Aplicabilidade da CIF-CJ na avaliação de crianças com deficiências e o apoio familiar: uma revisão integrativa da literatura

RESUMO

Objetivo:

verificar e atualizar as informações da aplicabilidade da avaliação funcional por meio da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - versão para Crianças e Jovens (CIF-CJ) em crianças com deficiências.

Métodos:

foi realizada a partir da busca de dados em bases eletrônicas do Portal de Pesquisas da Biblioteca Virtual em Saúde, EBSCOhoste Google Scholar utilizando combinação das palavras chaves “crianças com deficiências”, “CIF” e “mobilidade”.

Resultados:

identificou-se 2.773 estudos, após a aplicação dos filtros apenas 27 artigos foram selecionados. Após uma análise explorada das temáticas dos artigos, tal diagnóstico revelou quatro categorias analíticas: ambiente (4 artigos), qualidade de movimento (3 artigos), família (4 artigos) e profissionais (16 artigos).

Conclusão:

frente os sofrimentos vivenciados pelas famílias com integrantes com deficiência, foram apontadas diferentes possibilidades de abordagem deste fenômeno. Assim é necessário direcionar um maior esforço de investigação e intervenção nestes domínios e explorar mais a respeito desta ferramenta.

Descritores:
Avaliação da Deficiência; Criança; Família

ABSTRACT

Purpose:

to verify and update information on the applicability of functional assessment through the International Classification of Functioning, Disability and Health - Children and Youth Version (ICF-CY) in children with disabilities.

Methods:

a search was carried out on the databases of the Virtual Health Library Research Portal, EBSCOhost and Google Scholar, using a combination of the key words "children with disabilities", "ICF" and "mobility".

Results:

altogether, 2,773 studies were identified; however, after the filters were applied, only 27 were selected. After an explored analysis of the themes of the articles, this diagnosis revealed four analytical categories: environment (4 articles), quality of movement (3 articles), family (4 articles), and professionals (16 articles).

Conclusion:

in face of the sufferings experienced by families with disabled people, different possible approaches to this phenomenon were pointed out. Therefore, a greater effort of investigation and intervention in these fields are necessary, further exploring this tool.

Keywords:
Disability Assessment; Child; Family

Introdução

No princípio da década de 1980 as Organizações das Nações Unidas revelaram que vários países tinham estatísticas a respeito de pessoas com incapacidade. Ao longo do tempo a evolução nessa área foi pouca e, em consequência do aumento da prevalência de incapacidades, o foco da construção de indicadores de saúde alterou de mortalidade para morbidade, e mais recentemente para as consequências das doenças crônicas ¹.

No ano de 2001 a Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou um sistema de classificação para o entendimento da funcionalidade e incapacidade humana: a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), um método para identificar as condições estruturais, ambientais e as características pessoais que interferem na funcionalidade dos indivíduos. O objetivo geral deste sistema é proporcionar uma linguagem unificada e padronizada por meio de uma estrutura que caracterize a saúde e seus estados relacionados, auxiliando na comunicação e na troca de informações ².

A CIF se apresenta dividida em quatro domínios: funções do corpo, estruturas do corpo, atividades e participação e fatores ambientais. Este método oferece um modelo de classificação que leva em consideração a presença e a gravidade de um problema de saúde, seja no aspecto individual ou social, permitindo a padronização da linguagem a respeito da funcionalidade². Sendo ainda dividida em duas seções, a primeira referente aos componentes da funcionalidade e incapacidade, na qual contempla-se os componentes do corpo, da atividade e participação, e estes podem ser expressos de forma negativa ou neutra. A segunda seção engloba os componentes dos fatores contextuais, que incluem os fatores ambientais e os fatores pessoais, que podem ser expressos de forma positiva e ou negativa de acordo com a influência que exercem sobre o indivíduo³.

Ao adotar o uso da CIF, a prática clínica pode melhorar a comunicação multiprofissional, além de fortalecer a posição da fisioterapia e da terapia ocupacional dentro das equipes de saúde, melhorar a resolutividade dos serviços e a adesão dos pacientes aos tratamentos³.

