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Investigação do reconhecimento do próprio nome em bebês de 4 a 5 meses: estudo piloto

Resumos

OBJETIVO: verificar se as crianças na faixa etária entre quatro e cinco meses reconhecem o próprio nome. MÉTODO: estudo transversal, realizado com 16 bebês com idade entre quatro e cinco meses, avaliados pelo programa Estadual de Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU) no Ambulatório de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG). Foram realizadas avaliações auditiva e de linguagem, além do teste de reconhecimento do próprio nome. Realizou-se análise descritiva das variáveis utilizadas no estudo e análise estatística. As variáveis contínuas foram comparadas por meio do teste T pareado e considerou-se nível de significância de 5% e coeficiente de confiança de 95%. RESULTADOS: verificou-se predominância das respostas dos bebês à evocação do próprio nome, na maioria dos bebês avaliados. CONCLUSÕES: com base nos critérios utilizados neste estudo, entre quatro e cinco meses as crianças já são capazes de reconhecer seu próprio nome.

Fonoaudiologia; Desenvolvimento Infantil; Audição; Linguagem; Percepção da Fala; Percepção Auditiva


PURPOSE: to verify that children aged between four and five months recognize their own names. METHOD: it is a cross-sectional study with 16 infants aged between four and five months, assessed by the Newborn Hearing Screening State Program (NHSP) in the Speech and Language Therapy Clinic of Hospital das Clínicas of Universidade Federal de Minas Gerais (HC - UFMG). In addition to the recognition test of the name, it was realized hearing and language assessment. A descriptive analysis of the variables of the study was held and the statistical analysis. Continuous variables were compared using the paired T test and it was considered a significance level of 5% and confidence coefficient of 95%. RESULTS: it was verified a predominance of responses to recall the name itself, in most infants evaluated. CONCLUSIONS: on the basis of the criteria set out in this study, infants aged between four and five months are capable of recognize their own names.

Speech; Language and Hearing Sciences; Child Development; Hearing; Language; Speech Perception; Auditory Perception


ARTIGOS ORIGINAIS

Investigação do reconhecimento do próprio nome em bebês de 4 a 5 meses: estudo piloto

Nárli Pereira MachadoI; Renato Oliveira AlvesII; Cynthia Ribeiro do NascimentoIII; Aline Moreira LucenaIV; Patrícia Reis FerreiraV; Erika Parlato-OliveiraVI; Sirley Alves da Silva CarvalhoVII

IFonoaudióloga; Pós-graduanda em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

IIFonoaudiólogo formado pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

IIIAcadêmica de Fonoaudiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

IVFonoaudióloga formada pelo Instituto Metodista Izabela Hendrix - IMIH, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil; Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Ciência da Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Brasil

VFonoaudióloga formada pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil; Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Ciência da Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Brasil

VIFonoaudióloga; Professora Adjunto do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil; Doutora em Ciências Cognitivas pela École des Hautes Études em Sciences Sociales - EHEESS, França e em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, Brasil

VIIFonoaudióloga; Professora Adjunto do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil; Doutora em Biofísica Sensorial pela Université d'Auvergne - UdA, França

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Nárli Pereira Machado R. José Soares, 65 - sala 103 - Floramar Belo Horizonte - MG - Brasil. CEP 31840-260 E-mail: narli_m@yahoo.com.br

RESUMO

OBJETIVO: verificar se as crianças na faixa etária entre quatro e cinco meses reconhecem o próprio nome.

MÉTODO: estudo transversal, realizado com 16 bebês com idade entre quatro e cinco meses, avaliados pelo programa Estadual de Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU) no Ambulatório de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG). Foram realizadas avaliações auditiva e de linguagem, além do teste de reconhecimento do próprio nome. Realizou-se análise descritiva das variáveis utilizadas no estudo e análise estatística. As variáveis contínuas foram comparadas por meio do teste T pareado e considerou-se nível de significância de 5% e coeficiente de confiança de 95%.

RESULTADOS: verificou-se predominância das respostas dos bebês à evocação do próprio nome, na maioria dos bebês avaliados.

CONCLUSÕES: com base nos critérios utilizados neste estudo, entre quatro e cinco meses as crianças já são capazes de reconhecer seu próprio nome.

