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Extrato de orégano como aditivo em rações para frangos de corte

Oregan extract as an additive in the broiler diet

Resumos

Os objetivos neste experimento foram avaliar os efeitos da inclusão de extrato de orégano (EO) como aditivo promotor de crescimento nas rações sobre o desempenho, o sistema imune (peso e tamanho da bursa de Fabricius, peso do baço e do timo), as características anatomo-fisiológicas do trato gastrointestinal (altura de vilosidade, profundidade de cripta e suas relações), a microbiologia do ceco e o pH do duodeno e do ceco de frangos de corte. Foram utilizados 1.440 pintos de corte machos Cobb 500, em duas fases de criação (1 a 21 e 1 a 42 dias de idade), distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, com seis tratamentos e oito repetições de 30 aves. Utilizou-se ração basal (RB) para as três fases de criação (1 a 21, 22 a 35 e 36 a 42 dias de idade), constituindo os seguintes tratamentos: T1 - RB; T2 - RB com antibiótico (25 ppm de bacitracina de zinco); T3 - RB com 0,025% EO; T4 - RB com 0,050% EO; T5 - RB com 0,075% EO; e T6 -RB com 0,100% EO. Observou-se que os tratamentos não influenciaram o desempenho e os pHs dos conteúdos duodenal e cecal das aves nas duas fases de criação. As variáveis de imunidade e avaliação anatomo-fisiológica do trato gastrointestinal aos 21 dias não apresentaram diferenças. Apenas o peso do baço e a altura de vilosidade aos 42 dias de idade foram influenciados pelos tratamentos. Houve redução no número de bactérias no ceco das aves à medida que se elevou o conteúdo do extrato de orégano nas rações, indicando que houve ação antimicrobiana dos componentes deste extrato. Na condição em que foi realizado o experimento, o uso do extrato de orégano como aditivo promotor de crescimento não ocasionou efeito diferente dos demais tratamentos (antibiótico e testemunha).

aditivo; extrato de orégano; frango de corte; promotor de crescimento


The objectives of this trial were to evaluate the efficacy of oregan extract (OE), as growth promoter, in the diets, on performance, immune system (bursa Fabricius weight and volume, spleen weight and thymus weight), anatomic-physiological parameters of the gastrointestinal tract (villy height, crypta depth and villy:crypta ratio), caecum microbiological analysis, and duodenum and caecum pH. One thousand and fourty male Cobb 500 chicks, in two growing phases (1 to 21 and 1 to 42 days old) were randomly assigned to six treatments and eight replicates of 30 broilers. The basal diet (BD) was fed during the three phases (1 to 21, 22 to 35 and 36 to 42 days old), according to the following treatments: T1 - BD, T2 - BD with antibiotic (25 ppm zinc bacitracin), T3 - BD with 0.025% OE, T4 - BD with 0.050% OE, T5 - BD with 0.075% OE, and T6 - BD with 0.100% OE. No effect of treatments on broiler performance and duodenum and caecum pH in both phases was observed. The immunity system and anatomic-physiological parameters of gastrointestinal tract were not affected by the treatments, during the first phase. At 42 days old, only the spleen weight and villy height were affected by treatments. Decreasing effect on the number of bacteriums in caecum as the dietary level of oregan extract increased showed the antimicrobian effect of oregan extract. Based on these results, it is possible to conclude that the use of oregan extract as growth promoter did not differ from the other treatments (antibiotic and control).

additive; broiler; growth promoter; oregan extract


MONOGÁSTRICOS

Extrato de orégano como aditivo em rações para frangos de corte1 1 Parte da dissertação de Mestrado apresentado à UFLA Lavras MG pelo primeiro autor.

