Acessibilidade / Reportar erro

Condroradionecrose de laringe após radioterapia

RESUMO

Objetivo:

estudar a condroradionecrose de laringe por complicação de radio-quimioterapia para tratamento do câncer de laringe e propor um fluxograma de tratamento com a utilização de câmara hiperbárica.

Métodos:

estudo retrospectivo de pacientes portadores de carcinoma de laringe admitidos em dois hospitais terciários num período de cinco anos.

Resultados:

de 131 pacientes portadores de câncer de laringe, 28 foram submetidos à radio e quimioterapia exclusiva e destes, três evoluíram com condroradionecrose. O tratamento destes pacientes foi realizado com câmara hiperbárica e com desbridamento cirúrgico, conforme proposição do fluxograma. Todos os pacientes tiveram a laringe preservada.

Conclusão:

a incidência de condroradionecrose de laringe por complicação de radioterapia e quimioterapia em nossa casuística foi de 10,7% e o tratamento com oxigenoterapia hiperbárica, com base no nosso fluxograma, foi efetivo no controle desta complicação.

Descritores:
Oxigenoterapia; Neoplasias Laríngeas; Necrose; Radioterapia Adjuvante; Complicações Intraoperatórias

ABSTRACT

Objective:

to study larynx chondroradionecrosis related to radiotherapy and chemotherapy treatment and provide a treatment flowchart.

Methods:

retrospective study with clinical data analysis of all larynx cancer patients admitted in a two tertiary hospital in a five years period.

Results:

from 131 patients treated for larynx cancer, 28 underwent chemoradiotherapy with curative intent and three of them presented chondroradionecrosis. They were treated with hiperbaric oxigen therapy and surgical debridment following our flowchart, preserving the larynx in all.

Conclusions:

the incidence of chondroradionecrosis as a complication of chemoradiotherapy in our series was 10,7% and the treatment with hiperbaric oxigen therapy, based in our flowchart, was effective to control this complication.

Keywords:
Hyperbaric Oxygenation; Laryngeal Neoplasms; Necrosis; Radiotherapy, Adjuvant; Intraoperative Complications

INTRODUÇÃO

A incidência do câncer da laringe em 2012 foi de aproximadamente 138.102 casos em todo o mundo11 GLOBOCAN [Internet]. Lyon (FR): IARC; 2012. Larynx - Estimated incidence, all ages: male 2012; [cited 2016 mar 22]. [Available from: http://globocan.iarc.fr/old/summary_table_sitehtml.asp?selection=11100&title=Larynx&sex=1&type=0&window=1&africa=1&america=2&asia=3&europe=4&oceania=5&build=6&sort=0&submit=%C2%A0Execute%C2%A0
http://globocan.iarc.fr/old/summary_tabl...
,22 Moura MA, Bergmann A, Aguiar SS, Thuler LC. The magnitude of the association between smoking and the risk of developing cancer in Brazil: a multicenter study. BMJ Open. 2014;4(2):e003736. . Somente nos EUA, estimou-se para 2016 o aparecimento de cerca de 13.430 casos novos, com número de óbitos de 3.620. No Brasil o câncer de laringe representa 2% de todos os cânceres, com 8.000 casos novos por ano, sendo causa de 3.000 óbitos anuais33 NIH. National Cancer Institute [Internet]. Bethesda (MD): National Cancer Institute; 2016. [cited 2016 mar 23] Cancer Stat Fact Sheets: larynx cancer. 2016 Available from: https://seer.cancer.gov/statfacts/html/laryn.html
https://seer.cancer.gov/statfacts/html/l...
,44 Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2014: Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2014.. Incide principalmente em homens, entre 50 e 70 anos, fumantes e etilistas crônicos, porém outras etiologias como o HPV, refluxo faringo-laringo-esofágico e riscos ocupacionais também são descritas55 Hashibe M, Brennan P, Benhamou S, Castellsague X, Chen C, Curado MP, et al. Alcohol drinking in never users of tobacco, cigarette smoking in never drinkers, and the risk of head and neck cancer: pooled analysis in the International Head and Neck Cancer Epidemiology Consortium. J Natl Cancer Inst. 2007;99(10):777-89. Erratum in: J Natl Cancer Inst. 2008;100(3):225. Fernandez, Leticia [added].

6 Gillison ML, Alemany L, Snijders PJ, Chaturvedi A, Steinberg BM, Schwartz S, et al. Human papillomavirus and diseases of the upper airway: head and neck cancer and respiratory papillomatosis. Vaccine. 2012;30 Suppl 5:F34-54.

7 Galli J, Cammarota G, Calò L, Agostino S, D´Ugo D, Cianci R, et al. The role of acid and alkaline reflux in laryngeal squamous cell carcinoma. Laryngoscope. 2002;112(10):1861-5.
-88 Brown T, Darnton A, Fortunato L, Rushton L; British Occupational Cancer Burden Study Group. Occupational cancer in Britain. Respiratory cancer sites: larynx, lung and mesothelioma. Br J Cancer. 2012;107 Suppl 1:S56-70.. Quanto à histopatologia, 95% dos carcinomas são espinocelulares ou escamosos de origem epitelial (CEC), seguidos dos carcinomas de glândulas salivares menores e dos sarcomas. Anatomicamente, de 60% a 70% são glóticos, 20% a 30% supra-glóticos e 5% estão localizados na sub-glote99 Reidenbach MM. Borders and topographic relations of the cricoid area. Eur Arch Otorhinolaryngol. 1997;254(7):323-5.,1010 Reidenbach MM. Borders and topographic relationships of the paraglottic space. Eur Arch Otorhinolaryngol. 1997;254(4):193-5..

As atuais formas de tratamento para o paciente portador de carcinoma de laringe incluem a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia, associadas ou não. A radioterapia é uma modalidade de tratamento para diversas neoplasias, e pode ser indicada com três finalidades: curativa, paliativa e sintomática, esta última de menor indicação. Quando comparada com a cirurgia, a radioterapia isolada ou associada à quimioterapia, se mostrou eficaz para o tratamento do câncer de laringe em seus estádios iniciais, com sobrevida livre de doença semelhantes, o que deu origem, nos anos 90, ao protocolo de preservação de órgãos que foi muito utilizado, inclusive para os estádios avançados (III e IV) do tumor. No entanto, novas evidências na literatura têm demonstrado que não há benefício da radioterapia nestes estádios avançados, tanto em sobrevida global como de controle local. Ao contrário, houve aumento das complicações do tratamento de um órgão desfuncionalizado1111 Hillman RE, Walsh MJ, Wolf GT, Fisher SG, Hong WK. Functional outcomes following treatment for advanced laryngeal cancer. Part I--Voice preservation in advanced laryngeal cancer. Part II--Laryngectomy rehabilitation: the state of the art in the VA System. Research Speech-Language Pathologists. Department of Veterans Affairs Laryngeal Cancer Study Group. Ann Otol Rhinol Laryngol Suppl. 1998;172:1-27.,1212 Lefebvre J. Surgery for Laryngopharyngeal SCC in the Era of Organ Preservation. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2009;2(4):159-63..

