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Relações entre /s/ e /z/ e entre /e/ e /e/ não vozeado ou áfono

Resumos

OBJETIVO: correlacionar os tempos máximos de fonação (TMF) e as relações entre os fricativos /s/ e /z/ (s/z) e entre /e/ não vozeado e a vogal /e/ (ė/e) de mulheres sem afecções laríngeas. MÉTODO: participaram 60 mulheres com média de 21,56 anos de idade. Coletaram-se os TMF/ė/, /e/, /s/ e /z/ e calcularam-se a relação s/z e a relação ė/e, com padrão de normalidade para as relações de 0,8 a 1,2; para os TMF/s/ e /z/, entre 15,57 e 34,17s; para o TMF/ė/, entre 16 a 18s; e para o TMF/e/, entre 14,04 e 26,96s. Testes de Lilliefords, Spearmann, Binomial e Mann-Whitney com nível de significância de 5%. RESULTADOS: correlação positiva entre TMF/s/ e TMF/ė/, TMF/z/ e TMF/e/, TMF/s/ e TMF/z/, e TMF/ė/ e TMF/e/. Não houve correlação entre as relações s/z e ė/e, nem diferenças entre a relação ė/e, enquanto a relação s/z foi significantemente normal. TMF/ė/ e TMF/e/ significantemente diminuídos; TMF/s/ e TMF/z/ significantemente normais. TMF/ė/ significantemente menor do que TMF/s/; TMF/e/ significantemente menor do que TMF/z/. CONCLUSÃO: os fonemas /s/ e /z/ isolados e sua relação ficaram dentro da normalidade e as relações s/z e ė/e não apresentaram correlação. Os TMF/ė/ e TMF/e/ mostraram-se diminuídos em relação à normalidade. O TMF/ė/ foi menor do que TMF/s/ e o TMF/e/ foi menor do que TMF/z/, possivelmente devido ao modo articulatório dos fricativos ter aumentado o tempo de emissão, independentemente do controle do nível glótico e respiratório.

Voz; Fonação; Qualidade da Voz; Laringe


PURPOSE: correlate the maximum phonation time (MPT) and the relations between the fricative /s/ and /z/ (s/z) and between the vowels /ė/ and /e/ (ė/e) of women without laryngeal disorders. METHOD: participants were 60 women with a mean of 21.56 years old. Were collected MPT/ė/, /e/, /s/ and /z/ and calculated the relations ė/e and s/z, with normal pattern for the relationship from 0.8 to 1.2; for MPT/s/ and MPT/z/, between 15.57 and 34.17s; for the MPT/ė/, between 16 to 18s; and for the MPT/e/, between 14.04 and 26.96s. Lilliefords, Spearman, Binomial and Mann-Whitney tests with a significance level of 5%. RESULTS: positive correlation between MPT/s/ and MPT/ė/, MPT/z/ and MPT/e/, MPT/s/ and MPT/z/, and MPT/ė/ and MPT/e/. There was no correlation between the ratios s/z and ė/e, no differences between the relative ė/e, while the relation s/z was significantly normal. MPT/ė/ and MPT/e/ significantly reduced; MPT/s/ and MPT/z/ significantly normal. MPT/ė/ significantly lower than MPT/s/; MPT/e/ significantly lower than MPT/z/. CONCLUSION: the phonemes /s/ and /z/ isolates and its relation were within normal and the relations s/z and ė/e don't show correlation. The MPT/ė/ and MPT/e/ were decreased relative to normal. The MPT/ė/ was lower than MPT/s/ and MPT/e/ smaller than the MPT/z/, possibly due to the way of articulation fricative have increased transmission time, regardless of the level control glottal and respiratory.

