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Pós-graduação em Turismo, Hospitalidade e Lazer no Brasil: da consolidação dos mestrados à emergência dos doutorados

Postgraduate studies in Tourism, Hospitality, and Leisure in Brazil: from the consolidation of master's degrees to the emergence of PhDs

Posgrado en Turismo, Hospitalidad y Ocio en Brasil: de la consolidación de los másteres a la aparición de los doctorados

Resumo

O Turismo, a Hospitalidade e o Lazer são áreas próximas com inter-relações ainda pouco investigadas nos estudos sobre a pós-graduação no Brasil que podem configurar uma área de estudo, a TH&L. Diante disso, desenvolveu-se esta pesquisa qualitativa mediante estudo bibliográfico e documental com o objetivo de investigar as condições e a evolução dos programas de pós-graduação nessa área, ao lado da origem dos seus doutorados sob a influência dos estudos da hospitalidade. Explicita-se o modelo brasileiro, em cujo contexto surgiu o primeiro mestrado em Turismo em 1993, e descreve-se a evolução da pós-graduação em TH&L com a sua consolidação na década de 2010. Os projetos iniciais dos doutorados, geralmente, remetem à Hospitalidade e citam autores e obras da área nas bibliografias de disciplinas, com grande representação das correntes anglo-saxã e francesa. Os autores mais citados foram Conrad Lashley, Isabel Baptista, Alison Morrison, Luiz Octávio Camargo e Marielys Bueno. Algumas instituições compartilharam mais autores referenciais, notando-se dois principais núcleos de compartilhamento. Na maioria dos projetos dos doutorados, constatou-se que a hospitalidade conduziu algum interesse e conhecimento sem, no entanto, ser o seu fio condutor.

Palavras-chave
Turismo; Hospitalidade e Lazer; Pós-graduação; Oferta de cursos; Projetos de doutorado; Brasil

Abstract

Tourism, Hospitality, and Leisure are close areas with interrelationships still little investigated on postgraduate studies in Brazil which can configure an area of study, the TH&L. Therefore, this qualitative research was developed through a bibliographic and documentary study with the aim of investigating the conditions and evolution of postgraduate programs in this area, alongside the origin of their PHDs under the influence of hospitality studies. The Brazilian model is made explicit, and within this context the first master's degree in Tourism emerged in 1993. This text describes the evolution of the postgraduate programs in TH&L with its consolidation in the 2010s. The initial PhD projects usually refer to Hospitality and cite authors and works in the field from the course bibliographies, with a great representation of the Anglo-Saxon and French currents. The most cited authors were Conrad Lashley, Isabel Baptista, Alison Morrison, Luiz Octávio Camargo, and Marielys Bueno. Some institutions shared more referential authors, noting two main sharing centers. In most PhD projects, it was found that hospitality led to some interest and knowledge without being its guiding thread, however.

Keywords
Tourism; Hospitality, and Leisure; Postgraduate studies; Course offering; PhD projects; Brazil

Resumen

Turismo, Hospitalidad y Ocio son áreas cercanas con interrelaciones aún poco investigadas en estudios sobre posgrado en Brasil que pueden configurar un área de estudio, el TH&L. Por lo tanto, esta investigación cualitativa se desarrolló a través de un estudio bibliográfico y documental con el objetivo de indagar en las condiciones y evolución de los programas de posgrado en esta área, junto con el origen de sus doctorados bajo la influencia de los estudios de hospitalidad. Se explicita el modelo brasileño, en cuyo contexto surgió la primera maestría en Turismo en 1993, y se describe la evolución de los posgrados en TH&L con su consolidación en la década de 2010. Los proyectos iniciales de doctorado suelen referirse a la hospitalidad y citan autores y trabajos de campo de las bibliografías del curso, con gran representación de las corrientes anglosajona y francesa. Los autores más citados fueron Conrad Lashley, Isabel Baptista, Alison Morrison, Luiz Octávio Camargo y Marielys Bueno. Algunas instituciones compartieron autores más referenciales, destacando dos centros principales de intercambio. En la mayoría de los proyectos de doctorado, se encontró que la hospitalidad generaba cierto interés y conocimiento sin, sin embargo, ser su hilo conductor.

Palabras clave
Turismo; Hospitalidad y Ocio; Posgrado; Oferta de cursos; Proyectos de doctorado; Brasil

1 INTRODUÇÃO

Desde a década de 2000, a pesquisa turística tem buscado novos paradigmas, assentados em forças de pressão da ética, sustentabilidade e internacionalização e, inclusive, na Hospitalidade (Rejowski, 2015Rejowski, M. (2015). Teorizações do turismo em direção a novas abordagens: uma discussão preliminar. Anais do 12ª Seminário da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo. Natal, RN, Brasil; Sogayar, 2010Sogayar, R. L. (2010). Hospitalidade no ensino superior em turismo: estudo de caso do programa Tourism Education Future Iniciatives. (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-graduação em Hospitalidade., Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil.). Em um mundo cada vez mais hostil (Camargo, 2015Camargo, L. O. L. (2015). Os interstícios da hospitalidade. Revista Hospitalidade. 12(n.especial), p. 42-69.), composto de ambientes mutáveis, voláteis e liquefeitos (Welten, 2015Welten, R. (2015). Hospitality and its ambivalences. On Zygmunt Bauman. Hospitality & Society, 5(1), p. 7-21. https://doi.org/10.1386/hosp.5.1.7_1
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), a Hospitalidade emerge como um valor renovado, desloca o foco do turista para o anfitrião – ou coloca ambos em um mesmo patamar – e abre novas perspectivas de pesquisas não apenas no campo do Turismo, mas também em outras áreas. O seu estudo, restrito a simples oferta de serviços de hospedagem, alimentos e bebidas (Lashley, 2004Lashley, C. (2004). Para um entendimento teórico. In C. Lashley, & A. Morrison. Em busca da hospitalidade. Barueri: Manole.) se expandiu para situá-lo “na confluência dos conceitos de relação interpessoal, virtude, rito e troca mercantil/não mercantil” (Camargo, 2015Camargo, L. O. L. (2015). Os interstícios da hospitalidade. Revista Hospitalidade. 12(n.especial), p. 42-69., p. 42), envolvendo o aprofundamento dos conceitos de hospitalidade e hospitabilidade (Lashley, 2015Lashley, C. (2015). Hospitalidade e hospitabilidade. Revista Hospitalidade, 12(n. especial), p. 70-92. portaria) e de seus inversos, ou seja, a hostilidade e inospitabilidade (Camargo, 2008Camargo, L. O. L. (2008). A pesquisa em hospitalidade. Revista Hospitalidade. 5(2), 15-51. https://doi.org/10.7784/rbtur.v15i2.2112
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; Lynch, Germann Molz, McIntosh, Lugosi, & Lashley, 2011Lashley, C., Morrison, A. (eds.). (2000). In search of hospitality: theoretical perspectives and debates. Oxford: Butterworth-Heinemann. (Hospitality, Leisure and Tourism).).

A Hospitalidade como relação interpessoal é parte de um processo de interpelação multi e bilateral (Baptista, 2008Baptista, I. (2008) Hospitalidade e eleição intersubjectiva: sobre o espírito que guarda os lugares. Revista Hospitalidade. 5(2), p. 5-14.), que atua nos sistemas sociais como uma competência prática, sendo possível “pensar as práticas sociais a partir da valorização dos lugares, contatos, interações, encontros e relações interpessoais” (Grinover, 2009Grinover, L. (2009). A hospitalidade na perspectiva da cidade contemporânea. Anais do 2º Colóquio Internacional em Hospitalidade: rostos e lugares de hospitalidade. Porto, Portugal., p. 165). Essa possibilidade traz ao mundo contemporâneo, a manifestação ou a recriação dos laços sociais, por meio das trocas e vínculos possíveis (Camargo, 2015Camargo, L. O. L. (2015). Os interstícios da hospitalidade. Revista Hospitalidade. 12(n.especial), p. 42-69.). Nesse sentido, a Hospitalidade passa ser estudada nos setores de serviços, no comércio, na educação, nos relacionamentos virtuais, entre outros. Assim, traduz a sua relevância não somente na formação superior em Turismo, como também em áreas próximas a ela como Eventos, Hotelaria e Gastronomia, que se inserem sob o “guarda-chuva” da Hospitalidade, além da proximidade destas e do Turismo ao Lazer. Com base no que foi exposto, considera-se oportuno estudar os cursos de pós-graduação stricto sensu em uma área delimitada como Turismo, Hospitalidade e Lazer (TH&L), cuja sigla é adotada no decorrer deste artigo.

