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Subfenótipos baseados em dados clínicos de beira-leito de pacientes críticos com COVID-19: um estudo de coorte

RESUMO

Objetivo:

Identificar apresentações mais graves de COVID-19.

Métodos:

Pacientes consecutivamente admitidos à unidade de terapia intensiva foram submetidos à análise de clusters por meio de método de explorações sequenciais

Resultados:

Analisamos os dados de 147 pacientes, com média de idade de 56 ± 16 anos e Simplified Acute Physiological Score 3 de 72 ± 18, dos quais 103 (70%) demandaram ventilação mecânica e 46 (31%) morreram na unidade de terapia intensiva. A partir do algoritmo de análise de clusters, identificaram-se dois grupos bem definidos, com base na frequência cardíaca máxima [Grupo A: 104 (IC95% 99 - 109) batimentos por minuto versus Grupo B: 159 (IC95% 155 - 163) batimentos por minuto], frequência respiratória máxima [Grupo A: 33 (IC95% 31 - 35) respirações por minuto versus Grupo B: 50 (IC95% 47 - 53) respirações por minuto] e na temperatura corpórea máxima [Grupo A: 37,4 (IC95% 37,1 - 37,7)ºC versus Grupo B: 39,3 (IC95% 39,1 - 39,5)ºC] durante o tempo de permanência na unidade de terapia intensiva, assim como a proporção entre a pressão parcial de oxigênio no sangue e a fração inspirada de oxigênio quando da admissão à unidade de terapia intensiva [Grupo A: 116 (IC95% 99 - 133) mmHg versus Grupo B: 78 (IC95% 63 - 93) mmHg]. Os subfenótipos foram distintos em termos de perfis inflamatórios, disfunções orgânicas, terapias de suporte, tempo de permanência na unidade de terapia intensiva e mortalidade na unidade de terapia intensiva (com proporção de 4,2 entre os grupos).

Conclusão:

Nossos achados, baseados em dados clínicos universalmente disponíveis, revelaram dois subfenótipos distintos, com diferentes evoluções de doença. Estes resultados podem ajudar os profissionais de saúde na alocação de recursos e seleção de pacientes para teste de novas terapias.

Descritores:
COVID-19; SARS-CoV-2; Análise de clusters; Algoritmos; Fenótipos; Unidades de terapia intensiva

Abstract

Objective:

To identify more severe COVID-19 presentations.

Methods:

Consecutive intensive care unit-admitted patients were subjected to a stepwise clustering method.

Results:

Data from 147 patients who were on average 56 ± 16 years old with a Simplified Acute Physiological Score 3 of 72 ± 18, of which 103 (70%) needed mechanical ventilation and 46 (31%) died in the intensive care unit, were analyzed. From the clustering algorithm, two well-defined groups were found based on maximal heart rate [Cluster A: 104 (95%CI 99 - 109) beats per minute versus Cluster B: 159 (95%CI 155 - 163) beats per minute], maximal respiratory rate [Cluster A: 33 (95%CI 31 - 35) breaths per minute versus Cluster B: 50 (95%CI 47 - 53) breaths per minute], and maximal body temperature [Cluster A: 37.4 (95%CI 37.1 - 37.7)°C versus Cluster B: 39.3 (95%CI 39.1 - 39.5)°C] during the intensive care unit stay, as well as the oxygen partial pressure in the blood over the oxygen inspiratory fraction at intensive care unit admission [Cluster A: 116 (95%CI 99 - 133) mmHg versus Cluster B: 78 (95%CI 63 - 93) mmHg]. Subphenotypes were distinct in inflammation profiles, organ dysfunction, organ support, intensive care unit length of stay, and intensive care unit mortality (with a ratio of 4.2 between the groups).

Conclusion:

Our findings, based on common clinical data, revealed two distinct subphenotypes with different disease courses. These results could help health professionals allocate resources and select patients for testing novel therapies.

Keywords:
COVID-19; SARS-CoV-2; Cluster analysis; Algorithms; Phenotypes; Intensive care units

INTRODUÇÃO

A apresentação grave da doença pelo coronavírus 2019 (COVID-19), com necessidade de admissão à unidade de terapia intensiva (UTI), associa-se com elevada mortalidade.(11 Rieg S, von Cube M, Kalbhenn J, Utzolino S, Pernice K, Bechet L, Baur J, Lang CN, Wagner D, Wolkewitz M, Kern WV, Biever P; COVID UKF Study Group. COVID-19 in-hospital mortality and mode of death in a dynamic and non-restricted tertiary care model in Germany. PLoS One. 2020;15(11):e0242127.) A precoce deterioração clínica se associa, principalmente, com disfunções de órgãos não pulmonares e acarreta o maior nível de mortalidade;(22 Azoulay E, Fartoukh M, Darmon M, Géri G, Voiriot G, Dupont T, et al. Increased mortality in patients with severe SARS-CoV-2 infection admitted within seven days of disease onset. Intensive Care Med. 2020;46(9):1714-22.) de modo que o reconhecimento precoce das formas mais graves dessa doença é essencial.

