Open-access Efeitos de métodos de estabelecimento de braquiária e estilosantes e de doses de calcário, fósforo e gesso sobre alguns componentes nutricionais da forragem

Effect of establishment methods of brachiaria and stylosanthes, limestone, gypsum and phosphorus on some forage nutritional components

Resumos

Um experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar, em dois anos, os efeitos de métodos de estabelecimento (sulcamento: 1,5 e 1,0 m entre linhas em etapa única; 1,5 e 1,0 m em duas e três etapas, respectivamente; aração, gradeação e sulcos espaçados de 1,0 m entre linhas), doses de calcário (25, 50, 75 e 100% da necessidade de calagem-NC, obtida pelo método do Al, Ca e Mg trocáveis), gesso agrícola (0, 230, 940, 1.880 e 2.820 kg/ha, referentes à substituição de 0, 3,0, 12,5, 25,0 e 37,5% do CaO do calcário pelo CaO do gesso, na dose de 100% da NC) e P2O5 (50, 100, 150, 200 e 250 kg/ha) nas concentrações de minerais (P, K, Ca, Mg e S), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina na matéria seca e na DIVMS de Brachiaria decumbens consorciada com Stylosanthes guianensis cv. Mineirão. Os métodos de estabelecimento em duas e três etapas propiciaram maiores concentrações de K na braquiária e Ca no estilosantes. As maiores concentrações de PB na braquiária foram alcançadas com o estabelecimento com aração e gradeação do solo. A substituição do calcário pelo gesso elevou as concentrações de S, Ca e PB na matéria seca da braquiária e do estilosantes e reduziu as concentrações de FDN na gramínea. As doses de P elevaram as concentrações de P, PB e a DIVMS e reduziram as concentrações de FDN na braquiária, melhorando seu valor nutritivo.

PB; FDN; FDA; DIVMS; lignina e minerais


A field trial was carried out to evaluate the establishment methods (Furrow only: row 1,5 and 1,0 m apart at one time; 1.5 and 1.0 at two and three times, respectively; Plowing and horrowing: row 1,0 apart), limestone (25, 50, 75 e 100% of necessity of limestone, obtained by Al, Ca e Mg exchangeable), gypsum (0, 230, 940, 1.880 e 2.820 kg/ha) and P2O5 (50, 100, 150, 200 e 250 kg/ha) on minerals concentration (P, K, Ca, Mg e S); crude protein (CP), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent acid (ADF) and in vitro dry matter disappearance (IVDMD) of Brachiaria decumbens and Stylosanthes guianensis cv.Mineirão pasture mixture. The establishing methods at two and three times increased K concentration in the brachiaria and Ca concentration in the stylosanthes. The plowing and horrowing of soil provided higher CP concentration in the brachiaria. The substitution of the limestone CaO by gypsum CaO caused an increase in the S, Ca and CP concentration in both species and decreased of NDF of grass DM. The P2O5 increased the P, PB concentration and IVDMD and decreased NDF in DM of brachiaria improving the nutritive value of forage.

CP; NDF; ADF; digestible DM; lignin and minerals


Efeitos de métodos de estabelecimento de braquiária e estilosantes e de doses de calcário, fósforo e gesso sobre alguns componentes nutricionais da forragemI

Effect of establishment methods of brachiaria and stylosanthes, limestone, gypsum and phosphorus on some forage nutritional components

Eduardo Eustáquio MesquitaII; Dilermando Miranda da FonsecaIII; Domicio do Nascimento JúniorIII; Odilon Gomes PereiraIII, José Cardoso PintoIV

IParte da tese apresentada à UFV pelo primeiro autor como um dos requisitos para obtenção do título de "Doctor Scientiae"

IIBolsista do CNPq/Recém-Doutor, Departamento de Zootecnia/ UFLA, Lavras, MG

IIIProfessores do Departamento de Zootecnia da UFV, Viçosa , MG

IVProfessor do Departamento de Zootecnia da UFLA, Lavras, MG

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Eduardo Eustáquio Mesquita E.mail: emesquita@ufla.br