Em especial para o câncer de laringe, a radioterapia provoca danos e complicações em praticamente 100% dos pacientes irradiados, sendo estes maiores ou menores, transitórios ou permanentes, e podem surgir durante a aplicação ou mesmo meses ou anos após o término do tratamento1313 Lederman M. Radiation therapy in cancer of the larynx. JAMA. 1972;221(11):1253-4.

14 Fitzgerald PJ, Koch RJ. Delayed radionecrosis of the larynx. Am J Otolaryngol. 1999;20(4):245-9.
-1515 Varghese BT, Paul S, Elizabeth MI, Somanathan T, Elizabeth KA. Late post radiation laryngeal chondronecrosis with pharyngooesophageal fibrosis. Indian J Cancer. 2004;41(2):81-4.. Assim, a radioterapia isolada ou associada inflige ao tecido peri-laríngeo e laríngeo alterações que ocasionam hipóxia local, diminuem a vascularização e a população celular, com consequente diminuição de produção de colágeno e fibrina, favorecendo o aparecimento de fissuras, fístulas e feridas crônicas que não cicatrizam. Estas alterações se não tratadas e resolvidas ocasionam a perda do órgão, com bronco-aspiração contínua, sendo necessária a cirurgia de resgate, mesmo na ausência de neoplasia1212 Lefebvre J. Surgery for Laryngopharyngeal SCC in the Era of Organ Preservation. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2009;2(4):159-63.,1313 Lederman M. Radiation therapy in cancer of the larynx. JAMA. 1972;221(11):1253-4.,1616 Weber RS, Berkey BA, Forastiere A, Cooper J, Maor M, Goepfert H, et al. Outcome of salvage total laryngectomy following organ preservation therapy: the Radiation therapy Oncology Group trial 91-11. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2003;129(1):44-9.. Assim, com o aumento da indicação da radioterapia também houve aumento do índice de suas complicações, que incluem edema laríngeo com rouquidão, dispnéia e bronco-aspiração, radiodermite (graus I e II), necrose de pele (grau III), condrite simples, condrite com necrose (condroradionecrose) e exposição da cartilagem para a via aérea.

A condroradionecrose, como complicação, tem incidência variável, de 1% a 5,3%, ocasionando laringectomias de resgate em até 25% dos casos1717 Sebelik ME. Chondroradionecrosis of the larynx in patients treated with organ preservation therapy. Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;131(2):63-4.

18 Rowley H, Walsh M, McShane D, Fraser I, O'Dwyer TP. Chondroradionecrosis of the larynx: still a diagnostic dilemma. J Laryngol Otol. 1995;109(3):218-20.
-1919 Cukurova I, Cetinkaya EA. Radionecrosis of the larynx: case report and review of the literature. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2010;30(4):205.. Progride clinicamente para a disfagia, odinofagia, formação de fístula, rouquidão, disfunção parcial ou total da laringe, perda da proteção da via aérea com obstrução aérea e bronco-aspiração. Considerada complicação severa, pode levar ao óbito se não tratada, sendo rara a recuperação completa1919 Cukurova I, Cetinkaya EA. Radionecrosis of the larynx: case report and review of the literature. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2010;30(4):205.,2020 Oppenheimer RW, Krespi YP, Einhorn RK. Management of laryngeal radionecrosis: animal and clinical experience. Head Neck. 1989; 11(3):252-6.. Os principais fatores de risco para o aparecimento da condroradionecrose são persistência de tabagismo, infecção pós-operatória, arterioesclerose, refluxo laringoesofágico, diabetes e traumatismo local1515 Varghese BT, Paul S, Elizabeth MI, Somanathan T, Elizabeth KA. Late post radiation laryngeal chondronecrosis with pharyngooesophageal fibrosis. Indian J Cancer. 2004;41(2):81-4.,2121 Hernando M, Hernando A, Calzas J. [Laryngeal chondronecrosis following radiotherapy and concurrent chemotherapy]. Acta Otorrinolaringol Esp. 2008;59(10):509. Spanish.,2222 Sancho E, Escorial O, Cortés JM, Rivas P, Millán J, Vallés H. [Laryngeal chondro-radionecrosis]. Acta Otorhinolaryngol Esp. 2003;54:123-6. Spanish..

Para nortear o tratamento alguns autores propuseram uma classificação das radionecroses laríngeas baseada nos sintomas, constatando-se uma relação direta entre a quantidade de radiação e a severidade da reação tecidual2323 Chandler JR. Radiation fibrosis and necrosis of the larynx. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1979;88(4 Pt 1):509-14.,2424 Filntisis GA, Moon RE, Kraft KL, Farmer JC, Scher RL, Piantadosi CA. Laryngeal radionecrosis and hyperbaric oxygen therapy: report of 18 cases and review of the literature. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2000;109(6):554-62.. Notaram que para os graus I e II o tratamento era eminentemente clínico e que para os graus III e IV, em que a condrite era severa ou já com condronecrose instalada, usualmente o tratamento era cirúrgico (Tabelas 1 e 2). Alguns artigos mais antigos postulam que uma vez que ocorra a condroradionecrose, o tratamento será sempre cirúrgico, através da laringectomia total, uma vez que não há como preservar parcialmente a laringe2020 Oppenheimer RW, Krespi YP, Einhorn RK. Management of laryngeal radionecrosis: animal and clinical experience. Head Neck. 1989; 11(3):252-6.,2222 Sancho E, Escorial O, Cortés JM, Rivas P, Millán J, Vallés H. [Laryngeal chondro-radionecrosis]. Acta Otorhinolaryngol Esp. 2003;54:123-6. Spanish.. No entanto, recentemente, outros autores descreveram o tratamento conservador para a condroradionecrose com câmara hiperbárica (ou oxigenoterapia), humidificadores do ar, antibióticos sistêmicos e corticosteróides2121 Hernando M, Hernando A, Calzas J. [Laryngeal chondronecrosis following radiotherapy and concurrent chemotherapy]. Acta Otorrinolaringol Esp. 2008;59(10):509. Spanish.,2424 Filntisis GA, Moon RE, Kraft KL, Farmer JC, Scher RL, Piantadosi CA. Laryngeal radionecrosis and hyperbaric oxygen therapy: report of 18 cases and review of the literature. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2000;109(6):554-62.