Na década de 1990, a OMS formou um grupo internacional com o objetivo de desenvolver uma versão da CIF voltada paras as crianças e os jovens, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde versão Crianças e Jovens (CIF-CJ), sendo que esta versão foi aprovada oficialmente no ano de 2007. O objetivo da CIF-CJ é comparar internacionalmente os estados de saúde das crianças e jovens, e rastrear a incapacidade das crianças, para implementar medidas para aprimorar a saúde e educação das crianças e jovens⁴.

A CIF-CJ avalia os mesmos domínios relacionados à saúde abordados na CIF, entretanto esta versão apresenta algumas especificidades da infância à adolescência, como a criança no contexto familiar, o atraso no desenvolvimento, a participação e o ambiente⁵.

Vale ressaltar que A CIF realizou uma transformação na forma de classificação alterando a forma de classificar embasado de "consequência da doença", em um sistema de classificação fundamentada em "componentes da saúde" que identificam o que constitui a saúde, enquanto que "consequências" se referem ao impacto das doenças na condição de saúde da pessoa. A CIF se constitui de base conceitual do trabalho junto a pessoas com deficiência.

Cerca de 10% da população mundial apresenta algum tipo de deficiência, o que caracteriza uma questão de saúde pública. Por exemplo, se uma alteração motora resulta na incapacidade e limitação da criança em desempenhar atividades e tarefas do seu cotidiano e de sua família, seu desempenho funcional é diretamente influenciado pelas características dos contextos físico e social. Assim, avaliar o impacto que a deficiência ocasiona na vida da criança e de sua família, tem sido um desafio para os profissionais de saúde⁶.

Nos casos de alterações neuromotoras, a CIF e a CIF-CJ auxiliam os profissionais de saúde na avaliação e intervenção do registro funcional, contribuindo na prática clínica, possibilitando uma intervenção específica e acompanhamento longitudinal individualizado para cada paciente. O uso da CIF favorece para que as verdadeiras condições de vida dos pacientes venham fazer parte das estatísticas, possibilitando orientar as ações e decisões políticas, definir intervenções e fornecer dados mais consistentes relativos às condições de vida das pessoas com deficiências, que venham a subsidiar ações profissionais mais eficientes ^7,8.

Considerando que a CIF-CJ avalia sua funcionalidade para melhor conhecer as atividades realizadas e as condições de participação em contextos significativos do desenvolvimento infantil⁹, e visando que com essa temática possa refletir sobre a equidade social para a promoção da saúde e desenvolvimento das crianças com deficiências este estudo de revisão integrativa teve como objetivo verificar as principais elucidações na presente literatura acerca da aplicabilidade da avaliação funcional por meio da CIF-CJ em crianças com deficiências, a fim de apoiar as famílias no enfrentamento de suas necessidades.

Métodos

Este trabalho apresenta um protocolo de etapas dos procedimentos de coleta e análise de dados de revisão integrativa baseado em Mendes, Silveira e Galvão (2008)¹⁰.

1. Definição da questão de pesquisa: O que os estudos têm revelado sobre a aplicabilidade da avaliação funcional por meio da CIF-CJ em crianças com deficiências?

2. Definição dos critérios de elegibilidade: para serem incluídos na presente revisão, os estudos deveriam atender aos seguintes critérios de inclusão: publicação no formato de artigo original; em idioma português, inglês, espanhol ou outras línguas que abordassem questões pertinentes avaliação funcional de crianças com deficiências.

3. Busca em fontes de dados publicados: foi realizado uma busca de dados bibliográficos publicados eletronicamente no Portal de Pesquisas da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), Literatura da América Latina e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e EBSCO host, também foi utilizada a ferramenta de busca Google Scholar.

4. Elaboração das estratégias de busca: primeiramente realizou-se a seleção dos termos de busca, estabeleceu-se por meio da combinação entre as palavras-chaves “Crianças com Deficiências”, “CIF”, “Mobilidade”, utilizando o operador boleano AND entre os termos previamente referidos. Selecionou-se artigos publicados nas línguas espanhol, inglês e português, no período compreendido entre os anos de 2012 e 2017.