RESUMO

Um experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar, em dois anos, os efeitos de métodos de estabelecimento (sulcamento: 1,5 e 1,0 m entre linhas em etapa única; 1,5 e 1,0 m em duas e três etapas, respectivamente; aração, gradeação e sulcos espaçados de 1,0 m entre linhas), doses de calcário (25, 50, 75 e 100% da necessidade de calagem-NC, obtida pelo método do Al, Ca e Mg trocáveis), gesso agrícola (0, 230, 940, 1.880 e 2.820 kg/ha, referentes à substituição de 0, 3,0, 12,5, 25,0 e 37,5% do CaO do calcário pelo CaO do gesso, na dose de 100% da NC) e P2O5 (50, 100, 150, 200 e 250 kg/ha) nas concentrações de minerais (P, K, Ca, Mg e S), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina na matéria seca e na DIVMS de Brachiaria decumbens consorciada com Stylosanthes guianensis cv. Mineirão. Os métodos de estabelecimento em duas e três etapas propiciaram maiores concentrações de K na braquiária e Ca no estilosantes. As maiores concentrações de PB na braquiária foram alcançadas com o estabelecimento com aração e gradeação do solo. A substituição do calcário pelo gesso elevou as concentrações de S, Ca e PB na matéria seca da braquiária e do estilosantes e reduziu as concentrações de FDN na gramínea. As doses de P elevaram as concentrações de P, PB e a DIVMS e reduziram as concentrações de FDN na braquiária, melhorando seu valor nutritivo.

Palavras-chave: PB, FDN, FDA, DIVMS, lignina e minerais

ABSTRACT

A field trial was carried out to evaluate the establishment methods (Furrow only: row 1,5 and 1,0 m apart at one time; 1.5 and 1.0 at two and three times, respectively; Plowing and horrowing: row 1,0 apart), limestone (25, 50, 75 e 100% of necessity of limestone, obtained by Al, Ca e Mg exchangeable), gypsum (0, 230, 940, 1.880 e 2.820 kg/ha) and P2O5 (50, 100, 150, 200 e 250 kg/ha) on minerals concentration (P, K, Ca, Mg e S); crude protein (CP), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent acid (ADF) and in vitro dry matter disappearance (IVDMD) of Brachiaria decumbens and Stylosanthes guianensis cv.Mineirão pasture mixture. The establishing methods at two and three times increased K concentration in the brachiaria and Ca concentration in the stylosanthes. The plowing and horrowing of soil provided higher CP concentration in the brachiaria. The substitution of the limestone CaO by gypsum CaO caused an increase in the S, Ca and CP concentration in both species and decreased of NDF of grass DM. The P2O5 increased the P, PB concentration and IVDMD and decreased NDF in DM of brachiaria improving the nutritive value of forage.

Key Words: CP, NDF, ADF, digestible DM, lignin and minerals

Introdução

A baixa produção de espécies forrageiras e as reduzidas concentrações de minerais na forragem influenciam diretamente o desempenho do animal em pastejo. Uma das alternativas para aumentar a produção e melhorar a qualidade da forragem é o estabelecimento de pastagens de gramíneas e leguminosas tropicais em consórcio.

O uso de leguminosas consorciadas com gramíneas traz benefícios, como a substituição de parte da fonte mineral de N necessário ao desenvolvimento e crescimento das espécies forrageiras. Para o estabelecimento de forrageiras, além da escolha do método adequado, é importante corrigir as deficiências minerais do solo, e, em casos específicos, aplicar calcário dolomítico e gesso com o objetivo de corrigir a acidez do solo e fornecer cálcio, magnésio e enxofre.

Os métodos de estabelecimento de consórcios em áreas de pastagens naturais devem ser escolhidos em função do tipo de solo, da topografia e do clima, proporcionando cobertura vegetal adequada e proteção do solo de modo que permita melhor aproveitamento dos corretivos e fertilizantes. Teixeira et al. (1997), ao avaliarem o estabelecimento de Brachiaria brizantha e Andropogon gayanus em pastagens naturais com relevo ondulado (15% de declive), na microregião de Campos da Mantiqueira (MG), destacaram a importância do método em sulcos, método este que propiciou maior retenção de água e aproveitamento dos fertilizantes.

Segundo Silva et al. (1998), quando se utiliza gesso, o parcelamento da adubação, especialmente a potássica, pode minimizar as perdas de K por lixiviação. Assim, o estabelecimento de forrageiras, com preparo mínimo do solo feito por etapas e utilizando apenas sulcamento, permite o parcelamento das aplicações de adubos e corretivos no sulco de semeadura.

O preparo total do solo com aração e gradeação propicia melhor estabelecimento de gramíneas e leguminosas (Michalk et al., 1988). Esses autores testaram o estabelecimento de Stylosanthes guianensis cv. Graham, Stylosanthes scraba (Vog) cv. Seca e Stylosanthes hamata (L.) Taub. cv. Verano e das gramíneas Cenchrus ciliaris L. e Urochloa mosambicensis (Hack.) Dandy semeadas em pastagem nativa, sob modalidades de preparo de solo. A utilização de grade de discos propiciou maior densidade de plantas de estilosantes Verano. Entretanto, o preparo mínimo do solo, juntamente com a aplicação de P2O5 (64 kg/ha), proporcionou adequado estabelecimento da leguminosa na pastagem.