Nos pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), dados clínicos, laboratoriais e inflamatórios são capazes de identificar os subfenótipos de quadros mais graves e,(33 Kitsios GD, Yang L, Manatakis DV, Nouraie M, Evankovich J, Bain W, et al. Host-response subphenotypes offer prognostic enrichment in patients with or at risk for acute respiratory distress syndrome. Crit Care Med. 2019;47(12):1724-34.

4 Spadaro S, Park M, Turrini C, Tunstall T, Thwaites R, Mauri T, et al. Biomarkers for acute respiratory distress syndrome and prospects for personalised medicine. J Inflamm (Lond). 2019;16:1.
-55 Calfee CS, Delucchi K, Parsons PE, Thompson BT, Ware LB, Matthay MA; NHLBI ARDS Network. Subphenotypes in acute respiratory distress syndrome: latent class analysis of data from two randomised controlled trials. Lancet Respir Med. 2014;2(8):611-20.) talvez, orientar o suporte respiratório.(66 Sinha P, Delucchi KL, McAuley DF, O'Kane CM, Matthay MA, Calfee CS. Development and validation of parsimonious algorithms to classify acute respiratory distress syndrome phenotypes: a secondary analysis of randomised controlled trials. Lancet Respir Med. 2020;8(3):247-57.) Pacientes com COVID-19 compartilham alguns aspectos, predominantemente laboratoriais, que podem identificar os casos mais graves.(77 Azoulay E, Zafrani L, Mirouse A, Lengliné E, Darmon M, Chevret S. Clinical phenotypes of critically ill COVID-19 patients. Intensive Care Med. 2020;46(8):1651-2.,88 Lin SH, Zhao YS, Zhou DX, Zhou FC, Xu F. Coronavirus disease 2019 (COVID-19): cytokine storms, hyper-inflammatory phenotypes, and acute respiratory distress syndrome. Genes Dis. 2020;7(4):520-7.) Apesar da grande quantidade de publicações recentes relacionadas à COVID-19, esta é ainda uma doença nova, e há falta de informações clínicas relacionadas à sua evolução. Mais ainda, a obtenção rápida de informações beira-leito é crítica para a tomada de decisões.

Assim, o objetivo deste estudo foi identificar se há características clínicas, quando da admissão na UTI e durante a estadia na mesma, que podem ajudar na identificação precoce dos pacientes portadores de apresentações mais graves de COVID-19.

MÉTODOS

Este é um estudo de coorte retrospectiva de pacientes críticos com COVID-19. Os dados foram obtidos a partir de uma base de dados e colhidos prospectivamente entre 19 de março de 2020 e 3 de agosto de 2020, derivados de uma UTI com 12 leitos de um hospital acadêmico terciário em São Paulo (SP). O Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo aprovou o protocolo do estudo (número 107.443), dispensando a necessidade de se obter assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em razão da natureza observacional do estudo.

Incluíram-se nesta análise todos os pacientes admitidos à UTI com COVID-19 suspeita ou confirmada. Foram excluídos os pacientes nos quais a suspeita de COVID-19 era baixa e cujos resultados dos exames de transcrição reversa seguida de reação em cadeia de polimerase (RT-PCR), sorologia para o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) e/ou tomografia de tórax não foram sugestivos da doença.

