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Importância de programa multiprofissional de prevenção de trauma para jovens

Resumos

OBJETIVO:

identificar o perfil dos jovens que participaram do programa P.A.R.T.Y. na cidade de Campinas e apresentar o impacto deste projeto desde a sua implantação em 2010.

MÉTODOS:

os organizadores realizam visita às escolas participantes, conversando com os alunos, que tem idade entre 14-18 anos. Esses alunos passam a tarde no Hospital de Clínicas da Unicamp, onde, durante quatro horas participam de palestras ministradas pelos organizadores, parceiros e setores municipais, e também visitam o hospital, conversando com vítimas de trauma. Foram avaliadas as visitas no período de 2010 a 2012, sendo um questionário aplicado antes e logo após o projeto.

RESULTADOS:

participaram do projeto 2450 estudantes do ensino médio. A média de idade foi 16 ± 0,99 anos e 37,6% eram do sexo masculino. Entre os homens, 3,6% do total de participantes já dirigiu alcoolizado e 0,8% no sexo feminino. Antes do projeto 116 (11,3%) acreditavam que dirigir após beber não era um risco e apenas 37 (3,6%) sabiam dos efeitos do álcool. Após, 441 (43%) passaram a considerar um risco e 193 (18,8%) sabiam os efeitos do álcool.

CONCLUSÃO:

o surgimento de programas de prevenção possibilita a mudança de comportamento na população participante, principalmente realizada por equipe multidisciplinar, que apresenta o assunto estudado sobre diferentes pontos de vista, de acordo com sua área de atuação.

Prevenção de Acidentes; Trauma; Alcoolismo; Jovens


OBJECTIVE:

present the experience of the P.A.R.T.Y. program in Campinas, thereby changing the habits of young people.

METHODS:

The organizers visited the participating schools talking to the students, who are aged between 14-18 years. These students spent an afternoon at the Clinics Hospital of Unicamp, where, for four hours, they attended lectures of the organizers, partners and municipal sectors, and also visited the hospital, talking with trauma victims. Questionnaires were evaluated between2010-2012, being applied before and after the project.

RESULTS:

2,450 high school students attended the program. The mean age is 16 ± 0,99 years and 37.6% were male. 3.6% of males already drive while drunk versus 0.8% of women. Before the project 116 (11.3%) thought that drunk driving wasn't a risk, and only 37 (3.6%) knew the alcohol effects. After the project, 441 (43%) began to consider drunk driving a risk and 193 (18.8%) know the alcohol effects when driving. 956 (93.3%) considered that prevention projects have a huge impact on their formation.

CONCLUSION:

It's expected that the attendees will act as multipliers of information, conveying the message of prevention to their entire social circles resulting in reduction in the number of trauma events involving the young, in the long term.

Prevention Accident; Trauma; Alcoholism; Youth


INTRODUÇÃO

O trauma é uma doença causada por causas externas, e é uma das principais causas de mortalidade e morbidade no Brasil, representando 12,5% das mortes em 2007, especialmente entre jovens adultos do sexo masculino, onde representa 83,5% mortes11. Reichenheim ME, de Souza ER, Moraes CL, de Mello Jorge MH, da Silva CM, de Souza Minayo MC. Violence and injuries in Brazil: the effect, progress made, and challenges ahead. Lancet. 2011;377(9781):1962-7.. O trauma também é a terceira causa de morte na população geral (aproximadamente 143.000 mortes por ano) e a primeira causa de morte na população entre 1-40 anos, predominando homicídios e eventos relacionados ao trânsito, e frequentemente associados ao consumo de bebidas alcóolicas11. Reichenheim ME, de Souza ER, Moraes CL, de Mello Jorge MH, da Silva CM, de Souza Minayo MC. Violence and injuries in Brazil: the effect, progress made, and challenges ahead. Lancet. 2011;377(9781):1962-7..

