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Estrutura trófica da avifauna na Reserva Estadual de Gurjaú, Zona da Mata Sul, Pernambuco, Brasil

Trophic structure of bird community of Reserva Estadual de Gurjaú, Zona da Mata Sul, Pernambuco State, Brazil

Resumos

O estudo da estrutura trófica da avifauna da Reserva Estadual de Gurjaú (8º14'S, 35º03'W) envolveu 225 espécies de aves identificadas, das quais, 220 registradas por meio de observações in situ e capturas, quatro por meio de entrevistas com moradores da área do entorno e uma através de consulta à Coleção Ornitológica da Universidade Federal de Pernambuco. As famílias que se destacaram com o maior número de espécies foram Tyrannidae (N = 43) e Emberizidae (N = 36). Dentre as guildas, os insetívoros (N = 99) e onívoros (N = 59) englobaram a maioria das espécies.

Ecologia de aves; Floresta Atlântica


The study of trophic structure of birds community from Gurjaú Estadual Reserve (8º14'S, 35º03'W) has involved 225 bird species, from that 220 registered by observation and capture, four by interview with native people from surrounding area and one in the ornithological collection of Universidade Federal de Pernambuco. The groups with the higher number of species were Tyrannidae (N = 43) and Emberizidae (N = 36). Concerning the guilds, insectivorous (N = 99) and omnivorous (N = 59) were the most representative among the especies.

Atlantic Rain Forest; bird ecology


Estrutura trófica da avifauna na Reserva Estadual de Gurjaú, Zona da Mata Sul, Pernambuco, Brasil

Trophic structure of bird community of Reserva Estadual de Gurjaú, Zona da Mata Sul, Pernambuco State, Brazil

Wallace R. Telino-JúniorI; Manoel M. DiasII; Severino M. de Azevedo JúniorIII; Rachel M. de Lyra-NevesI; Maria E. L. de LarrazábalIII

IUnidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Ernesto Dourado 390, Heliópolis, 55296-900 Garanhuns, Pernambuco, Brasil. E-mail: telinojr@ufrpe.br e rmlneves@ufrpe.br

IIDepartamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos. Caixa Postal 676, 13565-905 São Carlos, São Paulo, Brasil. E-mail: manoelmd@power.ufscar.br

IIIMestrado em Biologia Animal, Departamento de Zoologia, Universidade Federal de Pernambuco. Avenida Professor Moraes Rego 1235, Cidade Universitária, 50670-420 Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail: smaj@ufpe.br; mells@ufpe.br

RESUMO

O estudo da estrutura trófica da avifauna da Reserva Estadual de Gurjaú (8º14'S, 35º03'W) envolveu 225 espécies de aves identificadas, das quais, 220 registradas por meio de observações in situ e capturas, quatro por meio de entrevistas com moradores da área do entorno e uma através de consulta à Coleção Ornitológica da Universidade Federal de Pernambuco. As famílias que se destacaram com o maior número de espécies foram Tyrannidae (N = 43) e Emberizidae (N = 36). Dentre as guildas, os insetívoros (N = 99) e onívoros (N = 59) englobaram a maioria das espécies.

Palavras chave: Ecologia de aves, Floresta Atlântica.

ABSTRACT

The study of trophic structure of birds community from Gurjaú Estadual Reserve (8º14'S, 35º03'W) has involved 225 bird species, from that 220 registered by observation and capture, four by interview with native people from surrounding area and one in the ornithological collection of Universidade Federal de Pernambuco. The groups with the higher number of species were Tyrannidae (N = 43) and Emberizidae (N = 36). Concerning the guilds, insectivorous (N = 99) and omnivorous (N = 59) were the most representative among the especies.

Key words: Atlantic Rain Forest, bird ecology.

A Floresta Atlântica compreende cerca de 1.300.000 Km2, estendendo-se por quatro das cinco regiões geográficas brasileiras; atualmente está reduzida a cerca de 7,6% da sua cobertura vegetal original (DOSSIÊ MATA ATLÂNTICA 2001). Possuem elevado endemismo para muitos grupos taxonômicos, particularmente aves e plantas (ALEIXO & GALETTI 1997, SILVA & TABARELLI 2000).

A maior parte das áreas remanescentes encontra-se protegida em Unidades de Conservação ou sob pressão de atividades rurais ou expansões urbanas (DOSSIÊ MATA ATLÂNTICA 2001). Além da grande devastação desde a época da colonização, a Mata Atlântica continua sendo gradativamente destruída e atualmente a perda total é superior a 70% de sua vegetação nativa (MYERS et al. 2000, BROOKS et al. 2002).