Voice; Phonation; Voice Quality; Larynx


Relações entre /s/ e /z/ e entre /e/ e /e/ não vozeado ou áfono

Carla Aparecida CieloI; Joziane Padilha de Moraes LimaII; Bruna Franciele da Trindade GonçalvesIII; Mara Keli ChristmannIV

IFonoaudióloga; Professor Adjunto do Curso de Graduação em Fonoaudiologia e do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil; Doutora em Linguística Aplicada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Bolsista de Produtividade CNPq

IIFonoaudióloga; Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil; Bolsista CAPES

IIIFonoaudióloga; Residente do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público de Saúde da UFSM/HUSM, Santa Maria, Rio Grande Sul, Brasil

IVFonoaudióloga; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil; Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de Santa Maria; Bolsista CAPES/FAPERGS

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Joziane Padilha de Moraes Lima Rua Alfredo Tonetto, nº404 Santa Maria - RS CEP: 97110-802 E-mail: jozimoraeslima@gmail.com

RESUMO

OBJETIVO: correlacionar os tempos máximos de fonação (TMF) e as relações entre os fricativos /s/ e /z/ (s/z) e entre /e/ não vozeado e a vogal /e/ (ė/e) de mulheres sem afecções laríngeas.

MÉTODO: participaram 60 mulheres com média de 21,56 anos de idade. Coletaram-se os TMF/ė/, /e/, /s/ e /z/ e calcularam-se a relação s/z e a relação ė/e, com padrão de normalidade para as relações de 0,8 a 1,2; para os TMF/s/ e /z/, entre 15,57 e 34,17s; para o TMF/ė/, entre 16 a 18s; e para o TMF/e/, entre 14,04 e 26,96s. Testes de Lilliefords, Spearmann, Binomial e Mann-Whitney com nível de significância de 5%.

RESULTADOS: correlação positiva entre TMF/s/ e TMF/ė/, TMF/z/ e TMF/e/, TMF/s/ e TMF/z/, e TMF/ė/ e TMF/e/. Não houve correlação entre as relações s/z e ė/e, nem diferenças entre a relação ė/e, enquanto a relação s/z foi significantemente normal. TMF/ė/ e TMF/e/ significantemente diminuídos; TMF/s/ e TMF/z/ significantemente normais. TMF/ė/ significantemente menor do que TMF/s/; TMF/e/ significantemente menor do que TMF/z/.

CONCLUSÃO: os fonemas /s/ e /z/ isolados e sua relação ficaram dentro da normalidade e as relações s/z e ė/e não apresentaram correlação. Os TMF/ė/ e TMF/e/ mostraram-se diminuídos em relação à normalidade. O TMF/ė/ foi menor do que TMF/s/ e o TMF/e/ foi menor do que TMF/z/, possivelmente devido ao modo articulatório dos fricativos ter aumentado o tempo de emissão, independentemente do controle do nível glótico e respiratório.

Descritores: Voz; Fonação; Qualidade da Voz; Laringe

ABSTRACT

PURPOSE: correlate the maximum phonation time (MPT) and the relations between the fricative /s/ and /z/ (s/z) and between the vowels /ė/ and /e/ (ė/e) of women without laryngeal disorders.

METHOD: participants were 60 women with a mean of 21.56 years old. Were collected MPT/ė/, /e/, /s/ and /z/ and calculated the relations ė/e and s/z, with normal pattern for the relationship from 0.8 to 1.2; for MPT/s/ and MPT/z/, between 15.57 and 34.17s; for the MPT/ė/, between 16 to 18s; and for the MPT/e/, between 14.04 and 26.96s. Lilliefords, Spearman, Binomial and Mann-Whitney tests with a significance level of 5%.

RESULTS: positive correlation between MPT/s/ and MPT/ė/, MPT/z/ and MPT/e/, MPT/s/ and MPT/z/, and MPT/ė/ and MPT/e/. There was no correlation between the ratios s/z and ė/e, no differences between the relative ė/e, while the relation s/z was significantly normal. MPT/ė/ and MPT/e/ significantly reduced; MPT/s/ and MPT/z/ significantly normal. MPT/ė/ significantly lower than MPT/s/; MPT/e/ significantly lower than MPT/z/.

CONCLUSION: the phonemes /s/ and /z/ isolates and its relation were within normal and the relations s/z and ė/e don't show correlation. The MPT/ė/ and MPT/e/ were decreased relative to normal. The MPT/ė/ was lower than MPT/s/ and MPT/e/ smaller than the MPT/z/, possibly due to the way of articulation fricative have increased transmission time, regardless of the level control glottal and respiratory.

