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Seguir ou não carreira na área de contabilidade: um estudo sob o enfoque da Teoria do Comportamento Planejado* * Trabalho apresentado no X Congresso ANPCONT, Ribeirão Preto, SP, Brasil, junho de 2016.

Resumo

Este estudo investiga, sob o enfoque da Teoria do Comportamento Planejado, a intenção de 691 alunos concluintes dos cursos de Ciências Contábeis das universidades públicas do estado do Paraná em seguir carreira na área contábil. Para análise, a amostra foi seccionada em dez mesorregiões, seguindo o critério do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Nos dados coletados foram aplicadas as técnicas de estatística descritiva e equações estruturais. As hipóteses de pesquisa foram corroboradas na maioria das mesorregiões e os principais achados evidenciam que as variáveis atitude, norma subjetiva e controle comportamental percebido afetam a intenção dos alunos em seguir uma carreira na área contábil. As amostras de seis mesorregiões (1. Metropolitana de Curitiba; 2. Centro-Oriental; 4. Norte-Central; 5. Noroeste; 6. Oeste; e 9. Centro-Sul), nas quais as três hipóteses foram corroboradas, representam as maiores e mais desenvolvidas cidades paranaenses. Os resultados nas 10 mesorregiões estudadas explicam a variância da intenção entre 27,84% a 64,31%. Os achados desta pesquisa contribuem para a compreensão dos perfis dos concluintes em contabilidade das instituições públicas do estado do Paraná, fornecendo elementos para subsidiar os gestores das instituições na análise e elaboração de estratégias diferenciadas em relação aos currículos e abordagens do curso conforme a região de atuação. Ainda neste sentido, os órgãos reguladores podem utilizar estes achados como base para pesquisas aprofundadas a respeito das variáveis que influenciam a intenção dos futuros profissionais e para elaborarem políticas que orientem as instituições no desenvolvimento de cursos com conteúdos mais adequados e consistentes para o mercado.

Palavras-chave:
carreira contábil; Teoria do Comportamento Planejado; intenção comportamental; mesorregiões

Abstract

This study investigates the intention of 691 students graduating from Accounting courses at public universities in the state of Paraná to pursue a career in the area of accounting, based on the Theory of Planned Behavior. For the analysis, the sample was divided into ten mesoregions according to the criteria of the Paranaense Institute for Economic and Social Development (Ipardes). The data collected were treated using descriptive statistics and structural equations techniques. The research hypotheses were corroborated in most of the mesoregions and the main findings show that attitude, subjective norm, and perceived behavioral control variables affect the students' intention to pursue a career in the area of accounting. The samples for six mesoregions (1. Curitiba Metropolitan Area, 2. East Center, 4. North Central, 5. Northwest, 6. West, and 9. South Center), in which the three hypotheses were corroborated, represent the largest and most developed cities in Paraná. The results in the ten mesoregions studied explain an intention variance of between 27.84% and 64.31%. The findings of this research contribute to understanding the profiles of accounting graduates from public institutions in the state of Paraná, providing elements to support the managers of the institutions in analyzing and elaborating differentiated strategies in relation to course curricula and approaches, according to the particular region. In addition, regulatory agencies can use these findings as a basis for in-depth research on the variables that influence the intentions of future professionals and to develop policies that guide institutions in developing courses with more adequate and consistent content for the market.

Keywords:
Accounting career; Theory of Planned Behavior; behavioral intentions; mesoregions

1. Introdução

Em geral, os universitários concluintes de cursos de graduação manifestam diferentes intenções e expectativas relacionadas ao futuro profissional. Nessa condição apresentam certo otimismo quanto ao futuro em uma situação permeada por dúvidas e conhecimentos insuficientes acerca dos desafios e especificidades das possíveis carreiras de atuação (Perrone & Vickers, 2003Perrone, L., & Vickers, M. H. (2003). Life after graduations a “very uncomfortable world”: An Australian case study. Education and Training, 45(2-3), 69-78. ).

A decisão de qual carreira seguir, independente do momento, é uma competência individual pautada no compromisso com uma dada direção educacional ou vocacional (Osipow, Carney & Barak, 1976Osipow, S. H., Carney, C.G., & Barak, A. (1976). A scale of educational-vocational undecidedness: A typological approach. Journal of Vocational Behavior, 9(2), 233-243. ). Assim, pode-se entender decisão de carreira como a capacidade do indivíduo em identificar seus interesses dentro da profissão, estabelecer os objetivos profissionais e, de maneira coerente, elaborar uma estratégia (Teixeira & Gomes, 2005Teixeira, M. A. P., & Gomes, E W. B. (2005). Decisão de carreira entre estudantes em fim de curso universitário. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 21(3), 327-334.). A intenção de decidir por uma carreira não se limita à escolha de uma área específica dentro da profissão, mas implica também a disposição e competência do indivíduo para implementar seus projetos.

Nessa direção, ao longo do processo de decisão sobre qual carreira seguir, diversos fatores influenciam o indivíduo, e estes podem ser intrínsecos (por exemplo, o interesse intelectual e satisfação no trabalho), extrínsecos (como a disponibilidade de emprego e a remuneração) e interpessoais (a exemplo da influência de outras pessoas como pais, amigos e cônjuge) (Carpenter & Foster, 1977Carpenter, P., & Foster, B. (1977). The career decisions of student teachers. Educational Research and Perspectives, 4(1), 23-33.). Por sua vez, no entendimento de Super e Bohn (1980Super, D. E., & Bohn Jr., M. J. (1980). Psicologia Ocupacional. São Paulo: Atlas. ), as causas influenciadoras das escolhas dos indivíduos são denominadas como determinantes de carreira, compreendidas em fatores geográficos entendidos como a comunidade, a escola frequentada, a família, os pares, a economia, a sociedade, o mercado de trabalho, a política social que interage e afeta as atividades profissionais e os fatores biológicos (incluindo os psicológicos) que afetam o desenvolvimento e se referem às necessidades, à inteligência, aos valores, atitudes, interesses e aptidões especiais, que, juntos, representam a personalidade e as realizações do indivíduo. Para Emmerling e Cherniss (2003Emmerling, R. J., & Cherniss, C. (2003). Emotional intelligence and the career choice process. Journal of Career Assessment, 11(2), 153-167. ), a escolha de uma carreira não deve ser tomada sob uma ótica isolada, mas pela comunhão de uma série de decisões. Essas decisões podem envolver questões como: Quais atividades são de interesse? Quais são seus níveis de aspirações? Como vão se processar as inter-relações entre o papel pessoal e profissional, influências emocionais, dentre outras?