25 Roh JL. Chondroradionecrosis of the larynx: diagnostic and therapeutic measures for saving the organ from radiotherapy sequelae. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2009;2(3):115-9.
-2626 Ferguson BJ, Hudson WR, Farmer JC Jr. Hyperbaric oxygen therapy for laryngeal radionecrosis. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1987;96(1 Pt 1):1-6.. Segundo Abe et al.2727 Abe M, Shioyama Y, Terashima K, Matsuo M, Hara I, Uehara S. Successful hyperbaric oxygen therapy for laryngeal radionecrosis after chemoradiotherapy for mesopharyngeal cancer: case report and literature review. Jpn J Radiol. 2012;30(4):340-4., a utilização da câmara hiperbárica foi efetiva para manter a laringe funcionante, sendo uma opção para o tratamento da condroradionecrose. Dequanter et al.2828 Dequanter D, Jacobs D, Shahla M, Paulus P, Aubert C, Lothaire P. The effect of hyperbaric oxygen therapy on treatment of wound complications after oral, pharyngeal and laryngeal salvage surgery. Undersea Hyperb Med 2013;40(5):381-5. demonstraram que de 16 pacientes submetidos à cirurgia de resgate e que utilizaram oxigenoterapia, 14 foram bem sucedidos e consideraram a oxigenoterapia hiperbárica um aliado poderoso e efetivo para o tratamento das fístulas pós-operatórias. Allen et al.2929 Allen CT, Lee CJ, Merati AL. Clinical assessment and treatment of the dysfunctional larynx after radiation. Otolaryngol Head Neck Surg 2013;149(6):830-9., em sua revisão de pacientes com câncer de laringe tratados com radioterapia, propõem o seguimento com tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT) para evitar o trauma local e incluem a oxigenoterapia como alternativa não cirúrgica para a preservação da laringe.

Tabela 1
Classificação de Chandler para radionecrose laríngea.
Tabela 2
Classificação do RTOG (Radiation Therapy Oncology Group) para radionecrose laríngea21.

O presente artigo tem por objetivo estudar a condroradionecrose de laringe por complicação de radioterapia para tratamento do câncer de laringe e propor um fluxograma de tratamento com a utilização da câmara hiperbárica.

MÉTODO

Foram revisados os dados clínicos de todos os pacientes portadores de carcinoma de laringe e hipofaringe admitidos consecutivamente nos serviços de Cirurgia de Cabeça e Pescoço de dois hospitais terciários, com comprovação histológica, no período de cinco anos (de janeiro de 2009 a janeiro de 2014). Houve autorização do Comitê de Ética em Pesquisa dos Hospitais para a realização deste trabalho, registrado na Plataforma Brasil sob o número 37230414.4.0000.5483.

Os dados epidemiológicos, estádio da neoplasia, data da cirurgia inicial e de resgate, tratamento inicial proposto e tratamento para a recidiva quando houve, complicações do tratamento, dados relativos ao tratamento das complicações e a data da última consulta foram coletados. Os critérios de inclusão foram: pacientes com CEC de laringe ou hipofaringe. Os critérios de exclusão foram: pacientes já portadores de recidiva local em laringe ou hipofaringe comprovados com biópsia e os pacientes encaminhados para cuidados paliativos.

RESULTADOS

No período analisado 131 pacientes portadores de CEC de laringe ou hipofaringe foram tratados em ambas instituições. Destes, 28 (21,4%) foram encaminhados para radioterapia associada ou não à quimioterapia como primeira alternativa de tratamento, devido à recusa da cirurgia, por comorbidades clínicas ou por risco cirúrgico elevado. Dos 28 pacientes, três (10,7%) evoluíram com condroradionecrose de laringe, comprovada clinicamente e com biópsia, nenhum deles com recidiva tumoral. A tabela 3 mostra os dados clínicos destes três pacientes com condroradionecrose. Todos foram submetidos à tomografia computadorizada do pescoço (TCP) para afastar recidivas locais. A TCP revelou ainda alterações em todos os pacientes, como intenso edema de mucosa laríngea persistente após o final do tratamento e alterações das cartilagens como deslocamento, desabamento ou reabsorção de uma ou mais delas (Figura 1). A tomografia computadorizada do tórax não evidenciou metástases em nenhum paciente.

Tabela 3
Dados clínicos dos pacientes com Condronecrose de Laringe pós Rtx e Qtx do presente estudo.

Figura 1.
Tomografia computadorizada da condronecrose de laringe.

A videolaringoscopia comprovou intenso edema do arcabouço laríngeo, com exsudato purulento e fibrina, áreas de necrose em maior ou menor grau com exposição de cartilagem, e diminuição da luz glótica de mais de 70%, que determinou a indicação de traqueostomia em um paciente (Figura 2). Em todos os três pacientes foi feita a laringoscopia de suspensão em centro cirúrgico, com biópsias do local afetado que foram negativas para recidiva da neoplasia, tanto no exame por congelação como no exame anatomopatológico definitivo.

Figura 2.
Videolaringoscopia da condronecrose da laringe.

A PET-CT foi realizada em todos os três pacientes e mostrou edema local com alteração da cartilagem laríngea e SUV máximo menor que 3,5, sugerindo resultado negativo ou improvável de recidiva, e sugestivo de processo inflamatório que foi comprovado pelas biópsias guiadas que foram negativas (Figura 3).

Figura 3.
PET-CT da condronecrose da laringe.

