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Interface Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional: integração de saberes científicos de campos de conhecimento

RESUMO

Objetivo:

analisar a produção científica nacional brasileira da Fonoaudiologia na interface com a Terapia Ocupacional (TO), a partir de revisão integrativa da literatura.

Métodos:

foi realizada seleção dos artigos publicados nos periódicos nacionais do campo da TO: Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional da UFSCar, Revista de Terapia Ocupacional da USP, Revista Baiana da Terapia Ocupacional e Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, com emprego dos descritores “fonoaudiologia, fonoaudiólogo e terapia fonoaudiológica”. Os artigos foram analisados quantitativa e qualitativamente.

Resultados:

foram selecionadas 10 publicações entre 2000 e 2017, com maior quantidade no ano de 2015. Os principais achados apontam para a área da linguagem como a mais prevalente, revelando conexão entre Fonoaudiologia e TO. A Tecnologia Assistiva, particularmente com as crianças, constitui-se em um campo comum entre as profissões, com a maior frequência de aparição.

Conclusão:

a análise da produção científica demonstrou que a parceria entre a Fonoaudiologia e a TO apareceu sob diferentes objetivos e públicos como intervenção precoce, ações na múltipla deficiência, com a criança deficiente e família, com autistas em equoterapia, na inclusão escolar e em tecnologia assistiva, este último com maior frequência. Tais achados possibilitaram reflexões sobre a interdisciplinaridade das duas profissões e campos de saberes.

Descritores:
Interdisciplinaridade, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia; Disseminação de Informação

ABSTRACT

Objective:

to analyze the national scientific production of Speech-Language Therapy in the interface with Occupational Therapy (OT) based on an integrative literature review.

Methods:

a selection of articles published in Brazilian journals in the field of Occupational Therapy: Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional of UFSCar, Revista de Terapia Ocupacional of USP, Revista Baiana da Terapia Ocupacional and Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional with the descriptors “speech therapy, speech therapist and speech-language therapy”. The sample, consisting of 10 articles, was analyzed with quantitative and qualitative procedures.

Results:

the search showed publications from 2000 to 2017, with the largest number of articles in 2015. The main findings point to the language area as the most prevalent, revealing a connection between speech therapy and OT. Assistive Technology, particularly adopted with children, is a common field among the professional areas studied, with the highest incidence in the articles.

Conclusion:

the analysis of the scientific production showed that the partnership between Speech-Language Therapy and OT appeared under different objectives and the public, as early intervention, actions in multiple disabilities, with the disabled child and their family, with autists in hippotherapy, in school inclusion and in assistive technology, the latter more frequently. These findings allowed reflections on the interdisciplinarity of both professions and fields of knowledge.

Keywords:
Interdisciplinarity; Occupational Therapy; Speech, Language and Hearing Scienses; Information Dissemination

Introdução

O presente estudo busca trazer reflexões sobre o tema da interdisciplinaridade de duas profissões e campos de saberes: a terapia ocupacional e a fonoaudiologia, a partir de um exame da literatura.

“Partindo da criação de um paradigma mais abrangente que supere a dominação do modelo bio-médico e as concepções reducionistas das ciências sociais, o âmbito científico da saúde tem a seu favor sua ligação direta e estratégica com o mundo vivido, o mundo do sofrimento, da dor e da morte com o qual é chamado a se confrontar diariamente. Esse apelo cotidiano do serviço e da política social traz a área da saúde para a arena inquestionável da vida. E é no diálogo com esse radicalmente humano que está seu escudo para o salto qualitativo interdisciplinar” 1 1. Minayo MCS. Interdisciplinaridade: uma questão que atravessa o saber, o poder e o mundo vivido. Medicina. 1991;24(2):70-7. .

A saúde é constituída no modo de viver de cada um apresentando diferenças que vão depender das marcas sociais, culturais, familiares, das crenças e experiências políticas, levando em consideração as dimensões social, biológica e ético-política da vida22. Capazzolo AA, Casetto SJ, Imbrizi JM, Henz AO, Kinoshita RT, Queiroz MFF. Narrativas na formação comum de profissionais de saúde. Trab. Educ. Saúde. 2014;12(2):443-56..

Acredita-se que a intervenção de equipes constituídas por mais de uma especialidade torna mais acessível o cuidado pautado na promoção, prevenção e recuperação que leve em consideração todos os aspectos do sujeito e não apenas a doença33. Ferigollo JP, Kessler TM. Physiotherapy, speech, language and hearing sciences and occupational therapy - interdisciplinary practice in disorders of human communication. Rev. CEFAC. 2017;19(2):147-58..