Para forrageiras exigentes em fósforo, estabelecidas em solos ácidos de baixa fertilidade, a aplicação de calcário dolomítico, gesso e P, geralmente, promove aumento na produção de MS e, conseqüentemente, reduz as concentrações de P na parte aérea, fato que pode ser explicado, em parte, pela diluição do P no material vegetal (Passos et al., 1994).

A aplicação de gesso agrícola em pastagens consorciadas pode elevar as concentrações de S em gramíneas tropicais (Delistoianov et al., 1992 ). Faquin et al. (1997) observaram que a aplicação de calcário, para se elevar V a 50%, mais 1,0 t/ha de gesso, aumentou as concentrações de S na MS, quando comparado com apenas calagem. A aplicação de gesso pode manter a relação N:S próxima da adequada para a síntese de proteína, melhorando o valor nutritivo da gramínea. De acordo com Monteiro & Carriel (1987), essa relação deve situar-se ao redor de 13:1. Por outro lado, Rechcigil & Mislevy (1997), em trabalho com Paspalum notatum e Cynodon spp., não constataram influência da aplicação de calcário e gesso nas concentrações de PB na matéria seca dessas gramíneas.

O gesso, que atua no fornecimento de S, também supre Ca ao sistema solo-planta, elevando as concentrações desse elemento na MS das forrageiras. Isso, provavelmente, é decorrente do enraizamento mais profundo, proporcionado pelo gesso e calcário, permitindo maior absorção de Ca e S nas camadas mais profundas, conforme sugerem Quaggio et al. (1993). Assim, em pastagens estabelecidas com a espécie Stylosanthes guianensis cv. Mineirão, espera-se maior absorção de Ca e S, pois a aplicação de gesso enriquece, em Ca, as camadas mais profundas do solo (Silva et al., 1998) e, segundo Andrade & Karia (2000), o sistema radicular profundo é uma das importantes características morfofisiológicas desse cultivar.

O Ca, ao contrário dos demais macronutrientes, concentra-se na parede celular da célula onde se liga a diversos compostos constituintes da parede celular (Marschner, 1995), podendo contribuir para a síntese e deposição de carboidratos estruturais, alterando as concentrações de fibra na planta. Nesse contexto, a lixiviação de Ca, proporcionada pelo gesso, pode influenciar o teor de FDN nas forrageiras.

Em consórcios, a maior competição da gramínea por luz e nutrientes pode ocasionar aumentos nas concentrações de P na gramínea forrageira e reduções nas concentrações de P nas leguminosas. Rao et al. (1996) constataram redução nas concentrações de P nas folhas de estilosantes, em função das aplicações de doses crescentes de P, enquanto nas folhas das gramíneas essas concentrações aumentaram.

A concentração de P na planta pode ser indicativo de seu valor nutricional. Assim, concentrações de P abaixo da exigência para a alimentação de bovinos em pastejo, ou seja, abaixo de 0,18% de P (Noller et al., 1996), indicam necessidade de suplementação mineral para os animais. Passos et al. (1994) observaram que a aplicação de diversas fontes de P proporcionou concentrações de P na MS de Brachiaria brizantha abaixo da exigência mínima para bovinos em pastejo. É oportuno enfatizar que bovinos sob pastejo tendem a selecionar forrageiras ou partes da forrageira com maiores concentrações de P (Jones & Betteridge, 1994); segundo Russelle (1997), essa preferência por forrageiras bem nutridas em P pode estar relacionada com o aroma, a textura ou a composição da planta.

A influência da aplicação de P no estabelecimento de forrageiras consorciadas na composição da planta, especialmente a FDN, ainda não está bem elucidada. Hendreicksen et al.(1994), em pastagem nativa consorciada com estilosantes, obtiveram menor concentração de FDN (59,2%) com a maior dose de P2O5 (124 kg/ha) e maiores concentrações de P nas folhas e caules da gramínea. Ao contrário, Santos et al. (1999) observaram que a aplicação de doses de P2O5 elevou a concentração de FDN da Brachiaria brizantha, consorciada com Arachis Pintoi, em casa de vegetação. Por outro lado, Gonçalves et al. (1997) não detectaram influência de doses de P2O5 nas concentrações de fibra bruta, PB, Ca e P das espécies Brachiaria decumbens e Stylosanthes guianensis em consórcio. Aumentos na área foliar da planta também podem provocar alterações nas concentrações de FDN das forrageiras, pois as folhas reconhecidamente apresentam menores concentrações de frações fibrosas que os colmos. Rao et al. (1996) observaram aumentos significativos na área foliar de Brachiaria dictyoneura associada com Stylosanthes capitata.

