Open-access Tendências emergentes no campo da catalogação: um olhar sobre a produção científica nacional

RESUMO

Introdução:  Estuda aspectos concernentes à catalogação, um processo de representação de recursos informacionais para facilitar sua busca, identificação e recuperação em sistemas de informação de forma mais eficiente.

Objetivo:  analisar a produção científica nacional sobre a catalogação nos últimos cinco anos (2020-2024). Metodologia: utiliza como metodologia as pesquisas bibliográfica, exploratória, descritiva com abordagem qualitativa com consulta de produções científicas realizada na Base de Dados de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI), estabelecendo o recorte temporal dos últimos 5 anos (2020 a 2024).

Resultados:  como resultado da pesquisa, foram mapeados 117 (cento e dezessete) produções científicas sobre o tema, as quais foram distribuídas em cinco diferentes enfoques temáticos, foram eles: ensino da catalogação; catalogação de diferentes recursos informacionais (textos, imagens, áudios, vídeos); novas tendências em catalogação a partir do contexto da web semântica e do linked data; aspectos históricos e conceituais acerca da catalogação; formatos e padrões para as práticas de catalogação.

Conclusão:  reflete sobre a necessidade em investigar a relação da catalogação com os novos recursos e sistemas digitais para o melhor desempenho na gestão e atividades que auxiliem nos serviços para os profissionais da informação com foco no atendimento aos usuários do atual contexto informacional, tecnológico e de mercado.

PALAVRAS-CHAVE
Catalogação; Descrição bibliográfica; Descrição e Acesso de Recursos; RDA; Ciência da Informação.

SUMMARY

Introduction  This study examines aspects of cataloging, a process of representing information resources to facilitate their search, identification, and retrieval in information systems more efficiently. Objective : To analyze national scientific production on cataloging over the past five years (2020-2024). Methodology : This study uses bibliographic, exploratory, and descriptive research with a qualitative approach, including consultation of scientific productions in the Database of Journal Articles in Information Science (BRAPCI), establishing a time frame of the past five years (2020-2024). Results : The research identified 117 (one hundred and seventeen) scientific productions on the topic, which were distributed across five different thematic approaches: teaching cataloging; cataloging of different information resources (texts, images, audio, and videos); new trends in cataloging based on the context of the semantic web and linked data ; historical and conceptual aspects of cataloging; formats and standards for cataloging practices . Conclusion : reflects on the need to investigate the relationship between cataloging and new digital resources and systems for better management performance and activities that assist information professionals in their services, focusing on serving users in the current informational, technological, and market context.

KEYWORDS
Cataloging; Bibliographic description; Resource Description and Access; RDA; Information Science.

1 INTRODUÇÃO

A catalogação, conforme descrito por Mey e Silveira (2009), consiste no estudo, na organização e na preparação de mensagens com base em registros de conhecimento, sejam eles físicos ou digitais, já existentes ou passíveis de serem incluídos em um ou mais acervos. Seu objetivo é possibilitar a intermediação entre as mensagens contidas nesses registros e os conteúdos internos dos usuários. Trata-se de um processo fundamental para a recuperação da informação, não apenas em bibliotecas, mas também em bases de dados, plataformas de streaming (como as de áudio, vídeo e jogos), sistemas de comércio eletrônico (voltados à venda de roupas, joias, perfumes e diversos outros produtos), lojas virtuais e muitos outros serviços oferecidos por empresas e instituições.

O catálogo configura-se como um dos produtos da catalogação e atua como canal mediador entre os materiais informacionais e os usuários, tendo como objetivo organizar e apresentar os recursos disponíveis no acervo, além de facilitar a busca e a recuperação da informação conforme as necessidades dos usuários.

A catalogação, por sua vez, contribui diretamente para a organização e o controle dos acervos, além de favorecer a busca e recuperação de diferentes tipos de documentos em contextos informacionais diversos. Um catálogo atualizado e organizado possibilita não apenas a difusão do conhecimento, mas também a preservação da memória e do patrimônio cultural, promovendo o funcionamento eficiente dos produtos e serviços oferecidos pela unidade de informação.