5. Avaliação da elegibilidade: triagem dos artigos, todo o processo de seleção dos artigos foi realizado em revisão em pares, de modo independente, a fim de confirmar a elegibilidade dos estudos selecionados.

• Busca na BVS: pela etapa inicial da pesquisa, inseriu-se as palavras chaves “Crianças com Deficiências” AND “CIF” AND “Mobilidade”, no campo de busca (título, resumo ou assunto) da BVS encontrou-se 48 textos. Ao realizar a filtragem por data, referente aos anos de 2012 a 2016) foram encontrados 29 artigos. Para verificar a pertinência com a temática realizou-se a leitura dos títulos e resumos dos 29 trabalhos, dos quais 18 artigos excluídos por incompatibilidade de tema, ou seja, que não tiveram relação direta com as crianças com deficiências, a CIF ou a mobilidade, e 1 por duplicidade. Portanto, selecionou-se 10 artigos para leitura completa.

• Busca com a ferramenta EBSCO host: inseriu-se as palavras chaves: crianças com deficiências; CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde) e; mobilidade, no campo de busca EBSCO host, e encontrou-se 395 textos. Ao utilizar o filtro por data, referente aos anos 2012 a 2017, foram encontrados 303 artigos, e ao verificar a pertinência com a temática realizou-se a leitura dos títulos e resumos, dos quais 297 artigos foram excluídos por incompatibilidade de tema, e 2 por duplicidade. Portanto, selecionou-se 4 artigos para leitura completa.

• Busca com a ferramenta Google Scholar: inseriu-se as palavras chaves “Crianças com Deficiências” AND “CIF” AND “Mobilidade”, no campo de busca Google Acadêmico encontrou-se 2.330 textos. Utilizando o filtro por data, entre os anos de 2012 a 2017 foram encontrados 1.390 artigos, e verificando a pertinência com a temática realizou-se a leitura dos títulos e resumos, dos quais 1.376 artigos foram excluídos por incompatibilidade de tema. Portanto, selecionou-se 13 artigos para leitura completa.

Na Figura 1, pode-se verificar em forma de fluxograma o detalhamento do processo de triagem e seleção dos artigos.

Figura 1:
Fluxograma de elegilidade dos artigos

Após selecionar os artigos elegíveis que constituem a amostra final desta revisão, realizou-se uma exploração dos objetivos apresentados e a partir da aplicação da análise de conteúdo dos artigos, realizou-se uma classificação dos mesmos em categorias, conforme identificado nas temáticas exploradas pelos artigos.

Revisão da Literatura

A busca eletrônica resultou em 2.773 artigos, os quais foram submetidos à avaliação para verificar a possibilidade de inclusão na presente revisão, após filtragem seguindo os critérios de inclusão e exclusão pré-definidos obteve-se um total de 27 artigos elegíveis.

Após a análise exploratória das temáticas dos artigos, estes foram agrupados em quatro grandes categorias: 1) ambiente (quatro estudos); 2) família (quatro estudos); 3) qualidade de movimento (três estudos); e 4) profissional (dezesseis estudos).

Categoria - Ambiente (Quatro Estudos)

A primeira categoria inclui artigos com os objetivos de relatar o caso de uma criança com Síndrome Congênita do Zika Vírus, onde seu acompanhamento foi realizado por meio da CIF e de instrumentos de investigação do desenvolvimento motor; analisar as implicações da aquisição de deficiência física a partir das situações vividas, utilizando como referência a CIF, com destaque nos fatores contextuais; examinar o conteúdo e construir a validade do Funded Child Care & Development Options (FUNDES-Child), fundação de serviços de desenvolvimento infantil para crianças desde o nascimento até aos 12 anos de idade e crianças mais velhas com necessidades excepcionais; e realizar uma análise documental, do marco legislativo brasileiro sobre a política para as pessoas com deficiência, principalmente no que refere-se aos desafios de avaliar e classificar a deficiência como restrição de participação social. Os resultados apontam que a CIF é um notável método classificatório para estudos e desenvolvimento de práticas pois não possui foco na doença e sim no contexto do indivíduo. Ademais, a possibilidade de avaliação de fatores ambientais e barreiras permite que a deficiência entre em discussão no âmbito da promoção da justiça social e da igualdade e não só seja discutida em uma perspectiva biomédica^11-14.

