 Schriger DL, Baraff L. Defining normal capillary refill: variation with age, sex, and temperature. Ann Emerg Med. 1988;17(9):932-5.) Mulheres saudáveis podem apresentar um tempo de enchimento capilar de até 2,9 segundos e idosos de até 4,5 segundos.(4646 Lima A, Bakker J. Noninvasive monitoring of peripheral perfusion. Intensive Care Med. 2005;31(10):1316-26.,5151 Schriger DL, Baraff L. Defining normal capillary refill: variation with age, sex, and temperature. Ann Emerg Med. 1988;17(9):932-5.) Desta forma, muitos estudos sugerem que a correlação entre o tempo de enchimento capilar e a pressão arterial ou DC não é confiável, apresentando boa predição para desidratação, redução do volume sistólico e aumento do lactato sérico somente em crianças.(4646 Lima A, Bakker J. Noninvasive monitoring of peripheral perfusion. Intensive Care Med. 2005;31(10):1316-26.)

A avaliação da pele, em busca de sinais clínicos que podem se correlacionar com a hipoperfusão tecidual, é pratica habitual nas UTI. O mottling (em português traduzido como mosqueteamento) da pele consiste na alteração de sua coloração, sendo sua fisiopatologia ainda não totalmente conhecida.(5252 Ait-Oufella H, Bourcier S, Alves M, Galbois A, Baudel JL, Margetis D, et al. Alteration of skin perfusion in mottling area during septic shock. Ann Intensive Care. 2013;3(1):31.) Entretanto, postula-se que tal alteração decorra da hipoperfusão da pele. O mottling score consiste em uma avaliação semiquantitativa do mottling da pele, baseado, principalmente, na extensão de seu acometimento na área avaliada (usualmente a região do joelho).(5252 Ait-Oufella H, Bourcier S, Alves M, Galbois A, Baudel JL, Margetis D, et al. Alteration of skin perfusion in mottling area during septic shock. Ann Intensive Care. 2013;3(1):31.) O mottling score é de fácil aplicação à beira do leito, apresenta boa correlação com variáveis de perfusão tecidual, como lactato e débito urinário, e possui um bom valor preditivo na avaliação da mortalidade em pacientes com choque séptico.(5252 Ait-Oufella H, Bourcier S, Alves M, Galbois A, Baudel JL, Margetis D, et al. Alteration of skin perfusion in mottling area during septic shock. Ann Intensive Care. 2013;3(1):31.)

Fluxometria por laser Doppler

A fluxometria por laser Doppler analisa o fluxo relativo e a reserva sanguínea da microcirculação, por meio do teste de reatividade microvascular.(3939 Micheels J, Alsbjorn B, Sorensen B. Laser doppler flowmetry. A new non-invasive measurement of microcirculation in intensive care? Resuscitation. 1984;12(1):31-9.) Para que o fluxo medido represente o fluxo médio em pelo menos 50 vasos, incluindo arteríolas, capilares e vênulas de variados tamanhos, o volume das amostras dos aparelhos atuais de laser Doppler deve ser entre 0,5 e 1mm3 e, utilizando uma técnica cofocal, medidas de densidade vascular, diâmetros e fluxo sanguíneo podem ser obtidas.(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.,3939 Micheels J, Alsbjorn B, Sorensen B. Laser doppler flowmetry. A new non-invasive measurement of microcirculation in intensive care? Resuscitation. 1984;12(1):31-9.) No teste de reatividade microvascular, o slope ascendente após a oclusão é um marcador de reatividade endotelial e reologia sanguínea, podendo ser usado como parâmetro para a integridade funcional da microvascularização.(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.) A mensuração pode ser realizada em qualquer área com pele íntegra.(3939 Micheels J, Alsbjorn B, Sorensen B. Laser doppler flowmetry. A new non-invasive measurement of microcirculation in intensive care? Resuscitation. 1984;12(1):31-9.)

Eletrodos de avaliação da pressão parcial de oxigênio

Entre os potenciais usos dos eletrodos para avaliação de PO2, está a avaliação precisa da PO2 tecidual.(4343 Vesterager P. Transcutaneous pO2 electrode. Scand J Clin Lab Invest Suppl. 1977;146:27-30.,5353 Clark LC Jr, Wolf R, Granger D, Taylor Z. Continuous recording of blood oxygen tensions by polarography. J Appl Physiol. 1953;6(3):189-93) O volume da amostra analisado por estes eletrodos compreende pelo menos cem microvasos, incluindo arteríolas, capilares, vênulas, interstício e outras células, com todas contribuindo para o valor final da PO2 avaliada.(4343 Vesterager P. Transcutaneous pO2 electrode. Scand J Clin Lab Invest Suppl. 1977;146:27-30.,5353 Clark LC Jr, Wolf R, Granger D, Taylor Z. Continuous recording of blood oxygen tensions by polarography. J Appl Physiol. 1953;6(3):189-93) Seu principal uso consiste na avaliação indireta, por meio dos níveis de PO2, da perfusão e/ou oxigenação regional, principalmente em condições de baixo fluxo.(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.,4343 Vesterager P. Transcutaneous pO2 electrode. Scand J Clin Lab Invest Suppl. 1977;146:27-30.,5353 Clark LC Jr, Wolf R, Granger D, Taylor Z. Continuous recording of blood oxygen tensions by polarography. J Appl Physiol. 1953;6(3):189-93) Entre os principais problemas, encontra-se o fato de ser impossível avaliar a perfusão microvascular diretamente.

Por meio de recentes avanços, tornou-se possível mensurar, de forma contínua e não invasiva, a PO2 e o dióxido de carbono com sensores transcutâneos.(4444 Lima A. Current status of tissue monitoring in the management of shock. Curr Opin Crit Care. 2016;22(3):274-8.) O dióxido de carbono é cerca de 20 vezes mais difusível do que o oxigênio, e a mensuração transcutânea do oxigênio (PtCO2) é mais sensível às mudanças na perfusão do que a mensuração transcutânea do dióxido de carbono.(4444 Lima A. Current status of tissue monitoring in the management of shock. Curr Opin Crit Care. 2016;22(3):274-8.) O teste do desafio do oxigênio consiste em transitoriamente elevar a fração inspirada de oxigênio (FiO2) utilizada e acompanhar a resposta da PtcO2. Em pacientes com função pulmonar normal, o aumento da FiO2 associa-se com elevação paralela da PtcO2, visto que, em pacientes com fluxo sanguíneo adequado, os valores da PtcO2 e da PaO2 são quase equivalentes.(4444 Lima A. Current status of tissue monitoring in the management of shock. Curr Opin Crit Care. 2016;22(3):274-8.) A não elevação da PtcO2 diante do aumento da FiO2 sugere provável disfunção de perfusão e pior desfecho em paciente com choque séptico.(4444 Lima A. Current status of tissue monitoring in the management of shock. Curr Opin Crit Care. 2016;22(3):274-8.)