O tratamento realizado consistiu em antibioticoterapia com cobertura para Gram positivos, Gram negativos e anaeróbios através de cefalosporina de terceira geração e clindamicina, corticosteróides, analgésicos, inibidores de bomba de prótons, umidificação do ar e cuidados locais com aporte de oxigênio adequado. Foram também realizadas laringoscopias de suspensão para remoção da cartilagem exposta endolaríngea no paciente 1, abordagem cirúrgica externa para remoção da cartilagem exposta e da necrose de pele com rotação de retalho peitoral para cobertura no paciente 2 (Figura 4) e câmara hiperbárica para todos os pacientes com 20 a 40 sessões com O2 a 100%, a 2 ATM de pressão, com uma hora por sessão, dependendo do caso e após reavaliação no pós-operatório.

Figura 4.
Condronrecrose de laringe, aspecto clínico.

Não houve óbitos no período pós-operatório ou de tratamento clínico e foi feito acompanhamento periódico semanal com videolaringoscopia. Constatou-se cicatrização com epitelização completa da área necrosada e remissão do edema em todos pacientes, no período de dois meses. Não foram verificadas evidências de recidivas locais. A laringe foi preservada em todos os pacientes e apenas um paciente manteve a traqueostomia. Não foi realizada nenhuma laringectomia total por complicação ou bronco-aspiração.

DISCUSSÃO

Os carcinomas iniciais da laringe e hipofaringe podem ser tratados igualmente por cirurgia ou por radioterapia em associação com quimioterapia, com resultados semelhantes no controle local e na sobrevida. Recentes trabalhos demonstram controle local com a radioterapia para as neoplasias de glote T1, que varia de 82% a 93%, com preservação da laringe em 89% a 96% dos casos, e para os tumores T2 de 57% a 82% para o controle local, e preservação da laringe em 73% a 82%3030 Ambrosch P, Fazel A. Functional organ preservation in laryngeal and hypopharyngeal cancer. GMS Curr Top Otorhinolaryngol Head Neck Surg. 2011;10:Doc02. O índice de recidiva com o tratamento cirúrgico é pequeno e depende de fatores como o acometimento da comissura anterior por ser local de difícil acesso para a adequada ressecção; a exposição ideal da laringe durante o ato cirúrgico para as várias técnicas de laringectomias abertas e para as ressecções endolaríngeas a frio ou por laser transorais; e por condições inerentes ao próprio paciente3131 Peretti G, Piazza C, Cocco D, De Benedetto L, Del Bon F, Redaelli De Zinis LO, et al. Transoral CO(2) laser treatment for T(is)-T(3) glottic cancer: the University of Brescia experience on 595 patients. Head Neck 2010;32(8):977-83..

A partir de 1998 houve mudança no tratamento do câncer de laringe, com a instituição da radioterapia associada ou não à quimioterapia, com a intenção de preservação de órgãos, indicado principalmente para os estádios III (T3)1111 Hillman RE, Walsh MJ, Wolf GT, Fisher SG, Hong WK. Functional outcomes following treatment for advanced laryngeal cancer. Part I--Voice preservation in advanced laryngeal cancer. Part II--Laryngectomy rehabilitation: the state of the art in the VA System. Research Speech-Language Pathologists. Department of Veterans Affairs Laryngeal Cancer Study Group. Ann Otol Rhinol Laryngol Suppl. 1998;172:1-27.,3232 Calais G. TPF: a rational choice for larynx preservation? Oncologist. 2010;15 Suppl 3:19-24.. Porém, a extensão da indicação para os outros estádios, fez com que aumentassem os índices de complicações da radioterapia3333 Quer M, León X. [Organ preservation in laryngeal and hypopharyngeal cancer]. Acta Otorrinolaringol Esp. 2007;58(10):476-82. Spanish.,3434 Beauvillain C, Mahé M, Bourdin S, Peuvrel P, Bergerot P, Rivière A, et al. Final results of a randomized trial comparing chemotherapy plus radiotherapy with hemotherapy plus surgery plus radiotherapy in locally advanced respectable hypopharyngeal carcinomas. Laryngoscope. 1997;107(5):648-53.. Apesar das diretrizes atuais, não existe ainda um consenso sobre a melhor estratégia de tratamento1212 Lefebvre J. Surgery for Laryngopharyngeal SCC in the Era of Organ Preservation. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2009;2(4):159-63.,3535 Lefebvre JL, Andry G, Chevalier D, Luboinski B, Collette L, Traissac L, et al. Laryngeal preservation with induction chemotherapy for hypopharyngeal squamous cell carcinoma: 10-year results of EORTC trial 24891. Ann Oncol. 2012;23(10):2708-14.. A radiação, como terapia, induz a um ambiente com alterações hipóxicas locais, estimulando a formação de fibrose tecidual, endarterite com obliteração dos vasos sanguíneos, esclerose com obstrução dos vasos linfáticos locais e necrose tecidual e neoplásica3636 DiCarlo AL, Maher C, Hick JL, Hanfling D, Dainiak N, Chao N, et al. Radiation injury after a nuclear detonation: medical consequences and the need for scarce resources allocation. Disaster Med Public health Prep. 2011;5 Suppl 1:S32-44.. O edema então se desenvolve pela obstrução linfática e aumento da permeabilidade linfovascular reacional, promovendo um aumento da pressão tecidual local e diminuindo o afluxo sanguíneo. As microfissuras do pericôndrio (tanto interno como externo) aparecem expondo a cartilagem em sua face profunda às bactérias do trato aero-digestório. A infecção se instala ocasionando a condroradionecrose, considerada, portanto, uma complicação tardia1818 Rowley H, Walsh M, McShane D, Fraser I, O'Dwyer TP. Chondroradionecrosis of the larynx: still a diagnostic dilemma. J Laryngol Otol. 1995;109(3):218-20.,2525 Roh JL. Chondroradionecrosis of the larynx: diagnostic and therapeutic measures for saving the organ from radiotherapy sequelae. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2009;2(3):115-9.,3737 Baba Y, Kato Y, Ogawa K. Unusual computed tomography findings of radionecrosis after chemoradiation of stage IV hypopharyngeal cancer: a case report. J Med Case Rep. 2011;5:25..

O primeiro relato da condronecrose de laringe devido a radioterapia descrito na literatura foi feito por Goodrich e Lenz, em 19483838 Goodrich WA, Lenz M. Laryngeal chondronecrosis following roentgen therapy. Am J Roentgenol Radium Ther. 1948;60(1):22-8., e desde então não foram relatados muitos pacientes, contando-se até o presente momento um total de setenta e sete pacientes, sem incluir os do presente estudo. Tampouco houve consenso para a criação de estudo prospectivo envolvendo o tratamento da condroradionecrose. A incidência de 10,7% de condroradionecrose em nossos casos é um pouco elevada quando comparada com dados da literatura, porém pode ser explicada por diferenças nas técnicas de radioterapia dos diferentes serviços1717 Sebelik ME. Chondroradionecrosis of the larynx in patients treated with organ preservation therapy. Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;131(2):63-4.