Ao longo da história, observou-se um crescente aumento da produção impressa em massa, impulsionado pelo maior acesso à informação e pelo desenvolvimento da indústria tipográfica a partir do século XVI. Diante desse cenário, tornou-se urgente e necessário desenvolver métodos e técnicas para a organização e representação dos itens informacionais, fundamentados em regras e padrões que possibilitem a uniformização das práticas de descrição nos acervos.

Os códigos, as normas e os padrões de catalogação são instrumentos fundamentais que orientam a construção de catálogos, reunindo, ao longo do tempo, um conjunto de regras desenvolvidas e aperfeiçoadas por teóricos, bibliotecários catalogadores e pesquisadores. Esses instrumentos têm como objetivo principal a elaboração consistente dos registros bibliográficos e a padronização na representação das obras, garantindo a uniformidade, a precisão e a interoperabilidade nos sistemas de informação (Machado; Zafalon, 2020).

Com o avanço das ferramentas tecnológicas e o surgimento de novos recursos informacionais, as teorias, os instrumentos e as regras de catalogação passaram a se transformar ao longo do tempo, acompanhando as mudanças no comportamento dos usuários. Nesse contexto, a catalogação automatizada e os novos formatos de descrição têm contribuído substancialmente para a produção significativa de metadados de recursos digitais, visando maior eficácia nas atividades do profissional bibliotecário na contemporaneidade. Além disso, essas transformações têm como foco central o usuário e a flexibilidade na busca e recuperação da informação.

Metadados são compreendidos como um conjunto estruturado de elementos que descrevem, identificam e contextualizam as informações contidas em um recurso informacional, com o objetivo de facilitar sua organização, localização, recuperação e uso (Alves, 2010). Esses elementos podem incluir dados como título, autor, data, formato, assunto, entre outros, e são fundamentais para a gestão eficiente de acervos físicos e digitais. Além de contribuírem para a descrição bibliográfica, os metadados também desempenham um papel central na interoperabilidade entre sistemas, no controle de autoridade e na viabilização de ambientes digitais mais inteligentes, como aqueles baseados em web semântica e linked data. Em um cenário informacional cada vez mais digital e conectado, a qualidade e a padronização dos metadados tornam-se fatores essenciais para garantir o acesso eficaz ao conhecimento.

Considerando que as teorias, os instrumentos e as regras de catalogação evoluem continuamente em resposta às transformações do contexto informacional, sociocultural e tecnológico, emergem questionamentos relevantes: qual tem sido o panorama da produção científica nacional sobre catalogação nos últimos anos? Quais discussões têm sido desenvolvidas, no âmbito da Ciência da Informação, em torno do novo padrão de catalogação - o Resource Description and Access (RDA)? Essas questões orientam a necessidade de compreender como o campo vem assimilando e debatendo as mudanças propostas pelo RDA, bem como os impactos dessa transição nas práticas profissionais e nos processos formativos da área.

Diante desse questionamento, o objetivo desta pesquisa consiste em investigar como a catalogação tem sido discutida na produção científica nacional nos últimos cinco anos, com foco nas reflexões e aplicações relacionadas ao padrão RDA.

A relevância deste estudo decorre, em termos gerais, da incipiência de trabalhos na literatura que apresentem um panorama atualizado das publicações acadêmicas sobre a temática da catalogação, conforme constatado em busca realizada na Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI) em abril de 2025. Ademais, esta investigação poderá contribuir para a identificação do status atual das pesquisas na área, bem como subsidiar a atualização dos conteúdos das disciplinas relacionadas à catalogação nos cursos de Biblioteconomia no Brasil.

2 CATALOGAÇÃO

Há uma extensa abordagem na literatura acerca do conceito de catalogação. Como discutido por Reis e Ortega (2024), a catalogação configura-se como objeto de estudo tratado por uma diversidade de autores, sendo constantemente revisitado ao longo do tempo em esforços voltados à sua definição e delimitação conceitual.