Pesquisa relativa à interdisciplinaridade na área da saúde foi desenvolvida objetivando discutir os fundamentos, a importância, os obstáculos do trabalho em equipe bem como as dimensões da interdisciplinaridade, propondo recomendações. Afirma que ao se abordar a importância da Equipe Interdisciplinar no tratamento de qualidade na saúde, encontram-se implícitas nesta prática algumas categorias que merecem maior compreensão44. Lopes RE, Malfitano APS, Oliver FC, Sfair SC, Medeiros TJ. Pesquisa em terapia ocupacional. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo. 2010;21(3):207-14..

“Primeiramente, reconhecer que o espaço da instituição onde se desenvolve a ação é fundamental para direcionar a prática profissional, privilegiando a pesquisa ou a assistência à saúde. Essas finalidades, isto é, a produção de conhecimento ou a intervenção, direcionam a reflexão, devendo a interdisciplinaridade ser analisada nas duas vertentes. Em segundo lugar, o tratamento de qualidade indica uma concepção ético-política que traduz a noção de sujeito ao enfermo ou aos segmentos que demandam serviços e ações de saúde. Sujeito este que tem direitos a serem resguardados, sendo o primeiro, o direito a um tratamento de qualidade, traduzidos em aspectos que vão desde o direito à informação sobre seu estado de saúde, ao cuidado, com dignidade, em questões de vida diária. Esta concepção como que amplia a equipe, integrando os profissionais que detêm um saber científico com os demais agentes, com práticas e papéis específicos e que, também, estão em relação direta com o usuário e seus familiares” 1 1. Minayo MCS. Interdisciplinaridade: uma questão que atravessa o saber, o poder e o mundo vivido. Medicina. 1991;24(2):70-7. .

A autora11. Minayo MCS. Interdisciplinaridade: uma questão que atravessa o saber, o poder e o mundo vivido. Medicina. 1991;24(2):70-7. aponta a presença de duas dimensões da interdisciplinariedade que são bastante demarcadas, embora interligadas e interdependentes: uma se refere à dimensão relativa à construção do conhecimento e a outra refere-se à ação interventiva relativa à práxis interventiva.

Estudos têm sido desenvolvidos no sentido de descrever interfaces entre áreas de conhecimento, destacando-se no presente estudo, as advindas dos campos da saúde e educação com foco na fonoaudiologia.

Em 2001, a interdisciplinaridade entre fonoaudiologia e psicologia foram estudadas55. Carmem ASR. A interdisciplinariedade entre fonoaudiologia e psicologia. [dissertação]. Campinas (SP): Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica de Campinas; 2001. a partir de uma perspectiva descritiva de natureza documental. Objetivou caracterizar pacientes que frequentavam clínica particular de psicologia e fonoaudiologia, inclusive a integração entre fonoaudiologia e psicologia. Os resultados mostraram que as principais queixas para o campo da psicologia centraram nos problemas de comportamento e relacionamento, já no setor de fonoaudiologia, centram-se em problemas de fala, linguagem oral e escrita. Ênfase foi dada ao fato de ocorrerem queixas, durante as entrevistas fonoaudiológicas, relativas aos problemas emocionais e de relacionamento. A necessidade de trabalho de natureza interdisciplinar foi apontada e discutida como alternativas de intervenção.

Em 2013, foi desenvolvida uma pesquisa documental66. Bello SF. Análise de redes de colaboração científica entre educação especial e fonoaudiologia. [tese]. São Carlos (SP): Programa de Pós-Graduação em Educação Especial. Universidade Federal de São Carlos; 2013. objetivando reflexões sobre a interface entre fonoaudiologia e educação especial identificando-se referenciais teóricos utilizados por autores de teses e dissertações desenvolvidas em um Programa de Pós-Graduação em Educação Especial, durante os anos de 1981 a 2009, por meio da análise bibliométrica e da análise de redes de colaboração científica. Os resultados apontaram que dentre as temáticas mais prevalentes na interface fonoaudiologia encontra-se a deficiência auditiva, seja em relação a comportamentos na surdez, no ensino de leitura ou na deficiência intelectual em procedimentos de avaliação, diagnóstico e intervenção na linguagem oral e escrita.