Tratamento dos pacientes

Durante a permanência na UTI, os pacientes receberam suporte orgânico de acordo com a melhor evidência atual, sem uso de antibióticos (exceto em caso de elevada suspeita ou confirmação de coinfecção ou superinfecção),(99 Furtado RH, Berwanger O, Fonseca HA, Corrêa TD, Ferraz LR, Lapa MG, Zampieri FG, Veiga VC, Azevedo LCP, Rosa RG, Lopes RD, Avezum A, Manoel ALO, Piza FMT, Martins PA, Lisboa TC, Pereira AJ, Olivato GB, Dantas VCS, Milan EP, Gebara OCE, Amazonas RB, Oliveira MB, Soares RVP, Moia DDF, Piano LPA, Castilho K, Momesso RGRAP, Schettino GPP, Rizzo LV, Neto AS, Machado FR, Cavalcanti AB; COALITION COVID-19 Brazil II Investigators. Azithromycin in addition to standard of care versus standard of care alone in the treatment of patients admitted to the hospital with severe COVID-19 in Brazil (COALITION II): a randomised clinical trial. Lancet. 2020;396(10256):959-67.) assim como não se utilizaram fármacos antivirais (exceto em protocolos de pesquisa).(1010 Cavalcanti AB, Zampieri FG, Rosa RG, Azevedo LC, Veiga VC, Avezum A, Damiani LP, Marcadenti A, Kawano-Dourado L, Lisboa T, Junqueira DLM, de Barros E Silva PGM, Tramujas L, Abreu-Silva EO, Laranjeira LN, Soares AT, Echenique LS, Pereira AJ, Freitas FGR, Gebara OCE, Dantas VCS, Furtado RHM, Milan EP, Golin NA, Cardoso FF, Maia IS, Hoffmann Filho CR, Kormann APM, Amazonas RB, Bocchi de Oliveira MF, Serpa-Neto A, Falavigna M, Lopes RD, Machado FR, Berwanger O; Coalition Covid-19 Brazil I Investigators. Hydroxychloroquine with or without Azithromycin in Mild-to-Moderate Covid-19. N Engl J Med. 2020;383(21):2041-52.) Contudo, antes da transferência, no atendimento de emergência, a maioria dos pacientes recebeu pelo menos uma dose de antimicrobianos - principalmente ceftriaxona, azitromicina e/ou oseltamivir. Realizou-se profilaxia para tromboembolismo com uso de 40mg de enoxaparina ou 15.000 UI de heparina não fracionada.(1111 Schünemann HJ, Cushman M, Burnett AE, Kahn SR, Beyer-Westendorf J, Spencer FA, et al. American Society of Hematology 2018 guidelines for management of venous thromboembolism: prophylaxis for hospitalized and nonhospitalized medical patients. Blood Adv. 2018;2(22):3198-225.,1212 Samama MM, Cohen AT, Darmon JY, Desjardins L, Eldor A, Janbon C, et al. A comparison of enoxaparin with placebo for the prevention of venous thromboembolism in acutely ill medical patients. Prophylaxis in Medical Patients with Enoxaparin Study Group. N Engl J Med. 1999;341(11):793-800.) Corticosteroides foram utilizados, como metilprednisolona 1 - 2mg/kg/dia por 14 dias, com desmame de até 28 dias.(1313 Meduri GU, Headley AS, Golden E, Carson SJ, Umberger RA, Kelso T, et al. Effect of prolonged methylprednisolone therapy in unresolving acute respiratory distress syndrome: a randomized controlled trial. JAMA. 1998;280(2):159-65.

14 Meduri GU, Golden E, Freire AX, Taylor E, Zaman M, Carson SJ, et al. Methylprednisolone infusion in early severe ARDS: results of a randomized controlled trial. Chest. 2007;131(4):954-63.