Face à baixa qualidade das pastagens naturalizadas de capim-gordura, conduziu-se este estudo com o objetivo de avaliar a influência de métodos de estabelecimento do consórcio Brachiaria decumbens e Stylosanthes guianensis cv. Mineirão e doses de calcário, calcário associado ao gesso e fósforo nas concentrações de P, S, Ca, Mg, PB na MS da braquiária e do estilosantes e nas concentrações de FDN, FDA, lignina e a DIVMS da braquiária.

Material e Métodos

O trabalho foi conduzido em área declivosa de pastagem natural degradada, pertencente ao Departamento de Zootecnia da UFV, Viçosa-MG, com a introdução de Brachiaria decumbens cv. Basilisk e Stylosanthes guianensis (Aubl.) Sw var. vulgaris cv. Mineirão em consórcio. Viçosa localiza-se na Zona da Mata mineira, numa altitude de 651 m, a 20º45' de latitude sul e 42º51' de longitude oeste. O clima é do tipo Cwa, pelo sistema de Köppen, com precipitação anual média em torno de 1.340 mm, umidade relativa do ar média de 80% e as temperaturas máxima e mínima são de 22,1 e 15ºC, respectivamente (Tabela 1).

O solo foi classificado, de acordo com Embrapa (1999), em Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico (LVAd), textura argilosa, apresentando a seguinte composição química: na camada de 0-15 cm pH em água 5,0; P(HCl 0,05 mol/L + H2SO4 0,0125 mol/L)- 3,8 mg/dm3; S-SO4(Ca(H2PO4) 2, 500 mg/L) - 18,0 mg/dm3 e K(HCl 0,05 mol/L + H2SO4 0,0125 mol/L) - 22 mg/dm3; Ca(KCl, 1 mol/L) - 0,6 cmolc/dm3; Mg(KCl, 1 mol/L) - 0,1 cmolc/dm3; Al(KCl, 1 mol/L) - 0,5 cmolc/dm3; H + Al - 4,0 cmolc/dm3; SB trocáveis-0,8 cmolc/dm3 e CTC efetiva - 1,3 cmolc/dm3, CTC a pH 7,0- 4,8 cmolc/dm3; saturação por bases - 17,0% e por alumínio- 62,5%. Na camada de 15-30 cm, com os extratores já mencionados, pH em água 4,9; P - 1,0 mg/dm3; S-SO4 - 19 mg/dm3 e K-22 mg/dm3; Ca - 0,3 cmolc/dm3; Mg-0,1 cmolc/dm3; Al-0,4 cmolc/dm3; H+ Al - 3,6 cmolc/dm3; soma de bases trocáveis - 0,5 cmolc/dm3 CTC efetiva-0,9 cmolc/dm3, CTC a pH 7,0 - 4,1 cmolc/dm3; saturação por bases-12,0% e por alumínio- 80,0%.

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos completos ao acaso com os tratamentos distribuídos gerando uma matriz (Tabela 1) com cinco métodos de estabelecimento (espaçamento de 1,0 e 1,5 m entre linhas, com semeaduras em etapa única ou em um único ano, 1,5 m entre linhas com semeadura em duas etapas ou dois anos e 1,0 m entre linhas com semeadura em três etapas ou três anos), quatro doses de calcário (25, 50, 75 e 100% da necessidade de calagem-NC, pelo método do Al, Ca e Mg trocáveis), cinco doses gesso (0, 230, 940, 1.880 e 2.820 kg/ha, referentes à substituição de 0, 3,0, 12,5, 25,0 e 37,5% do CaO do calcário pelo CaO do gesso, na dose de 100% da NC) e cinco doses de P2O5 (50, 100, 150, 200 e 250 kg/ha) sob a forma de superfosfato triplo.

Nas parcelas (9 x 10 m), sem preparo de solo, efetuou-se apenas o sulcamento do solo, utilizando-se sulcador reversível tracionado por animais, enquanto nas parcelas com preparo de solo realizou-se a aração e a gradeação tratorizada e, após esta prática, os sulcos foram abertos manualmente com enxadas. Em todas as parcelas foram feitas adubações básicas com 40, 20, 20 e 0,53 kg/ha de K2O, ZnSO4, bórax e Na2MoO4.7H2O, respectivamente, aplicados no sulco de semeadura, em dose única, para os estabelecimentos em uma única etapa e divididas, em doses iguais, em duas ou três etapas, conforme o método de estabelecimento. O critério utilizado para o cálculo da necessidade de calagem (NC) foi feito com base nas concentrações de Al, Ca e Mg trocáveis, para correção de 0,20 m da profundidade. Definiram-se as doses de gesso substituindo parte do CaO do calcário pelo CaO do gesso.