Observa-se que em vários setores, públicos ou privados, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais integram a mesma equipe de saúde. Uma das atuais definições atribuídas à Terapia Ocupacional é que esta tem objetivado favorecer melhorias na saúde e no bem-estar a partir da compreensão de que todas as pessoas têm o direito de participarem plenamente da vida cotidiana, ou seja, têm o direito de escolherem suas ocupações e a forma de concretizá-las ou de superar as dificuldades que podem vir a impossibilitá-las 77. Polatajko HJ, Davi J, Stewart D, Cantin N, Amoroso B, Purdie L et al. Specifying the domain of concern: Occupational as a core. In: Townsend EA, Polatajko HJ (eds). Enabling occupation II: advancing an occupational therapy vision for health, well-being, and justice through occupation. 2nd ed. Ottawa, Ontario: Canadian Association of Occupational Therapists; 2013. p. 13-36.,88. Law M. Learning by doing: creating knowledge for occupational therapy. WFOT Bulletin. 2010;62(1):12-8. No campo da fonoaudiologia o compromisso com a Promoção da Saúde da população e com o desenvolvimento da linguagem transcende os limites tradicionais da clínica fonoaudiológica e das instituições públicas de saúde e educação e supera as demandas com alterações de linguagem, de maneira a envolver, como sujeitos das práticas de desenvolvimento, quaisquer cidadãos em suas relações e contextos sociais de convivência99. Penteado RZ. A linguagem no grupo fonoaudiológico: potencial latente para a promoção da saúde? [dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo; 2000.. Quando ocorre um distúrbio na comunicação, seja, por exemplo, na voz, na fala, na audição, na leitura ou na escrita, ele estará relacionado com os aspectos socioculturais e demográficos sendo que esses devem ser levados em consideração no momento do diagnóstico e no levantamento de informações a respeito do sujeito atendido88. Law M. Learning by doing: creating knowledge for occupational therapy. WFOT Bulletin. 2010;62(1):12-8. Os Distúrbios da Comunicação Humana são referência do campo de estudo da Fonoaudiologia, porém levando em consideração a abrangência da vida dos sujeitos atendidos e a necessidade de um cuidado integral outros profissionais, como fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais poderão contribuir para garantir a efetivação da habilitação ou reabilitação desses sujeitos. Sendo assim, compreende-se a necessidade dos profissionais dessas áreas se conhecerem e de reconhecerem a importância de um trabalho interdisciplinar em reabilitação que garanta a integralidade no cuidado dos sujeitos atendidos44. Lopes RE, Malfitano APS, Oliver FC, Sfair SC, Medeiros TJ. Pesquisa em terapia ocupacional. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo. 2010;21(3):207-14..

Considerando que as ações interdisciplinares para a atenção à saúde das pessoas têm sido defendidas e estimuladas há décadas, pressupõe-se a existência de conhecimentos produzidos e disseminados sobre esta temática em veículos de divulgação científica de campos específicos. No presente estudo, o foco recairá inicialmente nas produções do campo da terapia ocupacional. O objetivo deste estudo é analisar a produção científica nacional brasileira da Fonoaudiologia na sua interface com a Terapia Ocupacional.

Métodos

Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo de revisão integrativa1010. Souza MT, Silva MD, Carvalho R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein. 2010;8(1 Pt 1):102-6. da literatura científica nacional que objetiva sistematizar o conhecimento produzido, independentemente de suas metodologias ou filiação epistemológica, de forma a indicar o que está em evidência e/ou desconhecido1111. Grant MJ, Booth A. A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Info Libr J. 2009;26(2):91-108..

Composição da Amostra

A amostra ficou constituída por artigos divulgados nos seguintes periódicos: Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional da UFSCar (CaBTO), Revista de Terapia Ocupacional da USP (Revista TO-USP), Revista Baiana da Terapia Ocupacional (BAHIANA JOURNALS) e Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional (RevisBRATO). Estes periódicos foram definidos com a finalidade, de explorar e sistematizar o conhecimento deste campo, neste primeiro momento, analisando-se o que tem sido publicado em periódicos deste campo de conhecimento. Mediante os dados encontrados intenciona-se a realização de futuras pesquisas a partir dos periódicos da Fonoaudiologia nacionais e internacionais.

Destaca-se que foram consideradas apenas as publicações disponíveis online, sendo o período analisado do CaBTO de 1990 a 2018, e da Revista TO-USP de 2002 a 2018, a Revista BAHIANA de 2005 a 2018 e RevisBRATO de 2013 a 2018. Este período se justifica porque os Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional da UFSCar têm disponível online, em seu site, publicações a partir de 1990 e a Revista de Terapia Ocupacional da USP a partir de 2002, a Revista BAHIANA a partir de 2005 e RevisBRATO a partir de 2013.

Procedimentos para Coleta e Análise dos Dados

Para a busca dos artigos nas referidas revistas foram utilizadas as expressões “fonoaudiologia”, “fonoaudiólogo(a)” e “terapia fonoaudiológica”.

Como critério de inclusão, para composição da amostra, foram admitidos os artigos das revistas de Terapia Ocupacional que citaram ao menos uma das expressões de busca, independente do objetivo, população ou metodologia do estudo.

Foram recuperados 239 artigos na busca. Na sequência, foram excluídos os artigos que apesar de aparecerem na busca não continham as palavras no texto. Cabe destacar que a grande maioria dos artigos foram excluídos, pois a palavra “fonoaudiologia” aparecia pelo fato de muitos autores fazerem parte do departamento intitulado “Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina FMUSP, Universidade de São Paulo”, porém não haviam as palavras de busca no corpo do texto.