Videomicroscopia

A videomicroscopia permite avaliar a microcirculação de forma direta pela emissão de uma onda de luz verde polarizada que, quando absorvida, produz uma imagem representando as hemácias como corpos pretos.(4040 De Backer D, Hollenberg S, Boerma C, Goedhart P, Büchele G, Ospina-Tascon G, et al. How to evaluate the microcirculation: report of a round table conference. Crit Care. 2007;11(5):R101.,4141 Boerma EC, Mathura KR, van der Voort PH, Spronk PE, Ince C. Quantifying bedside-derived imaging of microcirculatory abnormalities in septic patients: a prospective validation study. Crit Care. 2005;9(6):R601-6.) Esta técnica pode ser aplicada em órgãos que possuem uma fina camada epitelial, como, por exemplo, a região sublingual, na qual podem-se observar capilares e vênulas de tamanhos variados.(4141 Boerma EC, Mathura KR, van der Voort PH, Spronk PE, Ince C. Quantifying bedside-derived imaging of microcirculatory abnormalities in septic patients: a prospective validation study. Crit Care. 2005;9(6):R601-6.) Dentre as técnicas utilizadas para avaliação videomicroscópica da microcirculação estão a OPS e a análise em SDF - a mais utilizada nos últimos anos.(4040 De Backer D, Hollenberg S, Boerma C, Goedhart P, Büchele G, Ospina-Tascon G, et al. How to evaluate the microcirculation: report of a round table conference. Crit Care. 2007;11(5):R101.) Um exemplo de imagem da microcirculação obtido por videomicroscopia está exposto na figura 4. É importante ressaltar que a análise das imagens obtidas por estes métodos é realizada off-line. Assim, a impossibilidade de se conseguirem análises automáticas da microcirculação não permite a tomada de decisões clínicas à beira do leito, limitando o uso destas técnicas a protocolos de pesquisa.

Figura 4
Exemplo de imagem da microcirculação obtida por videomicroscopia.

Figura 5
Imagem de um teste de oclusão vascular monitorizado pela espectroscopia no infravermelho próximo.

StO2 - saturação tecidual de oxigênio; AUC- área sob a curva.


Este cenário pode ser alterado pelo recente desenvolvimento da nova técnica IDF, descrita como a terceira geração da videomicrosocpia.(3636 Aykut G, Veenstra G, Scorcella C, Ince C, Boerma C. Cytocam-IDF (incident dark field illumination) imaging for bedside monitoring of the microcirculation. Intensive) O equipamento Cytocam-IDF, o único capaz de realizar este tipo de análise até o presente momento, consiste em uma sonda que incorpora a iluminação do IDF com uma composição de lentes projetoras de imagens de alta resolução.(3636 Aykut G, Veenstra G, Scorcella C, Ince C, Boerma C. Cytocam-IDF (incident dark field illumination) imaging for bedside monitoring of the microcirculation. Intensive) Estas imagens são projetadas em um sensor de alta densidade controlado por um computador sincronizado à uma unidade iluminada. Estudo recente, ao comparar os resultados deste aparelho com o SDF, demonstrou que o Cytocam-IDF foi capaz de detectar mais capilares (30% a mais) e gerar imagens de melhor qualidade, quando comparado a técnica SDF.(3636 Aykut G, Veenstra G, Scorcella C, Ince C, Boerma C. Cytocam-IDF (incident dark field illumination) imaging for bedside monitoring of the microcirculation. Intensive) Resultados semelhantes foram obtidos em diferentes estudos de validação preliminares envolvendo neonatos.(5454 van Elteren HA, Ince C, Tibboel D, Reiss IK, de Jonge RC. Cutaneous microcirculation in preterm neonates: comparison between sidestream dark field (SDF) and incident dark field (IDF) imaging. J Clin Monit Comput. 2015;29(5):543-8.)

Para o uso correto da videomicroscopia, estabeleceram-se cinco passos essenciais durante sua avaliação: avaliação de cinco sítios por órgão; evitar artefatos de pressão; eliminar secreções antes da avaliação; uso de foco adequado; e ajuste de contraste e qualidade de gravação.(4040 De Backer D, Hollenberg S, Boerma C, Goedhart P, Büchele G, Ospina-Tascon G, et al. How to evaluate the microcirculation: report of a round table conference. Crit Care. 2007;11(5):R101.,5555 Massey MJ, Larochelle E, Najarro G, Karmacharla A, Arnold R, Trzeciak S, et al. The microcirculation image quality score: development and preliminary evaluation of a proposed approach to grading quality of image acquisition for bedside videomicroscopy. J Crit Care. 2013;28(6):913-7.)

Entre as principais características funcionais da microcirculação analisados pela videomicroscopia, encontram-se a densidade vascular (responsável pela oferta de oxigênio por difusão), o padrão e intensidade do fluxo sanguíneo microcirculatório (responsável pela oferta de oxigênio por convecção) e a heterogeneidade de fluxo (alterações distributivas e shuntings).(4040 De Backer D, Hollenberg S, Boerma C, Goedhart P, Büchele G, Ospina-Tascon G, et al. How to evaluate the microcirculation: report of a round table conference. Crit Care. 2007;11(5):R101.) Para análise dos resultados obtidos por videomicroscopia, diversos escores foram desenvolvidos.