Para os estabelecimentos em etapa única (ano 1996), em duas (anos 1996 e 1997) e em três etapas (anos 1996, 1997 e 1998), foram mantidas as mesmas datas de semeaduras a cada ano, para diminuir os efeitos de ano para ano, especialmente o efeito da umidade.

Utilizaram-se para a semeadura 4 e 2 kg/ha de sementes puras viáveis de braquiária e estilosantes, respectivamente. Distribuíram-se as sementes nos sulcos em sete segmentos de 1,42 m, totalizando 10,0 m (comprimento da parcela), ou seja quatro segmentos de leguminosa e três segmentos de gramínea, alternando segmentos de leguminosa e de gramínea, de modo que as sementes da gramínea e da leguminosa ficassem separadas. As operações de sulcamento, correção, adubação e semeadura foram realizadas em etapa única, duas e três etapas, conforme o método de estabelecimento.

Para se efetuar o corte da forragem nas bordaduras, após cada corte, a pastagem foi submetida ao pastejo por um período de três dias consecutivos, utilizando 8,0 unidades animal de bovinos (vacas secas).

No primeiro ano de avaliação (1997/1998), determinaram-se o rendimento e valor nutritivo das espécies forrageiras introduzidas, em três colheitas (realizadas em 30/11/97; 16/02/98 e 25/05/98) e no segundo ano de avaliação (1998/1999), em duas colheitas (realizadas em 27/11/98 e 03/03/99). Após cada colheita, retiraram-se amostras de forragens, as quais foram submetidas à secagem a 60ºC até peso constante.

As amostras de forragem de toda a parte aérea colhida foram analisadas quanto às concentrações de P, K, Ca, Mg, S, PB na matéria seca da braquiária e do estilosantes e FDN, FDA, lignina na matéria seca da braquiária e digestibilidade in vitro (48 + 48 horas) da matéria seca da braquiária, conforme recomendações descritas por Silva (1998). As concentrações de N das amostras foram determinados pelo método micro-Kjeldhal. Para determinação dos minerais, pesaram-se 200 mg de cada amostra para se proceder a mineralização por via úmida, em ácido nítrico concentrado e perclórico 70-72% (relação: 4:1). As concentrações de P foram determinados por colorimetria; de Ca, por espectrofotometria de absorção atômica; de K, por fotometria de chama; e os de S, por turbidimetria.

Os efeitos de doses de P, calcário e gesso foram analisados ajustando-se equações de regressão e os métodos de estabelecimento tiveram suas médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. A escolha do modelo foi feita, primeiramente, considerando-se a significância dos coeficientes da regressão e, posteriormente, os coeficientes de determinação, testados pelo teste de "t", a 1, 5 e 10% de probabilidade, e pela adequação agronômica do modelo.

Resultados e Discussão

Os métodos de estabelecimento, na maioria das colheitas, não influenciaram (P>0,05) as concentrações de minerais na MS da braquiária e do estilosantes. Entretanto, na 2ª colheita do 1º ano, nota-se (Tabela 3) que o estabelecimento em duas e três etapas (anos) propiciou maiores concentrações de K na braquiária e Ca no estilosantes. Segundo Silva et al. (1998), quando se utiliza gesso, o parcelamento da adubação, especialmente da potássica, pode minimizar as perdas de K por lixiviação. Com relação ao P, as maiores concentrações foram detectados nas amostras de MS das espécies estabelecidas em uma única etapa com 1,5 m entre linhas, atingindo 0,44 dag/kg de P no estilosantes. Segundo McIvor (1984), as concentrações críticas de P na parte aérea de estilosantes sob estádio de pré-florescimento variaram entre 0,10 e 0,30 dag/kg. No presente trabalho, as concentrações de P na MS da gramínea e da leguminosa estão, em geral, próximas ou acima daquele teor, 0,18 dag/kg, que, segundo Noller et al. (1996), é considerado adequado para bovinos de corte em pastejo.

O maior teor de PB na braquiária foi obtido com o espaçamento de 1,5 m entre sulcos no estabelecimento único (M2), porém estatisticamente igual ao estabelecimento em duas etapas (M3). No segundo ano, com a inclusão do método com aração e gradeação do solo, verificaram-se maiores concentrações de PB (Tabela 4) na forragem proveniente deste método, principalmente na primeira colheita. Quando se comparam os anos, constatam-se (Tabela 2) valores de precipitações médias mensais muito próximos, reduzindo assim o efeito de umidade de ano para ano. O revolvimento do solo permite a maior infiltração de água, maior atividade de microorganismos e melhor aeração do solo favorecendo a mineralização do N potencialmente mineralizável, aumentando a disponibilidade desse nutriente para as plantas. Jefferson & Kielly (1998) enfatizaram que, em situações de baixas densidades de plantas, aumentos nas concentrações de N são esperados, pois nessa condição ocorre menor competição pelo N mineralizado do solo.