Descritores: Fonoaudiologia; Desenvolvimento Infantil; Audição; Linguagem; Percepção da Fala; Percepção Auditiva

INTRODUÇÃO

A audição é uma importante via sensorial para o desenvolvimento humano, principalmente relacionada ao desenvolvimento da linguagem, da fala e dos aspectos psicossociais. A linguagem é permeada por processos biológicos, fisiológicos, psíquicos e sociais, nos quais a audição atua como um dos facilitadores na sua aquisição e no seu desenvolvimento1. Nesse sentido, o reconhecimento do próprio nome dá indícios do processo de aquisição da linguagem da criança, pois fornece dados acerca da acuidade auditiva, dos fatores perceptuais fonéticos, fonológicos e prosódicos da linguagem e da relação da criança com seu entorno.

Para que a percepção da fala ocorra, é necessário que haja associação do som com a fonte sonora, o que constitui a etapa final de todo o processo perceptual. A ausência de associação de sons com a fonte sonora fornece pistas acerca do processo perceptual do indivíduo, que poderá apresentar alterações na linguagem em função da não integridade das habilidades cognitivas, tais como memória auditiva, localização e discriminação de sons. A percepção, a compreensão, a decodificação e a associação da linguagem falada são facilitadas pela redundância da mensagem e dependem da integridade das vias auditivas1.

Alguns autores afirmam que o reconhecimento do nome ocorre a partir dos seis meses de vida2, mas não foram encontradas pesquisas empíricas acerca do tema. Considerando que aos quatro meses de vida ocorre a inibição das respostas reflexas e o desenvolvimento da habilidade de discriminação e busca da fonte sonora1, decidiu-se investigar, de forma experimental, o reconhecimento do nome nesta faixa etária.

Estudos apontam para a preferência pelo som do próprio nome3 e para a importância da avaliação da percepção auditiva no que tange à memória, à fala e às habilidades auditivas das crianças4. Outros autores observaram que é por meio do reconhecimento do próprio nome que se torna mais fácil a compreensão de outras palavras pelas crianças5. Os estudos que investigaram o reconhecimento do próprio nome pelos bebês3 e utilizaram metodologia para a detecção das respostas das crianças a estímulos auditivos4 foram realizados com a população americana, o que evidencia a necessidade de investigação destas respostas na população brasileira.

A importância dos achados desta pesquisa reside na possibilidade de aplicação do teste de reconhecimento do próprio nome na prática clínica, de forma a instrumentalizar os profissionais da atenção primária à saúde, no sentido de que estes possam detectar possíveis alterações no desenvolvimento auditivo e de linguagem da criança, de forma simples e eficaz.

O presente trabalho tem o objetivo de verificar se crianças na faixa etária de quatro e cinco meses reconhecem o próprio nome, relacionando os dados obtidos por meio das avaliações auditivas, de linguagem e de reconhecimento do nome.

MÉTODO

Trata-se de estudo transversal. Para a realização da pesquisa foram recrutadas 22 crianças com desenvolvimento global normal, na faixa etária entre quatro e cinco meses, selecionadas por meio de análise dos prontuários do Programa Estadual de Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU), realizado no Ambulatório de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) e no Serviço de Audiologia do Hospital São Geraldo, anexo HC-UFMG. Houve exclusão de seis crianças, que não atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa e, desta forma, a amostra final foi composta por 16 crianças, dentre as quais nove delas estavam com cinco meses e sete com quatro meses de idade, no dia da avaliação.

Os critérios de inclusão desta pesquisa foram: ter idade entre quatro e cinco meses no momento da coleta; apresentar resultados normais na avaliação da TANU; não apresentar indicadores de risco para a deficiência auditiva; não apresentar indicadores de risco para o desenvolvimento global; possuir nome que constasse na lista dos 100 nomes mais frequentes (50 indivíduos do sexo feminino e 50 do sexo masculino), verificados nos prontuários da TANU, no período de janeiro de 2010 a março de 2011; ter família falante de língua materna portuguesa, além de preencher os critérios solicitados no Questionário sobre experiência linguística da criança e da família em relação ao prenome, Figura 1, quais sejam: ter nome igual ao dos pais ou cuidador e ser chamada por apelido.


Os critérios de exclusão foram: apresentar comprometimento neurológico e visual, comprovado mediante laudo médico; a não assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), pelos responsáveis, ou ter apresentado resultados inadequados nas avaliações de audição e de linguagem.