Os dados epidemiológicos do trauma no Brasil diferem um pouco dos dados demais países membros da Organização Mundial de Saúde (OMS), onde 51% das mortes por causas externas foram suicídios22. Krug EG, Dahlberg LL, Mercy JA, Zwi AB, Lozano R. World report on violence and health. Geneva: World Health Organization, 2002.. Em 2007, o Brasil apresentou 67% das mortes por ferimentos decorrentes de causas externas, com 38.419 ferimentos e mortes relacionadas ao trânsito. Em 2007, a taxa de homicídio foi 26,8 por 100.000 pessoas e a mortalidade relacionada ao trânsito foi 23,5 por 100.00011. Reichenheim ME, de Souza ER, Moraes CL, de Mello Jorge MH, da Silva CM, de Souza Minayo MC. Violence and injuries in Brazil: the effect, progress made, and challenges ahead. Lancet. 2011;377(9781):1962-7.. Os índices de mortalidade relacionada ao trânsito no Brasil têm aumentado com velocidade alarmante nas mortes com motocicletas33. Deaths from motor vehicle traffic accidents in selected countries of the Americas, 1985-2001. Epidemiol Bull. 2004,25(1):2-5. , 44. Chandran A, Sousa TR, Guo Y, Bishai D, Pechansky F; Vida No Transito Evaluation Team. Road traffic deaths in Brazil: rising trends in pedestrian and motorcycle occupant deaths. Traffic Inj Prev. 2012;13Suppl 1:11-6.. Na última década, a mortalidade de motociclistas aumentou mais de 300%, passando de 1,5 por 100.000 habitantes em 2000 para 4,7 por 100.000 em 200844. Chandran A, Sousa TR, Guo Y, Bishai D, Pechansky F; Vida No Transito Evaluation Team. Road traffic deaths in Brazil: rising trends in pedestrian and motorcycle occupant deaths. Traffic Inj Prev. 2012;13Suppl 1:11-6..

Campinas é a terceira cidade mais populosa do estado de São Paulo e a 14a do Brasil, com mais de 1,1 milhão de habitantes. Em 2008 a cidade possuía uma taxa de mortalidade relacionada ao trânsito de 20 por 100.000 habitantes e motoristas de motocicletas representavam 49,3% dos eventos fatais nas rodovias públicas de Campinas55. Marín-León L, Belon AP, Barros MBA, Almeida SDM, Restitutti MC. Tendências dos acidentes de trânsito em Campinas, São Paulo, Brasil: importância crescente dos motociclistas. Cad Saúde Pública. 2012;28(1):39-51.. Carrasco et al. estudaram 479 pessoas que morreram por consequência de colisões de motocicleta em Campinas, sendo a maioria do sexo masculino (90,8%), com média de idade de 27,8 e os níveis de álcool no sangue foram positivos em 42,2% das vítimas (média: 0,627g/L), corroborando com o fato do álcool ser um fator significante em relação aos acidentes e é um importante fator de risco, contribuindo para as colisões fatais66. Carrasco CE, Godinho M, Berti de Azevedo Barros M, Rizoli S, Fraga GP.Fatal motorcycle crashes: a serious public health problem in Brazil. World J Emerg Surg. 2012;7Suppl 1:S5..

As leis e os programas de prevenção constituem uma excelente solução em longo prazo na redução de índices de trauma relacionado ao trânsito e aos demais tipos de traumas77. Jayaraj R, Thomas M, Kavanagh D, d'Abbs P, Mayo L, Thomson V, et al. Studyprotocol: Screening and Treatment of Alcohol-RelatedTrauma (START) - a randomized controlled trial. BMC Health Serv Res. 2012;12:371.

8. Prevent Alcohol and Risk-Related Trauma in Youth (P.A.R.T.Y.) Program. Acesso em: 30 mai 2014. Disponível em: http://www.partyprogram.com
http://www.partyprogram.com...
- 99. Banfield JM, Gomez M, Kiss A, Redelmeier DA, Brenneman F. Effectiveness of the P.A.R.T.Y. (Prevent Alcohol and Risk-related Trauma in Youth) program in preventing traumatic injuries: a 10-year analysis . J Trauma. 2011;70(3):732-5.. Um ótimo exemplo dessa iniciativa é o Sunnybrook RBC First Office for Injury Prevention, estabelecido em 1986 nos Departamentos de Trauma, Emergência e Cuidados Intensivos do Hospital Sunnybrook, em Toronto. Esse programa visa prevenir acidentes de trânsito e óbitos em todas as idades através de educação comunitária, colaboração e conscientização. Múltiplos projetos e recursos são entregues independentemente, através de uma extensa equipe de colaboradores, como o projeto Prevent Alcohol and Risk-Related Trauma in Youth (P.A.R.T.Y.)88. Prevent Alcohol and Risk-Related Trauma in Youth (P.A.R.T.Y.) Program. Acesso em: 30 mai 2014. Disponível em: http://www.partyprogram.com
http://www.partyprogram.com...
.