De forma geral, uma forma de três linhas horizontais e três linhas verticais é colocada em frente à tela, enquanto cada sequência de vídeo é reproduzida.(55 De Backer D, Creteur J, Preiser JC, Dubois MJ, Vincent JL. Microvascular blood flow is altered in patients with sepsis. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):98-104.) A densidade vascular é calculada como o número de vasos cruzando estas linhas, dividido pelo comprimento total das linhas. A densidade vascular total corresponde ao número total de vasos (pequenos e grandes, com e sem fluxo normal), enquanto a densidade capilar funcional corresponde ao número de vasos pequenos (< 20µm) bem perfundidos por unidade de área.(55 De Backer D, Creteur J, Preiser JC, Dubois MJ, Vincent JL. Microvascular blood flow is altered in patients with sepsis. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):98-104.) O tipo de fluxo, por sua vez, é definido como contínuo, intermitente ou ausente.(55 De Backer D, Creteur J, Preiser JC, Dubois MJ, Vincent JL. Microvascular blood flow is altered in patients with sepsis. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):98-104.) Usualmente, os vasos são separados em grandes (principalmente vênulas) e pequenos (principalmente capilares), usando um valor de corte de 20µm de diâmetro.(55 De Backer D, Creteur J, Preiser JC, Dubois MJ, Vincent JL. Microvascular blood flow is altered in patients with sepsis. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):98-104.) A perfusão dos vasos (total, grandes e pequenos) é definida como a proporção de vasos perfundidos (PPV), calculado como o número de vasos continuamente perfundidos durante uma observação de 20 segundos, dividido pelo número total de vasos do mesmo tipo.(55 De Backer D, Creteur J, Preiser JC, Dubois MJ, Vincent JL. Microvascular blood flow is altered in patients with sepsis. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):98-104.) Desta forma, a proporção de pequenos vasos perfundidos corresponde a proporção de vasos bem perfundidos com diâmetro < 20µm (principalmente capilares).(55 De Backer D, Creteur J, Preiser JC, Dubois MJ, Vincent JL. Microvascular blood flow is altered in patients with sepsis. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):98-104.) O índice de heterogeneidade de fluxo, por sua vez, é definido como a diferença entre a proporção máxima e mínima de PPV avaliado em cada ponto das cinco áreas, dividido pelo seu próprio valor médio.(55 De Backer D, Creteur J, Preiser JC, Dubois MJ, Vincent JL. Microvascular blood flow is altered in patients with sepsis. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):98-104.) Cada um destes parâmetros de microcirculação é obtido por uma média de cinco sequências de vídeo, podendo ser mais.

Adicionalmente, uma segunda forma, contendo uma linha vertical e uma linha horizontal, pode também ser colocada em frente à tela, para separar a imagem em quatro quadrantes.(77 Trzeciak S, Dellinger RP, Parrillo JE, Guglielmi M, Bajaj J, Abate NL, Arnold RC, Colilla S, Zanotti S, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock Investigators. Early microcirculatory perfusion derangements in patients with severe sepsis and septic shock: relationship to hemodynamics, oxygen transport, and survival. Ann Emerg Med. 2007;49(1):88-98, 98.e1-2.,3636 Aykut G, Veenstra G, Scorcella C, Ince C, Boerma C. Cytocam-IDF (incident dark field illumination) imaging for bedside monitoring of the microcirculation. Intensive,4242 Carsetti A, Aya HD, Pierantozzi S, Bazurro S, Donati A, Rhodes A, et al. Ability and efficiency of an automatic analysis software to measure microvascular parameters. J Clin Monit Comput. 2016 Sep 1. [Epub ahead of print].,5555 Massey MJ, Larochelle E, Najarro G, Karmacharla A, Arnold R, Trzeciak S, et al. The microcirculation image quality score: development and preliminary evaluation of a proposed approach to grading quality of image acquisition for bedside videomicroscopy. J Crit Care. 2013;28(6):913-7.) Nesta imagem, o fluxo microvascular é caracterizado como ausente (0), intermitente (1), lento (2) ou normal (3).(77 Trzeciak S, Dellinger RP, Parrillo JE, Guglielmi M, Bajaj J, Abate NL, Arnold RC, Colilla S, Zanotti S, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock Investigators. Early microcirculatory perfusion derangements in patients with severe sepsis and septic shock: relationship to hemodynamics, oxygen transport, and survival. Ann Emerg Med. 2007;49(1):88-98, 98.e1-2.,88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.,3636 Aykut G, Veenstra G, Scorcella C, Ince C, Boerma C. Cytocam-IDF (incident dark field illumination) imaging for bedside monitoring of the microcirculation. Intensive,4242 Carsetti A, Aya HD, Pierantozzi S, Bazurro S, Donati A, Rhodes A, et al. Ability and efficiency of an automatic analysis software to measure microvascular parameters. J Clin Monit Comput. 2016 Sep 1. [Epub ahead of print].,5555 Massey MJ, Larochelle E, Najarro G, Karmacharla A, Arnold R, Trzeciak S, et al. The microcirculation image quality score: development and preliminary evaluation of a proposed approach to grading quality of image acquisition for bedside videomicroscopy. J Crit Care. 2013;28(6):913-7.) A média dos valores destes quatro quadrantes é reportada como índice de fluxo microvascular.

Trzeciak et al. descreveram uma forma de avaliação da microcirculação utilizando como base o índice de fluxo microvascular.(77 Trzeciak S, Dellinger RP, Parrillo JE, Guglielmi M, Bajaj J, Abate NL, Arnold RC, Colilla S, Zanotti S, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock Investigators. Early microcirculatory perfusion derangements in patients with severe sepsis and septic shock: relationship to hemodynamics, oxygen transport, and survival. Ann Emerg Med. 2007;49(1):88-98, 98.e1-2.) Este método propõe que se divida a imagem obtida em quatro quadrantes e determine qual deles possui o tipo de fluxo predominante, o classificando como foi descrito anteriormente.(77 Trzeciak S, Dellinger RP, Parrillo JE, Guglielmi M, Bajaj J, Abate NL, Arnold RC, Colilla S, Zanotti S, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock Investigators. Early microcirculatory perfusion derangements in patients with severe sepsis and septic shock: relationship to hemodynamics, oxygen transport, and survival. Ann Emerg Med. 2007;49(1):88-98, 98.e1-2.) Em adição, os autores acrescentaram um índice de heterogeneidade, que pode ser obtido a partir da área de maior velocidade de fluxo subtraída da área de menor velocidade de fluxo, e subsequente divisão pela média da velocidade de fluxo em todas as áreas avaliadas.(77 Trzeciak S, Dellinger RP, Parrillo JE, Guglielmi M, Bajaj J, Abate NL, Arnold RC, Colilla S, Zanotti S, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock Investigators. Early microcirculatory perfusion derangements in patients with severe sepsis and septic shock: relationship to hemodynamics, oxygen transport, and survival. Ann Emerg Med. 2007;49(1):88-98, 98.e1-2.) A microcirculação normal apresenta heterogeneidade mínima no fluxo sanguíneo(5656 Spronk PE, Ince C, Gardien MJ, Mathura KR, Oudemans-van Straaten HM, Zandstra DF. Nitroglycerin in septic shock after intravascular volume resuscitation. Lancet. 2002;360(9343):1395-6.) e deve existir adequada relação entre perfusão e metabolismo (ou oferta e demanda de oxigênio e nutrientes) para impedir lesão celular induzida por hipóxia.(5757 Zuurbier CJ, van Iterson M, Ince C. Functional heterogeneity of oxygen supply-consumption ratio in the heart. Cardiovasc Res. 1999;44(3):488-97.)