Oregan extract as an additive in the broiler diet

Ellen Hatsumi FukayamaI; Antonio Gilberto BertechiniII; Adriano GeraldoIII; Reinaldo Kanji KatoIII; Luis David Solis MurgasII

IEstudante de Pós-Graduação em Zootecnia - Universidade Estadual Paulista. Bolsista da CAPES. E.mail: fukayama@fcav.unesp.br

IIProfessor da UFLA. Email: bertechini@ufla.br

IIIEstudante de Pós-Graduação em Zootecnia - Universidade Federal de Lavras

RESUMO

Os objetivos neste experimento foram avaliar os efeitos da inclusão de extrato de orégano (EO) como aditivo promotor de crescimento nas rações sobre o desempenho, o sistema imune (peso e tamanho da bursa de Fabricius, peso do baço e do timo), as características anatomo-fisiológicas do trato gastrointestinal (altura de vilosidade, profundidade de cripta e suas relações), a microbiologia do ceco e o pH do duodeno e do ceco de frangos de corte. Foram utilizados 1.440 pintos de corte machos Cobb 500, em duas fases de criação (1 a 21 e 1 a 42 dias de idade), distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, com seis tratamentos e oito repetições de 30 aves. Utilizou-se ração basal (RB) para as três fases de criação (1 a 21, 22 a 35 e 36 a 42 dias de idade), constituindo os seguintes tratamentos: T1 - RB; T2 - RB com antibiótico (25 ppm de bacitracina de zinco); T3 - RB com 0,025% EO; T4 - RB com 0,050% EO; T5 - RB com 0,075% EO; e T6 -RB com 0,100% EO. Observou-se que os tratamentos não influenciaram o desempenho e os pHs dos conteúdos duodenal e cecal das aves nas duas fases de criação. As variáveis de imunidade e avaliação anatomo-fisiológica do trato gastrointestinal aos 21 dias não apresentaram diferenças. Apenas o peso do baço e a altura de vilosidade aos 42 dias de idade foram influenciados pelos tratamentos. Houve redução no número de bactérias no ceco das aves à medida que se elevou o conteúdo do extrato de orégano nas rações, indicando que houve ação antimicrobiana dos componentes deste extrato. Na condição em que foi realizado o experimento, o uso do extrato de orégano como aditivo promotor de crescimento não ocasionou efeito diferente dos demais tratamentos (antibiótico e testemunha).

Palavras-chave: aditivo, extrato de orégano, frango de corte, promotor de crescimento

ABSTRACT

The objectives of this trial were to evaluate the efficacy of oregan extract (OE), as growth promoter, in the diets, on performance, immune system (bursa Fabricius weight and volume, spleen weight and thymus weight), anatomic-physiological parameters of the gastrointestinal tract (villy height, crypta depth and villy:crypta ratio), caecum microbiological analysis, and duodenum and caecum pH. One thousand and fourty male Cobb 500 chicks, in two growing phases (1 to 21 and 1 to 42 days old) were randomly assigned to six treatments and eight replicates of 30 broilers. The basal diet (BD) was fed during the three phases (1 to 21, 22 to 35 and 36 to 42 days old), according to the following treatments: T1 - BD, T2 - BD with antibiotic (25 ppm zinc bacitracin), T3 - BD with 0.025% OE, T4 - BD with 0.050% OE, T5 - BD with 0.075% OE, and T6 - BD with 0.100% OE. No effect of treatments on broiler performance and duodenum and caecum pH in both phases was observed. The immunity system and anatomic-physiological parameters of gastrointestinal tract were not affected by the treatments, during the first phase. At 42 days old, only the spleen weight and villy height were affected by treatments. Decreasing effect on the number of bacteriums in caecum as the dietary level of oregan extract increased showed the antimicrobian effect of oregan extract. Based on these results, it is possible to conclude that the use of oregan extract as growth promoter did not differ from the other treatments (antibiotic and control).

Key Words: additive, broiler, growth promoter, oregan extract

Introdução

Para sustentar o desenvolvimento de toda a cadeia produtiva avícola, muitas pesquisas nas áreas de melhoramento genético, nutrição, sanidade e manejo tem sido realizadas. Com esse desenvolvimento, iniciou-se o uso em larga escala de antibióticos como promotores de crescimento na produção de frangos de corte, melhorando o desempenho animal e diminuindo a mortalidade causada por infecções clínicas e subclínicas.

Após anos de uso de antibióticos como promotores de crescimento na alimentação de aves, alguns questionamentos foram levantados. Entre eles, se esses produtos continham os mesmos princípios ativos de antibióticos utilizados na terapêutica humana ou se apresentavam moléculas cuja estrutura induzia resistência cruzada a antibióticos administrados em humanos. Resíduos desses antibióticos poderiam permanecer na carne e, assim, serem transmitidos ao consumidor final, propiciando o aparecimento de resistência de bactérias intestinais aos promotores de crescimento.