Os primeiros mestrados em Turismo no Brasil surgiram na Universidade de São Paulo (São Paulo) e na Universidade do Vale do Itajaí (Balneário Camboriú), respectivamente em 1993 e 1997. Em estudo sobre a pós-graduação stricto sensu em TH&L no Brasil, Rejowski (2017)Rejowski, M. (2017). Pesquisa científica em turismo no Brasil: comunicação, produtividade e posicionamento – Fase 3 (2011 a 2015) (Relatório de Pesquisa – CNPQ). São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi. constatou que, entre 2011 e 2015, havia 13 cursos em atividade inseridos em oito programas, envolvendo mestrados e doutorados e alguns cursos interinstitucionais. Outros cursos foram criados posteriormente entre 2016 e 2020, evidenciando um crescimento dessa oferta com valorização no ambiente acadêmico. Dois desses programas se voltaram claramente à Hospitalidade: Hospitalidade da Universidade Anhembi, iniciado em 2002, e Turismo e Hospitalidade da Universidade de Caxias do Sul, a partir de 2015 com a alteração do seu programa de Turismo iniciado em 2001.

De um lado, tem-se a evolução dos mestrados e doutorados em TH&L e, de outro, a inclinação de alguns programas à perspectiva da Hospitalidade. Diante disso, desenvolveu-se a presente pesquisa qualitativa entre dois eixos de estudo bibliográfico e documental interdependentes. O primeiro enfoca a trajetória da pós-graduação stricto sensu no Brasil em TH&L, enquanto o segundo, trata da presença da Hospitalidade nos projetos iniciais dos doutorados na área a partir da década de 1990.

Neste artigo discorre-se sobre a metodologia a partir das etapas da pesquisa e estratégias adotadas, e apresentam-se os principais resultados da pesquisa subdivididos em dois itens: o primeiro, aborda o contexto da pós-graduação brasileira e discorre sobre a trajetória dos programas em TH&L; e, o segundo, trata dos doutorados em TH&L a partir da caracterização geral e da análise da Hospitalidade nas fontes bibliográficas das disciplinas. Considerando que a história dos programas de pós-graduação em Turismo e da Hospitalidade no País é precariamente registrada, este resgate poderá estimular ações para maior integração e contribuição entre os programas da área TH&L.

2 METODOLOGIA

Esta pesquisa possui natureza qualitativa, caráter descritivo quanto aos objetivos (Dencker, 2007Dencker, A. F. M. (2007). Pesquisa em turismo: planejamento, métodos e técnicas. Futura.), bibliográfica e documental quanto aos procedimentos (Veal, 2011Veal, A. J. (2011). Metodologia de pesquisa em lazer e turismo. Aleph.), centrada nos programas de pós-graduação em TH&L. Esses programas submetem projetos para a criação de novos mestrados e/ou doutorados à CAPES na forma de Apresentação de Propostas de Cursos Novos (APCN), os quais são avaliados e, se recomendados, são autorizados a funcionarem no País por esse órgão.

Por objetivo primário, buscou-se compreender as condições e a evolução dos programas de pós-graduação stricto sensu em TH&L no Brasil, ao lado da origem dos doutorados nessa área, mediante influências do estudo da Hospitalidade. Secundariamente, objetivou-se: a) descrever a evolução da pós-graduação stricto sensu nessa área inserida no contexto da pós-graduação brasileira; b) caracterizar os projetos APCN dos doutorados como um amadurecimento dos mestrados dos quais se originaram; c) identificar evidências da Hospitalidade nos projetos APCN dos doutorados em relação à terminologia e bibliografia; d) discutir as influências da Hospitalidade na concepção inicial desses cursos como fundamento para investigar futuramente a sua ocorrência na década de 2020.

Como hipóteses da pesquisa, sendo uma para cada eixo do estudo, têm-se: 1) a trajetória dos programas de pós-graduação stricto sensu em TH&L no Brasil é acompanhada da sua diversificação em direção aos setores da Hospitalidade, em especial, Eventos, Hotelaria e Gastronomia, e não como relação interpessoal envolvendo práticas e manifestações; 2) a concepção inicial dos doutorados em TH&L contempla, de alguma forma, o estudo da Hospitalidade, uma vez que cursos de pós-graduação com esse perfil podem apresentar maior potencial de aprofundamento e inovação.

A pesquisa se desenvolveu em quatro etapas, a partir de levantamento bibliográfico e de documentos oficiais, contatos com os (ex)coordenadores de programas, observações assistemáticas junto aos programas durante os últimos três decênios com registro em planilhas de anotação e análise qualitativa do tema Hospitalidade no conteúdo das APCN sem seguir um roteiro previamente definido, ou seja, cada etapa finalizada abriu uma nova possibilidade de investigação para a etapa seguinte. Adotou-se, então, um conjunto de quatro etapas e com os seus respectivos procedimentos, conforme descrito a seguir.

A primeira etapa baseou-se na construção do panorama evolutivo da pós-graduação e dos programas em TH&L a partir de bibliografia, documentos da CAPES disponíveis em sítios oficiais, arquivos de palestras e aulas, além de relatórios de pesquisa. Diante de dúvidas e lacunas desse panorama, contataram-se alguns ex-coordenadores por e-mail ou telefone. Para maior fluidez do texto, os tipos de cursos foram codificados com as seguintes abreviaturas: MA: Mestrado Acadêmico; MP: Mestrado Profissional; DA: Doutorado Acadêmico1 1 Até 2020 não havia a oferta de Doutorado Profissional em TH&L. ; MINTER: Mestrado Interinstitucional; DINTER: Doutorado Interinstitucional; PPG: Programa de Pós-Graduação. A essas abreviaturas aliou-se a sigla da instituição onde o curso é ofertado.

A segunda etapa consistiu em identificar os cursos de doutorado de Turismo, Hospitalidade e Lazer no Brasil e enviar e-mail aos seus respectivos coordenadores, explicando o objetivo da pesquisa e solicitando o arquivo dos projetos APCN. Apesar do período da pandemia no primeiro semestre de 2020 ter dificultado os contatos iniciais, todos os seis projetos solicitados foram disponibilizados pelos coordenadores.

Na terceira etapa, os projetos APCN foram caracterizados quanto às suas características formais e estruturais e analisados em suas aproximações com a Hospitalidade a partir da leitura integral das seções “Caracterização da proposta”, “Áreas de Concentração”, “Linhas de Pesquisa” e “Caracterização do curso”. Procedeu-se a caracterização geral desses cursos ao lado de noções e termos relacionados à Hospitalidade.

Dos seis projetos iniciais, apenas quatro apresentaram aproximações claras com a Hospitalidade (corpus de análise) e, com base na exploração do material realizada anteriormente, procedeu-se para uma quarta etapa utilizando a Análise de Conteúdo (Bardin, 2010Bardin, L. (2010). Análise de conteúdo. Edições 70.), pois observou-se a possibilidade de criar indicadores a partir das listas de referências bibliográficas apresentadas na seção “Disciplinas” dos projetos APCN. Para tanto, codificou-se as Unidades de Registro “nome dos autores” (contabilizados individualmente, mesmo em caso de referências bibliográficas com múltiplas autorias) e “título da obra referenciada” presentes nas Unidades de Contexto “Disciplinas”. Ao final do processo de codificação, esses conteúdos foram classificados por tipo de documento (livro, capítulo de livro, artigo em periódico e artigo completo em anais). O tratamento dos dados, com o uso do software MaxQDA, se deu a partir de enumeração dos segmentos codificados (frequência), gerando quadros sintéticos com a frequência em que autores e referências foram citados nos projetos APCN, além de coocorrência, que permitiu desenvolver mapas identificando relações entre os projetos APCN com base nas referências e autores (e as abordagens de Hospitalidade) compartilhados ou não entre as propostas dos doutorados em TH&L.

3 PÓS-GRADUAÇÃO EM TURISMO, HOSPITALIDADE E LAZER NO BRASIL

3.1 Contexto da pós-graduação stricto sensu

As origens da pós-graduação brasileira remontam ao modelo de cátedras instituído nas primeiras universidades na década de 1930, época em que vieram ao país professores europeus, em especial, franceses, em missões acadêmicas ou em fuga de seus países nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial (Balbachevsky, 2005Balbachevsky, E. (2005). A pós-graduação no Brasil: novos desafios para uma política bem-sucedida. In: C. Brock & S. Schwartzman (Orgs.). Os desafios da educação no Brasil. (pp. 275-304). Nova Fronteira.; Verhine, 2008Verhine, R. E. (2008). Pós-graduação no Brasil e nos Estados Unidos: Uma análise comparativa. Educação, 31(2), p. 166-172.). Nesse sistema, o treinamento era bastante informal e centrava-se no desenvolvimento da tese, sendo “o volume e o conteúdo das atividades acadêmicas a serem cumpridas pelo candidato antes da defesa” estabelecida pelo professor catedrático, assim como era ele quem “determinava quais questões e métodos de demonstração eram aceitos para uma dissertação e quais técnicas eram admissíveis para a pesquisa” (Balbachevsky, 2005Balbachevsky, E. (2005). A pós-graduação no Brasil: novos desafios para uma política bem-sucedida. In: C. Brock & S. Schwartzman (Orgs.). Os desafios da educação no Brasil. (pp. 275-304). Nova Fronteira., p. 277)

Conforme relata Santos (2002)Santos, C. M. (2002). Tradições e contradições da pós-graduação no Brasil. Educação & Sociedade, 24(83), p. 627-641. https://doi.org/10.1590/S0101-73302003000200016
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, em 1931 foi criado o Doutorado em Direito na Universidade do Rio de Janeiro e, em 1939, o doutorado na Faculdade Nacional de Filosofia na mesma universidade. Entretanto, havia pequena dimensão da pós-graduação no ensino superior e poucas cadeiras ofertavam essa “modalidade” como uma forma de treinamento. A pós-graduação apenas foi regulamentada como um nível após a graduação em 1965 com o Parecer 977, no qual o relator Newton Sucupira conceituou a pós-graduação stricto sensu com base em sua natureza acadêmica e de pesquisa, diferenciando o mestrado e o doutorado em dois níveis de formação contínuos (Balbachevsky, 2005Balbachevsky, E. (2005). A pós-graduação no Brasil: novos desafios para uma política bem-sucedida. In: C. Brock & S. Schwartzman (Orgs.). Os desafios da educação no Brasil. (pp. 275-304). Nova Fronteira.). Assim, criaram-se os primeiros doutorados em universidades prestigiadas como a USP, direcionados, inicialmente, aos integrantes da própria comunidade universitária (Verhine, 2008Verhine, R. E. (2008). Pós-graduação no Brasil e nos Estados Unidos: Uma análise comparativa. Educação, 31(2), p. 166-172.).