15 Steinberg KP, Hudson LD, Goodman RB, Hough CL, Lanken PN, Hyzy R, Thompson BT, Ancukiewicz M; National Heart, Lung, and Blood Institute Acute Respiratory Distress Syndrome (ARDS) Clinical Trials Network. Efficacy and safety of corticosteroids for persistent acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2006;354(16):1671-84.
-1616 WHO Rapid Evidence Appraisal for COVID-19 Therapies (REACT) Working Group,Sterne JA, Murthy S, Diaz JV, Slutsky AS, Villar J, Angus DC, et al. Association between administration of systemic corticosteroids and mortality among critically ill patients with COVID-19: a meta-analysis. JAMA. 2020;324(13):1330-41.) Tanto a ventilação mecânica protetora, quanto a posição prona foram utilizados conforme a descrição clássica.(1717 Acute Respiratory Distress Syndrome Network, Brower RG, Matthay MA, Morris A, Schoenfeld D, Thompson BT, Wheeler A. Ventilation with lower tidal volumes as compared with traditional tidal volumes for acute lung injury and the acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2000;342(18):1301-8.,1818 Guérin C, Reignier J, Richard JC, Beuret P, Gacouin A, Boulain T, Mercier E, Badet M, Mercat A, Baudin O, Clavel M, Chatellier D, Jaber S, Rosselli S, Mancebo J, Sirodot M, Hilbert G, Bengler C, Richecoeur J, Gainnier M, Bayle F, Bourdin G, Leray V, Girard R, Baboi L, Ayzac L; PROSEVA Study Group. Prone positioning in severe acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2013;368(23):2159-68.) O uso da driving pressure só foi feito ocasionalmente para titulação da pressão expiratória positiva final (PEEP) em alguns pacientes, porém não como uma meta a beira-leito.(1919 Sahetya SK, Hager DN, Stephens RS, Needham DM, Brower RG. PEEP titration to minimize driving pressure in subjects with ARDS: a prospective physiological study. Respir Care. 2020;65(5):583-9.) Os pacientes só foram intubados em razão de hipoxemia ou desconforto respiratório graves, de forma que nenhum deles recebeu intubação precoce para evitar lesão pulmonar auto-inflingida.(2020 Tobin MJ, Laghi F, Jubran A. P-SILI is not justification for intubation of COVID-19 patients. Ann Intensive Care. 2020;10(1):105.) Só se utilizou bloqueio neuromuscular na presença de assincronia grave ou dispneia (“fome de ar”).(2121 National Heart, Lung, and Blood Institute PETAL Clinical Trials Network, Moss M, Huang DT, Brower RG, Ferguson ND, Ginde AA, Gong MN, et al. Early neuromuscular blockade in the acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2019;380(21):1997-2008.) O balanço hídrico acumulado foi direcionado para a meta de zero assim que possível.(2222 National Heart, Lung, and Blood Institute Acute Respiratory Distress Syndrome (ARDS) Clinical Trials Network, Wiedemann HP, Wheeler AP, Bernard GR, Thompson BT, Hayden D, deBoisblanc B, et al. Comparison of two fluid-management strategies in acute lung injury. N Engl J Med. 2006;354(24):2564-75.) Utilizaram-se corticosteroides em quase todos os pacientes.(1616 WHO Rapid Evidence Appraisal for COVID-19 Therapies (REACT) Working Group,Sterne JA, Murthy S, Diaz JV, Slutsky AS, Villar J, Angus DC, et al. Association between administration of systemic corticosteroids and mortality among critically ill patients with COVID-19: a meta-analysis. JAMA. 2020;324(13):1330-41.,2323 RECOVERY Collaborative Group, Horby P, Lim WS, Emberson JR, Mafham M, Bell JL, Linsell L, et al. Dexamethasone in hospitalized patients with Covid-19. N Engl J Med. 2021;384(8):693-704.,2424 Tomazini BM, Maia IS, Cavalcanti AB, Berwanger O, Rosa RG, Veiga VC, Avezum A, Lopes RD, Bueno FR, Silva MV, Baldassare FP, Costa EL, Moura RA, Honorato MO, Costa AN, Damiani LP, Lisboa T, Kawano-Dourado L, Zampieri FG, Olivato GB, Righy C, Amendola CP, Roepke RM, Freitas DH, Forte DN, Freitas FG, Fernandes CC, Melro LM, Junior GF, Morais DC, Zung S, Machado FR, Azevedo LC; COALITION COVID-19 Brazil III Investigators. Effect of dexamethasone on days alive and ventilator-free in patients with moderate or severe acute respiratory distress syndrome and COVID-19: The CoDEX Randomized Clinical Trial. JAMA. 2020;324(13):1307-16.) Em razão dos grandes ônus em termos humanos e econômicos, a oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) só foi empregada em pacientes com hipoxemia grave (relação entre a pressão parcial de oxigênio no sangue e a fração inspirada de oxigênio - PaO2/FiO2 -persistentemente abaixo de 50mmHg, a despeito das manobras de resgate), sob ventilação mecânica por até 7 dias, com idade inferior a 60 anos e sem comorbidades graves. Não se utilizou ECMO como tratamento de hipercapnia refratária, tendo sido a ventilação por pressão positiva de alta frequência (HFPPV) adotada frequentemente. Esses critérios para ECMO divergem dos estabelecidos na literatura atual,(2525 Combes A, Hajage D, Capellier G, Demoule A, Lavoué S, Guervilly C, Da Silva D, Zafrani L, Tirot P, Veber B, Maury E, Levy B, Cohen Y, Richard C, Kalfon P, Bouadma L, Mehdaoui H, Beduneau G, Lebreton G, Brochard L, Ferguson ND, Fan E, Slutsky AS, Brodie D, Mercat A; EOLIA Trial Group, REVA, and ECMONet. Extracorporeal membrane oxygenation for severe acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2018;378(21):1965-75.,2626 Zampieri FG, Mendes PV, Ranzani OT, Taniguchi LU, Pontes Azevedo LC, Vieira Costa EL, et al. Extracorporeal membrane oxygenation for severe respiratory failure in adult patients: a systematic review and meta-analysis of current evidence. J Crit Care. 2013;28(6):998-1005.) porém foram adaptados para utilização nos quadros mais graves da doença durante o período pandêmico.