Em razão dessas questões, compreender a dinâmica que envolve a escolha ou a intenção de seguir uma carreira e o seu devido comprometimento, tanto do ponto de vista individual quanto do coletivo, é de grande relevância para o desenvolvimento e consolidação da profissão. Pois uma profissão somente alcançará seus objetivos e sua afirmação social se os membros que a constituem demonstrarem dedicação, estabelecimento de vínculos, caminhos e objetivos, além de se empenharem no crescimento profissional (Carvalho, 2007Carvalho, T. A. T. (2007). A escolha e o comprometimento com a profissão/carreira: um estudo entre psicólogos. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal da Bahia, Salvador.). Inseridos igualmente nesta realidade, estão os profissionais de contabilidade, população-alvo deste estudo.

Neste sentido, sabe-se que para o graduado em Ciências Contábeis há amplas oportunidades de carreira, em especial aquelas que, com a regulamentação da profissão, com viés corporativista, especificam um nicho exclusivo de prática profissional. Dentre essas oportunidades, incluem-se as carreiras de contador, auditor, perito contábil, controller etc. No entanto, ainda que a prática profissional na área seja um mercado protegido por leis e regulamentos, é ilusão pensar que todos os ingressantes e/ou egressos dos cursos querem construir uma carreira profissional nessa área. Por isso, os achados deste estudo poderão subsidiar discussões relativas ao perfil desejado dos ingressantes e/ou mudanças na grade curricular, de modo que os egressos concorram com formandos/formados de outras áreas em atividades profissionais que exigem conhecimentos de contabilidade, em vez de focar somente na carreira de contador. Ademais, estudos desse tipo tem potencial para situar o Brasil na discussão internacional acerca do perfil do profissional contábil, dos estereótipos e intenções do mesmo, contribuindo para ampliar o leque de pesquisas sobre o assunto.

Diante deste contexto, o objetivo desta pesquisa é investigar a intenção dos alunos concluintes dos cursos de graduação em Ciências Contábeis das instituições de ensino superior (IES) públicas do estado do Paraná em seguir carreira profissional na área de contabilidade. Para alcançar este objetivo, serão aplicados os preceitos da Teoria do Comportamento Planejado.

2. Marco teórico-empírico e hipóteses de pesquisa

2.1 Conceitos de Profissão e Carreira

Os termos “profissão” e “carreira” são, em geral, utilizados como se fossem sinônimos e, quando não, são comuns as confusões conceituais acerca de seu entendimento. Carvalho (2007Carvalho, T. A. T. (2007). A escolha e o comprometimento com a profissão/carreira: um estudo entre psicólogos. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal da Bahia, Salvador., p. 23) argumenta que “a carreira é caracterizada do ponto de vista organizacional e do trabalho, apresentando as similaridades e diferenças conceituais em relação a conceitos, tais como profissão e ocupação”. Contudo, a compreensão e a caracterização de profissão e carreira precisam ser precedidas pelo entendimento de ocupação e vocação. Ambos formam um domínio e circunscrevem o conjunto de conhecimentos e habilidades relativas à produção de um bem ou a prestação de um serviço.

Para Wilensky (1970Wilensky, H. L. (1970). The profïssionalization of everyone? In: The Sociology of Organizations: Basic Studies (O. Grusky & G. Miller, eds.), 483-501, New York: The Free Press.), o domínio, por uma pessoa, sobre determinada área do conhecimento é um dos fatores determinantes na diferenciação entre uma profissão e uma ocupação. Argumenta o autor (1970, p. 494) que “a base do conhecimento ou doutrina para a profissão é resultado de uma combinação de conhecimento prático e intelectual, parte do qual é explícito, parte implícito”. Sendo assim, o “conhecimento profissional, como todo conhecimento, é algo relativamente tácito, dando às profissões estabelecidas sua ‘aura de mistério’” (Wilensky, 1970Wilensky, H. L. (1970). The profïssionalization of everyone? In: The Sociology of Organizations: Basic Studies (O. Grusky & G. Miller, eds.), 483-501, New York: The Free Press., p. 494).

Nesta direção, a compreensão e a caracterização do que vem a ser profissão para Kast e Rosenzweig (1970Kast, F. E., & Rosenzweig, J. E. (1970). Organizations and management: a system approach New York, McGraw-Hill. ) induzem a considerar alguns critérios, como: (i) a existência de um corpo sistemático de conhecimento (intelectual e prático); (ii) grau de autoridade conferido pelos “clientes” em função de conhecimento técnico especializado; (iii) amplo reconhecimento social como base para o exercício da autoridade; (iv) código de ética que regula as relações entre os pares e entre o profissional e seus clientes; e (v) a cultura profissional mantida pelas organizações.