A alteração desse modelo ocorreu com a reforma da educação superior em 1968, a partir da proposta oriunda de uma comissão mista entre a Agência Norte-Americana de Desenvolvimento Internacional (USAID) e o Ministério da Educação do Brasil (Verhine, 2008Verhine, R. E. (2008). Pós-graduação no Brasil e nos Estados Unidos: Uma análise comparativa. Educação, 31(2), p. 166-172.) e em “mudanças organizacionais com base em elementos extraídos das universidades de pesquisa norte-americanas” (Hostins, 2006Hostins, R. C. L. (2006). Formação de pesquisadores na pós-graduação em educação: embates epistemológicos, dimensões ontológicas. (Tese de Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil., p. 136). Pretendeu-se deixar o modelo francês e ingressar no modelo americano, mediante a transformação das universidades em instituições de pesquisa estruturadas em departamentos, o que eliminou as cátedras e a figura do professor catedrático. Os programas de pós-graduação foram assegurados com a definição de que “os professores assistentes deveriam ter o grau de mestre e os adjuntos o de doutor”, o que levou a uma proliferação dos programas de pós-graduação no país. Tal modelo, assim como o americano, combinava “curso/crédito, exames e uma dissertação supervisionada”, mas não resultou em uma cópia exata desse modelo, mas sim, em um modelo híbrido com a mescla dos modelos americano e francês (Verhine, 2008Verhine, R. E. (2008). Pós-graduação no Brasil e nos Estados Unidos: Uma análise comparativa. Educação, 31(2), p. 166-172., p. 168).

Com a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que instituiu as novas diretrizes e bases da educação (Brasil, 1996), as universidades, em especial as privadas, tiveram que se adequar aos novos padrões para pleitear ou manter o seu status. Especificamente em relação ao corpo docente, um terço, no mínimo, deveria ter titulação de mestre ou doutor, além de ser contratado em regime de tempo integral. Isso parece justificar a expansão da pós-graduação na década de 1990, principalmente com a criação de cursos de mestrado nas universidades privadas, inclusive em Turismo (Rejowski, 2013Rejowski, M. (2013). Pesquisa científica em turismo no Brasil: comunicação, produtividade e posicionamento - Fase 2 (1990 a 2010) (Relatório de Pesquisa – CNPQ). São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi.).

Os cursos de pós-graduação stricto sensu no Brasil visam formar cientistas, professores e pesquisadores com aprofundamento cultural, científico e profissional, conferindo título e diploma. Apesar de serem escalonados, o mestrado não é requisito prévio obrigatório para o doutorado. Há dois tipos de mestrado: o acadêmico e o profissional. O doutorado era apenas acadêmico até 2017, quando foi instituído o doutorado profissional (Portaria 397, 2017Portaria Nº 389, de 23 de março de 2017. (2017). Dispõe sobre o mestrado e doutorado profissional [...]. Diário Oficial da União. Brasília: Ministério da Educação. Recuperado em jul. 4, 2020 de https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/24032017-portaria-no-389-de-23-de-marco-de-2017-pdf
https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-...
).

A avaliação dos programas é realizada pela CAPES, e busca medir a qualidade da pós-graduação no país tendo em vista o seu contínuo aprimoramento (Nicolato, 2000Nicolato, M. A. (2000). CAPES – estrutura e funcionamento do sistema de avaliação da Pós-Graduação stricto sensu. Brasília, DF: CAPES (Infocapes).). A primeira classificação dos cursos de pós-graduação foi feita em 1965, mas o sistema de avaliação somente foi implantando em 1976 e se consolidou a partir de 1980 (Patrus, Shigaki & Dantas, 2018Patrus, R., Shigaki, H. B., & Dantas, D. C. (2018). Quem não conhece seu passado está condenado a repeti-lo: distorções da avaliação da pós-graduação no Brasil à luz da história da Capes. Cadernos EBAPE.BR, 16(4), 642-655. https://doi.org/10.1590/1679-395166526
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). Em 1977, para obter dados primários, a CAPES instituiu um formulário, o relatório de pós-graduação, conduzindo as suas avaliações com periodicidade anual. Em 1980, foram incluídas as visitas bianuais de consultores aos cursos, sendo que, a partir de 1984, a avaliação passou a ser também bienal (Patrus et al., 2018Patrus, R., Shigaki, H. B., & Dantas, D. C. (2018). Quem não conhece seu passado está condenado a repeti-lo: distorções da avaliação da pós-graduação no Brasil à luz da história da Capes. Cadernos EBAPE.BR, 16(4), 642-655. https://doi.org/10.1590/1679-395166526
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). A primeira avaliação trienal aconteceu em 2001, passando a quadrienal após 2017 (CAPES, 2001Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (2001) Avaliação trienal 2001. Recuperado em ago. 15, 2020 de https://capes.gov.br/avaliacao/permanencia-no-snpg-avaliacao/avaliacoes-anteriores/91-conteudo-estatico/avaliacao-capes/6821-avaliacao-trienal-2001 .
https://capes.gov.br/avaliacao/permanenc...
; 2017Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (2017). Relatório da Avaliação Quadrienal 2017. Recuperado em ago. 19, 2020 de https://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/relatorios-finais-quadrienal-2017/20122017-Administracao-quadrienal.pdf
https://www.capes.gov.br/images/stories/...
)2 2 A primeira avaliação trienal (2001) aconteceu no triênio 1998-2000 e, a primeira avaliação quadrienal (2017), foi no quadriênio 2013-2016, conforme consulta a vários documentos desses períodos disponíveis no sítio da CAPES (www.capes.gov.br). . Com o crescimento da oferta de programas as visitas in loco se tornaram eventuais ou de caráter instrutivo e os formulários cada vez mais informatizados.

A avaliação dos programas de pós-graduação sempre foi baseada no julgamento dos pares da área (Castro & Soares, 1983Castro, C. M., & Soares, G. A. D. (1983). Avaliando as avaliações da Capes. Revista de Administração de Empresas, 23(3), 63-73. Recuperado em maio 10, 2020 de https://doi.org/10.1590/S0034-75901983000300007
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) mediante comissões de especialistas3 3 Em 2020, entrou em pauta a discussão sobre a redução das áreas de avaliação da CAPES. . Os programas são avaliados com notas entre 1 e 5 para os mestrados e entre 1 e 7 para os doutorados, com base em quesitos e indicadores. Além disso, os doutorados avaliados com nota mínima de 5 e os mestrados com nota mínima de 4 podem oferecer turmas temporárias de mestrados e doutorados interinstitucionais (MINTER e DINTER), a fim de possibilitar a formação de mestres e doutores em centros carentes dessa formação, conforme Portaria 243 (CAPES, 2019Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (2019). Portaria nº 243, de 5 de novembro de 2019. Regulamenta [...]. Brasília, DF: Diário Oficial da União (pp. 14-15), seção 1. Recuperado em ago. 18, 2020 de http://cad.capes.gov.br/ato-administrativo-detalhar?idAtoAdmElastic=2822
http://cad.capes.gov.br/ato-administrati...
).

Dados coletados em maio de 2020 sobre os cursos e programas de pós-graduação na Plataforma Sucupira da CAPES, mostravam 7.060 cursos inseridos em 4.647 programas de todas as áreas de conhecimento, dos quais 182 programas eram da área de Administração e 11 da área de Turismo. Observou-se a baixa representatividade dos programas e cursos de Turismo (0,2% dos cursos e dos programas) comparados a todas as áreas e em Administração (5,6% dos programas e 6% de cursos).

3.2 Trajetória da pós-graduação em TH&L

O Quadro 1 apresenta a cronologia de abertura dos mestrados e doutorados no País no período de 1993 a 2021, com a data de início, situação (data de término ou ativo), abreviatura, sigla do estado e área de avaliação da CAPES. Mas, essa história é marcada por fatos que se iniciaram na década de 1980.

