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Turistificação nos bairros da Gamboa e da Saúde, Rio de Janeiro: percepção dos moradores como sujeito coletivo

Touristification in the Gamboa and Saúde neighborhoods, Rio de Janeiro: perception of residents as a collective subject

Turistificación en los barrios Gamboa y Saúde, Rio de Janeiro: percepción de los residentes como sujeto colectivo

Resumo

A cidade do Rio de Janeiro passou por processos de reestruturação urbana em recortes espaciais específicos devido aos Jogos Olímpicos de 2016. Dentre eles, destaca-se, por sua centralidade e pelas questões socioespaciais envolvidas, a Operação Urbana Porto Maravilha, que teve entre suas finalidades o fomento à prática do turismo na Zona Portuária, especificamente nos bairros da Gamboa e da Saúde. Esta pesquisa teve como objetivo investigar as percepções dos moradores dos referidos bairros a respeito das alterações ocorridas no seu espaço vivido em decorrência daquele recente processo de turistificação. Para tal propósito, realizou-se: (1) levantamento bibliográfico; (2) pesquisa exploratória; (3) pesquisa documental em mapas e guias turísticos da cidade do Rio de Janeiro; (4) aplicação do Discurso do Sujeito Coletivo; (5) análise e discussão dos resultados obtidos. Foram entrevistados 41 moradores com tempo de moradia de pelo menos 20 anos nesses bairros. Como resultados, identificou-se que os moradores têm percepções distintas sobre o seu espaço de vida, a Operação Urbana Porto Maravilha e a prática do turismo. As contribuições desta pesquisa colaboram para a discussão sobre os grandes projetos urbanos e a prática do turismo, a partir das vozes dos moradores.

Palavras-chave
Turismo Urbano; Metrópole; Moradores; Discurso do sujeito coletivo; Operação Urbana Porto Maravilha-RJ

Abstract

Rio de Janeiro's city underwent urban restructuring processes in specific spatial sections due to the 2016 Olympic Games. Among them, due to its centrality and the socio-spatial issues involved, the Porto Maravilha Urban Operation, which had promoted the practice of tourism in the Port Zone, specifically in the neighborhoods of Gamboa and Saúde. This research aimed to investigate the residents' perceptions of these neighborhoods regarding the changes in their lived space due to that recent touristification process. For this purpose, it was carried out: (1) bibliographic survey; (2) exploratory research; (3) documentary research on maps and tourist guides in the city of Rio de Janeiro; (4) application of the Collective Subject Discourse; (5) analysis and discussion of the results obtained. Forty-one residents were interviewed who had lived for at least 20 years in these neighborhoods. As a result, it was identified that residents have different perceptions about their living space, the Porto Maravilha Urban Operation, and the practice of tourism. The contributions of this research to collaborate with the discussion about the great urban projects and the tourism practice from the residents' voices.

Keywords
Urban Tourism; Metropolis; Residents; Collective subject discourse; Porto Maravilha Urban Operation -RJ

Resumen

La ciudad de Rio de Janeiro experimentó procesos de reestructuración urbana en secciones espaciales específicas debido a los Juegos Olímpicos de 2016. Entre ellos, por su centralidad y las cuestiones socioespaciales involucradas, la Operación Urbana Porto Maravilha, que había promovido la práctica del turismo en la Zona Portuaria, específicamente en los barrios de Gamboa y Saúde. Esta investigación tuvo como objetivo indagar en las percepciones de los residentes de estos barrios sobre los cambios en su espacio habitado debido a este reciente proceso de turistificación. Para esto, se realizó: (1) levantamiento bibliográfico; (2) investigación exploratoria; (3) investigación documental sobre mapas y guías turísticas en la ciudad de Rio de Janeiro; (4) aplicación del Discurso del Sujeto Colectivo; (5) análisis y discusión de los resultados obtenidos. Se entrevistó a cuarenta y uno residentes que habían vivido durante al menos 20 años en estos barrios. Como resultado, se identificó que los residentes tienen diferentes percepciones sobre su espacio vital, la Operación Urbana Porto Maravilha y la práctica del turismo. Los aportes de esta investigación para colaborar con la discusión sobre los grandes proyectos urbanos y la práctica turística desde las voces de los residentes.

Palabras clave
Turismo Urbano; Metrópoli; Residentes; Discurso colectivo del sujeto; Operación Urbana Porto Maravilha-RJ

1 INTRODUÇÃO

O processo recente de reestruturação urbana da Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro não ocorre isolado do contexto mundial. Nas últimas décadas, várias cidades, como Barcelona, Londres e Pequim, passaram pelo mesmo processo (Zanetti, 2006Zanetti, V. Z. (2006). Planos e projetos ausentes: desafios e perspectivas da requalificação das áreas centrais de São Paulo. [Tese de Doutorado]. Universidade de São Paulo.; Allis 2012Allis, T. (2012). Projetos urbanos e turismo em grandes cidades: o caso de São Paulo. [Tese de Doutorado]. Universidade de São Paulo.). Entende-se que essas operações urbanas contemporâneas estão inseridas no contexto da produção capitalista neoliberal vigente e são realizadas no intuito de transformar a cidade em cidade-mercadoria (Sánchez, 2003Sánchez, F. (2003). A reinvenção das cidades para um mercado global. Chapecó.) e fomentar a prática do turismo.

Nesses processos de reestruturação de espaços urbanos destacam-se diversos agentes sociais e relações envolvidos nas dimensões urbanísticas, sociais, econômicas, culturais e ambientais de maneira recursiva e complementar (Morin, 1999Morin, E. (1999). O Método 3: o conhecimento do conhecimento. Editora Sulina.) , podendo estar presentes nas questões socioespaciais dos lugares onde ocorrem (novas) práticas do turismo.

Tendo em vista o foco da presente pesquisa (percepção dos moradores), foram identificados estudos a respeito das percepções dos residentes sobre o turismo com diferentes enfoques: em destinos considerados patrimônio da humanidade pela UNESCO (Vareiro et al., 2013Vareiro, L., Remoaldo, P., & Ribeiro, J. (2013). Residents’ perceptions of tourism impacts in Guimarães (Portugal): A cluster analysis. Current Issues in Tourism, 16(6), 535-551.http://dx.doi.org/10.1080/13683500.2012.707175
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; Chand, 2013Chand, M. (2013). Residents' perceived benefits of heritage and support for tourism development in Pragpur, India. TOURISM, 61(4), 379-394. https://hrcak.srce.hr/113260
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); em destinos que recebem fluxo de cruzeiros marítimos (Brida et al., 2012Brida, J., Riaño, E., & Aguirre, S. (2012). Percepciones De Los Residentes Acerca De Los Impactos Del Turismo De Cruceros En La Comunidad: Un Análisis Factorial Y De Clústeres. Cuadernos de Turismo, (29), 79-107. https://doi.org/10.6018/turismo
https://doi.org/10.6018/turismo...
; Chiappa & Abbateb, 2013Chiappa, G., & Abbateb, T. (2013). Island cruise tourism development: a resident’s perspective in the context of Italy. Current Issues in Tourism, 19. https://doi.org/10.1080/13683500.2013.85475
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; Jordan & Vogt, 2017Jordan, E., & Vogt, C. (2017). Residents’ Perceptions of Stress Related to Cruise Tourism Development. Tourism Planning & Development, 14 (4), 2017. http://dx.doi.org/10.1080/21568316.2017.1287123
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); em ilhas (Nunkoo & Ramkissoon, 2007Nunkoo, R, & Ramkissoon, H. (2007). Residents' perceptions of the socio-cultural impact of tourism in Mauritius, Anatolia. International Journal of Tourism and Hospitality Research, 18(1), 138-145. https://doi.org/10.1080/13032917.2007.9687041
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; Dimitriadis et al., 2013Dimitriadis, E., Papadopoulos, D., & Kaltsidou, D. (2013). Attitudes Towards Tourism Development: Residents’ Perceptions in The Islands of Lemnos and Hydra. Tourismos: An International Multidisciplinary Journal of Tourism, 8(1), 133-151. Id: 56059997; Marzuki, 2012Marzuki, A. (2012). Local residents’ perceptions towards economic impacts of tourism development in Phuket. TOURISM, 60(2), 199-212. https://hrcak.srce.hr/84563
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; Canalejo et al., 2015Canalejo, A., Tabales, J., López, J., & Fuentes-García, F. (2015). Resident Perceptions Of Community Tourism In Cape Verde. Tourism, Culture & Communication, 15, 103 -119. https://doi.org/10.3727/109830415X14401707765926
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); em cidades litorâneas (Almeida-García et al., 2016Almeida-García, F., Peláez-Fernández, M., & Balbuena-Vázquez, A., Córtez-Macias, R. (2016). Residents’ perceptions of tourism development in Benalmádena (Spain). Tourism Management, 54, 259–274. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2015.11.007
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; Ozturk et al., 2015Ozturk, A., Ozer, O, & Çaliskan, U. (2015). The relationship between local residents’ perceptions of tourism and their happiness: a case of Kusadasi, Turkey. Tourism Review, 70(3), 232-242. 10.1108/TR-09-2014-0053
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) e em regiões geográficas (Bernini et al., 2015Bernini, C., Matteucci, M., & Mignani, S. (2015). Investigating heterogeneity in residents’ attitudes toward tourism with an IRT multidimensional approach. Quality and Quantity, 49, 805-826. https://doi.org/10.1007/s11135-014-0024-9
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; Sinclair-Maragh et al., 2015Sinclair-Maragh, G., Gursoy, D., & Vieregge, M. (2015). Residents’ perceptions toward tourism development: A factor-cluster approach. Journal of Destination Marketing and Management, 4(1), 36-45. https://doi.org/10.1016/j.jdmm.2014.10.001
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).