Nesse contexto, uma profissão tem o poder de criar, transmitir e organizar seu próprio conhecimento e, portanto, as pessoas que buscam alcançar um determinado status profissional devem se submeter a um bom treinamento, orientado por um currículo padronizado (Wilensky, 1970Wilensky, H. L. (1970). The profïssionalization of everyone? In: The Sociology of Organizations: Basic Studies (O. Grusky & G. Miller, eds.), 483-501, New York: The Free Press.). Portanto, o estabelecimento institucional do conhecimento em uma determinada área é um requisito imprescindível para configurar uma profissão, na medida em que constitui a base para a reivindicação de exclusiva jurisdição sobre determinada habilidade.

Em relação ao termo “carreira”, os pesquisadores Arthur e Lawrence (1984Arthur, M. B., & Lawrence, B. S. (1984). Perspectives on environment and career: an introduction. Journal of Occupational Behavior, 5(1), 1-8. , p. 1-2), com base na compilação de vários dicionários, desenvolveram uma estrutura formada por quatro pontos básicos como sustentação para sua definição: (i) as pessoas encontram-se engajadas consistentemente em uma atividade ocupacional que lhes acarreta consequências pessoais, como experiências significativas, progresso e avanço; (ii) essas atividades apresentam determinado significado para a vida do indivíduo, algo relacionado à noção de identidade expressa, por exemplo, em frases como: “Eu sou o que eu faço”; (iii) o termo pode ser aplicado a qualquer pessoa que trabalhe e a qualquer sucessão de papéis desempenhados pelo indivíduo, [e existe um componente de] avaliação social sugerindo que as carreiras dos indivíduos estão sujeitas a medidas de sucesso pela sociedade; e (iv) o termo implica uma relação dinâmica e prospectivamente desenvolvimentista entre o indivíduo e a organização, incorporando uma dimensão temporal.

Adamson, Doherty e Viney (1998Adamson, S. J., Doherty, N., & Viney, C. (1998). The meanings of career revisited: Implications for theory and practice. British Journal of Management, 9(4), 251-259. ), ante as ambíguas interpretações do conceito de carreira, argumentam que não se pode considerá-lo um construto teórico. Para os autores, a interpretação do que vem a ser carreira sofre alterações de acordo com o seu respectivo contexto social. No dia a dia, quando os indivíduos comentam a respeito de suas carreiras, tendem a percebê-la como o próprio trabalho. A ideia de “carreira” para eles se refere ao que fazem, para quem trabalham e ao que descrevem em seus currículos profissionais.

O posicionamento de Adamson, Doherty e Viney (1998Adamson, S. J., Doherty, N., & Viney, C. (1998). The meanings of career revisited: Implications for theory and practice. British Journal of Management, 9(4), 251-259. ) é alinhado ao de Super (1957Super, D. E. (1957). The psychology of careers. New York: Harper e Row. , 1980Super, D. E., & Bohn Jr., M. J. (1980). Psicologia Ocupacional. São Paulo: Atlas. ) e Van Maane e Schein (1979), para os quais, originalmente, o conceito de carreira correspondia às posições alcançadas dentro de uma hierarquia organizacional. No entanto, influenciado pelas mudanças organizacionais e tecnológicas, esse entendimento passou por reformulações e atualmente compreende a trajetória profissional, bem como outros papéis exercidos pelo indivíduo durante a vida. Nessa concepção moderna, “carreira” pode ser interpretada como a combinação dos papéis realizados pelo indivíduo no decorrer de sua trajetória profissional, não se restringindo ao conjunto específico de tarefas de um posto de trabalho, e envolvendo diversos trabalhos em uma perspectiva de longo prazo (Chanlat, 1995Chanlat, J. F. (1995). Quais carreiras e para qual sociedade? Revista de Administração de Empresas, 35(6), 67-75. ).

Esses entendimentos estão relacionados aos dois modelos, geralmente encontrados na literatura e exposto por Chanlat (1995Chanlat, J. F. (1995). Quais carreiras e para qual sociedade? Revista de Administração de Empresas, 35(6), 67-75. ): o tradicional e o moderno. O primeiro é caracterizado pela estabilidade, progresso e divisão sexual e social do trabalho (apenas homens trabalhavam), com progressão vertical linear. O segundo modelo, surgido na década de 1970, é resultante das mudanças socioeconômicas ocorridas nos anos anteriores, como a entrada da mulher no mercado de trabalho, o aumento no grau de instrução dos indivíduos, a cosmopolitização da sociedade, da globalização da economia e a flexibilização do trabalho. No modelo moderno, as oportunidades destinam-se para profissionais tanto do gênero masculino quanto do feminino, e pertencentes a vários grupos sociais; a progressão na carreira é descontínua, e há maior instabilidade (Chanlat, 1995Chanlat, J. F. (1995). Quais carreiras e para qual sociedade? Revista de Administração de Empresas, 35(6), 67-75. ).

Compreendidas nos modelos tradicional e moderno, Chanlat (1995Chanlat, J. F. (1995). Quais carreiras e para qual sociedade? Revista de Administração de Empresas, 35(6), 67-75. ) define ainda quatro tipos de carreira: (i) a burocrática, caracterizada pela divisão ordenada do trabalho; (ii) a empreendedora, com atividades independentes desenvolvidas por um indivíduo; (iii) a sociopolítica, entendida pelas habilidades sociais; e (iv) a profissional, caracterizada pelo indivíduo que detém um conhecimento específico. E é sobre este tipo de carreira que se edifica este estudo.

2.2. Influências na Escolha da Profissão e da Carreira

No que compete à escolha da carreira destaca-se que o indivíduo leva em consideração vários aspectos intrínsecos e extrínsecos. A escolha está diretamente relacionada com o nível de conhecimento que o indivíduo possui de si mesmo, do mundo do trabalho e, principalmente, de seus motivos pessoais e profissionais. As decisões nesse processo envolvem aspectos pessoais, relacionados ao nível de aspiração, a importância de valores de cada indivíduo e o interesses pelas atividades (Emmerling & Cherniss, 2003Emmerling, R. J., & Cherniss, C. (2003). Emotional intelligence and the career choice process. Journal of Career Assessment, 11(2), 153-167. ).