Essa constante revisão reflete não apenas a evolução histórica das práticas biblioteconômicas, mas também a necessidade de adequação do conceito frente às transformações tecnológicas, às mudanças nos suportes informacionais e às novas demandas dos usuários. Assim, a catalogação ultrapassa a noção de atividade meramente técnica, sendo compreendida como um processo dinâmico de representação da informação, que envolve fundamentos teóricos, normativos, críticos e contextuais. A amplitude das abordagens revela também sua natureza interdisciplinar, dialogando com áreas como a Organização do Conhecimento, a Ciência da Informação, a tecnologia da informação e a comunicação, o que reforça sua relevância no cenário contemporâneo das unidades de informação.

Desde o início do século XX, autores como Anthoni Panizzi, Charles Jewett, Charles Cutter, Ranganathan e Lubetzky já buscavam estabelecer fundamentos teóricos e diretrizes que auxiliassem na aplicação prática da catalogação, especialmente na construção e organização de catálogos.

Historicamente a catalogação tem sido abordada sob diferentes perspectivas: como arte, exigindo aprimoramento prático por meio da experiência; como técnica, fundamentada em procedimentos rigorosos e especializados; e como ciência, estruturada por teorias e metodologias que demandam uma sistematização conceitual, conforme apresentado no Quadro 1 a seguir.

Quadro 1
A configuração da catalogação e suas características

Para Reis e Ortega (2024), a catalogação configura-se como uma etapa do ciclo do processo documentário e consiste na construção intencional de condições para a interação entre os documentos e os usuários, estes denominados de atores.

Enquanto campo do conhecimento, a catalogação abrange teorias, princípios, modelos conceituais, metodologias e instrumentos. Já enquanto procedimento, estrutura-se em dois eixos principais: a representação descritiva e a representação temática, que contribuem para o desenvolvimento dos catálogos por meio de diferentes pontos de acesso, os quais possibilitam a recuperação dos documentos.

A representação descritiva, também denominada na literatura como catalogação descritiva, centra-se na descrição física dos objetos informacionais, fornecendo pontos de acesso relacionados a elementos como autor, título, edição, local e data de publicação, entre outros. Essa representação segue normas e códigos específicos, como o AACR2 ou o RDA, e é fundamental para garantir a uniformidade e a padronização na construção de registros bibliográficos. Além disso, a representação descritiva contribui para a identificação precisa dos recursos no catálogo, permitindo a distinção entre diferentes obras, edições e formatos, o que facilita a recuperação eficaz da informação por parte dos usuários em ambientes físicos e digitais.

Já a representação temática, também denominada na literatura como catalogação de assunto, tem como foco a descrição do(s) assunto(s) do documento por meio de operações como a classificação, a indexação e a elaboração de resumos. Essas atividades visam traduzir o conteúdo temático do documento em linguagem controlada e estruturada, permitindo que o usuário recupere a informação com base em termos conceituais e não apenas em dados físicos ou formais. A classificação organiza os documentos em sistemas hierárquicos (como a Classificação Decimal de Dewey (CDD) ou a Classificação Decimal Universal (CDU)), enquanto a indexação seleciona termos representativos dos assuntos tratados, muitas vezes com o auxílio de vocabulários controlados, como os tesauros ou as listas de cabeçalhos de assuntos. A confecção de resumos, por sua vez, possibilita uma compreensão prévia do conteúdo do documento, servindo como um auxílio adicional no processo de seleção. Dessa forma, a representação temática é essencial para o acesso semântico à informação, especialmente em sistemas automatizados e bases de dados digitais, contribuindo significativamente para a recuperação eficaz e relevante dos conteúdos informacionais.

Ambos os tipos de representação (descritiva e temática) são realizados no contexto da catalogação e contribuem para a organização da informação. Juntas, essas formas de representação contribuem para a construção de catálogos mais eficientes, favorecendo o acesso, a descoberta e a contextualização da informação pelos usuários (Joudrey; Taylor, 2018).

O Quadro 2, a seguir, apresenta uma síntese dos procedimentos relacionados à catalogação, conforme a concepção dos autores da área.