Keywords: Voice; Phonation; Voice Quality; Larynx

INTRODUÇÃO

A coordenação pneumofonoarticulatória trata da relação equilibrada entre o controle da função respiratória, da eficiência glótica e do equilíbrio ressonantal e articulatório. Dessa forma, comprometimentos nos níveis relacionados à produção da voz podem resultar em sobrecarga do aparato fonador, aumento de pausas durante a fala, utilização do ar de reserva, alterações na qualidade vocal e ou fadiga vocal1,2 .

A produção vocal eficiente relaciona-se ao uso adequado da musculatura respiratória, que proporciona a quantidade de ar necessária à fonação, e à coaptação glótica completa e firme para não permitir o escape aéreo. Além disso, a ressonância e a articulação adequadas também contribuem para a boa qualidade vocal e inteligibilidade da fala2,3.

Na prática clínica fonoaudiológica, a avaliação dos tempos máximos de fonação (TMF) é realizada por meio da sustentação de emissões vozeadas ou sonoras (com presença de vibração/sonorização glótica) e não vozeadas, áfonas ou surdas (sem participação de fonte glótica). Duas relações entre emissões sustentadas vêm sendo utilizadas na avaliação de voz, a relação s/z e a relação entre /e/ não vozeado e /e/ vozeado (ė/e), com o objetivo de verificar a eficiência glótica e o controle respiratório. De acordo com a literatura, o tempo de sustentação da emissão vozeada deve ser o mesmo da emissão não vozeada, resultando em uma relação igual a um2-7.

A relação s/z2 consiste em sustentar isoladamente cada fonema o máximo de tempo possível e, após, realizar o cálculo de divisão entre os resultados obtidos. O objetivo dessa avaliação consiste em identificar a adequação entre a inserção da fonte glótica à friccional, presença de escape aéreo ou presença de hipercontração glótica1,2,4,8.

A relação ė/e4 apresenta os mesmos objetivos da relação s/z, sendo justificada a utilização da vogal /e/ pela posição intermediária de língua, lábios e mandíbula, dentre as vogais orais. A emissão dessa vogal não apresenta bloqueio articulatório linguodental como a emissão dos fricativos /s/ e /z/ e, desta forma, a vogal /e/ evidencia o controle respiratório associado ao controle glótico. A emissão de /e/ não vozeado, realizada com a mesma posição articulatória da vogal /e/, porém sem vibração de pregas vocais, apenas com a saída sustentada do ar, sem qualquer tipo de ruído, evidencia o controle respiratório. Devido ao /ė/ não apresentar interferência glótica ou qualquer tipo de estreitamento ou oclusão do trato vocal, tal relação poderia proporcionar resultados mais fidedignos, já que o paciente controla a saída progressiva do ar por meio exclusivo de seu suporte respiratório3-5,9,10.

O fricativo não vozeado /s/ e a emissão não vozeada da vogal /e/ possibilitam a verificação do controle respiratório, uma vez que não há vibração da fonte glótica em suas produções e os fonemas vozeados, fricativo /z/ e vogal /e/, possibilitam verificar a eficiência glótica e sua interação com o nível respiratório1-3,8.

Com base no exposto, o objetivo do trabalho foi correlacionar TMF e as relações entre os fricativos /s/ e /z/ (s/z) e entre /e/ não vozeado e a vogal /e/ (ė/e) de mulheres sem afecções laríngeas (AL).

MÉTODO

Trata-se de estudo transversal observacional analítico, de caráter quantitativo e retrospectivo, com informações obtidas em banco de dados de pacientes atendidos no setor de voz de uma clínica-escola de Fonoaudiologia.

A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da instituição de origem (23081.016945/2010-76) e todos os indivíduos assinaram previamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando a utilização dos dados das avaliações em pesquisas científicas, desde que mantido sigilo sobre a identidade.

Os critérios de inclusão adotados para a seleção dos registros do banco de dados foram: dados completos da anamnese; diagnóstico otorrinolaringológico com ausência de AL; sexo feminino devido ao predomínio desse sexo no banco de dados e pelo maior número de estudos em voz na literatura envolvendo mulheres11-17; idades entre 18 e 44 anos, haja vista que nessa faixa etária o aparato fonador já passou pelo período de muda vocal12,13,18 e ainda não sofreu a influência das alterações hormonais e estruturais decorrentes do envelhecimento12,13, além dos dados completos referentes aos TMF/s/, /z/, /ė/, /e/ e às medidas das relações s/z e ė/e.