A respeito dos fatores que podem afetar na decisão do indivíduo, Soares (2002Soares, D. H. P. (2002). A escolha profissional: Do jovem ao adulto. São Paulo: Summus. ) destaca seis, a saber: (i) políticos; (ii) econômicos; (iii) psicológicos; (iv) sociais; (v) familiares e (iv) educacionais. Os primeiros referem-se às ações governamentais e políticas concernentes à educação. Os fatores econômicos dizem respeito ao mercado de trabalho, ao nível de empregabilidade, à informatização, às competências da profissão, entre outros. Já os fatores psicológicos são aqueles intrínsecos ao indivíduo, enquanto os sociais aludem à divisão da sociedade em classes sociais, a influência da pessoa no contexto familiar e à busca da ascensão social por meio do estudo. O fator relacionado à família corresponde ao processo de busca de realização dos projetos familiares em detrimento dos pessoais, bem como a influência destes nas decisões e construção de diferentes papéis profissionais. Por fim, os fatores educacionais são pertinentes às esferas de ensino público e privado; e as questões que dizem respeito ao sistema educacional (Carvalho, 2007Carvalho, T. A. T. (2007). A escolha e o comprometimento com a profissão/carreira: um estudo entre psicólogos. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal da Bahia, Salvador.).

Essas influências se estendem a todas as áreas de atuação existentes, e na ciência contábil não é diferente. Os estereótipos, por exemplo, referentes à profissão e seus atores, têm um peso significativo na decisão dos indivíduos ao longo do processo. Neste contexto, a opção pela profissão e por uma das carreiras na área de contabilidade por parte dos alunos - futuros profissionais - é fortemente influenciada pela percepção estereotipada, em especial da “figura” do contador.

A respeito dos estereótipos da profissão contábil, Carnegie e Naiper (2009Carnegie, G. D. & Napier, C. J. (2010). Traditional accountants and business professionals: portraying the accounting profession after Enron. Accounting, Organizations and Society, 35(3), 360-376.) argumentam que há dois tipos: o estereótipo do contador tradicional, ou beancounter, e o do profissional de negócios, ou colourful accountant. Este refere-se a um profissional de negócios, gestor, criativo e proativo, e surgiu para combater o tradicional estereótipo negativo do beancounter, com a finalidade de despertar o interesse e o respeito para a profissão contábil. Todavia, Carnegie e Naiper (2009Carnegie, G. D. & Napier, C. J. (2010). Traditional accountants and business professionals: portraying the accounting profession after Enron. Accounting, Organizations and Society, 35(3), 360-376.) destacam que esta tentativa de estabelecer uma imagem positiva do contador sofreu diversas críticas, por ser considerada algo impossível para a profissão contábil.

Além dos estereótipos, há um elenco de fatores considerados influentes na escolha pela profissão/carreira contábil, como a falta de informação e, por vezes, a desinformação sobre pontos relevantes sobre a profissão, como: o que realmente faz um profissional desta área ou quais são as alternativas de carreira, o currículo do curso de graduação bem como seu acesso, a cultura, a remuneração financeira, a segurança no emprego, as considerações do mercado, prestígio, experiências de trabalho, antecedentes familiares, entre outros.

2.3 Teoria do Comportamento Planejado

A Teoria do Comportamento Planejado (TCP) proposta por Ajzen (1991Ajzen, I. (1991). The theory of planned behavior. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50(2), 179-211. ) é amplamente difundida. Resulta da evolução da Teoria da Ação Racional (TAR), que postula que o comportamento é função da intenção e esta é condicionada pelas atitudes relativas à ação específica e as normas subjetivas (Fishbein & Ajzen, 1975Fishbein, M., Ajzen, I. (1975). Belief, attitude, intention and behavior: an introduction to theory and research. Reading, MA: Addison-Wesley. ). A TAR pauta-se no uso racional da informação disponível pelos indivíduos no processo de tomada de decisão comportamental, e que este desempenha papel de mediador das relações entre Atitude, Normas Subjetivas e Comportamento.

Com a difusão de pesquisas acerca da intenção comportamental - e, por consequência, do comportamento -, foi constatado que a TAR limitava-se em admitir a vontade das pessoas e não considerava os recursos para realizá-lo. Em decorrência dessa limitação, Ajzen (1991Ajzen, I. (1991). The theory of planned behavior. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50(2), 179-211. ) elaborou a TCP acrescentando à TAR a variável Controle Comportamental, percebida como o objetivo de captar a intensidade que o indivíduo acredita ter de capacidade para assumir determinado comportamento e suas crenças acerca da existência de fatores que podem facilitar ou dificultar esta realização.

Segundo a TCP, a primeira condicionante da intenção de alguém é a atitude caracterizada como “sentimentos positivos ou negativos de um indivíduo sobre a realização de um determinado comportamento” (Fishbein & Ajzen, 1975Fishbein, M., Ajzen, I. (1975). Belief, attitude, intention and behavior: an introduction to theory and research. Reading, MA: Addison-Wesley. , p. 216). Assim, a atitude do indivíduo em relação a um comportamento é uma função de suas crenças e avaliações comportamentais, ou seja, daquilo que a pessoa acredita que vai acontecer em consequência do comportamento e da avaliação dessas consequências.