O Nordeste do Brasil é o setor mais ameaçado da Mata Atlântica em conseqüência dos desflorestamentos, restando apenas 2% de sua área original (SILVA & TABARELLI 2000). Ao estudarem a Zona da Mata Sul do Estado de Pernambuco, RANTA et al. (1998), verificaram que 48% dos fragmentos são menores que 10 ha e somente 7% deles são maiores que 100 ha.

No estado de Pernambuco a cultura da cana-de-açúcar foi a principal causa do desmatamento, resultando na fragmentação de áreas naturais. O que ameaça a permanência das espécies, tanto pela perda de hábitat quanto pela ampliação do efeito de borda para o interior dos fragmentos. Com isso, as conseqüências são bastante negativas, não apenas sobre as aves dependentes do interior de floresta, mas também sobre outras populações, como por exemplo, as participantes de bandos mistos típicos de regiões de borda, as quais, têm a estrutura dos grupos sociais alteradas (MARINI 2000, PRIMACK & RODRIGUES 2001).

A estrutura da vegetação (altura, estratificação vertical e heterogeneidade) constitui um dos fatores preponderantes na determinação do número de espécies de aves em nível local (KARR & ROTH 1971, TERBORGH 1984, ALEIXO 1999, MARINI 2000). Um aspecto importante é o estudo da alimentação das aves que sobrevivem nestas áreas, que pode fornecer informações sobre a estrutura trófica de comunidades, bem como das condições físicas do ambiente (PIRATELLI & PEREIRA 2002).

As aves são um dos grupos animais mais distintos e bem estudados, podendo ser utilizados como bio-indicadoras de alterações ambientais (VERNER 1981). O conhecimento das exigências ecológicas de muitas famílias, gêneros e espécies de aves pode ser suficiente em diversas situações para indicar condições ambientais às quais são sensíveis; portanto, alterações de vegetação implicam que o ambiente natural pode tornar-se impróprio para abrigar aves que exigem condições específicas para sobreviver (DONATELLI et al. 2004).

A estrutura e composição de uma comunidade de aves sofrem mudanças quando ocorre alguma alteração na vegetação, seja ela natural ou provocada por atividades humanas (ALEIXO 1999). Além do mais, estudos sobre a estrutura trófica de comunidades de aves podem revelar que perturbações ambientais levam a um aumento no número de espécies onívoras e insetívoras menos especializadas e diminuição de frugívoros (MOTTA-JÚNIOR 1990).

Inventários avifaunísticos já foram realizados em diversos fragmentos de Mata Atlântica no estado de Pernambuco. Todavia, as informações sobre a estrutura trófica das comunidades de aves encontradas nesses fragmentos são escassas. Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar a estrutura trófica da avifauna da avifauna da Reserva Ecológica de Gurjaú.

MATERIAL E MÉTODOS

A Reserva Estadual de Gurjaú (RESG) está localizada nos municípios do Cabo de Santo Agostinho, Moreno e Jaboatão dos Guararapes, Zona da Mata, sul do Estado de Pernambuco (8º21'30"S, 34º56'30"W). Tem como limites a Usina Bom Jesus e os Engenhos São Salvador e Espírito. Está inserida em uma única propriedade pública, pertencente à Companhia Pernambucana de Abastecimento de Água (COMPESA), onde existe uma estação de tratamento. No interior da reserva encontram-se três açudes: Sucupema, Gurjaú e São Salvador (FIDEM 1987, LYRA-NEVES et al. 2004).

Possui uma área total de 1.077,10 ha, distribuídos segundo a FIDEM (1987) em: 744,47 ha (Cabo de Santo Agostinho); 175,19 ha (Moreno) e 157,44 ha (Jaboatão dos Guararapes). Foi definida como Reserva Estadual pela Lei Estadual nº 9.989 em 1987. Apesar de ser um remanescente de Mata Atlântica, a sua cobertura vegetal não é uniforme, apresentando trechos de vegetação densa e outros bastante alterados em sua estrutura e fisionomia e por estarem completamente ilhados por cana-de-açúcar e outras culturas, principalmente de subsistência (FIDEM 1987, LYRA-NEVES et al. 2004). A RESG encontra-se ameaçada pelos canaviais, devido ao uso de agrotóxicos e herbicidas, além, do uso indiscriminado pelos posseiros, os quais retiram madeira para construção e reformas de suas casas e para a queima em fogões a lenha e ainda, pode-se destacar a caça de animais silvestres (LYRA-NEVES et al. 2004).