Os critérios de exclusão adotados foram: relato ou diagnóstico de alterações neurológicas, endocrinológicas, psiquiátricas, gástricas e respiratórias11-13,19,20; registro de perdas auditivas ao exame audiológico de rotina da clínica-escola14,20; registro de tratamento fonoaudiológico e/ou de técnica de canto prévios à data da avaliação; ser profissional da voz, pela possibilidade de que o sujeito já tivesse uma voz treinada; ser fumante e/ou etilista2,14,20.

A partir da aplicação dos critérios de inclusão e de exclusão, foram selecionados 60 sujeitos com idades entre 18 e 44 anos (média 21,56), sendo utilizadas as medidas dos TMF não vozeados: fricativo /s/ e emissão de /ė/; e dos vozeados: fricativo /z/ e vogal /e/ para obtenção das relações ė/e e s/z. Tais medidas foram coletadas por diferentes avaliadores de maneira padronizada e em sala acusticamente tratada.

As emissões não vozeadas, surdas ou áfonas são indicadas para a verificação do controle respiratório, uma vez que não ocorre vibração de pregas vocais em sua produção e os fonemas vozeados ou sonoros são indicados para verificar a interação entre o nível respiratório e a eficiência glótica, uma vez que há a participação da vibração das pregas vocais1-3,8.

Para a coleta dos TMF, os indivíduos foram orientados a permanecer em posição ortostática, inspirar profundamente pelo nariz e realizar as emissões em loudness e pitch habituais, por três vezes, até o final da expiração sem entrar no ar de reserva expiratória, considerando-se, neste estudo, o maior valor de sustentação obtido1,3,6,9,11,13,14,18,21-25.

Para a emissão de /ė/, os sujeitos foram instruídos a permanecer com a mesma posição articulatória da vogal /e/ sustentando a expiração do ar de modo áfono/surdo, sem ocorrer sonorização glótica ou qualquer tipo de ruído4,5. Segundo a literatura, "produzindo a emissão como se fosse um bafinho muito leve para embaçar um espelho"4.

O padrão de normalidade adotado para as relações compreendeu valores entre 0,8 e 1,2, sendo que valores diminuídos foram considerados indicativos de hipercontração glótica, e valores aumentados foram considerados sugestivos de escape aéreo durante a fonação1-3,4,21.

Para os valores de TMF/s/ e TMF/z/ isolados, foram considerados dentro da normalidade os valores entre 15,57 e 34,17s2,18,21. Para o TMF/ė/, os valores de normalidade foram de 16 a 18s4,9. Para o TMF/e/, utilizaram-se como padrão de normalidade os valores de 14,04 a 26,96s1,2.

Os TMF/z/ e TMF/e/ diminuídos foram considerados como sugestivos de escape aéreo durante a fonação e os aumentados foram considerados sugestivos de hipercontração glótica durante a fonação. Os TMF/s/ e TMF/ė/ diminuídos foram considerados como sugestivos de falta de controle expiratório à fonação e os aumentados foram sugestivos de controle do fluxo expiratório melhor que o esperado1-3.

A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da instituição de origem (23081.016945/2010-76) e todos os indivíduos assinaram previamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando a utilização dos dados das avaliações em pesquisas científicas, desde que mantido sigilo sobre a identidade.

Após a tabulação dos dados, testou-se a normalidade das variáveis (teste Lilliefords), e optou-se pelo teste de correlação de Spearmann para verificar a correlação entre os resultados dos TMF e das relações s/z e ė/e. O teste binomial foi usado para verificar a diferença entre as proporções dos valores aumentados, diminuídos e normais de todas as variáveis em questão. O teste de Mann-Whitney foi usado para verificar a diferença entre as médias de TMF dos fonemas vozeados e dos não vozeados. O nível de significância adotado foi de 5% (p < 0,05).