Variáveis analisadas

Utilizou-se a análise de clusters para caracterizar e agregar os pacientes. A seleção das variáveis para o procedimento se baseou em simplicidade clínica, disponibilidade e baixo custo. Assim, optou-se pela inclusão de sinais vitais, especificamente, frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR) e temperatura corpórea, sendo esses dados colhidos a cada 2 horas durante todo o tempo de permanência na UTI. Além disso, também se utilizou para a análise a PaO2/FiO2 quando da admissão à UTI. Após a aplicação do método, os dados de disfunções de órgãos, terapias de suporte orgânico e o desfecho clínico foram comparados entre os grupos. O nível de creatinina foi avaliado pela variação entre o pior valor documentado e o inicial, almejando à correção parcial do valor encontrado de creatinina para eventual comprometimento renal crônico preexistente.

Análise estatística

Os dados quantitativos foram apresentados como a média ± desvio-padrão, com exceção do tempo, em dias, de permanência na UTI e sob ventilação mecânica, que foram apresentados como mediana [25º percentil e 75º percentil]. As comparações entre sobreviventes e não sobreviventes foram realizadas com o teste t, assumindo variâncias iguais, com o teste de Mann-Whitney, teste do qui-quadrado, ou teste exato de Fisher, conforme apropriado. Os quatro indicadores mencionados formaram o substrato para a análise de clusters. Esses indicadores foram testados e selecionados em combinações individuais até uma clara separação visual (gráfica) em diferentes grupos de médias k. Adotou-se padronização utilizando escores Z para minimizar os vieses por diferenças de escala. Aplicou-se o método de maximização da expectativa por meio do algoritmo de clusters da Microsoft, realizado com o programa Power BI, em uma abordagem multifásica, e o número de conglomerados (k) foi definido por dois sistemas distintos, automaticamente pelo algoritmo do programa e pela predição por meio do método do cotovelo. Foi realizada, então, uma análise combinatória das quatro escalas de mensuração. Considerando-se o mesmo conjunto de dados, diferentes condições iniciais podem gerar agrupamentos consideravelmente dissimilares,(2525 Combes A, Hajage D, Capellier G, Demoule A, Lavoué S, Guervilly C, Da Silva D, Zafrani L, Tirot P, Veber B, Maury E, Levy B, Cohen Y, Richard C, Kalfon P, Bouadma L, Mehdaoui H, Beduneau G, Lebreton G, Brochard L, Ferguson ND, Fan E, Slutsky AS, Brodie D, Mercat A; EOLIA Trial Group, REVA, and ECMONet. Extracorporeal membrane oxygenation for severe acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2018;378(21):1965-75.,2626 Zampieri FG, Mendes PV, Ranzani OT, Taniguchi LU, Pontes Azevedo LC, Vieira Costa EL, et al. Extracorporeal membrane oxygenation for severe respiratory failure in adult patients: a systematic review and meta-analysis of current evidence. J Crit Care. 2013;28(6):998-1005.) o que sustenta esse processo multifacetado. Mais ainda, uma subanálise trinomial permitiu a elaboração de diagramas de dispersão, que favorecem a percepção visual, uma forma intuitiva de distinguir e validar os grupos.(2525 Combes A, Hajage D, Capellier G, Demoule A, Lavoué S, Guervilly C, Da Silva D, Zafrani L, Tirot P, Veber B, Maury E, Levy B, Cohen Y, Richard C, Kalfon P, Bouadma L, Mehdaoui H, Beduneau G, Lebreton G, Brochard L, Ferguson ND, Fan E, Slutsky AS, Brodie D, Mercat A; EOLIA Trial Group, REVA, and ECMONet. Extracorporeal membrane oxygenation for severe acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2018;378(21):1965-75.,2626 Zampieri FG, Mendes PV, Ranzani OT, Taniguchi LU, Pontes Azevedo LC, Vieira Costa EL, et al. Extracorporeal membrane oxygenation for severe respiratory failure in adult patients: a systematic review and meta-analysis of current evidence. J Crit Care. 2013;28(6):998-1005.) Subsequentemente, os achados do método foram apreciados e, então, combinados, assegurando-se a não superposição de dados. O conjunto resultante foi adicionalmente refinado pela preservação apenas dos pontos de dados constantes em todos os modelos, para potencializar a solidez dos grupos. Por outro lado, essa estratégia teve como custo a diminuição do tamanho da amostra. Finalmente, a qualidade interna do grupo foi certificada por uma nova análise de clusters, levando em conta variáveis suplementares não binárias, o que consiste em uma ferramenta de validação dos resultados e certificação da estabilidade dos grupos.(2525 Combes A, Hajage D, Capellier G, Demoule A, Lavoué S, Guervilly C, Da Silva D, Zafrani L, Tirot P, Veber B, Maury E, Levy B, Cohen Y, Richard C, Kalfon P, Bouadma L, Mehdaoui H, Beduneau G, Lebreton G, Brochard L, Ferguson ND, Fan E, Slutsky AS, Brodie D, Mercat A; EOLIA Trial Group, REVA, and ECMONet. Extracorporeal membrane oxygenation for severe acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2018;378(21):1965-75.,2626 Zampieri FG, Mendes PV, Ranzani OT, Taniguchi LU, Pontes Azevedo LC, Vieira Costa EL, et al. Extracorporeal membrane oxygenation for severe respiratory failure in adult patients: a systematic review and meta-analysis of current evidence. J Crit Care. 2013;28(6):998-1005.) Os grupos resultantes dessa nova análise foram comparados com os originais, medindo-se a taxa de compatibilidade. Calcularam-se os intervalos de confiança de 95% conforme a maneira usual. Para as análises exceto as conglomerações, utilizou-se a versão gratuita do programa R v. 4.0.2.