Quadro 2
Procedimentos da catalogação a partir de suas conceituações e autores correspondentes

O catálogo configura-se como um dos principais produtos resultantes do processo de catalogação, sendo elaborado com base na literatura científica da área. Trata-se de uma ferramenta essencial para a sociedade, pois permite a recuperação eficiente dos recursos informacionais de acordo com as necessidades dos usuários, tornando acessíveis as informações disponíveis no acervo por meio da representação ordenada e singular de cada item.

Para que a catalogação seja efetivamente realizada, é necessário seguir um conjunto de etapas metodológicas, conforme apresentado na Figura 1 a seguir:

Figura 1
Etapas da Catalogação

Nessa perspectiva, ao cumprir as etapas do processo de catalogação, torna-se possível alcançar diversos objetivos que favorecem a mediação entre o usuário e a informação. Segundo Pereira Júnior e Pinheiro (2017), a catalogação possibilita:

  • Escolher entre as diferentes manifestações de um item específico, identificando com precisão a versão desejada;

  • Selecionar entre vários itens semelhantes, inclusive aqueles sobre os quais o usuário possa não ter conhecimento prévio;

  • Expressar, organizar ou alterar sua própria mensagem interna, ou seja, “dialogar com o catálogo”, estabelecendo uma relação ativa com o sistema de informação.

Com o objetivo de padronizar a prática da catalogação e aprimorar o funcionamento dos catálogos, ao longo da história surgiram diversos códigos, normas, formatos e padrões que orientam a construção e organização de catálogos. Esses instrumentos, continuamente aperfeiçoados, reúnem regras elaboradas por teóricos, bibliotecários catalogadores e pesquisadores, com vistas à elaboração de registros bibliográficos e à uniformidade na representação das obras (Machado; Zafalon, 2020).

Com os constantes avanços dos recursos tecnológicos e informacionais, intensifica-se a necessidade de profissionais qualificados e de sistemas atualizados que respondam às novas demandas sociais contemporâneas. Diante desse cenário, torna-se pertinente compreender o status das pesquisas sobre catalogação na literatura nacional da Ciência da Informação.

Nesse contexto, apresentam-se a seguir os procedimentos metodológicos adotados para a realização desta pesquisa.

3 METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa e aplicação da técnica de análise de conteúdo.

Considerando que o objetivo geral da pesquisa consiste em analisar a produção científica nacional sobre catalogação nos últimos anos, a busca bibliográfica foi realizada na Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI), no mês de abril de 2025. Essa base de dados indexa artigos de periódicos, anais de eventos técnico-científicos e capítulos de livro na área da Ciência da Informação. Na oportunidade, foram utilizados os seguintes termos de busca: “catalogação”, “catalogação automatizada” e “representação descritiva”, estabelecendo-se como recorte temporal o período de 2020 a 2024.

Foi recuperado um total de 231 (duzentas e trinta e uma) produções científicas (artigos, trabalhos em anais e um capítulo de livro) relacionadas ao tema. Desse montante, 114 (cento e quatorze) foram descartadas, sendo 93 (noventa e três) por não terem a catalogação como foco principal de suas discussões e 21 (vinte e um) trabalhos por serem duplicados.

Assim, o corpus final analisado foi composto por 117 (cento e dezessete) produções científicas. A partir desse conjunto, procedeu-se à análise dos títulos, resumos e palavras-chave, com o objetivo de compreender os enfoques temáticos abordados no campo da Catalogação.

A seção a seguir apresenta a análise e discussão dos resultados obtidos.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Considerando que o corpus final da pesquisa totalizou 117 (cento e dezessete) produções científicas, foi possível identificar a seguinte distribuição por ano de publicação: 18 (dezoito) em 2020, 21 (vinte e uma) em 2021, 28 (vinte e oito) em 2022, 29 (vinte e nove) em 2023 e 21 (vinte e uma) em 2024. Essa evolução aponta para um crescimento constante do interesse acadêmico pelo tema da catalogação ao longo dos anos, refletindo o aumento das discussões sobre práticas descritivas, inovações tecnológicas e demandas informacionais no campo da Biblioteconomia e Ciência da Informação.