De forma geral, os tecidos têm maior capacidade de se adaptarem a situações de baixo fluxo com microcirculação homogênea, em comparação a situações com heterogeneidade de fluxo.(5757 Zuurbier CJ, van Iterson M, Ince C. Functional heterogeneity of oxygen supply-consumption ratio in the heart. Cardiovasc Res. 1999;44(3):488-97.,5858 Farquhar I, Martin CM, Lam C, Potter R, Ellis CG, Sibbald WJ. Decreased capillary density in vivo in bowel mucosa of rats with normotensive sepsis. J Surg Res. 1996;61(1):190-6.) Ao diminuir a densidade capilar funcional, criando-se heterogeneidade de fluxo, ocorre aumento da distância de difusão do oxigênio e, como resultado, observa-se uma deficiente extração de oxigênio tecidual.(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.,4040 De Backer D, Hollenberg S, Boerma C, Goedhart P, Büchele G, Ospina-Tascon G, et al. How to evaluate the microcirculation: report of a round table conference. Crit Care. 2007;11(5):R101.) Assim, a avaliação da microcirculação é de grande valia, pois permite identificar condições de má perfusão periférica mesmo em situações com SvO2 normal ou aumentada.

Recentemente, De Backer et al. definiram que o resultado da avaliação da microcirculação por videomicroscopia deve sempre apresentar a densidade de vasos perfundidos (como estimativa da densidade capilar funcional), a proporção de vasos perfundidos e o índice de fluxo microvascular para todos, pequenos e grandes vasos em conjunto com o índice de heterogeneidade.(4040 De Backer D, Hollenberg S, Boerma C, Goedhart P, Büchele G, Ospina-Tascon G, et al. How to evaluate the microcirculation: report of a round table conference. Crit Care. 2007;11(5):R101.)

Espectroscopia no infravermelho próximo

NIRS é uma técnica que mensura os cromóforos (parte ou conjunto de átomos responsável pela cor de uma molécula) da oxi-hemoglobina, desoxi-hemoglobina, mioglobina e citocromo aa3 em um determinado tecido.(88 De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.) Por meio das frações de oxi- e desoxi-hemoglobina mensuradas, pode-se calcular a StO2, a hemoglobina tecidual total (HbT) e o índice de hemoglobina tecidual absoluto (THI), sendo a HbT e o THI dois indicadores de volume sanguíneo na microcirculação.(5959 Stein JC, Ellis CG, Ellsworth ML. Relationship between capillary and systemic venous PO2 during nonhypoxic and hypoxic ventilation. Am J Physiol. 1993;265(2 Pt 2):H537-42.,6060 Biedrzycka A, Lango R. Tissue oximetry in anaesthesia and intensive care. Anaesthesiol Intensive Ther. 2016;48(1):41-8.) As medidas feitas por meio da NIRS podem ser influenciadas pela quantidade do tecido adiposo e também pela presença de edema no lugar da avaliação.(5959 Stein JC, Ellis CG, Ellsworth ML. Relationship between capillary and systemic venous PO2 during nonhypoxic and hypoxic ventilation. Am J Physiol. 1993;265(2 Pt 2):H537-42.,6060 Biedrzycka A, Lango R. Tissue oximetry in anaesthesia and intensive care. Anaesthesiol Intensive Ther. 2016;48(1):41-8.) A região da eminência tenar tem sido a mais utilizada, pois a espessura da pele e do tecido adiposo cobrindo este músculo é menos influenciada pela variação da massa corporal.(5959 Stein JC, Ellis CG, Ellsworth ML. Relationship between capillary and systemic venous PO2 during nonhypoxic and hypoxic ventilation. Am J Physiol. 1993;265(2 Pt 2):H537-42.,6060 Biedrzycka A, Lango R. Tissue oximetry in anaesthesia and intensive care. Anaesthesiol Intensive Ther. 2016;48(1):41-8.)

NIRS não mede o fluxo sanguíneo diretamente, dificultando a interpretação da oxigenação tecidual por meio dos níveis absolutos de StO2.(6161 Lipcsey M, Woinarski NC, Bellomo R. Near infrared spectroscopy (NIRS) of the thenar eminence in anesthesia and intensive care. Ann Intensive Care. 2012;2(1):11.) A análise das alterações da StO2 durante um breve período de isquemia no antebraço, denominado teste de oclusão vascular (TOV), possibilita a avaliação dinâmica da reserva microvascular em apenas alguns minutos.(4545 Lima A, Bakker J. Near-infrared spectroscopy for monitoring peripheral tissue perfusion in critically ill patients. Rev Bras Ter Intensiva. 2011;23(3):341-51.,6161 Lipcsey M, Woinarski NC, Bellomo R. Near infrared spectroscopy (NIRS) of the thenar eminence in anesthesia and intensive care. Ann Intensive Care. 2012;2(1):11.) A oclusão vascular venosa e arterial pode ser atingida ao se inflar um esfigmomanômetro, posicionado no braço do paciente, acima da pressão arterial sistólica, com o objetivo de induzir isquemia no músculo tenar e provocar mudanças na StO2. Ainda não há um consenso quanto à intensidade e à duração do TOV; duas estratégias são descritas: uso do TOV baseado no tempo de insuflação, pois a resposta vascular isquêmica máxima é atingida dentro de alguns minutos;(6262 Gómez H, Torres A, Polanco P, Kim HK, Zenker S, Puyana JC, et al. Use of non-invasive NIRS during a vascular occlusion test to assess dynamic tissue O(2) saturation response. Intensive Care Med. 2008;34(9):1600-7.) e uso do TOV baseado na queda da StO2, visando a uma StO2 alvo de 40%, de forma a minimizar as variações interindividuais em resposta ao TOV (Figura 4).(6161 Lipcsey M, Woinarski NC, Bellomo R. Near infrared spectroscopy (NIRS) of the thenar eminence in anesthesia and intensive care. Ann Intensive Care. 2012;2(1):11.,6363 Lima A, van Bommel J, Jansen TC, Ince C, Bakker J. Low tissue oxygen saturation at the end of early goal-directed therapy is associated with worse outcome in critically ill patients. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S13.)

