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Para: A adequação do suporte nutricional enteral na unidade de terapia intensiva não afeta o prognóstico em curto e longo prazos dos pacientes mecanicamente ventilados: um estudo piloto

Ao Editor,

Couto et al., no artigo original “A adequação do suporte nutricional enteral na unidade de terapia intensiva não afeta o prognóstico em curto e longo prazos dos pacientes mecanicamente ventilados: um estudo piloto”, relatam que pacientes criticamente doentes que receberam aporte calórico ≥ 70% nas primeiras 72 horas de internação não apresentaram melhores desfechos clínicos a curto e a longo prazo.(11 Couto CF, Dariano A, Texeira C, Silva CH, Torbes AB, Friedman G. A adequação do suporte nutricional enteral na unidade de terapia intensiva não afeta o prognóstico em curto e longo prazos dos pacientes mecanicamente ventilados: um estudo piloto. Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(1):34-8.)

No título, consta que o trabalho é um estudo piloto, entretanto, o objetivo de um estudo piloto é ter dados para o planejamento e justificar uma pesquisa maior. Contudo, o trabalho em questão aparenta se tratar de um estudo completo, pois já visa avaliar uma hipótese causal: relação entre a exposição (oferta nutricional ≥ 70%) e os desfechos de curto e longo prazo. Em relação ao tamanho amostral, um estudo piloto pode servir para viabilizar o estudo maior, fornecendo dados para estimar a magnitude das perdas e dos óbitos, e para auxiliar o cálculo amostral, entre outras coisas.(22 Thabane L, Ma J, Chu R, Cheng J, Ismaila A, Rios LP, et al. A tutorial on pilot studies: the what, why and how. BMC Med Res Methodol. 2010;10:1.)

Considerando então que não se trata de um estudo piloto, seguem três observações substanciais. Inicialmente, na discussão, os autores afirmam que uma das limitações dessa pesquisa foi a ausência de dados coletados em relação à prescrição e à oferta de nutrientes, não ficando claro como os pacientes foram separados nos dois diferentes grupos (≥ 70% versus < 70%) de adequação calórica.

Em segundo lugar, mesmo os autores citando nas limitações que não foi feita avaliação da capacidade funcional do paciente no momento de internação do paciente na unidade de terapia intensiva (UTI), eles concluem que a capacidade funcional de longo prazo não parece ter sido positivamente influenciada pela adequação nutricional. Ao nosso ver, essa conclusão não é apropriada, pois o paciente já poderia ter um escore de Lawton baixo antes de internar na UTI.

Por último, quanto aos desfechos de longo prazo, não é possível fazer qualquer inferência, pois o tamanho amostral não foi suficiente para essa análise, não sendo adequada a apresentação dos resultados, muito menos as conclusões sobre eles. Para saber o número de pacientes para a análise de longo prazo num próximo estudo, sugerem-se utilizar os dados da atual pesquisa como base para estimar o número de pacientes suficientes para essa análise secundária.

Outras considerações gerais também merecem destaque. Na tabela 2, os autores apresentam dados sobre os desfechos a curto e longo prazos e mortalidade, no entanto, em cada uma dessas análises, o tamanho amostral é diferente, tornando pouco clara a leitura dos resultados, que também não correspondem com o título da tabela. Nesta mesma tabela, o resultado é apresentado apenas pela variável capacidade funcional, sem detalhamento de como é feita essa classificação. Com relação ao instrumento de Lawton e Brody, de 1969, a referência mais apropriada seria a de Santos e Virtuoso Júnior,(33 Santo RL, Virtuoso Júnior JS. Confiabilidade da versão brasileira da Escala de Atividades Instrumentais da Vida Diária. RBPS. 2008;21(4):290-6.) já validada no Brasil. Na introdução, faltaram referências que embasassem a escolha do valor de 70% de adequação calórica como ponto de corte.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Couto CF, Dariano A, Texeira C, Silva CH, Torbes AB, Friedman G. A adequação do suporte nutricional enteral na unidade de terapia intensiva não afeta o prognóstico em curto e longo prazos dos pacientes mecanicamente ventilados: um estudo piloto. Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(1):34-8.
  • 2
    Thabane L, Ma J, Chu R, Cheng J, Ismaila A, Rios LP, et al. A tutorial on pilot studies: the what, why and how. BMC Med Res Methodol. 2010;10:1.
  • 3
    Santo RL, Virtuoso Júnior JS. Confiabilidade da versão brasileira da Escala de Atividades Instrumentais da Vida Diária. RBPS. 2008;21(4):290-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Out 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2020

Histórico

  • Recebido
    02 Out 2019
  • Aceito
    10 Dez 2019
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