A classificação dos valores de correlação foi: correlação bem fraca (0 a 0,19); correlação fraca (0,20 a 0,39); correlação moderada (0,40 a 0,69); correlação forte (0,70 a 0,89); correlação muito forte (0,90 a 1,00).

RESULTADOS

Foram avaliados 60 sujeitos, com idades entre 18 e 44 anos (média 21,56 anos), dos quais se verificaram os valores dos TMF/ė/, TMF/e/, TMF/s/ e TMF/z/ e calcularam-se as relações ė/e e s/z.

Na Tabela 1, encontram-se médias dos TMF dos fonemas estudados e a diferença significante entre os TMF/ė/ e TMF/s/ e entre TMF/e/ e TMF/z/, sendo que os fonemas não vozeados apresentaram valores significantemente maiores.

Na Tabela 2, apresenta-se a correlação entre os TMF/ė/, TMF/e/, TMF/s/ e TMF/z/, havendo correlação significante moderada entre TMF/s/ e TMF/ė/; forte entre TMF/z/ e TMF/e/; forte entre TMF/z/ e TMF/s/; e fraca entre TMF/e/ e TMF/ė/.

Na Tabela 3, estão expostas as diferenças entre os resultados diminuídos, aumentados e normais das relações ė/e e s/z, e dos TMF isolados, ocorrendo significância para: relação s/z normal; TMF/ė/ diminuído, quando comparado aos resultados normais e aumentados; TMF/ė/ aumentado apenas quando comparado aos resultados normais; TMF/e/ diminuído; TMF/s/ e TMF/z/ normais, quando comparados aos resultados diminuídos e aumentados; TMF/s/ e TMF/z/ diminuídos, quando comparados aos resultados aumentados.

Na Tabela 4, aparecem os valores da correlação entre as relações s/z e ė/e, não havendo correlação.

DISCUSSÃO

As relações entre as emissões vozeadas e não vozeadas têm como objetivo verificar a ocorrência de hipercontração ou de deficiência na coaptação das pregas vocais em pacientes da área de voz, bem como o controle de seu suporte respiratório em interação com a ação glótica. Tais relações contribuem com o diagnóstico e planejamento terapêutico de pacientes com disfonias2,3. A medida isolada dos TMF não fornece informação suficiente para diferenciar os comprometimentos do suporte respiratório e da eficiência laríngea2.

A relação s/z é obtida pela divisão do TMF do fonema /s/ pelo /z/ e é amplamente utilizada na literatura1,5,6. Na relação ė/e, a coleta do TMF/ė/ possibilita verificar como o indivíduo controla a saída progressiva do ar exclusivamente por meio do suporte respiratório. Com isso, permite evidenciar deficiências no nível respiratório, caso o tempo de sustentação seja menor do que 16s4,5,9.

Com base nas médias das emissões não vozeadas encontradas neste estudo (TMF/ė/ de 14,35s e TMF/s/ de 18,04s), pôde-se verificar que, apesar de os sujeitos não possuírem treinamento respiratório, o valor do TMF/s/ foi significantemente maior do que o do TMF/ė/ (Tabela 1), concordando com os achados de outro trabalho em que os autores atribuíram essa discrepância à presença do bloqueio articulatório de /s/ que impede uma avaliação adequada do controle isolado do nível respiratório, como é possível verificar em /ė/ 26.

No entanto, houve correlação positiva moderada entre o TMF dessas duas emissões (Tabela 2), resultado também encontrado em outro estudo26, o que justifica a utilização de ambas as medidas para verificação da coordenação do uso do ar expiratório para a emissão.

Quanto aos fonemas vozeados, observou-se correlação positiva forte significante entre os TMF/e/ e TMF/z/ (Tabela 2). Apesar disso, encontrou-se diferença significante entre as médias de TMF/e/ e TMF/z/ (Tabela 1), evidenciando a diferença articulatória entre tais fonemas, onde o modo articulatório de /z/ prolonga o tempo de emissão sonora, o que não ocorre com a vogal /e/ livre de obstruções do trato vocal.

