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Letalidade e complicações osteomusculares e cardiovasculares no tétano

OBJETIVO: A despeito do declínio em sua incidência, o tétano ainda é uma doença negligenciada nos países em desenvolvimento, permanecendo como causa importante de morbidade e mortalidade. Atualmente, com o aperfeiçoamento dos cuidados de terapia intensiva, torna-se importante conhecer melhor as complicações dessa grave condição. Este estudo visa avaliar a letalidade e complicações cardiovasculares e osteomusculares de pacientes com diagnóstico de tétano internados em unidade de terapia intensiva e os fatores associados ao pior prognóstico. MÉTODOS: Este foi um estudo retrospectivo realizado por meio da análise de prontuários médicos de pacientes com diagnóstico de tétano admitidos em unidade de terapia intensiva, de janeiro de 2000 a dezembro de 2001. Foram colhidas informações demográficas, clínicas e laboratoriais por meio de um questionário padrão. São descritas as variáveis relacionadas à letalidade, complicações cardiovasculares e osteomusculares. RESULTADOS: No período do estudo foram internados 22 pacientes com tétano, sendo 81,8% homens, com média de idade de 47,8 anos. O tétano era associado a atividades profissionais em 54,5% dos casos. A maioria dos pacientes desenvolveu a forma generalizada da doença (20 pacientes); em 81% dos casos, os pacientes nunca haviam recebido vacina antitetânica ou desconheciam sua situação vacinal. Após o ferimento, nenhum paciente recebeu profilaxia passiva apropriada e apenas dois foram submetidos a debridamento cirúrgico do foco, enquanto seis pacientes receberam antibioticoterapia. Onze pacientes (52,4%) desenvolveram alguma complicação cardiovascular. Úlcera de pressão foi a complicação cardiovascular mais freqüente (38,1%), seguida por arritmias (28,6%). Dois pacientes desenvolveram fraturas ósseas secundárias ao espasmo tetânico, correspondendo a 9,6% da amostra. A letalidade do tétano foi de 9,1%. Escore de APACHE II alto e forma gravíssima na classificação de tétano de Veronesi se associaram a maior risco de óbito (p=0,04 e 0,03, respectivamente). A classificação de Veronesi também se associou ao risco de complicações cardiovasculares (p=0,013) assim como a um maior tempo de permanência na unidade de terapia intensiva (p=0,009). CONCLUSÃO: O presente estudo demonstra falha na atenção primária à saúde em termos de cobertura vacinal e profilaxia do tétano pós-traumático em adultos. Apesar do aprimoramento do suporte intensivo, as complicações cardiovasculares ainda são freqüentes nesses pacientes. Indivíduos com alto escore APACHE II e forma clínica gravíssima precisam ser cuidadosamente monitorizados devido ao maior risco de óbito e de complicações cardiovasculares.

Tétano; complicações; Letalidade


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