As comunidades de aves da Reserva Ecológica de Gurjaú foram estudadas no período de agosto de 2002 a abril de 2003, compreendendo as estações seca e chuvosa, com expedições mensais de cinco dias cada, totalizando 45 dias de atividades de campo e um esforço amostral de 360 horas.

As informações sobre a avifauna foram obtidas através da observação direta dos indivíduos com auxílio de binóculos, onde, o pesquisador percorria uma trilha existente na mata, percorrendo o interior, a borda da mata e áreas abertas. Durante as caminhadas foram anotados os seguintes dados: visualizações e/ou vocalizações, estrato ocupado, número de indivíduos (exemplares isolados, em pares ou em grupos). Também se utilizou a identificação por meio das vocalizações e "play-back" com o auxílio de um minicassete Aiwa TP560 e gravador Sony TCM 5000, microfone Leson ML8 e através das capturas com redes de neblina. Para as atividades de captura, foram utilizadas 12 redes de neblina (2,5 X 12 m e 36 mm de malha) dispostas em dupla nos dois períodos do dia. Pela manhã, as redes eram abertas às 5:00 h e fechadas às 11:00 h e no período da tarde eram abertas das 15:00 às 17:00 h. Ainda, foram realizadas visitas à coleção ornitológica da Universidade Federal de Pernambuco para identificação e contagem de exemplares coletados na RESG e ali depositados. Também, com uma visão conservacionista por meio do trabalho de biologia da conservação, aplicou-se questionário para a população da RESG, onde alguns itens tratavam sobre os registros da avifauna local questionando a presença e ausências das espécies conhecidas pelos moradores da região.

Os Registros das aves foram categorizados como: (OB) observação visual, (V) vocalização, (CP) captura com rede de neblina (malha de 36 mm), (CL) Coleção e (EM) entrevistas.

As dietas foram determinadas através dos registros de campo e bibliografia específica (e.g. MOOJEN et al.1941, HEMPEL 1949, KUHLMANN & JIMBO 1957, JIMBO 1957, SCHUBART et al. 1965, WILLIS 1979, MOTTA-JÚNIOR 1990, TERBORGH et al.1990, SICK 1997). As categorias tróficas consideradas foram: Carnívoro (C), Detritívoro (D), Frugívoro (F), Granívoro (G), Insetívoro (I), Nectarívoro (N), Onívoro (O) e Piscívoro (P).

A nomenclatura científica utilizada é aquela proposta por SICK (1997), todavia, foram acatadas as resoluções do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO). Os nomes vulgares de acordo com SICK (1997) e FARIAS et al. (2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registradas 225 espécies de aves na Reserva Estadual de Gurjaú, das quais, 220 durante as observações e capturas, quatro foram citadas nas entrevistas com os moradores da região: Ortalis gutatta Spix, 1825, Nyctibius griseus (Gmelin, 1789), Sicalis luteola (Sparrman, 1789) e Sporophila albogularis (Spix, 1825) e uma tombada na coleção científica da Universidade Federal de Pernambuco, Momotus momota (Linnaeus, 1766). As 225 espécies registradas neste trabalho estão distribuídas em 40 famílias e 12 subfamílias o que corresponde a 45,18% da avifauna de Pernambuco (498 espécies) (Tab. I). A riqueza de espécies encontrada na RESG se assemelha àquela citada por MOTTA-JÚNIOR (1990), D'ANGELO-NETO et al. (1998), ANJOS (1998), ALEIXO (1999), ANJOS & BOÇON (1999), DÁRIO & ALMEIDA (2000), KRÜGEL & ANJOS (2000), ANJOS (2001), EFE et al. (2001), GUILHERME (2001), BLAMIRES et al. (2001), SANTOS (2001) e SILVEIRA et al. (2003), em levantamentos semelhantes ao realizado nesta pesquisa.

Dentre as famílias mais representativas, registradas na RESG, Tyrannidae e Emberizidae destacaram-se por possuírem o maior número de espécies (43 e 36 espécies respectivamente) (Fig. 1). Essas espécies provavelmente seriam mais tolerantes a ambientes alterados pelo homem, pois resultados semelhantes também foram encontrados por MOTTA-JÚNIOR (1990), ANJOS & BÓÇON (1999), KRÜGEL & ANJOS (2000), ANJOS (2001), EFE et al. (2001), GUILHERME (2001).