18 Rowley H, Walsh M, McShane D, Fraser I, O'Dwyer TP. Chondroradionecrosis of the larynx: still a diagnostic dilemma. J Laryngol Otol. 1995;109(3):218-20.
-1919 Cukurova I, Cetinkaya EA. Radionecrosis of the larynx: case report and review of the literature. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2010;30(4):205..

Como os sinais e sintomas clínicos da condroradionecrose podem ser muito variados, houve necessidade de se criar classificações de gravidade para nortear o tratamento2323 Chandler JR. Radiation fibrosis and necrosis of the larynx. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1979;88(4 Pt 1):509-14.,2424 Filntisis GA, Moon RE, Kraft KL, Farmer JC, Scher RL, Piantadosi CA. Laryngeal radionecrosis and hyperbaric oxygen therapy: report of 18 cases and review of the literature. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2000;109(6):554-62.. No entanto estas classificações falhavam por não distinguirem com clareza maior a condroradionecrose da recidiva local. Os sintomas da condroradionecrose são na maioria das vezes indistinguíveis dos sintomas das recidivas (ou persistências) locais, devendo o controle ser feito periodicamente através de videolaringoscopias, biópsias e exames de imagem, como TCP, ressonância magnética e mais recentemente PET-CT2121 Hernando M, Hernando A, Calzas J. [Laryngeal chondronecrosis following radiotherapy and concurrent chemotherapy]. Acta Otorrinolaringol Esp. 2008;59(10):509. Spanish.,2525 Roh JL. Chondroradionecrosis of the larynx: diagnostic and therapeutic measures for saving the organ from radiotherapy sequelae. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2009;2(3):115-9..

Os achados tomográficos das alterações laríngeas durante ou logo após a radioterapia são difíceis para afastar a recidiva local. Estes achados são muitas vezes inespecíficos e os dados na literatura são confusos, exceto por citarem que a probabilidade da recidiva é maior dentro de um ano e que após este período a chance de condroradionecrose é maior3737 Baba Y, Kato Y, Ogawa K. Unusual computed tomography findings of radionecrosis after chemoradiation of stage IV hypopharyngeal cancer: a case report. J Med Case Rep. 2011;5:25.,3939 Zbären P, Caversaccio M, Thoeny HC, Nuyens M, Curschmann J, Stauffer E. Radionecrosis or tumor recurrence after radiation of laryngeal and hypopharyngeal carcinomas. Otolaryngol Head Neck Surg. 2006;135(6):838-43.

40 Hermans R, Pameijer FA, Mancuso AA, Parsons JT, Mendenhall WM. CT findings in chondroradionecrosis of the larynx. AJNR Am J Neuroradiol. 1998;19(4):711-8.
-4141 Allen CT, Lee CJ, Merati AL. Clinical assessment and treatment of the dysfunctional larynx after radiation. Otolaryngol Head Neck Surg. 2013;149(6):830-9.. Segundo Hermans et al.4040 Hermans R, Pameijer FA, Mancuso AA, Parsons JT, Mendenhall WM. CT findings in chondroradionecrosis of the larynx. AJNR Am J Neuroradiol. 1998;19(4):711-8. o índice de recidiva local após radioterapia é cerca de 10% a 20% para as lesões T1/T2 e de 40% a 50% nas lesões T3/T4.

Constatando-se que as recidivas são muito mais frequentes do que a condroradionecrose, as biópsias profundas devem ser realizadas para reestadiamento, lembrando, no entanto, que podem agravar o quadro de infecção e necrose local1414 Fitzgerald PJ, Koch RJ. Delayed radionecrosis of the larynx. Am J Otolaryngol. 1999;20(4):245-9.,3737 Baba Y, Kato Y, Ogawa K. Unusual computed tomography findings of radionecrosis after chemoradiation of stage IV hypopharyngeal cancer: a case report. J Med Case Rep. 2011;5:25.. Atualmente este dilema diagnóstico pode ser resolvido através do PET-CT, em que a atividade tumoral fica evidente na laringe caso ocorra a recidiva, mas o exame deve ser feito somente após três meses do término da radioterapia para afastar a interferência da inflamação actínica4242 McGuirt WF, Greven KM, Keyes JW Jr, Williams DW 3rd, Watson N. Laryngeal radionecrosis versus recurrent cancer: a clinical approach. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1998;107(4):293-6.

43 Gupta T, Master Z, Kannan S, Agarwal JP, Ghsoh-Laskar S, Rangarajan V, et al. Diagnostic performance of post-treatment FDG PET or FDG PET/CT imaging in head and neck cancer: a systematic review and meta-analysis. Eur J Nucl Med Mol Imaging. 2011;38(11):2083-95.
-4444 Greven KM, Williams DW 3rd, Keyes JW Jr, McGuirt WF, Harkness BA, Watson NE Jr, et al. Distinguishing tumor recurrence from irradiation sequelae with positron emission tomography in patients treated for larynx cancer. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 1994;29(4):841-5.. Em nossos casos o PET-CT foi realizado em todos os três pacientes, com resultado negativo para a recidiva tumoral, fato comprovado pelas biópsias realizadas.

Embora esta seja uma pequena casuística, dada a raridade da condroradionecrose, pode-se verificar que o PET-CT obteve elevada acurácia, em conformidade com achados de recente revisão sistemática de 1476 artigos sobre exames de imagem, dos quais oito focavam uso do PET-CT. Os autores demonstraram uma sensibilidade de 89% e especificidade de 74% de o PET-CT diferenciar entre recidiva tumoral e alterações tardias locais actínicas, devendo ser eleito o exame de escolha, para evitar as tomografias e biópsias com laringoscopias desnecessárias4242 McGuirt WF, Greven KM, Keyes JW Jr, Williams DW 3rd, Watson N. Laryngeal radionecrosis versus recurrent cancer: a clinical approach. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1998;107(4):293-6.,4343 Gupta T, Master Z, Kannan S, Agarwal JP, Ghsoh-Laskar S, Rangarajan V, et al. Diagnostic performance of post-treatment FDG PET or FDG PET/CT imaging in head and neck cancer: a systematic review and meta-analysis. Eur J Nucl Med Mol Imaging. 2011;38(11):2083-95.,4545 Brouwer J, Hooft L, Hoekstra OS, Riphagen II, Castelijns JA, de Bree R, et al. Systematic review: accuracy of imaging tests in the diagnosis of recurrent laryngeal carcinoma after radiotherapy. Head Neck. 2008;30(7):889-97..