Ademais, também foram observadas pesquisas sobre a percepção dos residentes acerca do turismo: sustentável (Cottrell et al., 2007Cottrell, S., Vaske, J., Shen, F., & Ritter, P. (2007). Resident Perceptions of Sustainable Tourism in Chongdugou, China. Society and Natural Resources, 20(6), 511-525. http://doi.org/10.1080/08941920701337986
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; Scaccia & Urioste, 2016Scaccia, M., & Urioste-Stone, S. (2016). Resident Perceptions of Sustainable Tourism in Maine. Internaional Journal Sustantable Development Planning, 11(3), 375-384. 10.2495/SDP-V11-N3-375-384
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; Moncayo & Ribeiro, 2005Moncayo, V., & Ribeiro, J. (2005). O Turismo praticado pela Pousada Ecológica Aldeia Dos Lagos junto às Comunidades de São João, Santa Luzia do Sanabani e São Sebastião do Itapani no município de Silves - Amazonas. PASOS - Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 3(1), 87-95. id: 88130106); em comunidades rurais (Smith & Krannich, 1998Smith, M., & Krannich, R. (1998). Tourism dependence and resident attitudes. Annals of Tourism Research, 25(4), 783-802. https://doi.org/10.1016/S0160-7383(98)00040-1
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; Gu & Ryan, 2010Gu, H., & Ryan, C. (2010). Hongcun, China-Residents’ perceptions of the impacts of tourism on a rural community: A mixed methods approach. Journal of China Tourism Research, 6(3), 216-243. https://doi.org/10.1080/19388160.2010.503862
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); de base comunitária (Canalejo & Cañizares, 2017Canalejo, A., & Cañizares, S. (2017). Desarrollo Turístico En Cabo Verde En Base Al Turismo Comunitario: Actitudes de los residentes. Estudios y Perspectivas en Turismo, 26(3), 644-661. https://doi.org/180752116008; Ellis & Sheridan, 2014Ellis, S., & Sheridan, L. (2014). The legacy of war for community-based tourism development: learnings from Cambodia. Community Development Journal, 49(1), 129-142. https://doi.org/10.1093/cdj/bst015
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; Chiappa et al., 2016Chiappa, G, Atzeni, M., & Ghasemi, V. (2016). Community-based collaborative tourism planning in islands: A cluster analysis in the context of Costa Smeralda. Journal of Destination Marketing & Management, 4. http://dx.doi.org/10.1016/j.jdmm.2016.10.005
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); em favelas (Pereira, 2017Pereira, R. (2017). O turismo na Favela Santa Marta: reflexões à luz da teoria de Pierre Bourdieu. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal Fluminense.; Rosa, 2017Rosa, A. (2017). Turismo de favela: representações, estigma e poder. [Tese de Doutorado]. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.); em parques nacionais (Long & Kayat, 2011Long, P., & Kayat, K. (2011). Residents’ perceptions of tourism impact and their support for tourism development: The case study of Cuc Phuong national park, Ninh Binh province, Vietnam. European Journal of Tourism Research, 4(2), 123–146. id: 29190993; Lu et al., 2006Lu, X., Wu, C., Xiao, G. (2006). Fuzzy synthetic evaluation on resident's perceptions of tourism impacts: case of Jiuzhaigou National Park, Sichuan Province, China. Chinese Geographical Science, 16(1), 87-94. https://doi.org/10.1007/s11769-006-0028-z
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), de resort (Li et al., 2014Li, S., Liu, J., Wang, R., Zhu, H. (2014). Spatial differentiation of tourism impact based on the perception of residents in mountainous valley resorts. Journal of Mountain Science, 11(4), 1070-1084. https://doi.org/10.1007/s11629-012-2440-4
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; Woosnam & Erul, 2017Woosnam, K., & Erul, E. (2017). Residents’ perceived impacts of all-inclusive resorts in Antalya. Tourism Planning & Development, 14(1), 65-86. https://doi.org/10.1080/21568316.2016.1183515
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); dark tourism (Wang & Luo, 2017Wang, J., & Luo, X. (2017). Resident perception of dark tourism impact: the case of Beichuan County, China. Journal of Tourism and Cultural Change, 16(5), 463-481. https://doi.org/10.1080/14766825.2017.1345918
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; Wright & Sharpley, 2016Wright, D., & Sharpley, R. (2016). Local community perceptions of disaster tourism: the case of L'Aquila, Italy. Current Issues in Tourism, 21(14),1569-1585. https://doi.org/10.1080/13683500.2016.1157141
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); religioso (Terzidou et al., 2008Terzidou, M., Stylidis, D., & Szivas, E. (2008). Residents’ perceptions of religious tourism and its socio-economic impacts on the Island of Tinos. Tourism and Hospitality, Planning and Development, 5(2), 113-129. http://dx.doi.org/10.1080/14790530802252784
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; Mustafa, 2014Mustafa, M. (2014). Tourism development at the Baptism Site of Jesus Christ, Jordan: residents' perspectives. Journal of Heritage Tourism, 9(1), 75-83. https://doi.org/10.1080/1743873X.2013.799171
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; Alipour et al., 2017Alipour, H., Olya, H., & Forouzan, I. (2017). Environmental impacts of mass religious tourism: from residents’ perspectives. Tourism Analysis, 22(1), 167–183. https://doi.org/10.3727/108354217X14888192562285
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); em áreas urbanas (Franzidis & Yau, 2017Franzidis, A., & Yau, M. (2017). Exploring the Differences in a Community’s Perception of Tourists and Tourism Development. Tourism Planning and Development, 15(4), 1-16. https://doi.org/10.1080/21568316.2017.1338199
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; Ross, 1992Ross, G. (1992). Resident perceptions of the impact of tourism on an Australian city. Journal of Travel Research, 30(3),13-17. https://doi.org/10.1177/004728759203000302
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), e no turismo de vinho (Xu et al., 2016Xu, S., Barbieri, C., Anderson, D., Leung, Y., & Rozier-Rich, S. (2016). Residents’ perceptions of wine tourism development. Tourism Management, 55, 276-286. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2016.02.016
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).

Todas essas pesquisas se baseiam na percepção da população adulta. Mas, há estudos que examinam como os jovens residentes percebem e se adaptam ao turismo (Jaafar et al., 2015Jaafar, M., Noor, S., & Rasoolimanesh, S. (2015). Perception of young local residents toward sustainable conservation programmes: A case study of the Lenggong World Cultural Heritage Site. Tourism Management, 48, 154-163. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2014.10.018
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; Canosa et al., 2016Canosa, A., Moyle, B., & Wray, M. (2016). Can anybody hear me? A critical analysis of young residents’ voices in tourism studies. Tourism Analysis, 21(2), 325-337. https://doi.org/10.3727/108354216X14559233985097
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) e como a comunidade infantil percebe o turismo e as mudanças socioculturais (Cordero & Cortés, 2011Cordero, J., & Cortés, M. (2011). Percepciones de la comunidad local infantil en Huatulco, México. Un acercamiento al estudio del cambio sociocultural asociado al turismo. El Periplo Sustentable, 20, 149-185. http://doi.org/193417856006).