Diante do exposto, destaca-se que nesta investigação aplica-se o construto Atitude para predizer a Intenção do aluno, concluinte do curso de Ciências Contábeis, de seguir uma carreira na área contábil. Assim, a premissa é de que as atitudes sobre uma carreira são determinadas pela crença do aluno de que ela levará a determinados resultados. Em vista disso, entendendo que fatores intrínsecos e extrínsecos são formadores das atitudes dos alunos concluintes, enunciamos:

  • H 1  A atitude influencia positivamente a intenção comportamental dos alunos concluintes em seguir uma carreira na área de contabilidade
  • H 2  A norma subjetiva influencia positivamente a intenção dos alunos concluintes em seguir uma carreira na área de contabilidade
  • H 3  O Controle Comportamental percebido influencia positivamente a intenção dos alunos concluintes em seguir uma carreira na área de contabilidade

3. Metodologia

A população desta investigação é formada por 1.022 alunos dos cursos de graduação em Ciências Contábeis, devidamente matriculados e considerados concluintes no ano de 2015, nas universidades públicas no estado do Paraná. A amostra final, não probabilística e intencional, resultou em 691 respondentes válidos (foram coletados 709 questionários, descartados 18 deles por apresentarem dados incompletos) distribuídos conforme a Tabela 1.

Tabela 1
População e Amostra

Para a análise dos dados coletados, a amostra final foi estratificada por mesorregiões geográficas, nas quais as instituições de ensino superior públicas estaduais estão localizadas (Tabela 1). A estratificação por mesorregião seguiu o critério adotado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), que subdivide o estado - composto por 399 municípios - em dez regiões geográficas: 1) Metropolitana de Curitiba; 2) Centro-Oriental; 3) Norte Pioneiro; 4) Norte-Central; 5) Noroeste; 6) Oeste; 7) Centro-Ocidental; 8) Sudoeste; 9) Centro-Sul; e 10) Sudeste.

Tabela 2
Áreas territoriais, habitantes e economia das mesorregiões paranaenses

As mesorregiões são subdivisões do estado que congregam diversos municípios com similaridades econômicas e sociais, conforme evidenciado na Tabela 2. Tendo em vista os dados apresentados na tabela, as intenções dos alunos foram analisadas considerando as influências econômicas e sociais da região, das oportunidades de inserção no mercado e das reais possibilidades de seguir carreira na área de interesse. Analisando as mesorregiões quanto à localização e extensão territorial, a maior é a Noroeste, com área de 24.750.384 km2, enquanto a menor é a Sudoeste, com área de 11.546.792 km2. A mesorregião Região Metropolitana de Curitiba é a mais populosa, com 3.794.174 habitantes em 2015, de acordo com a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

3.1. Instrumento de Pesquisa

O instrumento de pesquisa aplicado constitui-se de dois blocos, fundamentados em alguns estudos conforme o disposto na Tabela 3.

Tabela 3
Instrumento de Pesquisa

Utilizou-se uma escala tipo Likert de 7 pontos (Discordo Totalmente a Concordo Totalmente). Ressalta-se que os indicadores foram apresentados de forma aleatória, e três deles foram retratados em escala reversa para testar a atenção dos respondentes.

Para a coleta de dados, o instrumento de pesquisa foi entregue presencialmente pela autora em algumas instituições e em outras pelos coordenadores de cursos e professores aos alunos concluintes no decorrer do período de 23 de outubro a 25 de novembro de 2015. Ressalta-se que antes da coleta foram realizados dois pré-testes do instrumento: (i) com três professores e dez pós-graduandos stricto sensu em Contabilidade de uma universidade pública do estado do Paraná, para alinhamento de conteúdo, redação e layout de apresentação do questionário; e (ii) com 63 alunos concluintes do curso de Ciências Contábeis de duas IES particulares da cidade de Curitiba, o que contribuiu para a melhoria do teste e sua configuração final.

Para o tratamento dos dados, utilizaram-se as técnicas de estatística descritiva e Modelagem de Equações Estruturais com auxílio dos softwares Statistical Package for the Social Sciences - SPSS versão 22, e SmartPLS3.0®. Na aplicação da técnica Modelagem de Equações Estruturais, consideraram-se algumas recomendações quanto ao tamanho da amostra. A amostra foi seccionada por mesorregião e resultou em uma região com o menor número de respondentes (n = 42). No entanto, de acordo com Hair Jr., Hult, Ringle e Sarstedt (2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2014). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: SAGE. , p. 21), para um modelo com 8 caminhos estruturais, considerando um nível de significância de 10% e R² mínimo de 0,50, o tamanho da amostra deve ser de 38 elementos, portanto, o critério foi totalmente atendido.

4. Resultados e Discussão

4.1. Perfil dos Respondentes

Na Tabela 4 são apresentados os dados demográficos dos respondentes.

Tabela 4
Dados dos Respondentes

Observando-se os dados da Tabela 4, constatou-se que os respondentes apresentam o seguinte perfil: 396 deles são do gênero feminino e 295 do masculino. A maioria dos inquiridos tinha entre 20 a 24 anos na data da coleta dos dados. No tocante ao estado civil, nota-se que 531 respondeu estar solteiro, ou seja, 76,75% da amostra.

Os 691 respondentes também foram questionados a respeito da sua satisfação com o curso de Ciências Contábeis, observando-se que 431 afirmaram estar satisfeitos, enquanto 175 dizem estar nem insatisfeito nem satisfeito. Para totalmente satisfeitos houve 40 respostas, e 38 para insatisfeitos. Por fim, 7 deles acusaram estar totalmente insatisfeitos. Complementarmente, perguntou-se aos alunos se o curso de Ciências Contábeis era a primeira graduação, e foi constatado que 587 deles cursam-no como primeira graduação; para 88 alunos, o curso é a segunda graduação, e um deles está completando sua terceira graduação (anteriormente estudou Geografia e Matemática).

Em relação à renda familiar dos estudantes, evidenciou-se que em cinco mesorregiões o faturamento predominante é de até 3 salários mínimos; em duas mesorregiões, é de até 4 salários. Nas mesorregiões 1, 2 e 4, a renda familiar preponderante é acima de 6 salários mínimos, o que pode ser justificado pelo fato de que principalmente as mesorregiões 1 e 4 alocam as cidades com maior desenvolvimento econômico do estado, como Curitiba e região; Londrina e Maringá respectivamente (Ipardes, 2015Ipardes. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Recuperado de Recuperado de www.ipardes.gov.br em 02 de dezembro de 2015.
www.ipardes.gov.br...
).