Os diversos tratamentos propostos para a condroradionecrose incluíam o uso de antibioticoterapia, umidificadores do ar, corticosteróides, medicamentos antirefluxo (bloqueadores de bomba de prótons, prócinéticos) e câmara hiperbárica (CHB), sendo esta última em regimes variados. O uso da CHB está aprovado para o tratamento das complicações da radioterapia pela Sociedade Americana de Mergulho e Medicina Hiperbárica e pela Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica. O primeiro relato de sua utilização para tratamento da necrose por radioterapia foi feito em 1976 e, em 1987, descreveu-se pela primeira vez a sua utilização para a necrose de laringe4646 Ferguson BJ HW, Farmer JC. Hyperbaric oxygen therapy for laryngeal radionecrosis. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1987;96(1 Pt 1):1-6.

47 Narozny W, Kuczkowski J, Mikaszewski B. Radionecrosis or tumor recurrence after radiation: importance of choice for HBO. Otolaryngol Head Neck Surg. 2007;137(1):176-7.
-4848 Hart GB, Mainous EG. The treatment of radiation necrosis with hyperbaric oxygen (OHP). Cancer. 1976;37(6):2580-5.. O princípio da CHB consiste em aumentar a pressão parcial de O2 de 21% presente no ar ambiente para 100% em câmara pressurizada, transferindo esta oxigenação aos tecidos e promovendo a cicatrização4949 Jallali N, Withey S, Butler PE. Hyperbaric oxygen as adjuvant therapy in the management of necrotizing fasciitis. Am J Surg. 2005;189(4):462-6.. Um receio comum pertinente ao uso da CHB refere-se à possibilidade de crescimento tumoral durante o tratamento, motivo pelo qual temos que descartar a recidiva da doença, apesar de alguns estudos falharem em demonstrar tal característica5050 Sun TB, Chen RL, Hsu YH. The effect of hyperbaric oxygen on human oral cancer cells. Undersea Hyperb Med. 2004;31(2):251-60.,5151 Feldmeier J, Carl U, Hartmann K, Sminia P. Hyperbaric oxygen: does it promote growth or recurrence of malignancy? Undersea Hyperb Med. 2003;30(1):1-18.. A revisão da literatura demonstra a efetividade do tratamento da condroradionecrose laríngea com uso da CHB, com fechamento de fístulas, alto índice de preservação da laringe (sem laringectomias) e eventualmente decanulação de pacientes, apesar de relatos de falha da CHB em até 22% dos casos classificados como Chandler IV2424 Filntisis GA, Moon RE, Kraft KL, Farmer JC, Scher RL, Piantadosi CA. Laryngeal radionecrosis and hyperbaric oxygen therapy: report of 18 cases and review of the literature. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2000;109(6):554-62.,2525 Roh JL. Chondroradionecrosis of the larynx: diagnostic and therapeutic measures for saving the organ from radiotherapy sequelae. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2009;2(3):115-9.,4141 Allen CT, Lee CJ, Merati AL. Clinical assessment and treatment of the dysfunctional larynx after radiation. Otolaryngol Head Neck Surg. 2013;149(6):830-9.,4646 Ferguson BJ HW, Farmer JC. Hyperbaric oxygen therapy for laryngeal radionecrosis. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1987;96(1 Pt 1):1-6.. Em nossos pacientes não houve nenhuma falha da CHB, obtendo-se 100% de sucesso para o tratamento clínico, com epitelização da área necrosada ou exposta da cartilagem e evitando a laringectomia de resgate. O regime da CHB foi de 20 sessões com O2 a 100%, a 2 ATM de pressão, com até 40 sessões, de uma hora por sessão conforme cada paciente, com resultados comparáveis aos de outros autores1919 Cukurova I, Cetinkaya EA. Radionecrosis of the larynx: case report and review of the literature. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2010;30(4):205.,2424 Filntisis GA, Moon RE, Kraft KL, Farmer JC, Scher RL, Piantadosi CA. Laryngeal radionecrosis and hyperbaric oxygen therapy: report of 18 cases and review of the literature. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2000;109(6):554-62.,5252 Hsu YC, Lee KW, Ho KY, Tsai KB, Kuo WR, Wang LF, et al. Treatment of laryngeal radionecrosis with hyperbaric oxygen therapy: a case report. Kaohsiung J Med Sci. 2005;21(2):88-92..

Até o presente momento não existe nenhum estudo randomizado que compare o tratamento da condroradionecrose de laringe por CHB com outras formas clínicas de tratamento, ao contrário do que existe para a necrose óssea da mandíbula5353 Shaw RJ, Dhanda J. Hyperbaric oxygen in the management of late radiation injury to the head and neck. Part I: treatment. Br J Oral Maxillofac Surg. 2011;49(1):2-8.. Pesquisa com as Bases de Dados Pubmed, Lilacs, Scielo, Googleschoolar, Scopus, Cochrane, não encontrou nenhum estudo randomizado com as palavras chaves "condronecrose de laringe", "condroradionecrose de laringe", "necrose de laringe", "radionecrose de laringe", sendo que a maior parte da literatura atual é composta por relatos de casos ou série de casos e, até o presente momento, foram descritos apenas setenta e sete pacientes nestes relatos ou série de casos.

Com esta nossa pequena série de três casos procuramos contribuir com a escassa literatura para entendimento desta doença, que aparenta ser mais comum do que imaginamos, e propomos um algoritmo (Figura 5) para nortear o tratamento da condroradionecrose de laringe com a utilização da câmara hiperbárica, baseados nos dados da literatura vigente, enfatizando, porém, que o mesmo deve ser aplicado com cautela, avaliando-se as diferentes características clínicas de cada caso.

Figura 5.
Algoritmo de tratamento com câmara hiperbárica da con dronecrose de laringe

  • Fonte de financiamento: nenhuma.