A taxa de dessaturação (Rdes, %/segundos) no músculo tenar, após a obstrução vascular, pode ser usada para estimar o consumo de oxigênio neste músculo.(6161 Lipcsey M, Woinarski NC, Bellomo R. Near infrared spectroscopy (NIRS) of the thenar eminence in anesthesia and intensive care. Ann Intensive Care. 2012;2(1):11.

62 Gómez H, Torres A, Polanco P, Kim HK, Zenker S, Puyana JC, et al. Use of non-invasive NIRS during a vascular occlusion test to assess dynamic tissue O(2) saturation response. Intensive Care Med. 2008;34(9):1600-7.

63 Lima A, van Bommel J, Jansen TC, Ince C, Bakker J. Low tissue oxygen saturation at the end of early goal-directed therapy is associated with worse outcome in critically ill patients. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S13.
-6464 Gómez H, Mesquida J, Simon P, Kim HK, Puyana JC, Ince C, et al. Characterization of tissue oxygen saturation and the vascular occlusion test: influence of measurement sites, probe sizes and deflation thresholds. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S3.) O produto do valor absoluto da Rdes e do valor médio de THI quantifica a quantidade de hemoglobina dessaturada no tecido. Após a desinsuflação do esfigmomanômetro, ocorre uma rápida restauração do fluxo sanguíneo, denominada taxa de ressaturação (Rres, %/segundos).(6161 Lipcsey M, Woinarski NC, Bellomo R. Near infrared spectroscopy (NIRS) of the thenar eminence in anesthesia and intensive care. Ann Intensive Care. 2012;2(1):11.

62 Gómez H, Torres A, Polanco P, Kim HK, Zenker S, Puyana JC, et al. Use of non-invasive NIRS during a vascular occlusion test to assess dynamic tissue O(2) saturation response. Intensive Care Med. 2008;34(9):1600-7.

63 Lima A, van Bommel J, Jansen TC, Ince C, Bakker J. Low tissue oxygen saturation at the end of early goal-directed therapy is associated with worse outcome in critically ill patients. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S13.
-6464 Gómez H, Mesquida J, Simon P, Kim HK, Puyana JC, Ince C, et al. Characterization of tissue oxygen saturation and the vascular occlusion test: influence of measurement sites, probe sizes and deflation thresholds. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S3.) Durante esta hiperemia reativa, o StO2 pode atingir níveis superiores aos da StO2 basal, indicando vasodilatação pós-isquêmica e recrutamento capilar.(6161 Lipcsey M, Woinarski NC, Bellomo R. Near infrared spectroscopy (NIRS) of the thenar eminence in anesthesia and intensive care. Ann Intensive Care. 2012;2(1):11.

62 Gómez H, Torres A, Polanco P, Kim HK, Zenker S, Puyana JC, et al. Use of non-invasive NIRS during a vascular occlusion test to assess dynamic tissue O(2) saturation response. Intensive Care Med. 2008;34(9):1600-7.

63 Lima A, van Bommel J, Jansen TC, Ince C, Bakker J. Low tissue oxygen saturation at the end of early goal-directed therapy is associated with worse outcome in critically ill patients. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S13.
-6464 Gómez H, Mesquida J, Simon P, Kim HK, Puyana JC, Ince C, et al. Characterization of tissue oxygen saturation and the vascular occlusion test: influence of measurement sites, probe sizes and deflation thresholds. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S3.)

Dentre as principais limitações deste método, destaca-se o fato da NIRS não avaliar diretamente o fluxo da microcirculação, verificando globalmente uma mistura de arteríolas, capilares e vênulas. Além disso, o sinal da NIRS é limitado aos vasos que possuem diâmetro inferiores a 1mm.(5858 Farquhar I, Martin CM, Lam C, Potter R, Ellis CG, Sibbald WJ. Decreased capillary density in vivo in bowel mucosa of rats with normotensive sepsis. J Surg Res. 1996;61(1):190-6.,5959 Stein JC, Ellis CG, Ellsworth ML. Relationship between capillary and systemic venous PO2 during nonhypoxic and hypoxic ventilation. Am J Physiol. 1993;265(2 Pt 2):H537-42.)