O projeto P.A.R.T.Y. é uma iniciativa na qual jovens (14 a 18 anos) são convidados para passarem um período em um hospital que atende trauma e participar de atividades para conscientização sobre os riscos a que estão expostos, e principalmente como preveni-los. Eles visitam os departamentos do hospital que possuem pacientes vitimas de trauma, onde podem vivenciar a realidade daqueles que vivem com as consequências dos mesmos riscos a que os próprios jovens estão constantemente expostos. Esse projeto foi inicialmente desenvolvido no Canadá e tem reduzido de forma eficaz a incidência de acidentes de trânsito entre os seus participantes99. Banfield JM, Gomez M, Kiss A, Redelmeier DA, Brenneman F. Effectiveness of the P.A.R.T.Y. (Prevent Alcohol and Risk-related Trauma in Youth) program in preventing traumatic injuries: a 10-year analysis . J Trauma. 2011;70(3):732-5..

No Brasil, o programa P.A.R.T.Y. foi implantado em 2008, em Ribeirão Preto. Em Campinas, as atividades ocorrem em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas, a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (EMDEC) da Secretaria Municipal de Transportes (SETRANSP), Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), concessionária de atendimento pré-hospitalar de rodovia (Rota das Bandeiras), estudantes de Medicina e de Enfermagem da Unicamp, médicos e voluntários. Durante as atividades os graduandos e profissionais procuram conscientizar os jovens para identificar os riscos aos quais estão expostos e suas consequências, proporcionando subsídio para escolhas certas, utilizando de diferentes pontos de vistas e abordagens.

Esse estudo tem como objetivo identificar o perfil dos jovens que participaram do programa P.A.R.T.Y. na cidade de Campinas e apresentar o impacto deste projeto desde a sua implantação em 2010. Também visa conscientizar os profissionais e acadêmicos da saúde e o público jovem a importância de atividades multidisciplinares e de extensão na prevenção de eventos traumáticos relacionados ao álcool.

MÉTODOS

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp com o parecer no 1010/2010, CAAE: 0787.0.146.000-10.

A conscientização dos participantes se faz através de visita ao Hospital de Clinicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os participantes assistem às palestras e aos vídeos relacionados aos riscos, escolhas e consequências relativas ao trauma; fazem visita interativa nos setores do hospital em que se encontram pacientes vítimas de trauma, tendo a oportunidade de conversar com os pacientes sobre o motivo que causou o trauma e vivenciam sequelas possíveis decorrentes do trauma de forma simulada e dinâmica, além de troca de experiência com voluntários que sofreram ferimentos graves de trauma e têm sequelas definitivas, como paraplegia.

Durante o período de atuação do programa P.A.R.T.Y. os alunos participantes respondem anonimamente a um questionário sobre comportamento, consumo de álcool e conhecimentos gerais sobre trauma e emergência antes do inicio do projeto e após o período de participação do programa, como uma forma de avaliar a efetividade das atividades.

O presente estudo analisou as respostas obtidas nesses questionários, no período de 2010 a 2012, ressaltando o envolvimento de equipe multidisciplinar. A equipe nesse período foi composta de 50 estudantes de Medicina, três graduandas de Enfermagem, um psicólogo e quatro cirurgiões do Trauma, além de seis educadores da EMDEC e 40 professores das escolas de Campinas, a Polícia começou a atuar em 2011 e cinco policiais têm participado em palestras aos alunos, duas enfermeiras e dois médicos do SAMU alternam-se no projeto, além de especialistas da área de atendimento pré-hospitalar da concessionária Rota das Bandeiras. Pacientes e seus familiares receberam os alunos durante seu tratamento no HC-Unicamp e um paciente paraplégico participa de todas as visitas.

RESULTADOS

Entre 2010 e 2012, 2450 estudantes do ensino médio participaram do projeto P.A.R.T.Y. na Unicamp. Esses estudantes provinham de 35 escolas públicas da região central e também periférica do município de Campinas. A média atingida foi 70 estudantes por visita ao hospital.

O questionário completo da pesquisa foi respondido por 1025 estudantes. A média de idade foi 16 ± 0,99 anos, com 7% dos alunos tendo idade superior a 18 anos e 37,6%, do sexo masculino. A maioria dos alunos participantes (93,3%) considerou que os projetos de prevenção têm um enorme impacto em sua formação.