A estrutura trófica da avifauna da RESG demonstrou um predomínio das espécies insetívoras seguidas por onívoras (Tabs I e II). Dados semelhantes foram constatados por WILLIS (1979), MOTTA-JÚNIOR (1990), ANJOS (1998, 2001), ALEIXO (1999), ANJOS & BÓÇON (1999), DÁRIO & ALMEIDA (2000), KRÜGEL & ANJOS (2000), BLAMIRES et al. (2001), SANTOS (2001), SILVEIRA et al. (2003), diferindo apenas do resultado encontrado por EFE (2001), o qual, verificou uma presença maior de onívoros em relação aos insetívoros. A variação nessas duas categorias pode ser explicada por um aumento na onivoria em áreas mais antropizadas, como fragmentos de mata, assim como em áreas cobertas por vegetação secundária ou exótica; a onivoria teria um efeito tampão contra flutuações no suprimento de alimentos (WILLIS 1976, D'ANGELO-NETO et al. 1998, BLAMIRES et al. 2001). Entretanto, ALMEIDA (1982) comenta que o número de espécies onívoras em geral é maior nas matas menos alteradas e o de insetívoros aumenta nas mais alteradas sendo este fato observado para o fragmento de Gurjaú. WILLIS (1979) e ANJOS (1998) citam que aves insetívoras escaladoras de tronco e galho (pica-paus e arapaçus) são localmente extintas mais rapidamente com a diminuição da área de forrageamento. ALEIXO & VIELLIARD (1995) indicaram os insetívoros como o grupo de espécies mais sensível à fragmentação florestal.

As aves de dietas mais especializadas como as frugívoras aparecem em terceiro lugar, onde se destacam aquelas de maior porte, a exemplo de Crypturellus soui (Hermann, 1783), Pionus maximiliani (Kuhl, 1820), Pteroglossus aracari (Linnaeus, 1758) e Pteroglossus inscriptus Swainson, 1822, ocorrendo em todas as áreas percorridas durante a pesquisa. Estas aves, também, foram registradas para fragmentos de Mata Atlântica nos estados de Pernambuco e Alagoas por PINTO (1940), PACHECO & WHITNEY (1995) e SILVEIRA et al. (2003).

O percentual de espécies frugívoras indica que na reserva de Gurjaú ainda existem plantas frutíferas que contribuem para a manutenção dessas aves, principalmente dos frugívoros de grande porte. Além das espécies de árvores nativas, outras espécies (e.g. bananeira) são cultivadas por moradores do entorno, e fornecem alimento para pequenos frugívoros como: Tangara fastuosa (Lesson, 1831), T. cyanocephala (Müller, 1766) e T. velia (Wied, 1830), durante a escassez de recursos nativos.

Em Gurjaú foi observado que papagaios, araçaris, surucuás e traupídeos realizavam deslocamentos entre os fragmentos da reserva. De acordo com WILLIS (1979), ANJOS (1998) e GUILHERME (2001) os frugívoros apresentam maior capacidade de deslocamento, podendo procurar alimento em outros fragmentos desde que não estejam muito distantes.

Os granívoros estão bem representados por espécies das famílias Columbidae e Emberizidae encontradas forrageando nas áreas de interior de mata, borda e áreas abertas. Os dados sugerem que o entorno dos fragmentos florestais, bem como as clareiras são compostas por gramíneas e contribuem para uma presença maior de alguns columbídeos: Columbina passerina (Linnaeus, 1758), Columbina minuta (Linnaeus, 1766) e Columbina talpacoti (Temminck, 1811) e emberizideos: Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766), Sporophila spp., Tiaris fuliginosus (Wied, 1831) e Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) (Tab. I). ANJOS (1998) discute que com a fragmentação e conseqüentemente o aumento da área de borda os granívoros são beneficiados por utilizarem essas áreas para forrageio.

Na escala de representatividade, as aves nectarívoras representadas pelos Trochilidae, possuem espécies que são comumente encontradas em áreas de capoeira e no interior de fragmentos florestais (JONHS 1991, STOUFFER & BIERREGAARD 1995b, GUILHERME 2001). Na RESG, foram identificadas 16 espécies desta família (Tab. I), as quais são eficientes em explorar áreas de vegetação secundária onde existam flores nativas ou exóticas disponíveis ao longo do ano (GUILHERME 2001).