Torna-se interessante salientar que o aspecto articulatório da emissão de um TMF deve ser levado em consideração pelos fonoaudiólogos durante a avaliação clínica de voz, pois no momento em que se pretende avaliar apenas o controle do nível respiratório à emissão, necessita-se de uma medida que não sofra influências do nível glótico e ou articulatório. Por exemplo, no fonema fricativo não vozeado /s/, provavelmente os resultados não sejam fidedignos quanto à avaliação do controle respiratório, já que o tempo de sustentação do fluxo aéreo sonorizado pela glote pode estar sendo prolongado pelo estreitamento que ocorre na cavidade oral nesse fonema3-5.

Nesta pesquisa, verificou-se correlação positiva forte entre TMF/s/ e TMF/z/ e correlação positiva fraca entre TMF/ė/ e TMF/e/ (Tabela 2), mostrando que os valores de /s/ e /z/ ficaram mais próximos, reforçados pelo resultado da relação s/z também significantemente normal no grupo estudado (Tabela 3), o que pode estar relacionado à explicação anterior sobre o controle da sustentação dos fricativos por meio do seu modo articulatório.

Tais resultados vão ao encontro de pesquisa que mostrou TMF/s/ e TMF/z/ significantemente reduzidos em indivíduos com disfonia organofuncional, mas com relação s/z normal3. Resultados também semelhantes a outro estudo com sujeitos gagos22, mostrando que a relação s/z sofre grande influência da articulação dos TMF de seus fonemas.

As relações ė/e e s/z não apresentaram correlação (Tabela 4), mostrando que seus resultados não se correspondem, ao contrário do que seria esperado, uma vez que ambas as medidas se propõem a avaliar o mesmo fenômeno, divergindo de estudo que verificou correlação positiva moderada entre essas relações27.

Outro aspecto importante que pode explicar a ausência de correlação entre ambas as relações refere-se à relação ė/e ter o mesmo padrão de normalidade da relação s/z. O valor apontado pela literatura para o TMF/e/ é o mesmo dos TMF das demais vogais /a/, /i/ e /u/, entre 14,04s e 26,96s1,2 e o valor do TMF/ė/ está entre 16 e 18s4. Com base nesses padrões de normalidade, a possibilidade matemática da relação ė/e ter valor próximo de um torna-se mais difícil.

No presente estudo, os resultados do TMF/ė/ da maioria dos sujeitos encontraram-se significantemente diminuídos ou aumentados com média de 14,35s (Tabelas 1 e 3), abaixo da normalidade indicada pelo valor de referência da literatura4. O único estudo encontrado sobre TMF/ė/, também com mulheres, obteve valor médio de 10,43s5 também significantemente menor do que os 16s propostos4. Desta forma, com base nesses trabalhos e como há carência de estudos que estabeleçam o padrão de normalidade do TMF/ė/, há a possibilidade de ele ser menor do que 16s.

Os valores reduzidos de TMF/ė/ desta pesquisa também podem ser justificados pelo fato de os sujeitos nunca terem realizado treino respiratório, apresentando inabilidade no controle isolado da musculatura respiratória para sustentar a emissão como ocorre com esse TMF que imita a articulação da vogal /e/, mas sem o controle em nível glótico, uma vez que não é vozeado1,4.

No que se refere à análise do TMF/s/, o presente trabalho encontrou média de 18,04s e maioria significante dentro da normalidade, além de maioria significante com resultados diminuídos, quando comparados aos aumentados (Tabela 1 e 3), convergindo com pesquisa que encontrou valores médios e medianos dentro do intervalo de 15 a 25s indicado pela literatura para mulheres adultas5.

As diferenças entre os não vozeados TMF/s/ e TMF/é/ podem também ser explicadas foneticamente ao se considerar a postura do trato vocal adotada em cada uma dessas emissões. O modo articulatório do fricativo línguo-alveolar /s/ consiste em lábios entreabertos, dentes ligeiramente separados, ápice da língua apoiado atrás dos incisivos inferiores e bordos levemente apoiados na região dos molares superiores, formando um canal na parte central por onde o ar expiratório passará. Esse estreitamento do trato vocal diminui seu diâmetro e pode favorecer o prolongamento temporal da passagem do ar expiratório pelo trato vocal estreitado, aumentando o TMF/s/, mesmo que o controle expiratório não seja tão eficiente. Isso não ocorre com a emissão de /é/, que adota a postura articulatória da vogal /e/ com trato vocal aberto, sem oclusões ou estreitamentos e, portanto, sem barreiras à livre passagem do ar expiratório que fica sujeito apenas à eficiência do controle em nível respiratório1,4,5,9,10,16,21,26.