No estudo realizado por Barbosa et al. (2016)¹¹, foi aplicado um protocolo de investigação para avaliação do estado de comportamento, reflexos, tolerância e adaptação ao manuseio, tônus muscular, postura adotada e de desenvolvimento motor, após o acompanhamento foi verificado a presença de modificações no comportamento motor em decorrência de mudanças nos fatores ambientais. Foram notados mudanças relevantes na mobilidade das articulações e na função do tônus muscular da criança, melhora nas reações posturais de cabeça e funções de controle de movimentos voluntários simples.

Hwang et al. (2015)¹² e Toldrá e Souto (2014)¹³ interpelam como os fatores contextuais referentes as questões pessoais e ambientais refletem na funcionalidade das crianças com deficiências. Santos (2016)¹⁴ complementa com a importância da avaliação do ambiente para a promoção da saúde, desenvolvimento das crianças com deficiências e da igualdade social.

Categoria - Qualidade do Movimento (Três Estudos)

Esta categoria reuniu pesquisas com os seguintes objetivos; avaliar a funcionalidade, classificar o desempenho e a capacidade e ainda investigar a participação de crianças com Paralisia Cerebral (PC); averiguar a questão da linguagem, participação e desempenho/funcionalidade de crianças usuárias de comunicação suplementar e/ou alternativa (CSA) nas atividades linguísticos-cognitivas por meio dos componentes da CIF; avaliar o nível de independência funcional nas AVD’s de uma criança com PC, antes e após um período de treino de atividades funcionais^9,15,16.

Nos estudos de Monteiro et al. (2012)¹⁵ e Romano e Chun (2014)¹⁶, os resultados demonstraram um aumento considerável no nível de independência da criança após um treinamento nas áreas de autocuidado, habilidades funcionais e assistência dos cuidadores. Estes resultados apontam que um bom programa de intervenção baseado em atividades funcionais pode possibilitar mudanças positivas no desempenho funcional das crianças, além de poder diminuir o grau de severidade que a deficiência representa para estas crianças.

Souza e Alpin (2015)⁹ utilizaram a CIF para avaliar três crianças com diagnóstico de PC do tipo diparesia espástica, por meio de entrevistas e avaliação funcional das crianças. Neste estudo foi salientado que quando comparado o desempenho à capacidade, as crianças revelaram um leve aumento no desempenho, permitindo identificar limitações na execução das atividades realizadas pelas crianças.

Categoria - Família (Quatro Estudos)

Nesta categoria os estudos tem como objetivos: documentar a saúde e o funcionamento na vida cotidiana de crianças com câncer usando códigos da CIF-CJ e identificar um conjunto de códigos abrangentes que possam auxiliar na avaliação clínica; construir um checklist da CIF-CJ, a partir da investigação de dimensões clínico-terapêuticas e familiares relacionadas à esta classificação, para acompanhamento de Implante Coclear (IC); explorar os pontos de vista dos pais sobre as atividades e participação de crianças com PC com uma variedade de comunicativas e os fatores pessoais e ambientais que influenciam isso; sintetizar as experiências e perspectivas de jovens com PC para informar o desenvolvimento de programas de reabilitação e sociais. Os resultados apontaram que as frustações das crianças, atitudes negativas de outros indivíduos, pessoas e ambientes desconhecidos são os principais obstáculos na visão dos pais. Os jovens por sua vez identificam a independência, enfrentamento e imagem corporal como fatores que impactam em suas capacidades de lidar com suas condições. Constatou-se ainda que a CIF é importante para profissionais de saúde, pais e professores, tanto para avaliar como para apoiar a saúde e dia a dia das crianças com câncer^17-20.