As aves carnívoras foram representadas pelos Accipitridae, Falconidae e Strigidae. São consideradas espécies de topo de cadeia trófica (EFE 2001) e algumas espécies destacaram-se sendo consideradas residentes, a exemplo de Elanus leucurus (Vieillot, 1818), Leptodon cayanensis (Latham, 1790), Rupornis magnirostris (Gmelin, 1789), Megascops choliba (Vieillot, 1817) e Pulsatrix perspicillata (Latham, 1790) como foi observado por LYRA-NEVES et al. (2004). A presença dessas aves pode ser explicada, por encontrarem na RESG uma área propícia para o seu refúgio e a aquisição do alimento. De acordo com ALEIXO (1999), os carnívoros de grande porte podem ser prejudicados pela necessidade de uma grande área de vida e por alteração na abundância de suas presas.

Com os menores percentuais, os detritívoros e piscívoros foram representados pelos Cathartidae e Alcedinidae. Os Cathartidae foram avistados sobrevoando ou alimentando-se de animais em decomposição dentro ou nos arredores da RESG. Os Alcedinidae foram observados forrageando nos riachos e açudes internos ou no entorno da RESG. Este baixo percentual segue o padrão encontrado em outras áreas estudadas (eg. WILLIS 1979, MOTTA-JÚNIOR 1990, ANJOS 1998, ALEIXO 1999, ANJOS & BÓÇON 1999, DÁRIO & ALMEIDA 2000, KRÜGEL & ANJOS 2000, ANJOS 2001, BLAMIRES et al. 2001, SANTOS 2001, SILVEIRA et al. 2003, EFE 2001).

Foram registradas para a RESG as seguintes espécies de aves seguidores de correição e insetívoros de subosque: Pyriglena leuconota (Spix, 1824), Conopophaga melanops (Wied, 1831), Platyrinchus mystaceus Vieillot, 1818 e Myiobius barbatus (Gmelin, 1789) (SICK 1997). Estas aves não foram facilmente observadas ou capturadas. Este fato pode ter ocorrido devido à redução do número de indivíduos destas espécies, por habitarem fragmentos parcialmente alterados por monoculturas de subsistência, ocasionando assim o aumento do efeito de borda.

Trabalhos realizados por STOUFFER & BIERREGAARD JR. (1995a) relatam o desaparecimento de aves insetívoras de subosque, principalmente as seguidoras de formigas de correição como P. leuconota, que são as primeiras a desaparecer (BIERREGAARD JR & LOVEJOY 1989). Segundo ASKINS et al. (1987) e STOUFFER & BIERREGAARD JR. (1995b), espécies dependentes de interior de floresta desaparecem em fragmentos de mata pequenos, portanto elas são vulneráveis à fragmentação que aumenta o efeito de borda.

Em Gurjaú, foram observadas espécies insetívoras especialistas, seguidoras de correição e de frugívoros de grande porte. As espécies dessas categorias tróficas são bastante vulneráveis e podem ser eliminadas de áreas com um acentuado efeito de borda devido à fragmentação (WILLIS 1979, JANZEN 1983, BIERREGAARD JR. et al. 1992, ANDRÉN 1994, ANJOS 1998, SILVA & TABARELLI 2000). Os resultados deste trabalho mostram que a RESG, ainda mantém espécies de insetívoros especialistas como: Pyriglena leuconota, Conopophaga melanops e C. lineata, e de grandes frugívoros como: Pionus maximiliani, Pteroglossus aracari e P. inscriptus.

A estrutura trófica da comunidade avifaunística da Reserva Estadual de Gurjaú, ainda se apresenta equilibrada, com presença de espécies de aves como: insetívoros especialistas dependentes de interior de floresta, predadores de topo de cadeia e grandes frugívoros. Assim, a conservação da Reserva Ecológica de Gurjaú deve ser mantida pelo órgão responsável por sua guarda, firmando parcerias com órgãos de fiscalização do meio ambiente do estado. Desta forma espera-se diminuir a caça, a queima e a retirada ilegal de madeira no período do corte da cana, realizada pelos usineiros com intuito de aumentar a área de plantio e pelos moradores que retiram e comercializam ilegalmente a madeira, resultando na diminuição do fragmento, com perdas da biodiversidade da área.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de Doutorado de Wallace Rodrigues Telino Júnior e Rachel Maria de Lyra Neves, à Fundação Apolônio Sales de Apoio e Desenvolvimento à Pesquisa (FADURPE), ao Departamento de Estradas e Rodagens de Pernambuco (DER/PE), à Companhia Pernambucana de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) e à Companhia Pernambucana de abastecimento de Água (COMPESA), pelo suporte dado no decorrer desta pesquisa.

Recebido em 18.I.2005; aceito em 30.X.2005.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 2005

Histórico

  • Aceito
    30 Out 2005
  • Recebido
    18 Jan 2005
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