Dentro do contexto apresentado, o objetivo geral da presente pesquisa foi analisar a percepção dos moradores dos bairros da Gamboa e da Saúde, localizados na Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro, a respeito das alterações no seu espaço vivido advindas do recente processo de turistificação provocado pela Operação Urbana Porto Maravilha. Como objetivos específicos de pesquisa, pretendeu-se: (1) contribuir com reflexões sobre os processos de turistificação atrelados aos de intervenção urbana, sobretudo em contextos de realização de megaeventos; (2) analisar o processo de formação histórica dos bairros da Saúde e Gamboa; (3) analisar o processo de turistificação dos bairros em questão, nas últimas duas décadas; (4) descrever e problematizar a Operação Urbana Porto Maravilha nos referidos bairros quanto ao viés turístico; (5) analisar a percepção dos moradores sobre do turismo histórico-cultural afro-brasileiro na localidade.

Os bairros objetos do estudo da presente pesquisa, localizam-se na Região Administrativa I (Portuária) da cidade do Rio de Janeiro (Figura 1), tendo o bairro da Gamboa uma área territorial de 111,29ha em 2018 e população de 13.108 de pessoas em 2010; referente ao bairro da Saúde, sua área territorial é de 36,38ha em 2018 e sua população de 2.749 de pessoas em 2010 (Instituto Pereira Passos, 2018Instituto Pereira Passos. (2018). Bairros da Gamboa e da Saúde., Rio de Janeiro. 1 imagem de satélite. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Recuperado 14, agosto, 2018, http://pcrj.maps.arcgis.com/apps/MapJournal/index.html?appid=7fe1b0d463e34b3b9ca2fafd50c3df76#
http://pcrj.maps.arcgis.com/apps/MapJour...
).

Esta área de estudo tem relevância pela perspectiva do turismo devido aos seus atrativos materiais e imateriais (Instituto Preto Novos, AquaRio, Centro Cultural José Bonifácio, Pedra do Sal, Sítio Arqueológico Cais do Valongo, Largo da Prainha, Moinho Fluminense, história da cultura afro-brasileira, dentre outros). Além disso, no bairro da Gamboa encontra-se a primeira favela do município do Rio de Janeiro, o Morro da Providência.

Figura 1
Imagem com limites dos bairros da Gamboa e da Saúde – RJ

Como resultado, este trabalho contribui com os estudos sobre as percepções dos moradores em metrópoles quanto às alterações no seu espaço vivido, em função de processos de turistificação atrelados a projetos de intervenções urbanísticas.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Por vezes, o turismo não é compreendido de forma ampla e multidisciplinar, ocasionando o entendimento parcial das suas características e impactos. Há casos em que seu corpo teórico costuma ser formulado sob a análise de uma vertente, sobretudo a da dimensão econômica. Por isso, torna-se necessário abordar as relações socioespaciais do turismo no sentido de compreendê-lo de maneira mais complexa, combinando suas diferentes dimensões (social, cultural e econômica) que contribuem para as transformações dos territórios e do espaço produzido para o turismo (Souza et al., 2013Souza, S., Bahl, M., & Kushano, E. (2013). O espaço do turismo: produção, apropriação e transformação do espaço social. Revista Hospitalidade, X, 313-331.; Fratucci, 2000Fratucci, A. (2000). Os lugares turísticos: territórios do fenômeno turístico. Geographia. 2(4), 121-133. https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2000.v2i4.a13390
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, 2008Fratucci, A. (2008). A dimensão espacial nas políticas públicas brasileiras de turismo: as possibilidades das redes regionais de turismo. [Tese de Doutorado]. Universidade Federal Fluminense.).

Segundo Santos (2014)Santos, M. (2014). A Natureza do Espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. Editora da Universidade de São Paulo., o espaço geográfico é o lócus da reprodução das relações sociais. Ao pensar nas dimensões e relações inerentes aos lugares, o autor considera o cotidiano como categoria de existência e de mundo vivido. Apesar de muitas coisas serem impostas aos lugares, o autor afirma que no lugar ocorrem variadas manifestações de inventividade e originalidade. Para Carlos (1996, p. 20)Carlos, A. (1996). O Lugar no/do mundo. Hucitec., o lugar “é a porção do espaço apropriável para a vida – apropriada através do corpo – dos sentidos – dos passos de seus moradores, é o bairro, é a praça, é a rua”.

Para Fratucci (2000, p. 122)Fratucci, A. (2000). Os lugares turísticos: territórios do fenômeno turístico. Geographia. 2(4), 121-133. https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2000.v2i4.a13390
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, o turismo como “prática socioespacial vai se apropriando de determinados espaços, transformando-os e, a partir disso, produzindo territórios e territorialidades flexíveis e descontínuos, e ‘turistificando’ os lugares”. O autor considera que a apropriação de trechos do espaço para a prática do turismo ocorre a partir das ações dos agentes sociais produtores do turismo, sejam eles turistas, poder público, setor privado, trabalhadores diretos, trabalhadores indiretos e população local. Cada um desses agentes, diretamente ou indiretamente, pode intervir, modificar e/ou influenciar o acontecer do turismo em determinado lugar.

Como o turismo se baseia no poder do imaginário, na eleição de lugares turísticos, atrações turísticas e na sua constante reinvenção (Knafou, 2012Knafou, R. (2012). Les lieux du Voyage. Le Cavalier Blue.), o processo de turistificação é complexo e envolve várias lógicas de apropriação do espaço ao refuncionalizar lugares ordinários em lugares turísticos. Dentre os interesses que impulsionam a turistificação de lugares, está a reurbanização turística, quase sempre justificada pelo discurso de melhorias e a geração de renda por meio da prática do turismo.

2.1 Turistificação e reestruturações urbanas

A partir da década de 1960 os planos urbanísticos assumiram denominações acompanhadas do prefixo RE (revitalização, reestruturação, refuncionalização) com interesse na “universalização não só na nomenclatura, mas também na tipologia dos projetos que os acompanha” (Vasconcellos & Mello, 2006Vasconcellos, L., & Mello, M. (2006). Re: atrás de., depois de... In H. Vargas & A. Castilho (Eds.), Intervenções em Centros Urbanos: objetivos, estratégias e resultados. Manole., p. 54).

Nas últimas décadas, sobretudo nas grandes metrópoles globais, percebe-se a implantação de processos de reestruturação urbana para promover a prática do turismo. Essas cidades têm sido palco de um novo pensamento urbanístico inserido na lógica do múltiplo uso do espaço, estruturado em modelos híbridos (Urbano + Turístico + Cultural). Para alcançar a visibilidade global, surgem projetos grandiosos que têm como um dos objetivos, estimular a atratividade turística (Mascarenhas, 2014Mascarenhas, G. (2014). Cenários Contemporâneos da urbanização turística. Caderno Virtual de Turismo, 4(4), 1-11.). A relação turismo e urbanização desencadeou diversos estudos sobre turismo urbano e a urbanização turística (Gladstone, 1998Gladstone, D. (1998). Tourism urbanization in the United States. Urbain Affairs Review, 34, 3-27. https://doi.org/10.1177/107808749803400101
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; Mullins, 1991Mullins, P. (1991). Tourism urbanization. International Journal of Urban Regional Research, 15(3), 326-342. https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.1991.tb00642.x
https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.1991...
).

Alguns planos de reurbanização atrelados ao desenvolvimento do turismo têm acarretado diversos problemas nos lugares como a gentrificação, entendida como um processo de deslocamento espacial de uma população de menor perfil econômico por outra de maior renda e capital cultural (Lees et al., 2008Lees, L., Slater, T., & Wyly, E. (2008). Gentrification. Routledge.). Por isso, por mais atrativas que sejam as propostas de reurbanização turística, é urgente olhar o espaço turistificado para além da prática da atividade turística e questionar para quem estão sendo feitas tais intervenções e como elas estão relacionadas ao lugar (identidade, história, espaço de vivência). Ademais, majoritariamente, essas intervenções são para atrair novos moradores, mas não ‘qualquer’ morador.