Quadro 1
Programas de pós-graduação stricto sensu em TH&L – Brasil (1990-2021)

O primeiro curso de pós-graduação stricto sensu em Turismo no Brasil surgiu na USP, a partir da titulação de docentes do curso de graduação em Turismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA), primeiramente como mestres e, depois, como doutores que buscavam progredir em suas carreiras acadêmicas. A partir da década de 1980, paulatinamente, esses docentes passaram a oferecer disciplinas no programa de pós-graduação em Ciências da Comunicação com foco em temas turísticos tratados em suas teses de doutorado (Rejowski, 2013Rejowski, M. (2013). Pesquisa científica em turismo no Brasil: comunicação, produtividade e posicionamento - Fase 2 (1990 a 2010) (Relatório de Pesquisa – CNPQ). São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi.).

No final dos anos de 1980, o programa incluiu uma linha de pesquisa em Turismo e Lazer que contava com mestrado e doutorado. Essa linha de pesquisa originou, no início dos anos de 1990, o primeiro curso de pós-graduação na área: o Mestrado em Turismo e Lazer (Rejowski, 2013Rejowski, M. (2013). Pesquisa científica em turismo no Brasil: comunicação, produtividade e posicionamento - Fase 2 (1990 a 2010) (Relatório de Pesquisa – CNPQ). São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi.), aprovado no final de 1991 (Beni, 2013Beni, M. C. (2013). Gênese do curso de turismo da ECA-USP. In: D. C. Braga (Org.). 40 anos de turismo na ECA: memórias e análises. (pp. 27-32). São Paulo: ECA-USP.) e iniciado, efetivamente, em 1993 (Rejowski, 2013Rejowski, M. (2013). Pesquisa científica em turismo no Brasil: comunicação, produtividade e posicionamento - Fase 2 (1990 a 2010) (Relatório de Pesquisa – CNPQ). São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi.). Seu pioneirismo é descrito da seguinte forma:

Em 25/12/1991 tivemos um radiante presente de Natal: o Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Turismo e Lazer foi aprovado [...], era o primeiro do Brasil. Alunos de todo o país e alguns bolsistas do exterior começaram a chegar, pois era também o primeiro da América Latina

(Beni, 2016Beni, M. C. (2016). História e trajetória dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Turismo na Universidade de São Paulo – USP. Revista Turismo & Desenvolvimento, 26, p. 179-183., p. 182).

A avaliação trienal 1998-2000 da CAPES recomendou que o programa de Ciências da Comunicação abrangesse apenas as linhas de pesquisa referentes à Comunicação Social, liberando as linhas relacionadas à Ciência da Informação e ao Turismo para que formassem programas separados (CAPES, 2001Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (2001) Avaliação trienal 2001. Recuperado em ago. 15, 2020 de https://capes.gov.br/avaliacao/permanencia-no-snpg-avaliacao/avaliacoes-anteriores/91-conteudo-estatico/avaliacao-capes/6821-avaliacao-trienal-2001 .
https://capes.gov.br/avaliacao/permanenc...
). Ao contrário da Ciência da Informação, o Turismo não conseguiu se constituir em um programa autônomo e a última defesa encerrou as atividades da linha de pesquisa (Beni, 2016Beni, M. C. (2016). História e trajetória dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Turismo na Universidade de São Paulo – USP. Revista Turismo & Desenvolvimento, 26, p. 179-183.).

Paralelamente, as universidades que ofertavam cursos de graduação em Turismo, em especial as instituições privadas, começaram a criar seus mestrados para titular parte de seu corpo docente e atender os padrões do MEC (Rejowski, 2013Rejowski, M. (2013). Pesquisa científica em turismo no Brasil: comunicação, produtividade e posicionamento - Fase 2 (1990 a 2010) (Relatório de Pesquisa – CNPQ). São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi.). Assim, foram criados os cursos de mestrado: MA-UNIVALI em 1997, MA-UNIBERO em 1998, MA-UESC/UFBA4 4 Programa da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). , MA-UCS em 2001 e MA-UAM em 2002. Desses, o programa da UNIBERO não foi recomendado e suspendeu suas turmas em meados da década de 2000. Anos mais tarde, o mestrado da UESC/UFBA não manteve a recomendação da CAPES na avaliação trienal de 2010 e teve suas atividades encerradas.

Importa citar que, na década de 1990, era comum as universidades abrirem programas de pós-graduação stricto sensu e depois solicitarem a sua recomendação junto aos órgãos competentes. O programa da UNIBERO procedeu dessa forma, porém não obteve a recomendação do seu mestrado pela CAPES, impetrando recursos sucessivos por vários anos, inclusive, com turmas finalizadas e dissertações defendidas. Em uma busca nos pareceres do Conselho Nacional de Educação referentes a essa questão, localizou-se os pareceres CNE/CES 279/2009Parecer CNE/CES nº 279/2009. (2009). Convalidação de estudos [...]. Brasília, DF: Conselho Nacional de Educação. Recuperado em jul. 14, 2020 de http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1597-pces279-09-pdf&category_slug=documentos-pdf&Itemid=30192
http://portal.mec.gov.br/index.php?optio...
e 87/2017, homologados pelo Ministério da Educação, que convalidaram nacionalmente os estudos e os títulos de Mestre em Turismo de 105 alunos e de um aluno, respectivamente, concluintes entre 2001 e 2003 desse programa.

Vale mencionar que o PPG-UNIVALI criado em 1997, segundo informações orais da sua coordenadora na época, Dra. Doris Ruschmann, teve que ser reconhecido pela Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina e pela CAPES nos seus primeiros anos e, depois, essa Secretaria passou a considerar apenas a avaliação da CAPES.

Assim, também ocorreu com o MP-UECE, criado em 2000. Conforme o seu coordenador na época, Dr. Fábio Perdigão, havia o entendimento, com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, de que a recomendação poderia ser feita pelos Conselhos Estaduais de Educação após o início de funcionamento dos cursos. No entanto, isso foi revisto em 2006, quando as turmas daquele mestrado foram suspensas e solicitou-se a autorização junto à CAPES, mas a recomendação não foi obtida. Em 2011, uma nova proposta do MAP-UECE foi submetida e recomendada pela CAPES, tendo início em 2012. Aos alunos do programa anterior ofereceu-se a possibilidade de ingresso no novo programa para validação dos seus estudos, atualização e defesa das suas dissertações, a fim de receberem suas titulações.

Ainda na década de 2000, foram criados quatro mestrados, sendo um deles profissional, além de um doutorado. Em 2004, surgiu o MA-UNA, com uma proposta inovadora e Turismo e Meio Ambiente, com parte do corpo docente oriundo da UFMG. Em 2007, foi criado o MP-UnB, o primeiro na modalidade profissional da área, e o MP-UFMG, o primeiro em Lazer no Brasil. Em 2008, surgiu o MA-UFRN, o primeiro na região Nordeste. Dois desses programas não foram recomendados pela CAPES na avaliação: o MA-UNA em 2010 e o MP-UnB em 2017.

Em 2007, houve uma importante iniciativa na UNIVALI “de integrar os mestrados de Turismo e Hotelaria e de Administração, o que proporcionou a oportunidade de se criar o Programa de Doutorado em Administração e Turismo” (Ruschmann, 2017Ruschmann, D. M. (2017). 20 Anos do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria. Revista Turismo - Visão e Ação, 19(3). https://doi.org/10.14210/rtva.v19n3.p425-429
https://doi.org/10.14210/rtva.v19n3.p425...
, p. 427), com três áreas de concentração: uma focada em Administração (Estratégia, gestão e sociedade), outra em Turismo (Turismo: espaço e sociedade) e outra abrangendo os dois eixos (Organizações e sociedade). Em 2018, esse doutorado foi reformulado com a abertura de dois doutorados autônomos, um em Administração e outro em Turismo e Hotelaria, consolidando os mestrados que lhe deram origem.

Na década de 2010, os cursos foram ampliados. Havia, então, sete doutorados, sendo um DINTER, sete mestrados acadêmicos, sendo dois MINTER e quatro mestrados profissionais. Na segunda metade da década de 2010, iniciou-se o primeiro programa de pós-graduação em Turismo de um Instituto Federal de Educação e o primeiro em Gastronomia em uma universidade pública; e em agosto de 2021, teve início o programa interdisciplinar em Turismo e Patrimônio da Universidade Federal de Ouro Preto, sendo o primeiro mestrado em Turismo no Estado de Minas Gerais

Dois programas alteraram a sua denominação: o PPG-UFMG, de Lazer para Estudos do Lazer e o PPG-UCS, de Turismo para Turismo e Hospitalidade. Apesar do PPG-UAM existir desde 2002 e do PPG-UFMG estar ativo desde 2007, não houve expansão de cursos de pós-graduação stricto sensu nessas duas áreas no Brasil. Além disso, embora a graduação de Eventos exista desde 2002, não surgiram ainda ofertas de mestrado acadêmico ou profissional nessa área.

Finaliza-se o período com 14 programas vinte cursos de pós-graduação ativos, sendo seis doutorados, 11 mestrados acadêmicos e três mestrados profissionais (excluídos os interinstitucionais), com maior concentração na região Sudeste (nove), seguida pelas regiões Nordeste (seis) e Sul (cinco), a maioria avaliados na área de Administração da CAPES. Os três MINTER e DINTER contemplaram a região Norte e Nordeste em estados carentes da pós-graduação na área. Apesar da aprovação de regulamentação dos doutorados profissionais, estes ainda não figuram na oferta da pós-graduação em TH&L no País até 2021.