A DIVMS da braquiária foi maior no estabelecimento em duas etapas, quando se adotou o espaçamento mais amplo, ou seja, de 1,5 m entre linhas (Tabela 5). Jerffeson & Kielly (1998), em outras espécies em consórcio (Medicago sativa L., Agropyron cristatum L. Gaertner), constataram incrementos de 3,6 unidades percentuais na digestibilidade da matéria orgânica das folhas, em função do aumento no espaçamento entre linhas. Segundo esses autores, esses acréscimos são pouco significativos, pois o aumento na proporção de folhas de gramínea estabelecidas com espaçamentos reduzidos é mais relevante.

As concentrações de FDN no segundo ano foram maiores no espaçamento de 1,5 m entre linhas com estabelecimento em duas etapas e no espaçamento de 1,0 m entre linhas com estabelecimento em etapa única, porém iguais entre si. A menor concentração de FDN foi obtida com o estabelecimento em três etapas no espaçamento de 1,0 m entre linhas, no qual também registrou-se menor número de perfilhos (Tabela 5). Aumentos nas distâncias entre linhas podem reduzir a proporção de folhas e aumentar os perfilhos reprodutivos e, conseqüentemente, elevar as concentrações de celulose e lignina (Jefferson & Kielly, 1998), produzindo uma forragem com maior concentração de FDN.

Na maioria das colheitas, não houve ajuste de regressão entre doses de P2O5 e concentrações de P na MS da braquiária, para os vários modelos testados (linear, quadrática, cúbica, exponencial, raiz quadrada e logarítmica). Na 2º colheita do 1º ano, as doses de P2O5 reduziram, de forma linear ( = 0,18 - 0,0002043***P2O5 R2= 0,74, sendo em kg/ha e P2O5 em kg/ha), as concentrações de P na MS da braquiária, o que pode ser explicado pelo efeito de diluição propiciado pela maior produção de MS, fato que também foi registrado no trabalho de Passos et al. (1994).

As concentrações de P na gramínea, de modo geral, mesmo com a sua aplicação estiveram abaixo da exigência para alimentação de bovinos em pastejo, 0,18% de P (Noller et al., 1996), indicando a necessidade de suplementação mineral para os animais com esse nutriente. É oportuno enfatizar que os bovinos sob pastejo tendem a selecionar plantas ou partes de plantas com maiores concentrações de P e de outros nutrientes (Jones & Betteridge, 1994). Essa preferência pode estar relacionada, entre outros fatores, com a composição da planta (Russelle, 1997). Concentrações de P na MS de B. brizantha abaixo da exigência mínima para bovinos também foram obtidos por Passos et al. (1994) em um estudo com várias fontes de P. No presente trabalho, por ocasião da colheita de uniformização do pasto, realizada por meio do pastejo de bovinos, observou-se maior permanência dos animais nas parcelas que receberam as maiores doses de P2O5.

As doses de P2O5 resultaram em redução ( = 0,167 - 0,0003248***P2O5 R2 = 0,81, sendo Y em dag/kg e P2O5 em kg/ha) nas concentrações de P na MS do estilosantes na 2ª colheita do 2º ano. Essa redução, possivelmente, se deve à menor absorção de água e nutrientes pela leguminosa que se tornou menos competitiva, decorrente da maior participação da gramínea no consórcio, diante das doses de fósforo. Rao et al. (1996) também verificaram tendência de redução nas concentrações de P nas folhas de estilosantes em função das aplicações de doses de P2O5, enquanto nas folhas das gramíneas esses concentrações aumentaram. Ao contrario, como já mencionado, os teores de P na gramínea reduziram, decorrente da maior produção de MS.

A aplicação de doses de gesso agrícola elevou (Y = 0,094 + 0,0000101G*** R2 = 0,66 sendo Y em dag/kg e G em kg/ha) as concentrações de P na MS da braquiária na 3ª colheita do 1º ano. O gesso pode promover o enraizamento mais profundo (Quaggio et al., 1993) e, conseqüentemente, maior absorção de P; pois esse nutriente é, reconhecidamente, de baixa mobilidade no solo e sua absorção depende, entre outros fatores, da difusão, da umidade no solo e do desenvolvimento radicular. Ao contrário do presente estudo, Rechcigl et al. (1993) não constataram influência do gesso na concentração de P da parte aérea de Paspalum notatum Fluegge.

