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Leiomiossarcoma do esôfago

Esophageal leiomyosarcoma

Resumo

The authors describe a case of esophageal leiomyosarcoma treated at the Abdominopelvic Surgery Department of the Brazilian National Cancer Institute, including literature review, addressing treatment and prognosis. A 45 year-old female patient complaining of dysphagia, with pre-operative exams sugestive of esophageal leiomyoma. She was submitted to an esophagusgastrectomy with digestive reconstitution using a gastric tube brought through the posterior mediastinum. The histopathological examination and immunohistochemical tests confirmed that the tumor was an esophageal leiomyosarcoma. She is at the 7th year of follow up with no recurrence nor digestive complains.

Esophagus; Leiomyosarcoma; Esophageal neoplasms


Esophagus; Leiomyosarcoma; Esophageal neoplasms

RELATO DE CASO

Leiomiossarcoma do esôfago

Esophageal leiomyosarcoma

Geraldo José Souza Nascimento, ACBC-BAI; Claudio de Almeida Quadros, ACBC-BAII; Carlos Eduardo Pinto, TCBC-RJIII

ICirurgião Oncológico do Centro de Hematologia e Oncologia – CEHON, Hospital São Rafael e Hospital Salvador; Chefe da Sessão de Oncologia do Hospital Geral do Exército – 6ª RM, Salvador – Bahia

IICirurgião Oncológico da Sociedade de Oncologia da Bahia – ONCO e Hospital Salvador; Chefe do Serviço de Coloproctologia do Hospital Aristides Maltez, Salvador – Bahia

IIICoordenador do Grupo de Esôfago do Serviço de Cirurgia Abdomino-pélvica do INCA; Doutor e Mestre em Cirurgia pela UFRJ

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Dr. Geraldo José Souza Nascimento Cond. Rio das Pedras; Ed. Safira; APT 701; Imbuí 41720-050 - Salvador – Bahia e-mail: geraldo.n@terra.com.br

ABSTRACT

The authors describe a case of esophageal leiomyosarcoma treated at the Abdominopelvic Surgery Department of the Brazilian National Cancer Institute, including literature review, addressing treatment and prognosis. A 45 year-old female patient complaining of dysphagia, with pre-operative exams sugestive of esophageal leiomyoma. She was submitted to an esophagusgastrectomy with digestive reconstitution using a gastric tube brought through the posterior mediastinum. The histopathological examination and immunohistochemical tests confirmed that the tumor was an esophageal leiomyosarcoma. She is at the 7th year of follow up with no recurrence nor digestive complains.

Key words: Esophagus; Leiomyosarcoma; Esophageal neoplasms.

INTRODUÇÃO

O leimiossarcoma do esôfago representa uma rara enfermidade, responsável por cerca de 0,5 a 1,0% das neoplasias esofágicas. Apesar disto é considerado o mais comum sarcoma primário do esôfago, embora muito menos freqüente que os sarcomas de outros locais do trato gastrointestinal (estômago e intestino delgado).

RELATO DE CASO

N.R.B., 45 anos, feminina, referia disfagia para sólidos. A esofagografia mostrava falha de enchimento ao nível da JEG, regular, com dilatação à montante, sugerindo não haver comprometimento da mucosa. Na TC do tórax, evidenciava- se volumosa massa em mediastino posterior, que deslocava a aorta para trás e estendia-se para o abdome (Figura 1). A TC do abdome mostrava espessamento do esôfago terminal e do estômago proximal. A EDA identificava, aos 35 cm dos incisivos, grande protusão da mucosa, ligeiramente avermelhada, íntegra, sugerindo compressão extrínseca ao nível do esôfago distal, compatível com leiomioma.


A paciente foi submetida à esofagectomia, com reconstrução do trânsito utilizando tubo gástrico através do mediastino posterior (Figura 2). O tempo cirúrgico foi de 6h,e não houve hemotransfusão. Evoluiu sem complicações, com alta no 13º dia de pós-operatório, aceitando bem dieta por via oral. O exame histopatológico e a imuno-histoquímica confirmaram tratar-se de leiomiossarcoma do esôfago. Atualmente encontra-se no 7º ano de seguimento, sem recidiva e sem disfagia, com ganho ponderal de 8 Kg.