4 DOUTORADOS EM TURISMO, HOSPITALIDADE E LAZER

4.1 Caracterização dos doutorados

Considerando que os mestrados ativos em Turismo, Hospitalidade e Lazer no Brasil surgiram a partir de 1997, causou surpresa que somente após 16 anos tenha sido criado o primeiro doutorado. Tal fato pode ser explicado pela demora na obtenção do conceito 4 na avaliação da CAPES (Quadro 2), condição essencial para a criação de um doutorado. A maioria dos programas da área foram aprovados com conceito inicial “Regular” (nota 3), com exceção dos PPG-UFMG e PPG-UFRN, avaliados como “Bom” (nota 4). Cita-se que o PPG-UFRN que iniciou sua primeira turma em 2008, teve o seu conceito rebaixado para “Regular” na avaliação de 2007-2009, o que é questionável, pois, na época, não tinha completado o triênio. Notou-se a evolução do PPG-UNIVALI e do PPG-UFMG na conquista de conceitos “Bom” e “Muito Bom” nas avaliações da CAPES, sendo os programas mais bem avaliados em TH&L.

Quadro 2
Avaliações da CAPES dos Programas de Pós-Graduação stricto sensu com Doutorados em TH&L

No entanto, o grande marco da evolução dos programas foi a avaliação trienal de 2013, referente ao triênio 2010-2012, período em que, além do PPG-UNIVALI ter mantido sua liderança ao lado do PPG-UFMG, que também obteve o conceito “Muito Bom” (nota 5) e teve seu projeto de doutorado recomendado, outros três programas alcançaram o conceito “Bom” (nota 4) – PPG-UAM, PPG-UCS e PPG-UFRN –, e criaram seus doutorados nos anos seguintes. Na avaliação trienal de 2017, o PPG-USP obteve a nota 4 e abriu o seu doutorado em 2018.

A consulta às APCN mostrou que a criação dos doutorados era sustentada, sinteticamente, além da formação de profissionais, docentes e pesquisadores, pelos seguintes fatores: a) complexidade e relevância do fenômeno turístico, das atividades dele decorrentes (DA-UFRN e DA-USP); b) implicações do turismo no desenvolvimento social e econômico nacional (PPG-UNIVALI); c) geração e difusão de conhecimento científico inovador e de qualidade (DA-UFRN); d) retroalimentação entre as áreas do Turismo e da Hospitalidade (DA-UCS); e) priorização do anfitrião nos estudos da hospitalidade para além dos aspectos turísticos (DA-UAM); f) realização de pesquisas interdisciplinares sobre o lazer para preencher uma lacuna de formação de profissionais e acadêmicos (DA-UFMG); g) carência de formação nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste (DA-UCS, DA-USP e DA-UFRN). Duas visões iniciais sobre a Hospitalidade na caracterização dos doutorados dos PPG-UCS e DA-UAM merecem destaque:

[...] a hospitalidade torna-se [...] um fenômeno a ser estudado na confluência de diferentes áreas do conhecimento e sob diferentes enfoques, como, por exemplo, na ótica do anfitrião, do hóspede, das representações sociais que a sociedade ou os grupos sociais [...] têm a respeito do que são hospedeiros, anfitriões, lugares hospitaleiros e de como deveriam ser acolhidos estranhos e turistas. Em outras palavras: requer que sejam aprofundadas as reflexões de como, no âmbito da hospitalidade, se dá a passagem do hostis para hospes

(UCS, 2014Universidade de Caxias do Sul. (2014). Proposta de criação de curso de doutorado em Turismo e Hospitalidade. Caxias do Sul, RS: Pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação., p. 33).

[...] os estudos em hospitalidade cumprem com seu objetivo de ampliar sua abrangência para outros aspectos, além da infraestrutura hoteleira e mesmo da infraestrutura urbana, possibilitando o avanço para outras dimensões e contextos da Hospitalidade, bem como sua aplicação na competitividade em serviços. [...]. Tal abordagem de hospitalidade, com a pesquisa avançada para compreender e obter indicadores para mensurar a inserção do outro [...] a uma comunidade já existente [...], com consequentes aplicações [...] respalda os projetos de pesquisa [...]

(UAM, 2014Universidade Anhembi Morumbi. (2014). Proposta de criação de curso de doutorado em Hospitalidade. São Paulo: Pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação., p. 6).

Ao analisar a presença de termos relacionados à Hospitalidade nos objetivos e perfis dos egressos dos doutorados, constatou-se que: a) DA-UNIVALI: sem relação; b) DA-UFRN: relação indireta no perfil do egresso (cidadania e qualidade de vida); c) DA-USP: relação direta (paradigmas da socialização das responsabilidades e hospitalidade) nos objetivos e indireta no perfil do egresso (melhoria coletiva da vida); d) DA-UCS: relação direta nos objetivos (hospitalidade) e no perfil do egresso (ética e hospitalidade); e) DA-UAM: relação direta nos objetivos (hospitalidade); e f) DA-UFMG: relação indireta nos objetivos (cidadania, inclusão e responsabilidade social).

Considerando que um crédito equivale a 15 horas, notou-se o menor número de créditos no DA-UFRN (36), seguido pelo DA-UFMG (38), DA-UAM (48), DA-UNIVALI (48), DA-UCS (50) e DA-USP (192), distribuídos em disciplinas, tese e outras atividades (seminários, aprovação de artigos e atividades programadas ou complementares). A oferta inicial de vagas também variou de cinco (DA-UCS, DA-UNIVALI) a 13 (DA-UFRN), sendo que as três universidades privadas com os programas mais antigos ofereceram, inicialmente, menos vagas anuais (cinco no DA-UCS, cinco no DA-UNIVALI e oito no DA-UAM) do que as três universidades públicas (10 no DA-USP, 11 no DA-UFMG e 13 no DA-UFRN). O Quadro 3 lista as áreas de concentração e as linhas de pesquisa dos doutorados em TH&L, de acordo com os seus projetos APCN.

Quadro 3
Características gerais dos doutorados em TH&L

Nos DA-UNIVALI, DA-UFRN, DA-USP e DA-UCS, notou-se a ênfase em desenvolvimento e gestão do turismo, presentes na área de concentração e/ou nas linhas de pesquisa, além de planejamento, inovação e tendências, o que indica claramente a visão econômica e administrativa do Turismo. No DA-UAM, uma área de concentração abrangente da Hospitalidade, foi desdobrada em estudos sociais e de gestão que abarcam processos e práticas em contextos turísticos. O DA-UCS, seguiu a área de concentração no desenvolvimento regional do turismo, e as suas linhas de pesquisa denotam preocupações com sustentabilidade, cultura e educação. Cultura e Educação também compõem a área de concentração do DA-UFMG, que enfocou o lazer em suas linhas voltadas à sociedade, história, memória, formação, atuação e políticas. Ainda ficou clara a concepção da Hospitalidade no DA-UCS inserida no campo de estudo do Turismo, pois, na sua área de concentração e linhas de pesquisa não foi usado o termo “hospitalidade”. Ao contrário, no DA-UAM, a palavra “turismo” não é mencionada na sua área de concentração e linhas de pesquisa, reforçando o estudo da Hospitalidade para além do Turismo.

4.2 Hospitalidade nas fontes bibliográficas das disciplinas

Diante dos resultados expostos no item 4.1, buscaram-se outras evidências sobre a influência da hospitalidade nos projetos APCN dos doutorados com base nas referências bibliográficas elencadas nas disciplinas. Essa fonte de dados possibilitou a análise de autores e obras vinculados ao estudo da hospitalidade e o compartilhamento desses autores entre os programas das instituições.

4.2.1 Autores e obras

Dos seis projetos iniciais de doutorado (APCN), o DA-UNIVALI e o DA-UFMG foram excluídos da análise das referências bibliográficas disponíveis na seção “Disciplinas”, pois não apresentaram obras aderentes ao conceito de Hospitalidade adotado neste artigo ou não utilizaram termos definidos no Tesauro Brasileiro de Turismo (Rejowski, 2018Rejowski, M. (2018). Tesauro brasileiro de turismo. ECA-USP. https://doi.org/10.11606/9788572051934
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) relacionados à Hospitalidade ao longo de todo o projeto. Assim, na seção “Disciplinas” dos DA-UCS, DA-USP, DA-UAM e DA-UFRN foram identificados no total: 61 autores citados 178 vezes e 91 referências bibliográficas citadas 133 vezes, sendo as referências, em sua maioria, livros (43,61%) e artigos (38,35%), em detrimento de capítulos de livro (13,53%), dissertações e teses (3,01%) ou artigos de evento (1,50%). Particularmente, em relação aos artigos de periódicos brasileiros, destacaram-se a Revista Hospitalidade, Turismo em Análise e a Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo. Dentre os periódicos internacionais, os mais frequentes foram Hospitality & Society, Communications (edição 65 – Hospitalité), Estudios y Perspectivas en Turismo, International Journal of Contemporary Hospitality Management e Journal of Hospitality Management.