A Figura 1 apresenta a distribuição dos artigos recuperados em função dos descritores utilizados nas buscas, nas referidas revistas.

Figura 1:
Distribuição percentual dos artigos, de acordo com o aparecimento na busca x critérios de inclusão e exclusão para o estudo

Observa-se que a maioria dos artigos, 239 (96%), recuperados com descritores, foram excluídos pois não haviam as palavras de busca no corpo do texto. Assim, 10 artigos (4%) da amostra trouxeram pelo menos uma das palavras-chave no corpo do texto e trataram da Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional concomitantemente.

Os dados quantitativos foram analisados por meio da estatística descritiva de frequência e média de aparição nas revistas/periódicos e expressos em tabelas e gráficos. Os dados qualitativos, ou seja, relativos aos objetivos dos estudos e das ações conjuntas entre a terapia ocupacional e a fonoaudiologia, foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo1212. Bardin L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. e seguindo uma das dimensões descritas na literatura11. Minayo MCS. Interdisciplinaridade: uma questão que atravessa o saber, o poder e o mundo vivido. Medicina. 1991;24(2):70-7.: a dimensão de ação interventiva. Para isso, foi realizada a leitura e releitura dos artigos na íntegra para identificação de conteúdo reincidentes e passíveis de comporem categorias temáticas. A análise de conteúdo possibilitou a elaboração de duas categorias temáticas: “Objetivos e Bases Conceituais” e “Práxis: áreas de atuação, equipes de trabalho e público alvo”

Revisao da Literatura

No cômputo da frequência dos artigos em função das revistas, a Revista de Terapia Ocupacional da USP apresentou o maior número de artigos e a Revista Bahiana de Terapia Ocupacional não apresentou nenhum artigo que correspondesse com os critérios de composição da amostra. A Figura 2 ilustra a frequência de aparição dos artigos em cada veículo analisado.

Figura 2:
Distribuição do número de artigos incluídos na amostra em relação às revistas pesquisadas

Em relação à distribuição dos dez artigos no período analisado observa-se uma variação entre um a três artigos por ano, sendo que em alguns anos não houve publicações.

Figura 3:
Distribuição dos artigos selecionados em função do ano de publicação

A distribuição dos artigos no período estudado revelou que o ano de 2015 apresentou o maior número de publicações que abordaram a Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional concomitantemente.

Infere-se que o achado em relação ao anos de publicação possa ser um reflexo da portaria nº 2.488 de 21 de outubro de 2011 que aprova a “Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para Estratégia de Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS)”44. Lopes RE, Malfitano APS, Oliver FC, Sfair SC, Medeiros TJ. Pesquisa em terapia ocupacional. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo. 2010;21(3):207-14., onde é destacada a necessidade de um trabalho realizado em equipe e que possibilite o cuidado integral dos usuários do sistema. Além disso, a referida portaria afirma que as ações devem ser compartilhadas por meio de um processo interdisciplinar no qual possa ser realizado um trabalho em equipe e nos quais os núcleos profissionais possam integrar áreas técnicas e diferentes formações para enriquecer o campo comum e, assim, ampliar a capacidade de cuidado1313. Gattás MLB. Interdisciplinaridade em cursos de graduação na área de saúde da universidade de Uberaba-Uniube [tese]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2005..

A partir dos princípios e diretrizes da legislação do Sistema Único de Saúde percebe-se a necessidade de sensibilizar os profissionais de saúde para um olhar interdisciplinar que garanta a integralidade do cuidado na área, assim como a produção de conhecimento conjunta que fomente estas práticas interdisciplinares. A interdisciplinaridade surge então, como um caminho para melhor se compreender a complexidade do ser humano e para que se tenha uma visão articulada dele com o seu meio natural, para que assim seja possível construir e transformar esse meio44. Lopes RE, Malfitano APS, Oliver FC, Sfair SC, Medeiros TJ. Pesquisa em terapia ocupacional. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo. 2010;21(3):207-14..

A categoria temática “Objetivos e Bases Conceituais” (Figura 4) revela que a parceria entre a terapia ocupacional e a fonoaudiologia foi majoritariamente voltada para a Tecnologia Assistiva (N=4) seguida da Inclusão escolar (N=2). Outros objetivos e bases conceituais como a Intervenção Precoce, a Múltipla Deficiência, o Desempenho Funcional de Crianças Autistas na Equoterapia e a Criança Deficiente e sua Família apareceram apenas uma vez.