Do total de participantes, 34,4% já dirigiram, sendo 54,3% homens e 22,5% mulheres, porém 42,6% dos homens e 18,3% das mulheres não tinha idade superior a 18 anos. Usaram o cinto de segurança sempre 50,5% dos participantes, 3,5% nunca o utilizaram e 43,4% dos participantes sempre utilizaram o capacete quando andaram de motocicleta (Tabela 1), sendo 40,84% no grupo feminino. Observou-se que 74,9% dos homens usaram cinto sempre ou na maioria das vezes no banco da frente contra 80,4% do sexo feminino. Vinte e seis por cento dos participantes, tanto do sexo masculino como feminino, usaram cinto sempre ou na maioria das vezes no banco de trás.

Tabela 1
Uso de dispositivos de segurança, segundo questionário empregado.

Observou-se que 3,6% do total de participantes do sexo masculino já dirigiram alcoolizados e 0,8% do sexo feminino fez o mesmo. Dez (52,6%), desses jovens consomem álcool mais de dez vezes no mês (Tabela 2). O resultado das respostas sobre o conhecimento dos efeitos do álcool na direção, antes e após o programa P.A.R.T.Y. são apresentados na figura 1.

Tabela 2
Análise do consumo de álcool, segundo o questionário empregado.

Figura 1
Relação entre o conhecimento do uso de álcool antes e depois da participação no programa P.A.R.T.Y.

DISCUSSÃO

Após anos de aumento na mortalidade relacionada ao trânsito, tem sido registrada queda neste tipo de morte, apesar de não ser em todo o território nacional. Parte deste sucesso pode ser atribuído às medidas realizadas em anos recentes, como a determinação do nível máximo de álcool no sangue permitido. Em 1998, o Código Nacional de Trânsito determinou o limite legal em 0,6g/L, assim como, a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança. Em 2008, a Lei 11.705, conhecida como a "Lei Seca", foi aprovada, reduzindo o limite legal de álcool no sangue para zero11. Reichenheim ME, de Souza ER, Moraes CL, de Mello Jorge MH, da Silva CM, de Souza Minayo MC. Violence and injuries in Brazil: the effect, progress made, and challenges ahead. Lancet. 2011;377(9781):1962-7. , 1010. Bacchieri G, Barros AJD. Trafficaccidents in Brazil from 1998 to 2010: manychanges and feweffects. Rev SaúdePública. 2011;45(5):949-63.. Desde 1998 houve uma redução de aproximadamente 14% na mortalidade, mas o valor apenas atingiu o mesmo valor da média da América Latina, e está ainda acima daquele de outros países. Outros estudos sugerem que a redução na mortalidade está relacionada com a aprovação de outras leis de trânsito, como exemplo a Lei no 12.009, de 29/07/2009, que exige idade mínima de 21 anos, possuir habilitação por pelo menos dois anos na categoria e ter sido aprovado em curso especializado para o exercício1010. Bacchieri G, Barros AJD. Trafficaccidents in Brazil from 1998 to 2010: manychanges and feweffects. Rev SaúdePública. 2011;45(5):949-63.

11. Cheng AS, Ng TC. Risky driving and the perception of motorcycle accident causes among Chinese motorcyclists in Hong Kong. Traffic Inj Prev. 2012;13(5):485-92.
- 1212. Híjar M, Pérez-Núñez R, Inclán-Valadez C, Silveira-Rodrigues EM.Road safety legislation in the Americas. Rev Panam Salud Publica. 2012;32(1):70-6..

Acidentes de trânsito têm um alto custo, tanto pessoal quanto social, onerando o erário público em US$9.9 bilhões, ou 1,2% do PIB brasileiro. Dados do Sistema de Informações Hospitalares, de 2007, relatam 17.265 hospitalizações resultantes de lesões relacionadas ao trânsito. Nós estamos na década de redução da mortalidade no trânsito, de acordo com a OMS, não obstante ainda há mais de 42.000 mortes por ano devido a acidentes de trânsito no Brasil11. Reichenheim ME, de Souza ER, Moraes CL, de Mello Jorge MH, da Silva CM, de Souza Minayo MC. Violence and injuries in Brazil: the effect, progress made, and challenges ahead. Lancet. 2011;377(9781):1962-7. , 1010. Bacchieri G, Barros AJD. Trafficaccidents in Brazil from 1998 to 2010: manychanges and feweffects. Rev SaúdePública. 2011;45(5):949-63. , 1313. Peden M, Scurfield R, Sleet D, Mohan D, Hyder AA, Jarawan E, et al. World report on road traffic injuries prevention. Geneva: World Health Organization, 2004.. A melhor maneira de reduzir esses números é através da prevenção.