Os alunos também foram questionados a respeito da vida profissional, se estão atualmente trabalhando e, caso estejam, se na área contábil ou não. Do total dos respondentes, 49 não estavam trabalhando, 364 deles exercem funções na área contábil e 278 trabalham em funções pertinentes a outras áreas do conhecimento.

4.2. Avaliação do Modelo de Mensuração

Para a avaliação do modelo de mensuração, observaram-se os critérios de validade convergente, validade discriminante e consistência interna para indicadores reflexivos. No início da aplicação destes testes, verificou-se a necessidade de exclusão de alguns indicadores, permanecendo ao final aqueles que atendiam a todos os critérios, conforme a síntese apresentada na Tabela 5:

Tabela 5
Síntese dos indicadores

Conforme detalhado, todos os construtos tiveram exclusões de indicadores, a maioria em Atitude (ATIT), Norma Subjetiva (NS) e Controle Comportamental Percebido (CCP). Ressalta-se que para o construto Intenção, a única variável excluída foi a “Inten3”, que corresponde à opção Eu pretendo conseguir um bom emprego na área de contabilidade após a conclusão do curso, nas mesorregiões Norte Pioneiro e Centro-Sul. Esses achados sugerem que nestas regiões a procura por emprego na área de contabilidade não é uma prioridade para os formandos, o que é possivelmente justificado pela falta de opções no mercado.

Para o construto ATIT, percebe-se que os indicadores 5 (Eu acho que o trabalho das carreiras na área da contabilidade não proporciona resultados significativos - remuneração, benefícios) e 7 (Eu acho que o trabalho das carreiras na área de contabilidade exige aptidão - vocação) não foram validados em nenhuma das regiões. Uma possível justificativa para esse fato é que o indicador 5 foi elaborado de forma inversa, com o propósito de testar a atenção dos alunos. Já a “Atit7” procura inferir que os alunos entendem que para ser um profissional da contabilidade não precisa ser por aptidão.

Para o construto NS, todos os indicadores foram validados em pelo menos uma das regiões. Observa-se que os referentes profissionais da área, assim como os amigos, namorado(a)/esposo(a), parentes, professor(es) e pais não influenciam de igual forma os respondentes em todas as mesorregiões, pois alguns foram significativos em umas e não em outras.

Quanto ao construto do CCP, acentua-se a validação em todas as mesorregiões dos indicadores 1 e 4 (Eu tenho educação/preparo suficiente para seguir uma carreira na área de contabilidade e Eu tenho forte crença no meu conhecimento contábil para seguir uma carreira na área de contabilidade). Os indicadores validados em menos regiões foram o 6 e o 3 (Eu não tenho confiança na minha capacidade de executar os trabalhos em uma carreira na área de contabilidade e Eu acredito que meu conhecimento em contabilidade não é suficiente para seguir uma das carreiras), observados em duas regiões e uma mesorregião. Salienta-se que estes dois últimos indicadores possam ter sido comprometidos por serem apresentados de forma inversa aos respondentes com o intuito de testar a atenção.

Após a exclusão dos indicadores relatados, foram analisados os índices de validade convergente, confiança na consistência interna e validade discriminante, com a finalidade de avaliar a confiabilidade e validade das medidas. A avaliação da validade convergente foi realizada pela variância média extraída (Average Variance Extracted - AVE), sendo que os valores de cada variável latente foram superiores ao valor limiar de 0,50 (Hair Jr. et al., 2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2014). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: SAGE. ).

Tabela 6
Critérios de mensuração

A avaliação da validade convergente foi pautada pela AVE e os resultados revelam que o único construto que não atendeu aos valores recomendados (AVE > 0,5) foi o de Norma Subjetiva na mesorregião Centro-Ocidental. No entanto, este construto tinha apenas 3 indicadores, inviabilizando a retirada de mais algum para tentar aumentar este critério. Mesmo assim, deu-se prosseguimento à avaliação do modelo tendo em vista a constatação do cumprimento dos demais critérios de avaliação para o modelo.

A análise da Confiabilidade Composta (CC), cujo índice deve ser igual ou superior a 0,7, assim como o Alfa de Cronbach (AC), o qual tem a função de avaliar se o indicador mensurou adequadamente os construtos (Hair Jr. et al., 2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2014). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: SAGE. ), foi validada para todos os construtos em todas as mesorregiões.

A validade discriminante (VD), medida que avalia se apenas um construto está capturando um determinado fenômeno, não sendo representado por outros construtos do modelo (Hair Jr. et al., 2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2014). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: SAGE. ), foi analisada pelo critério de Fornell e Larcker (1981Fornell, C., & Larcker, D. F. (1981). Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of Marketing Research, 18, 39-50. ). Este critério é realizado por meio da comparação da raiz quadrada da AVE com as correlações das variáveis latentes. A raiz quadrada da AVE de cada construto deve ser superior a sua maior correlação com outro construto e, caso este critério não seja atendido, pode-se remover o indicador de um construto específico, na tentativa de atender ao recomendado (Hair Jr. et al., 2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2014). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: SAGE. ).

Tabela 7
Validade discriminante - Critério de Fornell e Larcker (1981)

Conforme a Tabela 7, o critério da validade discriminante foi devidamente atendido, pois os coeficientes das correlações entre os construtos são maiores do que o valor da raiz quadrada da AVE.