Na categoria temática “Práxis: áreas de atuação, equipes de trabalho e público alvo” (Figura 4), em relação as áreas da Terapia Ocupacional foram observadas a Intervenção Precoce, a Reabilitação Motora, o Desempenho Funcional e a Tecnologia Assistiva. No que diz respeito às áreas da Fonoaudiologia verificou-se a da Linguagem citada em todas as produções da Terapia Ocupacional. Entretanto, dois estudos incluíam outra área cada um. Um estudo incluía a área da Audiologia, pois envolvia um participante que demandava o uso de aparelho de amplificação sonora individual (AASI) para surdez e em outro artigo a área da Estimulação Orofacial em virtude de sequelas e demandas de paralisia cerebral.

Figura 4:
Categorias Temáticas dos estudos analisados

A área da Linguagem evidenciada relacionou a intervenção Fonoaudiológica com a da Terapia Ocupacional, em sua maioria, nos casos que envolviam a Tecnologia Assistiva, particularmente nos processos de reabilitação e nos processos de inclusão escolar.

A Tecnologia Assistiva foi definida no Brasil pelo Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) como uma área de conhecimento de característica multidisciplinar que compreende recursos, estratégias, metodologias, práticas e serviços com o objetivo de promover a funcionalidade e participação de pessoas com incapacidades visando autonomia, qualidade de vida e inclusão social1414. BRASIL. Tecnologia Assistiva. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. 2009. Disponível em: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/publicacoes/tecnologia-assistiva. Acessado em 15 de julho de 2019
http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/a...
. Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), segundo a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA), destina-se a compensar e facilitar, permanentemente ou não, prejuízos e incapacidades dos sujeitos com graves distúrbios da compreensão e da comunicação expressiva (gestual, falada e/ou escrita). É uma área da prática clínica, educacional e de pesquisa e, acima de tudo, um conjunto de procedimentos e processos que visam maximizar a comunicação, complementando ou substituindo a fala e/ou a escrita1515. American Speech Language Hearing Association, ASHA. Augmentative and alternative communication: knowledge and skills for service delivery, 2002. [acesso em 2019 Out 03]. Disponível em: URL: http://www.asha.org/policy/KS2002-00067
http://www.asha.org/policy/KS2002-00067...
. Preconiza-se que o fonoaudiólogo deve estar atento e sintonizado às diretrizes (guidelines) sobre CAA da American Speech-Language-Hearing Association (ASHA), as quais ressaltam as responsabilidades, os conhecimentos e as habilidades dos fonoaudiólogos com relação a essa área do conhecimento1515. American Speech Language Hearing Association, ASHA. Augmentative and alternative communication: knowledge and skills for service delivery, 2002. [acesso em 2019 Out 03]. Disponível em: URL: http://www.asha.org/policy/KS2002-00067
http://www.asha.org/policy/KS2002-00067...
. Desta forma, observa-se que a tecnologia assistiva mostra-se imprescindível para apoiar as diferentes etapas do desenvolvimento e oferece condições de participação social, onde o pensamento acerca da vida diária poderá ser expresso por meio da linguagem. Essa área de conhecimento tem caráter interdisciplinar e possibilita o envolvimento de muitos profissionais no trabalho, como engenheiros, educadores, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiras, assistentes sociais, oftalmologistas, especialistas em audição, protéticos e outras áreas. Trata-se de uma área constituída pela expertise de muitos profissionais que envolve, ainda, os usuários e seus familiares1515. American Speech Language Hearing Association, ASHA. Augmentative and alternative communication: knowledge and skills for service delivery, 2002. [acesso em 2019 Out 03]. Disponível em: URL: http://www.asha.org/policy/KS2002-00067
http://www.asha.org/policy/KS2002-00067...
. Dentre as diversas formas de Tecnologia Assistiva, destaca-se a Comunicação Alternativa e Suplementar, onde independente do sistema ou método escolhido, acredita-se ser adequado envolver o trabalho do profissional fonoaudiólogo em conjunto ao terapeuta ocupacional.

No que tange as equipes de trabalho, estas foram constituídas dependendo das necessidades dos usuários e considerando as realidades dos locais em que estavam sendo desenvolvidos os trabalhos.

Na atuação em parceria, o fonoaudiólogo pode realizar a primeira seleção de vocabulário, ensinar o sistema de símbolos, promover as estratégias de interação utilizando a Comunicação Alternativa, promover as habilidades de fala, percepção auditiva, leitura, escrita e linguagem de seus pacientes. O terapeuta ocupacional atua no acesso, implementação e integração dos aspectos motores e sensoriais, avalia e realiza a adequação postural nas diferentes atividades do dia-a-dia e atua no desenvolvimento do uso das mãos ou outra parte do corpo para o controle da Tecnologia Assistiva1616. Pelosi MB, Nunes LROP.Formação em serviço de profissionais da saúde na área de tecnologia assistiva: o papel do terapeuta ocupacional. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. 2009;19(3):435-44.. Nesta linha, sobre especialidades e equipes de trabalho1717. Givigi RCN, Mudo BC, Diógenes BS, Santos IMF. As alterações de linguagem e seus sentidos: efeitos de um trabalho fonoaudiológico em rede. Cad. Bras. Ter. Ocup. UFSCar. 2015;23(1):163-75., identificam-se três concepções distintas sobre trabalho em equipe, cada uma delas destacando os resultados, as relações e a interdisciplinaridade. Nos estudos que ressaltam os resultados, a equipe é concebida como recurso para aumento da produtividade e da racionalização dos serviços. Os estudos que destacam as relações tomam como referência conceitos da psicologia, analisando as equipes principalmente com base nas relações interpessoais e nos processos psíquicos. Na vertente da interdisciplinaridade concentram-se os trabalhos que trazem para discussão a articulação de saberes e a divisão do trabalho, ou seja, a especialização do trabalho em saúde.

