Acessibilidade / Reportar erro

Uso de retalho muscular de parede abdominal para reconstrução ureteral. Estudo experimental em coelhos

Resumos

Os autores detalham o desenvolvimento experimental de uma técnica para a reconstrução do ureter, utilizando um retalho muscular da parede abdominal, na forma tubular. O resultado preliminar indica a viabilidade desta técnica operatória.

Ureter; Retalhos Cirúrgicos; Parede Abdominal


The authors detail the experimental development of a technique for the reconstruction of the ureter using a tubular shape, muscle flap of the abdominal wall. the preliminary results indicate the feasibility of this surgical technique.

Ureter; Surgical Flap; Abdominal Wall


INTRODUÇÃO

As lesões traumáticas do ureter são eventos relativamente frequentes e podem ser causadas por lesões iatrogênicas, na maioria das vezes, após operações ginecológicas, urológicas ou após traumatismo abdominal, contuso ou penetrante. Algumas técnicas podem ser empregadas para o tratamento destas lesões, variando desde a ureteroenterostomia à interposição ileal11. Selzman AA, Spirnak JP. Iatrogenic ureteral injuries: a 20-year experience in treating 165 injuries. J Urol. 1996;155(3):878-81.

2. Brooke JB, Pearle MS. Complications of ureteroscopy. Urol Clin N Am. 2004;31(1):157.

3. Gupta V, Sadasukhi TC, Sharma KK, Yadav RG, Mathur R, Tomar V, et al. Complete ureteral avulsion. ScientificWorldJournal. 2005;5:125-7.
- 44. Benson MC, Ring KS, Olsson CA. Ureteral reconstruction and bypass: experience with ileal interposition, the Boari flap-psoas hitch and renal autotransplantation. J Urol. 1990;143(1):20-3.. Os retalhos musculares são, há muito tempo, pesquisados experimentalmente como substitutos de segmentos do aparelho urinário55. Sadove RC, Rodgers JB, Fink BF, McRoberts JW. Experimental rectus abdominis myocutaneous and rectus abdominis myoperitoneal flaps as urinary bladder wall substitutes in miniature swine. Plast Reconstr Surg. 1993;91(3):511-21..

Neste estudo descrevemos uma técnica de reconstrução ureteral utilizando um retalho mioperitoneal confeccionado com elementos da parede abdominal.

TÉCNICA

Foram utilizados seis coelhos, da raça branco da Nova Zelândia, machos, com peso de 3kg. A medicação anestésica constou da associação de ketamina (35mg/Kg) e xylazina (5mg/kg) via intramuscular na pré-anestesia, seguida da anestesia geral com indução e manutenção com isoflurano e oxigênio 100%, por via inalatória, em sistema aberto.

Após a realização da laparotomia mediana suprapúbica e, após dissecção da parede ventral do abdome, confeccionava-se um retalho muscular, pediculado, irrigado pelos vasos epigástricos, com aproximadamente 3cm de largura e 5cm de comprimento (Figura 1).

Figura 1 -
Retalho muscular pediculado, com vaso epigástrico (seta).

O retalho é moldado de forma tubular sobre um cateter, de modo que a superfície aponeurótica seja a interna e a superfície peritoneal, a externa. Em seguida, após ressecção de aproximadamente 0,5cm da parede vesical dorsal, a bexiga é anastomosada com a extremidade distal do tubo muscular.

Após secção do ureter na junção do terço médio com o terço distal, procede-se o cateterismo ureteral no sentido cranial, com cateter de polipropileno com 1mm de diâmetro, de tal forma que este fique posicionado no interior do tubo muscular, alcançando a bexiga. Na sequência, para refazer o trânsito urinário, o segmento cranial do ureter é anastomosado ao orifício proximal do tubo muscular (Figura 2).

Figura 2 -
Retalho muscular tubularizado (rmt), suturado à bexiga (b) e ao segmento remanescente do ureter (u).

Foi administrado analgésico no pós-operatório por cinco dias e observada a postura corporal do animal. Diariamente realizava-se a inspeção da ferida operatória e a palpação do abdome na área de topografia renal para avaliar o tamanho do rim. O aspecto e a quantidade da urina foram também observados. Realizava-se a necropsia no 60º dia do período pós-operatório, com verificação in situ, das estruturas urinárias.

Este projeto foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais - CEUA - Laboratório de Cirurgia Experimental do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro - FM/UFRJ.

DISCUSSÃO

A lesão ureteral é uma complicação que pode ocorrer após qualquer operação abdominal, pélvica ou manobra endoscópica11. Selzman AA, Spirnak JP. Iatrogenic ureteral injuries: a 20-year experience in treating 165 injuries. J Urol. 1996;155(3):878-81. , 22. Brooke JB, Pearle MS. Complications of ureteroscopy. Urol Clin N Am. 2004;31(1):157..