No estudo de Mei et al. (2015)¹⁷, retratou o relato de treze pais de crianças com PC por meio de entrevistas individuais semiestruturadas, sendo os códigos e temas identificados mapeados para os domínios da CIF-CJ. As respostas dos pais refletem os domínios da CIF-CJ de atividade, participação e fatores ambientais. As principais barreiras identificadas incluíram aspectos das próprias interações dos filhos com os pais, pessoas e configurações desconhecidas, e os principais facilitadores incluem o apoio recebido da família e escola das crianças, criando uma rotina familiar e disposição positiva das crianças. Corroborando com este estudo, Lindsay (2016)¹⁸, realizou uma síntese qualitativa sistêmica sobre as experiências e perspectivas dos jovens que vivem com PC, no qual evidencia a importância da inclusão social e ambiental, o papel da família e dos pares e a participação social, para a manutenção e obtenção de uma boa qualidade de vida¹⁸.

Ainda sobre a família, Morettin (2012), realizou um estudo para construir um checklist da CIF-CJ para o acompanhamento do usuário de IC com base na avaliação dos aspectos clínicos-terapêuticos e familiares. A estruturação se mostrou positiva no que diz respeito a investigação dos principais fatores que podem caracterizar tal população, no entanto sua conformação extensa e operacionalização podem ser consideradas obstáculos nos serviços de saúde¹⁹.

Na pesquisa de Darcy et al. (2015)²⁰, foram entrevistadas crianças diagnosticadas com câncer e seus pais, e suas respostas foram codificadas para a CIF-CJ. Este estudo identificou um conjunto de códigos extensivo para o câncer infantil, e a maioria destes estão relacionados à atividades e participação referindo as relações sociais com familiares, pares e profissionais, relacionados ao apoio e a independência. Estes códigos identificados serão úteis para os profissionais de saúde, pais e professores na avaliação e no apoio a saúde das crianças com câncer.

Categoria - Profissionais (Dezesseis Estudos)

Esta categoria é composta por duas variáveis temáticas: reabilitação^8,21-24 e pesquisa^25-35.

Categoria Profissional: Variável Temática Reabilitação

Com relação a variável de reabilitação, os estudos tem como objetivos: relatar o caso de uma paciente portadora de Miopatia Nemalínica (MN), destacando as principais complicações e a atuação da fisioterapia; utilizar a CIF-CJ no serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) para o registro do desenvolvimento da audição e da linguagem de crianças no primeiro ano de vida; avaliar a validade discriminante do protocolo do Desempenho Funcional e Social de crianças com Paralisia Cerebral (DSF-PC) para verificar se o mesmo é sensível às alterações de desempenho funcional e participação social de crianças com PC quando comparadas com desenvolvimento típico; discutir a prática do Terapeuta Ocupacional (TO) em reabilitação neurológica, com foco no uso da atividade como ferramenta de intervenção desse profissional; classificar a funcionalidade de crianças com PC por meio da CIF e avaliar a concordância entre avaliadores^8,21-24.

Medeiros et al. (2013)⁸, desenvolveram um estudo com 12 crianças com diagnóstico de PC em tratamento fisioterapêutico, e o instrumento para coleta de dados foi elaborado similarmente com a CIF. A maioria das crianças avaliadas realizaram as funções avaliadas sem dificuldade, com exceção do pular, chutar e atividades de motricidade fina. Em relação a concordância entre os avaliadores, estes demonstraram a necessidade de um treinamento para a utilização da CIF.

No estudo de Bernardi (2017)²², fonoaudiólogos especialistas em audiologia realizaram a correlação de perguntas de um questionário para monitoramento da audição e da linguagem em crianças no primeiro ano de vida, com os códigos da CIF-CJ. O uso desta permitiu uma ampliação do olhar dos profissionais da saúde, e a criação ou adaptação de instrumentos de avaliação padronizados com base na CIF-CJ, favorece sua utilização na prática clínica.

Furlaneto et al. (2014)²¹ realizaram um estudo que descreveu a evolução clínica e as principais complicações da avaliação, tratamento e dos resultados fisioterapêuticos. Para avaliar a parte motora foi utilizado a Medida de Função Motora (MFM) e a CIF-CJ, e a avaliação da pressão inspiratória máxima pelo manovacuômetro digital. Neste estudo foi observado que os participantes tiveram limitações nas transferências posturais, na deambulação e na tentativa de mover um objeto com os membros inferiores, e não apresentaram nenhuma dificuldade em manter a posição do corpo, exceto em pé. O atendimento fisioterapêutico foi essencial para proporcionar o retorno das atividades funcionais e recreativas das crianças, e auxiliar nas disfunções respiratórias.