Ainda quanto à Tecnologia Assistiva, o uso da comunicação suplementar e alternativa e sua relação com a linguagem, destaca-se que a comunicação define padrões de compreensão e expressão e assim criam-se redes de trocas entre interlocutores e ouvintes. Nessa perspectiva, a linguagem é construída na relação com o outro e a criança, a qual busca estabelecer significados que vão pouco a pouco constituindo sua própria linguagem1818. Manzini MG, Assis CP, Martinez CMS . Contribuições da Terapia Ocupacional na área da comunicação suplementar e/ou alternativa: análise de periódicos da Terapia Ocupacional. Cad. Bras. Ter. Ocup. UFSCar. 2013; 21(1):59-73.. No trabalho com a tecnologia assistiva a atividade poderá ser o uso de uma prancha de comunicação, de um comunicador, o desenvolvimento da autonomia no deslocamento com uma cadeira de rodas motorizada, uma atividade de culinária com recursos adaptados, brincadeiras adaptadas ou a escrita facilitada por uma máquina elétrica, letras emborrachadas ou no computador1919. Pelosi MB. O papel do terapeuta Ocupacional na Tecnologia Assistiva. Cad. Bras. Ter. Ocup. UFSCar. 2005;13(1):39-45.. Em revisão integrativa da literatura internacional recente sobre a intervenção da terapia ocupacional e o uso de recurso de comunicação alternativa em crianças com paralisia cerebral, os autores2020. Manzini MG, Cruz DMC, Martinez CMS. Intervention in occupational therapy with alternative communication resources for persons with cerebral palsy: an integrative review. TJPRC: International Journal of Physiotherapy & Occupational Therapy. 2017;3(1):17-26. afirmaram que os estudos selecionados demostraram o uso dos benefícios dos recursos e métodos da Comunicação Suplementar Alternativa nas intervenções de terapia ocupacional. Além disso, os estudos mostraram que a eficácia desses recursos para as pessoas com problemas complexos as necessidades de comunicação dependem do ensino adequado dessas metodologias para familiares e professores. A atuação da terapia ocupacional com Comunicação Suplementar Alternativa fica potencializada quando o foco recai nas atividades significativas dos diferentes contextos de desenvolvimento humano com o intuito de promover o engajamento ocupacional2121. Batorowicz B. Contribution of technology to communication quality: research and practices. In: Deliberatio D, Nunes DR, Goncalves MJ (orgs). Trilhando Juntos a Communicacao Alternativa [Treading Together Alternative Communication]. Marilia, Brazil: APBEE, 2017. p.31-46.. Tais afirmações fortalecem a ideia da interface indispensável entre o trabalho do terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo para atingir os objetivos e justifica a prevalência do tema nos artigos encontrados.

Em relação aos achados sobre o público alvo, as crianças com deficiência foram as que mais prevaleceram nos artigos da amostra. Infere-se que isto se deva ao fato de ambas as áreas ainda estarem fortemente atuantes na reabilitação de crianças com deficiência, principalmente em instituições públicas e organizações não governamentais voltadas para infância e deficiência, seja ela física, mental ou intelectual. Na sequência, também foram mencionados como publico alvo nos estudos da amostra adultos enquanto os familiares das crianças, educadores e/ou profissionais terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e psicólogos.

Verificou-se também que grande parte dos autores que apareceram na busca fazem parte de um departamento que contém a palavra fonoaudiologia em seu nome sendo escasso o número de publicações que realmente tratam da Fonoaudiologia como ciência. Desta forma é possível afirmar que apesar de estarem atrelados ao mesmo departamento e área de atuação, não há muitos estudos envolvendo Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia de forma inter, trans ou multidisciplinar.

Estes dados revelam uma carência publicação de estudos que relacionam a Terapia Ocupacional e a Fonoaudiologia, mesmo tendo estas profissões na prática atuado muitas vezes em conjunto por conta das demandas da clientela. Assim, há a necessidade de se discutir as respectivas esferas de trabalho no que concerne aos objetos de estudo e atuação que são comuns, criando consenso entre as categorias e vislumbrando publicações conjuntas e complementares para o fortalecimento de ambas as áreas.