RESULTADOS

Foram obtidos 147 pacientes consecutivos, dos quais três foram excluídos após confirmação de outros diagnósticos. A tabela 1 apresenta as características gerais dos pacientes, estratificados segundo a sobrevivência. Os sobreviventes apresentaram níveis significantemente mais baixos do Simplified Acute Physiological Score 3 (SAPS3). Apesar da elevada suspeita de COVID-19, o teste de RT-PCR só foi positivo em 101 pacientes (69%). A tabela 2 apresenta as falências de órgãos e suporte na UTI; no grupo de sobreviventes, observou-se Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) máximo mais baixo, exceto quanto ao domínio hematológico, assim como menor necessidade de ventilação mecânica invasiva, menor uso de bloqueio neuromuscular, menor utilização da posição prona, menor uso de vasopressores, menor uso de terapia de substituição renal, e menor uso de antibióticos. Os desfechos na UTI são apresentados na tabela 3; 46 pacientes não sobreviveram (31%).

Tabela 1
Características gerais do grupo total de pacientes, estratificado por sobrevivência
Tabela 2
Disfunções de órgãos e suporte para o grupo total de pacientes e estratificado por sobrevivência
Tabela 3
Desfechos na unidade de terapia intensiva para o grupo total de pacientes e estratificado por sobrevivência

O estudo de clusters levou a dois conjuntos bem definidos (Figura 1 e Tabela 4), nomeados aqui como Grupo A (n = 22) e Grupo B (n = 35), com aspectos demográficos comparáveis, porém aspectos clínicos e laboratoriais contrastantes. Em cinco pacientes de cada grupo, faltaram dados referentes ao dímero-D, e em três e seis pacientes houve falta de dados sobre PCR, respectivamente, nos Grupos A e B. De grande relevância foram as disparidades referentes aos próprios parâmetros que definiram os clusters. A PaO2/FiO2 mínima por ocasião da admissão foi mais baixa no Grupo B [Grupo A: 116 (IC95% 99 - 133) mmHg versus 78 (IC95% 63 - 93) mmHg], assim como a FR máxima [Grupo A: 33 (IC95% 31 - 35) respirações por minuto versus Grupo B: 50 (IC95% 47 - 53) respirações por minuto], a FC máxima [Grupo A: 104 (IC95% 99 - 109) batimentos por minuto versus Grupo B: 159 (IC95% 155 - 163) batimentos por minuto] e a temperatura [Grupo A: 37,4 (IC95% 37,1 - 37,7)ºC versus Grupo B: 39,3 (IC95% 39,1 - 39,5)ºC] foram mais altas durante a permanência na UTI. Todas as métricas referentes ao suporte respiratório, cardiovascular e renal diferiram entre os grupos, tanto em frequência quanto em duração, com maior necessidade de intervenções no Grupo B. As contagens de leucócitos no Grupo B estavam apreciavelmente aumentadas em comparação aos achados no Grupo A, assim como os níveis de PCR. Eventos trombóticos ocorreram mais frequentemente no Grupo B, e o nível máximo de dímero-D plasmático também foi maior neste grupo. Por último, os escores máximos de SAPS3 e SOFA (nos seis domínios) mostraram diferenças na comparação entre os grupos, reforçando uma altamente relevante diferença em termos de taxa de mortalidade, que foi 4,2 vezes maior no Grupo B.