No entanto, o uso de antibióticos como promotores de crescimento está sendo gradualmente banido por países da Comunidade Européia e poderá ser eliminado até 2006. Como segundo maior produtor mundial de frango de corte, o Brasil precisa estar preparado para atender às exigências de exportações, desenvolvendo novas tecnologias e pesquisas que possibilitem alternativas para a substituição dos antibióticos.

Entre as alternativas, os aditivos fitogênicos, extratos herbais e vegetais, fazem parte de uma classe de produtos que poderá substituir os agentes antimicrobianos. Como opção, destaca-se o extrato de orégano, por ser composto de dois principais fenóis com propriedades antimicrobianas: o carvacrol e o thymol, que agem sobre a membrana celular bacteriana, impedindo sua divisão mitótica, causando desidratação nas células e impedindo a sobrevivência de bactérias patogênicas, apresentando grande efeito como agente antimicrobiano.

Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de avaliar os efeitos de níveis crescentes do extrato de orégano como alternativa aos aditivos em rações para frangos de corte de 1 a 42 dias de idade.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido no período de outubro a novembro de 2003 no Setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras.

Foram utilizados 1.440 pintos de corte machos, marca Cobb 500, com um dia de idade, vacinados contra a doença de Marek e alojados em 48 boxes (2,0 m x 1,5 m) no sistema cama, com aquecimento, bebedouro pendular e comedouro tubular. Em cada boxe, foram alojadas 30 aves. Na tentativa de proporcionar um desafio, foi misturada à cama de maravalha recém-colocada nos boxes uma cama utilizada em outro galpão com frangos de corte, na proporção de 1 kg/m2.

Para avaliar o desempenho dos frangos, foram utilizados o antibiótico bacitracina de zinco e quatro níveis de extrato de orégano em substituição ao promotor de crescimento, incluídos juntamente com o inerte em uma quantidade fixa, não alterando a composição da ração, nas fases inicial (1 a 21 dias), de crescimento (22 a 35) e final (36 a 42 dias). Os tratamentos são descritos a seguir:

T1 - ração basal (RB), sem antibiótico e sem extrato de orégano (controle negativo)

T2 - RB com antibiótico (0,025% de bacitracina de zinco), sem extrato de orégano (controle positivo)

T3 - RB com 0,025% de extrato de orégano

T4 - RB com 0,050% de extrato de orégano

T5 - RB com 0,075% de extrato de orégano

T6 - RB com 0,100% de extrato de orégano

Os ingredientes e nutrientes utilizados nas rações experimentais encontram-se na Tabela 1. A composição dos ingredientes e das rações e as exigências nutricionais das aves foram obtidas de acordo com recomendações de Rostagno et al. (2000).

O extrato de orégano na forma de pó (Orego-Stim®) utilizado no experimento foi composto de: a-Pinene, Camphine, b-Pinene, Sabinene, Myrecene, a-Phellandrene, a-Terpinene, Limonene, 1,8 Cineole, b-Ocimene, Terpinolene, 1-Octen-3-ol, Trans-Sabineme hydrate, Linalool, Cis-Sabinene hydrate, Terpinen-4-ol,Carvacrol methyl ether, b-Carvophvellene, a-Humulen, a-Terpineol, Borneol, b-Bisabolene, g-Terpinene, r-Cymene, Thymol, Carvacrol.

Foi realizado um plano nutricional para cada fase (inicial, crescimento e final) e a análise de desempenho foi avaliada apenas aos 21 e aos 42 dias de idade das aves, visando evitar estresse.

Os cálculos para o consumo de ração foram realizados pela diferença entre as pesagens de ração fornecida e a sobra nos comedouros de cada box em relação ao número de aves corrigido pela mortalidade.

Para controlar o ganho de peso, foram feitas pesagens no 1º, 21º e 42º dias de idade do grupo de aves de cada unidade experimental, obtendo-se, então, o ganho de peso médio por ave.

A conversão alimentar também foi calculada para as fases de 1 a 21 e de 1 a 42 dias de idade, utilizando-se, para os cálculos, os dados referentes ao consumo e ganho de peso de cada unidade experimental.