Potenciais aplicações terapêuticas com uso da microcirculação

O surgimento de técnicas que permitem a visualização direta da microcirculação levou à realização de estudos focados em intervenções capazes de modificar a microcirculação de pacientes graves. Entre as principais intervenções estudadas, encontra-se o uso de vasodilatadores afim de obter melhor homogeneidade de fluxo microcirculatório. Em pacientes com insuficiência cardíaca aguda, o uso de baixas doses de nitroglicerina resultou em aumento da densidade capilar funcional.(3232 den Uil CA, Lagrand WK, Spronk PE, van der Ent M, Jewbali LS, Brugts JJ, et al. Low-dose nitroglycerin improves microcirculation in hospitalized patients with acute heart failure. Eur J Heart Fail. 2009;11(4):386-90.) Em paciente com sepse grave ou choque séptico, após a ressuscitação adequada, diversas intervenções apresentaram potenciais efeitos na microcirculação, como: (1) o uso de nitroglicerina associou-se ao aumento do fluxo sanguíneo na microcirculação;(5656 Spronk PE, Ince C, Gardien MJ, Mathura KR, Oudemans-van Straaten HM, Zandstra DF. Nitroglycerin in septic shock after intravascular volume resuscitation. Lancet. 2002;360(9343):1395-6.) (2) a infusão de dobutamina provocou aumento significativo da densidade vascular e da perfusão capilar;(6565 De Backer D, Creteur J, Dubois MJ, Sakr Y, Koch M, Verdant C, et al. The effects of dobutamine on microcirculatory alterations in patients with septic shock are independent of its systemic effects. Crit Care Med. 2006;34(2):403-8.) e (3) a infusão de Ringer Lactato ou de solução de albumina a 4% também aumentou a densidade e a perfusão dos pequenos vasos.(6666 Ospina-Tascon G, Neves AP, Occhipinti G, Donadello K, Büchele G, Simion D, et al. Effects of fluids on microvascular perfusion in patients with severe sepsis. Intensive Care Med. 2010;36(6):949-55.) Em contrapartida, a transfusão de hemácias em paciente com sepse grave não teve qualquer efeito significativo na microcirculação.(6767 Sakr Y, Chierego M, Piagnerelli M, Verdant C, Dubois MJ, Koch M, et al. Microvascular response to red blood cell transfusion in patients with severe sepsis. Crit Care Med. 2007;35(7):1639-44.) Ressalta-se a importante variação individual diante da transfusão de hemácias e, entre as possíveis causas da ausência de efeito da transfusão, podem ser citadas a alteração das propriedades reológicas e perda da capacidade de deformação das hemácias; e redução da concentração de 2,3-difosfoglicerato.(6767 Sakr Y, Chierego M, Piagnerelli M, Verdant C, Dubois MJ, Koch M, et al. Microvascular response to red blood cell transfusion in patients with severe sepsis. Crit Care Med. 2007;35(7):1639-44.) Ainda, o tempo de armazenamento das hemácias também não teve qualquer relação com potenciais alterações na microcirculação.(6767 Sakr Y, Chierego M, Piagnerelli M, Verdant C, Dubois MJ, Koch M, et al. Microvascular response to red blood cell transfusion in patients with severe sepsis. Crit Care Med. 2007;35(7):1639-44.) Por fim, em paciente com choque séptico, a infusão de noradrenalina para elevar a PAM a valores superiores a 65mmHg não provocou alterações no padrão da microcirculação sublingual e também não levou a melhora de parâmetros usualmente adotados na monitorização da perfusão tecidual, como lactato arterial, ânion gap e diferença da pressão parcial de dióxido de carbono da mucosa gástrica pela pressão parcial dióxido de carbono arterial.(6868 Dubin A, Pozo MO, Casabella CA, Pálizas F Jr, Murias G, Moseinco MC, et al. Increasing arterial blood pressure with norepinephrine does not improve microcirculatory blood flow: a prospective study. Care Med. 2009;13(3):R92.)

CONCLUSÃO

A avaliação isolada de parâmetros macro-hemodinâmicos e de marcadores globais de perfusão, como metas para tratamento do choque, parecem não ser totalmente adequados, uma vez que tais parâmetros não avaliam o estado da microcirculação tecidual nestes pacientes. Entretanto, técnicas que permitem a visualização e a avaliação da microcirculação ainda não estão completamente difundidas e incorporadas na prática clínica. Desta forma, tornam-se imperativo avanços nesta área, visto que a monitorização e a otimização da perfusão tecidual, por meio da visualização direta e do manejo da microcirculação, podem, em um futuro próximo, tornar-se uma meta a ser atingida na ressuscitação hemodinâmica dos pacientes graves.