Figura 1
Representação gráfica da conglomeração multifásica. k - minimizado pelas distâncias Euclidianas ao quadrado dentro dos clusters; FC - frequência cardíaca; Temp - temperatura corpórea; PaO2/FiO2 - proporção entre a pressão parcial de oxigênio no sangue e a fração inspirada de oxigênio; FR - frequência respiratória. O refinamento da mescla representa a distribuição probabilística dos grupos segundo o algoritmo de maximização da expectativa.

Tabela 4
Características dos grupos

A amplitude média de variação diária dos parâmetros fisiológicos foi ampla. No Grupo A, a oscilação média da FC foi de 72 - 99 batimentos por minuto, da FR foi de 16 - 28 respirações por minuto e, quanto à temperatura, entre 35,5 e 37,0ºC. No Grupo B, as flutuações observadas foram de 92 - 126 batimentos por minuto, de 19 - 36 respirações por minuto e de 35,8 - 38,9ºC, respectivamente. Assumindo os limites superiores da faixa como o limite do Grupo A e levando em conta todo o conjunto de pacientes, apenas em 8,6% do tempo de observação a FC foi compatível com o subfenótipo do Grupo A. O mesmo aconteceu em 25,6% e 13,6% do tempo, respectivamente, para FR e temperatura (Figura 2). As interrelações entre os parâmetros também foram heterogêneas. As três variáveis se mantiveram concomitantemente em limiar compatível com o Grupo B em 60,3% do tempo observado, e em apenas 0,6% do tempo observado as três variáveis foram conjuntamente compatíveis com o Grupo A (Figura 2).

Figura 2
Tempo de permanência na unidade de terapia intensiva com frequência respiratória, frequência cardíaca, temperatura e todas as variáveis em conjunto compatíveis com cada grupo. UTI - unidade de terapia intensiva. A cor azul representa a percentagem do tempo de permanência na unidade de terapia intensiva compatível com o Grupo A. A cor verde representa a percentagem do tempo de permanência na unidade de terapia intensiva compatível com o Grupo B. A cor cinza representa a percentagem de tempo de permanência na unidade de terapia intensiva em que as variáveis eram compatíveis com ambos os clusters.

DISCUSSÃO

Considerando-se apenas os pacientes de UTI com COVID-19, a heterogeneidade persiste como um fenômeno acentuado. Na nossa coorte, observaram-se diversas diferenças clínicas e laboratoriais, relativas às características gerais, à falência orgânica e ao suporte a órgãos, entre os pacientes com COVID-19 grave que sobreviveram ou não à UTI. Entretanto, variáveis clínicas simples, como FC, FR e temperatura corpórea durante a permanência na UTI e PaO2/FiO2 na admissão à UTI, puderam distinguir dois subfenótipos diferentes de pacientes com COVID-19.

Algumas características dos pacientes foram diferentes entre sobreviventes e não sobreviventes quando da admissão à UTI, como SAPS3, idade, PaO2/FiO2, níveis de lactato e condição acidobásica; todos alinhados com a literatura atual.(2727 Moreno RP, Metnitz PG, Almeida E, Jordan B, Bauer P, Campos RA, Iapichino G, Edbrooke D, Capuzzo M, Le Gall JR; SAPS 3 Investigators. SAPS 3--From evaluation of the patient to evaluation of the intensive care unit. Part 2: Development of a prognostic model for hospital mortality at ICU admission. Intensive Care Med. 2005;31(10):1345-55.

28 Azevedo LC, Park M, Salluh JI, Rea-Neto A, Souza-Dantas VC, Varaschin P, Oliveira MC, Tierno PF, Dal-Pizzol F, Silva UV, Knibel M, Nassar AP Jr, Alves RA, Ferreira JC, Teixeira C, Rezende V, Martinez A, Luciano PM, Schettino G, Soares M; ERICC (Epidemiology of Respiratory Insufficiency in Critical Care) investigators. Clinical outcomes of patients requiring ventilatory support in Brazilian intensive care units: a multicenter, prospective, cohort study. Crit Care. 2013;17(2):R63.
-2929 Maciel AT, Park M. Differences in acid-base behavior between intensive care unit survivors and nonsurvivors using both a physicochemical and a standard base excess approach: a prospective, observational study. J Crit Care. 2009;24(4):477-83.)