O projeto P.A.R.T.Y envolve cerca de 70 estudantes por visita ao hospital e cerca de 800 por ano em Campinas. É apenas uma parcela do grande número de jovens que estão expostos aos riscos do trauma, porém outras cidades já estão buscando iniciar atividades semelhantes ou iguais através de parcerias multidisciplinares e unificação nacional. O fruto desta iniciativa, a redução da mortalidade relacionada ao trânsito, será colhido apenas em longo prazo, com a proliferação de núcleos realizadores deste tipo de projeto de prevenção.

Em Toronto, considerando 1281 estudantes que foram aleatoriamente combinados com controles, o projeto P.A.R.T.Y. reduziu efetivamente a incidência de eventos de trânsito entre os jovens participantes, sendo maior a redução no sexo feminino (p=0,04) e após os jovens tirarem a licença para dirigir (p=0,04)99. Banfield JM, Gomez M, Kiss A, Redelmeier DA, Brenneman F. Effectiveness of the P.A.R.T.Y. (Prevent Alcohol and Risk-related Trauma in Youth) program in preventing traumatic injuries: a 10-year analysis . J Trauma. 2011;70(3):732-5.. Essa eficácia foi mais forte entre as mulheres do que entre os homens. O projeto não reduziu todas as lesões traumáticas, mas ajudou os participantes a permanecerem livres de ferimentos por mais tempo do que o grupo controle (p<0,0001), e os ferimentos graves nos participantes do P.A.R.T.Y. foram significativamente menores do que nos controles. Banfield et al. demonstraram a eficácia de programas que ocorrem dentro de hospitais na redução de lesões traumáticas99. Banfield JM, Gomez M, Kiss A, Redelmeier DA, Brenneman F. Effectiveness of the P.A.R.T.Y. (Prevent Alcohol and Risk-related Trauma in Youth) program in preventing traumatic injuries: a 10-year analysis . J Trauma. 2011;70(3):732-5.. Outro estudo da Austrália mostrou que a participação no projeto P.A.R.T.Y. foi associada com uma significativa redução nos riscos subsequentes de cometer violência ou ofensas relacionadas ao trânsito, ferimentos e morte, de 26,8% para 3,6% (p=0,001)1414. Ho KM, Litton E, Geelhoed E, Gope M, Burrell M, Coribel J, et al. Effect of an injury awareness education program on risk-taking behaviors and injuries in juvenilejustice offenders: a retrospective cohort study. PLoS One. 2012;7(2):e31776..

Um aspecto importante a ser notado no projeto é o fato de que alunos de graduação, além dos organizadores, são aqueles que transmitem boa parte das informações ao longo das atividades exercidas em cada dia dos projetos. Se, por um lado, os participantes - jovens de 15 a 18 anos - podem não reconhecer os alunos de graduação como pessoas capacitadas a passarem informações para eles, devido à proximidade de idade entre ambos, ou ao fato dos alunos de graduação não terem concluído sua formação até então, por outro lado, a linguagem utilizada pelos alunos de graduação é mais próxima do utilizado pelos jovens participantes, fato que se torna de extrema importância para a compreensão do que é dito, uma grande dificuldade vivenciada em todo o meio da saúde. Além disso, os graduandos da área de saúde podem servir como exemplos.

Ao observar os alunos explicando sobre os riscos a que todos os jovens, alunos de graduação e participantes do programa, estão expostos, e a maneira de evitar que estes riscos se concretizem, observa-se uma identificação entre os dois grupos, com introjeção por parte dos participantes da postura de consciência de prevenção observada nos alunos de graduação. Está identificação acaba por auxiliar na construção da personalidade destes jovens.

A participação dos outros profissionais acontece de forma dinâmica com o intuito de fornecer conceitos aos jovens sem cansá-los, através de palestras e vídeos de profissionais de referência abordando o respectivo tema onde atua em seu trabalho. Esta atuação multiprofissional visa fornecer um argumento de autoridade para aquilo que havia sido dito pelos estudantes de Medicina e Enfermagem, que por sua vez forneceram os mesmos conceitos de maneira mais acessível aos jovens.

No segundo momento das atividades, quando os jovens interagem com pacientes vítimas de trauma e têm um "bate-papo" com um cadeirante que ficou paraplégico aos 17 anos de idade, busca-se um momento de reflexão através de um choque de realidade nos jovens. Na psicanálise, isto é conhecido como Principio da Realidade, que consiste em dar contas das exigências do mundo e das consequências dos próprios atos. Isso é obtido ao confrontar o jovem com o que pode acontecer com ele caso siga tomando comportamentos de risco para trauma1515. Richter ED, Berman T. Environmental and occupational medicine and injury prevention: education and impact, classroom and community. Public Health Rev. 2002;30(1-4):277-92.. O participante do projeto observa e se projeta como o paciente que está internado na UTI ou na Enfermaria do Trauma e compartilha das dificuldades do voluntário paraplégico do projeto.