4.3. Avaliação do Modelo Estrutural

A próxima etapa, desenvolvida de acordo com a orientação de Hair Jr. et al., 2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2014). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: SAGE. , foi analisar os valores R2, pois relatam a porcentagem de variância de uma variável latente, que é explicada por outras variáveis latentes. Os valores do R2 fornecem apenas para variáveis latentes endógenas uma medida relativa de ajuste para cada equação estrutural em específico. A Tabela 8 detalha os valores de R2 de todas as mesorregiões:

Tabela 8
Valores de R² das mesorregiões

Os resultados auferidos para o R2 das 10 mesorregiões e também da amostra do estado do Paraná estão em um intervalo entre 27,84% e 64,31%, o que permite interpretar que os modelos das mesorregiões conseguem explicar aproximadamente de 30% a 65% da intenção dos alunos em seguir uma carreira na área contábil. A mesorregião com menor coeficiente é a Centro-Ocidental, representada pelos respondentes da instituição de Campo Mourão (Unespar). O maior coeficiente é a mesorregião Oeste, representada pelos respondentes da Unioeste (campi Cascavel, Foz do Iguaçu e Marechal Cândido Rondon). A diferença considerável entre as regiões possivelmente deve-se à percepção dos alunos em relação à profissão, pois o número de respondentes foi muito semelhante (Centro-Ocidental n = 43; Oeste n = 56). Outro fator pode ser as opções de empregos disponíveis, pois a Centro-Ocidental é uma das mesorregiões menos industrializadas, apresenta a menor densidade populacional e uma das menores extensões territoriais, comparadas às demais. Essa mesma justificativa também pode ser estendida para a mesorregião do Norte Pioneiro, a qual também obteve um coeficiente R2 abaixo de 50%, e que apresenta uma economia prioritariamente agrícola, o que influencia diretamente nas opções de emprego na área de negócios, em especial a contábil.

Antes da exposição dos resultados do bootstraping, é relevante mencionar que foram avaliados os valores da validade preditiva (Q2) e do tamanho dos efeitos (f2) das relações dos modelos de todas as mesorregiões testadas. O primeiro teste verifica a precisão do modelo e o quanto está ajustado, se os valores acima de zero atendem satisfatoriamente ao critério correspondente, conforme recomendado por Hair Jr. et al. (2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2014). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: SAGE. ). Em complemento, o teste f2 permite avaliar o quanto cada construto é útil na estimativa do fenômeno examinado. Os valores do teste f2 compreendidos no intervalo de 0,02 a 0,15 e acima de 0,35 indicam, respectivamente, pequeno, médio e grande efeito dos construtos no modelo (Hair Jr et al., 2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sarstedt, M. (2014). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: SAGE. ). Assim, salienta-se que ambos os testes resultaram na acurácia do modelo e na relevância das variáveis para ajuste geral em todas as mesorregiões, atendendo satisfatoriamente aos valores de referência.

Outra avaliação foi analisar a ausência de multicolinearidade para as variáveis exógenas (independentes), pois não podem estar fortemente correlacionadas. Na presença de multicolinearidade, pelo menos uma das variáveis independentes é redundante, inflacionando a estimativa das variâncias dos parâmetros, produzindo coeficientes padronizados superiores a 1 ou inferiores a -1 ou, ainda, podendo causar estimativas de variâncias negativas. Em vista dessa compreensão, a avaliação por meio da estatística VIF (Variance Inflation Fator) resulta em um indicador que mensura quanto a variância de um coeficiente é aumentada devido à colinearidade. No nosso modelo, os resultados do teste indicam a não presença de multicolinearidade nas mesorregiões estudadas.

Os coeficientes estruturais e os valores p foram estimados por bootstraping, considerando-se a amostra das mesorregiões e 2.000 reamostragens, para que se pudessem obter intervalos de confiança para avaliar a significância dos coeficientes estimados. A partir destes resultados elaborou-se a Tabela 9:

Tabela 9
Relações estruturais

Examinou-se a predição das três variáveis do modelo TCP (H1: Atitude -> Intenção; H2: Norma Subjetiva -> Intenção; e H3: Controle Comportamental Percebido -> Intenção) para a intenção dos respondentes em seguir uma carreira contábil. Constatou-se que nas mesorregiões 1, 2, 4, 5, 6 e 9 todas as hipóteses foram corroboradas. Destaca-se que estas mesorregiões alocam as cidades mais desenvolvidas economicamente no estado. Com isso, pode-se deduzir que os respondentes percebem maiores chances de exercer alguma das carreiras da profissão contábil pelo fato de terem mais opções no mercado de trabalho. Esta inferência condiz com Bardagi et al. (2006Bardagi, M., Lassance, M. C. P., Paradiso, A. C., & Menezes, I. A. (2006). Escolha profissional e inserção no mercado de trabalho: percepções de estudantes formandos. Psicologia Escolar e Educacional, 10(1), 69-82. ), que argumenta que alguns estudantes supervalorizam as condições do mercado de trabalho e tornam-se desmotivados e menos interessados pela própria profissão ao perceberem dificuldades de inserção profissional. Ainda a este respeito, diversas são as pesquisas que fazem considerações acerca destas influências, como a disponibilidade de emprego, segurança no trabalho, benefícios percebidos e pacotes de remuneração (Gul et al., 1989Gul, F., Andrew, B., Leong, S., & Ismail, Z. (1989). Factors influencing choice of discipline of study - accountancy, engineering, law and medicine. Accounting and Finance, 29(2), 98-101. ; Adams, Pryor & Adams, 1994Adams, S., Pryor, L., & Adams, S. (1994). Attraction and retention of high aptitude students in accounting: an exploratory longitudinal study. Issues in Accounting Education, 9(1), 45-58. ; Ahmed, Alam & Alam, 1997Ahmed, K., Alam, K., & Alam, M. (1997). An empirical study of factors affecting accounting students’ career choice in New Zealand. Accounting Education: An International Journal, 6(4), 325-35. ; Mbawuni & Nimako, 2015Mbawuni, J., & Nimako, G. (2015). Modelling Job-related and Personality Predictors of Intention to Pursue Accounting Careers among Undergraduate Students in Ghana. World Journal of Education, 5(1), 65-81.).