A análise de conteúdo priorizou a frequência com que determinado autor ou obra foi citada nos projetos. Se um projeto apresentasse o mesmo autor ou referência em uma ou mais disciplinas, isso significa que seriam contabilizados pelo número de vezes. O mesmo processo foi utilizado na contagem para caracterizar o tipo do documento. Para capítulos de livro, considerou-se somente o(s) autor(es) do capítulo, sem contabilizar o organizador/editor da obra. Adequações nos títulos das referências e nomes de autores foram frequentes, pois, a maioria dos projetos, demonstraram pequenos erros de digitação ou citação das obras.

Os autores mais citados nos projetos foram Conrad Lashley (12), Isabel Baptista (11), Alison Morrison (10), Luiz Octávio Camargo (10) e Marielys Bueno (9). A quantidade de autores citados mais de duas vezes (61) foi quase a mesma que a frequência de autores com apenas uma citação (60). A Tabela 1 relaciona os autores citados no mínimo duas vezes nas bibliografias das disciplinas dos quatro doutorados em análise.

Tabela 1
Autores citados nas bibliografias das disciplinas dos doutorados dos projetos APCN em TH&L

Considerando os cinco autores mais citados (Conrad Lashley, Isabel Baptista, Alison Morrison, Luiz Octávio Camargo e Marielys Bueno), destacam-se as contribuições de cada um para a área de Hospitalidade e razão pela possível aderência às propostas analisadas. Conrad Lashley, em parceria com outros estudiosos nas obras “Em busca da Hospitalidade” (Lashley & Morrison, 2004Lashley, C., & Morrison, A. (Orgs.). (2004). Em busca da hospitalidade. Manole.) e “Hospitality: a social lens” (Lashley, Lynch, & Morrison, 2007Lynch, P., Germann Molz, J., McIntosh, A., Lugosi, P., & Lashley, C. (2011). Theorising hospitality. Hospitality and Society, 1(1), p. 3–24. https://doi.org/10.1386/hosp.1.1.3_2
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), tornou-se a principal referência para a corrente de Hospitalidade anglo-saxã. Esse autor atuou como professor em renomados cursos de hotelaria com ênfase em gestão, principalmente no Reino Unido e na Holanda. Alison Morrison, também com atuação no Reino Unido, é referência no ensino da gestão hoteleira.

Isabel Baptista, docente da área de Pedagogia Social na Universidade Católica Portuguesa e advinda da Filosofia da Educação, aborda a questão do acolhimento humano sob uma perspectiva relacional que foi a pedra basal para a compreensão da Hospitalidade de forma mais dinâmica e ampla. Sua parceria com o início do PPG-UAM gerou obras (Baptista, 2005Baptista, I. (2005). Para uma geografia de proximidade humana. Revista Hospitalidade, 2(2), p. 11-22.; 2008Baptista, I. (2008) Hospitalidade e eleição intersubjectiva: sobre o espírito que guarda os lugares. Revista Hospitalidade. 5(2), p. 5-14.) que garantiram o “tom” conceitual do desse programa. Após trocas com os docentes do PPG-UAM, a autora produziu textos que colocaram o Turismo na pauta da Hospitalidade, o que pode ter influenciado a sua aproximação ao DA-UCS. Este PPG é o único que apresenta a vertente do desenvolvimento docente, com uma disciplina específica de “Práticas Didático-Pedagógicas em Turismo”. Entretanto, é na disciplina “Turismo e Hospitalidade” do projeto APCN do DA-UCS que a obra de Isabel Baptista aparece com um maior número de referências. Pela sua obra, os autores brasileiros são convidados a conhecer mais os estudos de filósofos, principalmente, Emmanuel Lévinas e Jaques Derrida, cujos trabalhos foram apropriados pelos estudos da Hospitalidade. Atualmente, a autora continua colaborando ativamente com ambos os programas (PPG-UAM e PPG-UCS), por meio de coorientações e pesquisas.

O quarto autor mais citado, Luiz Octávio de Lima Camargo, ex-docente do PPG-UAM, é considerado a maior referência teórica na abordagem brasileira de Hospitalidade, devido às suas contribuições fundamentais para o desenvolvimento dos primeiros conceitos de Hospitalidade no país, que incorporam, principalmente, os autores da corrente francesa e do movimento antiutilitarista das ciências sociais (M.A.U.S.S)5 5 M.A.U.S.S. - Mouvement antiutilitariste dans les sciences sociales, homenageia o sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss e foi fundado em 1981 por Alain Caillé aliando estudiosos principalmente franceses contrários ao utilitarismo nas ciências sociais e na sociedade. La Revue du M.A.U.S.S. é uma revista interdisciplina e fonte de debates sociais. . Duas de suas obras são as mais relevantes: “Hospitalidade” (2004), com conceitos iniciais e aplicados ao turismo (com pouca profundidade teórica sobre Hospitalidade, mas com a força necessária para implantar esses conceitos para uma audiência maior) e o artigo “A pesquisa em Hospitalidade” (2008), que apresenta os principais desafios da pesquisa na área após a vivência inicial no PPG-UAM.

O quinto autor mais citado é Marielys Siqueira Bueno, ex-docente também do PPG-UAM, com formação em sociologia e antropologia, com os livros “Hospitalidade no jogo das relações sociais” (Bueno, 2008Bueno, M. S. (Org.). (2008). Hospitalidade no jogo das relações sociais. Vieira.) e “Hospitalidade: cenários e oportunidades” (Dencker & Bueno, 2003Dencker, A. F. M., & Bueno, M. S. (Org.). (2003). Hospitalidade: cenários e oportunidades. Pioneira Thomson Learning.). Em um período em que o país ainda possuía uma escassa literatura sobre o tema, tais livros foram importantes referências para os programas em análise.

Com relação às obras de Hospitalidade mais citadas na bibliografia das disciplinas (Tabela 3), destacaram-se duas: “Hospitalidade: Perspectivas para um Mundo Globalizado” (Lashley & Morrison, 2004Lashley, C., & Morrison, A. (Orgs.). (2004). Em busca da hospitalidade. Manole.) e “Da Hospitalidade” (Derrida, 2003Derrida, J. (2003). Anne Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar da hospitalidade. Escuta.), respectivamente representativas das abordagens anglo-saxã e dos filósofos. Tais obras foram adotadas nos programas como referenciais, mesmo após mais de dez anos das suas primeiras edições traduzidas em português e publicadas no Brasil.

Entre as referências citadas mais de duas vezes nessa tabela, alguns autores aparecem com mais de uma obra, como é o caso de Isabel Baptista (2005Baptista, I. (2005). Para uma geografia de proximidade humana. Revista Hospitalidade, 2(2), p. 11-22.; 2008Baptista, I. (2008) Hospitalidade e eleição intersubjectiva: sobre o espírito que guarda os lugares. Revista Hospitalidade. 5(2), p. 5-14.; Santos & Baptista, 2014Santos, M. M. C., & Baptista, I. (Orgs.). (2014). Laços sociais: por uma epistemologia da hospitalidade. EDUCS.) e Anne Gotman (1997Godbout, J., & Caillé, A. (1997). O Espírito da dádiva. Instituto Piaget.; 2004Gotman, A. (2004). Villes et hospitalité. Les municipalités et leurs «étrangers». Paris: Éditions de la Maison des Sciences de l'Homme. https://doi.org/10.4000/books.editionsmsh.806
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; 2008)Gotman, A. (2008). O turismo e a encenação da hospitalidade. In M. Bueno, & L. O. L. Camargo. (Orgs.). Cultura e consumo: estilos de vida na contemporaneidade (pp. 115-134). Senac São Paulo., Luiz Octávio Camargo (2004Camargo, L. O. L. (2004). Hospitalidade. Aleph.; 2008)Camargo, L. O. L. (2008). A pesquisa em hospitalidade. Revista Hospitalidade. 5(2), 15-51. https://doi.org/10.7784/rbtur.v15i2.2112
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, Marielys Bueno (Dencker & Bueno, 2003Dencker, A. F. M., & Bueno, M. S. (Org.). (2003). Hospitalidade: cenários e oportunidades. Pioneira Thomson Learning.; Salles, Bueno, & Bastos, 2010Salles, M. D. R. R., Bueno, M. S., & Bastos, S. (2010). Desafios da pesquisa em hospitalidade. Revista Hospitalidade, 7(1), p. 3-14.), Maximiliano Korstanje (2010Korstanje, M. (2010). Las formas elementales de la hospitalidad. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 2(2), 86-111. https://doi.org/10.7784/rbtur.v4i2.325
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; 2011)Korstanje, M. (2011). Reciprocity, Hospitality and Tourism: An examination of Marshal Sahlins´s contributions. European Journal of Tourism, Hospitality and Recreation, 2(2), p. 89-103., além de Conrad Lashley e Alisson Morrison (Lashley & Morrison, 2004Lashley, C., & Morrison, A. (Orgs.). (2004). Em busca da hospitalidade. Manole.; Lashley et al., 2007Lashley, C., Lynch, P., & Morrison, A. (Eds.). (2007). Hospitality: a social lens. Amsterdã: Elsevier.) e Jacques Derrida (1999Derrida, J. (1999). Manifeste pour l´hospitalité. Paris: Éditions Paroles d´Aube.; 2003)Derrida, J. (2003). Anne Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar da hospitalidade. Escuta.. Outros 19 autores tiveram mais de uma obra citada somente uma vez.