A seleção da amostra compreendeu as seguintes etapas: levantamento dos nomes mais frequentes das crianças atendidas na TANU; elaboração de uma lista que continha os 100 nomes, 50 femininos e 50 masculinos, para posterior gravação; estudo dos prontuários e seleção dos bebês, de acordo com os critérios de inclusão e de exclusão da pesquisa.

A gravação dos estímulos, lista de pares de nomes, foi realizada com enunciado de apelo e prolongamento da última sílaba, características do manhês6, por uma locutora feminina, de língua materna portuguesa. Para a gravação dos estímulos, foram consideradas três categorias de evocação, a saber: categoria 1 (duração diferente) - nomes com diferente número de sílabas, ou seja, contraposição entre palavras dissílabas e polissílabas (exemplo: Júlia e Maria Eduarda); categoria 2 (mesma duração) - nomes com o mesmo número de sílabas, mas com composição fonológica diferente (exemplo: Lucas e Vitor); categoria 3 (mesma duração e semelhança fonética) - nomes com o mesmo número de sílabas e apenas um fonema diferente (exemplo: Luan e Ruan). Os critérios utilizados nesta etapa partem do pressuposto de que os bebês têm capacidade de discriminar a duração dos estímulos sonoros3,7.

A próxima etapa da pesquisa foi a elaboração de um questionário, acerca da experiência linguística da criança e da família, em relação ao prenome. Em seguida, os responsáveis pelos bebês foram convidados, via telefone, para participarem do estudo. Neste momento, caso houvesse concordância em participar, a primeira parte do Questionário sobre experiência linguística da criança e da família em relação ao prenome era preenchida e a data para a realização das avaliações auditiva, de linguagem e de reconhecimento do próprio nome era agendada.

A aplicação dos instrumentos desta pesquisa ocorreu no Ambulatório de Fonoaudiologia do HC-UFMG e no Serviço de Audiologia do Hospital São Geraldo, anexo HC-UFMG. No dia agendado com os responsáveis, para a realização da coleta, foram dadas informações a respeito da pesquisa e a segunda parte do Questionário sobre experiência linguística da criança e da família em relação ao prenome foi preenchida. Em seguida, os responsáveis assinaram o TCLE, mediante concordância de participação na pesquisa.

As avaliações compreenderam os aspectos auditivos, de linguagem e de reconhecimento do próprio nome.

A avaliação da audição foi composta por: a) meatoscopia (realizada com otoscópio marca Kole, de luz óptica), cujo objetivo foi verificar as alterações do meato acústico externo e da membrana timpânica; b) exame de Emissões Otoacústicas Evocadas Transientes (EOAT), para verificar a integridade coclear. Para tanto, utilizou-se o aparelho AuDiX marca Biologic; e c) avaliação do comportamento auditivo (com os instrumentos sino, agogô e guizo, da marca Quino), a fim de investigar as habilidades auditivas. As crianças que apresentaram respostas dentro dos padrões de normalidade foram encaminhadas para a avaliação de linguagem.

A avaliação da linguagem foi realizada por meio do protocolo adaptado para crianças de 0 a 24 meses8. Caso a criança apresentasse respostas dentro dos padrões de normalidade, ela era encaminhada para a avaliação do reconhecimento do nome. Caso apresentasse alguma alteração nas avaliações auditiva ou linguística, a criança era encaminhada à Unidade Básica de Saúde (UBS) para avaliação e conduta.

A avaliação para o reconhecimento do próprio nome seguiu o seguinte procedimento:

1. A criança foi encaminhada para um ambiente acusticamente tratado, que continha um decibelímetro digital, marca Icel - modelo dl-4020, para controle da intensidade das emissões sonoras;

2. Durante a testagem a criança permaneceu sentada no colo da mãe ou do cuidador;

3. A mãe ou o cuidador permaneceu com um equipamento de proteção auricular e com fone de ouvido (marca C3 Tech - modelo voicer confort), em ambas as orelhas, do qual foi emitido estímulo sonoro musical, em intensidade confortável, a fim de que não houvesse interferência nas respostas dos bebês;

4. Em frente à criança havia uma tela, na qual foi exibido um DVD infantil, baby Einstein: Baby Bach/ Aventura Musical (The Walt Disney Company, 2004), sem áudio, apropriado à idade da população alvo. As mesmas imagens foram exibidas a todas as crianças;