O rendimento de carcaça foi avaliado aos 42 dias de idade, separando uma ave por repetição por tratamento, com peso médio representativo da unidade experimental. As aves foram submetidas a um jejum de 6 horas e, posteriormente, foram pesadas e abatidas. As carcaças evisceradas com cabeça, pescoço e pés, vísceras comestíveis e gordura abdominal foram pesadas antes do resfriamento por 24 horas. O rendimento de carcaça (incluindo os pés e cabeça da ave) foi calculado com base no peso vivo no momento do abate e os rendimentos de peito e gordura abdominal foram estimados com base no peso da carcaça.

Ao final do ensaio experimental, aos 21 e 42 dias de idade, oito aves por tratamento foram submetidas a um jejum de 6 horas, sendo pesadas e processadas segundo os procedimentos normais de abate: sangria, depenagem e evisceração. Em seguida, foram coletados o baço, o timo e a bursa de Fabricius de cada ave para se verificar, por meio das medidas morfométricas (peso e tamanho) desses órgãos, alguma relação de resposta do sistema imunológico das aves em relação aos tratamentos. Entre esses órgãos, somente a bursa de Fabricius foi mensurada alometricamente (mm).

As vilosidades e as criptas do duodeno também foram avaliadas microscopicamente após o abate de oito aves por tratamento no 21º e 42º dias de idade das aves.

Os segmentos do intestino com aproximadamente 1,5 cm de comprimento foram cuidadosamente coletados e lavados imediatamente em água destilada, identificados, armazenados em solução Bouin (150 mL de solução concentrada de ácido pícrico, 50 mL de formol comercial 40% e 10 mL de ácido acético glacial) por 24 horas e, em seguida, foram mantidos em álcool 70% durante um mês, até a confecção das lâminas.

A confecção das lâminas para as análises morfométricas foi realizada segundo a técnica descrita por Junqueira & Junqueira (1983), com algumas adaptações.

As análises morfométricas dos cortes histológicos do intestino delgado das aves foram realizadas utilizando-se o microscópio óptico (OLYMPUS BX50) com aumento de 40 vezes. Foram selecionados e medidos os comprimentos em linha reta, de acordo com a unidade adotada (µm), 10 vilosidades e 10 criptas, bem orientadas, de cada região intestinal, por animal. As relações entre vilosidades e criptas também foram calculadas.

As medidas de altura de vilosidades foram tomadas a partir da base superior da cripta até o ápice da vilosidade e as criptas foram medidas entre as vilosidades da base inferior até a base superior da cripta.

Foram coletadas amostras do ceco no 42º dia de idade das aves, para a contagem total de bactérias presentes e a determinação gram.

De cada ave abatida, isolou-se uma seção do ceco de aproximadamente 15 cm de comprimento, que foi separada por ligaduras, removida, acondicionada em sacos de plástico e colocada em caixa térmica contendo gelo, sendo imediatamente realizadas as análises microbiológicas.

A cada oito repetições por tratamento, foi formado um "pool" das amostras, coletando-se 25 g do conteúdo cecal por tratamento e transferindo-os imediatamente para erlenmeyers de 225 mL de água peptonada a 0,1% estéril. Em seguida, foram realizadas diluições decimais das amostras em tubos de ensaio contendo 9 mL de água peptonada. Posteriormente, uma amostra de 1 mL dos tubos de ensaio contendo diluições de 10-5 a 10-8 das amostras foi coletada e transferida, em duplicatas, para placas de Petri contendo o meio ágar de man, rogosa e sharpe (MRS) para favorecer o crescimento de bactérias. As placas foram recobertas com o mesmo meio, invertidas e incubadas a 28ºC, por 72 horas.

Posteriormente, foram selecionadas as placas que apresentavam entre 25 e 250 colônias, que foram contadas com o auxílio de um contador de colônias "Quebec". Os resultados obtidos foram expressos como log. na base 10 da contagem, por grama do conteúdo da digesta (UFC/g).

Após o abate, o conteúdo fecal de cada parte do duodeno e do ceco das aves foi colocado em um béquer contendo 20 mL de água destilada e, em seguida, foi analisado em um peagômetro.