Poucos autores internacionais foram citados mais de uma vez nos projetos. Entre eles estão Conrad Lashley, Alisson Morrison, Anne Gotman, Isabel Baptista, Peter Lugosi, Maximiliano Korstanje e Jacques Derrida. Acredita-se que outros autores estrangeiros poderão figurar na evolução dos doutorados, em especial, nos artigos de dois periódicos especializados sobre o assunto – Revista Hospitalidade, editada desde 2007, e Hospitality & Society, editada desde 2011, permitindo trocas de conhecimento mais efetivas da produção científica em Hospitalidade nos cenários nacional e do exterior. Adicionalmente, observou-se que as obras foram publicadas, em sua maioria, entre o final da década de 1990 e meados de 2010, o que se justifica por conta do ano de proposição de três cursos entre 2014 (DA-UFRN) e 2015 (DA-UAM e DA-UCS).

Tabela 2
Obras citadas nas bibliografias das disciplinas dos projetos de doutorado em TH&L

4.2.2 Compartilhamento de autores

Feita a caracterização geral das obras citadas nos quatro projetos que contemplavam a Hospitalidade em suas bibliografias, analisou-se cada um deles. No DA-USP, 11 autores foram citados e dois se destacaram: Conrad Lashley (3) e Luiz Octávio Camargo (2); e 13 obras foram citadas, todas apenas uma vez. O DA-UFRN citou dez autores, sendo Marielys Bueno a única citada duas vezes. Dez obras foram citadas apenas uma vez.

Os DA-UCS e DA-UAM evidenciaram maior aproximação com autores que abordam a Hospitalidade. O PPG-UCS citou 22 autores, dos quais os mais referenciados foram: Marcia Cappelano dos Santos (seis); Isabel Baptista (seis); Maximiliano Korstanje (cinco); Luiz Octávio Camargo (cinco); Olga Perazzolo (quatro); Siloe Pereira (quatro); e Jacques Derrida (quatro). Um total de 32 obras foram citadas pelo menos uma vez. As seguintes obras receberam mais de uma citação: Santos e Baptista (2014)Santos, M. M. C., & Baptista, I. (Orgs.). (2014). Laços sociais: por uma epistemologia da hospitalidade. EDUCS., Korstanje (2010Korstanje, M. (2010). Las formas elementales de la hospitalidad. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 2(2), 86-111. https://doi.org/10.7784/rbtur.v4i2.325
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; 2011)Korstanje, M. (2011). Reciprocity, Hospitality and Tourism: An examination of Marshal Sahlins´s contributions. European Journal of Tourism, Hospitality and Recreation, 2(2), p. 89-103., Derrida (1999Derrida, J. (1999). Manifeste pour l´hospitalité. Paris: Éditions Paroles d´Aube.; 2003)Derrida, J. (2003). Anne Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar da hospitalidade. Escuta. e Lévinas (1988)Lévinas, E. (1988). Ética e infinito. Edições 70..

No DA-UAM, foram contabilizados 48 autores e 57 obras. Entre os autores mais citados estão Conrad Lashley (oito), Alison Morrison (oito), Anne Gotman (sete), Elizabeth Wada (cinco), Isabel Baptista (cinco), Peter Lugosi (cinco), Marielys Bueno (cinco) e Senia Bastos (cinco). Por sua vez, as obras mais citadas foram: Lashley e Morrison (2004)Lashley, C., & Morrison, A. (Orgs.). (2004). Em busca da hospitalidade. Manole. (cinco), Lashley et al. (2007)Lashley, C., Lynch, P., & Morrison, A. (Eds.). (2007). Hospitality: a social lens. Amsterdã: Elsevier. (três) e Gotman (2004)Gotman, A. (2004). Villes et hospitalité. Les municipalités et leurs «étrangers». Paris: Éditions de la Maison des Sciences de l'Homme. https://doi.org/10.4000/books.editionsmsh.806
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(três). Outras sete obras foram citadas duas vezes.

Esses resultados ilustram uma preferência por determinados autores e obras referenciais em detrimento de outros, que aparecem apenas esporadicamente. Também, face à escassez de PPG em TH&L no País, privilegiam-se as produções do próprio corpo docente dos programas, como é o caso de Marcia Cappelano dos Santos e Olga Perazzolo no DA-UCS, Luiz Octávio Camargo no PPG-USP e Elizabeth Wada, Luiz Octávio Camargo, Marielys Bueno e Senia Bastos no DA-UAM. Este fato, possivelmente, se deve à quantidade de cursos de doutorado em TH&L no País e, consequentemente, de pesquisadores experientes e especializados em Hospitalidade.

Quanto às citações de dissertações e teses, apenas o DA-USP e o DA-UAM utilizaram pesquisas provenientes das respectivas universidades. O DA-USP fez menção à tese de doutorado de Valéria Ferraz (2013)Ferraz, V. D. S. (2013). Hospitalidade urbana em grandes cidades. São Paulo em foco. (Tese de doutorado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. defendida em outro programa - Arquitetura e Urbanismo. Já o DA-UAM citou as dissertações de Roberta Leme Sogayar (2010)Sogayar, R. L. (2010). Hospitalidade no ensino superior em turismo: estudo de caso do programa Tourism Education Future Iniciatives. (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-graduação em Hospitalidade., Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. e Valéria Luiza Ferreira Fedrizzi (2008)Fedrizzi, V. L. F. (2008). O conhecimento gerado no Programa de Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi-Morumbi–UAM. (Dissertação de mestrado). Programa de pós-graduação em Hospitalidade., Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil.. Também merece destaque a dissertação de Biagio Avena (2002)Avena, B. M. (2002). Turismo, educação e acolhimento de qualidade: transformação de hostis a hospes em Ilhéus, Bahia. (Dissertação de mestrado). Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia/Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA, Brasil., defendida pelo extinto programa de MA-UESC, citada no DA-UAM. Esse trabalho foi publicado posteriormente como livro, o qual é citado também no DA-UCS.

Figura 1
Obras e autores compartilhados nas bibliografias das disciplinas dos projetos de doutorado em TH&L

A Figura 1 representa somente os autores citados em mais de um projeto APCN de doutorado. Os projetos estão representados pelas logomarcas das instituições e as linhas mostram a ligação entre autor e instituição, indicadas por cores da seguinte forma: UCS - azul; UAM - verde; USP - amarelo; UFRN – preto. As imagens simbolizadas pelo ícone de “arquivo” destacam as obras que foram compartilhadas pelas respectivas instituições que citaram os seus respectivos autores. Alguns autores, como Anne Gotman, Emmanuel Lévinas e Marcel Mauss, não apresentam “arquivo”/obras, pois foram citados por mais de uma instituição, mas com obras diferentes.

Percebe-se pelos dados dessa figura que o compartilhamento de autores referenciais é maior entre algumas instituições, possivelmente, devido à proximidade do conceito de Hospitalidade assumido nos projetos dos doutorados, à ótica adotada neste artigo e às disciplinas selecionadas para discussão. Dois APCN conceberam somente uma disciplina voltada, especificamente, para a Hospitalidade: “Ética, hospitalidade e turismo” (USP) e “Ética e hospitalidade: turistas e viajantes” (DA-UFRN). Poucas referências sobre Hospitalidade foram encontradas em outras disciplinas.

Como era esperado em um doutorado com foco Hospitalidade, todas as disciplinas do DA-UAM abrangem o estudo dessa temática. Portanto, sendo o doutorado que mais compartilhou autores referenciais (16 linhas) com outras instituições (Figura 2), pois seu projeto também apresentava a maior quantidade de autores citados (48). Percebe-se um compartilhamento significativo de autores entre os doutorados dos DA-UAM e DA-UCS. Contabilizou-se nos demais projetos: DA-UCS (14 linhas), DA-USP (oito linhas) e DA-UFRN (sete linhas). Observam-se dois grandes núcleos de compartilhamento de autores: um entre DA-USP, DA-UAM e DA-UCS; e outro, entre DA-UAM, DA-UCS e DA-UFRN. Outros autores são pontualmente compartilhados entre duas ou três instituições, como é o caso de Isabel Baptista, Biagio Maurício Avena e Emmanuel Lévinas entre DA-UAM e DA-UCS; Marcel Mauss entre DA-UAM e DA-USP; e Anne Gotman entre DA-UAM, DA-USP e DA-UFRN.