A distribuição anual das produções científicas pode ser visualizada no Gráfico 1 a seguir:

Gráfico 1
Quantidades de publicações por ano

A partir da análise das 117 (cento e dezessete) produções científicas que compõem o corpus desta pesquisa, observa-se uma tendência de crescimento no interesse acadêmico pela catalogação entre os anos de 2020 e 2023, com destaque para o ano de 2023, que registrou o maior número de publicações (29 trabalhos). Esse crescimento pode ser compreendido como reflexo das transformações no cenário informacional, impulsionado pela incorporação de tecnologias digitais, pela atualização dos códigos e padrões de catalogação, bem como pela busca por práticas mais eficazes de organização e recuperação da informação.

Em 2024, observa-se uma leve redução no número de publicações sobre catalogação (21 trabalhos). No entanto, essa diminuição não compromete a relevância do tema, que continua a se destacar como um campo de interesse constante na Biblioteconomia e na Ciência da Informação. A manutenção de um volume significativo de estudos evidencia que a catalogação permanece sendo abordada tanto em sua dimensão teórica quanto em suas aplicações práticas, acompanhando as transformações e demandas do cenário informacional contemporâneo.

As 117 (cento e dezessete) produções científicas analisadas nesta pesquisa estão distribuídas em 36 (trinta e seis) periódicos científicos nacionais da área de Ciência da Informação, com destaque para a Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação (RBBD), que concentrou o maior número de publicações, totalizando 13 (treze) produções científicas. Além disso, foram identificadas 22 (vinte e duas) publicações nos anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB), evidenciando a relevância do tema também nos principais eventos acadêmicos da área.

Em relação aos enfoques das produções científicas analisadas, identificaram-se diversas abordagens temáticas nas investigações sobre catalogação, entre as quais se destacam aqueles apresentados na Figura 2 a seguir.

Figura 2
Enfoques temáticos das pesquisas relacionadas à catalogação

Nesse sentido, foi possível identificar cinco diferentes enfoques temáticos relacionados às pesquisas no campo da catalogação nos últimos anos, contemplando desde aspectos conceituais e históricos acerca do tema, até as questões relacionadas ao ensino e às práticas da catalogação no atual contexto informacional, tecnológico e de mercado.

A análise dos enfoques temáticos presentes nas pesquisas sobre catalogação revela um campo em constante renovação, que dialoga tanto com os fundamentos da área quanto com os desafios contemporâneos. O ensino da catalogação surge como um dos principais temas, refletindo preocupações com a formação de profissionais diante das transformações conceituais e tecnológicas. Com essas transformações, faz-se necessário refletir acerca da importância do Bibliotecário de metadados, um profissional especializado na criação, gestão, manutenção e aplicação de metadados para descrever, organizar e facilitar o acesso a recursos informacionais, especialmente em ambientes digitais. Essa função ganha proeminência com a proliferação de conteúdos digitais, além da emergência da web semântica e a crescente necessidade de interoperabilidade entre sistemas de informação.

Paralelamente, as produções científicas sobre a catalogação de diferentes tipos de recursos informacionais evidencia o esforço da área em adaptar-se à diversidade de suportes e formatos. Essa adaptação é impulsionada pela crescente digitalização e pela proliferação de conteúdos não textuais, como imagens, áudios, vídeos e, mais recentemente, grandes conjuntos de dados de pesquisa (Big Data). Tais recursos apresentam desafios únicos para a descrição, exigindo o desenvolvimento de novos padrões de metadados, a aplicação de tecnologias como a inteligência artificial para análise de conteúdo, e a redefinição de práticas para garantir sua efetiva descoberta, acesso e reuso em ambientes digitais complexos.

As discussões sobre novas tendências, especialmente no contexto da web semântica e do linked data, indicam uma busca por integração e interoperabilidade dos dados bibliográficos em ambientes digitais mais conectados. Essa movimentação visa transformar os registros bibliográficos de unidades isoladas em entidades interligadas, permitindo que computadores compreendam suas relações e facilitem a descoberta de forma mais granular e contextualizada. Tal abordagem não apenas aprimora a experiência do usuário, oferecendo acesso a informações mais ricas e relacionadas, mas também posiciona a catalogação no centro da construção de uma web de dados global com alto grau de semanticidade.