Comparando as concentrações de P na MS da braquiária, obtidos neste trabalho, com os da literatura (Fonseca et al., 1988; Guss et al., 1990) observou-se que, de modo geral, estavam acima daqueles considerados adequados para o crescimento e desenvolvimento das gramíneas, embora abaixo das concentrações adequadas às exigências de bovinos de corte em pastejo, 0,17% (Noller et al., 1996).

As doses de P2O5 reduziram ( = 0,115 - 0,0002795P2O5** R2 = 0,97, sendo Y em dag/kg e P2O5 em kg/ha) as concentrações de S na MS da braquiária na 2ª colheita do 2º ano. Embora a fonte de P utilizada não apresenta S em sua composição, essa redução pode ser ocasionada pelo aumento na produção de MS e diluição dos nutrientes nos tecidos, especialmente S. Passos (1994) observou que a ausência da aplicação de P, no cultivo do braquiarão e do andropogon, reduziu o crescimento das plantas dada a deficiência de P, promovendo um efeito de concentração de S.

A aplicação de doses de gesso na mistura gesso/calcário elevou as concentrações de S na MS da braquiária ( = 0,055 + 0,00002697G** R2=0,88, sendo Y em dag/kg e G em kg/ha) As doses de gesso agrícola elevaram as concentrações de S disponível no solo ( 13,46 +0,438854*G0,5 - 0,005758***G; em mg/dm3 de S) e, conseqüentemente, as concentrações de S na planta. Faquin et al. (1997) verificaram que o uso do gesso associado ao calcário mais aplicações de fontes de P, sem S em suas composições, elevaram as concentrações de S na MS de Brachiaria brizantha, corrigindo as deficiências desse elemento na forrageira. Outros trabalhos, como os de Delistoianov et al. (1992) e Monteiro & Carriel (1987), têm mostrado aumento nas concentrações de S, em gramíneas tropicais consorciadas ou em monocultivo, em função de doses de gesso.

A aplicação de doses de gesso, ou seja, o aumento da relação CaSO4/CaCO3, elevou até um ponto máximo, as concentrações de Ca na MS da braquiária na 3ª colheita do1º ano e na 2ª colheita do 2º ano (Tabela 6).

Atingiu-se concentração máxima de Ca (0,48 dag/kg) na forragem com 1.512 kg/ha de gesso na 3ª colheita do 1º ano. Resposta quadrática à aplicação de gesso agrícola nas concentrações de Ca na MS de Paspalum notatum Flugge também foi obtida por Rechcigl et al. (1993).

Observou-se que, mesmo ocorrendo reduções nas concentrações de Ca2+ na camada de solo de 0-15 cm ( 3,53 - 0,0913583*G0,5 + 0,0011052*G; Y em cmolc/dm3 de Ca2+), a aplicação de gesso apresenta-se como boa alternativa no suprimento desse nutriente para a braquiária. O aumento nas concentrações de Ca na MS até um ponto de máximo, mesmo com a redução nas concentrações desse nutriente, pode ser explicado pelo fato desse aumento ter ocorrido a partir da 3ª colheita, época em que todo o sistema radicular da gramínea já se encontrava bem desenvolvido, propiciando a exploração de camadas mais profundas do solo. A variação nas concentrações de Ca2+, na camada de 15-30 cm de profundidade, de 0,3 para 0,9 cmolc/dm3 , em resposta às doses de gesso, pode ser, do ponto de vista agronômico, bastante expressiva em razão da baixa CTC efetiva do solo, demonstrando enriquecimento da camada de 15-30 cm em Ca e, conseq?entemente, aumento na disponibilidade e absorção pelas plantas.

As doses de gesso elevaram, de forma linear, as concentrações Ca (Tabela 6) e de S na MS do estilosantes. O enriquecimento em S disponível e Ca trocável na camada de 15-30 cm no perfil do solo, justificam o aumento nas concentrações de S e Ca na planta, provavelmente, decorrente do enraizamento mais profundo proporcionado pelo gesso como sugerem Quaggio et al. (1993). Segundo Andrade & Karia (2000), o sistema radicular profundo é uma das características morfofisiológicas do estilosantes Mineirão.

As doses de P2O5 elevaram ( = 0,40 + 0,0008954**P2O5 R2 = 0,89, Y em dag/kg) e reduziram até certo ponto ( = 0,672 - 0,00238**P2O5 + 0,00000911**P2O5 R2 = 0,91), respectivamente, as concentrações de Mg na braquiária e no estilosantes, na 2ª colheita do 1º ano. Verifica-se que a redução nas concentrações de Mg na leguminosa foi acompanhado de aumento das suas concentrações na gramínea, evidenciando a menor disponibilidade de Mg para a leguminosa que, reconhecidamente, demanda mais este cátion do que a gramínea. As aplicações de calcário e fontes de P, com Ca em suas composições, podem ter prejudicado a absorção de Mg, pois, segundo Gilbert et al. (1989), a competição entre Ca e Mg normalmente ocorre, especialmente em situações de super calagem e de aplicações de fertilizantes com altas concentrações de Ca.