DISCUSSÃO

Apesar de incomuns, os tumores originários da musculatura lisa são as neoplasias mesenquimais mais freqüentes do esôfago1. Os sarcomas primários do esôfago são ainda mais raros, representando cerca de 0,5 a 1% das neoplasias esofágicas1. Até 1999 apenas 100 casos tinham sido relatados na literatura japonesa2.

Os leiomiomas são os tumores submucosos mais comuns do esôfago e seis vezes mais freqüentes que os leiomiossarcomas, sendo o diagnóstico diferencial pré-operatório extremamente difícil. Apenas em 15 a 40% dos casos é possível realizar o diagnóstico antes da cirurgia3,4. Com o objetivo de melhorar esse percentual, alguns critérios têm sido utilizados: 1) tamanho do tumor; 2) presença de ulceração; 3) massa heterogênea ou com áreas de baixa densidade central à tomografia computadorizada5; 4) ultra-sonografia endoscópica demonstrando irregularidades internas e ecos periféricos; 5) hipervascularização à angiografia. Apesar de haver boa correlação desses critérios com o diagnóstico final, o estudo anatomopatológico permanece como exame de primeira linha para confirmação.

Clinicamente é caracterizado pelo seu curso clínico indolente, tendo a disfagia como sintoma principal. Alguns pacientes são assintomáticos, e o diagnóstico é feito em exames de rotina1.

Habitualmente localizam-se no terço médio e inferior do esôfago, onde há predominância da musculatura lisa e em 60% das vezes apresentam-se sob a forma polipóide. Achados radiológicos do leiomiossarcoma primário do esôfago são semelhantes aos dos sarcomas primários de outros órgãos do trato gastrointestinal.3 A presença de ulcerações pode levar o endoscopista a confundir o leiomiossarcoma com o carcinoma epidermóide. Estando a mucosa íntegra, a realização de biópsias é de pouca utilidade pela característica superficial do fragmento retirado, devido à natureza submucosa destas lesões. O surgimento da ultra-sonografia endoscópica possibilitou a determinação de critérios específicos para o diagnóstico destas lesões, tais como: tumor bem definido, homogêneos e hipoecóico com fartos ecos marginais originados na camada muscular do esôfago.

Apesar de metástases serem infrequentes, a sobrevida em cinco anos é de 35 a 50%.1 Devido à dificuldade de definição pré-operatória entre leiomiossarcoma e leiomioma, a abordagem cirúrgica com radicalidade oncológica é o tratamento de escolha.

Recebido em 09/04/2004

Aceito para publicação em 19/11/2004

Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Abdômino-pélvica do Instituto Nacional do Câncer - INCA, Rio de Janeiro – RJ.

  • 1. Aiko S, Yoshizumi Y, Sugiura Y, et al Pedunculated esophageal leiomyosarcoma: a case report. Dis Esophagus. 1998; 11(4):263-7.
  • 2. Athanasoulis CA, Aral IM. Leiomyossarcoma of the esophagus. Gastroenterology. 1968; 54(2):271-4.
  • 3. Levine MS, Buck JL, Pantongrag-Brown L, et al Leiomysarcoma of the esophagus: radiolografc findings in 10 patients. AJR Am J Roentgenol. 1996; 167(1):27-32.
  • 4. Gray SW, Skandalakis JE, Shephard D. Smooth muscle tumors of the esophagus. Int Abstr Surg. 1961; 3:205-20.
  • 5. Clark RA, Alexander ES. Computed tomography of gastrointestinal leiomyosarcoma. Gastrointest Radiol. 1982; 7(2):127-9.
  • Endereço para correspondência

    Dr. Geraldo José Souza Nascimento
    Cond. Rio das Pedras; Ed. Safira; APT 701; Imbuí
    41720-050 - Salvador – Bahia
    e-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Nov 2005
    • Data do Fascículo
      Ago 2005

    Histórico

    • Aceito
      19 Nov 2004
    • Recebido
      09 Abr 2004
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