5. Foram apresentados à criança pares de nomes em sequências variadas e de forma aleatória, quanto à ordem e aos lados;

6. Cada par de nomes (o nome da criança e outro nome) foi apresentado e cada nome foi repetido três vezes, com intervalo de 3 segundos a uma intensidade média de 60 decibels, nível de intensidade sonora (dBNIS). Os estímulos foram oferecidos à distância de 30 centímetros do pavilhão auricular da criança, por meio de duas caixas de som (marca Polk Audio - modelo Subwoofer PSW125). A evocação do nome foi feita com o enunciado de apelo e prolongamento da última sílaba, características do manhês.

7. Durante o teste do reconhecimento do nome a criança foi filmada com o uso de uma filmadora, marca Sony - modelo HDR-CX12, posicionada em face e acima do nível da cabeça da criança, à 60 centímetros de distância. Posteriormente, os vídeos foram analisados. Na análise foram considerados como critérios para o reconhecimento do nome: a) o deslocamento de cabeça e do olhar em direção à fonte sonora; b) o tempo de permanência do olhar para a fonte sonora e c) a atenção às evocações.

Todas as avaliações descritas ocorreram em único encontro.

Para análise das filmagens foram convidados dois juízes, previamente treinados que, de forma individual, registraram o comportamento dos bebês, configurando o método como duplo-cego. Os dados obtidos foram digitados em um banco de dados no programa Excel, versão 2007, e posteriormente conferidos. Nos casos de discordância entre avaliadores um terceiro juiz foi convocado. Os juízes também assinaram o TCLE, mediante concordância de participação na pesquisa.

Esse estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (COEP-UFMG), sob o parecer nº 0418.0.203.000-11.

Para a análise estatística, adotou-se o software Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 15.0 for windows - SPSS Incorporation, Chicago, Illinois, Estados Unidos da América, 2008. Além disso, foi realizada análise descritiva das variáveis utilizadas no estudo. Para as variáveis categóricas foram feitas tabelas de distribuição de frequências. Para as variáveis contínuas foram utilizadas medidas de tendência central e variabilidade (média, desvio padrão, mínimo e máximo). As variáveis contínuas foram comparadas por meio do teste T pareado, pois trata-se de variáveis com resposta contínua, amostra dependente e com distribuição normal. Considerou-se nível de significância (valor de p) de 5% e coeficiente de confiança de 95%.

RESULTADOS

Em relação à aplicação da 1ª parte do Questionário sobre experiência linguística da criança e da família em relação ao prenome, os 22 responsáveis contatados responderam às questões relacionadas ao conhecimento linguístico em torno da família. Entretanto, uma criança, de família de língua materna japonesa, foi excluída do estudo. Na data fixada para o início das avaliações auditiva, de linguagem e de reconhecimento do nome, os outros 21 responsáveis compareceram e assinaram o TCLE.

Das 21 crianças encaminhadas para a avaliação auditiva, apenas duas delas não completaram esta etapa, pois choraram durante a realização do exame de EOAT. Contudo, as outras 19 crianças foram avaliadas e apresentaram resultados dentro dos padrões de normalidade. Na próxima etapa, que consistiu na avaliação de linguagem, duas crianças choraram durante todo o procedimento, o que inviabilizou a conclusão da avaliação. Os 17 bebês restantes foram encaminhados para o teste de reconhecimento do próprio nome. Nesta etapa, uma das crianças chorou durante o teste e não foi possível registrar outras reações, que não o choro.

Em relação à amostra final de 16 bebês, verificou-se que todas as crianças, submetidas ao teste de reconhecimento do próprio nome, apresentaram as reações de localização e de atenção à fonte sonora, durante a apresentação das evocações para o próprio como para o outro nome. Com base nestas reações, analisou-se o tempo de permanência do olhar durante a atenção e a localização da fonte sonora, cujos dados estatísticos estão descritos na Tabela 1 e na Figura 2.


DISCUSSÃO

Este estudo teve como objetivo verificar se as crianças com idade entre quatro e cinco meses reconhecem o próprio nome. Constatou-se que, embora a literatura relate que os bebês reconhecem e respondem ao chamado do próprio nome, dos seis aos nove meses de idade2, a maioria das crianças, participantes deste estudo, reconheceu o próprio nome.