  • Editor responsável: Luciano César Pontes de Azevedo

REFERÊNCIAS

  • 1
    Rivers E, Nguyen B, Havstad S, Ressler J, Muzzin A, Knoblich B, Peterson E, Tomlanovich M; Early Goal-Directed Therapy Collaborative Group. Early goal-directed therapy in the treatment of severe sepsis and septic shock. N Engl J Med. 2001;345(19):1368-77.
  • 2
    ProCESS Investigators, Yealy DM, Kellum JA, Huang DT, Barnato AE, Weissfeld LA, Pike F, et al. A randomized trial of protocol-based care for early septic shock. N Engl J Med. 2014;370(18):1683-93.
  • 3
    ARISE Investigators; ANZICS Clinical Trials Group, Peake SL, Delaney A, Bailey M, Bellomo R, Cameron PA, Cooper DJ, et al. Goal-directed resuscitation for patients with early septic shock. N Engl J Med. 2014;371(16):1496-506.
  • 4
    Mouncey PR, Osborn TM, Power GS, Harrison DA, Sadique MZ, Grieve RD, Jahan R, Harvey SE, Bell D, Bion JF, Coats TJ, Singer M, Young JD, Rowan KM; ProMISe Trial Investigators. Trial of early, goal-directed resuscitation for septic shock. N Engl J Med. 2015;372(14):1301-11.
  • 5
    De Backer D, Creteur J, Preiser JC, Dubois MJ, Vincent JL. Microvascular blood flow is altered in patients with sepsis. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):98-104.
  • 6
    Sakr Y, Dubois MJ, De Backer D, Creteur J, Vincent JL. Persistent microcirculatory alterations are associated with organ failure and death in patients with septic shock. Crit Care Med. 2004;32(9):1825-31.
  • 7
    Trzeciak S, Dellinger RP, Parrillo JE, Guglielmi M, Bajaj J, Abate NL, Arnold RC, Colilla S, Zanotti S, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock Investigators. Early microcirculatory perfusion derangements in patients with severe sepsis and septic shock: relationship to hemodynamics, oxygen transport, and survival. Ann Emerg Med. 2007;49(1):88-98, 98.e1-2.
  • 8
    De Backer D, Ospina-Tascon G, Salgado D, Favory R, Creteur J, Vincent JL. Monitoring the microcirculation in the critically ill patient: current methods and future approaches. Intensive Care Med. 2010;36(11):1813-25.
  • 9
    Spronk PE, Zandstra DF, Ince C. Bench-to-bedside review: sepsis is a disease of the microcirculation. Crit Care. 2004;8(6):462-8.
  • 10
    Ince C. The microcirculation is the motor of sepsis. Crit Care. 2005;9 Suppl 4:S13-9.
  • 11
    Trzeciak S, McCoy JV, Phillip Dellinger R, Arnold RC, Rizzuto M, Abate NL, Shapiro NI, Parrillo JE, Hollenberg SM; Microcirculatory Alterations in Resuscitation and Shock (MARS) investigators. Early increases in microcirculatory perfusion during protocol-directed resuscitation are associated with reduced multi-organ failure at 24 h in patients with sepsis. Intensive Care Med. 2008;34(12):2210-7.
  • 12
    De Backer D, Donadello K, Sakr Y, Ospina-Tascon G, Salgado D, Scolletta S, et al. Microcirculatory alterations in patients with severe sepsis: impact of time of assessment and relationship with outcome. Crit Care Med. 2013;41(3):791-9.
  • 13
    Bellomo R, Marik P, Kellum JA. Lactic acidosis. N Engl J Med. 2015;372(11):1076.
  • 14
    Bloos F, Reinhart K. Venous oximetry. Intensive Care Med. 2005;31(7):911-3.
  • 15
    Massey MJ, Shapiro NI. A guide to human in vivo microcirculatory flow image analysis. Crit Care. 2016;20:35.
  • 16
    Taylor AE, Moore TM. Capillary fluid exchange. Am J Physiol. 1999;277(6 Pt 2):S203-10.
  • 17
    Palade GE, Simionescu M, Simionescu N. Structural aspects of the permeability of the microvascular endothelium. Acta Physiol Scand Suppl. 1979;463:11-32.
  • 18
    Hirschi KK, D'Amore PA. Pericytes in the microvasculature. Cardiovasc Res. 1996;32(4):687-98.
  • 19
    Kvietys PR, Granger DN. Role of reactive oxygen and nitrogen species in the vascular responses to inflammation. Free Radic Biol Med. 2012;52(3):556-92.
  • 20
    Berlin DA, Bakker J. Understanding venous return. Intensive Care Med. 2014;40(10):1564-6.
  • 21
    Bateman RM, Sharpe MD, Ellis CG. Bench-to-bedside review: microvascular dysfunction in sepsis-hemodynamics, oxygen transport, and nitric oxide. Crit Care. 2003;7(5):359-73.
  • 22
    Guyton AC, Hall JE. Textbook of medical physiology. 11th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2006.
  • 23
    Groom AC, Ellis CG, Wrigley SJ, Potter RF. Capillary network morphology and capillary flow. Int J Microcirc Clin Exp. 1995;15(5):223-30.
  • 24
    Griffith TM. Endothelial control of vascular tone by nitric oxide and gap junctions: a haemodynamic perspective. Biorheology. 2002;39(3-4):307-18.
  • 25
    Furchgott RF, Zawadzki JV. The obligatory role of endothelial cells in the relaxation of arterial smooth muscle by acetylcholine. Nature. 1980;288(5789):373-6.
  • 26
    Ospina-Tascón GA, Madriñán-Navia H. Should microcirculation monitoring be used to guide fluid resuscitation in severe sepsis and septic shock? Rev Bras Ter Intensiva. 2015;27(2):92-5.
  • 27
    Balestra GM, Legrand M, Ince C. Microcirculation and mitochondria in sepsis: getting out of breath. Curr Opin Anaesthesiol. 2009;22(2):184-90.
  • 28
    Aird WC. Vascular bed-specific hemostasis: role of endothelium in sepsis pathogenesis. Crit Care Med. 2001;29(7 Suppl):S28-34; discussion S34-5.
  • 29
    Condon MR, Kim JE, Deitch EA, Machiedo GW, Spolarics Z. Appearance of an erythrocyte population with decreased deformability and hemoglobin content following sepsis. Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2003;284(6):H2177-84. Erratum in Am J Physiol Heart Circ Physiol. 2004;286(1):H477.
  • 30
    van Genderen ME, Klijn E, Lima A, de Jonge J, Sleeswijk Visser S, Voorbeijtel J, et al. Microvascular perfusion as a target for fluid resuscitation in experimental circulatory shock. Crit Care Med. 2014;42(2):e96-e105.
  • 31
    den Uil CA, Caliskan K, Lagrand WK, van der Ent M, Jewbali LS, van Kuijk JP, et al. Dose-dependent benefit of nitroglycerin on microcirculation of patients with severe heart failure. Intensive Care Med. 2009;35(11):1893-9.
  • 32
    den Uil CA, Lagrand WK, Spronk PE, van der Ent M, Jewbali LS, Brugts JJ, et al. Low-dose nitroglycerin improves microcirculation in hospitalized patients with acute heart failure. Eur J Heart Fail. 2009;11(4):386-90.
  • 33
    Santora RJ, Moore FA. Monitoring trauma and intensive care unit resuscitation with tissue hemoglobin oxygen saturation. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S10.
  • 34
    Taylor JH, Mulier KE, Myers DE, Beilman GJ. Use of near-infrared spectroscopy in early determination of irreversible hemorrhagic shock. J Trauma. 2005;58(6):1119-25.
  • 35
    Tachon G, Harrois A, Tanaka S, Kato H, Huet O, Pottecher J, et al. Microcirculatory alterations in traumatic hemorrhagic shock. Crit Care Med. 2014;42(6):1433-41.