Abordagens que revisitam aspectos históricos e conceituais da catalogação também se destacam, oferecendo base teórica para compreender as mudanças em curso. Essa imersão nas raízes disciplinares é crucial para contextualizar as transformações atuais (como a Web Semântica e a Inteligência Artificial), permitindo uma análise mais crítica de seus impactos e a identificação de princípios que, apesar das evoluções tecnológicas, permanecem essenciais para a organização do conhecimento e o acesso à informação.

Por fim, o debate sobre formatos e padrões utilizados nas práticas catalográficas como o RDA reforça a importância da normatização e da atualização técnica como pilares para a eficiência e a consistência na representação descritiva em ambientes digitais. A adoção de tais padrões é crucial para garantir a interoperabilidade dos dados bibliográficos entre diferentes sistemas e plataformas, facilitar a leitura por máquinas e, consequentemente, aprimorar a descoberta e o acesso à informação em um contexto de vasto crescimento de recursos digitais. Essa padronização permite que a catalogação não apenas descreva o recurso, mas também o posicione de forma estratégica na complexa rede da informação conectada.

A comunidade de profissionais e pesquisadores da área de catalogação tem demonstrado crescente interesse pelas novas tendências do campo, especialmente no que diz respeito aos modelos conceituais e às diretrizes estabelecidas pelo padrão RDA. Esse padrão vem sendo reconhecido como um padrão internacional de catalogação, fundamentado em uma estrutura teórica robusta e desenvolvido para atender às demandas do ambiente digital. Sua aplicação é flexível, podendo ser utilizada tanto para a descrição de recursos tradicionais quanto não tradicionais, e não se limita exclusivamente aos catálogos de bibliotecas, ampliando seu uso para diferentes contextos informacionais (Teixeira, 2023).

De acordo com o RDA Steering Committee (2020), o RDA constitui um conjunto de elementos de dados, diretrizes e instruções voltados à criação de metadados para recursos informacionais em bibliotecas e instituições de patrimônio cultural. Essas diretrizes foram desenvolvidas com base em modelos internacionais orientados para a aplicação de dados vinculados (linked data), com foco nas necessidades dos usuários. No contexto da presente pesquisa, entre as 117 (cento e dezessete) produções científicas analisadas, identificou-se que 17 (dezessete) delas abordam o RDA como tema central de discussão, como demonstrado no Quadro 3.

Quadro 3
Artigos com foco em RDA

Diante do exposto, observa-se que aproximadamente 15% das produções científicas analisadas nesta pesquisa abordam o RDA, refletindo a diversidade de enfoques presentes na literatura. Além disso, observa-se no Gráfico 2 um aumento progressivo do número de publicações sobre RDA entre 2020 e 2024:

Gráfico 2
Publicações sobre RDA distribuídas por ano

O aumento das publicações nos últimos anos demonstra o crescente interesse da comunidade acadêmica e profissional pela temática, com destaque para o impulso observado a partir de 2023 e um salto significativo em 2024. Esse crescimento pode ser compreendido como resultado das iniciativas de implementação prática do padrão, que vêm se intensificando recentemente.

As publicações contemplam temas como o ensino e aprendizagem da catalogação com base no RDA, a aplicação do padrão em repositórios digitais, catálogos de bibliotecas nacionais e internacionais, e sua articulação com os fundamentos teóricos da catalogação. Além disso, incluem reflexões sobre novas perspectivas, olhares e os desafios enfrentados pelos profissionais diante da adoção do padrão no contexto contemporâneo da representação descritiva.

A Figura 3 apresenta uma síntese dos enfoques das produções científicas recuperadas acerca do RDA:

Figura 3
Enfoques de pesquisa sobre o RDA

Grande parte das produções mais recentes sobre RDA, especialmente entre 2023 e 2024, tem se voltado para aspectos práticos da adoção desse padrão, como a adaptação de sistemas de bibliotecas, a capacitação de profissionais e a formulação de recomendações para sua implementação. Esse direcionamento indica que a discussão acadêmica começa a transpor os limites do campo teórico, ganhando espaço nas dinâmicas institucionais das unidades de informação.