REFERÊNCIAS

  • 1
    GLOBOCAN [Internet]. Lyon (FR): IARC; 2012. Larynx - Estimated incidence, all ages: male 2012; [cited 2016 mar 22]. [Available from: http://globocan.iarc.fr/old/summary_table_sitehtml.asp?selection=11100&title=Larynx&sex=1&type=0&window=1&africa=1&america=2&asia=3&europe=4&oceania=5&build=6&sort=0&submit=%C2%A0Execute%C2%A0
    » http://globocan.iarc.fr/old/summary_table_sitehtml.asp?selection=11100&title=Larynx&sex=1&type=0&window=1&africa=1&america=2&asia=3&europe=4&oceania=5&build=6&sort=0&submit=%C2%A0Execute%C2%A0
  • 2
    Moura MA, Bergmann A, Aguiar SS, Thuler LC. The magnitude of the association between smoking and the risk of developing cancer in Brazil: a multicenter study. BMJ Open. 2014;4(2):e003736.
  • 3
    NIH. National Cancer Institute [Internet]. Bethesda (MD): National Cancer Institute; 2016. [cited 2016 mar 23] Cancer Stat Fact Sheets: larynx cancer. 2016 Available from: https://seer.cancer.gov/statfacts/html/laryn.html
    » https://seer.cancer.gov/statfacts/html/laryn.html
  • 4
    Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2014: Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2014.
  • 5
    Hashibe M, Brennan P, Benhamou S, Castellsague X, Chen C, Curado MP, et al. Alcohol drinking in never users of tobacco, cigarette smoking in never drinkers, and the risk of head and neck cancer: pooled analysis in the International Head and Neck Cancer Epidemiology Consortium. J Natl Cancer Inst. 2007;99(10):777-89. Erratum in: J Natl Cancer Inst. 2008;100(3):225. Fernandez, Leticia [added].
  • 6
    Gillison ML, Alemany L, Snijders PJ, Chaturvedi A, Steinberg BM, Schwartz S, et al. Human papillomavirus and diseases of the upper airway: head and neck cancer and respiratory papillomatosis. Vaccine. 2012;30 Suppl 5:F34-54.
  • 7
    Galli J, Cammarota G, Calò L, Agostino S, D´Ugo D, Cianci R, et al. The role of acid and alkaline reflux in laryngeal squamous cell carcinoma. Laryngoscope. 2002;112(10):1861-5.
  • 8
    Brown T, Darnton A, Fortunato L, Rushton L; British Occupational Cancer Burden Study Group. Occupational cancer in Britain. Respiratory cancer sites: larynx, lung and mesothelioma. Br J Cancer. 2012;107 Suppl 1:S56-70.
  • 9
    Reidenbach MM. Borders and topographic relations of the cricoid area. Eur Arch Otorhinolaryngol. 1997;254(7):323-5.
  • 10
    Reidenbach MM. Borders and topographic relationships of the paraglottic space. Eur Arch Otorhinolaryngol. 1997;254(4):193-5.
  • 11
    Hillman RE, Walsh MJ, Wolf GT, Fisher SG, Hong WK. Functional outcomes following treatment for advanced laryngeal cancer. Part I--Voice preservation in advanced laryngeal cancer. Part II--Laryngectomy rehabilitation: the state of the art in the VA System. Research Speech-Language Pathologists. Department of Veterans Affairs Laryngeal Cancer Study Group. Ann Otol Rhinol Laryngol Suppl. 1998;172:1-27.
  • 12
    Lefebvre J. Surgery for Laryngopharyngeal SCC in the Era of Organ Preservation. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2009;2(4):159-63.
  • 13
    Lederman M. Radiation therapy in cancer of the larynx. JAMA. 1972;221(11):1253-4.
  • 14
    Fitzgerald PJ, Koch RJ. Delayed radionecrosis of the larynx. Am J Otolaryngol. 1999;20(4):245-9.
  • 15
    Varghese BT, Paul S, Elizabeth MI, Somanathan T, Elizabeth KA. Late post radiation laryngeal chondronecrosis with pharyngooesophageal fibrosis. Indian J Cancer. 2004;41(2):81-4.
  • 16
    Weber RS, Berkey BA, Forastiere A, Cooper J, Maor M, Goepfert H, et al. Outcome of salvage total laryngectomy following organ preservation therapy: the Radiation therapy Oncology Group trial 91-11. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2003;129(1):44-9.
  • 17
    Sebelik ME. Chondroradionecrosis of the larynx in patients treated with organ preservation therapy. Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;131(2):63-4.
  • 18
    Rowley H, Walsh M, McShane D, Fraser I, O'Dwyer TP. Chondroradionecrosis of the larynx: still a diagnostic dilemma. J Laryngol Otol. 1995;109(3):218-20.
  • 19
    Cukurova I, Cetinkaya EA. Radionecrosis of the larynx: case report and review of the literature. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2010;30(4):205.
  • 20
    Oppenheimer RW, Krespi YP, Einhorn RK. Management of laryngeal radionecrosis: animal and clinical experience. Head Neck. 1989; 11(3):252-6.
  • 21
    Hernando M, Hernando A, Calzas J. [Laryngeal chondronecrosis following radiotherapy and concurrent chemotherapy]. Acta Otorrinolaringol Esp. 2008;59(10):509. Spanish.
  • 22
    Sancho E, Escorial O, Cortés JM, Rivas P, Millán J, Vallés H. [Laryngeal chondro-radionecrosis]. Acta Otorhinolaryngol Esp. 2003;54:123-6. Spanish.
  • 23
    Chandler JR. Radiation fibrosis and necrosis of the larynx. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1979;88(4 Pt 1):509-14.
  • 24
    Filntisis GA, Moon RE, Kraft KL, Farmer JC, Scher RL, Piantadosi CA. Laryngeal radionecrosis and hyperbaric oxygen therapy: report of 18 cases and review of the literature. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2000;109(6):554-62.
  • 25
    Roh JL. Chondroradionecrosis of the larynx: diagnostic and therapeutic measures for saving the organ from radiotherapy sequelae. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2009;2(3):115-9.
  • 26
    Ferguson BJ, Hudson WR, Farmer JC Jr. Hyperbaric oxygen therapy for laryngeal radionecrosis. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1987;96(1 Pt 1):1-6.