  • 36
    Aykut G, Veenstra G, Scorcella C, Ince C, Boerma C. Cytocam-IDF (incident dark field illumination) imaging for bedside monitoring of the microcirculation. Intensive
  • 37
    Jin X, Weil MH, Sun S, Tang W, Bisera J, Mason EJ. Decreases in organ blood flows associated with increases in sublingual PCO2 during hemorrhagic shock. J Appl Physiol (1985). 1998;85(6):2360-4.
  • 38
    Nakagawa Y, Weil MH, Tang W, Sun S, Yamaguchi H, Jin X, et al. Sublingual capnometry for diagnosis and quantitation of circulatory shock. Am J Respir Crit Care Med. 1998;157(6 Pt 1):1838-43.
  • 39
    Micheels J, Alsbjorn B, Sorensen B. Laser doppler flowmetry. A new non-invasive measurement of microcirculation in intensive care? Resuscitation. 1984;12(1):31-9.
  • 40
    De Backer D, Hollenberg S, Boerma C, Goedhart P, Büchele G, Ospina-Tascon G, et al. How to evaluate the microcirculation: report of a round table conference. Crit Care. 2007;11(5):R101.
  • 41
    Boerma EC, Mathura KR, van der Voort PH, Spronk PE, Ince C. Quantifying bedside-derived imaging of microcirculatory abnormalities in septic patients: a prospective validation study. Crit Care. 2005;9(6):R601-6.
  • 42
    Carsetti A, Aya HD, Pierantozzi S, Bazurro S, Donati A, Rhodes A, et al. Ability and efficiency of an automatic analysis software to measure microvascular parameters. J Clin Monit Comput. 2016 Sep 1. [Epub ahead of print].
  • 43
    Vesterager P. Transcutaneous pO2 electrode. Scand J Clin Lab Invest Suppl. 1977;146:27-30.
  • 44
    Lima A. Current status of tissue monitoring in the management of shock. Curr Opin Crit Care. 2016;22(3):274-8.
  • 45
    Lima A, Bakker J. Near-infrared spectroscopy for monitoring peripheral tissue perfusion in critically ill patients. Rev Bras Ter Intensiva. 2011;23(3):341-51.
  • 46
    Lima A, Bakker J. Noninvasive monitoring of peripheral perfusion. Intensive Care Med. 2005;31(10):1316-26.
  • 47
    House JR, Tipton MJ. Using skin temperature gradients or skin heat flux measurements to determine thresholds of vasoconstriction and vasodilatation. Eur J Appl Physiol. 2002;88(1-2):141-5.
  • 48
    Sessler DI. Skin-temperature gradients are a validated measure of fingertip perfusion. Eur J Appl Physiol. 2003;89(3-4):401-2; author reply 403-4.
  • 49
    Schey BM, Williams DY, Bucknall T. Skin temperature as a noninvasive marker of haemodynamic and perfusion status in adult cardiac surgical patients: an observational study. Intensive Crit Care Nurs. 2009;25(1):31-7.
  • 50
    Lima AP, Beelen P, Bakker J. Use of a peripheral perfusion index derived from the pulse oximetry signal as a noninvasive indicator of perfusion. Crit Care Med. 2002;30(6):1210-3.
  • 51
    Schriger DL, Baraff L. Defining normal capillary refill: variation with age, sex, and temperature. Ann Emerg Med. 1988;17(9):932-5.
  • 52
    Ait-Oufella H, Bourcier S, Alves M, Galbois A, Baudel JL, Margetis D, et al. Alteration of skin perfusion in mottling area during septic shock. Ann Intensive Care. 2013;3(1):31.
  • 53
    Clark LC Jr, Wolf R, Granger D, Taylor Z. Continuous recording of blood oxygen tensions by polarography. J Appl Physiol. 1953;6(3):189-93
  • 54
    van Elteren HA, Ince C, Tibboel D, Reiss IK, de Jonge RC. Cutaneous microcirculation in preterm neonates: comparison between sidestream dark field (SDF) and incident dark field (IDF) imaging. J Clin Monit Comput. 2015;29(5):543-8.
  • 55
    Massey MJ, Larochelle E, Najarro G, Karmacharla A, Arnold R, Trzeciak S, et al. The microcirculation image quality score: development and preliminary evaluation of a proposed approach to grading quality of image acquisition for bedside videomicroscopy. J Crit Care. 2013;28(6):913-7.
  • 56
    Spronk PE, Ince C, Gardien MJ, Mathura KR, Oudemans-van Straaten HM, Zandstra DF. Nitroglycerin in septic shock after intravascular volume resuscitation. Lancet. 2002;360(9343):1395-6.
  • 57
    Zuurbier CJ, van Iterson M, Ince C. Functional heterogeneity of oxygen supply-consumption ratio in the heart. Cardiovasc Res. 1999;44(3):488-97.
  • 58
    Farquhar I, Martin CM, Lam C, Potter R, Ellis CG, Sibbald WJ. Decreased capillary density in vivo in bowel mucosa of rats with normotensive sepsis. J Surg Res. 1996;61(1):190-6.
  • 59
    Stein JC, Ellis CG, Ellsworth ML. Relationship between capillary and systemic venous PO2 during nonhypoxic and hypoxic ventilation. Am J Physiol. 1993;265(2 Pt 2):H537-42.
  • 60
    Biedrzycka A, Lango R. Tissue oximetry in anaesthesia and intensive care. Anaesthesiol Intensive Ther. 2016;48(1):41-8.
  • 61
    Lipcsey M, Woinarski NC, Bellomo R. Near infrared spectroscopy (NIRS) of the thenar eminence in anesthesia and intensive care. Ann Intensive Care. 2012;2(1):11.
  • 62
    Gómez H, Torres A, Polanco P, Kim HK, Zenker S, Puyana JC, et al. Use of non-invasive NIRS during a vascular occlusion test to assess dynamic tissue O(2) saturation response. Intensive Care Med. 2008;34(9):1600-7.
  • 63
    Lima A, van Bommel J, Jansen TC, Ince C, Bakker J. Low tissue oxygen saturation at the end of early goal-directed therapy is associated with worse outcome in critically ill patients. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S13.
  • 64
    Gómez H, Mesquida J, Simon P, Kim HK, Puyana JC, Ince C, et al. Characterization of tissue oxygen saturation and the vascular occlusion test: influence of measurement sites, probe sizes and deflation thresholds. Crit Care. 2009;13 Suppl 5:S3.
  • 65
    De Backer D, Creteur J, Dubois MJ, Sakr Y, Koch M, Verdant C, et al. The effects of dobutamine on microcirculatory alterations in patients with septic shock are independent of its systemic effects. Crit Care Med. 2006;34(2):403-8.
  • 66
    Ospina-Tascon G, Neves AP, Occhipinti G, Donadello K, Büchele G, Simion D, et al. Effects of fluids on microvascular perfusion in patients with severe sepsis. Intensive Care Med. 2010;36(6):949-55.
  • 67
    Sakr Y, Chierego M, Piagnerelli M, Verdant C, Dubois MJ, Koch M, et al. Microvascular response to red blood cell transfusion in patients with severe sepsis. Crit Care Med. 2007;35(7):1639-44.
  • 68
    Dubin A, Pozo MO, Casabella CA, Pálizas F Jr, Murias G, Moseinco MC, et al. Increasing arterial blood pressure with norepinephrine does not improve microcirculatory blood flow: a prospective study. Care Med. 2009;13(3):R92.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2017

Histórico

  • Recebido
    29 Jun 2016
  • Aceito
    18 Set 2016
Associação de Medicina Intensiva Brasileira - AMIB Rua Arminda, 93 - Vila Olímpia, CEP 04545-100 - São Paulo - SP - Brasil, Tel.: (11) 5089-2642 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rbti.artigos@amib.com.br