O experimento foi conduzido em um delineamento inteiramente casualizado (DIC), com seis tratamentos e oito repetições de 30 aves por unidade experimental, totalizando 48 parcelas e 1.440 aves.

As análises estatísticas foram realizadas pelo pacote estatístico SISVAR, descrito por Ferreira (2000). Os contrastes foram testados pelo teste Dunnet a 5%, descrito por Sampaio (1998), comparando-se o tratamento com antibiótico (controle positivo) com os demais tratamentos. Em seguida, efetuou-se a análise de regressão para os tratamentos sem antibiótico e aqueles com níveis crescentes do extrato de orégano nas rações.

Resultados e Discussão

Os resultados relativos ao desempenho das aves de 1 a 21 dias e de 1 a 42 dias de idade encontram-se na Tabela 2.

Não foi observado efeito significativo (P>0,05) dos tratamentos sobre o consumo de ração, o ganho de peso e a conversão alimentar no período de 1 a 21 dias de idade das aves.

Esses resultados indicam que as condições experimentais não permitiram observar os efeitos do uso do extrato de orégano, uma vez que o tratamento com antibiótico se comparou aos demais, inclusive aquele sem o extrato de orégano, o que confirma os argumentos de Whitehair & Thompson (1956), citados por Menten (2001), e Forbes & Park (1959), de que há necessidade de um desafio sanitário de campo suficiente para que os promotores passem a produzir efeitos sobre o desempenho de aves e suínos.

Considerando o período total de criação, verificou-se que não houve efeito significativo (P>0,05) dos tratamentos sobre o consumo de ração, o ganho de peso e a conversão alimentar das aves.

Os resultados de desempenho das aves aos 42 dias de idade obtidos neste trabalho estão acima dos indicados no manual de criação. Assim, os benefícios que poderiam ser obtidos com o uso dos promotores não foram observados, pois as condições de manejo, ambiente e nutrição foram adequadas para que a ave expressassem seu potencial.

Resultados revisados por Menten (2001), referentes a 12.153 trabalhos em que antibióticos foram utilizados, revelaram que, em 28% desses experimentos, não houve respostas no desempenho dos animais, deixando claro que a análise de poucas pesquisas pode modificar o verdadeiro valor do promotor testado e, para que se obtenham resultados efetivos, são necessárias condições experimentais com desafio sanitário próximo à realidade do campo, onde geralmente é possível observar baixa sanidade. Em experimentos realizados no Brasil, nos últimos anos, observou-se que as respostas aos antibióticos nas rações de frangos de corte foram de pequena magnitude. A maioria não foi significativa e, em alguns casos, a resposta foi até negativa, confirmando os resultados deste experimento, no qual não foram observadas diferenças estatísticas no desempenho dos animais em nenhum dos tratamentos.

Os resultados relativos à avaliação de carcaça das aves aos 42 dias de idade encontram-se na Tabela 3.

Não foi observado efeito significativo (P>0,05) dos tratamentos sobre os rendimentos de carcaça (carcaça com pés e cabeça), peito e gordura abdominal aos 42 dias de idade. Esses resultados estão de acordo com os obtidos para o desempenho das aves, podendo-se observar que o objetivo principal do extrato de orégano não é melhorar o desempenho e o rendimento da carcaça.

Henrique et al. (2000), Loddi et al. (2000), Dionizio (2001), Leandro et al. (2001), Vargas Jr. et al. (2001) e Loddi et al. (2002) também não observaram diferenças significativas nos rendimentos de carcaça e de peito ao utilizarem diferentes aditivos nas rações para frangos de corte.

Para teor de gordura abdominal, os resultados corroboram os obtidos por vários autores (Jin et al., 1998; Loddi et al., 2000; Pelicano et al., 2002; Santos et al., 2002; Santos, 2003) que utilizaram antibióticos, probióticos e prebióticos em rações para aves.

A imunidade dos frangos de corte, avaliada segundo os resultados de peso do baço e do timo e as medidas da bursa de Fabricius, aos 21 e 42 dias de idade, encontra-se na Tabela 4.