Os resultados da Tabela 1 apontam para a predominância do tempo de permanência do olhar para o próprio nome na categoria 2, o que está relacionado ao fato de que todas as crianças da amostra se encaixaram nesta categoria, pois os nomes apresentados como estímulo possuíam o mesmo número de sílabas. Nas categorias 1 e 3 nem todos os nomes das crianças da amostra atendiam aos critérios de duração e de semelhança. Desta forma, o número de crianças, nas duas categorias foi menor, o que justifica a menor média em relação à categoria 2. Verificou-se que em todas as categorias houve predominância do tempo de permanência do olhar para o chamado do próprio nome.

A Figura 2 mostra que houve respostas dos bebês às evocações do próprio nome em todas as categorias de evocação, mas houve maior número de respostas para a categoria 1 (contraposição entre nomes dissílabos e polissílabos). A predominância de respostas ao próprio nome - 66% - nesta categoria confirma o que é descrito na literatura, acerca da capacidade dos bebês em discriminar a duração3,7,9. Na comparação entre o maior número de respostas - 56% - das crianças aos estímulos apresentados na categoria 2 (mesma duração, mas com composição fonológica diferente) com o número de respostas - 43% - dos bebês aos estímulos apresentados na categoria 3 (semelhança fonética, com apenas um fonema diferente) observou-se que há maior habilidade da criança para discriminar palavras com variação fonológica mais extensa.

Verificou-se, por meio do Questionário sobre experiência linguística da criança e da família em relação ao prenome, que todas as famílias tinham a percepção de que o reconhecimento do próprio nome pelos bebês está relacionado apenas ao fato da criança apresentar ou não audição normal. Entretanto, é importante que o estado geral de saúde da criança seja verificado, antes que seja observado se ela reconhece ou não o próprio nome. Da mesma forma, é necessário que, caso a criança não reconheça o próprio nome, os resultados das avaliações de audição e de linguagem sejam confirmados.

Cabe ressaltar que os critérios adotados para o reconhecimento do próprio nome, neste estudo, compreenderam: o deslocamento de cabeça e do olhar em direção à fonte sonora; o tempo de permanência do olhar para a fonte sonora e a atenção às evocações. Entretanto, apenas o critério de tempo de permanência do olhar apresentou valor significante.

Em relação ao método utilizado neste estudo, salienta-se que, além de rigoroso, ele é inédito no Brasil. Os estudos que utilizaram metodologia semelhante3,4 foram realizados em países anglofonos. Desta forma não há descrição na literatura de sua utilização com a população brasileira.

Verificou-se que o desenvolvimento da audição e de linguagem, de todas as crianças avaliadas nesta pesquisa, está dentro do esperado para a idade e que há relação entre a audição, o desenvolvimento da linguagem e o reconhecimento do próprio nome. Em outras palavras, o reconhecimento do próprio nome depende da percepção de fala, que por sua vez depende do desenvolvimento da linguagem e, todos estes fatores, estão atrelados à integridade do sistema auditivo.

Por se tratar de um estudo piloto, com amostra reduzida, os resultados obtidos até o momento direcionam para a necessidade de continuidade da pesquisa, a fim de obter resultados por meio de amostra maior, em número e em faixas etárias.

CONCLUSÕES

Verificou-se que o desenvolvimento da audição e de linguagem, da maioria das crianças, avaliadas nesta pesquisa, está dentro do esperado para a idade e que há relação entre a audição, o desenvolvimento de linguagem e o reconhecimento do próprio nome. Com base nos critérios utilizados nesta pesquisa, as crianças de quatro e cinco meses de idade já são capazes de reconhecer o próprio nome.

AGRADECIMENTOS

Às fonoaudiólogas do Programa de Triagem Auditiva Neonatal Universal do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais e aos bebês e suas famílias, por tornarem possível a realização deste trabalho.

Recebido em: 15/05/2012

Aceito em: 27/08/2012

Conflito de interesses: inexistente

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  • Endereço para correspondência:

    Nárli Pereira Machado
    R. José Soares, 65 - sala 103 - Floramar
    Belo Horizonte - MG - Brasil. CEP 31840-260
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Nov 2013
    • Data do Fascículo
      Out 2013

    Histórico

    • Recebido
      15 Maio 2012
    • Aceito
      27 Ago 2012
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