Na literatura21, há discussão sobre a validade da utilização da relação s/z com efeito diagnóstico, pois em alguns trabalhos 3,19,27 houve redução dos TMF dos fricativos isolados, mas com a relação s/z dentro da normalidade. Em estudo de indivíduos com paralisia unilateral de prega vocal em abdução, os valores da relação s/z foram aumentados, sugerindo incompetência glótica, enquanto em paralisias com prega vocal em posição mediana, a relação s/z apresentou valores dentro da normalidade28. Outra pesquisa verificou que a relação s/z se apresentou dentro da normalidade em sujeitos sem nódulos vocais e no grupo com nódulos a relação evidenciou falta de coaptação glótica18. Diante disso, é importante analisar os valores de TMF/s/ e TMF/z/ isoladamente, o fluxo de ar, e a loudness durante a emissão, para, então, determinar se a relação s/z é válida para o sujeito avaliado3.

O presente estudo verificou maioria significante de sujeitos com valores de TMF/e/ diminuídos (Tabela 3), porém não foram encontrados na literatura trabalhos que utilizassem o TMF da vogal /e/ isoladamente para a pesquisa de eficiência glótica, coordenação das forças aerodinâmicas da respiração e mioelásticas da laringe e qualidade vocal. Entretanto, há estudos que utilizam o TMF das vogais ou sua média como forma de pesquisar tais aspectos, haja vista que os parâmetros de normalidade são os mesmos18,28,29.

Em pesquisa sobre o TMF das vogais /a/, /i/ e /u/ de mulheres adultas com nódulos vocais, observou-se que 30% da amostra apresentou TMF diminuído, sugerindo escape aéreo transglótico à fonação29. O mesmo foi verificado em outro estudo com resultados significantes18.

Trabalho realizado com 86 indivíduos com paralisia unilateral de prega vocal verificou média dos TMF das vogais /a/, /i/ e /u/ diminuída na maioria dos sujeitos, sendo que ela foi progressivamente diminuindo à medida que a posição da prega paralisada se tornava mais abduzida28. Outra pesquisa mostrou que as AL de borda de prega vocal interferem na coaptação glótica e no aproveitamento do ar durante a fonação resultando em TMF de vogais significantemente reduzidos29.

A partir dos resultados encontrados, percebe-se a necessidade de novos estudos com população de sujeitos normais para confirmar os padrões de normalidade das medidas que são comumente usadas na prática clínica dos fonoaudiólogos que trabalham na área de Voz. Além disso, salienta-se a importância da análise conjunta de todos os dados das avaliações fonoaudiológicas para a correta interpretação dos resultados2.

CONCLUSÃO

Os fonemas /s/ e /z/ isolados e sua relação ficaram dentro da normalidade e as relações s/z e ė/e não apresentaram correlação. Os TMF/ė/ e TMF/e/ mostraram-se diminuídos em relação à normalidade. O TMF/ė/ foi menor do que TMF/s/ e o TMF/e/ foi menor do que TMF/z/, apesar de terem se correlacionado positivamente, possivelmente devido ao modo articulatório dos fonemas fricativos ter aumentado o tempo de emissão, independentemente do controle do nível glótico e respiratório.

Os achados mostram a divergência dos resultados das relações entre TMF e dos TMF isolados, apesar de se proporem a medir o mesmo fenômeno da produção vocal, havendo necessidade de mais pesquisas que isolem as questões articulatórias e que aprofundem o conhecimento acerca dos valores de normalidade para melhor avaliar o cliente da área de voz.

Fonte de auxílio: CNPq; CAPES; FAPERGS

Conflito de interesses: inexistente

Recebido em: 22/06/2012

Aceito em: 13/11/2012

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    Joziane Padilha de Moraes Lima
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Out 2013

    Histórico

    • Recebido
      22 Jun 2012
    • Aceito
      13 Nov 2012
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