Sistemas para prognosticar evolução desfavorável já foram propostos. Há diferentes modelos de predição de desfechos que levam em conta dados demográficos,(22 Azoulay E, Fartoukh M, Darmon M, Géri G, Voiriot G, Dupont T, et al. Increased mortality in patients with severe SARS-CoV-2 infection admitted within seven days of disease onset. Intensive Care Med. 2020;46(9):1714-22.) dados laboratoriais(22 Azoulay E, Fartoukh M, Darmon M, Géri G, Voiriot G, Dupont T, et al. Increased mortality in patients with severe SARS-CoV-2 infection admitted within seven days of disease onset. Intensive Care Med. 2020;46(9):1714-22.) e uma combinação de aspectos clínicos e radiológicos.(22 Azoulay E, Fartoukh M, Darmon M, Géri G, Voiriot G, Dupont T, et al. Increased mortality in patients with severe SARS-CoV-2 infection admitted within seven days of disease onset. Intensive Care Med. 2020;46(9):1714-22.) Contudo, nenhum estudo se dedicou a explorar apenas dados clínicos obtidos junto ao leito. Dentro desse racional, também com base na premissa de diferentes evoluções da doença, clusters de subfenótipos de pacientes com COVID-19 foram relatados. A abordagem de Azoulay et al.(22 Azoulay E, Fartoukh M, Darmon M, Géri G, Voiriot G, Dupont T, et al. Increased mortality in patients with severe SARS-CoV-2 infection admitted within seven days of disease onset. Intensive Care Med. 2020;46(9):1714-22.) incluiu análise de múltiplos parâmetros clínicos e laboratoriais, identificando achados condizentes com estudos de predição do risco. O refinamento do processamento dos clusters resultou em um tamanho de amostra pequeno para ambos os grupos; de modo que essa técnica reduz a sensibilidade das características dos clusters, por outro lado acentuando sua especificidade.(3030 Kern M, Lex A, Gehlenborg N, Johnson CR. Interactive visual exploration and refinement of cluster assignments. BMC Bioinformatics. 2017;18(1):406.)

É interessante observar que o tempo despendido com sinais vitais na faixa do Grupo A foi baixo, provavelmente em razão do menor tempo de permanência destes pacientes na UTI. Mais ainda, esse comportamento reforça a percepção de um grupo de pacientes com desfechos favoráveis.

A finalidade desta casuística, que estudou dados predominantemente clínicos, foi oferecer uma alternativa custo-efetiva para orientar a alocação de recursos e, eventualmente, ajudar na seleção de candidatos, para testar novas terapêuticas ou mesmo para a implantação de futuros tratamentos.

As limitações de nosso estudo incluem o tamanho da amostra, a fonte de pacientes em um único centro, a subjetividade que permeou a seleção de variáveis para os clusters, e a ausência de validação em uma coorte externa. Em compensação, nossa proposta foi construída de forma que a ampla heterogeneidade de recursos disponíveis nos diferentes centros não constituísse uma restrição para realização de ensaios prospectivos em populações diferentes ou maiores. Mais ainda, como a estratificação de pacientes é uma tarefa crítica na tomada de decisão clínica, elementos passíveis de se obter junto ao leito poderiam facilitar e tornar mais rápido o processo.

Outro ponto forte deste estudo é a considerável similaridade pré-mórbida entre os pacientes de ambos os grupos, minimizando, assim, a presença de fatores de confusão. Igualmente, a condição de um serviço terciário em hospital acadêmico, juntamente da grande diversidade sociocultural no Brasil e em São Paulo, pode ter contribuído para diminuir a sub-representação de subgrupos populacionais.

CONCLUSÃO

Este estudo identificou dois subfenótipos clinicamente distintos de pacientes com COVID-19, segundo a gravidade da doença. Valores máximos de frequência cardíaca, temperatura corpórea e frequência respiratória, bem como a proporção entre a pressão parcial de oxigênio no sangue e a fração inspirada de oxigênio na admissão à unidade de terapia intensiva foram variáveis passíveis de se obter junto ao leito, que podem ajudar a identificar os pacientes mais graves com COVID-19.

  • Disponibilidade de dados e materiais
    Os dados que dão suporte aos achados deste estudo estão disponíveis no banco de dados da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Há restrições com relação à disponibilidade destes dados, que foram utilizados sob autorização para o presente estudo e, assim, não estão publicamente disponíveis. Contudo, os dados estão disponíveis com os autores em caso de solicitações razoáveis, condicionado à permissão pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição.

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Editado por

Editor responsável: Pedro Póvoa

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2021

Histórico

  • Recebido
    06 Jan 2021
  • Aceito
    19 Mar 2021
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