Nessa lógica, o direito à cidade não se estende a todos os cidadãos. Segundo Lefebvre (2011)Lefebvre, H. (2011). O direito à cidade. Centauro., o espaço urbano das grandes metrópoles tem sido cada vez mais preenchido por projetos baseados no pensamento de Cidade-Mercadoria e Empresa-Cidade-Pátria. Por vezes, os ‘novos espaços’ desses projetos não têm relação com o lugar, ocasionando a não circulação dos seus moradores em determinados trechos desse espaço, criando verdadeiras ‘bolhas’ artificiais dentro do tecido urbano, direcionadas a atender às demandas de um público privilegiado, como os turistas e os homens de negócios.

Essa articulação entre os processos de reestruturação urbana e a turistificação vem se materializando também, em cidades que ganham o direito de sediar megaeventos. A relação entre megaeventos, turismo e cidades é complexa e envolve as dimensões política, fundiária, simbólica, econômica e urbanística.

A indústria dos megaeventos tem tornado as cidades em uma democracia direta do capital (Vainer, 2011Vainer, C. (2011). Prefácio. In G. Mascarenhas, G. Bienenstein & F. Sánchez (Eds.), O Jogo continua: Megaeventos esportivos e cidades. EdUERJ - FAPERJ.). A ascensão da cidade-espetáculo ocorre a partir da “produção de espaços urbanos que se oferecem como vitrine global para o consumo turístico e para atração de investimentos” (Mascarenhas, 2014Mascarenhas, G. (2014). Cenários Contemporâneos da urbanização turística. Caderno Virtual de Turismo, 4(4), 1-11., p. 54). Do ponto de vista dialético, nessas experiências de mercantilização e estetização de cidades, há quem ganhe e há quem perca.

A princípio, o global não deveria se sobrepor às necessidades concretas do local. Caso contrário, a cidade tende a ser cada vez mais privatizada em função da concessão do bem público/bem comum para empresas de grande capital internacional e empreiteiras locais. Nessa lógica, a cidade vai deixando de ser lugar de cidadania e espaço de vida, e passa a ser lugar de negócios; deixa de ser lugar de direitos e passa a ser lugar de políticas regidas pela lógica da parceria-público-privada; tornando-se uma empresa que precisa ser administrada por quem entende de negócios (Vainer, 2011Vainer, C. (2011). Prefácio. In G. Mascarenhas, G. Bienenstein & F. Sánchez (Eds.), O Jogo continua: Megaeventos esportivos e cidades. EdUERJ - FAPERJ.; Sanchéz, 2003; Harvey, 2005Harvey, D. O Novo Imperialismo. Loyola, 2005.).

Como o turismo se utiliza “amplamente da integração entre a estética e a produção de mercadorias” (Mascarenhas, 2014Mascarenhas, G. (2014). Cenários Contemporâneos da urbanização turística. Caderno Virtual de Turismo, 4(4), 1-11., p. 56), a produção de novos espaços turísticos também é fomentada por megaeventos esportivos, sobretudo Olimpíadas. Conforme afirma Sánchez (1999, p. 118)Sánchez, F. (1999). Políticas urbanas em renovação: uma leitura crítica dos modelos emergentes. Revista brasileira de estudos urbanos e regionais, (1), 115-132. https://doi.org/10.22296/2317-1529.1999n1p115
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, “são criados verdadeiros cenários, que na maioria das vezes, omitem a realidade, aumentando a capacidade de atratividade do “produto cidade”, transformando os cidadãos em mero figurantes, atores secundários de seu roteiro”.

Com base na análise da Lei 101/2009 (Prefeitura do Rio de Janeiro, 2009Prefeitura do Rio de Janeiro. (2009). Lei complementar n. 101, de 23 de nov. de 2009. Modifica o Plano Diretor, autoriza o Poder Executivo a instituir a Operação Urbana Consorciada da Região do Porto do Rio e dá outras providências. Diário Oficial. Rio de Janeiro, 24 nov. 2009.), a Operação Urbana Porto Maravilha teve como um dos objetivos o fomento à cultura e ao entretenimento a partir da recuperação do patrimônio histórico e cultural; implantação de novos equipamentos culturais e de entretenimento; e realização de eventos. Apesar do protocolo internacional para uma ‘nova’ Zona Portuária, essa operação foi surpreendida pelos alicerces da formação histórica dessa área. À vista disso, o Cais do Valongo tornou-se também o símbolo da cidade que se sobrepõe às intenções capitalistas da cidade mercadoria e da prática do turismo que se contrapõe às narrativas turísticas projetadas para essa área. Portanto, apesar da imposição dos agentes exógenos ao território, ainda há nas cidades forças endógenas que confrontam tais determinações.

3 METODOLOGIA

Para a realização desta pesquisa, adotou-se a abordagem qualitativa e a aplicação do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Este último é baseado na Teoria de Representação Social que possibilita resultados baseados nas representações sociais presentes em determinado tempo e espaço (Lefèvre, 2017Lefèvre, F. (2017). Discurso do sujeito coletivo: nossos modos de pensar, nosso eu coletivo. Andreoli.). Com ele torna-se possível pesquisar os ‘modos sociais de pensar’ a partir do entendimento de como, no cotidiano, pessoas comuns pensam a partir de esquemas ou modelos estabelecidos e compartilhados em determinado meio social, econômico e cultural.

A produção do DSC é efetuada a partir dos depoimentos verbais coletados com base em de quatro operações (Lefèvre, 2017Lefèvre, F. (2017). Discurso do sujeito coletivo: nossos modos de pensar, nosso eu coletivo. Andreoli.): (1) Expressões-chave (ECs), que são os conteúdos verbais; (2) Ideias Centrais (ICs), que são as fórmulas sintéticas que descrevem os sentidos presentes nos conteúdos verbais; (3) Ancoragens (ACs), que são como as ICs, mas descrevem as ideologias, valores, crenças das afirmações generalizantes; (4) DSC propriamente dito, que é a agrupamento das ECs, ICs e ACs com sentido semelhante ou complementar, sendo redigido na primeira pessoa do singular.

Sucintamente, realizou-se os seguintes passos metodológicos:

  1. Levantamento bibliográfico de estudos sobre percepção dos moradores acerca do turismo (realizado em julho de 2018 e sem recorte temporal definido nas bases de busca Scopus, Web of Science, Scielo, Redalyc e o Catálogo de dissertações e teses da Capes);

  2. Pesquisa documental (análise de cinco mapas turísticos publicados entre 2000 e 2010, sendo três do Guia turístico Lonely Planet, um do Guia Roteiros do Rio Antigo e um da Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro);

  3. Pesquisa exploratória (observação direta em cinco roteiros turísticos e em três eventos, sendo dois culturais e um acadêmico);

  4. Pré-teste dos roteiros de entrevistas (18, 19 e 20 de março de 2019);

  5. Entrevistas semiestruturadas com os moradores dos bairros da Gamboa e da Saúde (23 de março a 05 de abril 2019);

  6. Elaboração do DSC;

  7. Análise e discussão.

Entrevistou-se 41 moradores (11 da Saúde e 30 da Gamboa, sendo nove desses do Morro da Providência (MP). Devido aos objetivos da pesquisa, adotou-se na escolha dos entrevistados o critério de tempo de moradia de no mínimo 20 anos e a amostragem aleatória.

Ao elaborar o DSC, observou-se que apesar do Morro da Providência estar inserido nos limites administrativos do bairro da Gamboa, os moradores entrevistados expuseram algumas características distintas daqueles que moram na ‘parte baixa’ da Gamboa. Por isso, optou-se por apresentar resultados separados: Morro da Providência (MP), Gamboa (refere-se à parte baixa) e Saúde.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A categorização resultou em 23 categorias (quadros 1, 2, 3, 4) e 52 DSC. Cada pergunta apresentou um tema gerador, com exceção das perguntas 2 e 3, que foram agrupadas e corresponderam a um único tema gerador.