Com relação às hipóteses que não puderam ser corroboradas, destacam-se a H1 e a H2 observadas pelos dados das mesorregiões 3, 7, 8 e 10. Quanto a H1, que trata da atitude, definida como sentimentos positivos ou negativos do indivíduo acerca da realização de um determinado comportamento (Fishbein & Ajzen, 1975Fishbein, M., Ajzen, I. (1975). Belief, attitude, intention and behavior: an introduction to theory and research. Reading, MA: Addison-Wesley. ), não foi sustentada na mesorregião 3. Já a H2 não foi corroborada para as mesorregiões 3, 7, 8 e 10, pois na 3 e 8 não apresentou significância estatística e na 7 e 10 apresentou coeficientes de caminho negativos. Esses achados permitem inferir que os resultados não significativos do construto “NS” podem indicar que a pressão social tem pouca relevância para os respondentes quanto à intenção de seguir carreira. Todavia, nas mesorregiões em que se corroborou a H2, observa-se a confirmação do ranqueamento em que se ordenou em profissionais da área, amigos, namorado(a)/esposo(a), parentes, professor(es) e pais.

Estes achados não corroboram os das pesquisas de Tan e Laswad (2006Tan, L. M., & Laswad, F. (2006). Students beliefs, attitudes and intentions to major in accounting. Accounting Education: An International Journal, 15(2), 167-187., 2009Tan, L. M., & Laswad, F. (2009). Understanding students choice of academic majors: a longitudinal analysis. Accounting Education: An International Journal, 18(3), 233-253. ), que constataram que os estudantes de contabilidade neozelandeses estavam mais motivados a considerar a opinião dos pais para seguir carreira em contabilidade. No entanto, vai parcialmente ao encontro dos resultados de Bebbington, Thomson e Wall (1997), que concluíram que pais, amigos e conselheiros de orientação profissional (ou professores) exerceram muito pouca influência sobre a intenção dos alunos escoceses em ser um contador, e com a pesquisa de Lowe e Simons (1997), que revela que pais, amigos e professores foram os fatores menos influentes na decisão de especialização em contabilidade de alunos dos Estados Unidos.

Por fim, a H3 foi sustentada nas amostras de todas as mesorregiões. Ela trata do construto CCP, que se refere à capacidade percebida pelo indivíduo de realizar determinado comportamento, sua percepção de fatores facilitadores ou dificultadores para tal realização. Sob esta definição, pressupõe-se que os respondentes acreditam em sua capacidade de exercer uma carreira contábil após a conclusão do curso.

5. Conclusões

Esta pesquisa investigou a intenção comportamental dos alunos concluintes dos cursos de Ciências Contábeis das universidades públicas no estado do Paraná em seguir uma carreira na área contábil. Como sustentação teórica, utilizou-se da Teoria do Comportamento Planejado, que tem sido abordada em diversos estudos e em diferentes áreas do conhecimento.

Quanto aos resultados obtidos, enfatiza-se a pouca influência do fator Norma Subjetiva na intenção dos alunos, o que suscita possíveis discussões. A principal delas é o fato de que a amostra de algumas mesorregiões não considerou este fator ao não sustentar sua hipótese. Desse modo, este achado caracteriza-se como nicho para novas pesquisas na área contábil ao buscar evidenciar quais são os principais referentes influenciadores do comportamento dos alunos brasileiros.

Concernente às implicações para a prática profissional, os achados deste estudo contribuem na compreensão dos perfis dos concluintes em contabilidade das IES públicas do estado do Paraná. Com essas informações, podem-se traçar estratégias diferenciadas para as IES repensarem seus currículos e suas abordagens do curso conforme a região na qual estão inseridas, visto que as características econômicas e sociais influenciam diretamente a percepção das oportunidades de trabalho pelos futuros profissionais.

Além disso, os órgãos competentes podem utilizar e aprofundar pesquisas a respeito das variáveis que influenciam a intenção destes futuros profissionais, para desenvolver cursos mais adequados e consistentes para o mercado. Para as IES, outra abordagem possível é desenvolver ações voltadas ao apoio da prática profissional de forma a aumentar o interesse e conhecimento dos alunos conforme suas necessidades locais. Adicionalmente, este estudo vem contribuir para o avanço da discussão em torno da escolha de carreira dos alunos de ensino superior no Brasil, principalmente para avaliar os aspectos mais significativos deste processo e para o uso de teorias psicológicas na contabilidade.

Este estudo, como qualquer pesquisa científica, apresenta limitações que se devem às decisões dos pesquisadores acerca do delineamento metodológico. Entretanto, estas limitações possibilitam verificar oportunidades de novos estudos. Uma delas é a definição da amostra, pois, por exemplo, a opinião dos estudantes de todos os anos do curso, como também de universidades privadas, poderia ter sido abordada. Outro fator limitante pode ser a simplicidade do questionário que baliza a validade dos resultados de certo ponto, pois pode haver outras variáveis que influenciam a intenção de escolha da carreira dos alunos e que não foram consideradas.

Desse modo, uma sugestão para pesquisas futuras é de que a amostra seja estendida aos demais alunos de níveis intermediários do curso, bem como aos alunos procedentes de instituições privadas. Outra sugestão é que, como o fator Norma Subjetiva demonstrou pouca significância em algumas mesorregiões, sugere-se que estudos com a temática deste trabalho sejam elaborados abordando prioritariamente este construto.

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  • *
    Trabalho apresentado no X Congresso ANPCONT, Ribeirão Preto, SP, Brasil, junho de 2016.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2018

Histórico

  • Recebido
    20 Dez 2016
  • Aceito
    26 Set 2017
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