O tratamento varia em função do segmento ureteral comprometido e do status funcional da unidade renal22. Brooke JB, Pearle MS. Complications of ureteroscopy. Urol Clin N Am. 2004;31(1):157. , 33. Gupta V, Sadasukhi TC, Sharma KK, Yadav RG, Mathur R, Tomar V, et al. Complete ureteral avulsion. ScientificWorldJournal. 2005;5:125-7.. Na dependência do segmento de ureter lesionado, várias técnicas de reconstrução ureteral podem ser utilizadas33. Gupta V, Sadasukhi TC, Sharma KK, Yadav RG, Mathur R, Tomar V, et al. Complete ureteral avulsion. ScientificWorldJournal. 2005;5:125-7. , 44. Benson MC, Ring KS, Olsson CA. Ureteral reconstruction and bypass: experience with ileal interposition, the Boari flap-psoas hitch and renal autotransplantation. J Urol. 1990;143(1):20-3. ,. Nos casos de grande desvitalização tecidual ou comprometimento de um grande segmento de ureter, são necessárias medidas extremas como o autotransplante renal ou a interposição de alça ileal44. Benson MC, Ring KS, Olsson CA. Ureteral reconstruction and bypass: experience with ileal interposition, the Boari flap-psoas hitch and renal autotransplantation. J Urol. 1990;143(1):20-3. , 66. Boxer RJ, Fritzsche P, Skinner DG, Kaufman JJ, Belt E, Smith RB, et al. Replacement of the ureter by small intestine: clinical application and results of the ileal ureter in 89 patients. J Urol. 1979;121(6):728-31., que pode substituir um segmento ou, todo o ureter 77. Monti PR, Lara RC, Dutra MA, de Carvalho JR. New techniques for construction of efferent conduits based on the Mitrofanoff principle. Urology. 1997;49(1):112-5.

8. Ali-el-Dein B, Ghoneim MA. Bridging long ureteral defects using the Yang-Monti principle. J Urol. 2003;169(3):1074-7.

9. Lytton B, Schiff M. Interposition of an ileal segment for repair of ureteral injuries. J Urol. 1981;125(5):739-41.

10. Chung BI, Hamawy KJ, Zinman LN, Libertino JA. The use of bowel for ureteral replacement for complex ureteral reconstruction: long-term results. J Urol. 2006;175(1):179-83; discussion 183-4.

11. Armatys SA, Mellon MJ, Beck SD, Koch MO, Foster RS, Bihrle R. Use of ileum as ureteral replacement in urological reconstruction. J Urol. 2009;181(1):177-81.
- 1212. Smith N, Medeiros M, Vieira G. Complete ureteral avulsion: ileal ureteral substitution wth an unusal proximal ileal anastomosis. BJUI [Internet]. 2010 Dez. Disponível em: http://www.bjui.org/contentfullitem.aspx?Id=586.
http://www.bjui.org/contentfullitem.aspx...
.

No presente estudo, a aplicação do retalho muscular pediculado, da parede abdominal, configurado na forma tubular, para a reconstrução parcial do ureter, mostrou-se adequada. No exame da ferida operatória não foi constatado infeção ou deiscência. Não houve o surgimento de hérnia incisional na área doadora do retalho muscular pediculado, a urina apresentava aspecto e cor normais e os animais urinavam normalmente. Na necropsia, constatou-se a preservação das estruturas anatômicas e a manutenção da permeabilidade da luz do tubo muscular.

Desta forma, conforme os resultados obtidos neste estudo, a utilização de retalho muscular da parede abdominal, tubularizado, para a substituição parcial de um segmento ureteral é uma técnica viável e pode ser uma alternativa na reconstrução de segmentos ureterais.

REFERENCES

  • 1
    Selzman AA, Spirnak JP. Iatrogenic ureteral injuries: a 20-year experience in treating 165 injuries. J Urol. 1996;155(3):878-81.
  • 2
    Brooke JB, Pearle MS. Complications of ureteroscopy. Urol Clin N Am. 2004;31(1):157.
  • 3
    Gupta V, Sadasukhi TC, Sharma KK, Yadav RG, Mathur R, Tomar V, et al. Complete ureteral avulsion. ScientificWorldJournal. 2005;5:125-7.
  • 4
    Benson MC, Ring KS, Olsson CA. Ureteral reconstruction and bypass: experience with ileal interposition, the Boari flap-psoas hitch and renal autotransplantation. J Urol. 1990;143(1):20-3.
  • 5
    Sadove RC, Rodgers JB, Fink BF, McRoberts JW. Experimental rectus abdominis myocutaneous and rectus abdominis myoperitoneal flaps as urinary bladder wall substitutes in miniature swine. Plast Reconstr Surg. 1993;91(3):511-21.
  • 6
    Boxer RJ, Fritzsche P, Skinner DG, Kaufman JJ, Belt E, Smith RB, et al. Replacement of the ureter by small intestine: clinical application and results of the ileal ureter in 89 patients. J Urol. 1979;121(6):728-31.
  • 7
    Monti PR, Lara RC, Dutra MA, de Carvalho JR. New techniques for construction of efferent conduits based on the Mitrofanoff principle. Urology. 1997;49(1):112-5.
  • 8
    Ali-el-Dein B, Ghoneim MA. Bridging long ureteral defects using the Yang-Monti principle. J Urol. 2003;169(3):1074-7.
  • 9
    Lytton B, Schiff M. Interposition of an ileal segment for repair of ureteral injuries. J Urol. 1981;125(5):739-41.
  • 10
    Chung BI, Hamawy KJ, Zinman LN, Libertino JA. The use of bowel for ureteral replacement for complex ureteral reconstruction: long-term results. J Urol. 2006;175(1):179-83; discussion 183-4.
  • 11
    Armatys SA, Mellon MJ, Beck SD, Koch MO, Foster RS, Bihrle R. Use of ileum as ureteral replacement in urological reconstruction. J Urol. 2009;181(1):177-81.
  • 12
    Smith N, Medeiros M, Vieira G. Complete ureteral avulsion: ileal ureteral substitution wth an unusal proximal ileal anastomosis. BJUI [Internet]. 2010 Dez. Disponível em: http://www.bjui.org/contentfullitem.aspx?Id=586.
    » http://www.bjui.org/contentfullitem.aspx?Id=586
  • Fonte de financiamento: nenhuma.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2014

Histórico

  • Recebido
    02 Fev 2014
  • Aceito
    05 Maio 2014
Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revista@cbc.org.br