O único autor compartilhado entre as quatro instituições foi Luiz Octávio Camargo (2004Camargo, L. O. L. (2004). Hospitalidade. Aleph.; 2008)Camargo, L. O. L. (2008). A pesquisa em hospitalidade. Revista Hospitalidade. 5(2), 15-51. https://doi.org/10.7784/rbtur.v15i2.2112
https://doi.org/10.7784/rbtur.v15i2.2112...
. Porém, é necessário deixar clara a sua atuação na concepção em dois projetos dessa amostra (DA-UAM e DA-USP), o que pode ter influenciado na escolha das referências para as disciplinas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desta pesquisa, foi possível registrar a trajetória dos programas de pós-graduação stricto sensu em TH&L no país, compreender as concepções iniciais dos doutorados em suas aproximações à Hospitalidade e conhecer os principais autores e obras da Hospitalidade incorporados às propostas iniciais dos doutorados na área. Enquanto na trajetória dos PPG em TH&L a pesquisa abrangeu da década de 1990 a 2020, com dados parciais de 2021, no trato dos doutorados não se tem um período, mas sim a data em que o projeto APCN foi aprovado pela CAPES e conduziu a oferta inicial dos cursos.

Excluindo os cursos interinstitucionais, a sobrevivência dos cursos regulares cresceu entre 1993 a 2021: na década de 1990, dos três mestrados, apenas um permaneceu ativo; na década de 2000, quatro mestrados e um doutorado, de um total de nove cursos, permaneceram ativos; na década de 2010, todos os 18 cursos permaneceram ativos; e no início da década de 2020, dos 20 cursos apenas um ficou inativo. Esse resultado indica a consolidação da pós-graduação em TH&S na última década do período, apesar da oferta única dos programas centrados apenas em Hospitalidade e Lazer. A concentração dos cursos, inicialmente em instituições privadas, alterou-se a partir da década de 2010 com a sua maioria sendo ofertada pelas instituições públicas.

Verificou-se que os PPG com mestrado e doutorado ativos têm seus focos de estudo em Turismo (dois), Turismo e Hotelaria (um), Turismo e Hospitalidade (um), Hospitalidade (um) e Lazer (um), com predomínio, portanto, do Turismo isolado ou associado à Hotelaria ou Hospitalidade. Nos PPG apenas com mestrados ativos, embora prevaleça o foco de estudo no Turismo (seis), aparecem com focos em Hotelaria e Turismo (um), e em Gastronomia (um) e em Ecoturismo (um). Pela trajetória dos PPG em TH&L constatou-se que há tendência de diversificação em direção a cursos de Gastronomia, mas a Hotelaria não se libertou do Turismo e, a área de Eventos, ainda não ingressou na pós-graduação stricto sensu. Assim, a Hipótese 1 de que a trajetória dos PPG em TH&L foi acompanhada da sua diversificação em direção aos setores da Hospitalidade foi confirmada parcialmente.

Como era esperado, os DA-UAM e DA-UCS citaram um entendimento genérico acerca da Hospitalidade na caracterização dos cursos. Mais revelador foi a presença de termos relacionados à Hospitalidade nos objetivos e no perfil do egresso em todos os cursos, exceto no DA-UNIVALI. A Hospitalidade é contemplada nas propostas por meio de disciplinas correlatas e/ou pela utilização de obras em disciplinas específicas de Turismo na maioria dos projetos iniciais dos doutorados. Quanto à ausência de disciplinas ou obras na bibliografia, no DA-UNIVALI, o termo parece estar associado em especial à Hotelaria, cuja concepção não foi adotada nesta pesquisa. No DA-UFMG, a Hospitalidade poderia ter contribuído em disciplinas que tratam de relações interpessoais e interações entre indivíduos ou do lazer turístico, como as disciplinas “Aspectos Psicossociais do Lazer” e “Lazer, Mercado de Trabalho e Atuação Profissional”.

Com base nas fontes bibliográficas das disciplinas, percebeu-se uma visão pouco avançada ou inovadora da hospitalidade baseada em “autores tradicionais” ou que marcaram esse campo com construtos teóricos, principalmente na década de 2000, e o pouco compartilhamento de autores entre as instituições, cenário que deverá se alterar no futuro. A Hipótese 2, de que a concepção dos doutorados em Turismo e áreas afins se encaminhou para o estudo da Hospitalidade por propiciar aos objetos de estudo com maior potencial de aprofundamento e inovação nas propostas iniciais dos doutorados em TH&L, não pode ser confirmada. Dos seis programas, quatro fazem referências à Hospitalidade, a maioria aproximando-se de sua terminologia, abordagens teóricas, autores e obras referenciadas. Entretanto, além do DA-UCS que incorporou a Hospitalidade no Turismo e publicou obras com uma abordagem inovadora, e DA-UAM, cuja inovação apareceu, principalmente, no conjunto das disciplinas, todas orientadas ao estudo da Hospitalidade, nos DA-UFRN e DA-USP não se verificaram-se propostas inovadoras no âmbito da Hospitalidade nos estudos turísticos.

Ressalta-se que o primeiro doutorado “puro” na área de TH&L foi em Lazer na UFMG em 2012 e, o segundo, em Turismo e Hotelaria na UNIVALI no ano seguinte. Com relação aos mestrados profissionais, estes ressurgiram na década de 2010, com destaque em 2016, quando apareceram três novos cursos. Essa década marcou a consolidação dos programas mais antigos, com a criação de seus doutorados, de novos mestrados profissionais, da abertura de programas instituições federais e da oferta de programas interinstitucionais em TH&L. Espera-se em breve a abertura de DP como evolução dos MP, sendo o primeiro candidato o MP-UNIRIO que já detém o conceito “Bom”, assim como a oferta de cursos interinstitucionais ou novos cursos em Hospitalidade e Lazer.

A Hospitalidade como força de pressão para a compreensão dos fenômenos turísticos, importante para o avanço do ensino desse campo de estudo, ainda não é uma realidade na concepção inicial dos doutorados em TH&L, exceto nos DA-UAM e DA-UCS. Verificou-se que as correntes anglo-saxã e francesa exerceram influência sobre a corrente brasileira, que apresentou destaque na concepção das propostas dos cursos de doutorado no País. Mesmo assim, na maioria das APCN dos doutorados investigados, a Hospitalidade conduziu algum interesse e conhecimento, mas não se revelou como o fio condutor dos projetos iniciais, nem mesmo no DA-UCS.

Uma discussão recorrente e, por vezes velada, refere-se à vinculação da maioria dos programas na área de avaliação 27 da CAPES (Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo), o que poderia dificultar o fortalecimento de suas identidades, prevalecendo os cânones de uma área já consolidada. Será que os programas de Lazer, Ecoturismo, Gastronomia, e Turismo e Patrimônio inseridos em outra área de avaliação (interdisciplinar), apresentam condições mais favoráveis à sua evolução identitária? Por que não trabalhar para a conquista de uma área de avaliação na CAPES composta por seis doutorados, onze mestrados acadêmicos e três mestrados profissionais, em um total de vinte cursos e quatorze programas regulares? Isso poderia inclusive se refletir na criação alinhada de um novo comitê de assessoramento no CNPq.

Para pesquisas futuras, sugere-se uma análise aprofundada dos doutorados em TH&L até as suas concepções atuais, tendo em foco a Hospitalidade como um componente transversal na sua modelagem. Por outro lado, uma investigação sobre os projetos de cursos (APCN) não recomendados pela CAPES pode revelar não apenas quais critérios não foram atendidos, como também desvelar a falta de maleabilidade destes em relação à maturidade da área e às diferenças regionais do País. Por fim, uma pesquisa sobre a pós-graduação lato sensu em TH&L poderá completar a trajetória aqui tratada e analisar o impacto de, pelo menos, duas iniciativas anteriores aos mestrados da USP e da UNIVALI na década de 1990 que se tem notícia.

  • 1
    Até 2020 não havia a oferta de Doutorado Profissional em TH&L.
  • 2
    A primeira avaliação trienal (2001) aconteceu no triênio 1998-2000 e, a primeira avaliação quadrienal (2017), foi no quadriênio 2013-2016, conforme consulta a vários documentos desses períodos disponíveis no sítio da CAPES (www.capes.gov.br).
  • 3
    Em 2020, entrou em pauta a discussão sobre a redução das áreas de avaliação da CAPES.
  • 4
    Programa da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA).
  • 5
    M.A.U.S.S. - Mouvement antiutilitariste dans les sciences sociales, homenageia o sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss e foi fundado em 1981 por Alain Caillé aliando estudiosos principalmente franceses contrários ao utilitarismo nas ciências sociais e na sociedade. La Revue du M.A.U.S.S. é uma revista interdisciplina e fonte de debates sociais.

AGRADECIMENTOS

Professores doutores dos programas de doutorado em Turismo, Hospitalidade e Lazer na função de coordenadores dos PPG: Alexandre Panosso Netto, Christianne Luce Gomes, Elizabeth Kyoko Wada, Leilianne Michelle Trindade da Silva Barreto, Luciano Torres Tricarico e Marcia Maria Cappellano dos Santos.

  • Como Citar: Rejowski, M.; Ferro, R. C.; Sogayar, R. L. (2022). Pós-graduação em Turismo, Hospitalidade e Lazer no Brasil: Da consolidação dos mestrados à emergência dos doutorados. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 16, e-2217.http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v16.2217
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Editado por

Editor:

Glauber Eduardo de Oliveira Santos

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    09 Ago 2020
  • Aceito
    04 Dez 2020
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