A ênfase na ação interdisciplinar surge na área da saúde no momento em que o modelo biomédico se torna insuficiente para responder as necessidades advindas da população as quais podem estar relacionadas a fatores sociais e econômicos1010. Souza MT, Silva MD, Carvalho R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein. 2010;8(1 Pt 1):102-6.,1111. Grant MJ, Booth A. A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Info Libr J. 2009;26(2):91-108.. Percebe-se a necessidade de desconstruir a prática pautada no corriqueiro e tarefeiro das formações e se propor conversas entre disciplinas que venham a se concretizar na prática e não apenas na aquisição de conhecimento44. Lopes RE, Malfitano APS, Oliver FC, Sfair SC, Medeiros TJ. Pesquisa em terapia ocupacional. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo. 2010;21(3):207-14., indo além, criando estudos, pesquisas e consequentes publicações que tornem ambas as áreas mais robustas.

Ao buscar pela palavra-chave Fonoaudiólogo(a) nas produções da Terapia Ocupacional, objetivou-se encontrar aspectos de colaboração entre os profissionais da Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional.

A palavra “colaboração” pode ser definida, de acordo com dicionário da Língua Portuguesa, como “Ato ou efeito de colaborar; ajudar, auxiliar: trabalhar em colaboração”. Percebe-se que o conceito é amplo, contudo não há como negar que a colaboração, por excelência, é um processo social e de interação, que pode ser desencadeado por diversos motivos e de diferentes formas66. Bello SF. Análise de redes de colaboração científica entre educação especial e fonoaudiologia. [tese]. São Carlos (SP): Programa de Pós-Graduação em Educação Especial. Universidade Federal de São Carlos; 2013.,2222. Vaz SA. As redes de colaboração científica no Brasil [tese]. Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação; 2009.. Em alguns ambientes de trabalho e pesquisas, observa-se a modalidade “consultoria colaborativa”2323. Fortuna CM. O trabalho de equipe numa unidade básica de saúde: produzindo e reproduzindo-se em subjetividades [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem; 1999., cujo é um estilo de interação entre dois ou mais parceiros que trabalham em conjunto na tomada de decisões, em busca de um objetivo comum. Tal prática é exposta na literatura pelos profissionais da Educação junto aos da Fonoaudiologia2424. King TW. Assistive Technology - Essential Human Factors. Boston: Allyn and Bacon; 1999., mas de acordo com os resultados, o mesmo não foi verificado entre Fonoaudiólogos(as) e Terapeutas Ocupacionais pois não encontrou-se produções conjuntas nas revistas do campo da terapia ocupacional, ainda que muito provavelmente a colaboração entre eles ocorra, de forma rotineira em clínicas, universidades ou instituições. Contudo, acredita-se que essa interação entre Fonoaudiólogo e Terapeuta Ocupacional, já vivenciada na prática, agregaria valor ao trabalho conjunto e publicações sobre o tema e poderiam criar novas perspectivas, ações reflexivas conjuntas e colaborativas.

Sabe-se que as causas de alterações de linguagem e de dificuldades de aprendizagem podem ser variadas, apesar de existirem muitos estudos indicando fatores neurológicos para tais problemas. Avanços na compreensão da neurobiologia dos processos de desenvolvimento da linguagem e aprendizagem, certamente irão contribuir para uma melhoria na abordagem terapêutica desses pacientes. A sistemática da investigação em busca do diagnóstico preciso pode direcionar o profissional de saúde na escolha do melhor tratamento indicado para cada caso2525. Schirmer CR, Fontoura DR, Nunes ML. Distúrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem. Jornal de Pediatria. 2004;80(2 Suppl):95-103.. A estimulação por meio de canto, conversa, brincadeiras e leitura propicia a aquisição de habilidades que favorecem o desenvolvimento. Para que comece a ocorrer um processo de comunicação, a criança deverá se sentir motivada. Deverá existir o que se chama de intenção comunicativa (por meio da fala serão conseguidos objetos de interesse da criança). Este aspecto surge pelo contato diário com as pessoas e pela estimulação que essa interação propicia2626. Furlan PG, Campos IO, Meneses KVP, Ribeiro HM, Rodrigues LMM. A formação profissional de terapeutas ocupacionais e o curso de graduação da Universidade de Brasília, Faculdade de Ceilândia. Cad. Bras. Ter. Ocup. UFSCar. 2014;22(1):109-19., com isso, todos os profissionais envolvidos na educação e reabilitação de crianças com deficiência são potenciais estimuladores da linguagem ao executarem seu trabalho.