Tabela 1
Síntese das Categorias/Percepções dos DSC da pergunta 1
Tabela 2
Síntese das Categorias/Percepções dos DSC das perguntas 2 e 3
Tabela 3
Síntese das Categorias/Percepções dos DSC da pergunta 4
Tabela 4
Síntese das Categorias/Percepções do DSC da pergunta 5

Identificou-se nas categorias apresentadas semelhanças temáticas que dialogam com os referenciais teóricos. Como procedimento de análise e organização sistemática, apresentam-se as discussões em quatro categorias: espaço de vivência; Operação Urbana Porto Maravilha e a ressignificação do espaço; a prática do turismo; gentrificação.

O diálogo com os referenciais teóricos foi realizado a partir da seleção de trechos dos DSC construídos e distribuídos nas categorias de A à X. Os fragmentos foram identificados conforme as categorias das quais foram extraídos (exemplo: DSC, categorias A, B, C). Optou-se em especificar os bairros apenas em situações em que houve divergência nas percepções dos moradores.

4.1 Espaços de vivência

Segundo Ramos (2010)Ramos, A. (2010). Espaço-tempo na cidade de São Paulo: historicidade e espacialidade do “bairro” da água branca. Revista do Departamento de Geografia da USP, (1), 65-75. https://doi.org/10.7154/RDG.2002.0015.0007
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, o bairro deve ser entendido como uma categoria socioespacial com a sobreposição de numerosas espacialidades, sociabilidades e temporalidades. Por isso, o bairro não é definido apenas pela sua demarcação política e administrativa; mas também pelas porções do espaço apropriável para vida. Nesse sentido, constatou-se que alguns moradores convergiram em relação às percepções de traços de identidade e sentimento de pertencimento; revelando algumas marcas de história e memória que fazem parte de suas existências (Tuan, 1983Tuan, Y. (1983). Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Difel.; Carlos, 1996Carlos, A. (1996). O Lugar no/do mundo. Hucitec.; Santos, 2014Santos, M. (2014). A Natureza do Espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. Editora da Universidade de São Paulo.).

Aqui é onde está a minha história [...] moro aqui há tantos anos, criei minhas filhas aqui, e agora estou criando meu neto. Meus pais que construíram tudo isso aqui, e a gente herdou o que eles fizeram [...] me sinto uma guardiã aqui do bairro [...] não saio daqui de jeito nenhum, tenho raiz aqui!

(DSC, Categoria A)

Entendendo que o lugar é onde ocorrem as relações sociais, na Gamboa (parte baixa) e no MP identifica-se nos DSC a percepção de satisfação em morar nesses lugares em função da boa convivência entre os moradores. Isso remete ao que Santos (2014)Santos, M. (2014). A Natureza do Espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. Editora da Universidade de São Paulo. discorre sobre o cotidiano do lugar e as relações que são criadas entre as pessoas.

Todo mundo se conhece, todo mundo fala com todo mundo, eu gosto muito de morar aqui [...] o bom de morar no MP são as pessoas.

(DSC, Categoria F)

Já a percepção que avalia a importância da proximidade dos bairros ao centro da cidade do Rio de Janeiro foi convergente nos três lugares de pesquisa. As vantagens percebidas estão relacionadas ao acesso a serviços em geral e melhor oportunidade de inserção no mercado de trabalho por morar nesses bairros.

Eu gosto porque é perto do centro da cidade [...] eu prefiro morar aqui do que lá para cima [...] muitas coisas eu faço a pé, tudo eu resolvo aqui pelo centro mesmo.

(DSC, Categoria B)

Alguns moradores do bairro da Saúde e da Gamboa (parte baixa) afirmaram ser lugares relativamente tranquilos (DSC, Categoria C). Porém, há percepções sobre a falta de segurança no bairro da Saúde devido ao tráfico de drogas e de problemas sociais (DSC, Categoria D). Já os DSC dos moradores do MP revelaram a preocupação com ocorrências de tiroteios e a forma como as operações policiais são realizadas (DSC, Categoria G).

Esses discursos contraditórios a respeito da percepção de segurança remetem à discussão sobre a cidade partida (Vainer, 2000Vainer, C. (2000). Pátria, empresa e mercadoria: Notas sobre a estratégia discursiva do Planejamento Estratégico Urbano. In O. Arantes, C. Vainer, & E. Maricato (Eds.), A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Vozes.), ou seja, apesar de estarem em áreas próximas e o Morro da Providência estar inserido na Gamboa, há diferenças entre as percepções sobre segurança, assim como nas formas como esses moradores enxergam a presença do Estado nos seus espaços de vida. Além disso, percebe-se nos DSC certa dimensão de conformismo em função de uma espécie de análise comparativa com a situação da segurança pública de outras áreas da cidade do Rio de Janeiro. Mas também há outra dimensão de conformismo, a de não ter opção de morar em outro lugar, identificada no DSC de alguns moradores do Morro da Providência (DSC, Categoria H).

Eu gosto porque aqui é um lugar, para mim, calmo; eu sinto privilegiada no que tange a segurança pois é um pouco melhor do que outros bairros e outras comunidades que a gente sabe do dia a dia [...] embora a gente escute alguns barulhos, no asfalto mesmo você não vê o que a gente vê em outras comunidades [...] mas quanto a ser moradora daqui eu não tenho nenhum problema. Vai pro trabalho, volta normal, não acontece nada.

(DSC, Categoria C)

Bem eu não me sinto quando, sabe né, as coisas não estão legal. Tem essas coisas de confusão, tiroteio [...] O problema é quando tem operação.

(DSC, Categoria G).

A análise dessa dimensão, estabelece de certa forma um perfil de sujeito coletivo que aponta para percepções de pertencimento com o espaço vivido, que perpassa por questões socioespaciais e de afetividade histórica. Apesar de, algumas vezes as narrativas esbarrarem em problemas que afetam o cotidiano dos moradores, estes são compensados com contrapontos que fazem daqueles bairros espaços de vivência agradáveis. Por isso, com base nesses resultados foi possível considerar os bairros estudados segundo a definição de lugar da autora Carlos (1996)Carlos, A. (1996). O Lugar no/do mundo. Hucitec., ou seja, como porções do espaço apropriáveis para vida. Sendo que tais representações sociais de pertencimento e de identidade com lugar vivido reaparece em outros DSC, mesmo se tratando de novos temas.

4.2 Operação Urbana Porto Maravilha e a ressignificação do espaço

Os DSC dessa dimensão apareceram a partir das categorias J, K, L. O DSC da categoria J remete às discussões teóricas sobre as intervenções urbanísticas e os megaeventos revertendo a cidade em mercadoria (Vainer, 2000Vainer, C. (2000). Pátria, empresa e mercadoria: Notas sobre a estratégia discursiva do Planejamento Estratégico Urbano. In O. Arantes, C. Vainer, & E. Maricato (Eds.), A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Vozes., 2011Vainer, C. (2011). Prefácio. In G. Mascarenhas, G. Bienenstein & F. Sánchez (Eds.), O Jogo continua: Megaeventos esportivos e cidades. EdUERJ - FAPERJ.; Sánchez, 2003Sánchez, F. (2003). A reinvenção das cidades para um mercado global. Chapecó.; Mascarenhas Bienenstein, Sánchez et al., 2011Mascarenhas, G., Bienenstein, G., Sánchez, F. (2011). O Jogo continua: Megaeventos esportivos e cidades. EdUERJ - FAPERJ, 2011.; Carlos, 2015Carlos, A. (2015). A reprodução do espaço urbano como momento da acumulação capitalista. In: Crise urbana. Editora Contexto.); do empresariamento das cidades (Vainer, 2011Vainer, C. (2011). Prefácio. In G. Mascarenhas, G. Bienenstein & F. Sánchez (Eds.), O Jogo continua: Megaeventos esportivos e cidades. EdUERJ - FAPERJ.; Harvey, 2005Harvey, D. O Novo Imperialismo. Loyola, 2005.); e do questionamento de quem são os grandes beneficiados dos grandes projetos urbanos (Vainer, 2011Vainer, C. (2011). Prefácio. In G. Mascarenhas, G. Bienenstein & F. Sánchez (Eds.), O Jogo continua: Megaeventos esportivos e cidades. EdUERJ - FAPERJ.; Sánchez, 1999Sánchez, F. (1999). Políticas urbanas em renovação: uma leitura crítica dos modelos emergentes. Revista brasileira de estudos urbanos e regionais, (1), 115-132. https://doi.org/10.22296/2317-1529.1999n1p115
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). Ademais, traz uma análise crítica consistente sobre o esvaziamento da voz popular nas decisões do Porto Maravilha.