Tais análises evidenciam que o RDA vem se consolidando como um objeto de estudo atual e relevante no campo da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, refletindo as transformações em curso nos processos de representação descritiva, impulsionadas tanto pelo avanço das tecnologias quanto pelos novos contextos socioinformacionais.

Nesse cenário, destaca-se também a crescente preocupação com a inserção do RDA na formação dos futuros profissionais da informação, o que tem motivado discussões sobre sua inclusão nos currículos dos cursos de Biblioteconomia, bem como sobre metodologias de ensino que favoreçam a compreensão dos princípios e estruturas do novo código. A adoção do RDA como conteúdo formativo demanda não apenas atualização técnica, mas também um redirecionamento pedagógico que permita aos estudantes desenvolverem competências críticas e operacionais frente às mudanças nos paradigmas de catalogação e à complexidade dos ambientes digitais.

Além das discussões em torno do RDA, destaca-se a necessidade de discutir sobre a aplicação de ferramentas de Inteligência Artificial Generativa no ensino e nas práticas de catalogação em bibliotecas, prática que representa um avanço significativo na automação e otimização dos processos de descrição e organização da informação. Tecnologias como modelos de linguagem natural, capazes de gerar descrições, resumos e sugestões de assuntos a partir do conteúdo de documentos, têm potencial para apoiar catalogadores na elaboração de registros mais precisos e consistentes. Além disso, essas ferramentas podem contribuir para a padronização de metadados, a identificação automática de entidades e relações semânticas, bem como para a integração com ambientes baseados em linked data.

No entanto, sua adoção exige cautela e reflexão crítica, especialmente no que diz respeito à acurácia das informações geradas, à ética no uso de dados e à preservação do papel técnico e intelectual dos profissionais da informação. A incorporação responsável dessas tecnologias pode, portanto, complementar as competências humanas e ampliar as possibilidades da catalogação no contexto digital contemporâneo.

5 CONCLUSÃO

De modo geral, foi possível compreender o panorama atual das pesquisas sobre catalogação, especialmente no que se refere aos principais enfoques temáticos e à crescente incidência de publicações nos últimos anos.

No total foram identificados cinco enfoques nas produções científicas recuperadas e analisadas, foram eles: ensino da catalogação; catalogação de diferentes recursos informacionais (textos, imagens, áudios, vídeos); novas tendências em catalogação a partir do contexto da web semântica e do linked data; aspectos históricos e conceituais acerca da catalogação; formatos e padrões para as práticas de catalogação.

Entre as produções analisadas, ganham destaque os estudos que exploram as novas tendências da catalogação a partir da adoção do RDA, com abordagens tanto teóricas quanto práticas, em contextos nacionais e internacionais. Os enfoques mapeados incluem: revisão e sistematização da literatura; discussão de aspectos teóricos e técnicos do padrão; relatos de experiências em bibliotecas e repositórios digitais; formação profissional e ensino da catalogação com base no RDA; além de estudos voltados à implementação prática do padrão e à realização de diagnósticos institucionais.

As análises também evidenciam a necessidade de implementar e avaliar o uso de novas tecnologias e recursos digitais (como as ferramentas de Inteligência Artificial Generativa) nas práticas de catalogação e nos catálogos das unidades de informação. Nesse contexto, reforça-se a importância de investigações que contemplem os desafios emergentes da catalogação, tanto sob a perspectiva prática quanto pedagógica, contribuindo para a formação crítica e atualizada dos futuros profissionais da informação.

Reconhecimentos:

Não aplicável.

  • Financiamento:
    Não aplicável.
  • Aprovação ética:
    Não aplicável.
  • Imagem:
    Extraída da plataforma Lattes.
  • JITA:
    IA. Cataloging, bibliographic control
  • ODS:
    9. Indústria, Inovação e Infraestrutura

Disponibilidade de dados e material:

Não aplicável.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Out 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    06 Abr 2025
  • Aceito
    14 Jul 2025
  • Publicado
    25 Jul 2025
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