Stoffel e Nickel (2013)²⁴ propuseram-se a levantar subsídios entre a estrutura e nomenclatura da CIF, os princípios do Modelo de Ocupação Humana e a Abordagem Motora para Recuperação do Comportamento Motor. Os processos de aprendizagem e adaptação são estimulados por meio da inserção do desempenho de atividades cotidianas e desenvolvimento de hábitos na rotina do sujeito com condição neurológica. Essa inserção permite que o sujeito adquira e organize novos padrões de desempenho satisfatórios para sua participação.

Zampieri, Santos e Pfeifer (2016)²³ aplicaram o Protocolo de desempenho Social e Funcional de crianças com Paralisia Cerebral (DSF-PC) junto a 30 cuidadores de crianças com PC e 30 de crianças com desenvolvimento típico. O DFS-PC é considerado sensível para detectar diferenças entre crianças com PC e crianças com desenvolvimento típico, apresentando diferença de 12 a 16 domínios. O estudo mostrou que crianças com PC apresentam um nível menor de desenvolvimento funcional e menor participação social quando comparadas com o grupo controle. Sendo assim, constatou-se que DFS-PC é considerado válido para ser aplicado junto a crianças com PC.

Categoria Profissional: Variável Temática Pesquisa

No tema relacionado a pesquisas, os objetivos dos estudos foram: demonstrar como a linguagem universal da CIF-CJ pode aumentar a especificidade com que pesquisadores e clínicos descrevem as manifestações variáveis do ACC; examinar e sintetizar o conhecimento disponível na literatura sobre os instrumentos utilizados na perspectiva da funcionalidade em crianças com PC; identificar os conceitos de medidas de desfecho de ensaios clínicos em osteogênese imperfeita (OI), analisar como estes conceitos se relacionam com a CIF-CJ e descrever quais componentes da funcionalidade mais avaliados; associar as subcategorias da CIF aos itens da Avaliação da Coordenação e Destreza Motora (Acoordem) e determinar se os itens da Acoordem se encaixam na estrutura da CIF; ver como o conteúdo das medidas de deficiência diferia em cinco pesquisas dos EUA e ao longo do tempo; realizar uma revisão sistemática sobre o uso da CIF em estudos observacionais; avaliar até que ponto os instrumentos que pretendem medir a participação das crianças realmente o fazem e até que ponto seus itens podem ser classificados de acordo com a CIF-CJ; catalogar os códigos da CIF referente à Odontologia; verificar se as escalas CIF e Gross Motor Function Classification System (GMFCS) apresentam relação e, verificar se os objetivos funcionais estão corretamente relacionados às duas medidas padrão; examinar e comparar o conteúdo da qualidade de vida em questionário de jovens de curta duração (QoLISSY) com a CIF-CJ; identificar as categorias da CIF-CJ mais relevantes para avaliação de pacientes^25-35.

No estudo de Kovac e Simeonsson (2014) foi realizado uma revisão de 83 estudos sobre as manifestações neuropsicológicas e de desenvolvimento de Agenesia do Corpo Caloso (ACC) em crianças e adolescentes. Foi examinada a extensão em que as descobertas sobre ACC poderiam ser documentadas usando os códigos taxonômicos da CIF-CJ. Ocorreu um alto grau de correspondência entre os achados relatados e os códigos taxonômicos da CIF-CJ. Esta aplicação assume a CIF-CJ como uma linguagem comum para pesquisadores e clínicos que trabalham com crianças que possuem ACC²⁵.