Aos 21 e 42 dias, não foram observadas diferenças significativas (P>0,05) para peso do baço e do timo e para as medidas relativas à bursa de Fabricius, conforme dados obtidos por Fuini (2001). Mesmo no tratamento testemunha, no qual não se utilizou extrato de orégano e antibiótico, verificou-se que não houve diferença estatística (P>0,05) em relação ao tratamento positivo em que foi utilizado o antibiótico bacitracina de zinco (25 ppm). Isso possivelmente resultou das condições experimentais, proporcionando um bom ambiente sanitário e, conseqüentemente, não obtendo desafio para a atuação dos aditivos utilizados. Outro motivo relevante é o alto valor dos coeficientes de variação destas medidas, sendo muitas vezes subjetiva a avaliação, principalmente, do peso dos rins.

Esses resultados sugerem que, em condições ideais de manejo, pode não haver necessidade de utilização de antibióticos na ração. Porém, são necessários estudos para se confirmar essas informações.

Para o peso do baço aos 42 dias de idade, houve efeito significativo (P<0,05), que, no entanto, não foi suficiente para expressar o efeito do sistema imune sobre o desempenho das aves.

As causas de alteração da resposta imune podem decorrer de vários fatores, incluindo os nutricionais, genéticos e os relacionados ao manejo. No entanto, os resultados da ação do estresse sobre a imunidade são complexos e, por vezes, encontra-se imunossupressão e, em outras, imunoestimulação. Essas variações são, em parte, causadas por diferenças na intensidade do estressor, na duração do estímulo estressor e nas variações genéticas de linhagens e de indivíduos. Com isso, as variações dos resultados relacionados à imunidade da ave decorrem de vários fatores em conjunto, muitas vezes impossíveis de separação e controle.

Os resultados relativos à altura de vilosidades, à profundidade de criptas e à relação vilosidade:cripta do duodeno das aves aos 21 e aos 42 dias de idade encontram-se na Tabela 5.

Não foi observado efeito significativo (P>0,05) dos tratamentos sobre altura de vilosidades, profundidade de criptas e relação vilosidade:cripta do duodeno das aves aos 21 dias, o que está de acordo com os dados de desempenho, para os quais também não se verificou diferença significativa (P>0,05) entre os aditivos. Apenas a altura de vilosidade aos 42 dias de idade foi afetada (P<0,05). Porém, esse resultado não foi suficiente para expressar o efeito da morfometria do trato digestório sobre o desempenho das aves.

A altura média das vilosidades do duodeno das aves aos 42 dias observada neste estudo foi de 1.523 µm e se assemelha à verificada por Santos (2003), que encontrou altura média de 1.535 µm. No entanto, esses valores estão abaixo dos encontrados por Dionízio (2001), que obteve média de 1.666 mm quando trabalhou com antibiótico e prebióticos nas rações de frangos de corte.

As médias das profundidades de criptas do duodeno nos tratamentos utilizados neste experimento, aos 42 dias, foram de 209 a 275 µm, semelhantes aos 273 µm encontrados por Santos (2003), e estão acima dos encontrados por Schwarz et al. (2002), citados por Santos (2003), que obtiveram médias de 132 µm, utilizando os mesmos tratamentos.

De maneira geral, a relação vilosidade:cripta também não apresentou diferenças estatísticas (P>0,05), independentemente da altura de vilosidades e da profundidade de cripta apresentadas neste trabalho.

Os resultados obtidos podem ter sido influenciados pelo fato de as aves não terem sido submetidas a um desafio suficiente para provocar efeito expressor do uso de aditivo.

As medidas relacionadas às vilosidades e às criptas intestinais podem sofrer várias alterações em função de fatores como nutrição, ambiente, manejo, genética e sanidade. Viola (2003) observou que diferença no consumo de água pode alterar o comprimento das vilosidades intestinais e, conseqüentemente, influenciar o desempenho da ave. Portanto, variações nos resultados deste experimento podem ser respostas de vários fatores de difícil controle.

Os resultados relativos à contagem total e ao teste de gram das bactérias na amostra do ceco das aves aos 42 dias de idade, de acordo com os tratamentos, encontram-se na Tabela 6.