Educação interprofissional e práticas colaborativas têm um papel significativo em atenuar muitos desafios enfrentados pelo comportamento dos jovens. Estudantes de Medicina e Enfermagem ganham uma compreensão dos papéis e das responsabilidades de cada membro da equipe de saúde envolvida na atenção ao trauma. Esses estudantes possuem uma melhor compreensão da necessidade de comunicação após o projeto interprofissional na prevenção ao trauma. As principais vantagens, que podem guiar o movimento a favor da educação interprofissional e práticas colaborativas, incluem: relevância do contexto, integração, mudança de comportamento multinível e liderança colaborativa. Também é importante destacar que usuários do serviço, pacientes e familiares são todos engajados no processo prático colaborativo.

O desenvolvimento contínuo de competências interprofissionais dos estudantes nas profissões do cuidado à saúde, como parte do processo de aprendizado, é necessária para prepará-los para trabalho em equipe eficaz e cuidado baseado em equipe. Aprender sobre temas de prevenção é uma oportunidade fantástica para desenvolver responsabilidade social, salvando vidas e criando sistemas de saúde mais seguros, eficazes e mais eficientes.

Não há uma grande dissociação entre sexos quanto aos comportamentos relacionados à segurança no trânsito entre os jovens, como observado. Infere-se que os números demonstram um comportamento etário e não de sexo, ao menos entre os adolescentes, visto que, tanto os participantes do sexo masculino quanto do sexo feminino, costumam tomar as mesmas opões quanto ao uso de cinto de segurança e capacetes.

Entretanto, como visto, há uma possível associação entre o consumo frequente de álcool entre os jovens e o hábito de dirigir alcoolizado, sendo que tanto a ingestão exagerada como o comportamento de dirigir alcoolizado são mais frequentes no sexo masculino.

O projeto se mostra eficaz enquanto meio de difusão de conhecimento e vivências para os jovens, onde, antes do projeto, a menor parte pensava que dirigir embriagado não oferecia risco, e apenas 3,6% conheciam os efeitos do álcool. Após o projeto, 43% começaram a considerar a direção sob embriaguez um risco e 18,8% aprenderam os efeitos do álcool na direção.

Apesar dos resultados alcançados estarem longe do cenário ideal para a população jovem, tratando-se de uma iniciativa pontual, não há duvidas de que os resultados são de sucesso, mas é necessário ampliar o número de projetos realizados e o número de cidades onde eles acontecem para alcançar um maior número de jovens. Isso já está acontecendo com a criação do P.A.R.T.Y. Brasil, sob a coordenação da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT), sendo que o programa já está ativo em Ribeirão Preto, Campinas, Sorocaba e Vitória1616. Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT). Lançado o P.A.R.T.Y. Brasil. TRAUMA BoleTEAM, ed. 2, 2o trim. 2013, p.6-7. [Acesso em 30mai2014]. Disponível em http://issuu.com/sbait/docs/informativo_trauma_jul-13
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, 1717. P.A.R.T.Y. Brasil. Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT). [Acesso em 30mai2014]. Disponível em http://www.sbait.org.br/partybrasil/
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. Também é necessário realizar iniciativas de educação seriada para sedimentar os conhecimentos e os comportamentos de segurança entre os jovens.

Concluindo, o surgimento de programas de prevenção possibilita a mudança de comportamento na população participante, principalmente realizada por equipe multidisciplinar, que apresenta o assunto estudado sobre diferentes pontos de vista, de acordo com sua área de atuação. O programa P.A.R.T.Y. existe como alternativa para que os jovens identifiquem os riscos do não uso dos equipamentos de segurança no trânsito, bem como, da relação negativa da associação álcool e direção.

Agradecimentos

Agradecemos a todos os bolsistas PET-SAÚDE, aos ligantes da Liga do Trauma da Unicamp e ao HC-Unicamp, funcionários da EMDEC, voluntários, e a todos da Disciplina de Cirurgia do Trauma do Departamento de Cirurgia da FCM-Unicamp por tornar possível realizar este projeto desde 2010.

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  • Fonte de financiamento: Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), do Ministério da Saúde.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2014

Histórico

  • Recebido
    01 Nov 2013
  • Aceito
    03 Jan 2014
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