Santos et al. (2014)²⁷ realizou um estudo com ensaios clínicos realizados entre 2000 e 2013 em crianças portadoras de Osteogênese Imperfeita (OI). Os conceitos de medidas clínicas e técnicas e de um instrumento de avaliação padronizado (Pediatric Evaluation of Disability Inventory - PEDI) foram identificados e os conceitos das medidas clínicas e técnicas relacionaram-se ao componente da CIF-CJ Funções e Estruturas do Corpo, principalmente Atividade e Participação. Por meio dessa ligação dos conceitos das medidas de desfecho com a CIF-CJ foi averiguado que os ensaios clínicos em OI avaliam principalmente o componente de Funções e estruturas do corpo concluindo que ²⁷

No estudo de Santos et al. (2015)³⁵ cinco especialistas escolheram uma lista de segundo nível da CIF-CJ, as questões mais relevantes para a avaliação da funcionalidade de crianças e adolescentes com OI. Os componentes com maior número de categorias da CIF-CJ relevantes para a OI pode ser elaborada a partir da perspectiva de especialistas. Esta etapa é importante para o esclarecimento do que deve ser avaliado em crianças e adolescentes com OI. Carneiro et al. (2012)³² catalogou os códigos da CIF referente à Odontologia, para a escolha dos tópicos de cada componente, três pesquisadores elegeram, separadamente, aqueles que julgaram pertinentes e relacionados à prática odontológica. A utilização da CIF se faz imediato nas diversas áreas da saúde e dever ser mais veiculada a Odontologia a partir do momento em que surgirem mais objetivos voltados a esta área.

Cardoso et al. (2012)²⁸ codificou independentemente os itens contidos na Acoordem, ligando-os com a CIF. Os itens do Acoordem foram associados aos componentes de função do corpo, atividade e participação, fatores ambientais e fatores pessoais. O componente estrutura do corpo não foi relacionado e três itens não foram cobertos pela CIF. Os profissionais e pesquisadores da área de reabilitação podem usar o Acoordem para colher dados sobre a atividade e participação em crianças com problemas de coordenação motora, pois sua terminologia e abrangência está de acordo com a perspectiva biopsicossocial da OMS²⁸.

Chien et al. (2014)³¹ realizou uma pesquisa sistemática de janeiro de 2000 a maio de 2011, no qual, foram utilizados os termos de pesquisa de participação, medida de resultado e crianças, para identificar a participação potencial de crianças medidas. Os instrumentos foram obtidos por meio de artigos de texto completo identificados e foram avaliados para inclusão por meio de discussão em grupo. Esses itens também foram classificados usando as regras de ligação com a CIF-CJ para refletir a cobertura de conteúdo de cada instrumento. Neste estudo os itens de participação em cada instrumento capturaram entre 3 e 9 domínios da CIF-CJ, atividade e participação. Apenas a Escala de Participação Infantil e Adolescente e a Medida de Participação e Meio Ambiente para Crianças e Jovens abordaram todos os domínios. Ao selecionar o instrumento de participação deve-se considerar as diferenças dos itens de participação nas medidas de participação de crianças existentes e sua classificação de acordo com a CIF-CJ³¹.

Verdiani et al. (2016)³³ coletou e comparou os objetivos funcionais traçados pelos fisioterapeutas e os códigos da CIF determinado pelos mesmos e pelos pesquisadores. Como se tratava de uma população de crianças e adolescentes com PC, com idade entre 3 a 17 anos, os autores utilizaram a CIF-CJ para classificar os objetivos funcionais, porém houve casos em que os objetivos propostos não apresentassem nenhum código condizente nessa versão, assim os pesquisadores consultaram a versão completa da CIF. Verificou-se que houve uma boa correlação entre as medidas, no entanto houve discrepância significativa entre os códigos escolhidos pelos terapeutas e pesquisadores. Está dificuldade pode estar relacionado à dificuldade de aplicação prática da CIF, ou da dificuldade dos terapeutas no momento de traçar os objetivos funcionais.

No estudo de Sommer et al. (2015)³⁴, os itens do QoLISSY para crianças e adolescentes e seus pais foram codificados no âmbito da CIF-CJ. Esta ligação foi realizada conforme os padrões predeterminados por dois profissionais de saúde experientes nos fundamentos conceituais da CIF-CJ. Este processo de vinculação indica que o CIF-CJ fornece um quadro de referência útil para comparar e examinar o conteúdo dos instrumentos HrQoL para crianças e adolescentes de baixa estatura e seus pais. A ligação do instrumento QoLISSY no contexto da CIF-CJ traduz seu conteúdo para uma linguagem universal.