Nesta direção, retoma-se a questão da interdisciplinaridade, enquanto um princípio que organiza o conhecimento, tendo emergido com “o esgotamento de um padrão de racionalidade construído sob o paradigma das ciências naturais e que conduziu a um modelo de ciência desvinculado de um conteúdo ético e político”1717. Givigi RCN, Mudo BC, Diógenes BS, Santos IMF. As alterações de linguagem e seus sentidos: efeitos de um trabalho fonoaudiológico em rede. Cad. Bras. Ter. Ocup. UFSCar. 2015;23(1):163-75..

Atualmente, há uma busca pela recuperação dos pontos de integração dos fenômenos na vida social e superação do modelo científico marcado pela fragmentação. Desta forma, o conhecimento “é indiviso e a sua fragmentação não é disciplinar e sim temática: 'os temas são galerias por onde os conhecimentos progridem ao encontro uns dos outros”, [...] o conhecimento avança à medida que o seu objeto se amplia2727. Santos BS. Um discurso sobre as ciências na transição para uma ciência pós-moderna. Estudos Avançados. 1988;2(2):46-71..

Em conformidade com um cenário mundial, de reorientação das políticas públicas em saúde, e nacional, de resgate dos valores democráticos e construção da cidadania no país, a Fonoaudiologia passa a rever as concepções e práticas que orientam a construção de um novo lugar social para esse profissional; um lugar onde a Fonoaudiologia esteja compromissada com a transformação dessa realidade desigual e excludente que se mostra no país. Implica saber fazer da comunicação e da linguagem na prática cotidiana uma ação política concreta que visa à produção de um saber social e culturalmente comprometido com o partilhar de bens comuns e com a intervenção e a transformação da realidade de educação e saúde da população, que concorra para a superação das desigualdades sociais e da exclusão, com melhoria da qualidade de vida e Promoção da Saúde da população99. Penteado RZ. A linguagem no grupo fonoaudiológico: potencial latente para a promoção da saúde? [dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo; 2000.. Na mesma vertente, a terapia ocupacional é um campo de conhecimento e intervenção em saúde, em educação e na ação social, que reúne tecnologias orientadas para a emancipação e a autonomia de pessoas que, por razões ligadas a problemáticas específicas (físicas, sensoriais, psicológicas, mentais e/ou sociais), apresentam, temporária ou definitivamente, dificuldades de inserção e participação na vida social1313. Gattás MLB. Interdisciplinaridade em cursos de graduação na área de saúde da universidade de Uberaba-Uniube [tese]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2005..

Conclusões

O presente estudo, a partir da análise feita da produção científica nacional da Terapia Ocupacional na sua interface com a Fonoaudiologia, possibilitou reflexões sobre o tema da interdisciplinaridade das duas profissões e campos de saberes.

O quantitativo de estudos que compuseram a amostra foi pequeno quando comparado aos recuperados por meio dos descritores, mas suficientes para trazer elementos para inferências, reflexões e questionamentos.

A parceria entre a terapia ocupacional e a fonoaudiologia apareceu sob diferentes objetivos e públicos como intervenção precoce, ações na múltipla deficiência, com a criança deficiente e sua família, com autistas em equoterapia, na inclusão escolar e em tecnologia assistiva, sendo este último com maior frequência. Ressalta-se que as crianças foram o público alvo de maior aparição nos estudos contando com o trabalho conjunto do fonoaudiológo(a) com um terapeuta ocupacional. Sabe-se que historicamente ambas as áreas têm estado atuantes na reabilitação de crianças com deficiência.

A área da Linguagem, dentre as áreas da Fonoaudiologia, foi a mais citada nas produções, sendo que muitas envolvendo a Tecnologia Assistiva. Considera-se que pelo fato da TA ser uma área de conhecimento de caráter interdisciplinar, favoreceu o achado da área fonoaudiológica da Linguagem em adição à ação terapêutica ocupacional. No campo da Terapia Ocupacional as intervenções acontecem na reabilitação motora, no desempenho funcional e, em comum com a fonoaudiologia, na Tecnologia Assistiva.

O presente estudo, por se dedicar ao exame de dados de periódicos nacionais exclusivamente do campo da terapia ocupacional, apresenta limitações. Diante disso, sugere-se a continuidade de investigações sobre esta temática em periódicos nacionais da fonoaudiologia e internacionais, tanto do campo da terapia ocupacional quanto da fonoaudiologia. Reafirma-se a importância da continuidade de investigações na medida em que o trabalho interdisciplinar tem sido considerado como uma possibilidade de promover a atenção integral às pessoas com diferentes necessidades para uma vida digna em sociedade. Somado a isto, acredita-se que o seguimento das pesquisas deste campo, possa promover o desenvolvimento do conhecimento relativo à práxis interventiva e colaborativa entre as áreas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    30 Jul 2019
  • Aceito
    24 Jan 2020
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