As doses de gesso reduziram as concentrações de Mg na MS da braquiária na 2ª colheita do 1º ano ( = 0,588 - 0,0001181**G; R2=0,91). O aumento nas doses de gesso certamente propiciou lixiviação de Mg na camada de 0-15 cm do perfil do solo e, possivelmente, reduziu a disponibilidade de Mg para as plantas com conseqüente redução nas concentrações desse elemento na gramínea. Além disso, aplicações de menores proporções de calcário/gesso diminuiu a aplicação de Mg, sob a forma de calcário dolomítico.

As concentrações de PB na MS da braquiária, em todas as colheitas do 1º ano e na 2ª colheita do 2º ano, aumentaram em resposta às doses de gesso (Tabela 7). O gesso proporcionou acréscimos nas concentrações de S na MS da gramínea na maioria das colheitas avaliadas, o que, provavelmente, contribuiu para elevar o teor protéico na gramínea. Delistoianov et al. (1992) também constataram aumentos nas concentrações de S diante da aplicação de gesso em gramíneas tropicais consorciadas.

As doses de gesso elevaram as concentrações de PB na MS do estilosantes na 2ª colheita do 1º ano ( = 13,80 + 0,0008168**G, ** significativo a 1%, sendo G em kg/ha e Y em dag/kg) e na 2ª colheita do 2º ano ( = 14,22 + 0,000801**G). O aumento na porcentagem de estilosantes ( = 13,42 + 0,0024443*G, R2 = 0,89; * significativo a 5%; sendo Y em % da MS total) pode ter contribuído para maior aporte de N no sistema solo-planta e com isso aumentou a concentração de PB na MS. Segundo Cantarutti et al. (1997), quanto maior a proporção de leguminosa, maior a contribuição de N que recicla da liteira.

As doses de P2O5 reduziram as concentrações de FDN na MS da braquiária no 1º ano de avaliação (= 76,6 - 0,0475556*P2O5, R2=0,71; * significativo a 5%; Y em dag/kg na MS). Resultados semelhantes foram obtidos por Hendricksen et al. (1994) em pastagem nativa consorciada com estilosantes, mas contrariamente Santos et al. (1999) observaram que a aplicação de doses de P2O5 elevou a concentração de FDN na Brachiaria. brizantha consorciada com Arachis pintoi.

As doses de P2O5 aumentaram a DIVMS da gramínea no 2º ano ( = 45,8 + 0,068746** P2O5 - 0,0001673**(P2O5)2 , R2 = 0,96; ** siginificativo a 1%; Y em % da MS). O máximo índice obtido com a dose estimada de 205 kg/ha de P2O5 foi de 52,9%. Este índice está abaixo daquele considerado adequado para a nutrição animal, ou seja, ao redor de 65%, porém é considerado normal para gramíneas do gênero Brachiaria.

A aplicação de gesso reduziu as concentrações de FDN na gramínea no 1º ano ( = 73,1 -0,0072777**G + 0,0000018*G2; R= 0,90;*,** significativo a 5 e 1%, sendo G em kg/ha e Y em dag/kg) não tendo efeito no 2º ano de avaliação. A lixiviação de Ca com o aumento das doses de gesso pode ter contribuído para menor suprimento desse nutriente e, conseqüentemente, reduziu a síntese e deposição de carboidratos estruturais na parede celular, pois, ao contrário dos demais macronutrientes, o Ca predominantemente concentra-se na parede celular, desempenhando a função de ligação de diversos compostos (Marschner, 1995). Com relação ao calcário, não houve influência significativa de doses nas concentrações de FDN, FDA, lignina e DIVMS na braquiária.

Conclusões

A aração e gradeação do solo elevou a concentração de proteína bruta na braquiária e no estilosantes e a aplicação de gesso aumentou as concentrações de enxofre, cálcio e proteína bruta na braquiária e no estilosantes e reduziu as concentrações de fibra em detergente neutro na braquiária. A aplicação de fósforo elevou as concentrações de fósforo, proteína bruta e a digestibilidade in vitro e reduziu as concentrações de fibra em detergente neutro na braquiária.

Literatura Citada

Recebido em: 08/08/01

Aceito em: 11/06/02

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  • Endereço para correspondência
    Eduardo Eustáquio Mesquita
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Set 2005
    • Data do Fascículo
      Nov 2002

    Histórico

    • Recebido
      08 Ago 2001
    • Aceito
      11 Jun 2002
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