Uma merda! [...] como moradora, não trouxe benefício nenhum [...] a gente sabe que isso tudo é jogada empresarial [...] planejado pra não dar certo para a população, mas dá certo para os empresários, para os banqueiros, para os donos das empresas de ônibus e para os políticos corruptos [...] a cidade virou uma cidade comercial, se negociava com os empresários [...] foi só planejado para o período da Olimpíadas e da Copa do Mundo [...] mas existe uma parte da Gamboa que é essa área mais próxima do morro que não foi feito nada. Foi feito coisas numa área que era importante para a indústria. A gente aqui não é muito burro demais e consegue enxergar isso.

(DSC, Categoria J).

Apesar das intervenções urbanas ocorrerem no nível local, elas estão interligadas às lógicas globais que, normalmente, costumam se sobrepor à lógica local. É possível perceber nos DSC o apontamento de que nesses territórios há um “campo de forças” com lógicas de apropriação do espaço distintas entre os insiders (os moradores) e os outsiders (os de fora) (Souza, 1995Souza, M. (1995). O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In I. Castro, P. Gomes, & R. Corrêa (Eds.), Geografia: conceitos e temas. Bertrand.; Fratucci, 2008Fratucci, A. (2008). A dimensão espacial nas políticas públicas brasileiras de turismo: as possibilidades das redes regionais de turismo. [Tese de Doutorado]. Universidade Federal Fluminense.). Dependendo do grau de insatisfação dos moradores, essas relações podem se tornar progressivamente mais conflituosas e ocasionar problemas socioeconômicos.

O projeto foi algo muito na ânsia para atender os megaeventos, Copa e Olimpíadas e não teve participação popular. O Porto Maravilha veio com o objetivo de transformar a região do porto como uma região mais turística [...] investiram muito dinheiro nesses hotéis que não estão faturando nada, então, só faltou sair o básico para a comunidade.

(DSC, Categoria J)

Talvez, seja importante, a partir da perspectiva do morador, entender a cidade, e consequentemente, seus espaços de vivência, como espaços de construção da cidadania para alcançar melhoria nas suas condições de vida. Há nos DSC um sentimento de frustração devido ao não atendimento de uma expectativa criada. Fica evidente nos discursos o reforço das assimetrias (econômicas, de acessibilidade, de oferta de serviços) da região: reformas de infraestrutura básica foram ignoradas, o desenvolvimento de áreas de lazer para a população local não ocorreu, a implantação do VLT teve impacto sobretudo negativo na mobilidade dos moradores desses bairros. No MP, o abandono do teleférico é visto como símbolo do descaso.

A gente pensava que isso aí ia ser mil maravilhas, mas não é [...] em função desse projeto, no MP houve muitas remoções, era para haver mais, não houve, por que houve uma resistência [...] eles pensam que aqui não tem morador [...] só beneficiou uma área, uma outra área ficou do mesmo jeito que sempre foi [...] o morador tinha o teleférico, funcionou um ano, parou e nunca mais [...] poxa, foi tirado nosso local de lazer para ser criado isso e depois abandonar [...] o VLT, coisa mais horrível, Deus me livre, haja dinheiro perdido [...] a gente perdeu um grande número de linhas de ônibus [...] a gente aqui fica sem nada.

(DSC, Categoria J)

Todavia, identificou-se narrativas que consideraram as obras do Porto Maravilha como positivas por ter proporcionado melhorias e benefícios para os bairros, e consequentemente para seus moradores. Esta perspectiva fica evidente nas narrativas dos sujeitos que destacam os pontos positivos da referida operação urbana, sem contrapontos. Ainda que os DSC da categoria K não possua robustez argumentativa, ou que, talvez, possa se tratar de uma perspectiva de alienação de todas as relações envolvidas no processo, a pesquisa apresenta a percepção que mostra ‘plena satisfação’ com os resultados da operação urbana Porto Maravilha.

O morador é um privilegiado com essas melhorias [...] aqui era horrível, um bairro jogado às traças [...] Agora, até dá para você ter como passear, dar uma corrida sem sair do seu bairro, você tem o museu, quem é morador do bairro tem a gratuidade, tanto o daqui perto da praça Mauá como o museu do Amanhã, poxa isso daí é muito legal.

(DSC, Categoria K)

Na categoria L aparecem representadas no DSC percepções dos moradores que apontam uma “ponderação”, destacando que apesar de alguns problemas, o Porto Maravilha é bom e só precisa dar continuidade e manutenção nas ações iniciadas.

Embora tenha muita coisa ainda a fazer, em relação ao jeito que era, melhorou [...] tem coisas boas e coisas ruins, por exemplo, chuva forte, enchia, às vezes continua enchendo, mas melhorou [...] eu conheci a Perimetral, embaixo dela, muito abandonado e hoje tem uma visão bem melhor [...] eu acho que essas obras só precisam ter conservação, manutenção.

(Categoria L)

Com base nas análises das categorias supracitadas, apesar do DSC que identifica a Operação Urbana Porto Maravilha com interesses exógenos, sobretudo de grupos de capital privado, há moradores que enxergam no referido projeto uma contribuição bastante positiva para os bairros, e outros que possuem percepção mais ponderada e negativa dos processos que conduziram as transformações nos bairros.

4.3 A prática do turismo

O turismo, sendo um fenômeno socioespacial, envolve processos e práticas sociais, políticas e econômicas de agentes sociais muito diferentes e específicos (Fratucci, 2014Fratucci, A. (2014). A dimensão espacial nas políticas públicas de turismo no Brasil. In T. Magnus, M. Emmendoerfer, & E. Tomazzoni (Eds), Gestão Pública do Turismo no Brasil: Teorias, Metodologias e Aplicações. Caixas do Sul: Editora da Universidade de Caxias do Sul.). Baseado no referencial teórico, na pesquisa documental de mapas/guias turísticos, na pesquisa exploratória, e nas percepções apresentadas em alguns DSC, identificou-se que a prática do turismo nesses bairros ocorre em função de ações de agentes sociais exógenos (Operação Urbana Porto Maravilha – Poder Público e Privado; turistas; Grandes Empresas; trabalhadores diretos e indiretos) e de agentes sociais endógenos (moradores, trabalhadores diretos e indiretos).

Nessa perspectiva, identificou-se que tanto o poder público quanto os responsáveis pela elaboração e divulgação da operação urbana Porto Maravilha, contribuíram para a construção do caráter turístico (Castro, 2006Castro, C. (2006). Narrativas e imagens do turismo no Rio de Janeiro. In G. Velho (Ed.), Antropologia Urbana: cultura e sociedade no Brasil e em Portugal (3 ed.). Editora Jorge Zahar.) da Zona Portuária. Para tal, alguns equipamentos culturais de entretenimento e lazer (Museu do Amanhã, AquaRio, MAR) foram priorizados nessa ação de divulgação do turismo, em detrimento de outras (fundamentalmente dos espaços e atividades de turismo relacionadas a história da cultura afro-brasileira na região). Em contrapartida, a análise da percepção dos moradores dos bairros estudados elenca trechos do espaço como pontos turísticos que remetem aos patrimônios da cultura afro-brasileira (Gamboa e Saúde), à história da cidade do Rio de Janeiro (Morro da Providência) e elementos que podem ser identificados como rugosidades (Santos, 2014Santos, M. (2014). A Natureza do Espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. Editora da Universidade de São Paulo.). Com isso, observa-se que as lógicas de apropriação do espaço para prática do turismo são distintas: (a) lógica reticular – os pontos de interesse turístico que são vendidos/divulgados o pelos mapas e guias turísticos; (b) lógica zonal – a percepção dos moradores de como se dá o turismo nos seus espaços de vivência (Haesbaert, 2004Haesbaert, R. (2004). O Mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Bertrand.).

A primeira identificação de pontos turísticos pelos moradores correspondia aos espaços e às atividades relacionadas à cultura afro-brasileira (DSC, Categoria M, O). Apenas um dos sujeitos entrevistados elenca os equipamentos culturais de entretenimento e lazer correspondente àqueles divulgados pelos meios oficiais ligados ao projeto Porto Maravilha. Mesmo assim, na construção do DSC referente a esse sujeito, a narrativa que se segue remete imediatamente a uma atividade relacionada com sua comunidade.