  • 27
    Abe M, Shioyama Y, Terashima K, Matsuo M, Hara I, Uehara S. Successful hyperbaric oxygen therapy for laryngeal radionecrosis after chemoradiotherapy for mesopharyngeal cancer: case report and literature review. Jpn J Radiol. 2012;30(4):340-4.
  • 28
    Dequanter D, Jacobs D, Shahla M, Paulus P, Aubert C, Lothaire P. The effect of hyperbaric oxygen therapy on treatment of wound complications after oral, pharyngeal and laryngeal salvage surgery. Undersea Hyperb Med 2013;40(5):381-5.
  • 29
    Allen CT, Lee CJ, Merati AL. Clinical assessment and treatment of the dysfunctional larynx after radiation. Otolaryngol Head Neck Surg 2013;149(6):830-9.
  • 30
    Ambrosch P, Fazel A. Functional organ preservation in laryngeal and hypopharyngeal cancer. GMS Curr Top Otorhinolaryngol Head Neck Surg. 2011;10:Doc02.
  • 31
    Peretti G, Piazza C, Cocco D, De Benedetto L, Del Bon F, Redaelli De Zinis LO, et al. Transoral CO(2) laser treatment for T(is)-T(3) glottic cancer: the University of Brescia experience on 595 patients. Head Neck 2010;32(8):977-83.
  • 32
    Calais G. TPF: a rational choice for larynx preservation? Oncologist. 2010;15 Suppl 3:19-24.
  • 33
    Quer M, León X. [Organ preservation in laryngeal and hypopharyngeal cancer]. Acta Otorrinolaringol Esp. 2007;58(10):476-82. Spanish.
  • 34
    Beauvillain C, Mahé M, Bourdin S, Peuvrel P, Bergerot P, Rivière A, et al. Final results of a randomized trial comparing chemotherapy plus radiotherapy with hemotherapy plus surgery plus radiotherapy in locally advanced respectable hypopharyngeal carcinomas. Laryngoscope. 1997;107(5):648-53.
  • 35
    Lefebvre JL, Andry G, Chevalier D, Luboinski B, Collette L, Traissac L, et al. Laryngeal preservation with induction chemotherapy for hypopharyngeal squamous cell carcinoma: 10-year results of EORTC trial 24891. Ann Oncol. 2012;23(10):2708-14.
  • 36
    DiCarlo AL, Maher C, Hick JL, Hanfling D, Dainiak N, Chao N, et al. Radiation injury after a nuclear detonation: medical consequences and the need for scarce resources allocation. Disaster Med Public health Prep. 2011;5 Suppl 1:S32-44.
  • 37
    Baba Y, Kato Y, Ogawa K. Unusual computed tomography findings of radionecrosis after chemoradiation of stage IV hypopharyngeal cancer: a case report. J Med Case Rep. 2011;5:25.
  • 38
    Goodrich WA, Lenz M. Laryngeal chondronecrosis following roentgen therapy. Am J Roentgenol Radium Ther. 1948;60(1):22-8.
  • 39
    Zbären P, Caversaccio M, Thoeny HC, Nuyens M, Curschmann J, Stauffer E. Radionecrosis or tumor recurrence after radiation of laryngeal and hypopharyngeal carcinomas. Otolaryngol Head Neck Surg. 2006;135(6):838-43.
  • 40
    Hermans R, Pameijer FA, Mancuso AA, Parsons JT, Mendenhall WM. CT findings in chondroradionecrosis of the larynx. AJNR Am J Neuroradiol. 1998;19(4):711-8.
  • 41
    Allen CT, Lee CJ, Merati AL. Clinical assessment and treatment of the dysfunctional larynx after radiation. Otolaryngol Head Neck Surg. 2013;149(6):830-9.
  • 42
    McGuirt WF, Greven KM, Keyes JW Jr, Williams DW 3rd, Watson N. Laryngeal radionecrosis versus recurrent cancer: a clinical approach. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1998;107(4):293-6.
  • 43
    Gupta T, Master Z, Kannan S, Agarwal JP, Ghsoh-Laskar S, Rangarajan V, et al. Diagnostic performance of post-treatment FDG PET or FDG PET/CT imaging in head and neck cancer: a systematic review and meta-analysis. Eur J Nucl Med Mol Imaging. 2011;38(11):2083-95.
  • 44
    Greven KM, Williams DW 3rd, Keyes JW Jr, McGuirt WF, Harkness BA, Watson NE Jr, et al. Distinguishing tumor recurrence from irradiation sequelae with positron emission tomography in patients treated for larynx cancer. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 1994;29(4):841-5.
  • 45
    Brouwer J, Hooft L, Hoekstra OS, Riphagen II, Castelijns JA, de Bree R, et al. Systematic review: accuracy of imaging tests in the diagnosis of recurrent laryngeal carcinoma after radiotherapy. Head Neck. 2008;30(7):889-97.
  • 46
    Ferguson BJ HW, Farmer JC. Hyperbaric oxygen therapy for laryngeal radionecrosis. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1987;96(1 Pt 1):1-6.
  • 47
    Narozny W, Kuczkowski J, Mikaszewski B. Radionecrosis or tumor recurrence after radiation: importance of choice for HBO. Otolaryngol Head Neck Surg. 2007;137(1):176-7.
  • 48
    Hart GB, Mainous EG. The treatment of radiation necrosis with hyperbaric oxygen (OHP). Cancer. 1976;37(6):2580-5.
  • 49
    Jallali N, Withey S, Butler PE. Hyperbaric oxygen as adjuvant therapy in the management of necrotizing fasciitis. Am J Surg. 2005;189(4):462-6.
  • 50
    Sun TB, Chen RL, Hsu YH. The effect of hyperbaric oxygen on human oral cancer cells. Undersea Hyperb Med. 2004;31(2):251-60.
  • 51
    Feldmeier J, Carl U, Hartmann K, Sminia P. Hyperbaric oxygen: does it promote growth or recurrence of malignancy? Undersea Hyperb Med. 2003;30(1):1-18.
  • 52
    Hsu YC, Lee KW, Ho KY, Tsai KB, Kuo WR, Wang LF, et al. Treatment of laryngeal radionecrosis with hyperbaric oxygen therapy: a case report. Kaohsiung J Med Sci. 2005;21(2):88-92.
  • 53
    Shaw RJ, Dhanda J. Hyperbaric oxygen in the management of late radiation injury to the head and neck. Part I: treatment. Br J Oral Maxillofac Surg. 2011;49(1):2-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2017

Histórico

  • Recebido
    03 Jan 2017
  • Aceito
    30 Mar 2017
Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revista@cbc.org.br