A redução no número de bactérias nos tratamentos utilizando-se 0,025; 0,050 e 0,100% de extrato de orégano na ração pode ter ocorrido em razão de 85% do extrato de orégano ser composto por carvacrol e thymol, que são componentes fenóis naturais fundamentais no controle da ação antimicrobiana, que agem sobre a membrana celular bacteriana, impedindo sua divisão mitótica, causando desidratação nas células e impedindo a sobrevivência destas bactérias patogênicas.

De acordo com Silva (2000), entre as gram-positivas, as bactérias ácido-lácticas, em particular, produzem grande variedade de proteínas antimicrobianas, incluindo peptídeos antibióticos, substâncias semelhantes a antibióticos, bacteriocinas e substâncias semelhantes. Confirmando essas informações, as bactérias gram-positivas do tratamento com antibiótico deste experimento podem ter produzido algum tipo de bacteriocinas que eliminassem as bactérias gram-negativas.

Segundo esse autor, a presença de zonas de inibição em torno da bactéria-teste não significa, necessariamente, que foi decorrente da produção de bacteriocinas. A atividade inibitória também pode ser causada por ácidos orgânicos, peróxido e hidrogênio, bacteriófagos etc. Pode-se postular que todas as bactérias produzem bacteriocinas, podendo ser um mecanismo de defesa na competição de uma população bacteriana mista. O trato gastrointestinal constitui um ecossistema bastante complexo, no qual existe permanente competição entre as diferentes populações de microrganismos.

No entanto, a composição nutricional, o pH de cada porção do intestino, a tensão de O2 (intestino delgado) e CO2 (ceco) regulam a população dos microrganismos, pois cada espécie habita determinado sítio ou porção do intestino, de acordo com a ausência total (anaerobiose) ou parcial (aerobiose à microaerofilia) de oxigênio (Ferreira, 2000).

Segundo Menten (2001), ao contrário do que se poderia presumir a respeito da ação de antibióticos promotores do crescimento na ração sobre a microbiota de animais, não ocorre redução no número de microrganismos no trato intestinal dos animais tratados. De maneira geral, a contagem total de bactérias não se altera, mas pode haver mudanças na proporção de várias espécies.

Os resultados relativos ao pH do duodeno e ceco das aves aos 21 e aos 42 dias de idade encontram-se na Tabela 7.

Não foi observado efeito significativo (P>0,05) dos tratamentos sobre o pH do duodeno e do ceco nos períodos estudados.

As medidas obtidas no pH cecal estão acima do valor do pH descrito por Sturkie (1965), em torno de 5,71, e por Duke (1994), de 4,0 a 5,0. No entanto, estão próximos dos valores encontrados por Moran Jr. (1982) e Santos (2003), em média de 6,9, com amplitude de 5,7 a 8,4 em frangos de corte criados até os 40 dias de idade.

Esse comportamento oscilante do pH pode ser decorrente do efeito do extrato de orégano, por possuir componentes fenóis naturais fundamentais na ação antimicrobiana, como o carvacrol e thymol, e pelo efeito antibiótico sobre a microbiota intestinal, que, provavelmente, pode ter exercido um controle em bactérias tanto benéficas quanto patogênicas às aves, influenciando seus metabólitos e, conseqüentemente, afetando as mensurações do pH.

O fato de não terem ocorrido efeitos significativos entre os tratamentos também poderia ser atribuído ao aspecto da competição patogênica ser insignificante para que os aditivos pudessem interferir nos resultados obtidos. Esta possível explicação é baseada no fato de que os animais foram criados em condições profiláticas boas e com um mínimo de estresse (que normalmente está associado a fatores nutricionais, ambientais ou emocionais), não havendo aumento de bactérias suficiente para causar desequilíbrio na saúde intestinal.

Conclusões

O uso do extrato de orégano como aditivo substituto do promotor de crescimento não provocou comportamento diferente do antibiótico e da testemunha quanto ao desempenho, à qualidade da carcaça, à avaliação anatomo-fisiológica do trato digestório e às bactérias encontradas no ceco das aves.

Literatura Citada

Recebido em: 12/11/04

Aceito em: 08/06/05

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  • 1
    Parte da dissertação de Mestrado apresentado à UFLA Lavras MG pelo primeiro autor.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Fev 2006
    • Data do Fascículo
      Dez 2005

    Histórico

    • Recebido
      12 Nov 2004
    • Aceito
      08 Jun 2005
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