A Zona Portuária atrai mais pessoas agora por conta dos museus do Amanhã, do Mar, do VLT, do AquaRio [...] o pessoal sobe pra ver o ateliê.

(DSC, Categoria Q, M)

Aqui tem vários pontos turísticos com relação a Pedra do Sal dos escravos, aqui atrás tem um museu dos escravos onde foram achados corpos enterrados. No Centro Cultural José Bonifácio agora fizeram recentemente um museu afrodescendente com relação aos escravos [...] toda a história do Rio de Janeiro está aqui, se concentra aqui nessa região.

(DSC, Categoria M, O)

Apesar de alguns moradores relacionarem a prática do turismo a determinados patrimônios da cultura afro-brasileira na pergunta 4, percebeu-se a dificuldade na compreensão da expressão ‘cultura afro-brasileira’ na pergunta 5. Isso é evidenciado nos DSC que justificam devido à falta de estudo, e de forma menos explícita, na medida que os sujeitos discursaram sobre temas como o racismo, política de cotas para negros ou outros temas que desviava o sentido originário da pergunta (DSC, Categoria U). Avalia-se, portanto, que as questões relacionadas à cultura afro-brasileira ainda não atingiram parte dos moradores dos três lugares pesquisados.

Ainda na pergunta 5, houve alguns moradores da Saúde e Gamboa (parte baixa) que relataram conhecerem os patrimônios e atividades relacionadas à cultura afro-brasileira (DSC, Categoria S), outros que sabem de alguns (DSC, Categoria T). Já no Morro da Providência, o tema sobre o aumento da visibilidade da cultura afro-brasileira não foi identificado pela maioria dos moradores (DSC, Categoria S, T, X), apenas um morador mencionou que houve aumento de forma positiva das atividades relacionadas à cultura afro-brasileira (DSC, Categoria V).

As pessoas vêm para cá procurando ver o que se fala sobre a cultura afro-brasileira. O Cais do Valongo mesmo era o local que vendia os escravos [...] hoje sabe que aqui foi o maior mercado de escravos e aqui onde nós estamos é o holocausto negro [...] isso estava um pouco adormecido, e com essa exploração do turismo, da cultura tem sido bastante explorado.

(DSC, Categoria S, T – Saúde e Gamboa; DSC, Categoria V)

Bom, aí eu não sei te dizer [...] hoje em dia, o preconceito acabou, né? [...] porque não é só afrodescendente que vem aqui [...] eu não frequento, mas eu acho que tudo que é de projeto de melhoria é bom.

(DSC, Categoria U)

Olha, sinceramente, está tudo igual. A questão de dar mais visibilidade à presença da cultura afro está muito precária, muito precária. Teve na época de 2014, 2016 por causa da Olímpiadas, da Copa, a Zona Portuária estava em evidência, né?

(DSC, Categoria X – Morro da Providência)

Apesar da identificação de DSC com percepções que consideram os três lugares como pontos turísticos antes do Porto Maravilha (DSC, Categoria M), há percepções de sujeitos que identificaram o aumento da prática do turismo após esse projeto devido ao aumento da circulação de turistas.

Nesse sentido, os DSC vêm ao encontro de estudos que apontam para o processo de (re)urbanização como fator que incentiva e/ou gera a prática do turismo em determinados lugares (Paiva, 2013Paiva, R. (2013). Sobre a relação turismo e urbanização. Pós, 20(33), 126-145.; Sánchez, 2003Sánchez, F. (2003). A reinvenção das cidades para um mercado global. Chapecó.). Alguns DSC revelam que a prática do turismo está estritamente relacionada à intervenção urbana realizada, porque antes esses bairros eram vistos como muito perigosos e, por isso, havia baixa circulação de visitantes no local. Outros DSC revelam percepções de certos moradores que consideram que o MP e Saúde não são pontos turísticos porque não possuem infraestrutura turística.

Aqui sempre foi um ponto turístico, sei que esquecido [...] o MP sempre foi ponto turístico, é a primeira favela [...] antes do projeto tinha turistas por ter a primeira favela do Rio de Janeiro, mas era muito difícil por causa do acesso, por ser um lugar considerado perigoso, as pessoas não tinham tanto interesse de vir para esse lado do Rio de Janeiro. Agora, o bairro ficou conhecido. Hoje eu falo assim, eu moro na Gamboa perto do Aquário aí todo mundo já sabe onde é.

(DSC, Categoria M, O)

Antes do Porto Maravilha, tinha um pessoal que passava por aqui, mas não chegava a ser turista não. É pessoal de passagem, vinha visitava e ia embora. Mas agora tem turismo mesmo.

(DSC, Categoria O)

O meu bairro não virou ponto turístico ainda. Ele não tem estrutura para receber turistas [...] Apesar do MP ser a primeira favela, só há um guia. Por exemplo, no Santa Marta você tem uns 30 a 40 guias, e na Rocinha deve ter uns 300 que fazem lá. Então tem Vidigal, Santa Marta, Chapéu Mangueira, Babilônia, Cantagalo, muitas favelas da Zona Sul que são pontos turísticos.

(DSC, Categoria P)

Referente aos benefícios econômicos para os moradores devido ao processo de turistificação, há em alguns DSC percepções que criticam os projetos de reurbanização atrelados ao turismo por ‘vender’ um paraíso urbano de melhorias para a população e geração de renda, mas, que no final não ocorre (Paiva, 2013Paiva, R. (2013). Sobre a relação turismo e urbanização. Pós, 20(33), 126-145.; Coelho, 2013Coelho, S. (2013). A Inserção do Bairro Pirambu no Contexto Turístico de Fortaleza - CE. [Dissertação de Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos]. Universidade Estadual Do Ceará.; Leite, 2017Leite, N. (2017). A cidade e o turismo: um estudo sobre o papel da atividade turística no empresariamento urbano de Lyon (França). [Tese de Doutorado]. Universidade Federal de Pernambuco.). Já outros DSC apontam percepções defendendo que o turismo, sobretudo, a partir do Porto Maravilha, fomentou a geração de renda dos moradores, mesmo sendo faturamentos mínimos.

Agora o comerciante pequeno não está ganhando, está fechando porque os aluguéis aqui foram lá em cima. Benefício mesmo, é só para o cara que tem grana [...] pra gente mesmo, a gente não tem essa regalia igual os turistas têm [...] agora a Providência, ela mais uma vez é esquecida dentro desses projetos e quando é lembrada, ela é lembrada para ser removida, não é lembrada para participar, interagir, os moradores se qualificarem, ou receberem uma benfeitoria. Os moradores recebem remoção, recebem polícia, violência.

(DSC, Categoria Q)

Maravilhoso, eu tenho minhas vendas, vendo minhas coisas, sobe gente toda hora aqui [...] é muito bom, os moradores ainda ganham um dinheirinho. Vende uma bebida, uma água, é muito bom, eu estou gostando muito. Tem mais emprego para o pessoal, o rapaz que é guia do pessoal aí está se dando bem [...] depois do Porto Maravilha melhorou, porque antes, eu já recebia turistas na minha loja, então isso só fez melhorar muito, aumentar mais o fluxo.

(DSC, Categoria N)

Em alguns DSC, observou-se percepções sobre a realização da prática do turismo e a ocorrência de interações e interrelações temporárias entre os moradores e os turistas. Elas ocorrem na perspectiva teórica do reconhecimento da existência do outro, recíproca e simultaneamente - anfitrião e turista (Fratucci, 2000Fratucci, A. (2000). Os lugares turísticos: territórios do fenômeno turístico. Geographia. 2(4), 121-133. https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2000.v2i4.a13390
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). Parte dos moradores expressou um sentimento de orgulho e satisfação por ver a circulação de turistas e visitantes em seus bairros. Porém, há percepções sobre o samba da Pedra do Sal como ‘segundas sem lei’. Talvez, esse relato remeta à saturação daquele espaço devido alguns visitantes e turistas não respeitarem o espaço de vida dos moradores.

Deu vida a este bairro porque não tinha [...] o bairro ficou alegre, cheio de gente interessante circulando pelo bairro, gente bonita, é um orgulho para a gente de ter um bairro que todo mundo quer vir [...] moro na Gamboa que hoje todo mundo conhece [...] todo mundo que mora aqui sabia, sempre soube que nós estamos numa área importante [...] a gente também melhora outras coisas pra poder receber essas pessoas melhor [...] quem não gosta de ver uma diferença na nossa rua, turistas?