Brandt et al. (2014)²⁹ utilizou a CIF como um quadro conceitual para medir a deficiência. Foi avaliado o Inquérito Nacional de Entrevista de Saúde (SNIS), Pesquisa de População (CPS), Levantamento de Renda e Participação no Programa (SIPP), Pesquisa Nacional de Crianças e Famílias SSI (NSCF) e American Community Survey (ACS) para a cobertura de conteúdos da deficiência em relação a cada um dos quatro componentes da CIF, estes se tratam das funções corporais, estruturas corporais, atividades e participação e meio ambiente. As medidas de incapacidade variaram em pesquisas e ano. O NHIS capturou uma maior proporção das funções corporais da CIF e dos componentes das estruturas corporais. O SIPP deteve maior conteúdo das atividades da CIF e componente de participação, e o NSFC conteve maior componente dos fatores ambientais. Foi ilustrado com êxito o sucesso da utilidade da CIF na análise de conteúdo das medidas de deficiência²⁹.

Castanedal, Bergmannll e Bahia (2014)³⁰ realizaram uma revisão sistemática de artigos que utilizaram a CIF em estudos observacionais. As áreas de estudo mais presentes foram a reumatologia (24%) e ortopedia (21%), sendo que 83% dos artigos tratam-se de estudos transversais. Constatou-se que houve um aumento na produção científica relacionada à CIF nos últimos 10 anos e diferentes áreas de conhecimento estão envolvidas no debate sobre a melhoria das informações relacionadas à morbidade.

No estudo de Dornelas et al. (2014)²⁶, foi realizado uma busca de artigos nas bases de dados eletrônicos, publicados no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2012. Nos achados desta busca os autores propuseram instrumentos que poderiam padronizar a avaliação para a classificação dos componentes: estruturas e função do corpo, atividades e participação e fatores ambientais. Os domínios estruturas e função do corpo e atividades e participação são mais frequentemente classificados conforme a CIF em crianças com PC e possuem uma variedade de instrumentação para a aplicabilidade da CIF³⁰.

Conclusão

A CIF-CJ não classifica as crianças e os jovens, pois esta classificação é realizada por meio de categorias dentro dos domínios de saúde. Tem por intuito descrever a situação em que cada criança ou jovem está inserido, dentro de uma gama de domínios e contextos ambientais e pessoais.

Evidenciou-se a necessidade de treinamento prévio dos profissionais para aplicação da CIF-CJ de forma adequada, assim como a conscientização por parte destes profissionais para a adequada aplicação da mesma. Nesse sentido, é fundamental a criação e implementação de estratégias entre os profissionais para facilitar e tornar mais prático o uso da CIF-CJ na rotina diária do terapeuta. E assim ampliar as possibilidades e orientações de cuidados direcionados aos familiares.

Constatou-se que por desconhecimento, a CIF-CJ ainda é pouco difundida entre os terapeutas que trabalham com jovens e crianças. Entre os que se utilizaram, essa se deu de forma parcial, ou seja, fizeram uso da CIF para crianças e jovens, mas não utilizaram a classificação específica para a faixa etária. E pouco se descreveu como uma ferramenta de reorientação para os cuidados com as crianças e jovens.

Conclui-se que os resultados encontrados na presente revisão apontam para uma pequena produção científica relacionada à CIF-CJ no decorrer dos últimos 10 anos. Entretanto, referente aos trabalhos analisados pode-se observar a empregabilidade desta classificação em diversas áreas e setores, não apenas no setor da saúde. Sugere-se a elaboração de mais estudos, visando o conhecimento referente a melhoria dos dados secundários relacionados à funcionalidade e incapacidade de crianças e jovens, por meio da divulgação e treinamento para aplicação da CIF-CJ para apoiar famílias no cotidiano de cuidados com as crianças e jovens com deficiência.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  23 Set 2019
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  31 Ago 2018
• Aceito
  08 Jul 2019