(DSC, Categoria N, O)

Não contatou os moradores, não contatou a especialista, principalmente pessoas que sabem da região. [...] a gente não tem essa regalia igual os turistas têm [...] as segundas feiras aqui, a gente chama de segunda sem lei. [...]. A Zona Portuária está mais turística, mas não muito pensada com os moradores.

(DSC, Categoria Q, R)

Em suma, percebeu-se que a percepção sobre a prática do turismo nesses bairros não se resume à uma simples transação de compra e venda/oferta e demanda, ao contrário, há a produção de um conjunto de interações entre turistas e moradores, tanto no plano material como no plano simbólico.

4.4 Gentrificação

Nos DSC das categorias J, K, L identificou-se percepções dos moradores da Gamboa (parte baixa) e da Saúde convergentes ao conceito de gentrificação. Conforme os referenciais teóricos, as intervenções urbanas e o turismo podem fazer parte de um processo que modifica as formas de habitar a cidade (Lees et al., 2008Lees, L., Slater, T., & Wyly, E. (2008). Gentrification. Routledge.; Igrejas, 2012Igrejas, P. (2012). Reinventando espaços e significados: Propostas e limites da urbanização turística no Projeto Porto Maravilha. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal do Rio de Janeiro., Sánchez, 2003Sánchez, F. (2003). A reinvenção das cidades para um mercado global. Chapecó.).

Observou-se nos DSC (Categorias J, K, L) percepções que indicam que o Porto Maravilha fomentou a especulação imobiliária e consequentemente, a valorização fundiária na Gamboa (parte baixa) e da Saúde. Em função disso, identificaram-se relatos de que alguns moradores foram obrigados a sair do bairro por falta de condições financeiras para pagar o aluguel reajustado devido às obras do Porto Maravilha. Em contrapartida, há nos DSC a presença de narrativas que identificam o interesse de pessoas de outro nível econômico na compra de casas que precisam de reformas por preços mais baratos (Lees et al., 2008Lees, L., Slater, T., & Wyly, E. (2008). Gentrification. Routledge.). Além disso, houve percepções que denunciam a valorização imobiliária do local, assim como o aumento do custo de vida nos bairros, em função das obras de melhorias vinculadas à operação urbana ‘Porto Maravilha’. Os moradores também perceberam a corrida por parte de um grupo economicamente mais favorecido na compra de imóveis na região, com o intuito de lucrar, em função da especulação imobiliária.

O que subiu muito foi o aluguel pensando que o bairro ia ter uma melhoria boa aí e não aconteceu foi nada [...] reformar uma fachada é muito caro e quem mora aqui é pobre, é diferente desse pessoal que vem imigrando pra cá, que vem com grana para comprar casa velha barata para reformar. Eu não quero vender minha casa para esse pessoal [...] quanto ao valor dos imóveis foi bom, porque valorizou os imóveis para quem já tinha imóvel aqui. A maioria dos moradores que eu conheço são todos proprietários iguais a mim, então assim, muitos permaneceram, mas teve alguns que moravam de aluguel tiveram sim que sair porque aumentou.

(DSC, Categoria J, K, L)

Os processos de reestruturação urbana, gentrificação e turistificação são muito mais complexos do que aparentam. Há disputas pelo território e cada agente social tem uma lógica específica. Destacam-se as disputas a partir de um capital demasiadamente estimulado e sustentado por políticas de imagens, venda de cidades (city marketing) e competitividade urbana, principalmente em metrópoles consideradas cidades globais. Nessa lógica, pode-se pensar que os lugares onde os processos de turistificação estão vinculados aos GPDUs, se apresentam como áreas com grande potencial de sujeição ao processo de gentrificação.

A análise e discussão dos resultados obtidos na pesquisa buscaram apresentar e articular com o referencial teórico, os pensamentos de expressão coletiva dos moradores da Saúde, Gamboa (parte baixa) e Morro da Providência, sintetizados em trechos dos DSC. O principal interesse dessa articulação versou sobre as relações existentes em seus espaços de vivência, a Operação Urbana Porto Maravilha, a prática do turismo e a gentrificação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa revisitou conceitos de outras áreas do conhecimento (geografia humana, urbanismo e arquitetura) a fim de ressignificá-los e/ou contextualizá-los em atividades ligadas à prática do turismo contemporâneo. Procurou-se analisar a percepção dos moradores dos bairros da Gamboa e da Saúde a respeito das alterações no seu espaço vivido advindas do recente processo de turistificação provocado pela Operação Urbana Porto Maravilha.

Identificou-se que a maioria dos moradores percebe a circulação de turistas e visitantes, sobretudo nos finais de semana (sazonalidade). Ainda que os discursos sejam contraditórios a respeito do status dos bairros como lugar turístico, há quase um consenso que após a Operação Urbana Porto Maravilha houve aumento significativo no fluxo turistas na Zona Portuária.

Além disso, observou-se percepções de orgulho e satisfação sobre a prática do turismo. Mas, também insatisfação quanto ao samba da Pedra do Sal, descrito como ‘segundas sem lei’, o que pode gerar conflitos entre moradores e visitantes/turistas.

Na pesquisa documental das Revistas Porto Maravilha e na análise da Lei 101/2009, constatou-se que, inicialmente, as ações para tornar a Zona Portuária turística se concentravam no Morro da Conceição, na construção do Museu do Amanhã, Museu de Arte do Rio, AquaRio, Mural de grafites, ‘boulevard olímpico’ e o próprio VLT. Porém, a redescoberta do Cais do Valongo durante as obras influenciou a criação de novas narrativas turísticas, levando instituições públicas e privadas a se apropriarem delas. Os roteiros turísticos sobre a história da escravidão e da cultura afro-brasileira passaram a compor a imagem turística da Zona Portuária.

Apesar desta pesquisa estar de acordo com o referencial teórico sobre intervenções urbanas e suas lógicas, não se descarta que a Operação Urbana Porto Maravilha seja percebida por parte de um número razoável de entrevistados como algo positivo. Por isso, faz-se necessário aproximar cada vez mais a especialização do conhecimento à realidade desses moradores. É importante ter ciência que as condições de vida desses moradores, em sua maioria, são precárias. Percebe-se que apesar de terem sido poucas e/ou pontuais, algumas modificações e obras foram e são significativas para a população que, conforme relatos, era esquecida. Os bairros pesquisados, de certa forma, representam grande parte da população brasileira e suas condições de vida. Como disseram, ‘é um bairro pobre!’.

Contudo, notou-se em alguns DSC sobre o Porto Maravilha pontos bem próximos às reflexões, conceitos e discussões da academia. Embora alguns tenham se expressado de forma menos robusta e sem a aproximação com o conhecimento acadêmico, os relatos remetem à teoria e às reflexões sobre as lógicas desses grandes projetos urbanos.

Ademais, percebeu-se o estabelecimento da lógica da acumulação individual se sobressaindo ao bem-estar coletivo, mesmo que o prejudicado seja o vizinho. Ao identificar que no Morro da Providência o tema gentrificação não aparece, constata-se que a lógica da especulação imobiliária tem interesse em determinados trechos do espaço urbano e os moradores ficam sujeitos à lógica do mercado.

Por fim, esta pesquisa contribui com os estudos na área do turismo, geografia e do urbanismo a fim de entender como se dão os processos de turistificação. Partiu-se da premissa que não se pode compreender o lugar e sua historicidade sem ter clara a concepção dos processos que alimentam as suas transformações. Assim, a partir da aplicação do DSC e do estudo analítico das falas dos sujeitos se encontrou dados essenciais para as discussões deste estudo.

AGRADECIMENTOS

Aos moradores da Gamboa e da Saúde.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001 e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).

  • Como citar: Santos, Silva, M. H.; Fratucci, A. C. (2022). Turistificação nos bairros da Gamboa e da Saúde, Rio de Janeiro: percepção dos moradores como sujeito coletivo. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 16, e-2370. http://doi.org/10.7784/rbtur.v16.2370

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Editado por

Editor:

Leandro B. Brusadin.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    03 Fev 2021
  • Aceito
    13 Maio 2021
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